Janet Hodgson (Madison Wolfe) é a paranormal de "Invocação do Mal 2
James Wan, 39, de
origem malasiana, diretor, roteirista e produtor australiano de cinema não está
na relação de minhas preferências, mesmo gostando de temas de terror e
suspense. Conheci a expertise dele no filme “Jogos Mortais” (2004) que aponta a
figura de Jigsaw (Tobin Bell) como o “serial killer” e os horrores cometidos
pelo tipo contra os estranhos que perderam a lembrança de como chegaram ao
quarto de horrores onde se acham submetendo-se a atos violentos para saírem da
trama diabólica. Aliás, esse foi o único que assisti prometendo não ver nenhum
outro dessa série. Jigsaw passou a ser minha referência ao pior tipo usado em
filme violento.
Este preâmbulo expressa
minha posição em relação ao que até agora foi produzido pelo malasiano e
inauguro uma outra expectativa para simpatizar com o cinema dele. Parto do seu
novo filme, em cartaz, e que me foi indicado por meu neto Francisco Guzzo Neto,
“Invocação do Mal 2”.
Na primeira sequência,
The Conjuring 2 (EUA, 2016, 133 min.) apresenta o casal Lorraine e Ed Warren
(Vera Farmiga e Patrick Wilson) que investigam atividades paranormais desde o
início da década de 1950, com mais de 4.000 casos, incluindo o conhecido caso
de Amityville, sendo, inclusive reconhecidos como os primeiros investigadores
que participaram da verificação do caso. Em aproximadamente 15 minutos há
revisão do episódio através de uma mesa mediúnica, com Lorraine, em transe,
reconhecendo a situação em que vários fenômenos paranormais se inscreveram em
uma odisseia marcada por uma categoria de metapsiquismo onde a mediunidade de
efeitos físicos e a de efeitos inteligentes de uma pessoa apresentou
consequências traumáticas e desordem material no ambiente. Esse evento levou o
casal a predeterminar sua ajuda através de palestras e debates aos casos que
oferecessem semelhanças.
Há um corte narrativo e
o foco seguinte ambienta-se em uma pequena cidade inglesa, com a trama
baseando-se no caso Enfield Poltergeist, introduzindo o drama dos Hodgson,
apresentando a história de Peggy Hodgson (Frances O’Connor), mãe que luta
sozinha para criar suas 5 filhas – haja vista a ausência do pai. Em meio a
miséria em que vivem, iniciam-se as cenas de metapsiquismo de uma das filhas,
Janet Hodgson (Madison Wolfe), com manifestações que alcançam a produção de
fenômenos mecânicos e psicológicos como se uma força inteligente fosse
incorporada pela garota fazendo-a agir a exaustão de forma desconectada com a
energia que possui destruindo objetos e prejudicando sua própria integridade
física. Alguns crentes locais desses fenômenos capturam as imagens dos eventos.
No terceiro ato, a
presença do casal Lorraine e Ed Warren é convocada pela igreja norte americana
para averiguar a ocorrência na Inglaterra. Relutantes aceitam, entretanto, a
incumbência e seguem para o lugar dos fenômenos. Embora se defrontem com as
inúmeras situações promovidas pela adolescente não se convencem do misterioso
envolvimento familiar e tendem a considerar esses fatos produzidos para chamar
a atenção. Mas em determinado momento, ao lembrarem do misterioso espírito de
Valak do caso Amityville aceitam o desafio.
Quem está acostumado
com esse gênero de filme não tem muito com o que se tensionar, posto que ao
construir as crises fenomênicas da adolescente o roteiro cria movimentos de
câmera que obedecem ao clima recorrente de outros exemplares, com o movimento
alcançando sentidos diversos. A câmera obedece a enquadramentos que tendem a
repercutir o significado da ação pretendida, como planos-sequência, câmera
parada (pessoas e objetos se movimentando no momento em que peças voam pela
sala e portas e armários se espedaçam) captando o rosto da jovem em transe,
alguns takes distanciado outros aproximados. Esse enquadramento às vezes está
mais aberto, num plano médio ou mais fechado, em close da figura que está em
evidencia, tanto frontal quanto lateralmente.
Da panorâmica aos
travellings observa-se um continuo eixo de capturas, devendo-se ao enfoque dos
fenômenos que tendem a ser apresentados num demonstrativo de que aquele
ambiente não se conjuga num processo de normalidade.
Nesse ir e vir da
câmera se consubstancia o interesse de Wan em dar consistência à narrativa
sobre um invasor anímico corporificado em Janet. O segundo ato do filme opera
nas circunstancias de apresentar à exaustão o que se passa naquela casa de
mulheres e onde a miséria se instala pela força da ausência dos meios de
sobrevivência. Utiliza um ritmo opressivo demonstrativo do susto e como este
causa a sensação de medo no público.
No terceiro ato que
agrega a primeira e a segunda parte, o clímax se desdobra inicialmente na
incredulidade aos fenômenos assistidos, mas manipulados pelos próprios entes
sobrenaturais que circulam e as imagens mais convergentes para as sombras e
para os vultos surgidos em impacto envolvendo um ou todos os personagens
diretamente comprometidos com a ação que se agudiza. Neste aspecto, já houve o
envolvimento do público com os personagens inscrevendo-se a preocupação com o
que irá acontecer. Um exemplo é a odisseia de Ed Warren e a mãe de Janet no
sótão do subsolo enquanto a água em enxurrada enche o local e fora da casa,
Lorraine e um amigo da família intentam abrir uma passagem para tirá-los dali.
Se alguns sustos são
óbvios outros nem tanto e a música nem sempre obedece ao clássico momento que
explode para criar mais impacto. Trata-se de uma trilha sonora original que
favorece mais o suspense do que o terror.
Os atores têm bons
desempenhos, como Frances O’Connor interpretando Peggy Hodgson, e a garota
Madison Wolfe como Janet Hodgson.
Vi em “Invocação do Mal
2” uma possibilidade de um encontro com James Wan. Vamos ver seus próximos
trabalhos...