domingo, 30 de dezembro de 2018

MELHORES FILMES 2018


 RELAÇÕES INDIVIDUAIS DOS MEMBROS DA ACCPA

No último dia 26/12, os membros da ACCPA participaram de mais uma escolha de melhores filmes exibidos em Belém, este ano de 2018, no circuito comercial e no extra. Entre os presentes: Pedro Veriano, Luzia Álvares, Marco Antonio Moreira, Francisco Cardoso, José Otávio Pinto e Ismaelino Pinto. Enviaram suas listas individuais os associados Arnaldo Correa Prado Junior, Vicente Cecim, Fernando Segtowick, Dedé Mesquita e Augusto Pacheco.
Neste post, o registro dessas listas que compuseram a seleção final de filmes e demais categorias. E no final, a relação geral e respectivos pontos.

PEDRO VERIANO
1.TRÊS ANUNCIOS PARA UM CRIME De Martin Mcdonagh
2.RODA GIGANTE  De Woody Allen
3.VIVA,A  VIDA É UMA FESTA De  Lee Unkrich E Adrian Molina
4.O DESTINO DE UMA NAÇÃO De Joe Wright
5.EU, TONYA  De Craig Gillespie
6.BUSCANDO De  Aneesh Chaganty
7. UMA NOITE EM 12 ANOS  De Alvaro Breschner
8.THE POST-GUERRA SECRETA De Steven Spielberg
9.O PRIMEIRO HOMEM  De Damien Chazele
10.INFILTRADO NO KLAN De Spike Lee.

Diretor- Martin Mc Donagh (Três anuncios...)
Ator-Gary Oldoman
Atriz-  Frances McDormand
Ator codajuvante- Jim Belushi (Roda Gigane)
Atriz Coadjuvante-Alison Janoy (Run Tonya)
Animação- VIVA
Roteiro original- Martin McDonagh (3 Anuncios…)
Roteiro adaptado- Lee Unkrich , Jason Katz, Matthew Aldrich, Adrian Molina por Viva
Fotografia- Linus Sandgren(O Primeiro Homem na Lua)
Música- Michael Giacchino (Viva)__
Edição-Nicholas D. Johnson por Buscando
Maquillage- David Malinowski(Gary  Oldman)
Documentário –Agnes Varda(Visages Village)

MARCO ANTONIO MOREIRA
1) Trama Fantasma de Paul Thomas Anderson
2) Roda Gigante de Woody Allen
3) No Intenso Agora de João Moreira Salles
4) Sem Amor de Andrey Zvyagintsev
5) Infiltrado na Klan de Spike Lee
6) Hannah de Andrea Pallaoro
7) The Square de Ruben Östlund
8) Três anúncios para um Crime de Martin McDonagh
9) Em Chamas de Lee Chang-Dong
10) Phoenix de Christian Petzold

Melhor Diretor: Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma)
Melhor Ator: Daniel Day Lewis (Trama Fantasma)
Melhor Atriz: Charlotte Rampling (Hannah)
Melhor Ator Coadjuvante: Sam Rockwell (Três Anúncios para um Crime)
Melhor Atriz Coadjuvante: Vicky Krieps (Trama Fantasma)
Melhor Roteiro Original: Trama Fantasma e Sem Amor
Melhor Roteiro Adaptado: Infiltrado na Klan
Melhor Trilha sonora: Trama Fantasma
Melhor Fotografia: Trama Fantasma
Melhor Cenografia: Roda Gigante
Melhor Animação: Viva – A Vida é uma Festa
Melhor Documentário: No Intenso Agora
Melhor Montagem: No Intenso Agora
Melhor Figurino: Trama Fantasma
Melhor Efeito Especial: Missão Impossível 6 – Efeito Fallout

FRANCISCO CARDOSO
01. Roda Gigante (Woody Allen)
02. The Square – a arte da discórdia (Ruben Östlund)
03. Infiltrado no Klan (Spike Lee)
04. Em Chamas (Chang-Dong Lee)
05. Três Anúncios por um crime (Martin McDonagh)
06. Trama Fantasma (Paul Thomas Anderson)
07. 120 batimentos por minuto (Robin Campillo)
08. Sem Amor (Andrey Zvyagintsev)
09. O Insulto (Ziad Doueiri)
10. Custódia (Xavier Legrand)
Destaque  Roma (Alfonso Cuarón)

Melhor Diretor: Woody Allen (Roda Gigante)
Melhor Ator: Daniel Day-Lewis (Trama Fantasma)
Melhor Atriz: Charlotte Rampling (Hannah)
Melhor Ator Coadjuvante: Sam Rockwell (Três anúncios para um crime)
Melhor Atriz Coadjuvante: Claire Foy (O Primeiro Homem)
Melhor Cenografia: Nigel Churcher (A Forma da Água)
Melhor Montagem: Hyun kim, Da-won kim (Em Chamas)
Melhor Fotografia: Kyung-pyo Hong (Em Chamas)
Melhor Trilha Sonora: Jonny Greenwood (Trama Fantasma)
Melhor Canção Original: Remember Me (Viva – a vida é uma festa)
Melhor Figurino: Mark Bridges (Trama Fantasma)
Melhor Roteiro Adaptado: Lee chang-dong (Em Chamas)
Melhor Roteiro Original:  Ruben Östlund (The Square – a arte da discórdia)
Melhor Animação: Viva – A vida é uma festa (Lee Unkrich)
Melhor Documentário: Visages, villages (Agnès Varda , JR)

DEDÉ MESQUITA
1. Infiltrado na Klan (de Spike Lee)
2. A Forma da Água (de Guillermo Del Toro)
3. O Insulto (de Ziad Doueiri)
4. Buscando (de Aneesh Chaganty)
5. Em Pedaços (de Fatih Akin)
6. Benzinho (de Gustavo Pizzi)
7. Lady Bird (de Greta Gerwig)
8. Custódia (de Xavier Legrand)
9. The Square – A Arte de Discórdia (de Ruben Östlund)               
10. Trama Fantasma (de Paul Thomas Anderson)

MELHOR DIREÇÃO – Spike Lee (Infiltrado na Klan)
MELHOR ATOR – Marcelo Conte (Dogman)
MELHOR ATRIZ - Diane Kruger (Em Pedaços)
MELHOR ATOR COADJUVANTE – Sam Rockwell (Três Anúncios Para Um Crime)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE - Allison Janney (Eu, Tonya)
MELHOR MONTAGEM – Buscando
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE – A Forma da Água
MELHOR FOTOGRAFIA – A Forma da Água
MELHOR ROTEIRO – Em Chamas
MELHORES EFEITOS VISUAIS – O Jogador Número 1
MELHOR ANIMAÇÃO – Com Amor, Van Gogh
MELHOR TRILHA SONORA – A Forma da Água
MELHOR CANÇÃO – This is Me (de O Rei do Show)
MELHOR FIGURINO - Trama Fantasma
MELHOR MAQUIAGEM – O Destino de uma Nação
MELHOR DOCUMENTÁRIO – Visage, Vilages
MELHOR REPRISE – Z
MELHOR FILME NACIONAL – Benzinho (de Gustavo Rizzi)

FERNANDO SEGTOWICK
1) Bom Comportamento – Benny e Josh Safdie
2) Em Chamas, Chang Dong Lee
3) Visage, Villages, de Agnés Varda e JR
4) Projeto Flórida, de Sean Baker
5) Hereditário, de Ari Aster
6) Um Lugar Silencioso, de John Krasnski
7) Arábia, de João Dumans, Affonso Uchoa
8) Ex-Pajé, de Luiz Bolognesi
9) Missão: Impossível – Efeito Fallout, de Christopher McQuarrie
10) Benzinho, de Gustavo Pizzi

MELHOR DIREÇÃO – Chang- Dong Lee Em Chamas
MELHOR ATOR – An In Yoo – Em Chamas
MELHOR ATRIZ – Karine Teles (Benzinho)
MELHOR MONTAGEM – Em Chamas
MELHOR FOTOGRAFIA – Ex-Pajé
MELHOR ROTEIRO – Três anúncios para um crime
MELHOR ANIMAÇÃO – Viva – A Vida é uma Festa
MELHOR CANÇÃO – Shallow Nasce uma Estrela
MELHOR DOCUMENTÁRIO – Visage, Vilages
MELHOR FILME NACIONAL – Arabia
Destaque: Para Ter Onde Ir
Filme Plataforma: Roma de Alfonso Cuáron

ISMAELINO PINTO
1. Sem amor - Andrey Zvyagintsev
2.Trama Fantasma (de Paul Thomas Anderson)
3.Trama Fantasma, de Paul Thomas Anderson.
4. Benzinho, de Gustavo Pizzi
5. Roda Gigante, de Woody Allen
6. Visage Villages, de Agnes Varda e JR.
7. Projeto Flórida, de Sean Baker.
8. O Insulto (de Ziad Doueiri)
9. Lady Bird (de Greta Gerwig)
10. Três Anúncios Para Um Crime,

MELHOR DIREÇÃO – Gustavo Rizzi, Benzinho
 MELHOR ATOR – Daniel Day-Lewis, Trama Fantasma.
 MELHOR ATRIZ – Frances Macdormand (Três Anúncios Para Um Crime
 MELHOR ATOR COADJUVANTE – Sam Rockwell (Três Anúncios Para Um Crime)
 MELHOR ATRIZ COADJUVANTE - Allison Janney (Eu, Tonya)
 MELHOR MONTAGEM – Visagens, Villagens
 MELHOR DIREÇÃO DE ARTE – A Forma Da Água.
 MELHOR FOTOGRAFIA – Sem Amor
 MELHOR ROTEIRO – Três Anúncios Para Um Crime
 MELHORES EFEITOS VISUAIS – O Jogador Número 1
 MELHOR ANIMAÇÃO – Com Amor, Van Gogh
 MELHOR TRILHA SONORA – Trama Fantasma
 MELHOR CANÇÃO – This Is Me (De O Rei Do Show)
 MELHOR FIGURINO - Trama Fantasma
 MELHOR MAQUIAGEM – A Forma Da Água
MELHOR DOCUMENTÁRIO – Visage, Vilages
 MELHOR REPRISE – Z
 MELHOR FILME NACIONAL – Benzinho (de Gustavo Rizzi)

AUGUSTO PACHÊCO
1 - Com Amor, Van Gogh, de  Dorota Kobiela e Hugh Welchman.
2 - No Intenso Agora, de João Moreira Sales
3 -Trama Fantasma, de Paul Thomas Anderson.
4 - Em Chamas, de Chang-Dong Lee.
5 - Roda Gigante, de Woody Allen
6 - Visage Villages, de Agnes Varda e JR.
7 - Projeto Flórida, de Sean Baker.
8 - Aos teus olhos, de Carolina Jabor
9 - Bom Comportamento, de Ben & Josh Safdie.
10 – Ferrugem, de Aly Muritiba
Destaque
Para ter onde ir, de Jorane Castro.

VICENTE CECIM
1 – Lucky, de John Carroll Lynch
2 – Paraíso Perdido, de (...)
3 – À sombra de duas mulheres, de Phllippe Garrel
4 -  The Square – A arte da discórdia, de Ruben Oslund
5 – Arábia – de Affonso Uchoa Dumans

Melhor Diretor:
John Carroll Lynch

Documentário:
Visages Villages – de Agnàs Varda

JOSÉ OTÁVIO PINTO
1.Em Chamas , de Lee Chang-dong
2.No Intenso Agora, de João Moreira Salles
3.A Sombra de Duas Mulheres , de Philippe Garrel
4.Trama Fantasma, de Paul Thomas Anderson

ARNALDO PRADO JUNIOR
1.Uma Noite em 12 Anos (La Noche de 12 Años), escrito e dirigido por Alvaro Brechner
2. The Post, dirigido por Steven Spielberg
3. Trama Fantasma (Phantom Thread), dirigido por Paul Thoma Anderson
4. O Insulto (L’Insulte), dirigido por Ziad Doueiri
5. Loveless (Nelyubov), dirigido por Andrey Zvyagintsev
6. Em Pedaços (Aus dem Nichts), dirigido por Fatih Akin
7. Dogman, dirigido por Matteo Garrone
8. Visages Villages, dirigido por Agnès Varda e JR
9. Pantera Negra (Black Panther), dirigido por Ryan Coogler
10. Três Anúncios de um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri), dirigido por Martin McDonagh

DIRETOR - Alvaro Brechner, pelo filme Uma Noite em 12 Anos
ROTEIRO ORIGINAL - Oleg Negin e Andrey Zvyagirtsev de Loveless
ROTEIRO ADAPTADO - Alvaro Brechner pelo filme Uma Noite em 12 Anos
ATOR - Daniel Day-Lewis
ATOR-COADJUVANTE - Bruce Greenwood, em The Post
ATRIZ - Meryl Streep, em The Post
ATRIZ COADJUVANTE - Lesley Manville, em Trama Fantasma
MONTAGEM - Dylan T Chenor, de Trama Fantasma
CENOGRAFIA - Véronique Melery, de Trama Fantasma
FOTOGRAFIA - Paul Thomas Anderson, de Trama Fantasma
TRILHA SONORA - Uma Noite em 12 Anos
FIGURINO - Trama Fantasma
FEITOS ESPECIAIS – Aquaman


RELAÇÃO GERAL
Melhores do Cinema em 2018 - (ACCPA)
1) Trama Fantasma - 48 pontos
2) Roda Gigante - 40 pontos
3) Em Chamas - 35 pontos
4) Três Anúncios para um Crime - 31 pontos
5) Infiltrado na Klan e Sem Amor - 28 pontos
7) Visages Villages e No Intenso Agora - 26 pontos
9) Uma Noite em 12 anos e The Square - 22 pontos

Melhor Diretor: Lee Chang Dong por Em Chamas e Martin McDonagh por Três Anúncios de um Crime.
Melhor Ator: Daniel Day Lewis por Trama Fantasma.
Melhor Atriz: Charlote Rampling por Hannah e Frances McDormand por Três Anúncios de um Crime.
Melhor Ator Coadjuvante: Sam Rockwell por Três Anúncios para um Crime.
Melhor Atriz Coadjuvante: Allison Janney por Eu, Tonya.
Melhor Montagem: Em Chamas.
Melhor Cenografia: A Forma da Água.
Melhor Fotografia: Trama Fantasma.
Melhor Trilha Sonora: Trama Fantasma.
Melhor Canção: Bohemian Rhapsody, Viva e O Rei do Show.
Melhor Figurino: Trama Fantasma.
Melhor Roteiro Original: Três Anúncios para um Crime.
Melhor Roteiro Adaptado: Em Chamas.
Melhor Animação: Viva.
Melhor Documentário: Visage Village.
Melhor Efeito Visual: Buscando e Jogador Número 01.
Melhor Maquiagem: O Destino de uma Nação.
Melhor Filme Nacional: No Intenso Agora.

Menção Honrosa:
- Filme Para Ter Onde Ir de Jorane Castro
- O trabalho do associado Marco Antonio Moreira nas programações da ACCPA
- A V Mostra de Cinema do Sistema Educacional EQUIPE
- A 15ª edição do Festival OSGA de Vídeos Universitários (UNAMA)
- À memória do associado Maiolino Miranda
- Aos parceiros da ACCPA que colaboram com suas ações, como Cine Líbero Luxardo, Casa das Artes, Casa da Linguagem e FIBRA.
- Lançamento dos filmes Roma, de Alfonso Cuarón, e O Outro Lado do Vento, de Orson Welles, na NETFLIX.

Observação: A ACCPA lamenta a ausência da programação do Cine Estação na agenda do cinema alternativo da cidade.


terça-feira, 24 de abril de 2018

CINEMA OLYMPIA: 106 ANOS

Cinema Olympia : 106 anos 


Nessa “onda” de idade & antiguidade circula a memória num contexto exemplar. Os “mais velhos” servem de testemunhos sobre um passado vivido em determinado contexto e os “mais novos”, mesmo que sejam vistos com uma baixa memória têm suas lembranças em referências desse contexto sobre o que “ouviram falar”.
O Cinema Olympia está na memoria histórica da cidade de Belém e apresenta esses dois aspectos. Mais velhos e mais novos sentem a sua presença. É o monumento/documento de uma época e testemunhou os fatos políticos e sociais da centenária Belém. Cada segmento tem sua lembrança sobre ele. Os que assistiram aos filmes exibidos desde sua criação possivelmente deixaram registros escritos. Aos demais cidadãos e cidadãs conviventes nos anos 30 ou 40 do século XX, ainda vivos, conferem na memória as atividades cinematográficas de seu tempo e a presença do Olympia.
Meu testemunho se conforta entre o reconhecimento da função exercida como cinema já na década de 50 e os registros históricos que levantei sobre a presença dele no meio social e político paraense desde o momento que foi criado.
Fases da história do cinema passaram em suas telas nos filmes de todas as nacionalidades. As tensões entre os grupos de Antonio Lemos e Lauro Sodré se transformaram em imagens documentais e registraram as ocorrências para os/as espectadores. E muito mais se torna em história desse cinema que é considerado o mais velho do Brasil, em funcionamento. Se não, também, entre os mais antigos do mundo.
Minha homenagem se dá neste registro. Cinema Olympia! Presente!


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

AS MÚLTIPLAS TRAVESSIAS NUM ESPAÇO


Kate Winslet em "Roda Gigante". 

O cinema de Woody Allen é marcado por uma teia cultural e de vivências pessoais favorecendo uma forma própria de autoria temática e estética de seus filmes. Da comédia às críticas traduzidas em sua formação nas várias épocas em que se alimentou de ideias familiares, religiosas institucionais e em sua própria tradução dessas culturas vividas, deslocaram-se para o seu “que fazer” no cinema. De certa forma, impossível dissocia-lo de uma série de eventualidades que ele apresenta no contexto de sua obra, embora ele negue essa visceralidade presente, a meu ver, em uma parte considerável de sua filmografia.
Seu mais recente filme exibido no Brasil (o atual, “A Rainy Day In New York”, está sem data de lançamento) – “Roda Gigante” (Wonder Wheel, EUA, 2017) – tem sido visto, por alguns, como repetitivo, por outros como (o seu primeiro) filme dramático e, assim, como muitas obras de autores que permanecem produtivos no cenário da realização, o filme tem recebido críticas favoráveis e desfavoráveis por ser tratado com os mesmos “sintomas” de outras obras do diretor. A crítica mais radical não se desloca tanto para a estrutura narrativa embora haja faíscas para tal, mas tende a abominar o diretor e sua obra pela denúncia que reaproximou a sua figura pública do pai que assediou sexualmente a filha menor confirmando as acusações anteriores.
Sobre o modus operandi de representação das personagens femininas, avalio os espectros da realização, atentando para aspectos do roteiro, da fotografia e da atuação dos atores (vivendo as suas personagens) nesse cenário.
A abertura do filme é feita numa sequência sobre Coney Island (Brooklyn, NY). De longe o visor da câmera detalha, à medida que circula, a ilha, a praia, as atrações variadas, vendedores ambulantes, o parque de diversões, as lojas e restaurantes. Recai nas pessoas que buscam locais para circular, enfim, foca na multidão de transeuntes com o narrador da história definindo o tempo e o espaço, no seu palco improvisado como salva-vidas da praia, Mickey (Justin Timberlake).
Aliás, esse personagem é também um pouco narrador da história e ao anunciar sua identidade aponta seu desejo de escrever... melodramas para o palco.
Deste reflexo, o filme entoa a máxima do que pretende apontar no percurso que vai dar no roteiro. É tempo de verão em Coney Island, nos anos 50, e o foco se dá no relacionamento entre um operador de carrossel e sua mulher que trabalha numa lanchonete, viventes numa casa com espaço reduzido, à sombra do parque; a mulher deste com sonhos de fugir daquele marasmo a dois vivendo, ainda, uma relação tumultuada com o filho excêntrico/piromaníaco. Agrega-se, desde a primeira sequência do filme, jovem que foge da máfia e cuja esperança de não sofrer violência espera encontrar na casa do pai, nas suas próprias condições de protetor paterno e chefe de família. Há o salva-vidas que circula nessa trama, justificando-se para o espectador por assumir um subemprego, com pretensão de ser um escritor melodramático. Essa trama geral, aparentemente simples, é construída com o reforço de elementos valorizados no cinema de Woody Allen, como a fotografia, a cor, os movimentos de câmera (que dão a entonação que um filme requer) e o desempenho dos atores.
As figuras femininas de Woody Allen têm alguns requisitos que expressam a sua cultura em termos do que é feminino e do que é masculino, mas não necessariamente em tratar essas duas categorias na perspectiva das teorias críticas da hierarquia de gênero. Trata-se de um enfoque com base numa relação marcada pela formação na cultura tradicional com seu modo próprio e patriarcal de ver as mulheres.
Em “Roda Gigante”, o empenho do diretor é apontar o sentido de uma tensão familiar em que duas mulheres de idades diferentes, disputam o amor de um homem. A Ginny de Kate Winslet (que vive com o segundo marido) e a sua enteada Carolina (Juno Temple) que havia se afastado do pai, mas precisa deste para proteger-se dos mafiosos a sua procura. Elas têm aspirações diferentes, mas esperam tocar as emoções do salva-vidas Mickey à sua maneira. A primeira, para sentir-se viva (casamento aos pedaços, subemprego) transferindo ao namorado o que lhe resta de afeto e, também, pela afinidade dele com a arte teatral, ela que aspirava seguir a carreira de atriz. A enteada, desejada pela idade e beleza, confere àquele triângulo um contraponto bélico na relação já iniciada entre a madrasta e o sedutor, a ponto de aquela criar armas para o enfrentamento (cf. o momento em que Ginny deve proteger a jovem de seus perseguidores mafiosos). Essa disputa amorosa, se leva a pensar em fantasias femininas, opera, na verdade, com a emblemática disposição de mudança de vida tanto de uma quanto da outra. E quebra-se no lado que se pensa mais forte. Em Ginny circulam os efeitos de como se deu a mudança de sua própria sorte. Nesse caso, veja-se em outros filmes de Allen, como a personagem Cecilia, de Mia Farrow, em “A Rosa Púrpura do Cairo”, quebrando as amarras da violência doméstica, e ao materializar o personagem do filme que assiste diariamente, foge do cotidiano constrangedor com o marido e segue com essa figura mítica até aonde der. E Cate Blanchett (Jasmine), em “Blue Jasmine”, que nas várias mudanças de classe e de posição social impostas pelas falcatruas do marido e das quais também participou sem ter consciência disso, deixa o campo das retomadas pela antiga posição e cria sua própria linguagem num banco de praça, solitária (neste caso, um médio plano, disponibilizando câmara e objeto, para captar a pequenez dela no ambiente), falando para alguém (aproximação da câmera) supostamente ao seu lado.
A tensão conflituosa, nos dramas vividos pelas personagens femininas, desses três filmes revela-se em roteiros cujos contornos estabelecem os meios para definir o que tende a ser as evidências significativas desses dramas. Os planos (uma forte acentuação nos enquadramentos), a fotografia, a cor, a música, favorecem o espetáculo cinematográfico traduzido na vivência do dia a dia de cada figura transformada em personagem objetivada.
Em “Roda Gigante” as evidências do drama de Ginny são fixadas em um tempo, cujos recortes de outros tempos passados traduzem a síntese do que se observa nas aspirações manifestas pela personagem. Tensão no casamento – o segundo marido – um homem rude que não a acompanha em seus ideais de viver o esplendor da atuação como atriz; tensão com o filho - não somente pela síndrome de incendiário dele, mas por se constituir num élan com as culpas que assimilou do primeiro casamento (cf. as conversas que a mãe tem com o filho sobre o pai dele; e na confissão ao namorado sobre esse episódio). Tensão com a enteada – a juventude, a beleza, o afeto do pai – na competição pelo amor de Mickey.
O trânsito, nesse enredo, se dá não só pelos diálogos que acompanham o processo, mas, principalmente, pela forma de a câmera ir atrás desses personagens, em closes onde a tensão deve se expressar nas máscaras próximas; em médio plano quando o ambiente necessita ser exposto e circulante porque operam integrados; em grande plano quando há necessidade de apontar para o isolamento, os lugares de encontro, os espaços em que os vazios da praia querem mostrar o vazio existencial em que Ginny se acha. As escolhas musicais repercutem nos apelos ao tempo próprio e àquele tempo da ação dramática. Composta na base do jazz dos anos 50, tende a caracterizar as tensões e emoções da hora.
Com a fotografia de Vittorio Storaro a exposição do que está em jogo na tensão familiar – nos bastidores muito mais do que na arena da relação entre os quatro integrantes – a luz e os enquadramentos necessários a personalizar tanto a dona de casa quanto a amante, traduz o ambiente teatral das cenas construídas por Ginny, marcando imagens nas quais ela expõe tanto a euforia de ter conseguido alguém que a ame (há uma luz intensa e o enquadramento da câmera sobre seu rosto), explora as atitudes de desinteresse pela agenda do marido - não só o diálogo sempre tenso entre eles, mas as reações (luz intensa) quando este tende a proteger a filha. As sombras da roda gigante sobre a moradia têm impacto no momento em que Ginny reconhece que está perdendo terreno para a enteada e procura vestir-se à caráter com sua antiga indumentária teatral.
O resultado é uma farsa que aquele grupo está experimentando no sentido de jogar suas cartas de desejos e decepções em situações irreversíveis.
O fecho sugere que a consequência dos atos (de todos) é refletir uma rotina dramática que o corifeu da história assume. Mas as duas últimas imagens, muito sugestivas, mostram o garoto piromaníaco, filho de Ginny, fazendo uma fogueira na praia deserta (baixa luminosidade e ênfase na fogueira). E um close dela, espelhando seu sofrimento de prosseguir como a mulher por conveniência em um cenário que odeia. O giro da roda gigante que repete amores e dores num cotidiano que, por suposto, pode mudar. Já mudou. 

Como a maioria dos filmes de Allen, este tem uma história pessoal por trás. Com base numa teoria crítica feminista as evidencias são notórias sobre o tratamento do cinema às figuras femininas (cf. Ann Kaplan, Laura Mulvey, entre outras). No caso de Alllen, sua obra, hoje, ficou marcada pelas denúncias de assédio à filha. Creio que é possível tratar da construção de suas figuras femininas pelo formato da cultura patriarcal que o acomete. A intolerância com a violência doméstica opera no rigor ao formato da construção da narrativa que aplica sobre as figuras femininas em sua obra. E é possível fazer isso. Não foi o meu caso neste momento. Gostei do filme. 

domingo, 14 de janeiro de 2018

2017 - OS MELHORES FILMES DOS LEITORES DO BLOG



Dunkirk, o melhor filme do ano para os cinéfilos do blog e face

Remanescentes de uma tradição de quase 40 anos em coluna de jornal (dos 43 vividos), hoje, leitores do Blog da Luzia e amigos/as do Facebook, enviaram suas listas de melhores filmes de 2017. Num tempo em que a internet se mostra um elo de aproximação com as pessoas, essa tecnologia deixa a desejar uma prática tão interessante de alguns anos que eram as cartinhas recebidas de cinéfilos. Hoje, os e-mails, “posts” e as mensagens das redes sociais resumem a proximidade que é possível evocar sobre o fenômeno afetivo que as cartas proporcionavam. Mas o avanço é para ficar, não há retorno nessa emblemática “modernidade” que aproxima e identifica os contatos.
Este ano, 13 cinéfilos, alguns já cativos desta promoção, enviaram suas listas. Convém avaliar a distribuição dos filmes escolhidos, com alguns títulos integrantes da lista geral e individual da crítica de Belém. Na oportunidade, agradeço a persistência em manterem essa tradição mesmo longe do jornal impresso, mas presentes nas redes sociais.



Preciso informar, antes de passar às Listas individuais, que um dos cinéfilos do face, Carlos Lira, encaminhou sua lista em tempo hábil, contudo, por alguma razão, a “limpeza” sistemática que o msg faz eliminou-o da contagem final desta primeira versão. Hoje incluo a sua lista individual e apresento a versão da Lista geral com essa contribuição, considerando a justeza das minhas atitudes. Pelo que se pode avaliar, houve uma reorganização dos títulos, mas não mudanças mais drásticas em relação à lista geral. 

LISTA GERAL  - 1 
1)      Dunkirk (Christopher Nolan) – 45 pts.
2)      La La Land (Damien Chazelle) – 41 pts
3)      Manchester À Beira-Mar (Kenneth Lonergan) – 39pts
4)      Eu, Daniel Blake (Ken Loach) – 36 pts
5)      Moonlight (Barry Jenkins) – 34 pts
6)      A Criada (Park-Chan-Wook) – 32 pts.
7)      Blade Runner 2049(Denis Villeneuve) – 31 pts
8)      Afterimage – (Andrzej Wadja) – 26 pts;  e
           Elle (Paul Verhoeven) – 26pts
9)      Frantz (François Ozon) – 25 pts.

LISTA GERAL - 2 

1. Manchester À Beira-Mar (Kenneth Lonergan) – 49 pts
2. Dunkirk (Christopher Nolan) – 47 pts.
3. La La Land (Damien Chazelle) – 41 pts
4. Blade Runner 2049(Denis Villeneuve) – 40 pts
5. A Criada (Park-Chan-Wook) – 37 pts
6. Eu, Daniel Blake (Ken Loach) – 36 pts
7. Moonlight (Barry Jenkins) – 34 pts
8. Frantz (François Ozon) – 28 pts.
9. Elle (Paul Verhoeven) – 27pts
10. Afterimage – (Andrzej Wadja) – 26 pts.

Cena de "Manchester a Beira Mar".

LISTAS INDIVIDUAIS

CARLOS LIRA

1. Manchester à beira-mar 
2. Blade Runner 2049
3. Split
4. Personal Shopper
5. Na Praia a noite sozinha
6. A Criada
7. Ritmo de fuga
8. Frantz
9. Dunkirk
10. Elle

VALESKA FALCÃO
1 - La La Land
2 - Moonlight
3 - A Criada
4 - Fragmentado
5 - Invisível
6 - Logan
7 - Afterimagem
8 - Eu Não Sou Seu Negro
9 - Frantz
10 - Eu, Daniel Blake

EDYR JOSÉ FALCÃO JUNIOR

1 - Afterimage
2 - Fragmentado
3 - La La Land
4 - A Criada
5 - Moonlight
6 - Invisível
7 - Logan
8 - Eu, Daniel Blake
9 - Eu Não Sou Seu Negro
10 – Frantz

NELSON ALEXANDRE JOHNSTON

1- Blade Ruuner 2049;
2- Dunkirk;
3- La La Land;
4- Mãe!
5- Manchester À Beira-Mar;
6- Eu Não Sou Seu Negro;
7- Afterimage;
8- O Filme Da Minha Vida
9- Como Nossos Pais
10- Z: A Cidade Perdida

Jeison Texican Castro Guimarães

1- Estrelas Além Do Tempo;
2- A Criada;
3- Lion: Uma Jornada Para Casa;
4- O Filme Da Minha Vida;
5- Entre Irmãs;
6- Divinas Divas;
7- Moonlight: Sob A Luz Do Luar;
8- La La Land;
9- Blade Runner 2049;
10- Star Wars: Os Últimos Jedi.

ALEX BARATA DA SILVA

1. Elle   
2.  La la  land,
3. Manchester  a beira mar,
4. Deboche,
5. Logan,
6.  O filme  da minha vida,
7. Nem céu e nem terra,
8.   Outsider
9. Extraordinário 
10.  Malasartes e o Duelo  da Morte

MARGARIDA MARIA XERFAN

1- Dunkirk  (Christopher Nolan
2 - Moonlight (Barry Jenkins
3 - EU, DANIEL BLAKE (Ken Loach
4 - Elle (Paul Verhoeven
5 Manchester a Beira Mar (Kenneth Lonergan
6 - O APARTAMENTO (Asghar Farhadi
7 - Blade Runner 2049 (Dennis Villeneuve 
8 - Roda Gigante (Woody Allen
9 - LA LA LAND (Damien Chazelle
10 - O Filme da Minha Vida (Selton Mello

PAULO PAMPLONA FRAZÃO

1  Manchester à beira mar - K . Lonergan
2 Eu não sou seu negro-R. Peck
3 Mãe - D. Aronofski
4  Eu, Daniel Blake - Ken Loach
5  Frantz - F. Ozon
6  Dunkirk - C . Nolan
7  De canção em canção - T. Mallick
8   Afterimage- A . Wajda
9  Blade Runner - D. Villeneuve
10  o Filme de minha vida- S. Mello

ALESSANDRO BAIA
 1- Eu, Daniel Blake (Ken Loach
  2- Frantz (François Ozon
  3- Blade Runner 2049 (Dennis Villeneuve
  4- Um Filme de Cinema (Walter Carvalho
  5- Columbus (Kokonada
  6- Dunkirk (Christopher Nolan
  7- Amanhã (Mélanie Laurent e Cyril Dion
  8- A Morte de Luís XIV (Albert Serra
  9- Corra! (Jordan Peele
10-  Eu Não Sou Seu Negro (Raoul Peck 

ORLANDO SERGIO

1.Mãe! (Darren Aronofsky)
2.Manchester à Beira Mar (Kenneth Lonergan)
3.A Criada (Chan-wook Park)
4.O Apartamento (Asghar Farhadi)
5.Moonlight (Barry Jenkins)
6.Blade Runner 2049 (Dennis Villeneuve)
7.Patterson (Jim Jarmusch)
8.Eu, Daniel Blake (Ken Loach)
9.Dunkirk (Christopher Nolan)
10.Frantz (François Ozon)

CARLOS COSTA JUNIOR

1.Paterson
2.Elle
3.Martirio
4.Corra
5.Frantz
6.Afterimage
7.Eu,Daniel Blake
8.Dunkirk
9.Na Praia a noite sozinha
10.Gabriel e a Montanha.

JOÃO LISBOA

1.      Corra!
2.      Na Praia a noite sozinha
3.      Como nossos pais
4.      Estrelas Além do Tempo
5.      Vida
6.      O Que Está Por Vir
7.      Star War: O último Jedi
8.      Bingo
9.      O Apartamento
10.    Dunkirk

ALFREDO LEÃO
1.Vida
2. O Filme da minha vida
3. Bingo
4. Star Wars: Os Últimos Jedi
5. Logan
6. Fragmentado
7. Eu não sou teu Negro
8. Invisível
9. Como nossos pais
10. Mãe!

PAULO JOSÉ VIANA
1.      Bingo
2.      Paterson
3.      Z: A Cidade Perdida
4.      A tartaruga Vermelha
5.      Como nossos pais
6.      Extraordinário
7.      Um filme  de cinema
8.      Mãe!
9.      Vida
10.    La La Land