terça-feira, 28 de dezembro de 2010

OS MEUS MELHORES DE 2010



Escolha de filmes tem um certo "que" de dúvidas. Este ou aquele em primeiro lugar? Na verdade, apesar de avaliarmos alguma coisa considerando objetivamente as nossas regras de acúmulos e de cálculo pelo que contribuiram para a estética, há sempre, para os filmes, a sujetividade favorecendo o aspecto de definição dos "lugares" que este ou aquele deve ser colocado. Não digo também que não há isenção política. Mas esse jogo é de alguma forma benéfico para um devaneio pessoal.
Como já foi exposto nesta coluna e neste blog, o ano de 2010 não primou por uma significativa exibição de obras primas como já ocorreu. As indicações deste ano renderam "dor de cabeça" para pinçar da lista geral aquele filme mais representativo do que os outros. Se um filme avaliado tinha 70% de referenciais interessantes perdia para outro que apresentava 80 ou 90% de outros aspectos. Assim, a minha lista abaixo representa essa odisséia de buscas, mas diz também de meu momento neste final de ano.
Embora não explícito na reunião da ACPPA, registro que para suprir as escolhas o cinema “extra” ou a exibição nas salas alternativas favoreceu a contribuição de títulos que foram inscritos entre os melhores. Na minha lista, em particular, alguns “extras” estão referidos, num total de seis: como os de Campanella, Almodovar, Wood Allen, Lone Scherfig, Joe Wright e de Sven Taddicken).
Isto quer dizer que esses títulos diferenciam-se daqueles que as salas comerciais lançam semanalmente. Com isso, quero lembrar as saudosas sessões Moviecom Arte e que ficaram na memória porque representavam o diferencial das salas comerciais em Belém. Vamos esperar que essas sessões retornem e que também a Empresa Cinépolis conceda para o cinéfilo belenense ao menos uma sessão semelhante. Espera-se, também, o prosseguimento dos programas do “Líbero Luxardo”, Cine Estação” (retornado as matinais de domingo), Olympia, IAP (CC Alexandrino Moreira), Casa da Linguagem (CC Pedro Veriano), Auditório Benedito Nunes (Livraria Saraiva) e CC Manoel Carneiro Pinto (Castanhal).

OS MELHORES FILMES:

1.O Segredo De Seus Olhos( Juan José Campanella)
2.Abraços Partidos ( Pedro Almodóvar )
3.Toy Story 3 (Lee Unkrich)
4.Preciosa (Lee Daniels)
5.Rede Social (David Fincher).
6.Tudo Pode Dar Certo( Woody Allen )
7.Educação ( Lone Scherfig )
8.O Solista (Joe Wright)
9.A Alegria De Emma( Sven Taddicken)
10. Tropa De Elite 2 (José Padilha)

OUTRAS CATEGORIAS:
Melhor Diretor - Juan José Campanella (O Segredo De Seus Olhos)

Melhor Ator - Ricardo Darin (O Segredo de Seus Olhos)

Melhor Atriz - Gabourey Sidibe(Preciosa)

Melhor Ator Coadjuvante - Christopher Plummer (O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus)

Melhor Atriz Coadjuvante - Mo’Nique (Preciosa)

Roteiro Original - Pedro Almodóvar (ABRAÇOS PÁRTIDOS)

Roteiro Adaptado - Eduardo Sacheri e Juan Jose Campanella (O Segredo De Seus Olhos)

Melhor Fotografia - Nicola Pecorini (O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus)

Melhor Montagem - Daniel Rezende (Tropa de Elite 2)

Melhor animação - Toy Story 3 (Pixar/Disney)

Melhor Efeitos Visuais e Efeitos Especiais- A Origem

Melhor Direção de Arte - O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus

Melhor Trilha Sonora - Jeff Danna e Mychael Danna ( Dr. Parnassus)

Melhor Música - Dario Marinelli (O Solista )

Melhor Figurino - Sandy Powell (A Jovem Rainha Vitória)

Melhor Documentário - SENNA (Asif Kapadia)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

OS FILMES DE 2010 E OS MELHORES DA ACCPA








Tratar da persistência na escolha de filmes ano após ano é mostrar que a vida é essa, cheia de percursos nos vários labirintos que concorrem para nos deixar sempre mais ansiosos no “que fazer” diante das escolhas. A ACCPA tem uma história de quase quarenta anos nesse metier. Com novos sócios e com outras “cabeças” que pensam o cinema de várias formas, vamos trilhando os dias e as atividades procurando cooperar culturalmente com a comunidade belenense sempre na fé de que algum seguidor nos siga e, ao mesmo tempo, tome sua própria “linha de viagem”. Democraticamente nos respeitamos e convivemos com as diferenças. É isso o que nos faz cada vez mais próximos e, principalmente, amigos: o respeito, a ética, o amor ao cinema.

Na terça última, 21/12, os membros da ACCPA se reuniram, trocaram presentes, brindaram o ano e desfilaram suas listas pessoais dos melhores filmes que cruzaram as salas de cinema (comercial e extra) de Belém. Somente o registro-síntese da cada uma está abaixo, mas serão oportunamente editadas as listas integrais apresentadas na ocasião.

Antes de anotar as listas, duas correções à coluna Panorama do dia 23/12: “A Origem” foi eleito o melhor filme em efeitos especiais. “Tropa de Elite 2” e não 3, como registrado.

Melhores filmes:

Luzia Álvares (O Liberal)
1) O Segredo De Seus Olhos;
2) Abraços Partidos;
3) Toy Story 3;
4) Preciosa;
5. Rede Social;
6) Tudo Pode Dar Certo;
7) Educação;
8) O Solista;
9) A Alegria De Emma;
10) Tropa De Elite 2
2.Pedro Veriano (A Voz de Nazaré)
1) O Segredo de Seus Olhos;
2) Tropa de Elite 2;
3) Toy Story 3;
4) O Solista;
5) Amor sem Escalas;
6) Rede Social;
7) Enterrado Vivo;
8) A Alegria de Emma;
9) Preciosa;
10) Tudo Pode Dar Certo.

Ismaelino Pinto (O Liberal)
1 - A origem;
2) Preciosa;
3- A alegria de Emma;
4) Luzes na Escuridão;
5) Tudo Pode dar certo;
6) Luzes na Escuridão;
7) Amores Parisienses;
8) A testemunha;
9) Abraços Partidos;
10) Educação.
Fernando Segtovick (cineasta)
1)À Prova de Morte;
2)Toy Story;
3) O Segredo de Seus Olhos;
4) A Origem;
5) O Fantástico Sr. Raposo;
6)Tudo Pode dar Certo;
7)Alice no País das Maravilhas;
8)Tropa de Elite 2;
9) A Ilha do Medo;
10) Guerra ao Terror.

Francisco Cardoso (Jornal UNAMA)
1) O segredo dos seus olhos;
2) O Solista;
3) O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus;
4) Abraços Partidos;
5) Tudo Pode dar Certo;
6) Educação;
7) Tropa de Elite 2;
8) Paris;
9) À Prova de Morte;
10) Amores Parisienses.

Dedé Mesquita (Amazônia Jornal)
1) O segredo dos seus olhos;
2) Educação; 3) A origem;
4) Alice no País das Maravilhas;
5) Toy Story 3;
6) Tudo pode dar certo;
7) A teta assustada;
8) Tropa de elite 2;
9) Abraços partidos;
10) Preciosa.

José Augusto Pachêco (Cine Estação)
1). A Religiosa Portuguesa;
2) Luzes Na Escuridão;
3) O Mundo Imaginário Do Dr.Parnassus;
4) Abraços Partidos;
5) A Rede Social;
6) As Testemunhas;
7) À Prova De Morte;
8) Os Famosos Duendes Da Morte ;
9) Tudo Pode Dar Certo;
10) A Origem.

Marco Antonio Moreira (Revista TROPPO)
1)A Religiosa Portuguesa ;
2)Tudo Pode dar Certo ;
3)A Alegria de Emma ;
4)A Origem;
5)O Segredo dos seus Olhos ;
6)Khamsa ;
7)O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus ;
8)A Rede Social ;
9)Os Famosos e os Duendes da Morte ;
10)Vício Frenético.

Arnaldo Prado Junior
1) A Religiosa Portuguesa;
2) Abraços Partidos;
3) O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus;
4) A Rede Social;
5) À Prova da Morte;
6) A Origem;
7) Preciosa;
8) O Segredo dos Seus Olhos;
9) Tudo Pode Dar Certo;
10) Paris.

José Otávio Pinto
1) A religiosa portuguesa;
3) Vício Frenético;
4) Amores parisienses;
5) A ilha do medo;
6) Luzes na escuridão;
7) Duas Senhoras ;
8) Invictus ;
9) A suprema felicidade;
10) A rede social.

Maiolino Miranda
1)O segredo dos seus olhos;
2) O Solista;
3) Tudo pode dar certo;
4) A jovem rainha Vitória;
5) O Mundo imaginário do Dr. Parnassus;
6) Um segredo em família ;
7) A ilha do medo;
8) Luzes na Escuridão ;
9) Abraços partidos;
10) Alice no país das maravilhas.

Jesse Eisemberg em "Rede Social

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

OS CAMINHOS DO NATAL E A VEZ DOS FILMES





Não é de surpreender a cada ano a industria cinematográfica comercializar uma enxurrada de filmes sem qualidade. Alguns nem chegam ao mercado exibidor do filme mas se transformam em cópias de outra midia – DVD – procurando garantir os lucros que poderiam ser perdidos com os custos da produção. Realizações duvidosas às vezes sobressaem pelo assunto que nem sempre tem argumento original ou inédito, mas geralmente se mesclam a idéias que já foram lançadas para o público. Estruturas recorrentes endossam os “remakes” e são tratados como originais. Isso foi muito testado nos lançamentos deste ano de 2010.
Mas o presente texto quer ir além do cinema e se reportar ao assunto de hoje, o dia de Natal. Cinema temático saído do forno hollywoodiano não esquece a data. Tem sempre uma fresta para dizer como se portar nesse dia. Só um dia? Muitos dias? Só sentimento? Que sentimento? Não o que levou o “Esqueceram de Mim” a sair do sério e fazer mais dois ou três exemplares. A comédia sobrevive das idiossincrasias de qualquer gente e refere às situações absurdas para melhor fazer rir. O cinema do absurdo pode ser visto nos filmes fellinianos, mas a filosofia que o embasa não se enquadra no desta “penca” de descartáveis lançados a granel. Fellini prefere fugir com Giulietta dos Espíritos para além do amor e arriscar uma carta para certificar à amada que o sentimento é sério e carece de perdão quando “perde a linha”.

Lembro de um Natal que daria um filme. O último passado na família abaetetubense dos Reis Miranda, sem minha mãe viva. Nossa árvore se fazia de gravetos tirados no “bosque” (perto da casa de meu tio João Reis) e a beleza da arquitetura construída era a criatividade de minha mãe em considerar a relação entre a família, a festa e a importância de estimular o espírito de amor ao próximo (sendo este não só ditado pela biologia, mas pela pobreza, pela falta de amor que alguns “próximos” sentiam), na hora de fazer a festa. A procura da armação para a árvore já se constituía num aprendizado. Em grupo, a família ia buscar no “campo de aviação” a melhor ramagem para transformá-la em “árvore de natal”. Do papel crepom verde ao algodão feito neve, dos anjinhos desenhados e recortados aos miosótis feitos para a ocasião e emblematicamente apostos nos flocos brancos, dos “beijo de moça” que recheavam os saquinhos de papel, à areia, as pedras e o pedaço de espelho que se mantinham na base do tronco da ramagem, tudo se conservava numa condição mesclada de europeismo (neve, lago etc) para desabar nas marcas especiais dos docinhos regionais e das mensagens natalinas ensacadas e subscritas para um ou outro filho, conforme a filosofia que se detinha num dito a ser pronunciado com solenidade, no grande dia, após a “missa do galo”.

Num certo ano, ela deixou para nós apenas um saquinho esquecido num armário, com pedaços de palavras que haviam sobrado da fome das baratas da “lição individual a cada filho e que poderia adequar-se a qualquer um dos três que passavam juntos o primeiro Natal sem ela. Os dizeres lembravam um norte a ser seguido, sem terminativo definido, por culpa do inseto da vez que os deixou (os dizeres) interminados. Dava-nos, então maior responsabilidade. Não sabíamos o que fazer, mas tínhamos um horizonte a seguir porque fora partilhado em muitos anos de convívio com a mãe. O Natal ficou para sempre. A responsabilidade em fazer o que ela supunha o melhor para nós, ainda estamos fazendo até ao “grande encontro” e saber-lhe o que queria de nós. O “beijo de moça”? Ainda adoça a nossa vida e espera adoçar a dos que nos estão próximos.

Quem faria este filme? Jean-Luc Godard responderia com um “week-end” prolongado e visibilizaria a mensagem de minha mãe como uma incógnita do que é “viver a vida”. Talvez o “script” falasse “duas ou três coisas que soubesse dela” e responsabilizasse a árvore como a grande personagem da história em que se constitui a existência de uma pessoa. Sem terminativos, portanto.

Federico Fellini encontraria no sagrado familiar as noções para além de Cabíria, aquela que perdeu tudo, mas que se refez com o canto dos palhaços. E a vida continua, diria ele.

Ingmar Bergman levaria a cena para Färo e daria o papel principal para Liv Ullman tramar a “persona”. Alma seria a grande dama e manteria a mensagem natalina secionada. As múltiplas vidas de sua personalidade seriam reveladas através de “gritos e sussurros”, onde homens e mulheres morrem e renascem ao som do solene carrilhão e das cortinas sangrantes.

Charles Chaplin chamaria a si a comédia e daria um riso ao sentir nas mãos o polvilho desfeito do “beijo...”, ao abocanhá-lo para matar a fome de Carlitos.

Glauber Rocha mostraria seu imenso amor pela humanidade ao transformar um pequeno núcleo onde tudo aconteceu (árvore, mãe, filhos, saquinho de doce) na grande irmandade que deve ir em busca da paz pela “idade da terra”, vendo “Rosa e Manoel” achando na água do mar a sua grande metáfora de viver a vida.

E Frank Capra evidenciaria a importância da vida da minha mãe e lembraria o “outro lado”, demonstrando como seria a família e a própria cidade se minha mãe não tivesse nascido.

Este texto, mesclado de intimidade e de pedaços insertos da minha profissão, eu dedico a todos os meus leitores e para os meus amigos. Obrigada pelo que de melhor tivemos neste ano que termina. Um Feliz Natal para todos nós!

(Publicado em 2000, n' O Liberal". Refiz o texto com algumas modificações)


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ACCPA - OS MELHORES FILMES DO ANO





Cumprindo uma tradição que se aproxima do cinquentenário, a Associação de Criticos Cinematográficos do Pará (ACCPA), escolheu, nesta 3ª feira, os melhores do cinema em termos locais.

Votaram os criticos: Pedro Veriano, Marco Antonio Moreira, Arnaldo Prado Jr, Francisco Cardoso, José Otávio Pinto, Dedé Mesquita, Fernando Segtowick, José Augusto Pacheco, Ismaelino Pinto, Maiolino Miranda e esta blogueira (também colunista de "Panorama"). Deixaram de votar o fundador da associação, Acyr Castro, e, ainda, Vicente Cecim.

É importante considerar que cada membro tem sua escolha pessoal marcada pela formação e sensibilidade sobre o filme que indica, embora mantenha os critérios estéticos que os agrega em uma versão democrática com regras a serem seguidas. Passo aos leitores em dois tempos o resultado da aferição. E aproveito para agradecer aos colegas reunidos no trabalho e na confraternização natalina as felicitações e menções pessoais pelo 38° aniversário da coluna, reconhecida como a mais antiga no plano regional.

Os filmes da Relação Geral:


1. O Segredo De Seus Olhos ( Juan José Campanella ) – 67 pts
2. Tudo Pode Dar Certo ( Woody Allen ) – 49 pts.
3. A Religiosa Portuguesa (Eugéne Green) – 40 pts
4. Abraços Partidos ( Pedro Almodóvar ) – 38 pts.
A Origem (Christopher Nolan) - 38 pts.
6. O Mundo Imaginário Do Dr.Parnassus(Terry Gilliam) – 34 pts
7. Toy Story 3 (Lee Unkrich) – 31 pts.
8. Rede Social (David Fincher) – 28 pts.
O Solista (Joe Wright) – 28 pts.
10. Luzes Na Escuridão(Aki Kaurismaki) – 24 pts.

Entre as demais categorias mais votadas:

Diretor - Juan José Campanella (O Segredo De Seus Olhos)
Ator - Ricardo Darin (O Segredo De Seus Olhos)
Atriz - Gabourey Sidibe (Preciosa)
Ator Coadjuvante – Christopher Plummer (O Mundo Imaginário Do Dr.Parnassus)



  • Atriz Coadjuvante - Mo’Nique (Preciosa)
    Roteiro original - Christopher Nolan (A Origem)
    Roteiro Adaptado - Aaron Sorkin ( Rede Social)
    Fotografia - Terry Gillian e Charles McKeown (O Mundo Imaginário Do Dr.Parnassus)
    Montagem – Lee Smith ( A Origem)
    Cenografia – Anastasia Masaro (O Mundo Imaginário Do Dr.Parnassus)
    Trilha Sonora – Trent Reznor e Atticus Ross ( A Rede Social)
    Efeitos Especiais e Visuais – Steve Cremin e Elizabeth Asai e equipe (A Origem)
    Musica /Canção – Dario Marianelli ( O Solista)
    Figurino - Sandy Powell (A Jovem Rainha Vitória)
    Animação – Toy Story 3 ( Lee Unkrich)
    Documentário – Senna (Asif Kapadia)

    Na oportunidade, foram votadas também:

  • Destaque do ano ao Cinema Brasileiro – “Tropa de Elite 2” - pelo significativo desempenho nas bilheterias nacionais, desbancando as produções estrangeiras.

  • Menções Especiais:

    • a) À Empresa Cinépolis: pela criação de novas salas de cinema na cidade de Belém.

    • b) A Fernando Segtovich – membro da ACCPA, que vem se consolidando na direção de filmes com premiação recente no Festival de Brasília(“Matinta”) e a Vitor de Souza Lima (“Mãos de Outubro”).

    • c) À UFPA, pela criação de um Curso de Graduação em Cinema.

    • d) Aos 38 anos de Panorama em “O Liberal”.

    • e) Voto de confiança na àrea de Cultura do novo governo do Estado do Pará.



quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ENTERRADO VIVO





O diretor espanhol Rodrigo Cortés foi responsável tem cinco curtas metragens em sua filmografia e já foi premiado pelo National Board of Review. O roteiro do segundo filme de longa metragem “Enterrado Vivo”(Buried/Espanha,2010, 95 min.), em exibição em Belém, desafiou o sistema de produção cinematográfica no que concerne a um longa de objetivo comercial. Isto porque a ação se dá inteiramente dentro de um caixão a dois metros abaixo do solo onde se acha Paul Conroy (Rian Reynolds). Trata-se de um motorista norte-americano atacado com seus companheiros enquanto trabalhavam, sendo ele sepultado no campo de guerra, por iraquianos que desejam documentar o que se passa com ele para obter resgate do país invasor de seu país.


O texto de Chris Sparling não dá concessões a flashbacks ou qualquer outra imagem de fora do caixão de Conroy (no máximo há uma transmissão via celular da morte de uma refém). É todo tempo o homem angustiado pedindo que o salvem da situação desesperadora.


A idéia não é só lembrar o conto do escritor, poeta, crítico literário norte-americano Edgar Allan Poe que em 1850 escreveu “The Premature Burial” gerando o filme “Obsessão Macabra” /EUA, 1962 dirigido por Roger Corman. O enterrado de Cortés se acha com algumas peças vitais para a demanda objetiva dos seus perseguidores: ganha um isqueiro, um telefone celular, uma lanterna e um bilhete dos iraquianos informando-o de que está sofrendo um seqüestro e que ele deve filmar, com o celular, tudo o que está vivendo ali, para que as imagens sejam transmitidas aos seus patrícios e, com isso, estes resolvam pagar aos “terroristas”o resgate de ao menos um milhão de dólares.


O personagem luta pela preservação do oxigênio e da bateria de seu telefone. Liga para as autoridades de seu país e para seus empregadores e se defronta com uma gélida burocracia estatal e empresarial. Daí o filme caminhar para outro setor além do suspense gerado na agonia do motorista (que não é um militar, mas um civil em serviço). Passa pela critica à guerra iniciada na invasão do Iraque, caminha pelo pouco caso que se dá à vida humana, navega pela lentidão do processo institucional nas áreas de governo e num emprego pouco afeito à situação social de seus funcionários e mostra as prioridades de quem se vê perto da morte em confronto com as leis determinantes dos contratos de trabalho.


As filmagens no ambiente proposto foram difíceis e isto é de inicio percebido. Quase toda a narrativa é composta de closes. Grande esforço para o ator, idem para a câmera, um desafio de iluminação que se amplia na preferência pela lente anamorfica.


O filme impressiona. As telas pretas e o silêncio são pontuações inventivas como elementos de suspense, gerando o escape de uma integração absoluta ao comercialismo e mostrando uma narrativa pouco usual porque deixa de oferecer tipificações emblemáticas para aproximar o personagem do sentimento emotivo mais vulgar do público. Que está mais interessado em saber que dispositivos serão efetivamente revelados para a salvação da vítima. A obviedade da ação se torna então um limite à narrativa visto que tolhe o personagem de acesso a buscar uma saída daquela prisão radical. Ele tem apenas que se contentar com seus interlocutores externos - a família, o sequestrador, a empresa onde trabalha, a burocracia do governo norte-americano. Que constroem, pelo diálogo mantido, a disposição em funcionar como espectadores e buscadores do local onde a vítima se acha enterrada. Este elemento é que torna ligada a ação e o conhecimento gradual da situação em processo de término caso as condições objetivas que dão apoio ao motorista se mantenham até uma operação-resgate.


O filme tem seus fraquejos técnicos e a licença ao suspense de manter com energia quem está quase sem ar no fundo da terra parece ser falhas “mecânicas”, como o manejo do celular, notado por um crítico do filme. Mas não há concessão. As palavras finais de um soldado em vias de morrer sintetizam a critica que se faz ao conflito que se arrasta por muitos anos (e a temática amplia o cenário quando o fato de uma pessoa estar enterrada quer dizer esquecida). Mas é original e contundente, com uma edição prodigiosa do próprio diretor.


HOMENAGEM


Na reunião da crítica local realizada no último dia 21 para eleição dos melhores filmes do ano foi sentida a ausência do fundador da Associação de Críticos, Acyr Castro, que se desculpou por ter reduzido suas idas ao cinema durante o ano. Logo mais Acyr será homenageado pela Imprensa Oficial, onde atuou como diretor em um período de governo do Estado.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

DEMÔNIO




Recortes em versões cinematográficas sobre a figura do demônio são imensuráveis. O mito se disfarça sob várias situações e sempre elaborado por mãos de cineastas que ou tem na ideologia do mito sua peça fundante na maneira de enfrentá-lo pelas idéias críticas sobre ele ou aqueles que pretendem usar o artificio para chamar público para as salas de exibição. É possivel achar outras motivações, pois, não se deve absolutizar as opções humanas por este ou aquele modo de ser ou fazer coisas.

O mais recente filme sobre o tema, “Demôno” (Demom-EUA,2010), tem base em uma história do conhecido cineasta M. Night Shyamalan e dirigida por John Erick Dowdle. A situação explorada na perspectiva de suspense capta um grupo de pessoas entre si desconhecidas, no interior do elevador de um edificio onde circulam diariamente milhares de indivíduos. Em dado momento, o ascensor pára e o grupo supõe ser alguma anomalia da máquina e que esta será consertada logo que os responsáveis pelo maquinário fossem acionados. Isto se faz, mas há outras situações tendentes a demonstrar, tanto para os que se acham naquela circunstância de impotência em acionar os botões como para os técnicos que devem resolver o problema efetivo que este não se trata de um plano de fácil definição, pois outros componentes passam a ser atrelados ao cenário interno e externo do episódio. Contando mais com a tecnologia a mão para desmontar a ocorrência, policiais, bombeiros e especialistas se desdobram na mais árdua batalha para sanar o defeito da máquina e tirar do “inferno” as cinco pessoas que se acham presas no elevador. O cenário, visto através das câmeras internas de video, tem outra explicação para um dos vigilantes do edifício, um latino, que reproduz histórias de sua mãe sobre a presença do demônio naquela fatídico caso. Sim, porque a cada apagar das luzes no interior do elevador, uma pessoa aparece morta. Quem é o assassino? Quem agregou-as e montou o sinistro espaço para realizar um acerto de contas entre elas?

Apoiada nas análises de Gaudreault & Jost (2009) que tratam da narrativa cinematográfica sob a ótica de vários téoricos, em especial de Christian Metz (vários estudos e datas) é possivel observar que “Demônio” “põe em jogo duas temporalidades: por um lado, aquela da coisa narrada; por outro, a temporalidade da narração propriamante dita” (p. 33). Isso quer dizer que há um sequência mais ou menos cronólogica dos acontecimentos, e outra que tem a ver com o significante, deslocado para o espectador ao percorrer o “tempo da visão” para o que está observando no filme. Trata-se de um discurso (toda a narrativa é um) que argumenta, demonstra e ensina, entre outras coisas, as situações que são vivenciadas nas tomadas captadas no interior do elevador. Até mesmo o “ser imaterial” detectado pelo vigilante latino, opinião não considerada pelos seus colegas e pela polícia – como relevante e nem real – faz parte do que é suposto como emblemático para a relação fantástica dos episódios agressivos e mortais plasmada entre a escuridão e a luz e processados nesse cenário.

No aspecto narrativo, os acontecimentos que se expressam à vista do grupo fechado e se deslocam para o espectador se tornam a “unidade fundamental” visto que para este grupo convergem as ações que constróem os fatos e também o olhar apreensivo do público. Tornam-se enunciados (imagens e não palavras) que definem a narrativa e legitimam uma análise estrutural. O que está ocorrendo naquele microcosmo tem aspectos concretos – mortes, sofrimento, estresses dos que estão diretamente expostos – mas aos poucos se deslocam para captar o aspecto de fatos sobrenaturais como os supostos débitos/culpa de cada um dos circunstantes que se agregaram no elevador (mesmo que a situação evidencie a aleatoriedade do agrupamento) como vítimas, e também aos que são chamados para dar suporte a resoluçao do caso.

A análise mais profunda de um filme não se resume ao que o público supõe do cronista contar a história e deixar suas noções artificiais do que motivou a ação ou ao pódio da criação artistica pd. Deve ser visto como um elemento didático para mostrar que a teoria do filme não se faz apenas de análise de “obras de arte”, mas também do filme comercial comum que no dia-a-dia invade os lares e as opções do público. Esse é o meio edicativo do cinema, a meu ver.

“Demônio” tem as dificuldades dos filmes que exploram as tipificações e, ao criar o suspense, prescreve o resultado das opiniões do/a espectador/a. Essa seria a lâmina que corta o esboço de uma obra mais de cinema pq como já realizou sobre o tema( O Olho do Diabo, 1960), para ficar só nele, Ingmar Bergman.



segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

‘OS COMPANHEIROS” EM DVD



Um lançamento em DVD há muito reclamado pelos cinéfilos: “Os Companheiros” (I Compagni/Itália, 1963) de Mario Monicelli já deve estar nas locadoras locais. Os que já assistiram ao filme têm presente memoráveis figuras como: o “Professor Sinigaglia” vivido por Marcello Mastroianni; o trabalhador “força bruta” Pautasso, incorporado por Folco Lulli; o mestre-escola Di Meo representado por François Pérrier, enfim, uma série de personagens carismáticos, tipos que ficaram na lembrança de quem freqüentou o cinema-e, no caso de Belém, no saudoso Cinema 1.

O diretor italiano Mario Monicelli, falecido recentemente, criou muitas comédias no cinema. Mas a sua arte de fazer rir nunca foi a de provocar o riso inconseqüente e fácil, sem causa aparente. Sempre as situações hilariantes estiveram embutidas em problemas sociais. E “Os Companheiros” é o melhor exemplo disso. O enfoque é sobre os operários de uma fabrica de tecidos, no fim do século XIX, que resolvem fazer uma greve pela diminuição do horário de trabalho e pelas condições ambientais. Naquela época isso era raro e dramático. A reação dos patrões foi violenta. E os operários foram apoiados por um professor que havia chegado em um vagão de carga do trem da linha, sem que se soubesse seu currículo.

Um grande filme que está entre os melhores da história do cinema italiano, e num tempo em que os grandes nomes, surgidos do movimento neo-realista, ainda estavam atuantes em obras de vulto.

No grupo de filmes recentes chega em tempo recorde “A Origem” (Inception/EUA,2010)o filme de Christopher Nolan (“Batman, O Cavaleiro das Trevas”). A idéia muito original e curiosa trata de uma técnica que permite a uma pessoa invadir a mente de outra e formular idéias novas. Esta é a missão de Don Cobb (Leonardo di Caprio), contratado para moldar a reação de um jovem herdeiro de forma que a herança do pai seja expandida e não restrita como o falecido dono desejava. O único problema da realização é que a proposta comercial exigiu cenas de ação com muitos efeitos especiais, dominando a trama que trazia uma proposta de viagem pelo intimo de uma pessoa. Mesmo assim, o filme está fadado a ganhar a estatueta do Oscar em fevereiro próximo.

Outro clássico aportando nas locadoras belenenses é o filme que revelou o diretor Francesco Rosi, “O Bandido Giuliano” (Salvatore Giuliano/Itália, 1962). A narrativa lembra uma tele reportagem, acompanhando a trajetória (real) de um herói popular siciliano que se esconde na campina da ilha para fugir à perseguição , acusado de ter morto um carabineiro. É a Sicilia dos anos 50. Marcou época.

“Bodas de Satã” (The Devil Rides Out/UK 1973) é um dos muitos filmes de terror da Hammer, empresa inglesa especializada no gênero. O ator veterano Christopher Lee, o Drácula da companhia, interpreta um místico que combate adoradores do diabo. O diretor Terence Fisher em sua época era respeitado como o mais eficiente desse tipo de cinema e produtora. Não é um de seus melhores trabalhos, mas comparado com muito do que se faz hoje está bem acima da média.

“Montecarlo”(EUA,1930) é uma das operetas de Ernst Lubitsch, cineasta alemão que realizou comédias clássicas nos EUA depois de uma produção eclética em seu país. No titulo, ora editado no Brasil em DVD, observa-se a influência de sucessos anteriores como “Alvorada do Amor”, Jeannette MacDonald namora e canta. Quem gosta aplaude, mas atualmente esse gênero tem perdido a admiração para os novos cinéfilos.

E os primeiros filmes de Claude Chabrol também chegam em DVD. Depois de “Os Primos” (Les Cousins) está circulando o primeiro longa do diretor: “Nas Garras do Vicio”(Le Beau Serge). Os temas se tocam: conflitos entre pessoas que foram ligadas em determinado tempo e se reencontram. Jean Claude Brialy está nos dois trabalhos.


DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

1. A Origem

2. Eclipse

3. O Aprendiz de Feiticeiro

4. Karate Kid (2010)

5. A Ressaca

6. Salt

7. Shrek para Sempre

8. Além.da.Vida

9. Os Mercenários

10. Instinto de Vingança

sábado, 18 de dezembro de 2010

POUCO ESPAÇO, MUITO SUSPENSE



Dois filmes de terror chamam a atenção no lançamento das estréias desta semana, em Belém: “Enterrado Vivo” e “Demônio”. Eles devem estar em uma das salas do Cinépolis, em poucos horários.

“Enterrado Vivo” (Buried-Espanh1,2010) é uma experiência espanhola do diretor Rodrigo Cortés de um roteiro de Chris Sparing. Trata de um motorista de caminhão, no Iraque, que desconhece sua presença dentro de um caixão, enterrado, tendo apenas um telefone celular e uma lanterna. Resta esperar que o encontrem e para isso deve economizar oxigênio. O filme desafia os claustrofóbicos em hora e meia de agonia. Houve elogios às pencas da critica internacional.

“Demônio”(Demom-EUA,2010) está baseado em uma história do conhecido M. Night Shyamalan e dirigida por John Erick Dowdle. Trata-se de uma situação em que é explorada a perspectiva de suspense no interior de um elevador onde se acha um terrorista e as pessoas que estão lá dentro vivem momentos de angustia.

Os dois filmes têm em comum a exigüidade de espaço para a ação. E o suspense advindo disso.

O blockbuster da semana é “Tron, O Legado” (Tron : Legacy/EUA,2010), sequencia tardia do filme “Tron, Uma Odisséia Eletrônica”(Tron/EUA,1982) de Steve Lisberg. Naquele filme, que impressionou posto que o mundo dos computadores, então, era um mistério fascinante, um hacker, Kevin Flynn (Jeff Bridges) é projetado para dentro de um computador e forçado a participar de um game com gladiadores. Os roteiristas eram o diretor Lisberg e Bonnie MacBird. Agora, 28 anos depois, são Edward Kitzis, Adam Horowitz e mais quatro colegas que seguem o texto da dupla anterior. A direção passa a ser de Joseph Kosinski e a história gira em torno do filho de Kevin, o jovem estudante Sam (Garret Hedlund), que mergulha no mundo virtual em busca de localizar o pai. O encontro dos dois é um meio de colocar uma dupla de heróis às voltas com perigos que se adéquam às inovações de CGI (Common Geteway Interface), usando-se de cenários que se cruzam com as posturas dos intérpretes, mostrando as personagens em espaços irreais, criados por digitadores.

O filme ganha estréia internacional e, na sua produção, a Disney gastou cerca de US$ 200 milhões (o primeiro “Tron” custou US$ 80 milhões). Muitos críticos norte-americanos mostram-se céticos não só quanto ao resultado artístico como comercial. Por aqui estréiam cópias em 3D e 2D legendadas e dubladas.

Estréia também “Aparecida” (Brasil,2010), filme de Tizuka Yamazaki contando duas histórias: a de um homem de pouca fé que vê o filho sarar milagrosamente de uma doença; e o encontro da imagem de Nossa Senhora por pescadores dando margem ao culto de N.S. Aparecida, hoje considerada a Padroeira do Brasil.

Na área extra a ACCPA realiza, no cinema Olympia, a mostra de filmes com Oscarito (1906-1970), todos dirigidos por Carlos Manga. Teremos na sexta “De Vento em Popa”, para mim o melhor de todos; no sabado “Esse Milhão é Meu” e finalmente, no domingo, “O Homem do Sputnik”.

Na Sessão Cinemateca, também do Olympia, estará domingo o clássico “A Felicidade Não se Compra” de Frank Capra, uma forma de desejar um Feliz Natal aos cinéfilos locais.

Na segunda feira, no IAP, o Cine-Clube Alexandrino Moreira” exibirá Decálogo 9 : “Não Desejarás A Mulher Do Próximo” com base no enfoque de um homem impotente que descobre a infidelidade da esposa, o que dá início a uma série de conflitos. E o Decálogo 10 : “Não Cobiçaras Coisas Alheias” tratando de dois irmãos herdeiros de uma coleção de selos que vendem os mais valiosos antes de conhecerem o real valor dos mesmos.

O programa é esse. Façam suas escolhas e boa sorte!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A JOVEM RAINHA VITORIA





Provavelmente a historia da Inglaterra seja a campeã de versões cinematográficas depois da norte-americana. Com vários filmes sobre Henrique VIII e Ana Bolena está no páreo a figura da Rainha Vitória, que se tornou o mais longo reinado inglês, disputado palmo a palmo como o da atual soberana Elizabeth II.


No filme “A Jovem Rainha Vitoria” (The Young Vitoria/UK,2009) que viveu no período de 1819/1901 e cujo reinado se deu de 1837 a 1901 é interpretada pela atriz Emily Blunt. É focalizada pela câmera do diretor Jean-Marc Valée no momento em que está sendo alvo da escolha de um marido. Trata-se de um enfoque interessante sobre a cultura de gênero da época mostrando como as mulheres (século XVIII/XIX) eram “negociadas” pelos pais para desposar quem estes achassem um “bom futuro” defendendo a noção do “único destino” (o casamento) para este gênero. Isto não era só um “privilégio” real: acontecia com as jovens burguesas, inclusive na sociedade brasileira.

A jovem Vitória era a real sucessora do tio William IV, podendo conquistar um príncipe de país amigo da Inglaterra. E o mais cotado era Albert, filho do rei Leopoldo da Bélgica, que a impressionou até pela timidez com que se apresentou pela primeira vez a ela. Quando o rei morre e Vitoria é coroada rainha, o casamento com Albert é uma realização natural. Mas há o problema da autoridade. A nova monarca não abdica de seus direitos reais. O príncipe-consorte quer ter os seus. Algum atrito é mostrado no filme de modo dissimulado, com uma seqüência em que é vangloriada a teima do homem em sair da alcova ao ser expulso, a esposa impor como rainha e ele não atender. Mas o casal acaba se afinando maravilhosamente quando Vitoria, grávida do primeiro filho (ela teve nove), vê o marido protegê-la de um louco opositor sendo baleado em uma viagem de carruagem aberta. O reinado torna-se reconhecido como um dos mais profícuos da Grã Bretanha. A importância de Vitoria no cenário mundial é tão expressivo que uma planta aquática da Amazônia ganha o seu nome: Vitoria Régia.

Nas entrelinhas do enfoque entre o jogo sucessório com os líderes políticos da Monarquia Parlamentar, com predomínio dos partidos Conservador e Liberal, as formas de tratar o poder evidenciam a trama entre os dois partidos com as lideranças inclinadas em desfazer hegemonias e minar as relações entre a Coroa e o parlamento. Narrativa interessante que demonstra como a subjetividade nas relações afetivas nem sempre combinam com a objetividade do casamento da futura rainha.

O filme foi vencedor do Oscar de melhor figurino com grande merecimento. De um modo geral, a reconstituição de época mereceu os maiores cuidados. A fotografia de Hagen Bogdanski e a direção de arte de Alexandra Walker, Paul Inglis e Chris Lowe refletem a o brilho da corte e apesar da atriz Enmily Blunt ser muito diferente das gravuras (e fotos) que ficaram da monarca inglesa (de estatura baixa e meio gordinha). Também o Príncipe Albert de Rupert Friend é mais um ator de cinema. E não era de se pedir muito realismo do roteiro de Julian Fellowes, mais preocupado com o mito do que com o realismo.

Outra vantagem do filme é que a sua dinâmica narrativa consegue sintetizar o assunto focalizado sem cair no aspecto de um folhetim. Também não pinta as personagens de heróis e heroínas com vilões à espreita. Tanto que não deixa detalhes do tipo que dispara sua pistola contra a rainha, mas procure evidenciar a falta de confiança do povo em sua rainha. É um episódio político acontecido e deixado de lado visto que a sequencia determina uma nova relação entre o par e resultará no novo formato do casamento real.

Naturalmente a pretensão da equipe - de roteiristas a diretor- não foi de retratar para pesquisadores a historia da Inglaterra de 1837 a 1901. Tampouco chega a ser um conto de fadas. Veja-se mais como uma referência histórica à monarca que impulsionou o seu império numa época de grandes invenções, de reestruturação de governos. O filme também ganhou o BAFTA de cenografia e guarda-roupa e foi candidato a maioria dos prêmios internacionais de cinema.

Procurem assistir na quinta e sexta exibição no Cine Estação.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

OSCARITO




A nova e novissima geração sabem quem foi Oscarito no cinema brasileiro? E qual a motivação para esta pergunta na coluna? É que este ano comemora-se 40 anos do falecimento desse veterano ator brasileiro e em sua homenagem a ACCPA exibirá no Cine Olympia quatro das comédias interpretadas por ele e que levavam multidões aos cinemas. Numa retrospectiva em homenagem ao artista serão exibidas no mesmo espaço onde estrearam: “Nem Sansão Nem Dalila”(dias 14 e 15), “De Vento em Popa”(dias 16e 17), “Esse Milhão é Meu”(dias 18 e 19 )e “O Homem do Sputnik” dias 21 , 22 e 23).


O programa organizado dá chance a que seja lembrado e/ ou que ele seja descoberto (aos que não o conhecem) as várias faces do Oscarito, quer bancando o Sansão bíblico (e aproveitando para outra sátira a Getulio Vargas, na época presidente eleito), quer imitando Elvis Presley, ou então satirizando o funcionário público. Hilária a sua performance como o caipira que achou no quintal de sua casa o primeiro satélite artificial (o russo Sputnik). São momentos de sátira às situações da época e que abriram espaço na mesmice das chanchadas.


Para um conhecimento melhor sobre esse artista abro espaço tratando dele.


Oscar Lourenço Jacinto da Imaculada Conceição da Teresa Dias, o Oscarito, nasceu em Malaga, Espanha, em agosto de 1906. Filho de pessoas de circo, logo veio para o Brasil e não só por isso, mas por adotar o jeito carioca de ser, dizia-se brasileiro. Foi artista de circo desde os 6 anos e idade, ocupando as condições de acrobata, trapezista e palhaço. Como nesses locais havia também a encenação de peças de teatro acabou aderindo ao palco, em 1932, com a peça “Calma Gegê”, sátira ao governo Vargas (antes de se instalar a ditadura que viria 5 anos mais tarde). A partir daí foi convidado a atuar no cinema.


Em 1935 desempenhou um pequeno papel no filme “Noites Cariocas”, de Enrique Cadicamo. No ano seguinte fez uma seqüência hilária no hoje clássico “Alo Alo Carnaval” de Adhemar Gonzaga. Com a criação da produtora Atlântida, passou a atuar nas comédias dessa empresa sendo considerado o grande astro das chanchadas (como os críticos chamavam os filmes que entrecortavam as cenas dramáticas, ou melhor, cômicas, com números musicais, especialmente carnavalescos).


Muitas vezes Oscarito fez dupla com outro ator da época, Grande Otelo, marcando a memória de gerações em filmes como “Carnaval no Fogo”(1949), ”Aviso aos Navegantes”(1950), “Carnaval Atlântida”(1952), “Matar ou Correr”(1954), “Nem Sansão Nem Dalila”(1955), “Guerra ao Samba”(1956), “De Vento em Popa” (1957), “Esse Milhão É Meu”(1958) e “O Homem do Sputnik”(1959).


Oscarito também mantinha a sua raiz teatral com um grupo de familiares. Ele chegou a vir à Belém exibindo-se no Teatro da Paz com a peça “O Cupim”. Casado com a atriz Margot Louro, ao seu lado em comédias cinematográficas como “Esse Milhão é Meu”, faleceu em 4 de agosto de 1970 depois de encenar em casa um de seus passos de malandro, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC).As comédias com Oscarito levavam multidões aos cinemas. Hoje em sessões às 18 h, no Olympia com ingresso franqueado, estaremos homenageando o artista.


REGISTRO


Aproveito para registrar meu aplauso ao trabalho do colega da ACCPA Fernando Segtowick com o seu “Matinta”(Brasil, 2010) que assisti na manhã de 6ª.Feira última. O curta levou a Amazônia ao Festival de Brasília e mostrou a nossa cara a quem não nos dá crédito como bem falou na apresentação do programa a conterrânea de Abatetuba Dira Paes (melhor atriz do citado filme). O cenário está pronto para o talento e garra do Fernando para chegar ao longa. Mais sobre “Matinta” outro dia nesta coluna.


REGISTRO 2


Lembro aos leitores deste espaço que solicitam informação via email e ou telefonemas que a memória dos filmes exibidos em Belém este ano (comercial e estra) e que podem ser escolhidos nas listas de melhores deste ano já foi publicada em dois dias neste espaço. Procurem.

domingo, 12 de dezembro de 2010

FESTIVAL OSCARITO



Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Concepción Tereza Dias era filho de atores circenses. O pai era alemão, a mãe portuguesa. Oscarito nasceu na Espanha, mas com um ano de idade veio para o Brasil. Estreou aos cinco anos no circo, no papel de índio, numa adaptação de "O Guarani" de José de Alencar. Trabalhou como violinista, palhaço, acrobata e trapezista, antes de fazer sucesso como ator. Em 1932, época do teatro de revista, Oscarito foi convidado por Alfredo Breda, a satirizar o presidente Getúlio Vargas em "Calma, Gegê", no Rio de Janeiro. Em 1935 estreou no cinema em "Noites cariocas", junto a Grande Otelo, com quem faria dupla em 34 chanchadas do estúdio da Atlântida, entre as quais "É com este que eu vou", "Três vagabundos", "E o mundo se diverte", "Carnaval de fogo" e "Aviso aos navegantes".Seus filmes mais expressivos foram dirigidos por Carlos Manga: "Nem Sansão nem Dalila", "O Homem do Sputnik", "De vento em Popa" e "Matar ou correr"(uma paródia de um sucesso de Hollywood). Após vê-lo imitando Rita Hayworth no papel de Gilda, o humorista americano Bob Hope convidou Oscarito para filmar nos Estados Unidos, mas ele recusou, com medo do fracasso. Na televisão não alcançou o mesmo sucesso do cinema.Casado com Margot Louro, também de família circense, teve dois filhos. Faleceu aos 64 anos.


Em homenagem ao talento deste grande ator, o Cinema Olympia realiza um festival com alguns de seus melhores filmes. Confira a programação elaborada pela ACCPA:


“NEM SANSÃO NEM DALILA” - Dias 14 e 15/12 - Sinopse : Paródia do clássico
Sansão e Dalila, de Cecil B. DeMille. Horácio, um pacato barbeiro bate numa
máquina do tempo e vai parar no século IV a.C., no reino de Gaza. Lá, conhece
Sansão, cuja força vem de uma peruca.(1955)


“DE VENTO EM POPA” - Dias 16 e 17/12 – Sinopse : De Vento em Popa
começa num transatlânticom. Um falso tripulante, Chico (Oscarito) e Mara (Sônia
Mamede), sua parceira numa dupla sertaneja, querem participar de um show a
bordo. O show é promovido por Sérgio (Cyll Farney), que volta dos Estados Unidos
onde foi estudar energia nuclear a mando do pai, mas acabou se interessando por
bateria e música popular. Tentando iludir o pai, Sérgio convence Chico a se
passar por um famoso professor de energia nuclear e Mara, sua assistente.(1955)


“ESSE MILHÃO É MEU” - Dias 18 e 19/12 – Sinopse : Em cena, Oscarito é o simples
funcionário cuja mulher o atormenta para que ele ganhe mais dinheiro. Como o
destino não brinca em serviço, ele fatura uma bolada na loteria. A partir daí
sua vida vira de pernas para o ar.(1959)


“O HOMEM DO SPUTNIK” - Dias 21, 22 e
23/12 – Sinopse : O satélite soviético Sputnik aparentemente cai no galinheiro
de um casal brasileiro muito pobre, que entra para a alta sociedade enquanto é
perseguido por agentes russos, americanos e franceses. (1959)


HORÁRIO : 18:30H

ENTRADA FRANCA


(Sinópse ACCPA)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

OS RECOMENDADOS DA SEMANA

As estréias nas salas comerciais neste final de semana não empolgam os mais exigentes. “As Crônicas de Nárnia: A Viagem dos Peregrinos da Alvorada”(The Chronicles of Narnia:The Voyage of the Dawn Treader/EUA/UK,2010) dá prosseguimento às adaptações dos personagens criados pelo escritor C.S. Lewis na razão direta do que um espetáculo de CGI (efeitos especiais) pode gerar. Cópias dubladas e legendadas. Para o público infantil preferencialmente, mas sem a inventividade de “Megamente”, este sim, um bom programa para todas as idades.

Outra estréia é “A Sétima Alma”(My Soul to Take, EUA, 2010) filme dirigido pelo especialista em terror- B, Wes Craven (A Hora do Pesadelo). Na trama, pessoas desaparecem numa pequena comunidade, com a culpa recaindo num estripador desaparecido. Os críticos norte-americanos acharam o trabalho bem medíocre. Poucos viram qualidades embora achassem aquém do que já fez o diretor.

Os recomendados deste espaço são: “Rede Social”, “Mr. Nobody” e o citado “Megamente”.

“Rede Social” (The Social Network/EUA,2010) ainda será alvo de um comentário mais detalhado aqui na coluna. É um dos melhores programas do ano. O diretor David Fincher (“Seven, Os 7 Crimes Capitais”, “Zodiaco”) aborda as tramas engendradas pelo criador do Facebook, Mark Zuckenberg, e usa uma linguagem dinâmica, com elipses prodigiosas evidenciando momentos mais densos de uma história que começa na Universidade de Harvard e ganha o mundo, fazendo do nerd criador um bilionário. O filme, mais do que uma peça de história da informática, atenta para a estrutura de personagens sem apelar para estereotipias. Revela um lado que não se dá tanto valor nesse processo criativo que é o das parcerias e sociedades criadas para dar sustentação aos projetos em idéias e muitas vezes sem base financeira para a manutenção. O próprio biografado (visto com senso de cinema no roteiro de Aaron Sorkin) achou o filme “divertido”. “Rede...” só não se comunica com quem desconhece um mínimo do assunto abordado.

“Sr. Ninguém” (Mr, Nobody/Belgica, França, EUA,2009) confirma o talento do cineasta belga Jaco Van Dormael, um dos mais criativos do cinema atual. Ele escreve e dirige a história do homem mais velho do mundo numa época em que os seres humanos descobriram um meio de viver eternamente. A lembrança desse homem, com imagens cruzadas numa linguagem assíncrona, aborda diversas formas do conhecimento humano. Um filme excelente que a ACCPA escolheu para encerrar o ano de sua Sessão Cult no Cine Libero Luxardo, dia 11/12 às 16nh. A coluna remete os seus/as leitores/as ao blog do associado da ACCPA Arnaldo Prado Jr. (http://arnaldopradojunior.blogspot.com/) que apresenta um estudo detalhado e bastante longo sobre o filme.

“Megamente”(Megamind/EUA, 2010) foge da ingenuidade de muitas animações no tratar Bem e Mal como meios relativos, um não existindo sem o outro. Assim é que o vilão passa a ser visto como o herói. E um herói pré-fabricado facilmente transforma-se em vilão. O pêndulo da balança neste caso declina para o que é ruim, a mediocridade. Roteiro inspirado de Alan Schoolcraft e Brent Simmons dirigido por Tom McGrath (de “Madagascar”). O filme se apresenta em cópias dubladas e legendadas.

Este espaço recomenda, também, a Sessão Aventura deste domingo (12/12) do Olympia (16h) que exibirá o clássico “Capitão Blood” (Capitain Blood/EUA,1935) de Michael Curtiz, com Errol Flynn e Olivia de Havilland. A geração passada fez fila para assistí-lo no mesmo cinema.

E às 10h da sexta, 10, numa das salas do Cinépolis (Shopping Doca Boulevard) foi lançando para uma sessão à imprensa, o curtametragem de Fernando Segtovich “Matinta” (2010) que recebeu dois prêmios no recente Festival de Cinema de Brasília. Presentes à seção, os atores do filme, com evidência para Dira Paes que veio expressamente para o evento.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

OS MELHORES DO ANO - II



Prosseguindo na relação dos melhores do cinema em 2010 sob o ponto de vista de Belém do Pará, seleciono o que me pareceu de mais interessante nas categorias: atrizes, atores e atrizes coadjuvantes, roteiro animação e fotografia.


a) Melhores atrizes:

Jördis Triebel (Alegria De Emma)

Penelope Cruz (Abraços Partidos)-

Gabourey Sidibe(Preciosa)

Carey Mulligan (Educação)

Evan Rachel Wood (Tudo Pode Dar Certo).


b) Melhores roteiros:


Vicio Frenético (William M. Finkelstein)

Amor Sem Escalas (Jason Reitman e Sheldon Turner)

O Solista (Susanna Grant)

Abraços Partidos (Pedro Almodóvar)

Preciosa (Geoffrey Fletcher e Sapphire)

A Alegria De Emma(Ruth Thoma e Claudia Schreiber)

Toy Story 3 (John Lesseter e Andrew Stanton)

Educação(Lyyn Barber e Nick Hornby)

Capitão Achab (Phillipe Ramos)

Tropa De Elite 2 (Braulio Mantovani)

Tudo Pode Dar Certo (Woody Allen)

O Segredo De Seus Olhos(Eduardo Sacheri e Juan Jose Campanella)

Rede Social (Aaron Sorkin)


c) Melhor Fotografia:

Preciosa (Andrew Dunn)

O Solista(Seamus McGarvey)

Alice No País Das Maravilhas( Darius Wolski)

A Origem (Wally Pfister)

O Segredo De Seus Olhos (Felix Monti)

A Ilha Do Medo (Robert Richardson)

Harry Potter E As Reliquias Da Morte (Eduardo Serra)


d) Atores Coadjuvantes:

Zach Galifianakis (Um Parto de Viagem)

Justin Timberlake (Rede Social)

Andrew Garfield (Rede Social)

Milhem Cortaz (Tropa de Elite 2)

André Ramiro (Tropa de Elite 2)

Morgan Freeman (Invictus)

Stanley Tucci(Um Olhar do Paraiso)

Christopher Plummer (Dr Parnassus)

Frank Langhella (A Caixa)


e) Atrizes Coadjuvantes:

Vera Farmiga (Amor sem Escalas)

Mo’Nique (Preciosa)

Helen Mirren (Aposentados Perigosos)

Lily Cole (O Mundo Imaginário do Dr.Parnassus)

Gabriela Rocha(As Melhores Coisas do Mundo)

Vanessa Redgave (Cartas Para Julieta)

Patricia Clarkson (Tudo Pode Dar Certo)


f) Melhor animação:

Toy Story 3 (Pixar/Disney)

Megamente (Dream Works)

Como Domesticar O Seu Dragão (Dream Works)

Meu Malvado Favorito (Universal)

O Fantastico Sr. Raposo


A ACCPA deverá escolher também as melhores trilhas sonoras, canções, montagem, efeitos visuais entre outros .


A escolha dos melhores do ano em cinema é uma tradição da critica especializada em quase todas as cidades do mundo. Em Belém a escolha se faz desde a década de 1950, mas a partir de 1962 passou a ser organizada por uma associação de criticos, a APCC, formada por jornalistas que atuavam nos jornais existentes na época. Desde esse tempo pouco mudou em relação às categorias escolhidas. E também não se procurou sair de um encontro de confraternização natalina. As divergencias normais entre os votantes são aceitas quase sempre de modo a não ferir susceptibilidades. É claro que houve algum periodo em que as discordâncias geraram debates calorosos. Mas o bom senso prevaleceu e hoje ele é uma espécie de “porta estandarte” da manifestação.


Um grupo de colegas que tomava parte na reunião da critica já está em outro plano de vida. Lembro do permanente secretário das reuniões que contava os pontos dados aos filmes, o querido Edwaldo (Didi) Martins, como lembro de outros participantes que faziam questão de marcar a sua preferência defendendo-a com base no conhecimento da arte evocada: Rafael Costa, José Augusto Affonso II, Alexandrino Moreira, Alberto Queiroz e Raimundo Bezerra.

A associação, agora chamada ACCPA (Associação de Criticos Cinematográficos do Pará) está prestes a comemorar o seu cinquentenário. Certamente ajudou a formar platéia não só comentando como exibindo filmes através do cineclube que dirigiu.

No próximo dia 21 ela estará cumprindo a sua tarefa. E os leitores de PANORAMA seguem de perto nos seus mais de 30 anos de presença.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

HARRY POTTER E AS RELIQUIAS DA MORTE



Quando a série “Harry Potter” chegou ao cinema pelas mãos de Chris Columbus (diretor de “Uma Babá Quase Perfeita” e “Esqueceram de Mim”), o ambiente da infância, tendendo à adolescência, era reproduzido até mesmo na exposição das imagens. Uma fotografia clara, um grupo de jovens que entrava na escola (mesmo uma escola de bruxaria como Hogwarts), iluminavam a ação. Com o prosseguimento das adaptações dos livros da escritora inglesa Joan K. Rowlings, as situações foram mudando. Obviamente mudariam visto que os tipos cresciam. Mas a concepção gráfica passou a ser dark, estimulando os problemas que passaram a cercar todos os figurantes, especialmente o trio amigo composto de Harry (Daniel Radcliffe), Rony (Ruppert Grint) e Hermione (Emma Watson).

A base do novo episódio da saga, o último dos livros de Rowlings, é a busca da alma do vilão Lorde Vandemort, dividida em partes, as Horcruxes (objetos mágicos onde se inserem a alma desse bruxo, impedindo-o de morrer). Para isso, o trio sai de Hogwarts e percorre uma Londres fantasmagórica, adentrando por cenários do passado, como a casa da família de Harry e de uma tia de Rony.

O livro foi dividido em duas partes pelos estúdios da Warner por duas motivações: não só melhor adaptar o extenso volume literário como - e principalmente – visando lucrar com os momentos finais de uma franquia que apaixonou uma e meia gerações (digo assim visto que os filhos da primeira já se inscrevem no clube dos “pottermaniacos”).

Os que já conhecem a obra original sabem como vai se dar a luta quando houver apenas uma Horcruxe para fechar o encanto do vilão. Mas este segredo fica para julho do próximo ano. Neste “Reliquias da Morte 1ª. Parte” (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part I, UK, 2010, 153’) o que se vê é a gana dos bruxos malvados da escola, ou do Conselho, para matar Harry e interferir nas estratégias deste e de seus amigos para fugir aos esquemas, conseguindo, de uma feita, que várias pessoas adotem a imagem do herói.

Não há, desta vez, vôos em vassoura. Nem se tem a simpática atuação de Dumbledore (Michael Gambom), o professor amigo de Harry e que na aventura passada morreu pelas mãos de emissários de Vandermort. É a hora dos heróis se mostrarem adultos o bastante para sobreviverem aos ataques que vão de mágicas a violência explicita.

Quem acompanha a saga do bruxinho em cinema, ou conhece os livros que deram origem a ela, vai ver “Harry Potter e as Relíquias da Morte” com o prazer de quem está reencontrando familiares. Mas quem não é desse grupo ( ou dessa “tribo”), sinceramente, vai “sobrar” assistindo ao filme. Pessoalmente estou no meio do fogo, ou melhor, conheço algumas passagens das histórias através de filhas e netos (não de leitura) e confesso que me senti perdida em muitos momentos da projeção. Mas isto não invalidou a minha avaliação do que almejou realizar o diretor David Yates, o mesmo dos dois últimos filmes da série. A proposição de um mundo escuro, de uma “longa jornada dentro da noite” (a citar Eugene O’Neil) é percebida não só graças ao desenho de produção, que soube acomodar a ação em cenário ermo e amedrontador como à fotografia primorosa do português Eduardo Serra .

Os que acompanham Radcliffe e amigos sentem que os pré-adolescentes adoráveis dos anos ointenta perderam um pouco do charme na idade adulta. Mas têm sido fiéis ao que lhes reivindica um cineasta bem acomodado na trama. Os fãs da história vêem esboço de romance que deve partir para maior seriedade, apostando no namoro entre Harry e Hermione. Mas já se entende neste filme que as coisas não vão correr por aí.

“Harry Potter”fez história nos livros e nos filmes. A sua popularidade fez cienastas se voltarem para outros títulos da literatura inglesa como os de Jonald R.R. Tolkien (africano do sul que escreveu “O Senhor dos Anéis”) e C. S. Lewis (irlandês de “As Cronicas de Nánia”). Isso foi bom, pois revelou que há muitas aventuras ainda virgens para contemplar o interesse das crianças de ontem e de hoje, através do cinema e da literatura.


OS MELHORES DO ANO



Seguindo uma tradição que data de mais de 30 anos, passo aos leitores a relação dos filmes que assisti no circuito comercial e os exibidos com o aval da programação de salas onde atuam colegas da critica, no circuito alternativo. São títulos considerados na categoria entre excelente e bom.

Este ano a lista que Panorama apresenta como memória aos seus leitores e leitoras tende a ser mais condescendente devido à baixa qualidade estética dos poucos os títulos mais importantes. A ordem que uso geralmente é a da exibição.

Considero, como é do regulamento da ACCPA, os filmes exibidos em público com ingresso pago.

a) Os lançados nas salas comerciais:


SHERLOCK HOLMES(Guy Ritchie)-

VICIO FRENETICO( Werner Herzog)-

AMOR SEM ESCALAS(Jason Reitman)-

PRECIOSA (Lee Daniels)INVICTUS (Clint Eastwood)

A ILHA DO MEDO(Martin Scorsese)

A CAIXA (Richard Kelly)

O LIVRO DE ELI(Irmãos Hughes)

ALICE NO PAIS DAS MARAVILHAS(Tim Burton)

TOY STORY 3 (Lee Unkrich)

SHREK PARA SEMPRE (Mike Mitchell)

A ORIGEM (Christopher Nolan)

WALL STREET O DINHEIRO NÃO DORME (Oliver Stone)

TROPA DE ELITE 2 (José Padilha)

UM PARTO DE VIAGEM (Todd Phillips)

REDS, APOSENTADOS PERIGOSOS (Robert Schwentke)

SENNA (Asif Kapadia)-

O SOLTEIRÃO (Brian Koppelman e David Levien)

HARRY POTTER E AS RELIQUIAS DA MORTE 1ª.PARTE ((David Yates)

MEGAMENTE (Tom McGrath)

REDE SOCIAL (David Fincher).


b) As salas alternativas apresentaram filmes de qualidade superior aos comerciais. Os títulos podem ser escolhidos dos abaixo:

ATRIZES ( Valeria Bruni Tedeschi)

PARIS, ( Cédric Klapisch)

ABRAÇOS PÁRTIDOS ( Pedro Almodóvar )

A ALEGRIA DE EMMA( Sven Taddicken)

AO LADO DA PIANISTA(Denis Dercourt )

À MODA DA CASA( Nacho G. Velilla )

AS TESTEMUNHAS(André Téchiné)

EDUCAÇÃO ( Lone Scherfig )

OS FAMOSOS DUENDES DA MORTE( Esmir Filho)

UM SEGREDO EM FAMILIA( Claude Miller)

O SEGREDO DE SEUS OLHOS( Juan José Campanella )

O MUNDO IMAGINÁRIO DO DR.PARNASSUS(Terry Gilliam )

PORTUGAL S.A.(Ruy Guerra)

A RELIGIOSA PORTUGUESA( Eugène Green )

À PROVA DE MORTE(Quentin Tarantino)

AMORES PARISIENSES ( Alain Resnais)

O SOL DO MEIO DIA(Eliae Caffé)

TUDO PODE DAR CERTO( Woody Allen )

LUZES NA ESCURID]AO(Aki Kaurismaki) O SOLISTA (Joe Wright)

O FANTÁSTICO SR RAPOSO(Wes Anderson)

CAPITÃO ASHAB (Phillip Ramos)

KASHMA (Karin Dridi)

O ÚLTIMO REDUTO (Rabah Ameur-Zaimeche)

A CABEÇA DE MAMÃE (Carine Tardieu)

A JOVEM RAINHA VITÓRIA (Jean-Marc Vallé).


Quanto a categoria de diretores, os mais expressivos assinam os filmes mencionados.


c) Os atores mais destacados estão abaixo:

GEORGE CLOONEY (Amor sem Escalas)

JAMIE FOXX (O Solista)

NICOLAS CAGE (Vicio Frenético)

NELSON XAVIER (Chico Xavier)

MICHAEL DOUGLAS(Wall Street e O Solteirão)

WAGNER MOURA (Tropa de Elite 2)

ROBERT DOWNEY JR (Um Parto de Viagem –e- Sherlock Holmes)

RICARDO DARIN (O Segredo de Seus Olhos)

LARRY DAVID (Tudo Pode Dar Certo)

JESSE EISENBERG(Rede Social)


Outras categorias serão devidamente publicadas neste espaço.

No balanço geral do ano há de se considerar que o numero de filmes anotados com as melhores cotações da critica foram os menores dos ultimo períodos. A rigor, não surgiu nenhuma obra-prima. Em termos de exibição Belém ganhou mais salas exibidoras (7 do grupo Cinépolis no shopping Doca Boulevard) e foi intensa a movimentação dos extras, com muitos clássicos em salas especiais. Se fossemos considerar alguns títulos exibidos em primeira mão nesse programa e em horários específicos certamente o melhor seria “Mr. Nobody” de Jaco Van Dormael a ser exibido na sala Libero Luxardo neste sábado (11/12) despedindo, no ano, a Sessão Cult de 16 h promovido pela ACCPA. Este filme, esquecido pela distribuição brasileira, preenche as melhores expetativas dos admiradores do bom cinema.


A ACCPA está exibindo desde 8/12, no Libero Luxardo, em horários normais da sala, os títulos que o público mais aplaudiu nas suas sessões. São eles: “O Oitavo Dia”(de Jacob Van Dormael), O VENTO SERÁ TUA HERANÇA (de Stanley Kramer), CABARET (de Bob Fosse) e O INCRIVEL HOMEM QUE ENCOLHEU (de Jack Arnold).


A minha lista de melhores será publicada no final do mês. Quanto aos leitores já podem começar a enviar. Aguardo. E a da ACCPA será formulada na reunião do próximo dia 21, em mais um cumprimento de tradição, no caso a que soma cerca de 49 anos.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

SENNA



As cinebiografias geralmente ganham feitio de homenagens. Quando os roteiros dramatizam vidas de personalidades o comum é uma interpretação coletiva, ou melhor, o que se sabe dessas figuras em tom romântico. Busca-se, além de imagens de arquivo, elaborar uma rodada de depoimentos com figura que conheceram a pessoa em evidência. Os exemplos cabem em filmes de Hollywood como “Música e Lagrimas” sobre o compositor & dono de orquestra Glenn Miller. Aqui mesmo, no Brasil, dezenas de relatos cinematográficos sobre pessoas que marcaram determinadas épocas já foram editados e com relativo sucesso. Lembro “Memórias do Cárcere” sobre o escritor Graciliano Ramos e “Olga” sobre Olga Benário, companheira do político Carlos Prestes.

“Senna”(UK, 2010) é um documentário sobre o piloto brasileiro de Formula Um, Ayrton Senna. Realizado pelo cineasta inglês de descendência indiana Asif Kapadia, procura a posição um tanto original de não ser ufanista nem ser uma tele reportagem. Com material precioso, o diretor vai buscar imagens de Senna desde os seus 14 anos quando começou a realizar a sua paixão pelas corridas de carros. Há entrevistas curtas com familiares dele (e nesse ponto o filme é realmente inovador, pois, não repousa nas falas de quem conheceu o biografado) e logo passa a exibir trechos das corridas que o jovem Aytor participou ao longo dos anos.

Quem é aficcionado nesse tipo de esporte vai se satisfazer com a profusão de detalhes. Vai ver, por exemplo, como se deu a animosidade com o colega Alain Prost, como se definiu o presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Jean-Marie Balestre, no caso, um conterrâneo amigo de Prost a ponto de não hesitar em prejudicar o rival do francês em pistas como a do campeonato no Japão (neste caso Senna ganhou e não levou a taça, ficando em segundo lugar, acusado de ter deixado a corrida, fato que se vê como inverdade). E vai ver como Senna reagia depois de cada competição, de como era religioso, até mesmo um tanto místico, e como se foi tornando triste, preocupado, quando começaram mudanças nos carros, especialmente no modelo da Williams que passou a dirigir, relatando-se a trágica competição na Itália de Imola, GP de San Marino, onde, no treino, foi ferido o brasileiro Rubens Barrichello e morto Roland Ratzenberger(competição que acabaria por tirar a vida, também, do próprio Ayrton, na curva do Tamburello).

Os enxertos de documentos de época que vão de cine-jornais a filmes domésticos da família Senna são preciosos para Kapadia construir o seu filme com muita imagem e pouca fala. É um tipo incomum de documentário. E pode-se dizer que chega perto de esgotar o assunto. Em mais de hora e meia de projeção deixa a imagem de um mito nacional, do rapaz que uma fã chega a dizer e se ouve no inicio do filme como “a única coisa que o Brasil tem de bom”.

Talvez o que falte seja um quadro do Brasil no tempo em que Senna reinou. Num plano de competição nacional vê-se rapidamente Itamar Franco. Mas não se diz que o país, saído de uma ditadura, passou a lutar contra uma hiperinflação e a eleger um presidente que foi retirado do posto pouco tempo depois de eleito (Collor). Nesse quadro de dramas, a necessidade de um herói era premente. E o piloto de Fórmula Um preenchia isso. Um quadro que teve como resposta um dos maiores e comoventes funerais vistos em S. Paulo. Com Senna corria a esperança de um Brasil melhor, e se houve pode-se colocar em pauta a frase de seu médico ao atendê-lo moribundo na pista de Imola: “-Eu não sou religiosos, mas senti que nessa hora a alma dele subiu”.Um filme a ser visto por todos. Muito Bom.


domingo, 5 de dezembro de 2010

O SOLITÁRIO



Sabe-se que os títulos dos filmes estrangeiros são traduzidos, no Brasil, com vistas na possibilidade de mercado e alguns cometem desatinos passando longe do fulcro do problema tratado. Este “Solitary Man”(EUA, 2009) ganha o nome de “O Solteirão”. E começa equivocado ao se saber que o principal personagem, Bem Kalmen (Michael Douglas) já fora casado. Ao surgir na tela já consumiu um divorcio, exibe um comportamento de mocinho conquistador sem se dar conta da idade (mais de 50 anos) e solicita ao único neto que não o chame de avô, em público: “- Chame de pai.”

Na trama, o personagem Kalmen foi um empresário do ramo de carros. Era a estrela de uma concessionária até que começou a engendrar negócios escusos para aumentar seu rendimento. Isto o levou ao desemprego. Sem dinheiro e sem o charme juvenil é uma caricatura de mocinho que chega a bater e apanhar de pessoas jovens de sua convivência.O roteiro de Brian Koppelman, também diretor associado a David Leven, não se limita a biografia de um Don Juan em crepúsculo. Analisa essa resistência do homem maduro em enfrentar o tempo e se posicionar como poderia se trabalhasse honestamente. O “troco” dessa resistência é a solidão. E o que o filme quer é justamente mostrar um solitário, no caso um “looser”(perdedor).

Já se disse que os bons atores perseguem os bons papéis. Michael Douglas já foi produtor, já foi mocinho de filmes de aventuras, interpretou dramas eróticos onde reproduzia a imagem de um mulherengo alicerçado pela herança paterna (Kirk Douglas, o pai). Presentemente o ator tem investido tipos meio cafagestes, mais vilões do que heróis, e nos últimos dois anos foi este solitário que se vê agora nos cinemas brasileiros. Mais recentemente protagonizou Gekko, em “Wall Street”, o corretor da bolsa de valores que por falcatruas vai preso e ao ser libertado prossegue engendrando artimanhas lucrativas, chegando a se incompatibilizar com a única filha de quem não se molesta a subtrair uma parte da herança familiar a que ela tem direito.

O filme de Koppelman apresenta muito bons momentos. Não se realiza ao todo porque há sérias falhas de ritmo, certas repetições e pintura desnecessária de tipos que são explorados sem que haja melhor aprofundamneto em poucos planos. Um dos momentos excelentes é o fecho, quando se vê em plano médio o solitário no banco de praça onde dizia ter conhecido a esposa, incapaz de manter um novo dialogo com ela, visto no meio da tela como uma figura perdida. É a síntese do tema (e titulo). E a coroação do trabalho de Michael Douglas, aqui em grande forma (ultimamente enfrenta uma batalha contra o câncer).

O cinema norte-americano tem jogado no circuito alguns temas interessantes em filmes não muito bem construidos. Assim mesmo, tem deixado a oportunidade de estabelecer parâmetros sobre essas figuras sociais e a circulação delas em meio a temas como a esperteza, a vilania e o esforço na recuperação da confiança. Para um olhar apressado a situação de “O Solteirão” parece ser o de recuperar um tempo de juventude e manter-se “dando aulas estratégicas” na conquista das mulheres, preferencialmente jovens. Na verdade, o personagem de Michael Douglas é de um perdedor que aspira ser amado, mas não inspira mais sentimento em ninguém. Pode-se dizer que é uma tragicomédia e que não se sabe como vai terminar, pois, na cena final, enquanto sua ex-mulher espera por ele no carro como ultimo apelo para a sua recuperação, ele acompanha, com os olhos ávidos, uma bela jovem que passa à sua frente. E o filme termina. Vai do/a espectador/a delinear um fim sobre essa figura. Um tema interessante.


REGISTRO


O cinema perdeu três figurões: Mario Monicelli, Irving Kershner e Leslie Nielsen. O primeiro, um dos maiores diretores italianos que deixa a herança de comédias críticas e, em minha opinião, um excelente filme político: “Os Companheiros” (1963). Trato dele depois. O segundo, não foi apenas o diretor de “Star Wars, o Império Contra-Ataca”, o melhor da série produzida por George Lucas. Foi também o responsável por obras densas como “Sublime Loucura”( Fine Madness/1966) e “O Amor É Tudo”(Loving/1970). O terceiro, comediante de “Corra que a Policia Vem Aí” e de muitas outras chanchadas. Essas figuras marcaram momentos de muitos espectadores.


terça-feira, 30 de novembro de 2010

A INFÂNCIA DO CINEMA


Comemorando o seu 1° aniversário, o Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem/Assis de Vasconcelos esquina da Av. Nazaré) exibe hoje, as 18h o documentário “Os Irmãos Lumiére”, produção da Fundação Lumiére que mostra os primeiros filmes gravados no aparelho Cinematographo, construído pelos irmãos Louis e Auguste Lumiére no final do século XIX. O documentário não tem a pretensão de ser didático. Apenas mostra, aos interessados em história do cinema, quais foram os filmes pioneiros da grande indústria, o que eles registraram e a forma que mostraram aos espectadores no pequeno café do Bairro dos Italianos em Paris, precisamente em 28 de dezembro de 1895.

O Cinematographo não foi o primeiro aparelho a explorar o fenômeno chamado “persistência retiniana”, ou a incapacidade do olho humano em discernir imagens que passam diante dele em certa velocidade (lembrem a palheta de um ventilador, que se torna invisível quando em movimento). Antes, muitas máquinas foram construídas perseguindo o efeito. E desde a invenção da fotografia (“fos”/luz, “grafis”/estilo, pincel), atribuindo-se ao francês Joseph Niépce em 1826, uma série de inventos tentaram colocar as imagens gravadas em movimento.


Na época em que os Irmãos Lumiére trabalhavam em seu aparelho, o norte-americano Thomas Edison exibia o seu Kinetoscopio, onde se viam fotografias animadas dentro de um caixa através de uma ocular e movimento de manivela, aperfeiçoando as experiências de Fulton, Plateau, Horner e Reynaud entre outros preocupados com tema. A diferença básica era a projeção. Os Lumiére produziram uma espécie de acoplagem do kinetoscópio com a lanterna mágica chinesa. Projetaram o movimento. Cinema vem de cinemática, a parte da Física que trata de movimento.


Mas os próprios inventores não acreditaram no seu projeto. Disseram que era “um brinquedo sem futuro”. Godard usou esta frase no seu filme “Desprezo” (Le Mépris). Na realidade, quem aperfeiçoou o invento foi outro francês, George Méliès, um empresário de mágicos que descobriu a forma de fazer fusões, dissolvência, diversos elementos da linguagem cinematográfica. E tudo acabou nas mãos de Edison que viu nessa corrida pelo que se chamou de cinema um meio de ganhar dinheiro. Foi ele quem criou a indústria do filme. Manteve nos bairros dos EUA pequenas salas de exibição que chamou de “Nickelodeon” (custava um níquel o ingresso) e conseguiu um meio legal de expulsar do país os que viesse filmar ali (inclusive a equipe dos Lumiére).


Nos anos 1920/1930 judeus imigrantes viram na indústria de Edison um meio lucrativo. Surgiram os grandes estúdios até hoje existentes: Paramount, Metro, Fox, Universal e em seguida Columbia e RKO.


Na França, o meio de difusão foi assumido pela Gaumont. Surgiram os primeiros filmes de longa metragem, os primeiros atores a ganhar notoriedade (inaugurando-se o “star system”/sistema de astros) e, já no final dos anos 20, o som ótico, ou seja, o som gravado na película.

Para tratar de todo o processo de criação do “primeiro cinema” (como são chamados os primeiros filmes realizados) o crítico Pedro Veriano estará logo mais a sessão do cineclube que leva o seu nome.

O cinema, a rigor, vai fazer 105 anos no final do mês de dezembro e antecipadamente, a data será comemorada agora. Com este evento, o CCPV fecha a série “Cinema sobre Cinema”.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

IMAGENS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA




O dia de hoje, 25 de novembro, foi reconhecido em 1999 pelas Nações Unidas como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. O assassinato das irmãs Patrícia, Minerva e Maria Teresa Mirabal, por agentes da ditadura de Trujillo, na República Dominicana, em 1960, levou a uma onda de protestos dos movimentos internacionais dos direitos humanos. Os movimentos de mulheres fortaleceram esses protestos promovendo a Campanha dos 16 Dias de Ativismo contra a Violência contra as Mulheres iniciando-se hoje com o fecho em 10 de Dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Esta coluna não poderia deixar de enfocar o lado das imagens do cinema sobre esse tema apontando filmes que refletiram a violência contra a mulher desde os seus primórdios. Ainda na fase silenciosa títulos como “Aurora” (Sunrise 1928) de F. W. Murnau e “Lirio Partdo (Broken Blossom 1919) de D. W. Griffith registraram exemplos de maltrato à mulher na área familiar. Isto sem falar em melodramas muito populares na época em que as histórias davam conta de mulheres que sofriam duras penas, seja no ambiente doméstico seja em sua trajetória para uma identidade profissional. É interessante ver como eram tratadas essas evidências de violência doméstica, sem a perspectiva dos dias atuais.

Mas foi na fase sonora que os tipos ganharam mais consistência. Ninguém esqueceu as duas personagens que Giulietta Masina interpretou em trabalhos de seu marido Federico Fellini: “A Estrada da Vida” (La Strada,1954) e “Noites de Cabiria” (Noti di Cabiria,1957). No primeiro, a violência se faz pelo enfoque da menina que é “oferecida” pela família ao brutamonte Zampanô que, inclusive, a estupra. No segundo, a prostituta que é quase assassinada pelo namorado ladrão. Fellini também mostraria os traumas de uma vida conjugal em “Julieta dos Espíritos”(Giullietta Degli Spirit,1965 ) titulo que dedicou à atriz-esposa. Diz da tensão da mulher casada ao constatar os constantes “casos amorosos” do marido.

Joan Crawford exemplificaria a mulher torturada dentro de casa por um parente próximo, no caso, sua irmã, em “O Que Terá Acontecido à Baby Jane “(Whatever Happened to Baby Jane, 1968) de Robert Aldrich. Outro desempenho dessa atriz em “Alma em Suplicio” (Mildred Pierce 1945) enfocaria a relação traumática da mãe pela ação violenta de sua própria filha. Crawford, no plano real, foi denunciada pela filha a quem submetia a castigos e atos de tortura, fato que chegou a público num livro de sucesso e, em seguida, no filme “Mamãezinha Querida”(Mommie Dearest 1981 ) de Frank Perry. Neste caso, evidencia-se a situação de violência doméstica contra a criança.

O cinema brasileiro guarda um exemplo antológico sobre a violência contra a mulher. Em “Anjos do Sol” (2006) de Rudi Lagenann, a narração capta uma menina do interior que é praticamente vendida pelos pais miseráveis para o mercador que serve a um bordel. É um dos filmes-denúncia que também acusa o plano doméstico de ser o responsável pelo abuso sexual infantil.

Exemplo marcante de mulher brutalizada viu-se em “Monster, Desejo Assassino”(MOnster, 2003) de Patty Jenkins com a atriz revelada no papel e vencedora do Oscar por isso, Charlize Theron. Um caso real tratando da primeira mulher no mundo a denunciar como crime, o assédio moral, numa empresa de mineradores.

Nos melodramas, de um modo geral, a mulher é a vitima. Seja nas produções de Hollywood, como “Stella Dallas”(1939) de King Vidor, onde a mãe não media sacrifício para dar à filha uma posição social; seja no semelhante “Imitação da Vida”(Imitation of Life, 1959) a segunda versão com Lana Turner, atriz presente em “Madame X”(A Ré Misteriosa,1966) de David Lowell Rich. No papel de esposa e mãe, que a sogra-avó faz desaparecer da vida do marido-filho. Anos depois vem a ser defendida, num caso de homicídio, pelo próprio filho, que deixou em criança. Este é um exemplo de violência psicológica que tem precedentes nos inúmeros crimes praticados contra as mulheres.Entre os exemplos de filmes latinos, registra-se a produção mexicana com um título-chave do tema: “Pecadora”(1948, de Ramon Armengod). A situação da prostituta mostrava o desprezo social, a submissão ao cafetão e o fim sempre em declínio.

Há muito mais filmes, lembro estes como compromisso pessoal.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A GERAÇÃO HARRY POTTER






Tem sido dito que os jovens atuais se inserem na “geração Harry Potter”, correspondendo ao fascínio que as aventuras dessa figura e de seus parceiros dos livros de J.K. Rowling têm deixado aos garotos e garotas do mundo inteiro. O cinema se rendeu a esse fascínio e narrou em imagens os sete romances dessa escritora inglesa, ficando para julho do próximo ano a Parte 2 de “Harry Potter e as relíquias da morte”, cuja Parte 1 está em cartaz nos cinemas em cenário internacional.

De 1997 a 2007 a publicação dos livros pegou tradução para 69 idiomas, vendendo cerca de 400 milhões de exemplares, uma das mais vendidas da história no gênero infanto-juvenil. Os seis filmes realizados entre 2001 e 2009, a partir desses livros, já renderam cerca de US$ 5,4 bilhões.

Mas o que dizer do envolvimento dos jovens nesse mundo fantástico de Harry Potter em que há lances mágicos e fenômenos de bruxaria que operam na realização da aventura que os garotos vivem na Escola de Hogwarts? Como a sociedade mundial vê, de um modo geral, esse modelo e como podem ser traduzidos para o entendimento da influência nos jovens recém-saídos da adolescência? Ao adotar os valores em evidência na convivência dos grupos no interior da escola, o que esses jovens dessa geração estão conseguindo reter em torno de habilidades mágicas e em novos termos e nomenclaturas que os tornam qualificados de forma plena em outras engenharias existenciais?

No mundo do cinema, os filmes têm explorado modelos que já arrastaram inúmeras gerações conferindo-lhes os valores disseminados, revelando críticas de duas formas, pró e contra certas maneiras de ser. Harry Potter e suas várias acepções no olhar da escritora têm levado a modos de observar as aptidões dos jovens em diversos estilos, diferindo da tradição de uma escola-padrão onde só é possível aprender a ler e a escrever, como os meios eficazes de avançar para a área das profissões exigidas para o progresso social. O interessante nos livros e no filme é que a mágica aprendida pode ser o rito de passagem para as novas tecnologias da sobrevivência social.
Solidariedade, fidelidade, agregação, sabedoria, intuição, compromisso, responsabilidade são valores que circulam nessas “lições de coisas” de Hogwarts, fortalecendo os diversos meios de conhecimento possíveis de interagir. Condução e auto-suficiência são meios de testar a autonomia do saber. E o importante, o sentimento da amizade entre os três colegas – Harry, Hermione e Ronny – têm polarizado as lutas contra o gênio do mal encarnado em Lorde Voldemort e seu exército. E a saga tem mostrado que o saber mágicas não opera em alguns momentos e, ao perderem a proteção de seu líder Dumbledore terão que seguir sozinhos usando as experiências acumuladas para vencer os desafios da nova idade. Se em 2003, a Igreja se posicionou desfavorável à série quando o então cardeal e atual papa Bento XVI considerou que “a sedução sutil tendia a abalar a alma da cristandade antes que ela pudesse se desenvolver apropriadamente”. Em 2009 já havia outra versão. O jornal oficial da igreja, L’Osservatore Romano, disse que essa obra pregava “valores como amizade, altruísmo, lealdade e auto-sacrifício”.

Literatura e cinema têm demonstrado parceria na composição desse mundo de mágicas inventadas por J.K. Rowling. E têm contribuído para que nessas andanças pelos modelos narrativos seja pensada a diversidade. Da própria arte, das pessoas, dos conhecimentos. O encantamento está na quebra dos padrões.