quinta-feira, 30 de setembro de 2010

FANTASIAS & VIOLÊNCIA






Os exemplares da franquia “Resident Evil 4”(EUA.2010) cresceram em venda de ingressos ao invés de caírem. Esse é, portanto, o tipo do filme que se faz para ganhar dinheiro porque se sabe que não vai dar furo nas bilheterias. O “Resident Evil 3, por exemplo, deu mais renda do que o 1 e o 2.

Basicamente não há nada de novo a contar neste recente exemplar. Desde o primeiro filme da série o assunto é mostrar que o mundo foi contaminado por um vírus, produzido em laboratório e que teria escapado dos tubos de ensaio para as ruas, contaminando as pessoas, dizimando mais da metade da população do globo. O mais grave é que a morte, neste caso, não significava um repouso do corpo físico. Os cadáveres caminhavam e se alimentavem do sangue de quem ainda não fora contaminado. Idéia com base nas lendas de vampiros e nos zombies, em cinema tratados há longo tempo, ressaltando-se clássicos expressionistas e até experiências dos B-Picture como “A Morta Viva”(I Walked with a Zombie/EUA,1944) de Jacques Tourneur & Val Lewton.

A nova produção do casal Paul W. S. Anderson e Milla Javovich só apresenta uma atração especial: sua realização em 3D. Os mortos-vivos saltam para um primeiro plano com o objetivo de assustar aos incautos que ainda não aprenderam as manhas desse tipo de cinema. É possivel que o andamento dos lucros dê vasão a uma quinta etapa (e o final deste “Resident Evil 4” deixa margem para isso) com a mesma temática. Realmente há platéia que assume o “déja vu” como fórmula de diversão.

Outro filme descartável é “Salomon Kane, O Caçador de Demônios”(Salomon Kane/Inglaterra, 2009) que persiste em cartaz numa sala do circuito Moviecom. O roteiro é adaptado de uma história em quadrinhos de Robert E. Howard e trata de um guerreiro inglês que depois de muitas aventuras sangrentas quer redimir os seus pecados morando num mosteiro e tatuando uma cruz em sua costa. A ação se dá no século XVI e o personagem luta pela Inglaterra em terra asiática. Combatendo em um velho castelo depara-se com figuras demoníacas e se diz dominado por essas forças. Para salvar sua alma da condenação eterna passa a proteger uma família de camponeses, especialmente uma adolescente. Toda essa luta é apresentada de forma explicita, culminando com uma batalha em que o rival é uma concepção do diabo.

O aspecto plástico, muito bem cuidado, não salva o filme de seu argumento ingênuo onde a guarida na concepção de “blockbuster” é a única salvação (ou definitiva condenação). A rigor, o diretor Michael J. Basset, em seu terceiro trabalho, quer. Primeiramente, tomar o seu lugar entre os artesões benquistos na indústria. O filme pode impressionar pelas imagens bem trabalhadas, pela iluminação e efeitos digitais, mas não diz nada de novo na tradicional abordagem de uma dicotomia que serve ao cinema comercial desde que este se entende por isso. É o Bem em luta contra o Mal com as armas da fantasia. Resultado que só impressiona, atualmente, os aficionados de vídeo-game.

JOSEPH FARAH

Não poderia deixar de registrar o falecimento de Joseph Farah, um dos Farazinho que fizeram história (e até mesmo adentraram pelo caminho da lenda) em Belém e Mosqueiro nos anos 1950. Joseph e Alexandre, irmãos gêmeos, escreveram dois livros sobre as suas divertidas peripécias, mas não contaram tudo. Amigos que ficaram podem seguir o trabalho. Viveram um tempo de transgressões numa época em que fugir às regras sociais implicava em sofrer sanções. Em 1953 eles figuraram em um filme em 16 mm do Pedro Veriano intitulado “Um Professor em Apuros”. Ambos eram fãs de cinema e fizeram parte de um movimento que se organizou e exigiu reformas no tradicional Cinema Olímpia, numa época em que essa sala estava em precárias condições para receber o público paraense.
Joseph sucumbiu ante um infarto. Certamente deixou saudades e encerrou mais um capítulo das memórias dos que viveram os nossos “anos dourados”. Condolências à familia do amigo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

WALL STREET, O DINHEIRO NÃO DORME




Cada área de conhecimento tem seu próprio quadro referencial, isto é um fato. Embora possamos transitar com certo desembaraço entre as tantas ciências dependendo de nosso interesse em conhecê-las, alguns ficam apenas com noções informativas, mas afasta o “achismo”. A área da ciência econômica restrita às políticas econômicas importa para o entendimento dos cenários macroeconômicos com ações de política monetária, fiscal e cambial. O cinema tem explorado esse mundo havendo dificuldade para certo público abarcar referências específicas até para economistas.

Este preâmbulo vem à conta do novo filme em cartaz, de Oliver Stone, “Wall Street, o Dinheiro Não Dorme”(Wall Street: Money Never Sleeps/EUA,2010) que usa termos muito afinados com essa área. Dá prosseguimento ao anterior sobre o tema, de 1987 que o cineasta co-escreveu, co-produziu e dirigiu com título somplificado de “Wall Street”. Neste caso, o personagem Gordon Gekko (Michael Douglas) é preso após ser desmascarado em várias contravenções ligadas à Bolsa de Valores de NY.

A primeira sequência desta nova produção mostra Gekko preparando-se para sair do presídio após 8 anos de reclusão. No portâo percebe que ninguém aparece para buscá-lo (enquanto outros detentos são esperados por familiares). Explica-se: Gekko só tem uma filha, Winnie (Carey Mulligan), que o detesta desde que seu irmão faleceu de overdose e a mãe saiu de casa. Noiva de Jacob Moore (Shia LeBeouf), corretor da Bolsa de Valores, é funcionário de Louis Zabel (Frank Langhella) um veterano no mundo das finanças.

O papel de Gekko depois de uma temporada fora dos grandes negócios é gradativamente reconquistado. Antes da prisão abriu uma conta em um banco suíço e com isso pensou em proteger o futuro da filha (e na verdade o seu próprio). Vivendo em apartamento alugado não demora a compartilhar com o futuro genro a sua odisséia na especialidade financeira a que se dedicou. Os dois encontram-se mais amiúde após o suicidio de Zabel, pressionado por um ambicioso executivo, Bretton Jones(Josh Brolin). Mas esses encontros não sensibilizam a jovem Winnie, sempre desconfiada do pai.

O velho empresário tem uma lição para os calouros no seu ramo: “O dinheiro não é tudo; o principal é o tempo”. Pode não ser tudo, mas na ânsia pela fortuna, o jogo e o blefe se sucedem. Ora é a saga de Jones, ora a ameaça de uma “bolha” no mundo das finanças a partir do mercado imobiliário. As evidencias são exploradas na postura da mãe de Jacob (Susan Sarandon) ao comprar casas sem ter como pagá-las e vende-las sem que as tenha quitado. Esses “calotes” levaram os bancos norte-americanos a cobrir grandes rombos e com isso esvaziarem seus cofres. Seria preciso a intervenção estatal e este foi o quadro que se viu na crise de 2008, onde se observam os diálogos bastante específicos sobre a política fiscal e cambial, as demandas das bolsas sobre as jogadas pouco saudáveis dos que pretendem converter suas ações em peças da ambição.

Oliver Stone gosta de temas instigantes. Ele próprio adota posições políticas dessa linha (como agora, fazendo publicidade do governo Chavez da Venezuela). Sempre hábil no linguajar acadêmico de cinema, vendeu bem filmes como “JFK” e “Nascido em 4 de Julho”. No “duo” “Wall Street”(que pode resultar em uma trilogia) ele repassa um romance emoldurado de fatos mesclados com o quadro da economia mundial a partir dos EUA. Não se limita à dissertação dos acontecimentos. Usa artifícios para endossar a sua opinião, como os planos de crianças brincando com bolas de sabão simbolizando as citadas bolhas na economia. E trata bem o elenco, especialmente Michael Douglas (que recebeu o seu único Oscar até agora pelo primeiro “Wall Street) e Shia LeBeouf.

Também joga os estereótipos dos ambiciosos dentro do contexto como as expressões de Brolin nas reuniões de acionistas onde destila o seu fel sobre os mais fracos. Contudo, a figura lendária de Eli Wallach (95 anos) salta em pouca participação: ele prevê uma crise semelhante a de 1929 e sentencia o que vai acontecer com o seu ex-pupilo (o próprio Brolin).

O titulo do novo filme adianta que o dinheiro está sempre em estado de alerta. Os personagens endossam a expressão. O amor, no caso, ganha respaldo no futuro filho de Winnie & Jacob a quem o avô acaba respeitando sem dar um aceno afetivo mais evidente. São elementos que Stone tenta dimensionar ao gosto do público. Por isso quem nada entende de economia pode acompanhar o enredo. O filme é o novo campeão de venda de ingressos na sua fonte de origem.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

GAFANHOTO E PESSOAS COMUNS





O escritor Nathanael West era gerente de um hotel em Kennmore Hall (NY) dedicando-se, posteriormente, à literatura. Com o sucesso, passou a elaborar roteiros de cinema. Publicou quatro romances muito bem colocados pela crítica e vistos com temas originais, nos anos 1930: "Miss Lonelyhearts", "The Dream Life of Balso Snell", "A Cool Million" e “The Day of the Locust". Faleceu em um acidente automobilistico em dezembro de 1940.

Este último romance escrito em 1939, com 128 páginas, foi levado ao cinema com o título, no Brasil, de “O Dia do Gafanhoto” (The Day of the Locust/EUA, 1974), pelo diretor inglês John Schlesinger (1926-2003). O foco é a Hollywood dos anos 1930, ainda imersa na crise economica iniciada em 1929, detendo-se no mundo do glamour onde circulam astros e estrelas. Sonhos e esperanças são parte dos sentimentos dos jovens aspirantes a ator/atriz que pretendem o estrelado e supondo ser uma “parada ganha”. O fio condutor segue então o que comumente se chama “ordinary people”, ou seja, pessoas comuns que esperam alcançar esse sonho. No caso, capta a trajetória de uma “starlet” (Karen Black) personagem de pequenos papéis, que não disfarça a sua ambição por ganhar uma posição de destaque nesse novo mundo. Tod Hacket (William Atherton) o desenhista que também tenta a sorte, conhece Faye que não aceita ser cortejada por ele, por ter sua própria maneira de encarar o “alpinismo”: ser amada por um jovem ricaço e bonito. Para tanto ela aceita casar-se com um contador rico, Homer (Donald Sutherland), mas não descarta também as insinuações românticas do jovem desenhista. A odisséia desta personagem no ramo em que a ambição encontra guarida na recíproca dos estúdios pela perspectiva de crescimento do capital investido caminha para a tragédia na longa seqüência onde se vê um levante público diante de uma importante estréia de um filme em um grande cinema.

Marcando fortemente o processo de decadência de um sistema de produção cinematográfica, o filme levanta questões sobre o jogo mantido entre as pessoas subjugadas pelo poder e a ambição. Mas revela também que aquele mundo glamourizado, na subjacência, explora a prostituição, as brigas de galo, o alcoolismo, situações que nem sempre são reconhecidas ao ser projetado como um “mundo dos sonhos” que povoa os anseios das pessoas comuns. Pode-se comparar com a apoteose de uma opera com o toque de tragédia comum ao gênero. Neste ponto, residem as críticas favoráveis ou não. As “tintas” narrativas de John Schlesinger constroem um painel aterrorizante de uma face nada glamourosa da arte e espetáculo que precedeu a sua carreira. É provavelmente a visão menos agradável do “mundo de fantasias” que o cinema norte-americano procurava vender quando não havia concorrência como a televisão, por exemplo.

Interessante registrar que o termo “locust” embora signifique gafanhoto, também tem sido usado como referência a “pessoas comuns”, aqueles que são vistos como perdedores ou que não têm voz social. Assim é que a alusão ao título tem muito a ver na sequencia final com cenas impactantes denunciando um tipo de violência no cinema. Símbolos e metáforas fazem parte do processo de criação dessa sequencia.

O desempenho de Karen Black deu-lhe candidatura ao Globo de Ouro. E o ator veterano Burghess Meredith, que protagoniza o pai da personagem, figurando como um velho comediante e alcoolatra concorreu ao Oscar, ao Globo e ao Bafta (prêmio inglês). O figurino de Ann Roth ganhou este último prêmio.

Visto como um painel da ultima fase dos “anos dourados” da cinematografia, “O Dia do Gafanhoto” foi alvo de muita discussão por muito tempo. O diretor estava numa ótima fase e no ano seguinte faria outro sucesso: “Maratona da Morte”(Marathon Mann, EUA, 1976). Ele morreu em 2003 aos 83 anos.

O filme estará em cartaz, hoje, terça feira, às l8h, no Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem/ Tv. Assis de Vasconcelos com Av. Nazaré). Faz parte do programa denominado Cinema Sobre Cinema, exibindo filmes que tratem da arte cinematografica em suas diversas faces, da realização à exibição.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

FILMES DE CABECEIRA




Antes da tecnologia que transformou/aproximou a situação entre o público e o cinema - o vídeo (VHS, DVD) - o termo “filme de cabeceira” era um esforço de linguagem para definir títulos importantes para o cinéfilo. Hoje esses filmes podem realmente ficar na cabeceira, ou melhor, na estante de quem gosta e/ou estuda cinema. Em tese são filmes que estão citados em diversos livros de história da chamada Sétima Arte como de técnica ou inclusos em movimentos (ou escolas) que ajudaram na construção de uma linguagem cinematográfica.

Os títulos que chegaram recentemente às locadoras e que devem ser procurados são, entre outros, “Trágico Amanhecer”, “D. Quixote”, ”O Manuscrito de Saragoça”,”O Mundo Odeia-me”, “O Homem do Prego”, “O Jardim dos Finzi-Contini”, “Investigações Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita” e “A Fita Branca”.

Não me referi ainda a “Trágico Amanhecer”(Le Jour se léve/1939), “D. Quixote” (1933) e “O Homem do Prego”(1964). O primeiro é de autoria da dupla Marcel Carné (direção) de Jacques Prévert (roteiro & diálogos). Quando se instalou a “nouvelle vague” generalizou-se a idéia de que cineastas como Carné, Jean Dellanoy, René Clément, Henri-George Cluzôt eram “ultrapassados”. Vejam a linguagem deste “...Amanhecer” partindo da reclusão de Jean Gabin em um pequeno quarto com a policia o perseguindo por ter assassinado um homem. Os “flashback” são econômicos e surgem sem interromper a ação. Há brilhantes enquadramentos e um clima criado sem abusar do “suspense” que se possa achar acompanhando o drama do personagem. É cinema em qualquer época. E inovador na linguagem sem qualquer rótulo. Mas para a “turba” tem que ser “enquadrado”.

G. W. Pabst (1885-1967) realizou 41 filmes de 1923 a 1956 reconhecidos na história do cinema. Na fase derradeira do movimento expressionista alemão apresentou duas obras-primas no mesmo ano (1929): “A Caixa de Pandora” e “Diário de uma Mulher Perdida”, ambos com a atriz norte-americana, Louise Brooks. Em 1933 no inicio da fase sonora, realizou a versão quase didática de “D. Quxote” que hoje chega em DVD. Com o seu poder de síntese acompanham-se as linhas gerais da obra de Cervantes. O ator russo Feodor Chaliapin (1873-1938) compôs um “Cavaleiro da Triste Figura” com base nas gravuras existentes em primeiras edições da obra maior da literatura espanhola. Impossível imaginar um tipo melhor. Também o Sancho Pança do inglês George Robey (1869-1954) é o que fica na memória do leitor. O filme é uma co-produção franco-britânica muito rara. Não sei se chegou a ser projetado nos cinemas locais . Certamente escapou dos cineclubes.

“O Homem do Prego”(The Pawnbroker, EUA, 1964) é um dos melhores filmes do prolífico e ainda ativo diretor Sidney Lumet. E certamente aquele em que o ator Rod Steiger (1925-2002) apresenta-se mais inspirado. Protagoniza o idoso judeu sobrevivente de um campo de concentração nazista durante a 2ª.Guerra Mundial que mantêm uma loja de penhores em Nova York e sofre discriminação dos fregueses, além de não conseguir tirar da memória as atrocidades que ele e seus entes queridos sofreram no passado.

Além dessas raridades, outras chegaram e também acrescentam sua importância histórica. O caso de “Invasores de Marte” (Invaders from Mars/1953) de William Cameron Menzies. O diretor, consagrado como cenógrafo (dele a direção de arte de “...E O Vento Levou” e dele a direção e cenografia de “Daqui a Cem Anos!”(1936) cujo roteirista é o escritor H. G. Wells (raro no gênero em sua época). Trata de um garoto que teria sonhado com uma invasão alienígena transformando os humanos em verdadeiros robôs a lembrar o posterior “Vampiros de Almas”. Mas o último plano questiona o sonho. O tempo é de guerra fria e o cinema norte-americano usava invasões como um estímulo ao medo (para condicionar o espectador médio num efeito lucrativo em todos os sentidos). Mesmo com parcos recursos, Menzies trabalha o gênero com certo esmero. É filme raro.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)
O Segredo dos Seus Olhos
Príncipe da Pérsia
Querido John
Deu a Louca nos Bichos
Tempos de Tormenta
Grey Gardens
Os Homens que Não Amavam as Mulheres
O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus
Brilho de Uma Paixão
Fúria de Titãs

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

DINHEIRO, EXORCISMO E LEMBRANÇAS





Em nova programação, iniciando a semana cinematográfica, os cinemas Moviecom/Belém lançam três filmes e continuam com os blockbusters em cartaz. Os inéditos são os seguintes: “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme”, “O Último Exorcismo” e “Gente Grande”.

Nas salas alternativas, o público poderá assistir a alguns clássicos do cinema mundial: “Dr. Fantástico” (Sessão Cult amanhã no Cine Libero Luxardo às 16 h),”Casamento ou Luxo”(Sessão Cinemateca no Olympia, domingo às 16 h) e“ A Hora Zero” (Olympia a partir de 3ª Feira) e “O Dia do Gafanhoto” (CC Pedro Veriano/Casa da Linguagem, 3ª.Feira às 18h). Continuam: “À Prova de Morte” (Libero Luxardo até domingo às 19h30) e “Amores Parisienses” (Estação das Docas, Cine-Teatro Maria Sylvia Nunes ,domingo às 10 h).

“Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme”(Wall Street:Money Never Sleeps/EUA, 2010) traz o diretor Oliver Stone (de “Platoon” e “Che”) de volta ao filme-tema que fez grande sucesso há 20 anos: “Wall Street: Poder e Cobiça”. O personagem Gordon Gekko (Michael Douglas) reaparece depois de um período de prisão. Apresenta-se com sérias dificuldades financeiras oriundas de suas trapaças no passado mas consegue recomeçar a ganhar dinheiro com a crise econômica de 2008. Para isso, ele usa a astucia e fidelidade do jovem corretor Jake Moore (Shia LaBeouf). Mas há um problema: sua jovem filha, sobrevivente do drama familiar em que morreram a esposa e um filho (este se suicidou) está noiva e requer a atenção paterna para as verdadeiras intenções do futuro marido.

Os críticos norte-americanos acharam que Stone realizou um filme sentimental com os clichês de Hollywood embora ele tenha afirmado no Festival de Veneza, onde esteve com Michael Douglas, que “não é um filme de Michael Moore (de crítica sistemática ao capitalismo), mas um “entretenimento aliado a preocupação social”.

“O Último Exorcismo”(The Last Exorcism/EUA, 2010) é mais um “falso documentário” na linha de “REC” , “A Bruxa de Blair” e “Atividades Paranormais” (que já tem uma continuação pronta). O filme trata de um sacerdote que perdeu a fé e produz um documentário que deve criticar o rito do exorcismo como “um placebo” a atender jovens com problemas mentais. O alvo é uma garota que dizem estar possessa do demônio embora o pai dela “não acredite nessas coisas”. O filme procura tratar na linha de “filme dentro de filme” a construção do ritual reconhecido pela Igreja Católica. E deixa uma surpresa para o final, surpresa esta que foi o ponto mais discutido pela critica norte-americana, quase toda achando um meio muito fraco de encerrar um projeto curioso. Mas há quem tenha dito que “ficou sem dormir de noite”. Terceiro filme do diretor alemão Daniel Stamm.

“Gente Grande”(Grown Up/EUA,2010) focaliza quatro amigos, jogadores de basquete quando estudantes, que ao morrer o velho treinador reúnem-se e almejam passar um feriado no lugar que lhes lembra a juventude. Com Adam Sandler, Rob Schneider,Kevin Jones, Chris Rock e David Spade. Direção de Dennis Dugan.

“A Hora Zero”(L’Heur Zero/França 2007) mostra uma estranha reunião de família. Na casa da tia Camila, o Sr. Guillaume reúne a esposa, Caroline, conhecida por seu temperamento explosivo, com a ex-mulher Aude. Ele quer que as duas sejam amigas, mas na manhã seguinte a tia é encontrada morta em sua cama. A trama baseada em um dos mais populares romances de Agatha Christie chega ao diretor Pascal Thomas (de “Les zozos”) em um roteiro escrito por François Claviglioli Clémence de Bieville, Roland Duval e Nathalie Lafaurie. No elenco, a veterana Danielle Darrieux, Chiara Mastroianni, Laura Smet e Melvil Poupaud.

“Casamento ou Luxo”(The Woman of Paris/EUA,1923) é um filme dramático que Chaplin dirigiu para provar a sua versatilidade. Edna Purviance protagoniza a namorada que se perde do noivo e se prostitui na cidade grande. Um clássico raro.

DOIS FILMES MARCANTES NOS “EXTRAS”





O final de semana traz dois filmes que estão inscritos na história do cinema como parte da programação efetuada pela ACCPA: “Dr. Fantástico” e “Casamento ou Luxo”.
“Dr Fantástico ou Como Aprendi a Não me Preocupar e a Gostar da Bomba”(Dr Strangelove or how I learn to stop worryng and love the bomb/EUA,1964) é uma versão em sátira de “Red Alert”, o livro de Peter George filmado no mesmo ano de seu lançamento (1964) por Sidney Lumet com o título de “Limite de Segurança”(Fail Safe, EUA, com Henry Fonda, Walter Matthau, Larry Hagman.). A época era de guerra fria entre os EUA e a URSS e George vislumbrava um cochilo militar que permitia um bombardeio atômico em Moscou. Ao saber do fato, o presidente norte-americano entra em contato com o colega soviético e recebe a noticia de que na Rússia há um regulador que permite o envio de bombardeio com artefato nuclear em direção a Washington na hora em que o acontecimento se tornar realidade. Vale dizer que o mundo tende a pegar fogo desde que não se alerte o comando do avião que leva a bomba para que volte à base. Mas até aí a situação é complicada: percebendo qualquer falha de comunicação numa guerra, os aviões portadores de artefatos atômicos são destinados a não receber qualquer ordem após decolagem.

O filme de Sidney Lumet tinha roteiro de Walter Bernstein, Eugene Burdick e Harvey Wheeler. Para o filme de Stanley Kubrick, o “Dr Strangelove”(Estranhoamor), essa função ficou com Terry Southern (de “O Colecionador” e “Barbarella) e Peter George, que participou também como conselheiro do “script” de “Limite de Segurança”. Quer dizer: o que era visto como terror moderno no outro exemplar passou a ser “terrir”. Ou seja, adentrou um outro gênero. E Kubrick usou o talento de Peter Sellers que protagoniza mais de um tipo (são três, ao todo: o de presidente dos EUA, o do comandante Mandrake, e do Dr. Fantástico, um cientista criado no nazismo que ainda faz saudação ao “fueher”).

Há muitas menções engraçadíssimas que diluem o medo de uma guerra apocalíptica. Uma delas é quando soltam a bomba sobre Moscou e um soldado vai montado nela como bom cow-boy. Há também o plano final onde se vê centenas de cogumelos atômicos sobre o planeta sublinhado com uma canção que trata de um novo mundo. É antológico.

“Dr Fantastico” fará a Sessão Cult do Cine Libero Luxardo (Centur), no sábado, 25, às 16 h. Essa sessão será dedicada pelos membros da ACCPA à memória do ator inglês Peter Sellers por marcar, este ano, 30 se sua morte. Sellers foi um dos grandes intérpretes do cinema, a exemplo do que fez em comédias como “Um Rato que Ruge”(The Mouse That Roared/1959) e “A Pantera Cor de Rosa”(1963) que em 1965 recebeu o BAFTA.

O outro filme que merece atenção do público mais exigente é “Casamento ou Luxo” (A Woman of Paris/EUA, 1923), este, um clássico, de Charles Chaplin. Para realizá-lo, o grande comediante achou por bem editar um prólogo em que explica não se tratar de uma comédia. Seguindo a moda dos melodramas nesta fase do cinema mudo, trata muito bem a historia de uma jovem francesa que resolve fugir com o namorado contrariando os pais e se desencontra dele, acabando em Paris sem ter meios de se manter. Logo ela se torna uma cortesã e como tal vai reencontrar a mãe e o amado em circunstâncias trágicas.

Edna Purviance, atriz de muitos filmes curtos de Chaplin, interpreta o papel-título (original). Adolph Menjou, veterano ator de centenas de filmes mudos e sonoros, teve um papel destacado. O ator Carl Miller é o galã. Um sucesso de um tempo que deu à indústria do cinema o recado do realizador, tido como incapaz de ser versátil e sempre parecer um “palhaço” (era comum chamar de “clown” quem realizava comédia visual, gênero alvo de certo preconceito).

Conhecer este filme é importante. E poucos conhecem. Exibição no Cinema Olympia, domingo, às 16 h., fazendo a Sessão Cinemateca/ACCPA.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A CABEÇA DE MAMÃE



















O cinema francês só tem chegado por aqui através da embaixada. Os filmes exibidos no Cine Olympia numa programação da parceria FUMBEL/ACCPA cobrem a produção inédita desse país e evidenciam o que há de bom e tem sido negado aos paraenses por absoluta (falta de ) visão de mercado dos exibidores comerciais. O fato da carência de público para essas sessões demonstra fatores como a necessidade de divulgação mais agressiva da midia e visão esclarecida do público.

Em exibição ainda esta semana no Olympa está o interessantissimo “La Tête de Mamam”(2007), terceiro filme da cineasta Carine Tardieu e o quinto roteiro que escreve (com Michel Leclerc). O enfoque repousa em duas mulheres: a jovem Lulu (Chloé Coulloud) e sua mãe Juliette (Karin Viard). A primeira seqüência define o temperamento de Lulu (que detesta ser chamada pelo nome de batismo, Lucille), observando-a numa sessão de luta corporal com um colega de turma no curso secundário de uma escola nos arredores de Paris. Lulu não admite levar o pior na briga com um rapaz de sua idade. Ao perceber uma reação violenta dele ela abandona a cena e sai pelos fundos do plano.

Quanto a Juliette, é vista apática, caminhando para um banco no bosque de sua residência. A narrativa em off da filha reclama da indiferença materna, de como a mãe que poderia se considerar feliz no lar deixou de sorrir. Interroga sobre o que se passa na mente da mãe nas horas sentada no banco, absorta de qualquer tarefa exceto sua hipocondria, medicando-se para problemas intestinais.

O roteiro dedica-se à investigação que Lulu procede sobre a causa do comportamento materno. E isso se define após descobrir velhas fotografias no sotão da casa. Primeiro, uma foto da mãe vestida como uma havaiana, dançando. Depois um filme em Super-8 mm onde se vê Juliette de amores com um moço que a filha jamais viu.
Ressalte-se que o marido/pai, Antoine (Pascal Elbé), não demonstra nenhum ressentimento de sua vida com a esposa. É uma pessoa alegre, trabalha fora do lugar da residência e que está sempre presente nas reuniões festivas de familiares. Então, indaga Lulu, quem foi o namorado da mãe? Como ela terminou o namoro? Onde esse personagem se encontra? A partir daí a investigação inicia, acumpliciando-se com uma amiga para destrinchar a trama da vida passsada da mãe. Ela entende que este será o remédio para a depressão em que Juliette se encontra.

A partir de algumas perguntas à avó descobre o autoritarismo a que foi submetida a mãe, em termos de profissão e afeto. A indicação da cidade de origem, de uma fazenda das redondezas, de conversas com o dono do lugar leva-a a Jacques, então veterinário. Esses dados conseguem desvendar a trama, chegando ao personagem, hoje um homem de meia-idade despojado da imagem de galã do filme que viu.
Planeja o reencontro dos velhos namorados, consegue juntá-los, mas um novo problema chega junto que é a gravidade de uma doença de Juliette. A alegria de achar o antigo amor é por pouco tempo.

O modo de narrar é bastante inventivo. Em um momento a câmera passa em um travelling de um lugar a outro como se esses espaços fossem contíguos. É uma forma de rimar um detalhe sem usar cortinas ou fusões. Mas nos momentos finais é que está bem sintetizado o talento da diretora Carine Tardieu. A câmera focaliza Juliette doente em superexposição. Mesmo claudicante, apoiando-se no corrimão, ela desce uma escada (driblando a idéia de quem está vendo o filme, que aposta em sua queda) e caminha para onde está Lulu, próxima ao banco. No encontro, a tonalidade da imagem volta ao normal. O terno abraço de mãe e filha, significativo agradecimento pelo que seriam os “últimos momentos felizes” da primeira, é focalizado em close decolando a câmera em plongée até que as duas mulheres se tornem pequenos pontos no centro do plano. Desse ângulo passa-se, em fusão, para o céu estrelado como se elas fossem absorvidas por um símbolo de poesia.

“A Cabeça de Mamãe”é um belo exemplo de cinema simples e bem trabalhado, um filme muito melhor do que tantos que recebem honrarias em festivais.

CLÁSSICOS DESCARTÁVEIS













O termo “clássico” tem perdido aquela conotação formal que o define como canônico ou conforme um ideal tradicional, e está sendo usado para tudo o que é antigo. Refiro-me a cinema. O que ontem era detestado pelos críticos hoje ganha o rótulo de clássico e é procurado pelos cinéfilos mais exigentes. Os exemplos são vários e estão bem evidentes nas locadoras de vídeo.

Nos anos 1950/60 os filmes de conteúdo melodramáticos dos estudios da Universal Pictures eram tidos como ícones do mau gosto. O produtor Robert Arthur e o diretor Douglas Sirk especializaram-se nesse gênero, muitas vezes revisitando roteiros que estavam arquivados na própria empresa produtora. É o caso de “Sublime Obsessão” (Magnificent Obsession/1954) e “Imitação da Vida” (Imitation of Life/1959) refilmagens de obras respectivamente dos escritores Lloyd C.Douglas e Fanny Hurst, dirigidas por John M. Stahl.

Na primeira versão de “Sublime Obesessão”( 1935) os atores veteranos Irene Dunne e Robert Taylor protagonizavam o par romântico que centralizava a ação do filme. Na segunda versão, de 1954, outros atores destacados da época, Jane Wyman e Rock Hudson assumiram essa posição. Em “Imitação da Vida”, primeira versão, Stahl dirigia Claudette Colbert e Warren William.

Os melodramas não mudaram nas refilmagens. Houve uma adequação de novos atores no elenco incluindo-se o processo tecnicolor. A geração que lacrimejava nos anos 1930 foi seguida pela subsequente dos anos 1950. O melodrama não é, em tese, anti-cinema. O que é medíocre é o tratamento que é aplicado ao gênero. Esse detalhe deu subsidios aos críticos para avaliarem o desempenho do veterano ator Rock Hudson representando o médico da jovem que atropelara, apaixonando-se por ela. Ou considerar a performance de Lana Turner sofrendo pela menina mestiça que recusa a mãe negra.

Antes, o elenco e o tratamento acompanhavam o resultado cinematográfico com certa ingenuidade transparecendo o toque folhetinesco, o que sensibilizava os leitores do gênero (na minha geração liam-se, nesse tom, os romances de M. Delly, por ex.). Mas de repente Douglas Sirk (que era um bom diretor, mas perfeitamente entrosado com as regras da produção industrial) se tornou um deus. O cineasta alemão Rainer W.Fassbinder achava assim. E muitos seguiram seus elogios.
Os dois filmes foram lançados agora em DVD. Versões de Douglas Sirk.

Rotulado de clássico também está em lançamento “O Egípcio”(The Egiptian/EUA,1954) de Michael Curtiz com base em um livro de Mika Waltari. Usando o processo cinemascope pela empresa Fox, o filme privilegia os planos-conjuntos mesmo em tomadas internas. A ordem do produtor Darryl Zanuck aquela altura era aproveitar todo o espaço do quadro. Na telinha, mesmo copiado em widescreen, não tem o significado do que se pretende do ecran-panorâmico. E nada reflete um romance ambientado no Egito dos faraós. Cenas caricatas do ator Edmond Purdom (1924-2009) protagonizando um suposto Moisés, salvo de um rio e criado pela família de um médico, segue a profissão do pai adotivo e nessa qualidade ganha a confiança de um jovem faraó. Ao mesmo tempo, perde tudo o que possui por amor a uma mulher babilônica que conhece na corte. O filme foi insucesso na época de público e de critica.

“ Folias de Goldwyn” (The Goldwyn Follies/EUA, 1938) de George Marshall. É outra má lembrança. O produtor Samuel Goldwyn realizou um musical colorido com um elenco de atores do teatro. Embora uma interessante trilha sonora da dupla Ira e George Gershwin (“Sinfonia de Paris”), o filme arrasta-se em números desinteressantes.

Melhor é conhecer “Rumo à Felicidade”(Till Glädje/Suécia, 1950) de Ingmar Bergman(foto). Aqui Beethoven serve de contraponto ao drama de dois violinistas que tentam viver bem como marido e mulher, mas ele desvia-se do lar quando conhece outra pessoa e quando se deixa levar pela ambição de ser estrela de sua arte. O filme não chegou aos nossos cinemas.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)
1. Príncipe da Pérsia
2. Querido John
3. O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus
4. O Preço da Traição
5. Fúria de Titãs
6. Os Homens que Não Amavam as Mulheres
7. Fora de Controle
8. Caindo no Mundo
9. Caso 39
10. Ninja Assassino

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

GOLPISTA E ZOMBIES EM 3D





Duas estréias nas salas comerciais: “O Golpista do Ano” e “Resident Evil 4”. Nas salas especiais continuam “A Cabeça de Mamãe”(Olympia), “À Prova de Morte”(Libero Luxardo) e “Amores Parisienses”(Estação).

Na Sessão Cinemateca/ACCPA do Olympia, domingo as 16, “A Gata Borralheira”, em comemoração ao 60° aniversário deste clássico de animação; “A Cabeça de Mamãe” (18h30). O Garoto Toshio”, de Hagisa Oshima, no IAP/CCAGM.

“O Golpista do Ano” (I Love You Phillip Morris/EUA,2009) é uma comédia de Glenn Ficarra e John Requa, primeiro filme dirigido pelos roteiristas do recentemente exibido “Como Cães e Gatos 2”. Baseia-se num livro de Steve McViker, trata de um jovem advogado (Jim Carrey), heterossexual, casado com Debbie (Leslie Mann) que após um acidente revela sua condição de bissexual, assumindo sua nova opção sexual e praticando diabruras ilegais, principalmente quando visa o amor de um preso, Phillip Morris (Ewan McGregor).

O romance com o parceiro, iniciado na prisão traz situações complicadas para o casal, especialmente para Steve. Chega a ser comparado com o tipo que Leonardo di Caprio viveu em “Prenda-me se For Capaz”. O argumento de “O Golpista do Ano”. tal como este filme de Steve Spielberg, baseia-se em fatos reais.

“Resident Evil 4”(Resident Evil, Aftrerlife/EUA, 2010) é o novo campeão de bilheteria nos EUA. Admira o que está ocorrendo com esta série, pois as versões 3 e 4 estão mais procuradas do que os dois primeiros. História de Paul S. Anderson (diretor das versões de 2002 e 2004, escrevendo todas, inclusive a dirigida por Russel Mulcahy) não muda muito. A personagem Alice (Mila Javovich) continua procurando humanos que escaparam de se transformar em Zombies devido ao vírus que infectou quase todo mundo. Acha mais mortos-vivos e luta para conseguir frear a praga que literalmente está dizimando a civilização.

A novidade deste quarto exemplar da franquia aparentemente modesta é o uso da 3D. Com muitos efeitos próprios para serem vistos nesta tecnologia, a aventura ganha a preferência especial do público jovem, notadamente dos que acionam o “game” editado a partir da idéia do cineasta.

A crítica norte-americana foi inclemente com o filme. Mas o público está prestigiando, o que viabiliza uma quinta aventura da Dra.Alice e sua amiga Claire (Ali Larter).

“A Cabeça de Mamãe”(La Tête de Maman/FRrança,2007) é o terceiro filme dirigido por Carine Tardieu. E o quinto que ela escreve. Lulu vive com a mãe, mulher deprimida. Ao encontrar, entre velhas fotografias, uma em que se vê sua mãe aos 20 anos, feliz, nos braços de um homem decide procura-lo e assim despertar o interesse materno pela vida. No Olympia diariamente em sessão de 18h30.

“A Gata Borralheira”(Cinderella/EUA, 1950), clássico de animação que este ano comemora 60 anos com impressionante jovialidade. Conto de Charles Perrault com novas personagens dos desenhistas da Disney. Na Sessão Fantasia/ACCPA do Olympia (domingo, 16 h).

“O Garoto Toshio”(Shonen/Japão, 1969), de Nagisa Oshima. Com roteiro baseado num fato que se diz real: uma família miserável usa recursos perigosos para ganhar seu sustento. Premiado no Japão e elogiado mundialmente. No IAP, Cine-Clube Alexandrino Moreira, dia 27/09 às 19h30.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

“À PROVA DE MORTE” E OUTROS FILMES




Uma experiência musical do hoje octogenário, mas ainda ativo Alain Resnais é este “Amores Parisienses”(On Connaît la Chanson/França 1997) cuja trama pode se resumir na missão de duas amigas, uma procurando um apartamento para morar outra pensando em encontrar um milionário para conviver, conhecendo alguém muito próximo dessa qualidade social. As duas protagonistas e suas famílias circulam entre canções famosas (36 ao todo) circunscrevendo suas aventuras numa peça musical, o que poderiam dizer por suas palavras.

Certo crítico comparou o filme ao “Todos Dizem Eu Te Amo”(Everyone says I Love you/1996) de Woody Allen. Procede a comparação. Se o repertório do filme de Allen ganhava ênfase na ação, em Resnais sobra o feitio de opereta, e não se poderia exigir mais de uma produção européia. Nas vozes de Maurice Chevalier, Edith Piaff e outros nomes consagrados da canção francesa ficam ilustrações dos romances que surgem na tela de forma sutilmente esquemática. Aliás, é bom que o espectador que vai assistir ao filme saiba que se trata de um musical. Sem estar preparado para isso vai achar um romance enfadonho onde a ação é interrompida no áudio por melodias que desconhece (são composições antigas). Quando isto é proposital, é um modo de abordar a fórmula do romance na sua essência poética.

O diretor Quentin Tarantino responde presença no circuito extra belenense com “À Prova de Morte” (Death Proof/EUA,2007), filme B realizado como parte de um programa duplo com a produção de Roberto Rodriguez, “Planeta Terror”. Os amigos cineastas quiseram homenagear um gênero comum há 30 ou mais anos de filmes lançados nas “matinês” das salas de bairro (fato comum, por exemplo, aqui em Belém). O novo colocado por eles foi o estardalhaço irônico à concepção critica do que era visto como “trash”, no caso, alimentando ações de violência que nos velhos programas antigos era apenas citada (os protagonistas que eram baleados não sangravam e, muitas vezes, os chapéus de feltro dos “mocinhos” se mantinham incólumes em suas cabeças).

O fio condutor do argumento segue um dublê de filmes de ação que sai com seu carro matando garotas. Nos intervalos das corridas, as garotas conversam. Antes desse lançamento solo, com o filme colado na science-fiction de Roberto Rodriguez, havia pouca conversa. Foi o modo de esticar metragem, cobrindo boa parte do primeiro ato. Aliás, Tarantino quis mostrar o exagero como a marca do gênero, obviamente com o sarcasmo de quem analisa o que os críticos de ontem viam como exemplo de “bad taste”.

Interessante notar que tanto Tarantino como Roberto Rodriguez foram criados assistindo a filmes de baixo orçamento, o primeiro até quando era funcionário de uma locadora de fitas VHS. Muitos dessa geração quiseram testar suas preferências. Poucos tiveram a sorte e a criatividade desses dois hoje famosos cineastas.

“Amores Parisienses” e “À Prova de Morte” são os programas da semana nas salas especiais. O primeiro filme inicia uma carreira de fins de semana até o final do mês, no Cine Estação (no último dia, 26/9, fará a consagrada matinal de 10 h). O segundo começa a sua segunda semana de exibições no Cine Libero Luxardo (Centur), ficando em cartaz até domingo sempre as 19h30.

Outro programa especial é “A Cabeça de Mamãe” (La Tête de Mamam/França, 2007, 95 min.) que está em cartaz no cine Olympia e ficará até o próximo dia 19 sempre às 18h30. Produção inédita veiculada pela Cinemateca da Embaixada da França, com direção da jovem cineasta Carine Tardieu. Com Karin Viard, Chloé Coulloud e Jane Birkin. O enredo trata de Lulu uma jovem que convive com a mãe depressiva e hipocondríaca e que certo dia descobre uma foto desta aos 20 anos, mostrando-se feliz ao abrançar um estranho. Percorrendo os cenários onde sua mãe vivia decide encontrar o velho amor desta e asssim fazê-la recuperar o gosto de viver. Há uma história paralela que é focada na descoberta do amor de Lulu.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

CLAUDE CHABROL




















No final dos anos sessenta, alguns críticos de cinema, especialmente os atuantes na revista “Cahiers du Cinéma”, passaram da teoria à pratica: começaram a dirigir filmes e com isso criar um movimento que se tornou um marco não só na cinematografia francesa mas na mundial: a “nouvelle vague” (ou a “nova onda”) com o objetivo de mudar o conceito de cinema criando uma renovação na linguagem, por suposto, bastante desgastada, e para fugir às regras do cinema comercial. Abominaram alguns veteranos cineastas da “casa” (Jean Delanoy, entre outros) e divinizaram outros como Jean Renoir, Robert Bresson, Jacques Tati e Jean Vigo. Históricamente, a expressão foi lançada pela jornalista, escritora, e ensaista Françoise Giroud, em 1958, ao referir-se aos novos cineastas franceses na revista “L’Express”.

Desse grupo, três se destacaram pelo pioneirismo: François Truffaut (1932-1984), Jean Luc Godard (1930) e Claude Chabrol (1930-2010).

Chabrol faleceu domingo último, aos 80 anos (completara em junho).

Seu inicio de carreira deu-se em atividades da área da publicidade, em seguida exerceu o jornalismo - atuando na redação da revista Cahiers du Cinéma e, também, na coluna de cinema, e, por fim, tornou-se diretor, além de produtor, roteirista e ator de filmes. Dirigiu 71 títulos, escreveu 54 roteiros e atuou em 53 películas. Há quem divida a sua carreira, a mais prolixa dentre os colegas, em três etapas: a inicial ou post-experimental, com filmes de baixo orçamento como “Nas Garras do Vicio” (Le Beau Serge/1958) e “Os Primos” (Les Cousins/1959); a menos rígida, que vai de “Landru, O Barba Azul”/1963) a “A Besta Deve Morer”(Que La Bête Meure/1969); e a etapa madura, iniciada com “A Mulher Infiel” (La Femme Infidéle/1969) e “O Açougueiro”(Le Boucher/1970).

Adepto do cinema e estilo de Alfred Hitchcock, tal como seu colega Truffaut, Chabrol foi além, filmando muitos enredos que o mestre inglês gostaria de ter filmado. “Um Assunto de Mulheres” (Une Affair de Femmes/1988) é bem hitchcoqueano. E foi adiante em ousadia, abordando originais literários de George Simenon como “Os Fantasmas do Chapeleiro”(Les Fantômes de Chapelier/1982). Filmou “Madame Bovary”(1991), o romance do escritor francês Gustave Flaubert que já teve muitas versões para o cinema, inclusive de Alexander Sokurov.

A versatilidade de Chabrol permitia-lhe inclusão de humor em alguns de seus filmes (embora não tenha abordado exclusivamente uma comédia). Esse modo de fazer cinema lhe abria as portas dos estúdios e distribuidoras daí a grande maioria de seus muitos filmes ter sido exportada, ganhando salas de lugares tão distantes como as nossas (distantes mais em termos de oportunidade de lançamento).

Depois da “partida” de Truffaut e Rohmer, restam poucos “nouvellevaguistas”. A rigor só Jean-Luc Godard, Jaques Rivette e Alain Resnais, este ultimo adotado pelo grupo pela posição histórica de sua obra (“Hiroshima Mon Amour” surgiu com a primeira “onda” em 1959) continuam ativos. Pode-se dizer que Louis Malle (1932-1995) também se engajou nessa tendência quando realizou “Ascensor Para o Cadafalso” (L’Ascenseur pour L’Echafaud/1958).

Em uma entrevista recente Chabrol comentou a falta de renovação de valores dizendo que “não se vê nova onda no mar”. Pode ser, não estamos aptos a confirmar alijados que ficamos de produções cinematográficas do mercado europeu e longe da grande fábrica norte-americana. O certo é que sentimos uma pobreza no cinema quando se sabe da despedida de artistas criativos. O bom dessa constatação é que as obras dos autores (e são desde que trabalham todas as facetas da realização do filme) ficam.
Podemos revê-las nas telas e na TV. De Chabrol, por exemplo, há uma grande parte de seu acervo em DVD. E também vale lembrar que ele descobriu atrizes como Isabelle Huppert e sua ex-mulher Stéphane Audran.

Uma curiosidade: Chabrol faleceu exatamente 30 anos depois de seu ídolo Alfred Hitchcock, falecido em abril de 1980.

Que mais filmes desse diretor, especialmente o que para nós permanece inédito, cheguem às locadoras de vídeo. E com certeza a nossa ACCPA vai homenageá-lo programando títulos de sua autoria para os espaços onde atua. Uma maneira de publicizar a obra dele ao público jovem que ainda não o conhece.



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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

EM TELA PEQUENA






“Quincas Berro D’Agua”(Brasil/2010), filme de Sergio Machado, está agora em DVD e pode ser visto pelos que perderam o lançamento no circuito comercial. Baseado no livro de Jorge Amado foi realizado nos locais dos acontecimentos (Salvador/BA), com Paulo José admirável no papel-título. O filme consegue exprimir a comicidade do original literário e só não atinge o máximo da exposição de ironia por certo desnível no ritmo da narrativa. Há seqüências que se estendem além do aceitável e o que era para gracejar acaba se tornando apenas exótico. Mas vale a pena conhecer os tipos bem estruturados da história original em termos de cinema profissionalmente capaz. Muito bom.

Do diretor egresso do neo-realismo Damiano Damiani é “Por Amor e Por Vingança”(La Moglie piú Bella/Itália, 1970). A atriz Ornela Muiti estreando no cinema italiano protagoniza Francesca, a bela camponesa siciliana disputada por um mafioso(Alessio Orano) que herda a “famiglia”de D. Antonino (Amerigo Tot. ). Apaixonado pela moça ele a pede em casamento para os modestos pais mas a personalidade da “bella moglie”do titulo tende a dobrar o orgulho do rapaz que, em crise de raiva, a estupra. Resoluta, Francesca leva o caso à policia que se mostra inoperante frente à máfia. Mas o sedutor acaba sendo preso e nessa hora a jovem descobre que gosta dele. Mas – e isso é importante - fica firme em sua decisão. Com exteriores que ressaltam a cor local do drama, o filme apresenta, numa época tardia, as lições de uma fase áurea do cinema italiano. É dos melhores filmes do diretor. Muito interessante.

“A Chamada” (EUA, 2010, 42 min. ) é um DVD que está sendo comercailizado em lojas gospel (cemporcentocristão, gospelgoods etc). A produção e distribuição estão sendo de uma empresa ligada a um grupo religioso, a Merci, que lança mais outro filme nas locadoras: “O Verdadeiro Tesouro”. O enredo deste trata de um taxista e mecânico que passa horas procurando um tesouro que teria sido enterrado em seu terreno por soldados do tempo da Guerra Civil norte-americana. Quando é encarregado de criar uma criança cega, percebe outro tipo de tesouro. Quanto a “A Chamada”, é mais interessante. Em média-metragem, o ator e diretor Brian Lohr trata de um fato ocorrido com Greg Pleasant (Brian Lohr), um advogado de Seatle que certo dia atende a um homem com uma “novidade”a revelar: um telefone que faz chamadas para o passado, acionando um número dois dias antes da ligação. Com isso, Greg tenta ligar para o celular de sua jovem esposa, morta recentemente em desastre de carro. A reação dele é tendente a reforma intima de sua maneira de ver a vida.

“2019,O Ano da Extinção”(The Daybreaker/EUA,2009) deixou de ser lançado no circuito exibidor por ter sido avaliado sem grande apelo pela produtora, saindo direto no DVD. E espanta por ser bem comercial. O enredo baseia-se no futuro, quando uma praga contamina a humanidade e muita gente se transforma em vampiro porque o sangue passa a ser o maior alimento. Poucas pessoas sãs lutam para exterminar essa situação providenciando uma fórmula de estabelecer um equilíbrio orgânico. Os dois grupos conflitam até o mais forte vencer. Os diretores são os irmãos Michale e Peter Spierig. Talvez a velha amostragem de vampiros-vilões numa época em que as historias de Strephanie Meyer estão em moda com seus dráculas românticos tenha sido o obstáculo comercial que o filme enfrentou. Com Ethan Hawke, Sam Neil, Willen Dafoe.

Outro DVD interessante é “O Barão Vermelho”(Der Rote Baron/Alemanha, 2008). Reporta a trajetória do piloto de guerra Mafred Von Richthofen na Alemanha de 1916/1918, anos finais da I Guerra Mundial. Com seu aparelho pintado de vermelho ele era respeitado como o melhor em sua profissão. O argumento baseia-se em fatos reais e a curiosidade é que foi enterrado com honras militares pelos inimigos ingleses.
A direção de Nikolai Mülerschön , também autor do roteiro, não só não esgota como não trabalha bem no tema. Salvam-se as seqüências de combates aéreos, muitas delas moldadas digitalmente.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

Fúria de Titãs
Ninja Assassino
Os Homens que Não Amavam as Mulheres
Caso 39
Uma Noite Fora de Série
2019 - O Ano da Extinção
Caçador de Recompensas
Direito de Amar
Dupla Implacável
O Primeiro Mentiroso

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A LOJA DA ESQUINA




Da extensa filmografia de Ernst Lubitsch (1892-1947) evidenciam-se comédias de costumes que encantaram pelo menos duas gerações. “A Loja da Esquina”(Shop Around the Corner/1940) é uma delas.
Lubitsch era ator e diretor do cinema alemão, nascido em Berlim e, após realizar 41 filmes mudos em sua terra natal, emigrou para os EUA. A partir de um contrato com a Paramount, depois, integrando-se aos estudios da Metro Goldwin Mayrer e da Fox, realizou mais 34 títulos.

“A Loja da Esquina”(Shop Around the Corner/1940) é um desse filmes . Com roteiro de Samson Raphaelson baseado em uma peça teatral de Miklós Laszló, apegou-se à uma pequena intriga que se resume na convivência de personagens que aparentemente não se dão bem mas, na verdade,são apaixonados por literatura, amantes por escrever cartas que trocam usando outros nomes.

O filme ficou um período longo na fase de pré-produção, pois o diretor imaginou James Stewart no principal papel. Mas esse veterano ator era muito requisitado pelos estúdios, entretanto, Lubitsch preferiu esperá-lo por achar que só ele podia compor o tipo ao mesmo tempo cordato e nervoso, afável e temperamental, um complexo que o roteirista concebeu como o único capaz de viver o romance “epistolar” com uma garota empregada na loja onde o personagem de Stewart exercia as suas atividades de chefe de vendas.

A história tem lugar em Budapeste, antes da 2ª. Guerra Mundial. As ruas da cidade húngara foram construídas no estúdio. Bem verdade o espaço teatral foi quase que totalmente obedecido. Mas esses detalhes eram parte do chamado “Lubitsch touch” ou o jeito do diretor trabalhar suas comédias (cf. “Ninotchka”, de 1939, e, até mesmo, operetas como “Alvorada do Amor”, 1929, e “A Viúva Alegre”, 1934). Hugo Matuschek ( Frank Morgan) era proprietario de uma loja de artigos para presente e em certo dia, primeiro a contragosto, é seduzido por uma jovem, Klara Novak (Margaret Sullavan) que está em busca de uma vaga de atendente.

Todos os empregados sentem certa reação a mais uma pessoa competindo pelo lugar, principalmente o tipo de Stewart que desconhece ser a jovem a destinatária de suas cartas de amor. Ela também nada sabe, cultivando, pelo então colega certo desprezo pelo desempenho dele de funções de chefia. A rotina de trabalho na loja não revela apaixonados e sim contendores pelo melhor modo de atender aos clientes. Mas, certo dia, as cartas são reveladas, ou cabe a ironia de dizer que postas na mesa. O ambiente ideal para isso é o Natal e não é só o casal que sai da loja feliz da vida. Também o Sr. Matuschek, dono da loja, recém-saído do hospital e também amargando um problema afetivo, encontra um acompanhante na tradicional ceia natalina.

As comédias de Lubitsch eram muito engenhosas e sofisticadas, detinham certa dose de malicia em detalhes que marcaram o "Toque Lubitsch".Diziam os historiadores, que Grega Garbo, tida como atriz circunspecta e séria sempre se encantava com o humor desse diretor, como é possivel ver em “Ninotchka”.

Aluno desse cineasta, Billy Wylder aprendeu essa técnica. Mas ele mesmo dizia que “o mundo ficou mais triste sem Lubitsch” ao comparecer ao funeral do seu mestre.
Particularmente, “A Loja da Esquina” está entre os meus filmes preferidos. A questão social (tensão nas relações de trabalho), afetiva (os conflitos entre duas pessoas que se amam) e política (relação entre patrão e empregados) se acham bem delineados num modo de tratar essas situações. Tudo funciona numa história simples e alegre. E os detalhes cenográficos, como a preocupação com a cinegrafia, são capitais para que os atores mostrem, sem afetação, seus talentos.

O filme foi restaurado em 1999 e ganhou um prêmio por isso. A nova geração passou a conhecer o “toque” de um diretor que dominava o seu oficio e que pode ser chamado de “autor no cinema”. Depois deste filme, só guardo na lembrança o antepenúltimo que ele assinou: ”O Diabo Disse Não” (Heaven Can Waiy/1943). Da mesma forma que “A Loja da Esquina” o final tinha o jeito de apoteose teatral (e no caso, o titulo em português foi um lamentável ato cômico).

“A Loja...” vai fazer a Sessão Cult deste sábado no Cine Libero Luxardo às 16 h.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

ALÉM DA VIDA





























Há muitas abordagens cinematográficas sobre a vida após a morte. Filmes como “Depois da Vida”(Wandafuru Raifu/Japão, 1998) de Hirokazu Koreeda, “Neste Mundo e no Outro”(A Matter of Life and Death/Ingl, 1946), “Que Espere o Céu” (Heaven Can Wait/EUA,1941) e a refilmagem do mesmo titulo original aqui traduzido como “O Céu Pode Esperar”(1978), “Um Visto Para o Céu” (Defending Your Life/EUA,1991) e “Amor Além da Vida”(When Drams May Come/EUA, 1998) mostraram concepções do pós-morte moldadas em diversos tipos de cenografia – das nuvens – que traduziam as antigas pinturas da representação do céu de algumas religiões; - a cidades construídas – como palácios góticos onde as almas transitavam como inquilinos até que fossem recrutadas para a reencarnação.

O filme mais interessante e, a meu ver, o mais criativo desse grupo de idéias expostas em imagens quase sempre elaboradas com algum esmero, foi o que o cineasta japonês Hirokazu Koreeda imaginou como uma espécie de sala de espera onde as almas a chegar são cadastradas e cada uma convidada a rememorar o melhor momento de sua passagem terrena para ser filmado. “Depois da Vida” ganhou prêmios e elogios da critica internacional. Da mesma forma em, “Neste Mundo e no Outro”, em tom de sátira, um céu burocrático evidenciava quem estava ou não sendo esperado no além e providenciava a reação a alguma falha (o caso do tipo protagonizado por David Niven) que escapara da hora de morrer.

Em “Nosso Lar”(Brasil, 2010) o cenário, por suposto, já estava delineado para o diretor Wagner Assis. Com base em um dos mais conhecidos livros psicografados por Chico Xavier, o tema refletia a experiência do espírito do médico André Luiz que, após a morte, se vê em uma trilha de dificuldades até alcançar o espaço onde se processaria a sua regeneração, ele que foi dado como suicida. Na fase de hospitalização para recuperação do impacto sofrido com o desencarne, mergulha no trabalho de ajuda aos que chegam ao “lar”. Ganha bonus e revê valores aprendidos na Terra.

O livro seduziu espíritas e, mesmo, não-espiritas. Todos queriam ver o texto em imagens. Mas o que se viu foi decepcionante. Porque como cinema não trouxe criatividade que superasse o “deja vu”. O espaço que é chamdo de umbral assemelha-se à representação do purgatório de vários credos, com sofrimento carnal (o espírito não está num outro plano?) que lembra a concepção plástica do diretor Vincent Ward em “Amor Além da Vida”. A diferença é que a pouca luminosidade do quadro ajuda na formação de silhuetas que subtraem as más interpretações do elenco secundário.

Depois, há o “design” de ficção-cientifica com torres que evocam cidades extra-terrestres ou futuristas como no caso do filme “Daqui a Cem Anos”(Things to Come/Ingl, 1936) de William Cameron Menzies. Cada alma em serviço usa laptop e o meio de transporte interno é um ônibus aéreo em tudo semelhante ao que Albert Brooks usou em “Um Visto Para o Céu”(1991).

Mas as influências de outros produtos cinematográficos poderiam surtir efeito na transcrição do original literário se boas interpretações transmitissem o drama de André Luiz ou como ele descreveu a nova realidade espiritual vivenciada. À exceção da máscara do ator Renato Prieto ninguém, nem mesmo atores consagrados como Othon Bastos, conseguem transmitir a emoção proposta transitando no artificialismo. O roteiro e a direção de Wagner Assis são muito fracos. Em que pese a produção requintada para os padrões nacionais esta foi utilizada de forma mecânica, sem inspiração, numa linha que exalta a falta de criatividade contida em outro filme de cunho espírita: “Bezerra de Menezes”(2008).

Creio que a seqüência da visita do espírito de André Luiz aos familiares, como bonus por sua eficiência no “lar” expressa o desencontro do filme com o conteúdo estético. Mulher e filhos do médico surgem como se estivessem esperando aquela aparição. Há um plano médio de todos juntos como que posando para uma fotografia. Risos e lágrimas pedem correspondência no potencial melodramático da narrativa.

Quem assistiu a “Chico Xavier” (2010), de Daniel Filho, esperava muito mais de “Nosso Lar”. Mas o tirocínio de Daniel não se transferiu para o colega. Lamantavelmente.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

NOSSO LAR





Ficar entre o conteúdo escrito e a realização de um filme é sempre o prognóstico de quem trata de duas linguagens na arte cinematográfica. No caso do conteúdo, quando o espectador do cinema já tomou conhecimento da abordagem e ficou muito empolgado com o assunto, às vezes quer ver nas imagens a reprodução do relato similar ao que já conhece. Assim, re-conhece com maior facilidade, através das imagens, o que só absorveu da leitura do livro. A narrativa cinematográfica tem outro instrumental, inserindo-se a criatividade do realizador com base em uma estética que irá de-gravar em imagens o que já absorveu do assunto a ser explorado. Nesse caso, nem sempre há sintonia entre as duas leituras e isso, às vezes, é capaz de chocar o público quando lê a opinião crítica sobre um filme.

Em “Nosso Lar” (Brasil, 2010) esse conflito pode parecer desnecessário para os que se atém aos fatos que o filme explora. Aos que têm como função privilegiar a dimensão estética formatando a narrativa em imagens a partir do conteúdo há fragilidade na realização do filme. Adaptado da obra homônima psicografada por Chico Xavier de relatos do espírito do médico André Luiz, aborda a maneira como este, após a morte, encontra um lado desconhecido da vida que o arrebata para o mundo de penas e humilhações, ai permanecendo até reconhecer que precisa da ajuda de alguém e clama a Deus para modificar o quadro de sofrimentos a que está sendo submetido. Segue-se uma nova fase, de peregrinação assistida por pessoas com várias funções, em um lugar de luz, que o levam a rever atitudes e valores aprendidos na vida corporea na Terra revelando-lhe a necessária reforma íntima.

À medida que encontra algumas explicações para o que está vivendo, André Luiz vai se aperfeiçoando espiritualmente e conseguindo alcançar alguns objetivos almejados como o de poder ver seus familiares de quem sente saudades. Há mudanças e ganhos pessoais redefinindo os valores aprendidos que determinam a sorte do verdadeiro cristão na Terra e que ele deixou de praticar.

O enfoque sobre essa nova vida do personagem André Luiz é uma das diretrizes dos seguidores da doutrina de Alan Kardec. Se outras religiões também dizem que há uma vida extracorpórea, os espíritas explicam que esse plano é de novas atividades, dando continuidade ao anterior vivido pelo ser humano no planeta Terra. A perspectiva de uma passagem do Evengelho Segundo São João (cap. XIV, v. 1 a 3) de que “há muitas moradas na Casa do Pai” garante à doutrina a teoria dos mundos habitados no universo e a consequente perspectiva do seguimento desta vida após o que é comumente chamado “morte do corpo” que simplesmente liberta o espírito. Com isso, os espíritas evidenciam uma cosmogonia e visão de mundo específica considerando uma classificação geral desses mundos com graduações, segundo Allan Kardec, baseado nos espíritos superiores: mundos primitivos, mundos de expiação e provas, mundos regeneradores, mundos felizes e mundos celestes ou divinos. O primeiro e o segundo são parte da vida terrena (reencarnação e vida corpórea em expiação ou cumprindo um plano especial). O terceiro será o momento em que o espírito está em trânsito para os dois outros mundos onde predomina a ideia do bem e da purificação espiritual.

O corpo doutrinal do espiritismo converge para um processo de explicação da origem do princípio do universo, ou seja, uma cosmogênese, que é do conhecimento dos adeptos dessa religião e que não é ampliada para toda a sociedade por vários fatores, entre os quais a imposição do catolicismo, por muito tempo, como religião oficial do estado e consequente preconceito contra as demais religiões existentes no mundo, tendentes a ter sua cosmovisão própria.

O que é possivel verificar na narrativa explorada pelo diretor Wagner Assis em “Nosso Lar” é um estreitamento dessa perspectiva de mundo. Procurando descrever linearmente os fatos vividos pelo médico André Luiz, deixou para trás a possibilidade de enriquecer o conhecimento de quem vai assistir ao filme sobre essa dimensão tratada pela doutrina espírita, criando uma confusão generalizada sobre o processo da morte e regeneração do espírito. O uso de outra métrica para circunstanciar os fatos subvertendo os cenários do olhar de André Luiz para um “décor” criado sem ater-se ao conteúdo pd, daria a dimensão que outros filmes têm explorado sobre a memória ou, mesmo, sobre a vida extracorpórea. Sequencias coincidentes (a visão do tipo sobre sua familia reunida, no final, por ex.), a direção de arte (agregando paineis díspares), a estrutura dos personagens (sem estudo dos tipos) tendem a esquematizar o sistema narrativo fragilizando-o e confundindo mesmo aqueles que já conhecem o livro. Volto ao assunto.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

DVDs EM REVISTA




















Com um título, no Brasil, que segue quase à risca o original (que seria “O Homem que Odeia as Mulheres”) chega às locadoras, sem passar pelos nossos cinemas, “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”(Man Son Hatar Kynnor) produção da Suécia, Dinamarca, Alemanha e Noruega, dirigida por Niels Arden Oplev, com base na trilogia “Millenium” de Stleg Larson. A rigor é o primeiro livro da série. O autor faleceu de infarto logo após finalizar o terceiro exemplar.

Desconheço o livro, mas achei o filme bem narrado, seguindo uma linha “hitchcoqueana” nas investigações que envolvem duas personagens: o jornalista Mikael (Michael Nyqvist) e Lisabeth Selander (Naomi Repace). O primeiro, condenado por atacar uma corporação famosa cujas provas desapareceram, sendo contratado durante o período em que aguarda sentença, por um milionário para encontrar uma sobrinha desaparecida há 40 anos. A segunda pessoa é uma jovem “punk” investigadora de rara habilidade digital personagens que se vão confundir com as que aparecem no trabalho do colega (que de inicio não conhece). As histórias se cruzam com um bom dimensionamento dos tipos. É das mais terríveis cenas já mostradas em cinema, a tortura sexual por que passa Lisabeth nas mãos de seu tutor, um homem perverso a quem ela é obrigada a recorrer para obter recursos que financiem as suas pesquisas.

O filme não traz novidades temáticas no seu gênero, embora seja evidente o aspecto que relaciona o nazismo com a violência naturalizada. Muito instigante o tratamento aplicado pelo diretor sueco. Na verdade, ele utiza a narrativa de cinema norte-americana bem assimilada por europeus. Já está sendo produzida a versão de Hollywood dirigida por David Fincher protagonizada pelo ator Daniel Craig, o novo James Bond.

Entre os novos DVDs em circulação, uma comédia francesa de Dany Boon que levou multidões ao cinema de sua terra de origem: “A Riveira Não É Aqui”(Bienvenu chez les Chti’s /França 2008). Certamente a empatia ao filme se deve à condição nacionalista do roteiro. A começar pelo diálogo, usando trocadilhos e fonética própria do lugar (difícil rir com as legendas). Basicamente recorta a historia de um funcionário do correio, Philippe Abrams (Kad Merad) que para contentar a esposa trapaceia para ser transferido para um posto de trabalho na Riviera. Mas o estratagema falha e ele, por castigo, é designado para Bergues, uma cidade do norte, famosa pelo clima frio e austeridade de seu povo. Quando a esposa descobre, impoe ao marido a ida solitária para a filial da empresa. Pouco depois, ele cria uma boa forma de comunicação com os moradores e passa a se divertir como nunca.

O filme tem poucos momentos hilários para os que desconhecem os costumes de outros países. Talvez por isso tenha passado ao largo dos cinemas fora da França.
Outro interessante programa em DVD é “O Caso 39”(Case 39/EUA,2008), com Renée Zellweger como uma assistente social que se interessa pelo caso de uma garota a quem os pais chamam de “demônio” e chegam a colocá-la dentro de um forno de micro-ondas.

Com aparência angelical (bom tipo de Jodelle Ferland), a menina envolve a assistente social que a leva para seu apartamento. Mas aos poucos vão sendo evidentes os sinais maléficos da garota e procedente a fama de maldição. As situações da personagem se irmanam aos aspectos desenvolvidos em “A Outra”(filme posterior, mas exibido antes) e mesmo em “O Exorcista”.

O diretor Christian Alvart é imigrante alemão e tem em seu curiculo outro fllme de terror: “Pandorum”, realizado um ano após este “Caso..”. Nada de genial, mas vale a pena conhecer o cineasta e seu jogo narrativo para aterrorizar certa platéia.
Na área dos clássicos há muitos títulos. Um bom lançamento é "O Jardim dos Finzi-Contini"(Il Giardino dei Finzi-Contini/Itália 1972), o último grande filme de Vittorio De Sica. Trata de uma familia judia acostumada ao conforto que lhe dá a classe social, deportada para o campo de exterminio na tomada do governo nazista. Foi o filme que lançou a atriz Dominique Sanda, protagonista de "O Conformista" de Bernardo Bertolucci.

DVDS MAIS LOCADOS(FOXVIDEO)

Os Homens que Não Amavam as Mulheres
Fúria de Titãs
Caso 39
Uma Noite Fora de Série
Direito de Amar
Dupla Implacável
Caçador de Recompensas
2019 - O Ano da Extinção
O Primeiro Mentiroso
Mary e Max

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

FILME DA OBRA DE CHICO XAVIER















A tradição de lançamentos de filmes elegeu as sextas feiras para esse evento cinematográfico nas cidades brasileiras. É devido a essa programação que as distribuidoras destacam os filmes que devem ser exibidos no circuito nacional. Mas o que repercute na hegemonia dos programas para certas cidades é a média de público que vai ao cinema. Já não é uma lei nacional (como o do antigo CONCINE), mas a meta planejada das empresas exibidoras. Daí porque Belém não sintoniza com o que é lançado nas casas do sul e sudeste. Algumas vezes alguns filmes repercutem nacionalmente.

Esta semana em nossa cidade há duas estréias nacionais nas salas comerciais: “Nosso Lar” e “Como Cães e Gatos 2: A Vingança de Kitty Gallore”.

O plano extra sempre escolhe programas pouco vistos no circuito. “Tarde Demais” (The Heiress, EUA, 1949, 115 min.) vai fazer a sessão regular do Cine Olympia/ACCPA (18h30). “O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus” estará no Cine Libero Luxardo até domingo às 19h30; e “O Segredo das Joias” (The Asphalt Jungle, 1950) de John Huston estará na Sessão Nostalgia (ACCPA) de domingo às 16 h no Olympia.

“Nosso Lar” (Brasil, 2010) é a versão cinematográfica do livro escrito pelo médico André Luis e psicografado em 1944 por Chico Xavier. O filme é dirigido por Wagner Assis (de “A Cartomante”) e conta com uma produção incomum no cinema nacional, ganhando uma cenografia esplendorosa a cargo de Heigorina Cunha que diz ter concebido o lar do titulo em uma viagem de fez fora do corpo.

O roteiro trata da transição de um médico, André Luis, após a morte. Ele se depara com um mundo estranho, sombrio, onde vozes de lamento ecoam por todos os lados. Auxiliado por espíritos amigos ele alcança uma cidade onde se sente em paz, reconhecendo algumas pessoas que conheceu em vida terrena. Permanece nesse lugar até sentir saudade de seus familiares e amigos que ficaram na Terra. Chega a vê-los e, nesse momento, compreende que a vida continua em mais de uma dimensão.

O livro é dos mais procurados dos muitos que Chico Xavier publicou atendendo aos espíritos que se comunicaram com ele. É uma visão espiritualista que segue de perto a filosofia de Alan Kardeck em seus livros e que se tornaram a base da dourtina espírita.

O filme teve locação em 3 cidades realizado em 3 meses do ano passado. Protagonizando André Luiz está Renato Prieto. No elenco nomes conhecidos como Othon Bastos, Ana Rosa, Paulo Goulart, Fernando Alves Pinto e Selma Egrei.
Para a estréia nacional foram feitas 400 copias com distribuição da 20th Century Fox. Exibe-se nos cinemas do circuito Moviecom (2 cópias no shopping Castanheira uma no Pátio Belém).

“Como Cães e Gatos 2” (Cats & Dogs: The Revenge of Kitty Galore, EUA, 2010,82min.) tem direção de Brad Peyton e será projetado em 3D. Misto de animação de bonecos com atores prossegue a primeira aventura dos tipos mostrados há alguns anos. O argumento pode ser assim resumido: Kitty Galore, uma ex-colaboradora da organização MEOWS de espiões felinos, está cada vez mais enfurecida e imagina um plano para, além de derrotar de vez seus inimigos caninos, derrubar seus ex-companheiros de espionagem e transformar o mundo em seu “arranhador de estimação”. Diante dessa ameaça sem precedentes, cães e gatos serão obrigados a unir forças pela primeira vez na história em uma aliança que poderá salvar suas vidas – e as de seus donos .

“O Mundo Fantástico do Dr.Parnassus” é uma extravagância do cineasta Terry Gilliam, egresso do grupo Monthy Phyton, comediantes ingleses que no cinema apresentaram coisas como “A Vida de Brian” e “O Sentido da Vida”. Aqui Gilliam apresenta um mágico que fez um trato com o diabo ganhando a imortalidade em troca de algumas almas, entre elas a sua filha ao completar 16 anos. Com o tempo, o mágico tenta desfazer o acordo e a seu favor entra um personagem encontrado quando tentava o suicídio por enforcamento.
Com visual deslumbrante, o filme segue a linha fantástica de outras obras do mesmo autor como “Brazil,O Filme”.

“Tarde Demais” é um clássico de William Wyler, com base em um romance de Henry James. Ganhou 4 Oscar incluindo o de melhor atriz para Olivia de Havilland. Ela interpreta uma rica herdeira assediada por um cavalheiro (Montgomery Clift) que não se sabe se é apenas um interessado em sua herança.