
domingo, 28 de agosto de 2011
A VEZ DOS BICHOS

FILME SEM CLASSE

FILMANDO EM SUPER 8

RIBEIRINHOS DO ASFALTO

Os nossos rios e matas, as canoas que cortam essa vias de acesso, o povo que vive na margem com a simplicidade modulando sua rotina, tudo é fotogênico e ganha o foro de poesia. Esse cenário já foi visto em diversos filmes nacionais e estrangeiros, longos ou curtos. E volta às nossas telas, grandes e pequenas, em “Ribeirinhos do Asfalto” o novo trabalho da Jorame (Jorane Castro que eu vi crescer apaixonando-se pelo cinema). O curta trata de Daisy (Ana Leticia Cardoso), garota que mora na Ilha do Combu, desejosa de estudar na cidade grande (Belém). O pai se opõe. Mas a mãe (Dira Paes) acompanha a menina numa viagem de barco à capital do Estado, pensando em se abrigar na casa de uma parenta moradora do bairro da Cidade Nova. Desconhecendo a cidade, passam pelo Ver o Peso, tomam um ônibus que não as transporta para o destino objetivado, caminham com a indicação de outrem até a casa que procuram. Mas ainda aí há problemas e o final dessa aventura dos ribeirinhos no asfalto supõe-se reticente (e assim foi achado no Festival de Gramado), mas revela, sem delongas, a força da cabocla paraense, da mãe que não esmorece e vai contra o conformismo do marido, oferecendo à filha a oportunidade do que lhe parece uma vida melhor através da instrução.
Essa jornada iniciada desde a casa dos pequenos agricultores em Combu, demonstra a luta de uma familia, constantes as variáveis apresentadas ( precariedade de sobrevivência, aspirações pela melhoria de vida na cidade grande) e ainda hoje se determinam através desses anseios em busca de apresentar aos filhos/as uma suposta “vida melhor”. Aspirações “casadas” ( de mãe e filha, no caso) criam estratégias para supor que um “novo destino” será traçado com essa iniciativa. E é isso o que o pessoal de Gramado não deve ter reconhecido ao confundir o final do filme de Jorane como de reticências. É que a diretora não dá final nenhum para que se reconheça que houve happy ou bad end.
Quem já analisou esses casos reais no Pará e já leu certos finais de histórias em que essas tramas são articuladas como a definição da vida escolar e o “progresso” para essas crianças ribeirinhas (ou não) trazidas para “estudar na casa de parentes ou “dadas” para famílias em troca de a garota (principalmente) frequentar a escola e realizar pequenos serviços caseiros, reconhece que a prática será bem diferente do sonho das familias interioranas crentes numa mudança para o sucesso dos filhos e filhas. Temos casos concretos de onde foram parar essas meninas e/ou que tratamento recebem na “casa dos outros”. Senti, através das imagens do filme, os dramas que conhecemos através da imprensa. Como da garota Marielma Silva, 11 anos, babá numa casa de família em troca de “estudos”, em Belém, e morreu de espancamentos e até estupros sofreu. Como a de outra que denunciou o tratamento de certo parlamentar hoje com prisão preventiva ou sei lá como está esse caso.
Assim, o importante foi Jorane deixar aberto o final dessa história, uma aventura a mais dos que, como os ribeirinhos, carecem de ter cidadania digna pelo menos nos estudos.
Dira está excelente como a “mãe coragem” deste filme que apesar de pequeno diz muito do papel da mulher em uma sociedade e tempo. E Ana Letícia, que faz teatro, convence plenamente nas sequencias & planos que lhe pedem expressões bem especificas.
No filme também está a Belém de alguns espaços já mostrados nas telas, e outros inéditos. A Cidade Nova, a garagem dos ônibus, um espaço que realmente é uma Belém que se estende, saindo dos limites explorados por gravações dramáticas ou turísticas, isso tudo chega sem desviar o enfoque da ficção dramática. E as falas são econômicas, mas precisas. Não há nada discursivo a apontar agruras num relacionamento, mas tensão sobre certa maneira de olhar o progresso de um filho ou filha que não encontra mais nada no lugar onde moram. Fala-se o bastante com as imagens jogadas com a necessária síntese que pede um filme de poucos minutos.
Sinceramente gostei de “Ribeirinhos do Asfalto”. Não esgota, obviamente, um assunto que pede densidade desde a sua origem sócio-geográfica. Mas é um caminho para se alcançar, num longa-metragem, essa pintura do povo que vive na margem (e à margem) dos rios/igarapés. Mostra que esse povo tem seus sonhos e não aceita reproduzir a vida que leva aos filhos/as que gera. Trata-se de um horizonte ampliado, pois, assim como os ribeirinhos paraenses aspiram afastar-se de uma vida precária onde o celeiro da natureza lhes dá o suficiente para negociar o passadio (o cultivo de plantas, o açai, o pescado), os moradores de outras regiões, a exemplo, os nordestinos, também têm a antevisão de uma melhoria de vida ao sair da caatinga nem que seja para a periferia das grandes cidades.
“Ribeirinhos...”ganhou em Gramado os prêmios de atriz (Dira Paes) e direção de arte (Rui Santa-Helena). Um gol do cinema paraense.
TROCA DE TELAS

quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Mostra 25 Anos do Cine Líbero Luxardo

segunda-feira, 15 de agosto de 2011
EM DEBATE: A ÁRVORE DA VIDA

UMA ÁRVORE DE GALHOS UNIVERSAIS
Luzia Miranda Álvares
Na antevisão da origem da matéria, desde a Grécia Antiga, com presença forte no Ocidente, a teoria dos quatro elementos – agua, terra, fogo e ar – atribuindo-se ora a um ora a outro os estados de mutação dessa matéria, dispõe sobre os processos da existência onde a vida e a morte são/estão energias que constróem o universo.
Dessa perspectiva, Terrence Malick elabora sua visão de mundo na conexão entre a natureza e a graça (a primeira idéia que ele traça quando mostra o nascimento de uma criança e seu processo de crescimento) ao explorar, em “A Árvore da Vida” (The Tree of Life, EUA, 2011), a amplitude do universo onde a força da primeira (natureza) é, ao mesmo tempo, bela e também feroz, é explosiva e também mansa, é multicolorida e ao mesmo sem cor, é fonte de amor, mas também fonte de ódio. Essas emblemáticas imagens vagueiam numa plasticidade exuberante e encontram, no que ele projeta como o dom da graça, a dádiva da vida concedida aos seres vivos com grande significado para a conexão com o amor que é o sentimento único que ele supõe para encontrar maneiras de chegar à felicidade.
São expressões aparentemente vagas para alguns, mas representam a grande ternura que o diretor demonstra para elaborar sua maneira de contemplar os que estão diante da descoberta existencial. Como as leis do universo repercutem no processo autoritário de um pai que mantém a familia sob violenta pressão e exige que seus filhos o amem? Onde a relação entre a criação do universo e a presença dos quatro elementos com aquela familia que se constrói, cria hábitos, afetos, dinâmicas próprias para enfrentar as crises e se vê, em certo momento, diante da morte de um deles? E as perdas materiais, profissionais, o crescimento dos filhos e de seus novos desejos, suas premissas extraidas do cotidiano familiar, como será no futuro? A assepsia da nova vida de um deles, na maturidade sem cor, com altissimo elan no individualismo vertical dos edifícios e das paredes lisas e vidros transparentes mostrando todos em caminhadas. Para onde?
Chega o momento do encontro e a praia ou o lugar da água, da terra, do ar, se transformam no fogo interno da energia que energiza quem se ama. A familia se reencontra. O mundo está mais próximo, eles estão felizes.
CINEMA SENSORIAL
Pedro Veriano
Há um provérbio hindu que traduz a realização da vida de um homem pelo plantar de uma árvore, escrever um livro e gerar um filho. A família O’Brien de “A Árvore da Vida”, no enfoque do patriarca (Brad Pitt), estaria realizada se ele conseguisse ser um musico, como desejou na adolescência. Não conseguiu por questões financeiras e o emprego adquirido é por ele mencionado como o do naval que trabalha na construção de um navio mas não vê quando este navio chega ao mar. Instável, o emprego pode acabar. E a arrogância adquirida na educação da primeira metade do século XX gera certas animosidades, em especial em um dos 3 filhos.
Mas “A Árvore da Vida”(The Tree of Life), filme de Terrence Malick com fortes raízes biográficas, não conta a história de Mr. O’Brien nem de sua mulher(Jessica Chastain), nem dos rebentos(todos homens). No máximo retrata o que o autoritarismo causa no primogênito para onde tudo é exigido. O que o filme quer dizer é o que pode fazer sentir. O cineasta procura uma assertiva cientificamente correta: a sensibilidade independe da racionalização. Não se racionaliza qualquer sentimento. E o amor é o que constrói, guardado como o elemento mais próximo da perfeição que os seres vivos adquiriram na história da evolução das espécies.
A espécie de prólogo com imagens que se pode achar uma com concepção do “big bang” (a explosão inicial que gerou o universo), passando pelas primeiras células e animais aquáticos, ganha corpo com a percepção darwniana de que sobrevivem os mais fortes (um animal pré-histórico pisa na cabeça de outro) e ao chegar ao ser humano escora na constituição do núcleo familiar e tenta dimensionar o quanto este é abalado quando perde um membro.
Não interessa quem dos 3 filhos dos O’Brien morreu aos 19 anos. Percebe-se por flash-backs econômicos (pelo menos na montagem que ficou para os cinemas comuns) que não foi o mais velho, Jack (Sean Penn). Ele é visto adulto, cercado de prédios, de linhas retas que se tocam formando diversas estruturas que esmagam a sensibilidade, fugindo, quando pode, ou acha que pode (ao falar de amor a alguém), para bosques e rios, pedras e relvas,deixando-se focar muitas vezes em contre-plongée a seguir as árvores gigantescas que dão a idéia de como a evolução galgou espaço no planeta.
Malick fez um poema corajoso na tradução por imagem. Não há uma cronologia de seqüências, o tempo desimporta como desimportam as definições de sentimentos ligados às recordações. Tudo o que se vê é para ser sentido, não necessariamente entendido. Se alguém quiser achar alguma influencia, ou inspiração, pode notar o “2001” de Kubrick, também uma abordagem na escala evolutiva. Mas ali se racionalizava a origem das espécies até chegar ao super-homem de Nietzsche, citando-se (até na musica de Richard Strauss) o “Assim Falou Zaratustra”(Also sprach Zaratustra) . Com Malick não há uma citação filosófica especifica. As imagens que lembram os filmes de Norman McLaren querem apenas chegar ao cérebro do espectador como estimulo à sensibilidade, quem sabe à produção de endorfina. Nesse ponto o novo filme diverge completamente de experimentalistas de cinema como Godard. Ali se racionaliza o desmontar da linguagem fílmica; aqui se lança esse desmonte como um recurso emotivo. Malick poderia mostrar outras pessoas em outras situações se quisesse ficar no impacto da analogia entre a engenharia do ser e a constatação de abandono quando este ser está sendo produzido. Mas ele mostra a família, o amor filial. E aí consubstancia a importância do amor, falada por um personagem durante a abordagem.
Um filme diferente. Talvez o que chega mais próximo do cinema anímico, da tradução por imagem do que “só o coração vê”.
Difícil encontrar exemplo mais criativo. (Pedro Veriano)
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
O MÁGICO

Jacques Tati, o comediante-cineasta que imortalizou o tipo do cavalheiro desajeitado queusava chapéu de feltro, capa longa, guarda-chuva e um cachimbo, falando apenasao ser indagado para dizer seu nome – Hulot – faleceu em 1982, aos 75 anos, semrealizar tudo o que pretendia em termos de cinema. Aliás, Tati sofreu bastantequando seus filmes foram confiscados pela fonte credora por não ter conseguidopagar os custos de “Playtime - Vida Moderna” (1967), um sonho megalômano. Só nosúltimos anos de sua vida conseguiu rever seus trabalhos, mas ao se despedir como telefilme “Parada”, em 1974, deixavamuitas idéias nas gavetas. É dele o roteiro deste “Ilusionist” que a filhaSophie Tatlischeff negociou com o cineasta Sylvain Chomet para realizar este “OMágico” estreado em Belém no Cine Libero Luxardo.
O enredo reflete os sentimentos do autor. Um mágicosente a decadência. E não é só da criação de sua arte. A profissão doprestidigitador de teatro de variedades está desaparecendo. Vê-se, em umaseqüência, o tipo esperando, num teatro, que a platéia eufórica, aos gritos,deixe que se vá o conjunto de roqueiros disposto a monopolizar as atenções.Quando chega a sua vez, o artista deparacom uma senhora e uma criança na platéia. Compreende que ali não tem chance.Retira o seu cartaz da parede e ruma para Londres. No trem encontra uma senhorae uma criança e tenta brincar com a criança que, apesar da idade e do naturalespanto que possa ter diante dos truques, não se mostra interessada. Na Inglaterra,o meio também não é propíicio. Hospedando-se numa pensão barata torna-se amigoda camareira a quem ajuda e recebe alguma atenção. Mas o mercado para asmágicas torna-se cada vez pior. Noutra cidade, outro desastre. Acaba num bar,onde parece obter mais atenção. Mesmo assim não é o bastante e a ajuda que lhepresta um empresário dá-lhe chance em um teatro onde o próprio empresário équem estimula os aplausos de uma platéia minúscula.
O tipo que odesenhista (sim, o filme é uma animação realizada pelo criador do ótimo “AsBicicletas de Belleville”) elabora tem o perfil de Monsieur Hulot. Até naeconomia da voz. Sem chance profissional e no fim das contas sem a atenção dacamareira, que arranja namorado, ele vai seguindo um destino que mais pareceuma tentativa de viajar no tempo, de procurar o que no passado era julgado comodivertido, como original.
O filme époesia plena. Não há uma dinâmica que é comum nas animações de um modo geral.Mesmo em “Bicicleta de Belleville”. Aqui, Sylvain Chomet mostra a nostalgia deum passado que só ecoa no coração de quem viveu esse tempo. A grande mágica dopersonagem “tatiano” resta na sua postura em desafiar, sempre, os tropeçoscomerciais, a sobrevivência cada vez mais ciente de que é apenas isso: não háum número de mágica que tire novos coelhos do chapéu.
Amargo sim,mas um filme que fala ao coração. É umajusta homenagem a um artista como Tati, e esta homenagem se faz não apenas naconstrução do tipo principal da historia mas até em citações explicitas: há um momento em que o mágico entra numcinema que está exibindo “Meu Tio”(Mon Oncle) o clássico maior de Tati.
Em seus filmes, o tipo de Hulotnem chega a ter mocinha. Ou é um turista solitário (“As Férias do Sr,Hulot”/Les Vacances de M Hulot) ou um cunhado desastrado de um industrial (“MeuTio”) embora querido de seu sobrinho, ou um visitante de uma loja-modelo(Playtime), ou ainda um dirigente de trânsito(“Trafic”).Nunca um enamorado. E assim ele está em “L’Ilusionist” onde se esboça umromance que não se concretiza. Mesmo porque o filme não é sobre ganhos: é sobreperdas. Ganho, no caso, é para quem vai ao cinema. Uma obra-prima.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
SOMBRAS E RUÍDOS

A surpresa do lançamento de uma produção uruguaia instigou o interesse em assistí-la muito mais do que a re-visão do hiper-heroi atual dos norte-americanos em fase de reabilitação da hegemonia mundial – o “Capitão América: O Primeiro Vingador” (2011) criado por Joe Simon e Jack Kirby em 1941e publicado pela Marvel Comics. Assim, fui assistir a “La Casa Muda”(ou “A Casa”/ Uruguai, 2010).
O filme não se furta a diversos “ruídos”. Dirigido e co-escrito por Gustavo Hernández tem o mérito de ter sido realizado inteiramente com câmera digital minúscula e quase todo em plano-sequência, ou seja, (supostamente) filmado de uma só vez sem corte (a rigor há apenas dois blocos inteiros).
O argumento baseia-se em um caso real: numa velha casa de campo foram encontrados numa manhã 3 cadáveres. O imóvel estava desocupado e o proprietário hospedara o casal Wilson (pai) e Laura (filha) para avaliá-lo haja vista que na manhã seguinte os trabalhos de restauração da casa iriam iniciar. O filme parte desse tema e começa com a contratação do casal. Nessa hora vê-se Laura (Florência Colucci) olhando pelas frestas das janelas cerradas e com tapumes. Em seguida, já dentro da casa, com a câmera acompanhando ora distante ora muito perto das personagens, surgem os momentos de tensão que a moça passa a viver. O pai (Gustavo Alonso) logo adormece e ela ouve ruídos que chegam do sobrado. Acorda-o para pesquisar o que está acontecendo. Ele não retorna. Ela o encontra ferido, caindo sem vida. A jovem percorre com um candeeiro, o andar superior. Vêem-se muitos livros em uma estante e algumas fotografias espalhadas. Mas os ruídos prosseguem. O fotografo Pedro Lugue faz um “tour de force” com as limitações artesanais procurando ângulos sugestivos. Há um plano de Laura no canto da tela e uma visão parcial (o que a iluminação consegue detalhar) do interior que espanta pelo fato de ter sido edificado num prosseguimento dos movimentos incessantes de câmera.
Imagens sombrias e ruídos vão alimentando o suspense da platéia. Mas isso em um longa-metragem, mesmo de apenas 78 minutos, inevitavelmente cansa. Há uma espécie de trégua quando Laura recebe a visita de Nestor (Abel Tripaldi), dono do imóvel, que chega de carro. Ela não quer voltar para dentro da casa, de onde havia saído ao ouvir que alguém chegava. Mas ele insiste na presença dela. Os acontecimentos se precipitam: Nestor é assassinado. Em alguns momentos surge em foco, num segundo plano, uma menina. As imagens de outras pessoas no pequeno espaço são rápidas. O objetivo do filme é manter o suspense na unidade de lugar e de elenco (só Laura em foco).
O final divide-se nos créditos que se baseiam nos acontecimentos reais e numa seqüência que surge depois dos últimos nomes de técnicos (do chamado “casting crew”). Não se deve revelar esta tomada. Mas tanto ela como outras posições do enredo são fantasiosas e não se sustentam na pretensão realista do enfoque. Começa com o fato da personagem aterrorizada não sair logo da casa. E as reticências sobre um quarto cheio de fotos, que o final tenta aludir dentro da tragédia acontecida realmente (sem convencer).
Mas não resta duvida de que o esforço dos uruguaios foi interessante. Exemplos próximos como “A Bruxa de Blair” são de outra origem formal. No caso de “A Bruxa...”são pretensos rolos de filmes deixados pelos estudantes perdidos na mata. Que não tomam conta de toda a projeção. Aqui, em “A Casa”, começa pelo uso de uma câmera digital que pode ser até a de um celular. Depois a opção pelo plano-sequencia. Exemplos ilustres no passado, com câmeras de 35mm foram “A Dama do Lago” de Robert Montgomery e “Festim Diabólico”(The Rope)de Alfred Hitchcock. Mesmo assim há recursos técnicos poderosos. O filme uruguaio veste-se de amadorismo. E cativa pelo desafio que foi realizá-lo, mesmo que fantasiasse esse desafio para vender melhor .
Ao que consta já está sendo preparado um remake norte-americano, com Laura Lau e Chris Kentis, protagonistas de "Mar Aberto".
CAPITÃO AMÉRICA

O personagem criado por Joe Simon e Jack Kirby surgiu nos quadrinhos em março de 1941 como um combatente contra os planos ditatórias da Alemanha de Hitler. Os EUA entrariam na 2ª. Guerra Mundial (1939-1945) em dezembro desse ano (1941). Quer dizer: o herói apareceu quando a guerra ainda estava limitada aos europeus. E assim como Chaplin satirizou Hitler e Mussolini, o ditador italiano, no seu primeiro filme inteiramente falado, “O Grande Ditador”(1940), os desenhos foram precoces no seu quartel de defesa contra o nazi-fascismo.
Capitão América, um super-soldado, respondia como resultado de uma experiência físico-química efetuada no raquítico Steve Rogers, um rapaz que desejava ser convocado para servir nas forças armadas de seu país, mesmo tendo sido reprovado no exame de seleção. Steve conseguira entrar para um aprendizado militar por ter sensibilizado um instrutor, embora, na verdade, ele fosse considerado o tipo ideal para o experimento do cientista que enfim lhe deu o corpo de atleta.
Durante o período da guerra, o tipo se transformou em herói, vestindo-se com a bandeira e norte-americana, lutando contra inimigos alemães (principalmente) e só “descansou” quando foi assinado o armistício (em 1945). No cinema gerou um seriado em 1944 e 7 filmes ou series de TV. E adentrou nos gibis. A história passaria para o domínio da Marvel Comics e os autores explicaram que o Capitão America havia sido hibernado, caído em um avião experimental no gelo dos Alpes. A ressurreição veio em 1964 junto a vários “colegas” super-heróis conhecidos como “Vingadores”. Na revista “Tale of Suspense” o tipo passou a dividir espaço com o Homem de Ferro. E como este companheiro fez sucesso no cinema deste novo século, nada mais natural do que o então herói norte-americano por excelência surgisse também em um filme de alto custo, longo e tridimensional.
“Capitão America, o Primeiro Vingador” (Capitain America,The First Avenger/EUA,2011) , com direção de Joe Johnston e roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely, é mais um blockbuster inspirado nos quadrinhos. E vai às origens do personagem. Conta como ele surgiu, como lutou contra os nazistas, e como ficou preso no gelo por 70 anos. Os criadores da idéia pesaram as possibilidades comerciais da empreitada e ganharam com o isso. Já está em produção uma seqüência, tratando do Capitão America no mundo atual. O final deste nvo filme que está em cartaz e dá impulso para essa continuação.
Em termos de temática, dois fatos: o individualismo do herói, acima da corporação militar onde labuta e a necessidade de uma volta quando o inimigo pode ser bem diferente. Com os EUA atravessando uma crise econômica, um apelo patriótico é como um tônico. Depois há o novo vilão, o terrorismo. É possivel apostar que no filme a seguir quem vai enfrentar o mocinho extremamente americano é um aluno de Bin Laden.
Interessante observar que os quadrinhos optam sempre pela patente de capitão para seus tipos mais evidentes. E se exibem essa patente, quando podiam ser nomeados em categorias como a de major, coronel ou general, não obedecem a ordem unida dos quartéis. Esta independência militar pode ser entendida por rebeldia. Mas o que importa é que se trata de ídolos (Capitães America, Capitão Marvel etc). Como os gregos antigos que tinham os seus Hércules. Teseu e tantos outros. Os novos heróis formam uma mitologia apoiada na ficção-cientifica. E quem manipula as tramas sabe do valor que, especialmente a juventude dá aos tipos e enredos.
Como cinema nada a observar além de um artesanato competente em produto comercial. E que aproveita a tecnologia de projeção 3D para seqüências de efeito como o escudo jogado “para quem está na platéia” ou bolas de fogo que saem dos limites do quadro. Isso, naturalmente, é para dourar a pílula. O tema e o tipo, a partir de sua origem, merecem um estudo critico. As relações internacionais com certeza.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
INCERTEZAS

Scott McGehee e David Siegel são diretores novos que não se filiam aos estúdios majoritários norte-americanos. Desconheço seu filme “Dead End” mas este “Incertezas”(Uncertainty/EUA,2010) salta aos olhos. É um exercício de estilo como não se vê, habitualmente, em nenhuma cinematografia. O titulo reflete um tema: a primeira sequencia é a de um casal que de forma monossilábica refere algo que está num processo decisório entre eles. Em seguida, a câmera capta-os na Ponte de Brooklyn decidindo para onde ir. Resolvem apostar numa moeda (cara ou coroa). Não se sabe o que dá nem o que vale cada efígie escolhida. Eles correm cada um para um lado da ponte. Em seguida o filme ganha matizes: verde e amarelo. Pensa-se de imediato que tem a ver com os semáforos. Mas falta o vermelho. E logo se passa a seguir duas tramas, tratadas simultaneamente e só discernidas porque em cada uma os personagens usam roupa de uma cor (a cor preconizada na espécie de prólogo). Com camisa amarela sabe-se que Bobby(Joseph Gordon-Levitt) achou um celular cobiçado por mais de uma pessoa. A cobiça é tanta que chega a ser avaliada em 500 mil dólares. Mas ao encalço do aparelho surgem estereótipos de terroristas. Ele e a namorada Kate(Lynn Collins), que está grávida e indecisa (também) com relação a levar ou não avante a gravidez, passam a fugir dos vilões mal-encarados. Entre seqüências de suspense surgem planos do casal na casa dos pais de Kate. Os problemas familiares são mostrados superficialmente. E a jovem, que é bailarina com ingresso em uma peça na Broadway, só conta o fato da gravidez primeiramente, à sua irmã. Nesse período os namorados acham uma cadela na rua e a levam consigo.
O filme termina com os casais nos dois tempos e na mesma ponte do inicio. As situações que vivem essas figuras em tempos distintos que não se sabe qual o primeiro a ser vivido (ou em vivência) não são solucionadas. Permanece a incerteza para onde seguirão. Planos alternados os mostram andando. A ponte é a metáfora. O caminho que a câmera observa de longe é a planta de um destino incerto. O titulo do filme.
Alguns críticos norte-americanos reclamaram as reticências que seguem a trama (ou as tramas). Poucos alertaram para a novidade formal. Não me lembro de ter visto uma narrativa tão criadora em muitos anos. E não me parece gratuita. Dois destinos para duas pessoas são observados simultaneamente como ilustração de uma incerteza que cerca essas pessoas desde o primeiro plano gravado. Em um deles a trama policial ganha corpo e prende a atenção do espectador. Mas o contraste com o outro destino, mais um romance que não se sabe como vai fechar, serve também de contraste. Os enamorados estão nas duas histórias bem unidos. Se esta união é suficientemente forte para um relacionamento mais forte, o perigo que enfrentam por conta do celular achado é um argumento a convencer. E não é só isso. A incerteza está, também, no resultado da união: o filho gerado há 11 semanas deve nascer? A família, pelo menos de um lado, é importante na decisão? Ou cabe uma volta ao espaço, não necessariamente no tempo, para jogar outra moeda na ponte? Ou simplesmente andar pela ponte até chegar a um “outro lugar”?
Um filme muito curioso. Não chegou aos nossos cinemas, mas está disponível em DVD nas locadoras (FOXVIDEO). É um exemplo muito sugestivo da cinematografia independente, a que se lança em festivais e circuitos exibidores menores e mais ligados ao que ainda se chama de “filme de arte”. Vale a pena conhecer.
DVDS MAIS LOCADOS(FOXVIDEO)
1. O Ritual
2. Eu Sou o Número Quatro
3. Rio
4. Sem Limites
5. O Concerto
6. Rango
7. As Mães de Chico Xavier
8. Jogo de Poder
9. Passe Livre
10. Esposa de Mentirinha