segunda-feira, 30 de maio de 2011

VISCONTI, LUMET E OUTROS AUTORES




O DVD continua sendo o porto onde os cinéfilos têm se abrigado. Esta semana assisti a um número considerável de filmes novos e clássicos que engrandeceriam qualquer atividade cineclubistica. A iniciar com um dos melhores trabalhos do recém-falecido diretor Sidney Lumet: “A Colina dos Homens Perdidos”(The Hill/Ingl, 1965). Sean Connery protagoniza Joe Roberts um dos muitos militares punidos no final da 2ª.Guerra por rebeldia, predestinado a escalar uma colina árida entre outras formas de disciplina torturante. Ele encabeça uma revolta dos presos, e, nesta medida, repousa a critica que o filme faz a qualquer tipo de ação autoriária e/ ou ditatorial. Exibido no Brasil emtre 1966/67 ganhou aplausos calcados nas ações que eram aplicadas no período da ditadura recém-implantada em nosso país.

Outro filme clássico: “Belissima” (Itália, 1951). Aqui se reúnem monstros sagrados do cinema italiano como Alessandro Blassetti (numa ponta como diretor de cinema que faz uma triagem de meninas para um papel importante em filme), Cesare Zavattini e Suso Cechi D’Amico (roteiristas capitais na fase neo-realista), Piero Tosi (vestuário), Francesco Rossi e Franco Zefirelli (assistentes), Franco Ferrara (maestro) e, na direção, Luchino Visconti. Isto sem falar na atriz Anna Magnani que interpreta a “mãe coruja” de uma menina que pretende ser escolhida (Tina Apicelli), e do comediante Walter Chiari, vivendo um tipo sério.

O filme é uma exceção na obra do mestre Visconti a partir do tema. O desvelo da mãe que chega a um tipo possessivo é a base do argumento. E o tratamento lembra o melhor de uma escola que apostava na naturalidade dos interpretes.
“Sentimento de Culpa”(Please Give/EUA, 2009) é inédito nas telas grandes. Trata de uma família composta de pai, mãe e uma filha, que sobrevive da venda de moveis usados. E quer expandir a área de seu apartamento (e loja). Mas isto só pode acontecer quando morrer a vizinha e as netas desta ganharem campo para viver. Entre egoísmo e bondade (a sra.Kate/Catherine Kaener não deixa de dar esmola a quem ela acha necessitado), a trama vai expondo quem é quem. Uma experiência pessoal da diretora-roteirista Nicole Holofcener. Muito bom.

“O Assassino em Mim”(The Killer Inside Me/EUA,2009) impressiona. Dirigido pelo inglês Michael Winterbittom focaliza um policial de uma pequena cidade norte-americana na década de 1950 que vai exteriorizando os seus instintos criminosos quando é encarregado de banir do lugar uma prostituta a pedido de um magnata local que vê seu único filho envolvido com a mulher e pretende que este se case com uma jovem da sociedade. O policial segue um plano de matar as pessoas com quem convive e vai desafiando colegas de corporação. Bom desempenho de Casey Affeck e também de Jessica Alba e Kate Hudson. Uma discussão sobre vários temas, inclusive sobre o mandonismo local e as parcerias suppostamente assepticas para manter o status quo.

“Whity”(Alemanha 1971) é um estranho western de Rainer Fassbinder. Na verdade o diretor alemão constrói uma ópera em que vê de um ângulo cruel o preconceito racial nos EUA de então. Um mordomo mulato é muitas vezes espancado pelos patrões, mas acaba sendo o assassino destes a mando dos familiares. Um filme extremamente cruel.

“Megamente”(Megamind/EUA, 2010) é uma animação muito engenhosa da DreamWorks. Desta vez o vilão é focalizado como principal personagem. E se discute quem é vilão numa história em que o herói não é digno de aplausos. Dirigido por Tom McGerath de um roteiro de Alan Schoolcraft e Brent Simons é filme do agrado das crianças e de seus acompanhantes em cinema. Foi exibido em Belém no final do ano passado. Quem perdeu na telona deve ver na telinha e com a opção (inédita antes) do som original.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)
1. Além da Vida
2. O Vencedor
3. Megamente
4. O Turista
5. Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família
6. Incontrolável
7. De Pernas pro Ar
8. Secretariat
9. O Mágico
10. As Viagens de Gulliver (2010)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

PIRATAS ENVELHECIDOS




O mito sobre a Fonte da Juventude é a meta, desta vez, de Jack Sparrow (Johnny Depp) e seus “muy amigos”. Incorpora-se ao grupo Angelica (Penélope Cruz), a parte feminina e, provavelmente, romântica da história (não fosse Sparrow um tipo arredio a romances, mesmo a seduzir as garotas).
O objetivo não é novo em cinema, nem mesmo com alusão a Ponce De Leon, navegador espanhol que descobriu a Florida em 1513 quando buscava a tal fonte. Lembro de pelo menos dois exemplares ilustres de filmes sobre a juventude eterna: “Ela, a Feiticeira”(She/EUA, 1935) de Lansing Holden e Irving Pichel e “Tentação Selvagem”(Angel of the Amazon/EUA,1948) de John H. Auer. O primeiro foi lançado recentemente em DVD no Brasil e baseia-se numa historia de H. Hidder Haggard, autor de “As Minas do Rei Salomão”. O segundo é raro e nos diz respeito, pois a história segue a juventude eterna no interior paraense, achando-a em Obidos. Foi um filme da empresa Republic, produzido pelo marido da estrela Vera Ralston, o magnata Herbert J. Yates.

A Fonte da Juventude é apenas um gancho para a quarta aventura cinematográfica dos tipos criados por Ted Elliot e Terry Rossio, especialmente o pirata Jack Sparrow, composto de forma absoluta por Johnny Depp a ponto de sumir caso esse ator recuse interpretá-lo um dia. Os que acompanham a franquia podem esquecer episódios anteriores ou o final do ultimo capitulo. Os filmes estão sendo criados de forma a serem vendidos independentemente e a meta é prosseguir com eles enquanto faturarem (o que vale dizer que a série vai prosseguir posto que este “Piratas do Caribe 4” encabeça as bilheterias nos EUA esta semana).
“Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas”(Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides/EUA,2011) tem direção de Rob Marshall ( mais afeito a musicais como “Chicago” e “Nine”) e produção de Jerry Bruckheimer para a Disney. O diretor substitui Gore Verbinsky, responsável pelas primeiras aventuras, na época da produção dedicado ao desenho animado (excelente) “Rango”. Não se pode dizer que em termos técnicos o filme tenha perdido para os anteriores. A experiência de Marshall com a coreografia dá o tom em seqüências diversas, especialmente com lutas de espadas. O problema é o roteiro, ou, mais especificamente, o argumento. Nesse ponto a imaginação claudica. A busca pela juventude afeta a todos, do rei da Inglaterra aos corsários a seu serviço, como Barbossa (Geoffrey Rush), passando pelo eterno inimigo Barba Negra (Ian McShane). Mas as peripécias no caminho eclipsam o interesse capital. E quando todos alcançam o lugar onde estaria a relíquia (o barco) de Ponce de Leon e a cobiçada fonte, importa mais o confronto entre velhos adversários do que, propriamente, o que fazer ou o que acontecer quando se achar o líquido miraculoso e ganhar a juventude eterna.

O roteiro pensa na platéia romântica e enxerta um namoro entre um clérigo e uma sereia. Ele proclama a sua fé e com isso um modus-vivendi com seres fantásticos, “afinal criatura de Deus”. Acaba virando, ao que parece, um tritão. Neste hiato das peripécias de Jack Sparrow está um pouco de uma mitologia Greco - universal. Quem lembra de Ulisses na volta à Itaca enfrentando, entre outros seres fantásticos, o canto de sereia ? Aqui, no cenário americano (afinal a geografia da trama não é bem especificada), a lagrima de uma sereia é a formula basica da Fonte da Juventude. No esquema poético(que o filme abdica) é de um amor que surge a compensação de prosseguir vivendo. Syrena (Astrid Berges-Frisbey), a sereia mais evidente, exibindo uma maquilagem que denuncia um salãom de beleza nas profundezas dos mares, enamora-se de um mortal. E chora. E a lágrima sobra até para Sparrow, que a abdica em nome de um processo de paz que dá o gancho para nova aventura.

Um filme longo, vazio, bem produzido e poucas vezes engraçado. Pode-se passar sem ele. E cada vez mais o gênero demonstra saudades dos velhos piratas dos mares hollywoodianos.

AS ESTRÉIAS NO CIRCUITO BELENENSE









O público deste espaço já se acostumou a ler, às sextas feiras, as referências aos filmes que serão lançados nos cinemas da cidade. Supostamente é uma indicação para conhecimento dos leitores de jornal sobre o filme a circular durante a semana e a informação mais específica sobre o que cada um desses programas explora em temática se descolando de uma simples agenda de lazer.
Sabe-se que a diferença entre o repasse de informações ao espectador nos dias atuais e ontem, tem várias frentes competitivas. Este tratamento do jornal é uma concessão a um público que não tem o acesso à internet e ainda precisa “passar a vista” nas colunas regulares de cinema para compor a sua agenda. Cumpro minha responsabilidade neste espaço há 39 anos.


Agora os lançamentos: os cinemas da cidade anunciam quatro filmes novos: ”Um Lugar Qualquer”, “Se Beber não Case 2”, “O Poder e a Lei” e “Não se Pode Viver sem Amor”.
Na área especial: “Perdição por Amor”, de William Wyler, na Sessão Nostalgia do Olimpia (sábado) e “Viagem à Cytera” de Theo Angelopoulos no IAP (Cine Clube Alexandrino Moreira) na 2ª.Feira às 19h.


“Um Lugar Qualquer”(Somewhere/EUA,2009) ganhou o primeiro prêmio (Leão de Ouro) do Festival de Veneza e mais uma vez apresenta a cineasta Sofia Coppola dissertando sobre o mundo que bem conhece: a vida de um astro de cinema e o vazio que o acompanha. No Cine Libero Luxardo às 19 h desde 4ª. feira.


Em “Não se Pode Viver sem Amor” (Brasil/2010) a ação se passa no Natal. Gabriel, 10 anos e Roseli 30, chegam ao RJ para localizar o pai e marido que os abandonou. Sem conhecer a cidade, perambulam pelas ruas e encontram João, advogado desempregado, Pedro, pesquisador universitário a decidir entre a esposa e a profissão; e Gilda, uma dançarina de boate presa ao passado. Todos vivem situações-limite e sentem ainda mais seus dramas na proximidade do Natal. É o tempo para surgir uma esperança. Produção nacional dirigida por Jorge Duran.


“O Poder e a Lei” (The Lincoln Lawyer/EUA,2010) traz Matthew McConaughey como o advogado Michael Haller cujo escritório é o banco trazeiro de seu carro. Ele busca um bom caso até surgir a chance de defender Louis Roulet(Ryan Philippe)um playboy detido por agressão e tentativa de estupro contra uma prostituta. A direção é de John Romano e o filme ganhou elogios da critica norte-americana. No elenco também Marisa Tomei e John Leguizamo.


“Se Beber não Case II” (The Hangover, Part II/EUA, 2011) objetiva ser tão divertido quanto o primeiro filme da franquia. Desta vez casa-se outro membro do grupo de amigos que antes fez estragos em Las Vegas. O cenário agora é a Tailândia e para lá se dirigem Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Holmes), Alan (Zach CalifianaskiI) e Dough (Justin Bartha). Quem vai casar é Stu e o que eles aprontam reprisa muitas situações em que pontuam desastres como o que destruiu um apartamento no filme anterior. O diretor é o mesmo Todd Phillips da primeira festa de despedida de solteiro e ainda do posterior “Um Parto de Viagem”. A aposta surrealista de antes tem expectativas de bom efeito.


“Perdição por Amor”(Carrie/EUA, 1952), de William Wyler, com Laurence Olivier e Jennifer Jones. O roteiro de um romance de Theodor Dreiser “Sister Carrie”. A personagem-título, garota do interior que tenta a vida na cidade grande. O tempo é o final do século XIX. No caminho da moça surge George Ustworth, honrado pai de família de meia idade que se apaixona pela jovem destruindo o lar e posição social. Sucesso de critica e de publico em sua estréia. Sessão Nostalgia, domingo às 16 h Olympia.


“Viagem à Cythera” trata de um idoso que depois de 32 anos em exílio na então URSS retorna à Grécia embora evite contar seu passado a familiares. Objetiva viajar para Cythera, para onde dirige as suas melhores esperanças. O diretor Theo Angelopulos é o importante em seu país (Grecia).O filme coleciona prêmios internacionais.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

UM LUGAR QUALQUER
















A sequência inicial do novo filme de Sofia Coppola “Um Lugar Qualquer”(Somewhere/EUA,2010) é de um grande plano fixo, tomado de uma estrada, acompanhando repetidas vezes a passagem de uma Ferrari preta fazendo círculos em velocidade cortando um deserto. O som é apenas do motor do carro. Esse plano é de grande duração com um significado que será delineado ao longo do filme. Segue-se num quarto de hotel uma sessão de dança de duas jovens ou o que se queira ver como “bailado sexy” (pole dance) amparadas numa barra de alumínio. As jovens atendem a um cliente ilustre: o ator de cinema Johnny Marco (Stephen Dorff), que vive num apartamento do Chateau Marmont, um dos mais luxuosos de Hollywood. O roteiro da própria diretora visa retratá-lo em sua solidão. Longe da esposa, Layla (Lala Sloatman), passa o tempo todo no ócio patrocinado pelo dinheiro do estúdio que o contrata e nos encontros profissionais que vão de entrevistas coletivas a viagens promocionais onde seu novo filme estréia.

A convivência imprevista com a filha de 11 anos, Cleo (Elle Faning), que o procura e passa a morar com ele, quebra a rotina vazia a qual Marco já se acostumara, seguindo-a nas sessões de balet no gelo. No inicio, um tédio para ele, mas ao fim, se transforma numa surpresa, encantando-se com a leveza da filha, sendo isso novidade para ele. Leva-a consigo aos quatro cantos por onde é obrigado a ir, mas numa sincronia com as qualidade que ela mostra naturalmente, cuidando do pai, impondo uma nova vida a ele. O tom pausado da câmera traduz-se numa versão emblemática de um jovem ator que é endeusado e “paparicado” pela mídia, mas que pela fisionomia parece ser obrigado a viver dessa forma. Não há clichês mesmo apresentando certas sequencias que traduzem uma violação à inocência da filha (chafé da manhã com a amante), mas pelas expressões dos três personagens destaca-se em momentos discretos e como se fossem um lugar comum para Cléo.

Retratar vazios depressivos é sempre um desafio do cinema. Antonioni foi um mestre nisso. Suas personagens solitárias caminhavam pelas ruas com a câmera perseguindo-lhes os passos. Nisso estampava o que na literatura consumia laudas e laudas de definições quase clinicas (ou respostas filosóficas). Num filme, seguindo a noção de que “uma imagem vale mais do que mil palavras”, um close de um personagem basta para dizer o que ele está sentindo. Claro que isso pede muito de um ator e mais ainda de quem o dirige. Além do fato de outros recursos para dimensionar o vazio que cerca um tipo, sejam os planos demorados como faz Sofia Coppola, seja a amplitude desses planos (o close é geralmente “inimigo” disso pois quer dizer “aproximação” e, no caso, a aproximação invalida a amostragem de um todo, da gênese de uma expressão triste).

“Um Lugar Qualquer” ganhou o Leão de Ouro do Festival de Veneza e foi muito discutido desde então. Obviamente não fez sucesso de bilheteria. É o que se chamava de “filme de arte”, com o único propósito de agradar quem pensa cinema mais do que uma simples diversão. No caso, lembra o que está nas telas da cidade, “Minha Versão do Amor”(Barbney’s Version) onde Paul Giamatti protagoniza um solitário explorando de todas as formas o que possa definir o que sente.

Sofia andou desagradando os críticos com o seu “Maria Antonieta” que a meu ver é muito criativo ao mostrar uma imagem jovem da rainha condenada pela Revolução Francesa. Neste novo filme, ela retorna ao tema de seu ”Encontros e Desencontros”(Lost in Translation/2003), até pelo fato de tratar de gente de cinema. Sentindo-se a vontade, mesmo por ser filha do famoso Francis Ford Coppola, a diretora trata do que sabe, de seu meio, de sua classe, de problemas íntimos que se não sente deve conhecer quem sinta. E parece sincera na sua exposição. Seqüências extensas, planos demorados, pouquíssimos movimentos de câmera, economia de diálogos são artifícios para explorar os sentimentos de seu personagem.

O filme é lento, a linha da história é o que ela mostra em imagens. Mas cinema de criação é sempre desafio. E Sofia volta a desafiar. Melhor saber que ela se interessa mesmo pela criatividade


















A VIDA DE BARNEY




Baseado num livro bastante aclamado do escritor e ensaista canadente de Montreal, Mordecai Richler, o filme “A Minha Versão do Amor” (Barney’s Version/Canadá 2010) dirigido por Richard J.Lewis de um roteiro de Michael Konyves deve tudo ao intérprete. É o filme de um personagem: Barney Panofsky, interpretado por Paul Giamatti. Um homem aparentemente sem atrativos: não é bonito, não é rico, é explosivo, trata mal os seus amigos (e os amigos dos amigos).

Paul Giamatti compõe esse tipo que deve ter sido descrito em minúcias, mesmo com diferenças que sempre cabem em mais detalhes na literatura. Mas o que se vê no cinema chega a entusiasmar. Barney é visto quase em todos os planos, com a câmera focalizando-o ora em close, ora em travelling seguindo-lhe os passos, ora em plano médio realçando seu físico trabalhado pela bebida e fumo.

A narrativa não se faz em um simples “flash-back”. Navega no tempo, começando com Barney já idoso recebendo num bar o livro de um policial que o incrimina pela morte de um de seus amigos. O caso nunca foi resolvido e o corpo da vitima passou 30 anos para ser encontrado. Mas não é sobre este possível crime que se detêm a história. O que interessa é a pessoa de Barney, um assistente de programa de televisão, casado 3 vezes (uma vez viúvo, outra divorciado, outra abandonado embora se discutam razões e atitudes). O que essas mulheres viram numa pessoa sem atrativos passa por um comportamento onde se exterioriza uma franqueza pouco comum.

Logo no primeiro casamento revela-se como Barney é capaz de se sacrificar por seus atos, desposando uma prostituta que diz ter no ventre um filho dele (quando na verdade é de um amigo). Em seguida surge o papel de uma esposa judia (como ele), e rica (Minnie Drive em excelente desempenho). No dia das bodas ele conhece Miriam (Rosamund Pike), uma mulher que faz companhia a um convidado na sua festa de casamento e que lhe desperta uma súbita paixão. É à conquistar Miriam que o personagem se dedica e com quem tem um casal de filhos. A vida em comum por muitos anos não leva, no entanto, a um “happy end”. Em certa semana que passa sozinho, visto que Miram visitava o filho já adulto e longe de casa, Barney aceita uma aventura amorosa com uma ex-atriz de TV e este fato, confessado à Miriam, leva à uma indesejada separação que só se redime quando ele apresenta os primeiros sinais do Mal de Alzheimer.

Dustin Hoffman protagoniza o pai de Barney, um ex-policial judeu, viúvo, que leva a vida com aparente desprendimento, brincando com o filho “ranzinza” e cuidando do futuro na forma de arranjar um espaço para ele no túmulo da esposa já falecida. Este exemplo será seguido pelo conturbado herdeiro. Ele pede para ser sepultado com Miriam.

É interessante como o roteiro dedica espaço total a um tipo polêmico, aborrecido, na maioria das vezes insatisfeito com a sua realidade, mas, ainda assim, consegue expor certo humor e deixar no público uma impressão favorável. É uma maneira de não se deixar contaminar por uma forma de realismo (como muitos exemplos de dramas cinematográficos). Não sei até que ponto segue o livro original, mas, segundo comentários, o tipo do romance recebeu um tratamento de redução do que era desagradável ao ser adaptado ao cinema. Entretanto, ninguém o vê como antipático, em certos momentos extraindo do público sentimentos de piedade. E esta visão é funcional, amparada na seqüência semifinal em que o policial que investigou o desaparecimento do amigo de Barney, apesar de ser contestado em sua versão pela descoberta do corpo desse amigo com provas indiscutpiveis de que ele teve morte acidental, duvida da noticia e confirma o assassinato. Um corte e se vê o personagem na fase final de sua doença, ajudado pelo filho a fumar um charuto, afinal um de seus prazeres.

“Minha Versão do Amor” surpreende quem não soube, por exemplo, dos prêmios que o filme recebeu (como o Globo de Ouro a Paul Giamatti). É uma exceção chegar à Belém onde os cinemas se mostram exclusivos a filmes potencialmente comerciais. Recomendo.

NOVOS INÉDITOS EM DVD









Por incrível que pareça, “O Buraco”(The Hole/EUA,2009), apesar de ser editado para cinema em 3D, não chegou a ser exibido nas salas brasileiras. Circula agora em DVD nas locadoras e faz a festa dos que apreciam o trabalho do diretor Joe Dante (de “Gremlins”, “Viagem Insólita” e episódios da última série de “Além da Imaginação”).
Dante e Wes Craven são considerados os melhores cineastas norte-americanos do gênero terror surgidos no final do século passado. Em “O Buraco” Dante começa como se estivesse repetindo velha fórmula: uma família (no caso mãe divorciada e dois filhos) passa a residir numa casa afastada do centro de Nova York. Logo os filhos, um rapaz e um garoto, acham no porão da casa uma abertura fechada com vários cadeados. Seduzidos pela curiosidade eles quebram os cadeados. E começam a surgir seres estranhos como um palhaço e uma garota. Procurando o antigo morador, eles ouvem histórias aterradoras sobre a fenda. O homem reclama que ao quebrarem os cadeados eles libertaram “a escuridão” e isso pode levá-los à morte.
O roteiro de Mark L. Smith afirma que o medo das pessoas pode estar armazenado em determinado lugar e “sair” quando incitado. Cada membro da família, e uma vizinha que se associa ao grupo, vêem um tipo de “assombração” saindo dessa abertura.
Boa narrativa consegue o retorno do melhor do chamado B-Picture, quase sem efeitos digitais, propondo assustar com recursos tradicionais sem que isso implique no “déjà vu”. Os cinéfilos de plantão que se ligam nessas histórias não devem deixar de assisti-lo.

Outro titulo esquecido pelos cinemas é “Minha Terra, África”(White Material/França,2009) de Claire Denis. O roteiro escrito pela diretora e por Marie N’Diaye trata de uma francesa, Marie Vial, herdeira de uma plantação de café em um pais africano não especificado que vê o local emergir numa luta sangrenta entre os colonizadores antigos e uma facção nacionalista. Separada do marido, a mulher, interpretada brilhantemente por Isabelle Huppert, mora com o filho, um jovem indolente (que de forma gradativa adere à violência), o sogro doente e, recebe a visita do ex-marido (Christopher Lambert), este a aconselhando a abandonar tudo e voltar para a França.
O filme aborda muito bem o caminho de uma guerra civil que não respeita pessoas inocentes em seu caminho. É aderir à luta ou morrer. Filmado em locação traz excelentes desempenhos. No plano final, é percebido o guerrilheiro solitário num descampado, sem rumo. No grande plano mostra-o em campo aberto, presentificado na fazenda, mas a posse não o politiza. É um pertencimento ilusório que demonstra uma herança retomada.

“Assim é a Aurora” (Elle S’Appele Aurore/França,1956) é um melodrama de Luis Buñuel, realizado num intervalo de sua produção no México. George Marchal protagoniza um médico casado qie se envolve com a personagem de Lucia Bosé. Ele se compadece do marido de uma cliente que morre no momento de ser transferido do seu lugar de moradia - uma fazenda – visto que o dono da terra impunha ao empregado uma dedicação ao trabalho bem maior do que a dedicação à esposa. O jovem se vinga matando o tal patrão. E o médico é quem esconde o vingador embora não consiga livrá-lo dos policiais. O filme tem narrativa linear e sem introdução do surrealismo que o grande cineasta exibia com carinho em seus melhores momentos. Mas é um titulo historicamente importante. Conhecer todas as fases de Buñuel é conhecer uma parte da arte cinematográfica. Não deixem de assistir.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)


1. O Turista
2. Incontrolável
3. As Viagens de Gulliver (2010)
4. Secretariat
5. Harry Potter e as Relíquias da Morte - Pt. 1
6. De Pernas pro Ar
7. O Garoto de Liverpool
8. Enrolados
9. Olho por Olho
10. As Coisas Impossíveis do Amor

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O INSPETOR GERAL






Um público bem restrito do cinema atual conhece o trabalho do comediante Danny Kaye (David Daniel Kaminski,1913-1987). Pelos filmes que já assisti dele, considero uma injustiça esse desconhecimento a um dos mais talentosos artistas que saíram do teatro para diante das câmeras com um grande poder de expressão corporal.


Kaye era filho de imigrantes judeus ucranianos. Trabalhou desde os 13 anos de idade e foi descoberto na Broadway por Samuel Goldwyn (1879-1974) também imigrante judeu. Produtor de cinema desde 1916, Goldwyn contratou-o para interpretar papéis em comédias musicais cujos filmes já em tecnicolor (luxo nos anos 40) chamavam a atenção do público. Entre outros filmes que atuou estão: “Sonhando de Olhos Abertos”(Up in Arms/1944), “Um Rapaz do Outro Mundo”(Wonder Man/1945), “O Homem de Oito vidas”(The Private Life of Walter Mitty/1947) e “A Canção Prometida”(A Song is Born/1948). Depois faria filmes em diversos estúdios, seja no gênero que o consagrou como uma plêiade diversificada de tipos em “Hans Christian Andersen”(1952) “Cabeça de Pau”(Knock on Wood/1954), “O Bobo da Corte”(The Court Jester/1955) sem falar em musicais dramáticos como “Natal Branco”(White Christmas/1954) e “A Lágrima que Faltou”(The Five Pennies/1959).


O filme escolhido para apresentar esse ator à nova geração e que será exibido na sessão Cult do Cine Líbero Luxardo, neste domingo, 21, é “O Inspetor Geral” (The Inspector General/1949), uma das boas comédias que foi interpretada por Danny Kaye. Baseada num conto de Nicolai Gogol trata de uma aldeia russa do século XVIII em que todas as autoridades eram corruptas. Ao saber que o czar mandara um inspetor visitar a região e este inspetor surgiria incógnito, confundiu um assistente de curandeiro, empregado para fazer pantomima enquanto vendia falsos medicamentos, como a autoridade esperada. Nessa hora o personagem havia sido despedido de sua função por ter piedade de uma cliente que empregara suas economias na droga dita miraculosa (e com isso alertado que se tratava de uma fraude). Maltrapilho e com fome, é preso, mas, na cadeia, é descoberto como autoridade, pois levava sob um buraco em sua bota, a falsa “autorização” de Napoleão Bonaparte à venda dos produtos engendrados pelo saltimbanco vigarista. Sem saber ler e avesso às mesuras de pessoas gradas do governo ele passa a ser bajulado e vai descobrindo as tramóias dos anfitriões até a chegada do verdadeiro inspetor.


O conto de Gogol foi modificado por Philip Rapp,Harry Kurnitz e (sem assinar) Bem Hetch. A direção do filme coube a Henry Koster (de “O Manto Sagrado”).


A última vez que assisti a esse filme foi em DVD, numa das minhas idas ao Mosqueiro. Confesso que gostei do formato narrativo e das peripécias engendradas para ativar a confusão dos dois tipos vividos por Dany Kaye. E não sou fácil de rir em cinema, mesmo em grandes comédias. Além de bem narrado, com uma direção de arte impressionante, é um dos bons momentos do ator. Ele interpreta o bobalhão e canta, dança, faz acrobacias, e ainda posa de galã romântico. As musicas são de sua parceira e esposa Sylvia Fine com quem casou em 1940 e o acompanhou até morrer de hepatite por conta de uma transfusão de sangue contaminado ao ser operado para a colocação de um marca-passo.


Kaye esteve no Brasil como embaixador da UNICEF. Tratava do programa envolvendo crianças necessitadas. E na estadia brasileira mostrou seus pendores culinários. Era exímio também nisso. A exibição de “O Inspetor Geral” na Sessão Cult deste sábado, no Libero Luxardo é um “achado” que vai apresentar um interprete ao público jovem e, no fim das contas, vai mostrar uma inspirada comédia apoiada num clássico literário. E mais: um tema oportuno. Demonstra que corrupção e bajulação nas barras da política não saem de moda.


No elenco do filme, dois nomes ligados ao bom cinema norte-americano: Elsa Lanchester, que foi esposa do ator Charles Laughton contracenando com este em “Testemunha de Acusação”(1957), de Billy Wilder. Walter Slezak, é o outro nome, ator característico que esteve em “Sinbad o Marujo”(1947) de Richard Wallace com Douglas Fairbanks Jr. e em “Um Barco e 9 Destinos” (Lifeboat, 1944), de Alfred Hitchcock.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

THOR






Os leitores dos quadrinhos da Marvel Comics estavam temerosos de o filme “Thor” ser dirigido por Kenneth Branagh, irlandês de 51 anos que desde jovem dedicou-se ao teatro shakespeariano levando ao cinema “Henrique V’, “Muito Barulho por Nada” e “Hamlet”. Como se portaria um intelectual que supostamente não apresentava nenhuma tendência a explorar a temática dessa arte?

Assistindo ao filme, uma superprodução que está sendo considerada como a abertura dos blockbusters do verão norte-americano, os ansiosos quadrinhistas ficaram mais tranquilos. Afinal Branagh não tem em sua filmografia de 14 títulos como diretor, apenas clássicos literários. Realizou, por exemplo, “Voltar a Morrer” (Dead Again/1961) de um roteiro original de Scott Frank, um suspense sobre temas espiritualistas, e, ainda, “Para o Resto de Nossas Vidas”(Peter’s Friend/UK 1992), também um roteiro original (este de Martin Bergman e Rita Rudner).
Mesmo com uma bagagem até certo ponto versátil, temia-se o interesse de Branagh pela chamada “cultura pop”. Mas se ele não se diz leitor de gibi, seu filme não frustra estes leitores.

Interessante, primeiramente, a linguagem. São inúmeros os planos oblíquos. Sabe-se que esses planos foram ligados, desde os primórdios da linguagem cinematográfica, à fantasia, ao irreal. No filme de Julie Duviver, “A Festa no Coração” (La Fête à Henriette/França,1953), a narrativa se faz em dois tempos: um real e outro que inventa a realidade (tomadas inclinadas). A comparação dá o tom de comédia desejado. Pois o que se percebe da idéia de Branagh é sua proposta de grifar o fantástico da história de Thor, o deus nórdico, filho de Odin, que se rebela contra a paz promulgada pelo pai com os “homens de gelo” e é exilado na Terra. Essa figura exibe-se como um mortal apenas estranho ou um “maluco” que briga por qualquer coisa e, forçosamente, quer informações sobre um objeto caído em um lugar ermo.


Na verdade, o martelo que lhe dá incomensurável força (o personagem é visto como o deus do trovão, e o martelo, Mjolnir, a sua arma invencível).
No roteiro de Ashley Miller e Zack Stentz, a partir dos quadrinhos de Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby, o deus maior da mitologia nórdica, Odin (Anthony Hopkins), sofre um grande abalo após exilar o filho Thor (Chris Hemsworth) e presenciar a ambição do mais novo, Loki (Tom Hiddleston), que alimenta a guerra com os vizinhos seres do gelo. Aproveitando a ausência do pai, Loki se faz de mandatário de Asgard, a cidade dos deuses, chegando a congelar o guardião do reino, Heimdal. Mas não demora a vida de Thor numa pequena cidade do oeste dos EUA. Através da Ponte do Arco Iris (Bifrost) ele retorna a Asgard e enfrenta o irmão. Odin recupera as forças, elimina Loki, enquanto Thor se torna o seu futuro herdeiro. O único problema é que na passagem entre os mortais da Terra (Midgrad) o deus enamorou-se de uma cientista, Jane Foster (Natalie Portman). Fica a promessa de voltar a vê-la, talvez no próximo filme da Marvel que vai reunir todos os heróis da editora.

Compreendendo a ligação da mitologia nórdica com a grega e a ocidental cristã, adentrando pela cultura norte-americana, o filme aborda partes dessas manifestações. Seja no que se encontra no estudo desses deuses adorados pelos vikings, seja no western. Como na seqüencia em que Thor desafia um gigante de Asgard numa rua típica dos filmes de cow-boy, em ângulo semi-plongée onde, em grande plano, vê-se um personagem de cada lado, aproximando-se para o duelo.

Com uma direção que não segue as fórmulas pré-estabelecidas como se vê no gênero, “Thor”, o filme, salta do comum e chega a ser interessante. Há o que ver além da ação. E começa com uma prodigiosa direção de arte (a fantástica Asgard), uma fotografia competente (de Haris Zambarloukos) e uma edição(de Paul Rubell) que assume a origem de quadrinho sem se vulgararizar.

Não sou expert em quadrinhos, mas confesso que gostei do trabalho de Branagh.

VELOZES NO RIO






Superlativo do “non sense” em blockbuster “Velozes e Furiosos 5, Operação Rio”(Fast 5/EUA,2011) está “em cena” no circuito belemense. Termo criado para as comédias que se apoiavam no absurdo, “non sense”(sem sentido) diz da ausência da realidade nas histórias e situações narradas. No caso deste quinto exemplar de uma franquia que já confundiu os números, quem não está “colecionando” as aventuras desses ases do volante desconhece quem é quem e a que vêm essas figuras ímpares que continuam as suas aventuras.

O filme inicia com uma perseguição policial promovida para ir atrás do ex-convicto Dominic Torento (Vin Diesel), seu comparsa e ex-“tira” Brian O’Conner (Paul Walker) e a irmã de Dominic, Mia(Jordana Brewster). Os perseguidos promovem os primeiros desastres de carro na jornada que inclui uma plêiade dessas cenas, mas a seqüência acaba deixando reticências. Logo se vê um grande plano da Baia da Guanabara, com a câmera girando até capturar o Cristo Redentor, e não é preciso dizer que a ação vai se deslocar para o Rio de Janeiro. Logo se conhece um grupo de ladrões, residentes em uma favela, que estão prontos para receber Torento & amigos visando um grande golpe.

Os planos turísticos do Rio restringem-se ao inicio da produção. É verdade que as favelas também passaram a serem consideradas detalhes turísticos, mas os interiores de barracos podem ter sido filmados em sets da produtora assim como boa parte das cenas externas foram rodadas em Porto Rico onde as condições de filmagem seriam mais acessíveis. Feito o contacto dos norte-americanos com os bandidos brasileiros, e agora comandados por um vilão português protagonizado de forma caricata por Joaquin de Almeida, principia o desfile de absurdos.

Um roubo de carro de dentro de um trem em movimento lembra aquelas “caronas” em aviões em pleno vôo já visto em filmes diversos. O herói-bandido pula do vagão onde está o automóvel e atira-o para fora sem que o veículo sofra qualquer dano. A barulhada na operação e os efeitos digitais tentam fazer jus à série de corridas desenfreadas. Mas o interessante é que as corridas se fazem nas ruas do Rio, e mesmo que se identifique fora do centro é muito divertido constatar a calma do transito.

Também é observado um assalto a banco muito na linha ou mais precisos do que os “trabalhos” de Butch Cassidy e Sundance Kid. Outra perseguição hilariante. Esse modo de mostrar um Rio bem a gosto hollywoodiano é, no fim das contas, o que diverte no filme dirigido pelo cineasta de Taiwan Justin Li (diretor de outro titulo da série). Nada a ofender, só a brincar. E como brincadeira, “Velozes e Furiosos 5” é bem melhor do que “Os Mercenários” de Sylvester Stallone.

Outra curiosidade é a presença de Daywane Johnson, o “The Rock” como policial brasileiro. De barbicha ele só por isso se mostra diferente do tipo físico de Vin Diesel. Ambos são do tipo brucutus que usam os músculos para dar credibilidade a seus personagens. Evidentemente que eles não querem que se veja o filme como uma peça realista ou um drama de ação que de alguma forma utilza o roteiro como denúncia.


Nada pode ser levado a sério. E em se tratando de filmagem na terra carioca, o filme de Li é o oposto da animação de Carlos Saldanha (“Rio” ainda em cartaz). No desenho está a imagem de um Rio que se vende no exterior com todos os elementos usados pelas agências de turismo. Nessa nova aventura que exibe poucas falas, muita ação e quase nenhum motivo para raciocinar, não importam as belezas de um cenário tropical, mesmo aquele que o norte-americano cultiva como “a cara” do Brazil com “z”, embora muitas vezes pense que neste país se fale espanhol. Aliás, nesse tipo de cinema é proibido raciocinar. É ver e rir, se possível.

UM ELEFANTE NO CAMINHO








Filme sobre um ambiente circense? De que época? O que pode render hoje uma produção nos molde de “Água para Elefante” (Water for Elephants/EUA, 2011)?

Primeiramente, o enredo. Enquanto a primeira sequência adota um climax de arranjos entre os funcionários de um circo, um senhor idoso (Hal Holbrook, 86 anos, 124 filmes) se acerca de um deles, aparentemente o responsável pela gerência e, para mostrar conhecimento, vai nomeando alguns títulos famosos desses grupos de espetáculo. Reconhecida a sua expertise para uma época do passado quando essas empresas, geralmente familiares, tinham o toque magestoso de criar uma platéia notável para as variadas atrações apresentadas, a narrativa explora em flash-back a história que esse personagem passa a contar.

Entra em foco, então, o jovem Jacob (Robert Patterson) filho de poloneses, que por diversas situações (morte dos pais, queda do status econômico, sem casa para morar porque fora tomada pelo banco, e sem emprego ), deixa os estudos em medicina veterinária para “correr mundo” tangido pelas condições da grande depressão de 1929 que abalou os EEUU. Ao tomar um trem em movimento percebe que é um comboio de circo e nessa leva ele se inscreve como mais um entre os operários. É aceito pelo dono da empresa registrada como dos irmãos Benzini. É ai que vai explorar sua capacidade de veterinário e assim conhece Marlena (Reese Whiterspoon) e seu marido August (Christof Waltz, o alemão sanguinário de “Bastardos Inglórios”), dono do circo.

O tema prende-se à afeição que passa a unir Jacob e Marlena e o despotismo de August, um homem cruel que usa a sua malignidade contra os funcionários, jogando-os do trem em movimento para não ter que pagá-los.
O clímax do drama formado pelo triangulo amoroso ganha a intervenção de uma elefanta, Rosie, adquirida por August e que de inicio vira objeto de suas crises de raiva quando não consegue adestrar o animal.

Todo o enredo é contado de forma cronológica com narrativa linear e uma edição própria dos melodramas antigos. Este formato se tornou o “cavalo de batalha” da critica norte-americana que não viu nenhuma qualidade no filme dirigido por Francis Lawrence (austríaco que fez “Constantine” e “Eu Sou a Lenda”) adaptado da história originalmente do livro homônimo de Sara Gruen, com roteiro de Richard LaGravenese.

Insisto em que se deve reparar, primeiramente, na direção de arte, mostrando uma boa reconstituição de época, uma edição competente e um rendimento acima da média do elenco. Claro que todos representam estereótipos. Waltz é o vilão clássico, Patterson é o mocinho decidido (apanha, mas não deixa de brigar) e Reese Whiterspoon faz pouco esforço como a garota enjeitada supondo-se submissa ao marido que praticamente a adotou. Mesmo assim, o entrechoque dessas figuras ganha o mínimo de suspense ajudado pelo que acontece no circo, das atrações convencionais desses espaços ao desastre final que todo mundo espera. O que não está no programa premeditado é a situação do idoso que foge de um asilo e conta que apesar de ter 5 filhos nenhum lhe deu guarida. Devido a isso, ele conclui a sua história: “eu voltei para casa” (referindo-se ao circo). E pede para ser o mais velho bilheteiro desse tipo de comércio, um “fato para o Guinesse Book” segundo o seu ouvinte.

Um enredo previsível, mas bem engendrado. E a aliá Rosie é uma “excelente atriz”, cumprindo a missão que lhe confere o roteiro.
Quem não exige muito pode ir ao cinema. E os mais velhos vão lembrar outros filmes de circo como “O Maior Espetáculo da Terra”, “O Grande Espetaculo” ou “O Circo dos Horrores”.

REGISTRO

Sem referência na sessão comemorativa dos 111 anos da criação da Academia Paraense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, no último dia 03/05, impossivel deixar de anotar um fato importantissimo. Neste centenário de existência dessas instituições somente agora uma mulher se torna presidente de uma delas: Anaiza Vergolino foi eleita a primeira mulher presidente do HIGP. Parabéns a todos nós, consócios.

COMO VOCÊ VAI SABER

















A comédia romântica moderna, derivada da “screwball” (comédia maluca) em voga especialmente nos anos 1930 e 1940 do século passado, mostra sua vitalidade a partir da aceitação popular e, consequentemente, do número de filmes que estão sendo realizados nessa linha. É do gênero este “Como Você Sabe”(How do You Know/ EUA 2010) ora em cartaz.


Os motivos para ir assistir ao filme se justificam desde o nome do diretor, James L. Brooks, bem sucedido em exemplares como “Melhor é Impossivel” (ninguém esquece a figura do personagem de Jack Nicholson como um neurótico que anda pelas ruas pulando as pedras do calçadão e outras manias?). Outra justificativa é a presença de um elenco em que despontam Reese Whiterspoon, Owen Wilson, Paul Rudd e o mesmo Jack Nicholson(um grande amigo de James Brooks).


O argumento centra na odisséia de uma “estrela” do beisebol, Lisa Jorgenson (Reese) que ao atingir os 30 anos é vista como ineficiente em partidas de grande porte. Isso motiva o corte de seu nome do grupo das demais colegas que formam o selecionado norte-americano que irá jogar com o time australiano. Decepcionada (pois ainda se julga “em forma”) ela dá seguimento aos toques de sedução de um colega de esporte Matty (Wilson), este um veterano, mas ainda considerado uma estrela de seu time e, por isso mesmo, milionário. Entre as investidas do conquistador ao interesse de resolver suas pendências pessoais, a atleta passa a residir com o fã, que na verdade é um emérito conquistador. Em determinada ocasião ela vem a conhecer um jovem executivo (Rudd) que atravessa uma fase difícil de sua vida posto que estava sendo acusado de crime financeiro por ter assinado papéis da firma de seu pai (Nicholson), dono do estabelecimento. Isto implica em prisão sua ou do genitor sendo que este último arrisca uma pena maior por ser reincidente (praticou delitos comerciais ainda jovem). Em certo momento, a mocinha terá que decidir com que arriscará seu romance aproveitando para aplicar uma análise de comportamento entre os envolvidos, cujo pêndulo servirá para definir sua situação-problema que não é só afetiva, mas de impor-se a um novo modelo de vida.


O espectador acostumado a esse tipo de filme não vai errar um prognóstico de como se portará o romance da protaginista da história. Mas apesar de previsível, a comédia romântica pode render uma boa, ou ao menos razoável, diversão, desde que seja bem narrada (ou “bem amarrada”) e conte com atores que imprimam um mínimo de confiança ao assunto. Isto acontece em “Como Você Sabe”. A simpatia de Reese e de seus companheiros, por mais que sejam vistos como estereótipos perfeitamente definidos, consegue que o espectador seja contagiado pela farsa durante a projeção. Ou mesmo dê gargalhadas em alguns momentos como a que presenciei na sessão em que estive.


Os produtores, especialmente de Hollywood, sabem que a maioria do público que vai ao cinema pensa apenas em fazer o que se chama de “higiene mental”. Se este objetivo provoca piadas ácidas de alguns críticos, a verdade é que ainda estabelece uma ponte para o público que paga ingresso e, mais tarde vai adquirir o DVD para ver em casa ou assistir ao filme em horário especifico da TV (fechada e, mais tarde, na aberta). Tudo é fonte de renda, e, atualmente, a indústria cinematográfica não hesita em optar pela busca do lucro sabendo dos custos cada vez mais altos da produção e as opções de lazer de seus consumidores, não só em derivativos como na própria área do cinema com o acesso do mercado pirata.


“Como Você Sabe” pode ser prescindível a quem mede seu tempo de ir a cinema. Mas não é programa intolerável. E o gênero tem recorrido a isso como vimos recentemente em “Sexo por Conveniência” (filme em que Anne Hathaway desafia a censura inutilmente).


Confesso que me diverti com as peripécias dos tipos. O interesse também é olhar além do formato narrativo, para as versões subjacentes nas entrelinhas dos discursos que a sociedade explora sobre a “idade crítica” de um atleta homem e uma mulher. Talvez haja mesmo um atrativo na banalidade quando se procura tanto a novidade.

domingo, 1 de maio de 2011

NOVOS DVDS



Nas segundas feiras, neste espaço, relaciono, geralmente, os DVDs inéditos que procurei assistir durante a semana. Quando digo inéditos é porque os filmes não chegaram às nossas salas de exibição. Entretanto, há também referências aos clássicos que hoje estão recebendo a devida atenção das distribuidoras de DVDs.

Muito interessante e instigativo este “O Desejo de ser Mãe” (Nordeste/Argentina, Espanha,2005). Trata de Hélène (Carole Bouquet),, uma francesa residente em Buenos Aires que busca uma criança para adotar, primeiramente se incluindo nos meios formais de adoção e , não conseguindo nada, procura os caminhos menos burocráticos e ilegais, viajando para o interior argentino. Através de informações clandestinas chega a conseguir uma criança que ao receber a assistência médica para viajar, é descoberta uma doença fatal que em poucos dias levará a morte da recém-nascida. Paralelo, é narrada a história de Juana (Aymará Rovera), mulher pobre que mora com o filho adolescente e está na iminência de ser despejada de seu barraco devido aos conflitos de terra. Hélène comunga com ela os problemas que retratam o quadro de miséria que cerca uma classe social.

O filme é dirigido por Juan Diego Solanas, filho do conhecido cineasta argentino Fernando Solanas (de “Tangos, o Exílio de Gardel”/1985). Com este trabalho ganhou prêmios em Havana e Estocolmo. Um drama sensível e crítico da situação do comércio ilegal e do tráfico de crianças, muito bem realizado que não chegou a ser exibido nos cinemas locais.


Com “O Ciúme Mora ao Lado” ( Haarautuvan rakkauden talo/2009) os finlandeses mostram sua inclinação para a comédia. Trata de um casal em vias de se divorciar e marcado por sentimentos de ciúmes em que um provoca o outro para que não tenham prejuízos no ato da separação. Mas as confusões desses encontros arranjados acabam demonstrando que o par ainda se entende. Direção e Mika Kaurismaki. Também inédito nos cinemas embora seja mais divertido do que muitos filmes norte-americanos do gênero.


“Assassinos”(The Killers/EUA,1964) é a segunda versão de uma história de Ernst Hemmingway, filmada em 1946 por Robert Siodmak com Burt Lancaster e Ava Gardner. Neste “remake” quem dirige é Don Siegel e no elenco estão Lee Marvin, Angie Dickinson e John Cassavettes. É o último filme de Ronald Reagan, protagonizando um contratante dos criminosos. Depois o ator se dedicaria à política e acabaria como Presidente da República de seu país. O filme apresenta muita ação e o dinamismo peculiar do diretor que foi um dos “mestres” de Clint Eastwood na arte de dirigir.


Em “A Vida Intima de Sherlock Holmes”(The Private Life of Sherlock Holmes/UK,1970), Billy Wilder e seu roteirista predileto I.A. L. Diamond brincam com o personagem de Conan Doyle mostrando o lado intimo do famoso detetive, uma alusão satírica à sua sexualidade, e até mesmo uma versão sobre o famoso Monstro do Lago Ness. No elenco os pouco conhecidos Robert Stephenson e Colin Blakely.


“Splice”(EUA, Canadá, 2009) já referido aqui, não chegou aos cinemas locais, embora o trailer tenha sido exaustivamente exibido. Trata de um casal de cientistas que trabalha com inseminação artificial e clonagem. Depois de ajudar a produção de uma espécie de lagarto, caminha para criar um hominídeo e a jovem cientista coloca na fórmula o seu DNA. Nasce uma criatura estranha que de inicio tem a forma de um réptil, mas logo se transforma em uma mulher, embora exiba cauda e não fale. O enfoque lembra “Frankenstein” de Mary Shelley apesar da época da nova história ganhar subsídios mais aceitáveis. O roteiro do diretor Vicente Natali e de Antoinette Terry Bryant segue a linha de critica ao que se vê como “brincar de Deus”. Mas o filme é muito interessante. No elenco, Adrien Brody (Oscar por “O Pianista”) e Sarah Polley.



DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)


  1. De Pernas pro Ar

  2. Harry Potter e as Relíquias da Morte - Pt. 1

  3. Enrolados

  4. 172 Horas

  5. Street Dance 3D

  6. Machete

  7. Federal

  8. Crônicas de Nárnia - A Viagem do Peregrino

  9. Ladrões

  10. A Mentira