sexta-feira, 30 de julho de 2010

ESPIONAGEM FEMININA




Centrados nos blockbuster lançados no inicio do mês, os cinemas da cidade de Belém têm, nesta sexta feira, 30, uma única estréia :“Salt”, filme de ação que evoca a espionagem russa, protagonizado por Angelina Jolie investida de uma americana imputada como espiã.

Na área alternativa ou extra será exibido o clássico “Musica de Fantasia” sátira sobre a animação “Fantasia”, realização de Walt Disney em 1940 É dirigida por Bruno Bozetto. Será o programa da Sessão Cult do Cine Libero Luxardo (Centur). “Um Segredo em Família”, de Claude Miller, dará seguimento as sessões, no mesmo cinema, em horário normal (19,30h), até domingo, dia 1º.

Dentre as continuações, “Shrek Para Sempre” mantêm-se em 3D(Sala 2 do Moviecom Pátio) e cópias em 2D nas salas do mesmo shopping e, também, do Castanheira. O filme ganha também a exibição de uma cópia com o som original e legendas (além de ser em 3D) em sessão de 21h45 no Pátio 2.

Prossegue também “Eclipse”, “Encontro Explosivo”, “O Bem Amado” e, só nas salas Castanheira, “Predadores” e o excelente “Toy Story 3”(em seus últimos dias).

Salt”(EUA, 2010) é dirigido pelo australiano Phillip Noyce (de “Jogos Patrióticos-1992”) e conta com Angelina Jolie vendendo outra vez a imagem de lutadora (no plano físico) que exagerou nas duas aventuras da super-heroína Tomb Ryder. O argumento pode ser assim resumido: uma oficial da CIA, Evelyn Salt (Angelina) fez um juramento de honra ao seu país. Mas sua lealdade será testada quando acusada de ser uma espiã russa. Salt usa todas as suas habilidades e anos de experiência como agente secreto para escapar e provar a sua inocência. O mecanismo que aplica na fuga dos perseguidores, tentando provar a sua credencial de americana, é a base da história.

Em recente entrevista a atriz que em 2009 foi candidata ao Oscar por “A Troca” disse que fez muitas cenas de luta, recusando dublê. Em que pese o tom da aventura dinâmica, a critica norte-americana não viu o filme apenas como um “blockbuster” movimentado, a exemplo de tantos títulos que surgem no período. Há comentários que definem o filme como uma ficção política utilizando-se das figuras que foram exploradas no tempo em que eram freqüentes o aparecimento dos vilões russos da “guerra fria”. Dizem haver momentos inteligentes que recuperam o gênero cinematográfico da mesmice usual que o roteiro de Kurt Wimmer não deixa, propositadamente, fugir.

O veterano crítico Roger Ebert do jornal Chicago Sun-Times concedeu ao filme quatro estrelas em seu comentário, o que vale dizer “excelente”.
Vamos confirmar.

“Musica e Fantasia”(Allegro, no Troppo; Itália, 1976) foi objeto de comentário ontem na coluna. Reunindo seis esquetes animados o diretor Bruno Bozetto brinca com o clássico “Fantasia” de Walt Disney e com mais detalhes da indústria cinematográfica majoritária. A exibição de uma orquestra de mulheres muito idosas, apresentadas dentro de uma jaula, lembra o que uma vez Hitchcock disse dos atores em geral: “são gado”. Esta afirmação jocosa deu margem à uma brincadeira que com ele fez a sua amiga Carole Lombard quando o diretor filmava “Mr and Mrs Smith”(aqui “Um Casal do Barulho”): ela instalou jaulas no “set” com cordeiros dentro. Alem disso, Bozetto tirou o seu principal personagem de uma sala de tortura onde estava algemado. O moço tímido, que jamais fala, acaba sendo o “príncipe encantado” da história. Motivos para a faixa cômica do filme.
Amanhã às 16 h fazendo a Sessão Cult do Cine Libero Luxardo.

O público tem feito seus programas numa opção entre o cinema de rua (hoje, shoppings”) e o cinema doméstico (home theatre para assistir às cópias de filmes em DVD). É o momento em que se observa tanto a inserção mundial da alta tecnologia de mídias cada vez isolando as pessoas e o gradual afastamento desse público do que antes eram chamados de “filmes de lazer”. Para compensar a baixa freqüência de algumas produções, investimentos milionários na ordem da definição de certos enredos pelos estúdios, propiciam níveis de sedução a esse público que está optando mais pelo cinema doméstico.

Sendo uma coluna de cinema, Panorama e este blog torcem para que as produções que agregam mais do que excluem e integram as pessoas possam ter um bom mercado, evitando as “sessões individuais” que não levam a nada.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

MÚSICA E FANTASIA



Nos final dos anos 1970, os recém inaugurados Cinemas 1 e 2 exibiram com sucesso a animação italiana “Música e Fantasia” (Allegro, non Troppo; Itália, 1976), paródia do clássico “Fantasia” de Walt Disney, incluindo seqüências cômicas com atores entre os números musicais ilustrados por clássicos de vários compositores.

A produção revelou o talento do cineasta Bruno Bozzeto. A sequencia inicial brincava com a fonte da paródia, focalizando um produtor, protagonizado por Maurizio Michelis, que recebia um telefonema de Los Angeles reclamando que o seu filme, a ser apresentado naquele momento, era plágio de outro, realizado há muitos anos por um tal de Prisney. Seria a primeira de muitas alusões para suscitar o riso, nem sempre imaginosas. A maioria envolve o animador, interpretado por Maurizio Nichetti. Ele é o tímido clássico, trajando fraque, gravata borboleta, óculos e usando um bigode grosso à maneira de Grouxo Marx. Tende a ser uma figura que se atrapalha e por isso recebe censura do maestro (Nestor Garay), situações amenizadas pela atenção da bela servente (Mariluisa Giovanni). O maestro, no caso, rege uma orquestra de mulheres idosas. Elas estão sempre bem humoradas e servem de apoio à comicidade do filme posto que na verdade não regem coisa alguma.

A animação é composta por seis números musicais que servem aos desenhos. Os mais interessantes, que não saíram de minha memória, foram “Valsa Triste” de Sibelius, onde um gato lembra os bons momentos que passou na casa de uma família, estando o imóvel em ruínas por onde ele vaga tendo lampejos de lembranças alegres do passado. Há outro, “Bolero”, de Ravel, onde é contada a história dos seres vivos na Terra a partir de uma garrafa de Coca Cola jogada num deserto. A alusão da famosa marca de refrigerante como marco da civilização acabou sendo imitada. No documentário “Os Deuses Devem Estar Loucos”(The Gods Must be Crazy/África do Sul, 1980) também uma garrafa dessas é abandonada numa região erma da Austrália por alguém que parte de avião. O objeto passa a ser visto como um deus, pelos aborígines. Bozetto e seu sócio no roteiro Guido Manuli, usam bem a idéia para construir um painel da evolução das espécies, desde os animais unicelulares ao ser humano. Tudo no compasso correto da bem orquestrada interpretação da obra de Ravel.

Muito interessante – e nesse ponto o filme não envelheceu, são vinhetas cômicas com auxilio de desenhos. Uma delas pega fogo e vê-se o bonequinho se espremendo no exíguo espaço de um pedaço de papel com medo de ser queimado. Também é criativa a saída do sofrido desenhista e sua amiga, os dois cansados dos gritos do maestro opressor. Ele desenha a si e a amiga e saem voando pela sala. Seqüência digna de um grande mestre como o veterano Jean Cocteau.

O filme marcou uma época entre nós. Sempre lembrávamos “Musica e Fantasia’ com um ar saudoso. E a imagem crescia na memória com o passar dos anos sem que surgisse o DVD em edição brasileira. Uma cópia em VHS foi lançada, mas a exibição estava pouco distante do que explorou a tela grande e qualquer critica ficava diminuída com a idéia de “cult” alimentada até mesmo pela nostalgia de um tempo.

Hoje, é possível que os espectadores de ontem sintam certa decepção. Há exemplos assim: a memória idealiza mais do que a verdade. Como há o reverso: filmes que não nos sensibilizaram na estréia são revistos com certo entusiasmo, deixando-nos a discutir o motivo de um precipitado conceito positivo à obra revisitada.
Bruno Bozzetto tem em sua filmografia 48 filmes e somente dois, ao que consta, foram exibidos por aqui. O último, “Armi su Strada”(2008) é um curta de animação. De todos os títulos, “Allegro non Troppo” é o mais evidente, tendo recebido o premio David di Donatello, o equivalente ao Oscar na Itália, de forma especial.

No próximo sábado o filme será apresentado na Sessão Cult do Cine Libero Luxardo (16 h) com debate no final da projeção. É uma relíquia de um gênero que hoje está merecendo um olhar cuidadoso dos grandes produtores.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O BEM AMADO



Telenovela da Rede Globo em 1973, série exibida entre 1980-1984, peça de teatro, “O Bem Amado”, de Dias Gomes, ganhou acolhimento de uma platéia que respirava fundo pela redemocratização do país e procurava pelas brechas na censura ditatorial. Aliás, muitos se perguntam como a novela conseguiu ser transmitida quando ainda vigorava o governo militar. Talvez porque Sucupira, a cidade-símbolo da corrupção em território nacional, fosse mostrada num passado democrata. De qualquer forma, era divertido ver a caricatura cultural mexendo com o modelo do “Brasil-Grande” vendido nos anos 1970.

Hoje, “O Bem Amado” (Brasil, 2010, 107 min.) ganha um filme de longa-metragem com direção de Guel Arraes (filho do conhecido político e ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, banido pela ditadura), cuja filmografia registra títulos premiados como “O Auto da Compadecida”(2000) adaptado da peça de Ariano Suassuna (da mesma forma vindo de um sucesso na TV e nos palcos), “Lisbela e o Prisioneiro (2003), entre outros. É também conhecido diretor de televisão, de grande sucesso.

A adaptação para o cinema de 2010 fez muitas mudanças. Basta lembrar as personagens que formam o grupo das Irmãs Cajazeiras. Antes três beatas reforçando o fator religioso presente na cultura e nos “bons costumes”, surgem como três “dondocas” extremamente caricatas. Também aposta num romance proibido para conseguir a simpatia de uma platéia jovem que certamente nem era nascida quando a história surgiu na telinha. Há um Romeu na pele de Caio Blat, o jornalista Neco Pedreira do órgão opositor ao governo da cidade de Sucupira, o jornal “A Trombeta”, que namora uma Julieta, ou seja, a Violeta ( Maria Flor), filha do prefeito Odorico Paraguaçu.

As inclusões na adaptação contemporânea do fato político que a peça e a telenovela queriam criticar, do contexto original, prejudicam o filme. Os bons atores em cena, especialmente Marco Nanini, que protagonizou Odorico Paragaçu no teatro, estão envolvidos na opção de Arraes que passou pela sátira política e enveredou firme pela chanchada típica. Esse gênero tem raízes nacionais profundas e manteve um mínimo de cinema industrial no país em passado distante. Mas não seria o caso de usar esse método na roupa nova da trama nem seria o reforço para fazer de “O Bem Amado” um programa igualmente amado pelos mais jovens (os mais velhos simplesmente perdem a paciência com a “re-novação”).

Muito falado (ou gritado), a raiz teatral ganha força, pois as seqüências de ação são mínimas. E constrangedoras. No momento em que se filmam protestos populares observa-se o cuidado em esconder os extras que parecem brincar adiante das câmeras, alguns não conseguindo deixar de rir da situação que lhes é pedida como reivindicatória, ou potencialmente zangada. Mas não é por aí que escorrega o filme. Nem pela inevitável comparação com o que se fez no passado. A idéia de extrapolar as atitudes, de gritar como no palco, de usar de recursos cênicos para fazer comédia, isso no cinema gera aversão de quem espera outro tratamento ao trabalho de Dias Gomes. Todos, na verdade, esperam por uma crítica à corrupção eleitoral que inclusive suscitou a criação da lei do “ficha limpa”. Mas o filme joga toda a política brasileira num “saco de gatos”.

E o pior: o epílogo gera um estranho final. Fazendo um contraponto com a História, intercalando cenas de documentários mostrando o governo João Goulart e depois a fase dos militares, Arraes encerra depois do movimento “Diretas Já!”, vale dizer, da redemocratização e, distanciando a câmera deixa ver o globo terrestre e o Brasil com o nome de Sucupira. Entende-se com isso que as trapalhadas de Paraguaçu, a autoridade municipal que tinha como meta de governo, primordialmente, a construção de um cemitério & o uso dos recursos públicos de forma corrupta, é coisa do regime democrático. No tempo dos militares não tinha disso. Dias Gomes não gostaria de saber dessa interpretação.

Um tropeço grande. A produção espera que seja um sucesso de bilheteria a seguir “Chico Xavier” e “Se Eu Fosse Você 2”. Pelo visto na sessão em que estive, vi pessoas saindo antes do final. O filme deve estar sendo mal amado. Infelizmente.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

DRAMA E CONSCIÊNCIA





Continuam chegando em DVD cópias de filmes inéditos no circuito de exibição comercial. Dividindo com os que assisto na TV fechada, reservo as segundas feiras para repassar ao leitor/a deste espaço, minhas opiniões sobre o que assisto. Ao menos o espectador/a em “jejum” de bons filmes, leitor de Panorama, procura agendar seus programas com essas indicações, principalmente neste tempo de férias (para alguns, diga-se).E não esqueçam que há este blog sempre atualizado com essas informações.

“Policia, Adjetivo”(Politist Adejctive/Romênia,2009) ganhou o prêmio “Um Certo Olhar” no Festival de Cannes/2009 e, também, o prêmio da critica. Jamais chegaria às nossas salas comerciais. A narrativa lenta segue um policial encarregado por seu chefe de investigar um jovem estudante suspeito de distribuir e usar drogas. Especificamente, maconha. O policial diz que esteve em lua de mel da Tchecoslováquia (em Praga, a capital tcheca) e percebeu que lá não existe mais lei proibindo o uso da maconha. “Esta lei pode mudar aqui” pensa ele em função e Bucareste. Mas o seu superior manda que leia no dicionário os termos “consciência”, “lei” e “moral”.

Nessa longa leitura que é feita em plano médio e estático na sala do delegado, ouve-se que a consciência de um homem da lei não representa a lei. Se ele serve ao que é legal é obrigado a cumprir o que se têm como legal. E tanto consciência como moral são termos subjetivos. A frieza da lei obriga a que se faça alguma coisa, e neste caso não há conjectura se a lei possa mudar.

É claro que o filme evoca a ditadura Ceausescu que abraçou a Romênia durante muito tempo(1965-1989). Naquele período, a exacerbação dos cumprimentos aos preceitos legais, na verdade, aos ditames do ditador, era inflexível. Na época da ação do filme isto ainda se fazia sentir.

O diretor Corneliu Porumboiu nasceu em 1975 e certamente soube da opressão vivida por seu povo. Dele outro filme elogiado: “A Leste de Bucareste” (2006). A linguagem deste “Policia, Adjetivo” não é complexa, mas peculiar no que se refere ao ritmo. Sempre usando câmera estática, logo na primeira seqüência demonstra um estilo acompanhando o caminho tomado pelo personagem por mais de cinco minutos. Não se sabe de quem se trata, o que está fazendo, e não há música de fundo. Depois disso, as tomadas quase sempre internas demoram no mínimo 3 minutos antes de um corte. Na seqüência em que o chefe manda que seu subalterno leia um dicionário, o tempo passa de 15 minutos. Exasperante para a maioria dos espectadores. É o tipo do filme que é repelido pela maioria que procura cinema – ou mesmo aciona o DVD como diversão. Mas há uma riqueza inegável no que trata e como trata. Realmente o termo “policial” é discutível como adjetivo, desde que se flexione o que queira dizer isso.

Um clássico de aventuras que marcou uma geração é “O Pirata Sangrento”(The Crimson Pirate/EUA, 1948) do veterano Robert Siodmak. Usando a cor e apostando na ação acrobática o diretor, responsável por grandes exemplos de “film noir” como “Dúvida”(1942), “Assassinos”(1946), “Espelho D’Alma”(1946) e “Uma Vida Marcada”(1948) mostra Burt Lancaster e seu parceiro de juventude no circo Nick Cravatt como piratas alegres que usam certa ética nos ataques a navios reais (a opção é de barcos de ditadores). Logo na primeira sequencia o personagem de Lancaster olha para a objetiva e pede que se creia no que se vai ver. Em seguida, dá um salto para outro mastro do seu navio e conclui: “Mas não em tudo”.

O filme fez a festa de muitas crianças de um tempo em que entre nós haviam matinais aos domingos em quase todos os cinemas. Uma tradição paraense que a modernidade enterrou.

Denso é “Leon Morin, o Padre” (Leon Morin, le Prête/França,1961) um filme atípico do diretor de alguns bons “noir” franceses: Jean Pierre Melville. Inovando também, Jean Paul Belmondo protagoniza um sacerdote que resiste aos encantos de uma viúva, mãe de uma menina. De ideologia comunista se insere no cenário de rejeição na França ocupada pelos alemães (2ª.Guerra) e o debate é mostrado de forma fria, com alusões a elementos caros ao sacerdócio católico. Como assistente está Volker Schlondorff (“O Tambor”) mais tarde um dos bons diretores alemães.


DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

Alice no País das Maravilhas
Um Sonho Possível
O Livro de Eli
Missão Quase Impossível
Simplesmente Complicado
Casa Comigo?
A Estrada
O Amor Acontece
Cadê os Morgan?
Meu Namorado é uma Super Estrela

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O BEM AMADO NO CINEMA




A estréia mais expressiva do circuito comercial é “O Bem Amado”, versão do texto de Dias Gomes, dramaturgo brasileiro transformado em novela global de grande sucesso. O filme entra em cartaz nas salas de cinema dos dois shopping da cidade onde atua o Moviecom (Pátio e Castanheira). Outra estréia é de “O Predador”, produção do irreverente diretor Roberto Rodriguez que segue personagem de uma história de ficção-cientifica dos anos 80.

No circuito extra, “Um Segredo em Família”, filme que foi exibido durante dois dias no Cine Estação, semana passada, estando agora no Cine Libero Luxardo. O Cine Clube Alexandrino Moreira(IAP/Nazaré, ao lado da Basílica) exibe na 2ª feira às 19 h, o clássico “Solaris” de Andrei Trakovski. E o Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem/Nazaré c/Assis de Vasconcelos) programa para a 3ª feira é “Saneamento Básico”, de Jorge Furtado. O filme é parte do programa Cinema Sobre Cinema contribuição da ACCPA.

Baseado na obra de Dias Gomes, “O Bem Amado” (Brasil,2010) trata da odisséia do personagem prefeito Odorico Paraguaçu, que tem como meta prioritária em sua administração na cidade de Sucupira a inauguração de um cemitério. É apoiado pelas irmãs Cajazeiras, com as quais o político viúvo mantém relações muito próximas. A oposição ao prefeito é representada por Vladimir (Tonico Pereira), dono do único jornal da cidade. A história passada no início dos anos 1960 é narrada por Neco Pedreira (Caio Blat), um jovem que se apaixona por Violeta (Maria Flor), a filha do prefeito, uma estudante da capital. Os dois vivem um romance proibido enquanto Odorico sonha em inaugurar o cemitério municipal. Por falta de defunto ele custa a realizar sua meta e arma situações para que alguém morra, ou, no desespero, importar um moribundo (Ernesto) que acaba não morrendo. Daí pede auxilio ao matador Zeca Diabo (José Wilker), responsável pela morte de seu antecessor.
A direção é de Guel Arraes (“O Auto da Compadecida”, “Lisbela e o Prisioneiro”) e o filme chega com a esperança de ser uma das maiores bilheterias do cinema nacional este ano.

“Predadores” (Predators/EUA,2010) traz de volta personagem de um “blockbuster” do passado, o que atacou o tipo vivido por Arnold Schwarzengger e deu margem à uma seqüência, “Predador vs Alien”. O produtor Roberto Rodriguez começou realizando um cinema autoral com poucos recursos. Hoje aderiu ao espetáculo comercial e traz Adrien Brody, o ator de “O Pianista”, de Roman Polanski, como Royce, um mercenário lidera um grupo de comparsas e se vê prisioneiro de aliens em outro planeta.
O filme foi concebido para ter o retorno de Schwarzenegger no papel principal, mas o hoje governador da Califórnia recusou. O principal papel feminino é defendido por Alice Braga, sobrinha de Sonia Braga e já se acostumando a fazer filmes de ação nos EUA.

“Segredo em Família”(Um Secret/França, 2009) tem roteiro baseado em fatos reais mencionados por Phillipe Grimbert no seu livro homônimo. A ação não se inicia na 2ª; guerra, mas em dez anos depois de seu final, em 1955. Com o mundo já em paz, acompanha-se a história de François, garoto de sete anos que leva uma vida comum com seus pais Maxime (Patrick Bruel) e Tania (a bela atriz belga Cécile de France, de “Bonecas Russas”). Tímido e franzino, ele não se identifica com o mundo atlético de seus pais, apaixonados por esportes e atividades físicas. Como uma fuga, acaba criando para si um irmão mais velho imaginário, forte e capaz de tudo. Já na adolescência, porém, François vai perceber que existem muitos motivos para se sentir um excluído dentro da própria família. Motivos que remontam a uma época anterior à própria guerra, antes do mundo conhecer os horrores do Nazismo.

A direção é de Claude Miller e o filme detém alguns prêmios internacionais.
“Solaris”(Idem/URSS. 1972), já tratado na coluna ontem, aborda um planeta aquático que materializa os pensamentos de quem o orbite. Uma obra-prima do russo Andrey Tarkovski de um romance do polonês Stanislaw Lem. Filme imperdível.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

SOLARIS




Poucos filmes possuem a riqueza de informações e apelo poético do que “Solaris”(URSS/1972) de Andrei Tarkovsky. Na época de sua edição e estréia circulou a noticia de que ele seria uma resposta russa ao “200l, Uma Odisséia no Espaço” de Stanley Kubrick. Isto porque Tarkovsky não era bem conhecido internacionalmente, mesmo depois de ter realizado uma obra-prima, “Andrei Roublev”(1966), e ter iniciado carreira com um sensível e premiado em sua terra “A Infância de Ivã”.

Em “Solaris”, com roteiro advindo de uma história do polonês Stanislaw Lem, ele conseguiu um feito espantoso: realizou uma superprodução (com orçamento da URSS) e, ao mesmo tempo, um filme introspectivo. Opção não aceita pelo escritor, que chegou a dizer “Tarkovsky é um gênio, mas o seu filme não é o meu livro”.

Na verdade, Tarkovsky está entre os mais pessoais diretores de cinema. Com isso pode-se dizer que é um dos mais autênticos autores de uma arte que tende à indústria e ao comércio. Seu “Espelho” (Serkalo, 1974), por exemplo, é um trabalho muito pessoal, mais do que uma simples lembrança de infância, uma meditação sobre um tempo de vida.

Dessa forma se inscreve e pode-se ver a sua versão de “Solaris”. O filme trata de um planeta até então ignorado pela ciência terrestre, que astronautas em órbita percebem que o mar que envolve o astro tem a faculdade de reproduzir a memória dos que o vêem. O tipo que protagoniza o psiquiatra que é mandado para a estação orbital vê que a sua esposa, uma suicida, aparece no seu quarto aparentemente recuperando o corpo físico. Ela recorda de todo o seu drama e aparenta querer reconciliar-se com o marido. Mas este é aconselhado pelo colega presente a eliminá-la, pois se trata da materialização de uma lembrança. Assim, ela é dissolvida em oxigênio liquido, mas não demora a retornar. A idéia é de que Solaris coleta as informações dos cérebros de quem o observa e as devolve. Isto acontece até os cientistas enviarem para lá, as ondas de um eletro-encefalograma. Deixam, então de aparecer os seres lembrados, mas as lembranças ficam armazenadas no planeta. E no final, o astronauta-psiquiatra resolve morar lá, em meio aos momentos queridos de sua vida.

Tarkovsky reproduziu em “O Espelho” a chuva fina que caía quando ele, criança, voltava para casa. Uma mesma chuva cai por dentro da outra casa, em “Solaris”, onde mora seu velho pai. Só que ele vê a chuva caindo dentro e não fora da casa (de onde está observando o parente querido). O cenário evocado a partir da lembrança pode gerar distorções. Mas seria, ainda assim, mais confortante do que uma realidade construída por traumas.

O cineasta fixou em sua filmografia um quadro de suas idéias & sentimentos. Não à toa que em “Nostalgia”(1983) volte esse quadro e até mesmo se esboce em um de seus últimos trabalhos, “O Sacrifício” (Offret/1986). Este modo de fazer cinema foi a causa de seu desentendimento com Stanislaw Lem. Na obra literária de ficção-cientifica o lado pessoal do cientista estava em segundo plano. Interessava a qualidade do planeta em sugar a memória – não a “rebater” e muito menos deixar que o fato adentrasse por um drama pessoal. Desconheço a opinião de Lem, falecido em 2006, quanto à versão de sua obra feita pelo norte-americano Steven Soderbergh, em 2002.

Ele chegou a dizer que no filme russo o que escreveu se transformou numa espécie de “Crime e Castigo”, alusão ao livro de Dostoiewsky, com “desnecessárias alusões a relações familiares”.

O tempo fez justiça a Tarkovsky. Seu filme hoje é um clássico não só do gênero (science-fiction) como de todo o cinema. Certo que o ritmo é lento, que as tomadas se exaurem, inclusive nos movimentos de câmera (os longos travellings por dentro da nave), mas tudo tem razão de ser.

“Solaris” fará a sessão de 2ª. feira do Cine Clube Alexandrino Moreira (IAP/ Largo de Nazaré, próximo à Basílica). Quem ainda não assistiu e estuda cinema é filme obrigatório. E quem já viu só enriquece a sua cultura cinematográfica com uma revisão.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

VAMPIROS EM ECLIPSE




Leio no jornal: “Onda de vampiros toma conta dos EUA”. Os/as jovens, principalmente, passaram a cultuar os seres imortais que se alimentam de sangue humano, tipos que deram margem ao clássico literário de Bram Stoker (Dracula). A onda seria causada por séries de televisão (como “True Blood”) e pelos livros de Stephanie Meyer transformados em filmes (a série “Crepúsculo”).

A grande pergunta que se faz é: por que a juventude da primeira década do século XXI passou a gostar desses entes esboçados há muitos anos, produto de uma cultura primordialmente anglo-saxã?

É possível que haja respostas a esse questionamento sobre os gostos dos adolescentes a esses tipos seculares. Como sou adepta da objetividade sobre a formação da cultura e suas nuances sociais fico a espera de uma pesquisa de opinião que me forneça esses dados para apoiar os disse-me disse do interesse dessa faixa etária. O que se vê, nessas histórias de vampiros e lobisomens que assumem posturas de rapazes (no caso dos vampiros também de moças), via de regra, estudantes de escolas secundárias, é o apelo sexual platônico. Será esse o vetor de aproximação do interesse pelas histórias?

Em “Eclipse”, o vampiro Edward (Robert Pattison) não só continua a assediar Bella (Kristen Stewart) como chega a esboçar uma atração pelo lobisomem Jacob (Taylor Lautner). Não é bem explícita, mas o/a espectador/a pode imaginar uma relação homoafetiva em processo. Quanto a Bella, continua desejando sexualmente a Edward, mas este afirma que não o faz antes do casamento. Note-se que o “rapaz” tem mais de cem anos, o que pode registrar esse conservadorismo. Por outro lado, a garota, que no filme conclui o curso colegial, já não se importa em transformar-se em vampiro. E ameaça “ficar” com Jacob – que a livra de um grupo de novos vampiros criados por uma colega. E mais: num momento, Edward pede a Bella que se afaste de Jacob. Arma-se, então, um quadro de romance à antiga, apostando na fidelidade da “mocinha” até que ela venha a assumir fisicamente o seu compromisso com o namorado (Edward) e, num livro (que se transformará em filme) posterior, vai engravidar.

Trocando as referências sociais dos tipos, a saga da Sra. Mayer evoca tese semelhante à de Romeu e Julieta. Trata-se de um amor contrariado. Não é uma oposição familiar, mas uma oposição cultural. Sem a capa do fantástico, Bella seria impulsionada a ser “ficante” (mesmo que depois case oficialmente) de Edward. E Jacob poderia se apresentar como um personagem saído de outra peça de Shakespeare, talvez de “Otelo”, (seria Iago?) ganhando campo entre o casal mais para confundir do que para dividir.

Por falta de tempo (sei que é importante conhecer esses novos romances) não li nenhum livro de Stephanie Meyer. Mas vi os filmes. E como cinema todos estão no mesmo nível. Há muitos planos próximos dos tipos principais, com as câmeras procurando realçar a imagem de Robert Pattison como um novo James Dean para os produtores de Hollywood (veja-se o ator no interessante filme “Lembranças’). O problema é que Kristen Stewart não consegue mudar de expressão. Como estudante jovem, filha de pessoas com recursos, está sempre triste. É de supor que aspire ser uma figura sobrenatural e, para saciar o seu gosto, tem que arriscar a vida. A personagem diz, no filme atual: “Eu te amo mais do que todos os músculos de Jacob juntos”. Uma resposta ao ciúme do namorado. Mesmo assim, entre um vampiro e um lobisomem a idéia é de que a garota não consegue dissipar a hesitação com um sorriso. Para Meyer, a roteirista Melissa Rosemberg e o diretor David Slade, o amor tem um significado de extemporaneidade que ultrapassa o lugar comum atual e atinge o clímax da espiritualidade nas ambivalências de uma faixa etária que está a procura de sublimação de seu afeto.

O terceiro filme da série “Crepúsculo” não é pior nem melhor do que os outros. Mas até por isso é adorado. As/os fãs lotam as salas exibidoras e bisam o programa tantas vezes quanto possam (gastar). Não será o critico, portanto, quem vai dar a última palavra se a produção é boa ou ruim. Fã é fã, cult é cult, abacaxi é fruta. Cinema é que outra coisa.

terça-feira, 20 de julho de 2010

ENCONTRO EXPLOSIVO






















No cinema, mais de dois filmes já focalizaram duplas de personagens ágeis ganhando o mesmo título em português, “Dupla Explosiva”. Um deles era interpretado pelos populares atores italianos Mario Girotti (ou Terence Hill) e Carlo Pedersoli (ou Bud Spencer).

Neste filme da atual programação dos Moviecom, “Encontro Explosivo” (Knight and Day, EUA, 2010, 109 min.), apesar de trocar o título é mais um exemplar que remete a uma dupla. Afinal, são duas personagens que percorrem a ação de ponta a ponta. O original brinca com os termos “night” (noite) e knight (cavaleiro), que possuem a mesma pronúncia, e, no caso, parodiam a conhecida canção de Cole Porter(“Night and Day) além do fato de que a intérprete da personagem June Havens é Cameron Diaz (vale lembrar “dias”/day).

Mas esses detalhes são apenas ilustrativos e não interessam para o que orienta o roteiro de Patrick O’Neill dirigido administrativamente por James Mangold. Bem verdade o roteiro nada mais é do que um plano para os técnicos em efeitos especiais e os dublês. Quem quiser achar uma ordem na desordem geral saiba que o “mocinho”, Roy Milner (Tom Cruise) é um agente secreto que possui um objeto desejado por colegas e inimigos do Estado. O que é este objeto, só é mencionado no fim da história, pouco adianta, mas é uma bateria capaz de produzir petróleo (?). O que importa é fazer rir do absurdo, como se os autores quisessem criticar os filmes de ação jogando todos os elementos desses filmes para cima, ou seja, levá-los à exaustão numa concepção que se pode ver como surrealista.

Os dois tipos, Roy e June se encontram casualmente no aeroporto. Quando embarcam num Boeing uma série de coincidências reúne o par e ela sente atração pelo recém-conhecido a ponto de beijá-lo em certo momento, após embelezar-se no toalete momento em que o então parceiro de vôo é atacado por quase todos os passageiros e a todos mata sem cerimônia. Na matança entram o piloto e o co-piloto da aeronave. Quando June sai do toalete surpreende-se com o que vê e ainda mais quando sabe que o desconhecido é quem vai controlar o pouso do avião. Uma aterrissagem forçada em uma rua, com direito a susto de caminhoneiros. Mas a tarefa é tão habilidosa que dá para o casal fugir do local antes de uma explosão. Inicia-se, daí em diante, uma caçada com direito a um passeio (pode-se até dizer turístico) por diversas partes do mundo, finalizando na Espanha onde a dupla enfrenta a tradicional corrida de touros e termina na arena tomando a vez de um toureiro.

Poucos filmes extrapolam com tanta veemência o uso da CGI, ou seja, trabalham efeitos especiais que dispensam atores. São tantos os desastres enfrentados pelos personagens que mal sobra tempo para eles dialogarem. O romance é extremamente breve e o público se pergunta como é que uma jovem como June vai se aliar a um homem que mal conhece, arriscando a vida a cada minuto. Felizmente, para ela, a maioria dos atiradores possui péssima pontaria, Mesmo assim, Ron chega a ser ferido e ela é quem vai monitorar a estadia dele em hospital ciente de que mesmo ali o “mocinho” pode ser vítima de alguém (e nem se sabe quem é quem).

Nesse “imbróglio” todo pergunta-se: será que o espectador consegue se divertir só de ver estripulias moldadas em computadores, como carros derrapando na estrada, bombas explodindo, aviões caindo, helicópteros também explodindo, enfim o que possa dinamizar a tela como se o mundo viesse abaixo? Certo critico norte-americano perguntou também se é necessário usar artistas famosos nesse tipo de filme. O carisma deles não é o bastante para sustentar o espetáculo? Afinal só se pode vibrar pelas peripécias do “mocinho” se ele for Tom Cruise? E este ator de muitos filmes de aventura já interpretou inúmeros tipos de vilão como em “Colateral” e também em “Entrevista com o Vampiro”.

Como já argumentei em outro texto, “Encontro Explosivo” é um nada sobre nada. Ou lembrando o título da peça de Shakespeare, faz “muito barulho por nada”.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

VENDO E REVENDO EM DVD


















No recente Festival de Cannes foi exibido “Algo Que Você Precisa Saber”(Quelque Chose a te Dire/França,2009), mas o filme não entusiasmou críticos e público. O interessante é que o enredo lembra de perto os melodramas que o dinamarquês Douglas Sirk realizou nos EUA, hoje cultuados pelos franceses É um retrato de família (por sinal fecha com a família fazendo pose) em que todos os elementos se comportam de forma supostamente condenável para o antigo conceito de moral. Até o casal-base composto por Henry (Patrick Chesnais) e Mady (Charlotte Rampling), se separa depois de 45 anos de casados. O problema maior está com Alice (Mathilde Seigner), uma das filhas, presa por andar com drogas e afinal descobrindo um parente no delegado que a liberta ao desmontar as evidências de um crime pelo qual fora presa. Essas personagens ainda descobrem desníveis nos seus ancestrais e com isso não há um exemplo politicamente correto a seguir. O filme é o segundo da diretora Cecile Télerman, e a narração cativa o espectador. Com isso pode até perdoar alguns desempenhos, inclusive da veterana Charlotte Rampling, como a mãe que exibe um comportamento escondendo a sua realidade.

Mas o que apaixona no filme é o tratamento aos tipos e ao conceito de família. Na verdade, no que se pode chamar de primeiro ato do filme, sente-se que os membros dessa família se reunem em datas comemorativas de forma obrigatória. Mas entre si não escondem que se odeiam e às formas como são tratados. O silencio sobre algo interno nesse núcleo familiar favorece essa atitude de falsidade entre eles. À medida que os segredes começam a desmontar a aparência de união, o que supostamente é visto como desintegração, surge como a aproximação entre eles. As mentiras com as quais este grupo social foi formado é sintomática na auto-exclusão de cada um, embora julguem que há amor entre eles. O segundo ato em que se recorta a narrativa explora as novas atitudes que levam à desmontagem dos nós da relação e acabam por servir de apoio capacitador do processo afetivo. Assim, estas pessoas, no final, mais livres e mais independentes se constituem em uma verdadeira família, pois desataram as amarras que os fazia presos a mentiras. Belíssimo esse tratamento do argumento. A nova “posição” para o retrato em família é a significação do que passaram a ser a partir daí.

Por um desses caprichos da distribuição, o filme não chegou aos nossos cinemas. E não se pode negar o seu potencial de comércio.

“Os Meninos da Rua Paulo”(A Pál-Utcai Fiuk/Hungria,1969) foi exibido com sucesso pelo Cine Clube APCC nos anos 70. Dirigido por Zoltan Fabri focaliza crianças e adolescentes de um bairro de classe operária na Hungria de pós-guerra (a 2ª mundial) dividas (os) em grupos antagônicos. Eles organizam-se como tropas militares e lutam entre si. O interesse cai sobremaneira para com o menor de todos os membros das “gangues”, um menino que se mostra fiel aos companheiros mesmo ganhando a “patente” de soldado (embora sempre peça promoção). Este menino adoece e morre no momento em que os grupos se defrontam em uma grande batalha. Seu grupo é vitorioso com o garoto recebendo as homenagens de todos.
Um roteiro pacifista bem aproveitado com excelentes desempenhos e uma linguagem simples e por isso mesmo cativante. Quem ainda não viu aproveite a chance de rever.

“A Rosa Tatuada”(The Rose Tatoo/EUA, 1955) é a versão da peça de Tennessee Williams, a partir de um roteiro desse dramaturgo. O diretor Daniel Mann, homem de teatro, se especializou em filmar peças que viu ou dirigiu. Este exemplo é um modo feliz de fazer cinema em cima de um texto que tem de forte os diálogos. E foi a chance da atriz italiana Anna Magnani, conhecida como “Mamma Roma” , ganhar um Oscar. Ela interpreta, obviamente, uma imigrante italiana nos EUA que ao saber que o marido morto, a quem idolatrava, era adultero, procura dissipar a imagem ao conhecer um homem que tinha a mesma profissão dele, caminhoneiro. É a vez de Burt Lancaster mostrar seu desempenho em outro gênero que não aventura. Na época de “Rosa Tatuada” ele já apresentava boa performance. O tipo que encarna é como a viúva chama, “um palhaço romântico”. No elenco encontra-se ainda Marisa Pavan, irmã da atriz Píer Angeli, hoje com 78 anos e desligada do cinema.
O filme usa a tecnologia do processo Vista Vision mesmo sendo em preto e branco.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)
1. O Livro de Eli
2. Simplesmente Complicado
3. Missão Quase Impossível
4. Atraídos pelo Crime
5. Preciosa
6. O Fim da Escuridão
7. Cadê os Morgan?
8. O Amor Acontece
9. Surpresa em Dobro
10. Um Olhar do Paraíso

sábado, 17 de julho de 2010

AÇÃO PELA AÇÃO





















Os cinemas do grupo Moviecom apresentam somente uma estréia nesta semana que se inicia neste 16/07, se considerarmos que os demais programas são chamativos do público. “Encontro Explosivo”(Knight and Day/EUA, 2010) de Jorge Mangold com Tom Cruise e Cameron Diaz vai fazer a festa dos que gostam de muita ação.

A programação alternativa reserva títulos muito interessantes. No Cine Estação, ”Um Segredo em Família”(Un Secret/França,2008) que será exibido hoje e na próxima quinta (sessão semanal ao que consta) . No Cine Olympia, até domingo, continua “O Último Reduto”(Le Dernier Maquis/França, Argélia, 2008). No Cine Libero Luxardo, até domingo, prossegue “Os Famosos e os Duendes da Morte” (Brasil/2009) de Esmir Filho.

E, na Sessão Cult do Libero Luxardo, sábado as 16 h. “Os Imperdoáveis”(Unforgiven/EUA,1992) de Clint Eastwood como diretor e ator e mais Morgan Freeman.

“Encontro Explosivo” foi realizado para ser o superlativo do chamado “filme de ação”. Isto quer dizer que o que menos importa é o enredo. Basta dizer que trata de um agente secreto (no inicio não há definição de que o tipo é isso mesmo) que se alia à uma jovem conhecida em um aeroporto, e se mantém fugindo de todo mundo por esconder alguma coisa que essas pessoas querem. Não interessa muito o segredo guardado pelo personagem. O que importa é a saraivada de perigos que ele enfrenta ao lado da companheira.
Tons Cruise e Cameron Diaz formam a “dupla explosiva” ou a dupla do encontro que deu nome ao filme em português. No original é um trocadilho de “Noite e Dia” com a palavra noite (night) sendo confundida com cavaleiro (knight). O encontro dos termos também evoca a canção de Cole Porter, talvez para criar no filme a significação de ser também comédia romântica, embora o riso seja nervoso para alguns espectadores que “torcem”em cinema, mesmo que as situações sejam totalmente absurdas.
O valor do programa é embutido no conceito de que se trata de surrealismo, uma história quase sem história, servindo unicamente para mostrar, graças a efeitos especiais, como os supostos “heróis” se salvam de situações dantescas.
Os espectadores que forem preparados para ver sem entender as imagens sobre imagens sempre em movimento frenético vão gostar do filme. Uma diversão que parece começar com o elenco, com Tom Cruise rindo como nunca e mostrando seus pendores atléticos enquanto não chega “Missão Impossível 4”.

“Um Segredo em Família” tem a direção e roteiro a cargo de Claude Miller com base no romance de Philippe Grimbert. Os atores principais são Patrick Bruel, Julie Depardieu e Mathieu Amalric. Em resumo focaliza a Europa depois da 2ª Guerra Mundial, quando o jovem e solitário François descobre um dramático segredo sobre seus parentes mais próximos e é obrigado a enfrentar verdades sobre o desejo, a paixão e o amor, tendo como pano de fundo o nazismo e a deportação dos judeus.
Uma pena que o filme só faça sessões noturnas no Cine Estação. A pitoresca matinal de domingo, um programa que servia até para turismo (muitos espectadores se maravilhavam com a orla no amanhecer e saiam do cinema para almoçar num dos restaurantes da Estação das Docas), continuou desprezada. De minha parte registro não só lamento como protesto. O Cine Estação decididamente não é mais o mesmo.

“Os Famosos e os Duendes da Morte” coleciona elogios de críticos e espectadores. É o primeiro longa-metragem do cineasta Esmir Filho e trata de um estudante do ensino médio, morador de uma cidade do interior gaúcho, que encontra na Internet o melhor momento de uma existência monótona.

“O Último Reduto” e “Os Imperdoáveis” já foram comentados neste espaço. São, respectivamente, um filme excelente e um filme muito bom. Cada um com sua linguagem defendem formas de fazer cinema, o primeiro recontando o western e o segundo abordando a vida de imigrantes africanos em Paris.
Dentre as continuações, os desenhos animados valem o ingresso, e já se pode ver um deles em 3D (“Shrek Para Sempre”) na sala 2 do Moviecom Pátio.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

OS IMPERDOÁVEIS




Em 1992, o diretor Clint Eastwood quebrou um tabu: realizou um filme no gênero western e conseguiu que o mesmo recebesse quatro Oscar, incluindo-se os principais, ou seja, de melhor filme e melhor direção. Histórico feito haja vista que, grandes exemplares do passado como “No Tempo das Diligencias”(Stageacoach), “Matar ou Morrer”(High Noon), “Os Brutos Também Amam”(Shane), “Paixão dos Fortes”(My Darling Clementine) e “Rastros do Ódio”(The Searchers) não chegaram ao pódio do cinema norte-americano. Eastwood também inscreveu seu filme entre os 100 melhores de todos os tempos no entender do American Film Instititute. Trato de “Os Imperdoáveis” (Unforgiven/EUA, 1992) que no sábado será apresentado na Sessão Cult da ACCPA, no Cine Libero Luxardo.

O roteiro é de David Webb Peoples e a fotografia participante é de Jack N. Green. Em foco dois velhos pistoleiros (nos papeis, Clint e Morgan Freean), considerados aposentados, que assumem uma tarefa solicitada por um grupo de mulheres prostitutas de Wyoming, desejosas de vingar uma colega que sofrera violência ao ter seu rosto deformado por um valentão. Elas apelam para os pistoleiros porque o xerife da localidade (interpretado por Gene Hackman) é corrupto e brutal, não tomando qualquer medida policial para resolver o caso de agressão. Ao contrário, dando cobertura aos responsáveis pelo ato. Esta missão serve para sintetizar os elementos mais encontrados no gênero western. É uma forma de homenagem que Clint Eastwood como diretor faz ao tipo de cinema que fez a sua notória iniciação (ele começou a se destacar nos westerns spaghetti ).

Em “Os Imperdoáveis”, não é só a luta entre o “bandido” e “mocinho” que o público do cinema conhece desde que se entendem. Trata-se da síntese de uma luta universal dos mais fracos contra os mais fortes dialogando-se sobre quem é mais fraco e quem é mais forte no sentido moral. É o que se pode chamar de expressão da luta pelos direitos humanos.

Desta vez o cowboy está mais perto do que os europeus, especialmente os italianos, compuseram sem seus muitos filmes das décadas de 1960 e 1970. Ao invés das roupas leves dos heróis “imaculados” como os vividos por Tim Holt, Roy Rogers, Gene Autry, Charles Starret ou Alan “Rocky”Lane, eles alternam a indumentária com capas longas e usam carabinas além do revolver que antes era a arma ideal dos duelos. Também a direção de arte desprezava a arquitetura dos antigos “saloons” e a cinegrafia deixava o preto e branco ou as cores férricas que serviram para moldar a liberdade do “gunfighter” que veio de longe (como Shane) por um aspecto sombrio, carregado no vermelho, demonstrando a qualidade. Mas o principal é que a ação surge muito mais violenta. O roteiro, aliás, passou 20 anos correndo os estúdios de Hollywood sem conseguir que alguém se interessasse por ele. Tudo por causa da violência. Clint Eastwood leu e ficou fascinado. Aquilo era o western que sempre quis fazer. Os estereótipos do passado eram trocados pelos estereótipos que contracenaram com ele sob as ordens do italiano Sergio Leone. Talvez ainda mais realistas, com uma troca da plasticidade do enquadramento, uma das características do cineasta italiano, por uma postura mais próxima do John Ford de “My Darling Clementine”(Paixão dos Fortes). Mas em nenhum momento o ambiente é usado como enriquecedor do quadro (o caso de Ford com o Monumental Valley).

No inicio, vê-se o pistoleiro viúvo aposentado (tipo de Eastwood) criando porcos com o casal de filhos menores. A pequena fazenda está quase falida quando surge o ex-comparsa (Morgan Freeman) contando que há uma recompensa de mil dólares para quem vingar a maldade que fizeram com a jovem prostituta. Ele se anima. Na divisão é 500 dólares para cada um bastando para salvar o comércio de suínos. Daí se passa para a arquitetura do tipo encarnado por Gene Hackman sendo capital a cena em que ele mostra um revolver ao ajudante e deixa que este coloque a arma nas mãos de um preso que foi torturado. O cinismo do personagem demonstra quem é o xerife do lugar.

Afinal o vilão da história, a dividir a honra com Quick Mile (David Mucci), começando a ganhar o cetro quando ele negocia com o criminoso a compra de cavalos e o liberta pedindo apenas que pague multa.

Realmente “Imperdoáveis” é um titulo peculiar num gênero em que muitos tietes de cinema usaram como elemento de seu aprendizado nessa arte. É ainda hoje algo de novo. Vale a pena rever.

terça-feira, 13 de julho de 2010

O ULTIMO REDUTO




Rabah Ameur-Zaiméche é o diretor de “O Último Reduto”(Le Dernier Maquis/França, Argélia, 2008) filme que está em exibição no Cine Olímpia. É o terceiro filme do diretor que escreve e dirige e de quem já foi exibido em Belém “Volta Para Casa” (Back Home, 2006) e “Wesh Wesh Que se Passa?”(Wesh, Wesh Quest-ce qui se passe ?, 2001). O tema traduz-se numa discussão sobre a relação entre trabalhadores e patrões evidenciando as crises do sistema capitalista e a conversão em revolta e violência.

O enredo capta, nos arredores de Paris, o ambiente de uma oficina reparadora de paletes (estrados de madeira para proteção de carga) e caminhões onde se acham empregados imigrantes muçulmanos. O dono do negócio estimula a religiosidade dos operários para mantê-los com um salário modesto, sem reclamos. Incita-os a que construam uma mesquita e elejam o seu líder espiritual. Mas, apesar do empenho dos trabalhadores e desavença entre eles pela forma de escolha do líder religioso, os negócios não vão bem e o empregador resolve fechar a oficina. Os operários que trabalham como torneiros mecânicos reclamam. Eles não fazem parte de nenhum sindicato e não possuem recursos para montar um especifico no local. Por outro lado, não aceitam remanejamento para o serviço de acomodação de paletes. Tentam uma greve bloqueando a entrada da oficina com um caminhão. Mas o chefe não aceita é seviciado pelos rebeldes, com os empregados de outro setor se posicionando ao lado dele, com a vitória cabendo ao mais forte.

Esse enfoque da luta entre o capital e o trabalho não é um tema estreante em cinema. Há exemplos ilustres como “Os Companheiros” de Mario Monicelli e “Rocco e Seus Irmãos” de Viconti. Em “O Ùltimo Reduto” é diferente, contudo. Inicia pelo esvaziamento de possível sectarismo. O patrão não é visto como uma pessoa má. Em duas ocasiões ele é apresentado de forma cavalheira. Uma é quando assina um documento dando como acidente de trabalho a auto-circuncisão de um operário que achava ser uma exigência para ser muçulmano e líder. Outra é quando leva de barco um castor, ou um rato gigante (não é bem definida a espécie do animal) do poço da firma, onde foi encontrado, para o matagal próximo. O ato de salvar o animal quando muitos queriam matá-lo no local onde se escondeu e mostrou-se bravio, demonstra um sentido humano ou uma tendência preservacionista. Por outro lado, os funcionários são vistos, preferencialmente, através do prisma religioso. Vivem a sua fé e os diálogos se detêm em torno disso. O roteiro enfatiza que o muçulmano entrega a vida a Alá pensando sempre na sua entrada no paraíso. Mas quando se instala a crise eles se mostram individualistas.

Para tratar um tema sempre interessante, mormente quando abraça a imigração, vendo um estrangeiro acomodar os seus hábitos e costumes numa terra distante, a técnica é quase documental, com os atores exibindo uma naturalidade que lhes dá a feição de figuras da história. Mas o diretor argelino não se acomoda na linguagem neo-realista nem no “cinema verité” dos anos 1970 (o de Jean Rouch & Edgar Morin, por exemplo). Sempre com a câmera estática, deixando a seqüência se exaurir sem cortá-la, trocando o ritmo narrativo pela contemplação (a lembrar o russo Andrei Tarkovski ou o grego Theo Angelopoulos), ele alonga a metragem e, com isso, desafia um público que está acostumado ao tipo de cinema dinâmico. É um linguajar muito peculiar, muito denso em todos os sentidos, exigindo atenção do espectador comum.

O diretor Rabah Ameur-Zaiméche está entre os jovens talentos de origem argelina. E é um colecionador de prêmios incluindo festivais importantes como os de Cannes e Berlim. Ele também desempenha um dos personagens de seus filmes. No atual, protagoniza Mao, o patrão. O nome é uma ironia a lembrar o líder chinês. E não são poucas as menções irônicas, as metáforas, as citações que o cineasta usa em seus trabalhos.

Acompanhar a sua obra nessas produções que a Embaixada da França, através de sua rica Cinemateca distribui para diversas nações, inclusive o Brasil, seria acumular recursos das escolas cinematográficas mundiais e que não fáceis de captar por aqui, pelo menos no circuito exibidor comercial.
Em tempo: depois das exibições de “O Ultimo Refugio”, que irão até domingo, dia18, o Cine Olympia vai estar quinze dias em manutenção, sem as exibições contumazes. Retorna em agosto, com todos os programas, ou seja, os filmes das embaixadas e as sessões organizadas pela ACCPA.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

SHREK PARA SEMPRE




Seria natural a exaustão da série animada sobre um ogro irreverente e sua amada que de princesa comum a conto de fadas assumia a forma da espécie dele e tornava-se esposa e mãe. Afinal, foram 3 filmes de Shrek. Mas este quarto, “Shrek Para Sempre”(Sherek Forever After/EUA, 2010) surpreende. E o faz não só porque foi editado em 3D, a nova atração dos estúdios norte-americanos, especialmente quando se trata de desenho animado. Surpreende porque o roteiro de Tim Sullivan e Josh Klausner traz novidades para o gênero. Desta vez, o ogro sente-se humilhado na sua concepção machista de “bicho papão” (o correspondente na nossa cultura do que propaga o mito nórdico). No enredo, a situação se processa desta forma: na festa de aniversário de seus 3 filhos Sherek avalia negativamente sua condição de marido e sua baixa-estima traduz-se como se ele se tornasse “uma caricatura” como diz. Afinal quem manda na casa é Fiona, a esposa, e ele só é chamado para emprestar um tom humorístico e exótico à sua figura grotesca.

Shrek salvara Fiona de uma torre guardada por um dragão. Mas para superar isso, o “vigarista” Rumpelstiltskin ludibria os pais da jovem conseguindo dar sumiço ao rei e a rainha da Terra do Muito, Muito Distante. O próximo passo ele pensa ser eliminar Shrek que, por casualidade, procura-o para tratar de seu problema de então. Com o ogro, ele inventa um contrato em que este cede um dia de sua vida em troca da autonomia pretendida. Só que o dia escolhido, sem Shrek saber, é o do nascimento do personagem. Resultado: o ogro não nasceu. E como não nasceu tudo mudou: Fiona agora é uma revolucionária independente, os filhos não existem, o amigo burro não o reconhece e até o Gato de Botas surge balofo e sem inventiva.

O tema do filme exalta a idéia de que as pessoas muitas vezes não avaliam corretamente o que fazem ou o que acontece ao seu redor. Não avaliam a felicidade que construíram com as rotinas do cotidiano. E a negação de tudo é a criação de um mundo fantasmagórico, a lembrar o de George Bailey (James Stewart) não-nascido, no clássico “A Felicidade Não se Compra” de Frank Capra. A diferença é que a motivação que faz Shrek negar sua vida é justamente a riqueza que ele possui com a sua família. E sem ele a esposa tomaria uma posição de revolta para fugir ao drama da prisão no castelo e os outros ogros da região se tornariam simples escravos, enfim, o cenário pitoresco virava um pesadelo.

A aventura do novo filme repousa na luta do tipo para retornar de sua decisão e literalmente renascer. Para dar ação capaz de atrair o público infantil há uma luta com o dragão carcereiro de Fiona na história anterior. O encanto registrado no documento assinado cessaria se Shrek recebesse um beijo de amor. Tudo de acordo com a fórmula dos contos de fadas. Mas, como beijar Fiona se ela não o reconhece e não se mostra romântica, preferindo comandar os ogros contra o tirano Rumpelstiltskin (que eles abreviam chamando de Rumple) ?

Claro que há final feliz, mas neste caso não é bem uma quebra de encanto. É um despertar. Acontece o beijo salvador e as situações críticas desaparecem do espaço físico, voltando a ação para a cena do aniversário dos filhos do ogro.
Divertido pela inventividade, o filme serve de fecho às histórias do herói grotesco. Mas no caso de Belém, ele ganha mais evidencia por registrar o lançamento da 3D. Fui à primeira sessão desse evento técnico atendendo ao convite que me foi enviado (e ao PV) pela Moviecom & Jovem PAM & Shopping Pátio. Não lembrava o quanto é fascinante o processo que torna as imagens próximas do espectador como se fosse um teatro. Desde o tempo de “Museu de Cera” e algumas experiências em fita VHS não assistia nada parecido. Uma qualidade de espetáculo que impressiona. Mas notem bem: de espetáculo.

O bom filme prescinde desse artefato que trabalha a forma. Já se disse isso muitas vezes, embora não se endosse aquela tese de Peter Bogdanovich (“os melhores filmes já foram feitos”). Não é isso: cinema é inteligência de quem realiza para quem assiste. E por esta qualidade gostei de “Shrek Para Sempre”.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

FILMES INÉDITOS EM DVD




O lançamento de filmes inéditos em DVD já é lugar comum, especialmente nos cinemas de Belém. Dentre os que circulam nas locadoras estão: “Decisões Extremas”, “Adoração”, “Provas e Trapaças”, e dois filmes da fase inicial da carreira de Ingmar Bergman, “Porto” e “Prisão”. Também chegam relíquias como “Sua Esposa e o Mundo”, de Frank Capra, “O Estranho que nós Amamos” de Don Siegel, e uma coletânea com os primeiros filmes de cineastas que compuseram a famosa “Nouvelle Vague”: “24 Horas na Vida de um Palhaço” (Jean-Pierre Melville), “A Canção do Estireno”(Alian Resnais), “O Truque do Pastor”!(Jacques Rivette), “O Amor Existe” (Maurice Pialat),e “Todos os Rapazes se Chamam Patrick”, “Charlotte e seu Namorado” e “Uma História D’Água” (Jean Luc Godard, o último de parceria com François Truffaut.

“Decisões Extremas” (Extraordinary Mesaures/EUA,2010) tem Harrison Ford como um médico pesquisador que inventa um remédio para a Síndrome de Pompe, doença congênita fatal que se manifesta em crianças. Brandon Fraser trabalha em laboratório farmacêutico e tem 2 filhos com esta doença. Ele se empenha em obter financiamento para que o pesquisador produza a droga e a aplique em seus filhos. Motivos comerciais e éticos entram em jogo e a narração do processo provoca o suspense bem agendado pelo diretor Tom Vaugham.

“Adoração”(Adoration/EUA,Canadá,2008) é do egípcio Atom Egoyan e trata de um jovem universitário que pesquisa na Internet o papel de seu pai no terrorismo. Devon Bostnick, jovem ator canadense, encabeça o elenco.
“Provas e Trapaças”(Assassination of a High School President/EUA,2008) promete uma aventura policial centrada numa escola superior, cede espaço para a comédia e termina sendo uma perda de tempo. Direção de Brett Simon e no elenco, em um papel secundário, Bruce Willis . Por sinal, muito monótono.

“Porto”(Hamnstad/Suécia,1948) é um dos primeiros filmes de Ingmar Bergman a tratar com mais consistência a psicologia das personagens. Trata de uma jovem que sai de um reformatório, aonde esteve devido a um passado que a envergonha, tenta o suicídio, nas primeiras cenas atirando-se do porto da cidade. Ela encontrará um marinheiro que lhe dedica afeto e que pode fazê-la feliz. Mas há detalhes de sua história que podem macular esta união. O cineasta evita o melodrama e segue a escola neo-realista com um cuidado especial para com os seus dois personagens.

“Prisão”(Fängelse/Suécia,1949) trata de um cineasta que pesquisa temas para seu filme, com um professor instigando-lhe a mencionar o fato de que o inferno é na Terra. A primeira incursão de Bergman nos meandros da religiosidade, tema de muitos de seus grandes filmes.

“Sua Esposa e o Mundo”(State of Union/EUA, 1948) é o segundo filme de Frank Capra para a sua firma Liberty, criada quando ele chegou da 2ª.Guerra Mundial junto a colegas como George Stevens (Um Lugar ao Sol) e William Wyler(Os Melhores Anos de Nossas Vidas). Sencer Tracy protagoniza um capitalista candidato à presidência dos EUA às voltas com uma vida afetiva dupla: a amante e a esposa com quem é obrigado a manter as aparências. Sexto filme da dupla Tracy & Katherine Hepburn, sua paixão permanente, sentimento que o ator ocultava pelo fato de ser casado na igreja católica. O filme seguiu o clássico “A Felicidade Não Se Compra”(It’s a Wondeful Life)na obra do cineasta. Não obteve a mesma repercussão e foi um dos últimos lançamentos da Liberty, vendida posteriormente para a Paramount.

“O Estranho que nós Amamos”(Beguild/ 1972) é um dos melhores momentos do veterano diretor norte-americano Don Siegel (1912-1991) com o seu aluno Clint Eastwood. Este ator protagoniza um soldado confederado que no final da guerra civil aloja-se ferido num colégio feminino sendo alvo da cobiça sexual de todas as internas, especialmente da diretora. Um filme anômalo para a época em que foi feito, mas um dos melhores, até hoje, para Eastwood (como ele disse em entrevista por ocasião de seu 80º aniversário). Muito o que ver.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)
1. Simplesmente Complicado
2. O Fim da Escuridão
3. Preciosa
4. Um Olhar do Paraíso
5. Astro Boy
6. O Lobisomen
7. Invictus
8. Educação
9. Coração Louco
10. De Repente, Califórnia

quinta-feira, 8 de julho de 2010

CINEMA NAS FÉRIAS





Nem todos programam suas férias para o meio do ano e, especialmente os que ficam longe das estações de veraneio, procuram o cinema como programa eletivo de divertimento ou cultura no período.
Antes a programação comercial da cidade levava em conta esse quadro e privilegiava títulos e horários visando principalmente o público infantil. Afinal, pensavam, era a faixa que mais circulava no mês de férias.

Hoje as estréias locais são globalizadas. E o termo não é mais um recurso de linguagem. Os filmes que estréiam nos cinemas de Los Angeles, no mesmo dia estão agendados e em exibição em nossa Belém do Pará. Claro que somente alguns filmes, no caso, os que consomem maior orçamento e conseqüentemente esperam uma resposta mais lucrativa. Como temos poucas salas, até agora todas de um mesmo exibidor (com sede no sudeste), o panorama é restrito. Mas não se pense que vai mudar. O relacionamento cinema – público é um circulo vicioso na medida em que os empresários buscam suprir seus custos operacionais em temporadas de titulo pretensiosos (em termos de comércio). O que acontece e tende a acontecer principalmente quando inaugurarem mais cinemas, é a chegada de mais cópias de um mesmo filme, sejam legendadas, sejam dubladas. Estas cópias disputarão – a julgamento estatisticamente comprovado - quem gosta do que vai ver (o velho refrão de que “é melhor ver de novo o prazeroso do que arriscar o enfadonho”).

Neste julho o “menu” dos 12 cinemas dispostos em 2 shoppings é restrito a “Eclipse”, terceira parte da franquia “Crepúsculo”, “Toy Story 3”, animação que fecha uma (boa) trilogia sobre brinquedos que precisam do afeto de seu dono, e “Shrek Para Sempre”, quarta aventura do ogro imaginado pela equipe de animação da empresa DreamWorks, inaugurando por aqui as projeções em 3D (vale dizer as modernas formas de projeção, pouco a ver com o que se viu há mais de 50 anos com “Museu de Cera” e outros espetáculos).

A oferta vai ficar entre as salas ocupadas com “Eclipse” dublado e legendado, “Toy Story 3” da mesma forma, e “Shrek Para Sempre” com uma cópia em 3D e outras (sempre dubladas) em 2D.

Quanto às crianças vão ficar restritas aos dois últimos programas (“Eclipse” é indicado para maiores de 12 anos). Vale dizer que elas vão bisar programa. E os pais certamente as acompanharão. Rever “Toy Story 3” certamente não parece sacrifício.

Quanto ao plano especial de exibição, tende a abrir espaço para os mais exigentes. Mas até aí há restrições. O cinema Olympia, por exemplo, que hoje é um espaço da Prefeitura Municipal de Belém teve as suas vesperais domingueiras suspensas durante todo o mês de julho. Os funcionários da casa estarão, ao que se diz, ocupados em outros programas da administração municipal. Ficam apenas as sessões noturnas habituais. Vale dizer que nesse horário não vão estar presentes os nossos infantes que poderiam aproveitar o período para uma “esticada” ao cinema até porque o Olímpia não cobra ingresso. Por outro lado, o Cine Estação também não fechou programa e nem mais fala nas matinais domingueiras que atraiam expressivo público.
Fica o Cine Libero Luxardo, com sessões normais de 5ª a domingo às 19 h e em sábados alternados, a chamada Sessão Cult da ACCPA, proximamente com “Os Imperdoáveis”, western premiado de Clint Eastwood (a sessão valerá como uma homenagem ao ator-cineasta por seu 80° aniversário) e a animação italiana “Música e Fantasia”.

Também há o programa do Cine Clube Alexandrino Moreira, no IAP ( às 2as feiras), com “Mamãe Faz Cem Anos”de Carlos Saura (dia 19) e “Solaris” de Andrei Tarkovsky (dia 26). E as sessões do Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem)às 3as.Feiras, não se sabendo quais os filmes nacionais das próximas semanas, ficando para o dia 27 “Cinema Paradiso” de Giuseppe Tornatore dentro do programa “Cinema sobre Cinema” planejado pela ACCPA.

Enfim, isso é o que se sabe e o que se oferece para quem fica na cidade. Mais cinema pode ser encontrado nas locadoras de vídeo. Nesse espaço a oferta é grande e variada. Ainda bem.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

PRISÃO E FOME




Filmes sobre prisão são muitos e alguns bem produzidos. Lembro de “Alcatraz, Fuga Impossível” (Escape from Alcatraz) que revi recentemente em DVD. Clint Eastwood está excelente como um dos únicos presos a fugir da ilha onde ficava (foi desativada) uma prisão que se dizia à prova de fugas.

Agora assisto ao muito bom “Cela 211”(Celda 221/Espanha,2009) de Daniel Monzón, detentor de 22 prêmios e 16 candidaturas a maioria em seu país de origem (ganhou quase todos os Goya, tidos como Oscar espanhol). O assunto é uma rebelião de presos que faz de reféns membros da resistência basca, tidos como terroristas. As autoridades se apavoram: se invadirem o presídio de qualquer maneira os bascos podem morrer dando margem a uma vingança dos rebeldes. E entre os presos está um candidato a guarda carcerário que tinha se apresentado para trabalhar na hora em que começa a revolta. Casado com uma jovem que está grávida de 6 meses que ao saber dos acontecimentos procura o marido, enfrentando a multidão que se coloca diante dos portões do presídio em busca de noticias de seus familiares, ganhando com isso a violência dos policiais. Ela morre e quando o guarda carcerário sabe pela televisão do que está acontecendo assume a condição de preso e passa a lutar contra os policiais matando um dos agentes prisionais. O final é trágico.

A direção consegue um clima angustiante. Todos os atores criam seus tipos e desempenham suas performances a altura, especialmente Luis Tosar, o intérprete do excelente filme “Pelos Meus Olhos”(Te Doy Mis Ojos/2003, de Icíar Bollaín), e que protagoniza o líder dos presos rebelados, conhecido como Malamadre.
O filme não esteve nos cinemas da cidade (e provavelmente não estará). Mas está em DVD.

Também só em DVD pode-se encontrar uma rara co-produção de 3 países: Noruega, Dinamarca e Suécia: “ Fome” (Sult/1966) de Henning Carlsen. O roteiro, do próprio diretor, foi adaptado de um romance escrito no final do século XIX pelo noruguês Knut Hamsem, vencedor do Prêmio Nobel de literatura em 1920. Focaliza um escritor que passa a morar em Christânia (Noruega) onde acha campo para editar seus trabalhos. Mas a falta de dinheiro para se manter e a morosidade dos editores em dar-lhe resposta sobre seus textos leva-o a peregrinar pelas ruas, surrando a roupa (paletó, gravata, chapéu), e chegando a disputar um osso com um cão.

O ator Per Oscarsson está em quase todos os planos e traduz muito bem o drama do personagem. Também a excelente direção de arte joga a história no tempo, único meio de ser aceita pelos espectadores da segunda metade do século XX.
Importante a entrevista (bastante longa, aliás) do diretor como bônus do DVD. É uma aula de cinema. Ele narra as dificuldades que teve em conseguir os direitos do livro e modular a produção entre 3 nações, cada uma solicitando uma forma de interferência. Também cita o comportamento de Ingmar Bergman quando ele quis que para o papel principal fosse um ator da companhia estatal sueca que Bergman dirigia.

O famoso diretor sueco disse que atendia ao pedido do norueguês, mas o seu ator, com isso, perderia um importante representação na peça que estava para encenar. De qualquer forma, Per Oscarsson, premiado nos palcos suecos desde sua interpretação de Hamlet, conseguiu superar-se e apresentou um desempenho que foi premiado e ainda hoje pode ser considerado impressionante.

O filme não chegou aos cinemas brasileiros. Resta conhecê-lo nas locadoras de vídeo. É a forma de se driblar os blockbusters das férias que estão nos cinemas, naturalmente para quem já assistiu a “Toy Story 3”, uma animação que nasceu clássica.

A novidade da semana, se não histórica, é o lançamento, nesta sexta, pela manhã, da sessão em 3D de “Shrek para Sempre”, no Moviecom Pátio 2, para convidados. Em seguida, as sessões serão normalizadas para o público em geral.

terça-feira, 6 de julho de 2010

KHAMSA





Nesta produção da França e Argélia, de 2008, dirigida pelo franco-tunisiano Karim Dridi, o enfoque é sobre a marginalidade infanto-juvenil. O menor Marco ou Khamsa (Marco Cortes), de 13 anos, vive num acampamento cigano com até que o pai deixe o lar com outra mulher e a madrasta, Rita (Magalie Contreras) o abandone. Depois de um tempo fora de casa, o garoto volta e, da família,só encontra a avó, única pessoa que lhe dedicava atenção. Mas a mulher, idosa, está muito doente e não demora a morrer. Consequntemente Marco retorna ao relacionamento com a garotada do lugar, especialmente seus antigos companheiros, Coyote (Raymond Adam) e Rachitique (Mehdi Laribi), o primeiro já adentrado na marginalidade e o segundo desafiando a sorte mesmo tendo uma família que se interessa por seu destino.
Pequenos furtos levam Marco/Khamsa a um declive social. Seu amigo menos agressivo é Tony, um anão que se diz seu tio. Ele vive de apostas em brigas de galo e oferece ao garoto a chance de se associar a ele e quando ganhassem uma partida com boas apostas migrariam para a Espanha onde passariam a criar galos de briga. Mas Tony fica doente, Coyotte e Rachitike são presos, o jovem cigano tenta de alguma forma ganhar respeito de moradores da região atirando-se do alto de uma grua, no porto (cena que abre o filme na demonstração de coragem de outro personagem). Ainda assim o crédito que se dá a Khamsa é pouco. E não demora ele se envolver em um assassinato.

O filme de Karin Dridi é mais uma demonstração da permanência do neo-realismo em cinematografias como a africana. Neste exemplar mostra-se certo preconceito (com demonstração viva de animosidade) que existe entre descendentes árabes e ciganos. Mesmo que os últimos venham dos mesmos países. É um ponto cultural que faz isolar ainda mais o menino cujo nome evoca o número 5. O pai deixa a França com a nova amante e à saída faz um convite para Khasam ir com eles. Como o garoto recuse, ganha a chave do trailer onde pai e amante moravam. Mas o que fazer na “casa móvel” se não tem nem como se alimentar? Sem qualquer recurso ou apoio, Khamsa é seduzido pela marginalidade, pelos furtos cada vez mais audaciosos, pela violência que segue esses atos.

A semelhança com o brasileiro Pixote só não é mais explicita porque a favela paulista do herói do filme de Babenco parece mais miserável. Mesmo assim, a caminhada pelo crime é a mesma, com as amizades pontuando uma adolescência cruel. “Pixote, A Lei do Mais fraco (circulando em DVD) de Hector Babenco explora um tipo de evolução da marginalidade onde a única causa é a da classe social. O filme argelino tem uma forte conotação de discriminação racial quando duas etnias , mesmo no âmbito intermarginal, se enfrentam, inclusive, levando a assassinatos. O destaque entre os dois filmes também se dá pela falta de afetividade que é denunciada entre os familiares dos garotos e estes. A escalada ao espaço da rua não se dá pela vontade deles mas pela real ausência de quem os acolha.

Outro ponto marcante em “Khasma” é a ausência do Estado. Na circulação da câmera no meio daquele povo, não se vê nenhum acesso a uma atividade prevista pelas políticas de um governo que contemple as famílias. A polícia só chega quando os casos são extremos e para prendê-los.

Este é o sexto filme do Karin Dridi.Todos, ao que se sabe, denunciam de alguma forma os a questão social em que são atores a pessoas vindas de outras regiões, especialmente de países africanos, para a capital francesa.

Impressiona como o diretor conseguiu desempenhos tão espontâneos como os de Marco Cortes(Khamsa), Raymond Adam (Pixote), Simon Abkarian(o pai), e Tony Fourman (Tony). A desenvoltura lembra um documentário, arranhando a realidade com câmeras manuais que focalizam de enquadramentos objetivos ao cenário árduo por onde circulam tipos construídos no desamor.

Esses filmes franceses que tratam de imigrantes árabes são numerosos e muitos veiculados pela Cinemateca do país (ligada à Embaixada da França). Vê-los por aqui é uma forma de mostrar um tipo de cinema que normalmente não alcançaria o nosso circuito exibidor nem mesmo em DVD. Palmas, portanto, a produção que chega ao veterano Olympia e já se vai mostrar outro exemplar a partir de hoje. Trata-se de O Último Reduto”(Dernier Maquis/França, Argélia, 2008), direção de Rabah Ameur-Zaimèche. As 18h30.

KHAMSA





Nesta produção da França e Argélia, de 2008, dirigida pelo franco-tunisiano Karim Dridi, o enfoque é sobre a marginalidade infanto-juvenil. O menor Marco ou Khamsa (Marco Cortes), de 13 anos, vive num acampamento cigano com até que o pai deixe o lar com outra mulher e a madrasta, Rita (Magalie Contreras) o abandone. Depois de um tempo fora de casa, o garoto volta e, da família,só encontra a avó, única pessoa que lhe dedicava atenção. Mas a mulher, idosa, está muito doente e não demora a morrer. Consequntemente Marco retorna ao relacionamento com a garotada do lugar, especialmente seus antigos companheiros, Coyote (Raymond Adam) e Rachitique (Mehdi Laribi), o primeiro já adentrado na marginalidade e o segundo desafiando a sorte mesmo tendo uma família que se interessa por seu destino.

Pequenos furtos levam Marco/Khamsa a um declive social. Seu amigo menos agressivo é Tony, um anão que se diz seu tio. Ele vive de apostas em brigas de galo e oferece ao garoto a chance de se associar a ele e quando ganhassem uma partida com boas apostas migrariam para a Espanha onde passariam a criar galos de briga. Mas Tony fica doente, Coyotte e Rachitike são presos, o jovem cigano tenta de alguma forma ganhar respeito de moradores da região atirando-se do alto de uma grua, no porto (cena que abre o filme na demonstração de coragem de outro personagem). Ainda assim o crédito que se dá a Khamsa é pouco. E não demora ele se envolver em um assassinato.

O filme de Karin Dridi é mais uma demonstração da permanência do neo-realismo em cinematografias como a africana. Neste exemplar mostra-se certo preconceito (com demonstração viva de animosidade) que existe entre descendentes árabes e ciganos. Mesmo que os últimos venham dos mesmos países. É um ponto cultural que faz isolar ainda mais o menino cujo nome evoca o número 5. O pai deixa a França com a nova amante e à saída faz um convite para Khasam ir com eles. Como o garoto recuse, ganha a chave do trailer onde pai e amante moravam. Mas o que fazer na “casa móvel” se não tem nem como se alimentar? Sem qualquer recurso ou apoio, Khamsa é seduzido pela marginalidade, pelos furtos cada vez mais audaciosos, pela violência que segue esses atos.

A semelhança com o brasileiro Pixote só não é mais explicita porque a favela paulista do herói do filme de Babenco parece mais miserável. Mesmo assim, a caminhada pelo crime é a mesma, com as amizades pontuando uma adolescência cruel. “Pixote, A Lei do Mais fraco (circulando em DVD) de Hector Babenco explora um tipo de evolução da marginalidade onde a única causa é a da classe social. O filme argelino tem uma forte conotação de discriminação racial quando duas etnias , mesmo no âmbito intermarginal, se enfrentam, inclusive, levando a assassinatos. O destaque entre os dois filmes também se dá pela falta de afetividade que é denunciada entre os familiares dos garotos e estes. A escalada ao espaço da rua não se dá pela vontade deles mas pela real ausência de quem os acolha.

Outro ponto marcante em “Khasma” é a ausência do Estado. Na circulação da câmera no meio daquele povo, não se vê nenhum acesso a uma atividade prevista pelas políticas de um governo que contemple as famílias. A polícia só chega quando os casos são extremos e para prendê-los.

Este é o sexto filme do Karin Dridi.. Todos, ao que se sabe, denunciam de alguma forma os a questão social em que são atores a pessoas vindas de outras regiões, especialmente de países africanos, para a capital francesa.

Impressiona como o diretor conseguiu desempenhos tão espontâneos como os de Marco Cortes(Khamsa), Raymond Adam (Pixote), Simon Abkarian(o pai), e Tony Fourman (Tony).
A desenvoltura lembra um documentário, arranhando a realidade com câmeras manuais que focalizam de enquadramentos objetivos ao cenário árduo por onde circulam tipos construídos no desamor.

Esses filmes franceses que tratam de imigrantes árabes são numerosos e muitos veiculados pela Cinemateca do país (ligada à Embaixada da França). Vê-los por aqui é uma forma de mostrar um tipo de cinema que normalmente não alcançaria o nosso circuito exibidor nem mesmo em DVD. Palmas, portanto, a produção que chega ao veterano Olympia e já se vai mostrar outro exemplar a partir de hoje. Trata-se de O Último Reduto”(Dernier Maquis/França, Argélia, 2008), direção de Rabah Ameur-Zaimèche. As 18h30.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

PARA VER EM CASA





O DVD tem sido uma boa opção agora que os cinemas comerciais têm limitado os seus lançamentos com a permanência em cartaz de seguidos “blockbusters”. Nesse ponto, aliás, é bom que o leitor saiba que a política das distribuidoras de filmes é não aceitar que o exibidor tire do cartaz um de seus produtos com faturamento acima de certa média nas bilheterias. Além disso, as salas são obrigadas a cumprir uma quota de filmes nacionais. Essas medidas são antigas, do tempo em que as políticas eram ditadas pela Embrafilme, estatal de cinema.
Mas vamos às novidades em DVD.

“Brideshead: Desejo e Poder”( Brideshead Revisited/Ingl,2005) é o longa(133 minutos) metragem extraído de uma série de TV com base em um romance escrito por Evelyn Waught. Brideshead é uma mansão inglesa mantida, no momento da ação, por uma viúva católica que preza os preceitos religiosos como a forma de conduta a ser traçada pelos familiares. A ação do filme inicia durante a 2ª. Guerra Mundial no momento em que Charles (Matthew Goode), filho de uma família de classe média, é um oficial em visita ao acampamento de tropas na mansão, já em fase decadente. Em flash-back passa-se para o tempo em que o jovem deixa o pai, um viúvo, para ir estudar em Oxford. Na universidade ele encontra Sebastian (Bem Wishaw) um homossexual filho da proprietária de Brideshead que logo lhe dedica estima. A irmã de Sebatian, Julie (Hayley Atwell) também se afeiçoa a Charles e isto leva a problemas familiares, pois o recém-chegado confessa-se ateu.

O romance considerado proibido de Charles e Julie e as atitudes desesperadas de Sebatian e de sua mãe (interpretada por Emma Thompson) levam a um desenlace dramático. O filme é narrado sem brilho algum por Julian Jarrold, limitando-se a contar os fatos como uma compilação dos episódios de TV. Mas o tema seduz e o espectador que um dia foi leitor de novelas do gênero não vai sentir o tempo passar. Inédito nos cinemas locais.

“Climas”(Iklimer/Turquia,2006) também é inédito nos cinemas apesar de ser multipremiado. O argumento não diz muito: casados em crise, ela trabalhando na TV, ele na publicidade, tentam manter a relação com viagens, mas tudo parece inútil. Há um momento de infidelidade por parte dele, mas não é isso que vai abrir caminho para um final que reflete sobre o relacionamento de forma sensível. A narração prefere sempre as imagens e os planos abertos. Pouca música, demora do enfoque, o objetivo é tentar chegar ao intimo dos personagens sem traduzir-se em palavras alguma coisa. Esta aposta no cinema puro foi lembrada como influência do russo Andrei Tarkovski. É filme para ser visto com paciência desprendendo-se dos vícios de linguagem norte-americanos. Revelação do diretor Nuri Bilge Ceylan com 8 prêmios no currículo inclusive um em Cannes concedido ao diretor.

“O Porto”(Hammstad/Suécia,1948)é um dos primeiros filmes de Ingmar Bergman. Mas já demonstra o cuidado do diretor em delinear os tipos, penetrando na área que o celebrizaria: a introspecção. Um marujo apaixona-se por uma jovem de passado misterioso, sabendo muito tempo depois de iniciado o romance que ela esteve em reformatório, que teve vários amantes. Mas o amor parece vencer todas as barreiras. E isto se mostra sem os recursos fáceis do melodrama. Excelentes trabalhos dos atores, especialmente de Nine-Christine Jönsson.

“Minha Esperança é Você” (A Childe is Waiting/EUA, 1963) reúne veteranos “cobras” como John Cassavettes (diretor), Stanley Kramer (produtor) e Abby Mann (roteirista). É um dos últimos filmes de Judy Garland contracenando muito bem com Burt Lancaster. O tema é a criança portadora de deficiência mental, o modo como é recebida e tratada no lar e como deve ser assistida em instituição especializada. Sóbrio e cativante.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

Um Olhar do Paraíso
O Fim da Escuridão
Preciosa
O Lobisomen
Coração Louco
Invictus
Percy Jackson e o Ladrão de Raios
De Repente, Califórnia
Vidas que Se Cruzam
Educação

quinta-feira, 1 de julho de 2010

TERCEIRA DIMENSÃO EM BELÉM






Ver cinema em 3a. dimensões não é uma novidade. Em 1953, o filme “Museu de Cera” (House of Wax) de Andre De Toth, exibia o processo encantando as platéias que na época guinavam para a televisão. Antes, algumas experiências foram feitas com filmes curtos. A técnica consistia em exibir simultaneamente duas cópias de filmes em 35mm, cada uma em projetor, obrigando a platéia a usar óculos bicolores para sentir o efeito tridimensional. A explicação desse efeito ótico é a seguinte: os nossos dois olhos vêem imagens com pequena diferença de um para outro. A superposição das imagens, com o recurso de óculos para ajudar a iludir o cérebro, provoca a percepção tridimensional. Nos anos 1950, a luta do espetáculo cinematográfico contra as novas formas de entretenimento daria ensejo a buscas técnicas para tornar a ida ao cinema um programa diferente. Foi a época em que surgiram o cinemascope, o vista-vision, e em casos especiais o cinerama (uma tela gigante e curva que abrigava imagens projetadas por 3 aparelhos).

O processo 3D chegou à Belém e fez algum sucesso. Foram exibidos além de “Museu de Cera” dois filmes de westerns e um “terror” em preto e branco. Filmes que foram exibidos no Cine Olímpia e no hoje desaparecido Cine Independência.
Mas a “novidade” acabou cansando. E literalmente: pessoas se queixaram de dor de cabeça e alguns médicos alertaram para doenças oculares como a blefarite por conta dos óculos que passavam por vários espectadores sem a devida esterilização.

Nos dias atuais a 3D voltou e os produtores pensam que desta forma vencem a pirataria do vídeo e a facilidade com que são “baixados”(download) os filme da Internet (dados transferidos do computador remoto para o local).
O processo da Terceira Dimensão chega vestido de mais detalhes e apostando num aprimoramento técnico. Os óculos não são mais os descartáveis de papelão com cores vermelho e verde (ou azul) e passam por um esterilizador depois de usados. Cada óculo novo custa cerca de US$ 80,00 sendo alugado ao espectador na compra do ingresso (que entre nós deve valer R$ 22,00). Também não é usada mais a projeção simultânea e sim digital com o filme já gravado de forma a acoplar as imagens que se pudessem ser vistas “a olho nu” seriam tidas “embaralhadas”.

Apostando firme nessa opção, os produtores, especialmente os norte-americanos, pensam que é uma forma de salvaguardar a indústria que hoje pede orçamentos gigantescos para um filme de ação (o que se pensa fatura mais) ou um desenho animado. Mesmo que a 3D alcance a tela pequena e já esteja em algumas casas com a mesma tecnologia para ver TV com relevo.

Possivelmente hoje Belém ganhará a sua primeira sala para projeção tridimensional. Será a Sala 2 do circuito Moviecom, no shopping Pátio. O filme já está em cartaz em 2D e atraindo muita gente ao cinema: “Toy Story 3”. É o tipo da realização que prescinde de artefatos técnicos. É um bom trabalho de qualquer forma. Mas já se programa outra animação dentro do processo: “Shrek Para Sempre”. Com isso, deve surgir a média de 2 filmes 3D por mês, o que pode restringir a sala ao processo (embora ela possa continuar exibindo película normal).

Para quem gosta de cinema acima de um simples programa de feira de amostra, um bom filme pode ser em tela plana e em preto e branco. Grandes clássicos foram produzidos quando ainda não havia o recurso do som analógico. Isto quer dizer que a arte cinematográfica, como processo de criação, pede mais idéias, mais talento, e menos apresentações feéricas.

E em tempo: em agosto surgirão as 7 salas da empresa mexicana no shopping Boulevard. Pelo menos duas delas serão equipadas para exibições de filmes em 3D. Moda é isso. E também processo de concorrência.

MR. KUBRICK DA ACCPA

No dia 30, dia de São Marçal, aniversariou Marco Antonio Moreira, o nosso querido presidente da ACCP e uma das pessoas mais dinâmicas que eu conheço (salvo o PV em sua época) em termos de disseminação do cinema de um modo geral. Neste registro expresso meu grande afeto pelo Marco e desejo que suas próximas metas (já traçadas, diga-se) para o avanço da associação que dirige sejam realizadas.