Avô e neto numa das "pegadinhas" do filme
Pegadinhas dispostas a fazer rir quem
as vê não é novidade. Em 1948, Allen Funt (1914-1999)
produtor de rádio e tevê, criou um programa de rádio intitulado "Candid
Microphone” (depois, Candid Camera, para a tevê) de onde solicitava aos ouvintes que posassem para a então curiosidade
técnica chamada televisão.
Na virada do milênio, o grupo Jackass
saiu da MTV, onde foi criado, para o cinema. O seu “comandante”, Johnny
Knowville, é quem representa a figura principal do filme ora em cartaz
nacional: “Jackass apresenta Vovô sem Vergonha”(Jackass Presents: Bad
Grandpapa, EUA, 2013). O motivo que elevou o filme além da média do grupo,
ganhando primeiro lugar nas bilheterias norte-americanas em sua semana de
estreia e hoje figurante entre as “10 mais”, é que em meio às “pegadinhas”
conta uma história de cunho sentimental. Basicamente é a jornada de um senhor
de 80 anos (Knowville) que leva o neto de 8 ao encontro do pai, uma vez que a
mãe (a filha dele) está presa como traficante de drogas, enquanto a avó acaba
de falecer. A viagem de Nebraska a North Caroline é feita no carro do “velho” (uma
maquilagem perfeita no ator de 42 anos) e ao longo do percurso, a dupla, ou
seja, o avô e o neto se dão ao direito de iludir os passantes.
O filme é dirigido por Jeff Tremaine,
membro do grupo e responsável pelos primeiros filmes dos Jackass. No roteiro
está Spike Jonze, o criativo diretor-roteirista de “Quero ser John Malkovich” (1999)
e “Adaptação”(2002).
Muitas situações provocadas pelo
“vovô” e “netinho” são, realmente, hilárias e, por vezes, dramáticas. Uma
delas: quando o ancião invade uma festa de casamento e derruba um monte de
taças que estavam artisticamente colocadas ao lado de um bolo de casamento no
momento da ceromônia. Há situações que possibilitam pensar em gerar reações
violentas como o episódio em que o avô joga o carro em cima de um gigantesco
pinguim que marcava a entrada de um estacionamento (e o dono quer logo que seja
consertado o objeto).
Em algumas sequencias o apelo ao
chamado humor mórbido é colocado, mas não é original (há recorrência divertida em
outros filmes). A exemplo, o transporte do cadáver da esposa do avô, que segue
na mala do carro em que viajam os dois personagens principais. O objetivo é jogar
o corpo num rio que lhes pareça menos fácil de render explicações a quem passe
por perto e, segundo o idoso, um último pedido da morta. Essa sequencia fecha
com um arremate do gênero: avô e neto vão pescar no local onde está boiando a
avó morta... ( é uma cena posada, sem dúvida).
Jonze certamente influenciou no muito
de surreal que se apresenta durante a narrativa. Há um apelo ao bizarro quando,
por exemplo, o idoso prende o pênis numa porta e pede às pessoas que passam que
o ajudem a tirar o órgão. “- Dê-me uma mãozinha” diz ele. E circulando ao redor
veem-se os “machões” passarem ao largo sem exibir sorrisos.
Jackson Nicoll que protagoniza o
garoto Billy já tem 9 filmes no currículo tendo começado com “O Vencedor”, em
2010.
Todas as ocorrências construidas nas
pegadinhas são dadas a conhecer àqueles que “cairam” nas situações irreverentes,
somente no final do filme, quando a equipe de técnicos abre o jogo, ou seja,
mostra às pessoas que haviam participado dos episódios que os incidentes e até
os acidentes eram “coisa de cinema”. Nota-se que algumas pessoas se intimidaram
com a revelação por terem contribuido em cenas disparatadas e absurdas. Uma
sequencia que não levou à desconstrução, pela equipe, foi a da parte final,
quando o neto se traveste de menina para participar de um concurso que mede o
desempenho de garotas (beleza, fantasia, postura, dança). Esse episódio tem
muito a ver com aquele final do filme “Pequena Miss Shunshine” (2006). A última
cena mostra os rostos enraivecidos das mães de família.
Se a irreverência é um dos objetivos
do filme este foi alcançado. O riso predominou na platéia durante toda a
exibição e a criançada que estava com os pais se divertiu muito. Um fecho
interessante foi a referência á amizade criada entre duas pessoas de uma mesma
família que ainda não se conhecia. Mostra que o afeto não é imposto, mas um
sentimento construido.