quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

TSUNAMI EMOCIONAL

Naomi Watts e Tom Holland em "O Impossivel".
 
Não é de hoje que surge uma surpresa nos cinemas em tempo de fim de ano. ”O Impossível”(Impossible/Espanha,2012), segundo longa metragem do diretor Antonio Bayola, está nessa condição. Relata um caso real ocorrido durante o tsunami que assolou alguns países asiáticos em dezembro de 2004. O fato prendeu-se à situação de um casal espanhol (no filme toma a nacionalidade norte-americana) que estava passando férias em um resort na Tailandia e foi surprendido pelas ondas gigantes que separaram pai, mãe e três crianças.

O roteiro de Sergio G.Sanchex cobre não só o desastre natural em si como se dedica a observar a família de turistas. Esse é o motivo pelo qual o filme não se enquadra na fórmula de “disaster movie” que em Hollywood tem tradição. Os autores (roteirista e diretor) preferem mostrar uma onda gigantesca separando pessoas, o que essas pessoas sentem, o drama que é buscar um e outro em meio a um cenário de caos.

O título “O Impossivel” vem de uma conversa de um dos filhos do casal focalizado, amante de astronomia, ao ser flagrado na contemplação das estrelas por uma sobrevivente da catástrofe recebendo desta (um pequeno papel da atriz Geraldine Chaplin) informações sobre estrelas que morrem e ainda são vistas, pois a luz emanada por elas custa a chegar a Terra. “- Elas estão mortas, mas não é impossível deixar de vê-las”.

É um filme de diretor. Digo assim, pois não há em meio aos atores circulando em pequenos papéis e até aos extras, uma pessoa do elenco que se diga fraca. Além de uma extrema dedicação ao desempenho de Naomi Watts (certamente nominada para o Globo de Ouro), e da revelação que é o garoto Tom Holland (que protagoniza Lucas o filho mais velho do casal no qual são centradas as atenções), todos satisfazem. E emocionam. Há uma crise de choro de Ewan McGregor ao telefone, na busca pela esposa Maria (Naomi) e o filho mais velho desaparecidos, que é um desafio para qualquer ator (mesmo porque é focalizado em close demorado). E os pequenos Oaklee Pendergast (Simon) e Samuel Joslin (Thomas) também enfrentam planos próximos com uma desenvoltura excelente sem que denote aquela marca de “criança prodígio”.

A produção é realmente o grande forte nesse filme constatando-se isso em cada sequência. O tsunami em si, com a técnica do CGI dando o recado, não é novidade. Hoje, a computação gráfica faz milagres. Mas a multidão de feridos em um hospital, o exército de coadjuvantes e extras em circulação, tudo num ambiente que sugere o local dos acontecimentos, é de impressionar. Se não fosse isso o filme não seguiria um caminho afetivo muito forte. Cada figurante espelha um momento de angustia e o que se vê são pessoas ajudando para minorar sofrimentos. O caso especial de Maria(Naomi), muito ferida e com a perna perto de gangrenar, é impressionante. A máscara da atriz e a dedicação do filho Lucas (Thomas) tende a ser um impacto aos espectadores. E a busca do pai pelos seus familiares é digna de um suspense que deve ter sido enxertado no roteiro para ritmar o drama, mas, essa sequencia tende a aumentar o impulso sentido pelos tipos, o que aparece além do maremoto causador de toda a ação.

O diretor havia realizado, anteriormente, o filme de terror “O Orfanato” (El Orfanato/2007) circulando por aqui somente em DVD. Em entrevista ele contou que soube do tsunami asiático pela TV quando se limitava a fazer clipes e curtas experimentais. Sempre desejou filmar o tema e para isso passou a pesquisar, encontrando testemunhas e visitando os locais dos acontecimentos. Fez este filme que abre brecha entre os bons programas lançados em Belém este ano. Constate indo assistir.

 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

OS MELHORES DO ANO – III


Leila Hatami e Peyman moaadi em "A Separação" 

Os cinéfilos de um modo geral e aqueles que curtem esse modo de definir seus gostos na arte cinematográfica já estão preparando suas listas de melhores do cinema em 2012, no nosso caso, em Belém. Alguns já fizeram as suas. Como na relação de filmes publicada pela coluna deixaram de ser inscritos alguns títulos e como se pretende seguir a tradição e solicitar aos leitores de Panorama que não se esqueçam de registrar os seus melhores, vale voltar ao assunto.
           Na relação de filmes publicada esqueci o registro de “A Separação”( Jodaeiye Nader az Simin) filme iraniano de Asghar Fardadi, vencedor do Oscar de produção estrangeira. Dele também o roteiro premiado em varias mostras na qualidade de original. Também deste filme duas interpretações femininas de grande impacto: Leila Hatam e Sarah Bayat, no caso, intérprete principal e coadjuvante, respectivamente.
          Outro filme esquecido da primeira lista foi “O Garoto da Bicicleta” (Le Gamin au Veló/França), de Jean Pierre e Luc Dardenne. A atriz Cécile de France não deve ser esquecida na categoria.
           Um desempenho memorável de atriz tembém é o de Tilda Swinton por “Precisamos Falar Sobre Kevin”(We Need to Talk about Kevin/UK) de Lyne Ramsay. Ela protagoniza a mãe do garoto problemático.
           No rol das animações, a escolha deve ocorrer entre “A Origem dos Guardiões”, “Valente”, “Frankenweenie”, “As Aventuras de Tim Tim” e “ParaNorman”.Não me toquei nas qualidades de “Hotel Transilvania”. Talvez alguém goste.
            O ator Omar Sy corre na frente como o ajudante do paraplégico interpretado por François Cluzet  em “Intocáveis”(Intouchables) de Olivier Nakache e Eric Toledano. Sy é filho de mãe mauritana e pai senegalês e esse filme foi o mais visto na França em 2011. Muito importante é que esse ator foi o primeiro negro a receber o César (espécie de Oscar francês) na 37ª edição dessa premiação. Sua atuação no cinema vem desde 2000.
            O documentário “Pina”, de Win Wenders, está em muitas listas e se for colocado em seu gênero fica em “pole position”. O filme foi indicado ao Oscar de documentário em 2012. É preciso evidenciar que tanto Wenders como Martin Scorsese, este  por “A Invenção de Hugo Cabret” levaram a arte cinematográfica à tecnologia 3D com grande maestria e aproveitamento desse recurso.
          Rooney Mara, novaiorquina de 26 anos, é forte candidata a melhor atriz por seu desempenho em “Millenium, Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, de David Fincher. A jovem atriz, em seu 13° papel (incluindo TV) igualou sua interpretação a de sua colega Naomi Rapace, na versão da mesma fonte dirigida em 2009 por Niels Oplev.
           Vencedora do Oscar pela composição do tipo de Margareth Tatcher até os momentos reproduzidos desta figura sofrendo do Mal de Alzheimmer, Mary Streep esteve num filme que me pareceu insatisfatório (“A Dama de Ferro”). Há outras performances melhores dessa atriz em outras ocasiões.
          Dois filmes nacionais me pareceram dignos de entrar em lista de melhores:”Gonzaga - De Pai Pra Filho”, de Bruno Silveira (felizmente sucesso de publico), e “Xingu” (2012) de Cao Hamburger, filme  que teve pouca aceitação de público e nem constou entre os 15 que concorreram para indicação oficial do Brasil ao Oscar.
         Woody Allen compareceu como em todos os anos, mas seu trabalho em “Para Roma com Amor”(To Rome With Love) me pareceu aquém de suas possibilidades. Ressalto a sua volta como interprete, competindo com Roberto Benigni que nas mãos do colega-diretor não esteve impiedosamente chato como na maioria das vezes.
         Bons desempenhos de atores contabilizam-se este ano como Jean Dujardin em “O Artista”, Ryan Gosling em “Drive”, Liam Neeson em “A Perseguição”, François Cluzet  em “Intocáveis”, Michael Fassbender em “Shame” e em “Prometheus”, Bem Affleck em “Argo” (por sinal forte candidato a ator e diretor no Globo de Ouro do próximo ano), e todo o elenco de “O Deus da Carnificina” (um bom teatro filmado por Roman Polanski).
          Os filmes que abordaram os primórdios do cinema, “O Artista” e “A Invenção de Hugo Cabret” devem figurar em muitas listas.
          E o leitor pode avaliar os demais de repertório particular. Aguardo as listas dos leitores através de e-mail, até a primeira semana de janeiro. Edyr Falcão, por exemplo, veterano nessa promoção, já está agendando sua presença.

 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

NO MUNDO DA FANTASIA

“A Origem dos Guardiões”, da DreamWorks

Não lembro de tantos filmes de animação sendo produzidos como agora. A facilidade oferecida pelos computadores gerou um estímulo ao gênero, que antes necessitava de uma custosa e engenhosa pintura para cada quadro. O problema do excesso de oferta é a diluição da qualidade. Poucas animações devem subsistir no futuro. Mas há nobres exemplares como os do estúdio PIXAR – “Ratatouille”,“Wall E”, “Up” e os 3 “Toy Story”. Este ano assisti a três títulos de bom nível:“Valente”(Brave), da Pixar, “Frankweener” de Tim Burton & Disney e agora “A Origem dos Guardiões”(The Origin of Guardians) da DreamWorks. Este último apresenta não só uma técnica primorosa com aplicação do efeito tridimensional (3D), como um roteiro imaginoso com base em uma história de William Joyce. Guardei, por exemplo, a frase do pequeno herói para uma criança que estava perdendo a fé nas fantasias que lhe contavam. Disse ele: “-Você descrê do sol ao ver que ele foge para dar lugar à lua?” Pois a base do filme é esta: o que gera a descrença dos meninos e meninas em ícones da infância de várias gerações.

A história parte de um garoto chamado Jack Frost, na verdade um dos mitos da cultura norte-americana, que é guinado, pelo Homem da Lua, a reconhcer a sua identidade para livrar o mundo da escuridão proposta por Breu (o nosso Bicho Papão) com isso salvando Papai Noel, Coelho da Páscoa, Fada do Dente e Homem da Areia, todos voltados à tarefa de trazer alegria às crianças em diversos períodos do ano.

Uma escuridão sobre a infância leva consigo ou destrói não só a ingenuidade, mas a felicidade desse momento da vida. Quando a menina focalizada tende a descrer do Coelho da Páscoa ele, literalmente, encolhe. E Breu acha mais fácil prosseguir derramando uma gigantesca nuvem negra sobre o planeta. Isto faz reunir a equipe de ícones das historias infantis e começar um combate contra o malvado que em principio quer tirar a fé das pessoas desde que se entendem como criaturas pensantes.

Realizado em 3D, “A Origem dos Guardiões” aproveita bem a técnica que aproxima imagens e constrói profundidade de campo. Esses elementos surgem fortes em sequencias como o combate final entre heróis e vilão. É claro que uma proposta de história de e para a infância não pede um final infeliz. Mas a construção a partir de um bom roteiro deixa os espectadores de baixa idade em estado de alerta. E dessa forma evoca a magia como ponto de apoio na ideia de que não se deve tirar os sonhos dos que ainda podem sonhar com mundos e figuras fantásticas. O pessoal da Dream Works, à frente o diretor Peter Ramsey, soube trabalhar na área especifica da trama, endereçar o seu trabalho a quem de direito. E o importante: não procurou fazer um filme em que os acompanhantes dos menores se sintam entediados. O resultado é bem divertido para todos e a prova está na boa acolhida obtida pela animação em diversos países inclusive numa provavel indicação desse filme na condição de candidato a candidato ao próximo Oscar do gênero.

Pena é que não nos brindam com a trilha sonora original (as cópias são dubladas). Para os que exigem mais é esperar o lançamento em DVD.

Houve tempo em que segui uma trilha de crítica negativa à fantasia infantil. Sem dúvida esta fase ainda é válida tendo em vista minha formação na área da crítica social que percebe o diferencial de classe entre as crianças e seus sonhos. Sabe-se que uma parte significativa de infantes no mundo já perdeu seus sonhos há muito tempo e espera reavivar sua pulsão e desejos através da marginalidade para a qual as desloca a sociedade consumista (de consumo). Mas a magia da criança em acreditar em alguma coisa merece ser respeitada, creio eu. E embora “A Origem dos Guardiões” reuna uma turma de mitos construídos de fora de nossa cultura brasileira acho que a presença deles já está tão impregne em períodos pontuais mundiais que se torna uma violência deixá-los “na mão” e obrigá-los a abraçar o “Breu” da ignorância. E o cinema, com as suas novas ferramentas, dá à criança de hoje o que na minha geração imaginávamos e construiamos com nossas próprias maneiras de entender o que representavam.

Além da boa realização de “A Origem dos Guardiões”, onde o emprego da tenologia contribui para a inventividade técnica, há essa pronúncia anti-negação da fantasia tão necessária ainda hoje.

MOSTRA DE FICÇÃO CIENTIFICA

O Homem do Planeta X”(1951)
 
Desde a terça feira, 18, no Cine Olympia, um programa com filmes de ficção cientifica. E começou com duas raridades: a versão integral de “Viagem à Lua”(Voyage dans la lune-1902), o clássico fime de George Mèliés (1861-1938), aquele que foi visto em parte no “A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorsese; segue-se a exibição de “A Mulher na Lua”(Frau on Monde, 1925) de Fritz Lang, longa-metragem que me parece inédito nos cinemas e cineclubes locais.

A mostra exibirá ainda outros títulos ao longo da semana como: “Destino à Lua”(Destination Moon-1949) de George Pal & Irving Pichel, na época considerado o mais próximo da concepção cientifica de uma exploração lunar; “Daqui a Cem Anos”(Things to Come-UK 1936), um roteiro do escritor H.G. Wells, com direção de William Cameron Menzies, mais conhecido como cenografo, tendo realizado sequencias de “...E O Vento Levou”, como o incendio de Atlanta; “A Máquina do Tempo”(1960), também baseado no livro de H.G.Wells, com produção e direção de George Pal (1908-1980); o conhecido e emblemático “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”(1977), de Steven Spielberg. O recente “Lunar” (2009) de Duncan Jones (filho do cantor David Bowie) e inédito nos cinemas locais está nessa mostra. O filme é de baixo orçamento, poucos atores, cenário limitado mas as críticas apontam como um filme bastante inteligente, quer na história que aborda como as assuntos temáticos como solidão e violência humana.

A ficção-cientifica, conhecida pela abreviatura do nome em inglês,”sci-fi”(de science-fiction) foi um gênero que o cinema, depois de Mèliés e poucos mais, relegou à produção de baixo custo. Tornou-se tema de varios seriados, como 3 filmes cujo personagem era Flash Gordon, o heroi dos quadrinhos desenhados por Alex Raymond, e filmes pequenos, mas criativos, como “O Homem do Planeta X”(1951), de Edgar G.Ulmer, “Veio Do Espaço”(1953) de Jack Arnold, “O Monsto Magnetico”( 1953) e “Da Terra a Lua” (1958) de Kurt Newman, e tantos que conseguiam vaga em telas locais, especalmente nas salas de bairros. Segundo os livros de cinema foi depois do filme de George Pal (“Destino à Lua”) que a indústria passou a ver com mais cuidado esse tipo de produção. Era o imediato pós-guera e a chegada de tecnologias como o avião a jato e os então gigantescos computadores. Com isso, os roteiristas passaram a usar a imaginação e se apossar do cenário politico da época, como a guerra fria entre EUA e URSS para histórias como “Colossus 1980” onde um computador norteamericano ganhava independencia e passava a se comunicar sigilosamente com um igual, nascido em Moscou.

Do grupo de filmes da mostra atual dois títulos tratam da viagem no tempo. O primeiro, “Daqui a Cem Anos”, realizado em 1936, hoje visto de forma hilária quando mostra profecias que falharam totalmente. No filme, os modernos aviões ainda não usam a propulsão a jato e há “tombadihos” como nos navios. A 2ª  Guerra Mundial já era prevista, mas com a data abreviada. E a primeira viagem à lua seria só em 2036!

Alguns filmes de sci-fi usavam efeitos especiais curiosos que chegaram a ganhar Oscar como o de “A Guerra dos Mundos”,de 1953. Em “A Maquina do Tempo” é ainda hoje pitoresca a sequencia em que uma vitrine muda rapidamente de acordo com a moda, vendo-se um manequim transformando sua indumentária à medida em que o viajante acelera a máquina que lhe transportará para o futuro.

O curta metragem de Méliès, narrado pela neta do diretor, já é um motivo para ir ao cinema. Mas o trabalho que Fritz Lang realizou na Alemanha, na época do seu célebre “Metropolis”, é um desafio até pela metragem, No original a duração era de 200 minutos. Foi remontado, mas, mesmo assim, ultrapassa o tempo normal de projeção. E só deixa liberdade cientifica num desembarque em solo lunar sem qualquer aparato para se andar em ambiente sem atmosfera.

Aos amantes do gênero essa mostra do Cine Olympia será uma festa. E ela vai encerrar com o marco do genero: “2001 Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick.


O MUNDO DOS PEQUENINOS

Animação "O Mundo dos Pequeninos" de Hirosama Yonebayashi
Muitos filmes de animação foram lançados este ano. Chegaram a Belém os norte-americanos, ganhando posição “Valente”, “Madagascar 3” e agora “A Origem dos Guardiões”(todos possíveis candidatos ao próximo Oscar). Mas, um desenho japonês não chegou aqui e agora se conhece através do DVD & Bluray: “O Mundo dos Pequeninos”(Kari-gurashi no Arietti/Japão 2010). É uma produção do afamado Estúdio Ghibli onde trabalha (ou o dirige) o mestre Hayao Myiazaki (de “A Viagem de Chihiro”). Quem dirige esse filme é o mais novo elemento desse estúdio, Hirosama Yonebayashi. O roteiro apoia-se numa história da inglesa Mary Norton (1903-1992) autora de “Se Minha Cama Voasse” filmado pela Disney em 1971. Focaliza pequenos seres, de anatomia semelhante ao ser humano, que vivem nas florestas e subterrâneos. Eles se alimentam de folhas ou do que conseguem nas dispensas dos “grandes”. Uma dessas pequenas criaturas, Arietty, conhece acidentalmente um menino doente. Ele respeita os pequeninos contra o conceito de sua mãe que deseja exterminar “essas pragas que disputam com baratas e ratos os seus alimentos”.
A vida familiar de Arietty, composta por ela, a mãe e o pai, está cercada de suas buscas por comida em terrenos perigosos para o seu tamanho, e, chega a um ponto que necessita fugir do lugar, ganhando uma feição não só de aventura mas também de poesia, especialmente no contato com o menino e com a natureza.

Os desenhos são tradicionais, sem recursos de computadores. Mas os eficientes funcionários do Ghibli sabem o que fazer. E se esmeram no traço, nas cores, na iluminação, na edição e na inclusão musical. É como assistir a Disney no seu melhor período. Uma pena que as nossas crianças tenham de ficar restritas ao cineminha domestico diante desse trabalho excelente. Mesmo porque, a aprendizagem que transmite desse conjunto de episódios explorados revelam as rupturas com os processos discriminatórios de uma sociedade que só convivem bem com os chamados “nornais”.  Os pequeninhos invertem essa concepção e demonstram que são seres viventes e precisam de espaço para transitar, embora os que delimitam as representações sociais exigam a convivência com os padrões conhecidos. Uma aula de pedagogia humana, tenho certeza.
E em se tratando de animação revi em Bluray “Valente”(Brave/EUA,2012) o candidato da PIXAR este ano na corrida pelo Oscar. A empresa de animação, hoje pertencente a Disney, é campeã com seguidos sucessos como “Ratatouille”, “Wall E”, “Up” e os “Toy Story”(1 ,2 e 3). Neste novo exemplar, dirigido por Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell, de um roteiro deles e mais Irene Mecchi, o foco é sobre a pequena princesa Merida, desde cedo procurando ser independente, rebelde aos padrões sociais impostos ao máximo e, principalmente, quando sabe que os pais planejam o seu casamento com um membro de família nobre ligada fraternalmente à casa real. A rebeldia chega ao máximo quando ela pede a uma bruxa que “mude o comportamento de sua mãe” e o feitiço acaba transformando a rainha em um urso. Daí em diante, e sabendo-se que o rei perdera uma perna na luta com um urso feroz, a meta é desfazer o feitiço e ao mesmo tempo preservar a independência de Merida.

O tema feminista foi um desafio, segundo os dirigentes da PIXAR. Seria a primeira heroina convertida do sexo feminino. E a qualidade técnica do desenho nada deixa a desejar. Se para alguns o filme perde para os melhores do estúdio pela história, supostamente isenta de emocionar como as outras, na verdade, esse é o tom que agrega aos que não aceitam emocionalidades. E Merida enfrentando os “barões das armas e das estratégias de guerra” tem mais a ver com as qualidades ditas “masculinas”, mas, com isso, demonstra que tanto homens quanto mulheres podem circular entre os dois lados sem que haja necessidade de rótulos. É mais um titulo especialmente dedicado ao público infantil. E neste caso deve agradar a meninas e meninos. E também, pode ser apropriados ao estudo das representações sociais entre os gêneros, para questionar o arraigamento de padrões patriarcais ainda presentes na sociedade.
Bom ver o filme em bluray 3D. Realça o esmero técnico.

 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

COSMÓPOLIS


Robert Pattinson em "Cosmópolis", de Cronembrg 

O diretor canadense David Cronemberg escreveu o roteiro de “Cosmópolis” (Canadá 2012) com base em uma novela escrita em 2003 pelo nova-iorquino Don DeLillo (76 anos). O filme trata de Eric Parker (Robert Pattinson), bilionário nova-iorquino, que passa a maior parte do dia em sua limusine. Do interior do carro ele decide seus negócios e atende até mesmo aos seus atos mais íntimos, como o sexo. No dia focalizado pelo filme, ele que ir ao barbeiro. Mas o trafego da cidade está engarrafado devido à visita do presidente dos EUA e devido também a um funeral “de luxo” e principalmente a protextos contra a globallização. Mesmo assim, Eric insiste. E nessa viagem deixa que se conheça parte de seus problemas, culminando com o encontro com um de seus opositores (ou algozes).

Se o texto do livro pode ser linear, o filme é um exercício de linguagem sem concessões ao processo industrial padrão. A exiguidade de espaço com que se limita a ação é um modelo de metáfora que engloba uma classe social e uma arquitetura psicológica típica. Basicamente está focalizado as dimensões do sistema capitalista na mais forte afirmação. O personagem só se preocupa, no interior de seu microcosmo, quando sabe que a moeda chinesa está ganhando o espaço do dólar no mercado internacional. Ele reluta em aceitar isso, ou o perigo que possa ocorrer com os seus negócios, mas o dono do capital sempre se rebela quando há um perigo de base. E o tipo focalizado por Cronemberg vai gradativamente adquirindo uma postura patológica, chegando a matar sem hesitação quem o ajuda.

Não se vê as ruas engarrafadas de Manhattan. Aliás, pouco se vê além do interior do luxuoso automóvel. Há uma preocupação de restringir o espaço de forma a ser melhor dimensionado o aspecto do homem rico, egoísta e insensível. Este quadro ganha até uma postura física quando, sem sair do carro, Eric se submete a um exame de próstata (um toque retal) e o médico afirma que ele tem a glândula assimétrica. Esta assimetria ganha a feição do caráter do examinado. Ele é assimétrico no seu modo de pensar e agir. E na sua concepção o mundo, naturalmente na sua visão de bem aquinhoado financeiramente, é assim.

Cronemberg já tratou de temas densos e muitas vezes de forma experimental. Lembro-me de “Scanners”(1981), de “Videodrome”(1983) e de “EXistenZ” (1999). Mesmo quando não sai da narrativa tradicional trata de personagens doentias como em “Gêmeos, Morbida Semelhança”(1988) e“A Hora da Zona Morta” (1983) sem falar no recente “Um Método Perigoso”(2011) onde tratou do relacionamento de dois mestres da psiquiatria: Freud e Jung. Aqui em “Cosmópolis”, a começar pelo titulo, ele amplia a base teórica dos famosos psiquiatras. Quer dizer cidade universal (cosmo/universo, polis/cidade). Nova York é isso, mas o título da obra cai mais sobre a limusine do bilionário. Ela seria, pode-se dizer, a “polis” do termo na sua feição geográfica e o “cosmo” na maneira como em um universo se acomoda no pequeno espaço dentro dos limites de uma inteligência perturbada.

O mundo de Cosmópolis é uma aberração se colocado dentro das definições sectárias de uma dicotomia ideológica. Eric/Pattinson pode ser visto como um membro da extrema direita, contabilizando a sua fortuna. E como trata o semelhante expande a caricatura do poderoso. Não sei se o ator da série “Crepúsculo” foi a máscara ideal para compor o tipo, mas até por suas limitações está interessante nessa representação. Mesmo por causa dele, ou de sua popularidade, a carreira comercial do filme foi restrita às salas especiais. Felizmente chegou a Belém. Não é um filme fácil de absorver em todas as nuances que explora porque exige certo conhecimento de como um sistema social e político promove restrições e exclusões além da expansão de entrada para qualquer um, deixando o que pensar, o que refletir da explosão de um sistema limitador que não se evidencia com facilidade porque supostamente liberal, mas que deixa suas marcas de insalubridade.

 

DE VOLTA AO MUNDO DE TOLKIEN


Imagem de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada"

Sexta feira, 14 de dezembro. Programação de cinema comercial em alta? Na verdade, só há a estreia de “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”(The Hobbit an Unexpected Journey/EUA, Nova Zelandia,2012). Nas salas especiais há, no Cine Olympia, a Programação da Mostra 2012 – Cine Periferia Pai D’égua “ iniciou no dia 12 e vai até dia 16 com filmes de curta-metragem local e nacional e atividades nessa área. No domingo, às 16 h como Sessão Cinemateca da ACCPA será exibido “Um Duende em Nova York”(2002) de Jon Fravreau com Will Farrell. A partir de 3ª feira inicia um programa com filmes de ficção cientifica.

Dentre as continuações recomenda-se a animação “A Origem dos Guardiões”(Rise of the Guardians/EUA,2012) forte candidato ao Oscar do gênero.

“O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” vem da mesma fonte literária da trilogia “O Senhor dos Anéis”(Lord of the Rings), livro de J.R.R.Tolkien. Neste episódio, o tipo principal é o hobbit Bilbo Bolseiro que se aventura pela floresta da Montanha Solitária, cruzando o reino de Erebor, terra de anões prodigiosos, em busca de um tesouro guardado por um dragão.

O diretor Peter Jackson teve sorte ao adaptar as histórias de Tolkien, um emérito professor de Oxford, chegando a ganhar 11 Oscar com o fecho de “O Senhor dos Anéis”(a 3ª. parte). O fato animou esse diretor neozelandês, hoje com 52 anos. “Hobbit”, que deve ganhar continuações, é uma superprodução de mais de 2 horas e meia de projeção e um orçamento no estilo dos blockbuster. No elenco encontram-se nomes conhecidos como Ian McKellen, Christopher Lee, Cate Blanchett, Stephen Fry, Ian Holm, Orlando Bloom, Elijah Wood e Hugo Weaving. O filme ganha várias salas dos cinemas nacionais em cópias legendadas e dubladas.

“Um Duende em Nova York”(Elf/EUA, 2003) é uma fantasia natalina muito simpática. Dirigida por Jon Favreau (de “Homem de Ferro 1 e 2”), com Will Farrell trata de um órfão que se mete na sacola de Papai Noel quando este visita o dormitório do orfanato onde mora. Quando o ícone do Natal de consumo chega de sua viagem pelas chaminés das casas acha o bebê e passa a criá-lo com a ajuda de um eficiente diretor de produção de brinquedos. Adulto, Buddy (o nome dele) pede para visitar o pai biológico em Nova York. É um milionário (James Caan) que não sabe que seu breve romance com uma garota resultou no filho que jamais viu. O “elfo” atravessa as ruas de Manhattam com sua indumentária especifica e causa espanto. E só é reconhecido pelo pai quando mostra uma foto da mãe. Enfim, o símbolo de ingenuidade ganha a luta contra o ceticismo do homem de negócios apelando aos bens materiais. Há um “happy end” engraçado na terra de Papai Noel.

A Mostra 2012 – “Cine Periferia Pai D’égua” exibe hoje “A “vida” no cárcere (Belém – PA), produção dos alunos da oficina de audiovisual da CUFA PA, um documentário de  15’44”; “Consequências  (Belém – PA / Brasil), também da CUFA PA. Ficção 16’29”; e  Bernardo Saiam do Portal da Amazônia (Ilha de Cotijuba/ Belém – PA) também ficção,  4’10”.

Quanto à Mostra de filmes de Ficção Cientifica exibirá, na estréia, 3ª. feira,“Viagem à Lua”(Voayge dans la lune/França,1902) de George Mèliés (visto em “A Invenção de Hugo Cabret”), conjuntamente ao clássico de Fritz Lang, inédito por aqui: “A Mulher na Lua”(1929). Em seguida serão exibidos: “Daqui a Cem Anos”(1936) de William Cameron Menzies, com roteiro do romancista H.G. Wells; “Destino à Lua”(1949) de Irving Pichel; “O Fim do Mundo”(1953) de Rudolph Maté; “Jornada nas Estrelas”(1979); “Contatos Imediatos do 3° Grau”(1978) de Steven Spielberg; “A Máquina do Tempo”(1959) de George PaL; “O Mundo de 2020”(1973) de Richard Fleischer; “Vampiros de Almas”(1957) de Don Siegel e “Lunar”(2009) de Duncan Jones.


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A ASCENSÃO DO BLU RAY

 "Operação Presente", uma ótima animação em Blu-Ray 3D.
As tecnologias mudam e, como tal, as reações da produção e a comercialização com a circulação do capital. Essa era uma das máximas estudadas por Marx sobre a produção, circulação e comercialização da mercadoria quando ele demonstrava, ao analisar a mais-valia, as perdas do produtor direto dessa mercadoria e o lucro dos capitalistas.
Essa assertiva tem a ver com o que está ocorrendo hoje com a tecnologia audiovisual. Ao que consta, está chegando o dia em que o Blu Ray vai substituir em quantidade o DVD comum. Assim como aconteceu com o VHS, nova tecnologia assume a liderança do mercado desde que se torne acessível ao bolso do cliente. E mais: estão aumentando os discos Blu Ray 3 D. Você está podendo ver em casa, desde que tenha condições para isso(aparelhos compatíveis), filmes em 3 dimensões, usando óculos que são vendidos em casas de produtos eletrônicos.
Segundo a referência que me forneceu o site www.tecnomundo.com.br , “o BD (de Blu-ray Disc) é um formato de disco óptico da nova geração, de 12 cm de diâmetro (igual ao CD e ao DVD) para vídeo de alta definição e armazenamento de dados de alta densidade”. Sem dúvida é o sucessor do DVD e sua potencialidade é a de “armazenar filmes até 1080p Full HD de até 4 horas, sem perdas”. Contudo, requer uma “TV full HD de LCD ou plasma para exibir todo seu potencial e justificar a troca do DVD”. O Blu Ray 3 D é ainda mais sofisticado, definindo uma nova “ilusão de ótica” em três dimensões. Como se vê, há uma batalha pela hegemonia do mercado de discos de alta capacidade.
Os filmes também são copiados nessas novas tecnologias. Uma animação lançada agora em Blu Ray 3 D faz a festa da garotada nesta época de Natal: “Operação Presente”(Arthur Christmas/EUA,2011). Dirigida por Sarah Smith e Barrry Cook (ela autora do roteiro) trata do problema gerado na casa (ou indústria) de Papai Noel quando um brinquedo pedido por uma criança é perdido, ou melhor, cai da esteira de montagem e não segue com os presentes de Natal. Noel tem dois filhos e o mais novo, Arthur, é quem vai se lançar para a entrega do brinquedo contando com a ajuda de Vovô Noel.
Tudo funciona e a resolução em relevo dá ao espetáculo uma feição muito especial. Quem já tem em casa essa tecnologia deve anotar o programa.
Muitos filmes velhos e novos estão chegando em Blu Ray às nossas locadoras. Na Fox Vídeo há diversos para locação e venda. Com isso, os títulos em DVD normal ganham campo no rol dos clássicos ou de produções estrangeiras, ou melhor, fora da alçada de Hollywood. Nesse catálogo há muitos filmes do passado entre os novos que não chegam aos cinemas locais, presos ao esquema de comercio modulado pelas grandes produtoras norte-americanas. “Hasta la Vista- Venha como você É” (Bélgica, 2012), por exemplo, apesar de premiado não deve alcançar nossos cinemas. Trata de três amigos deficientes, um tetraplégico, um cego e um paraplégico portador de câncer, que decidem ir da Bélgica a Espanha, atender a um anúncio de bordel. O canceroso sabe que não vai resistir, mas ainda assim vai com os amigos. E os familiares dos três são forçados a aceitar a viagem pela insistência que eles exibem. Afinal, a vida pouco lhes deu e eles querem viver. Uma comédia humana que impressiona por bons atores e segura direção (de Geoffrey Enthoven).
Um dos filmes do passado, “Stella Dallas, a Mãe Redentora”(Stella Dallas;EUA,1937) está em locação. Mostra Barbara Stanwyck chorando no “sereno” do casamento da filha que tem vergonha de sua posição social. King Vidor dirige esta segunda versão da historia de Olive Higgings Prouty(a primeira foi em 1925 dirigida por Henry King com Belle Bennett e Ronald Colman).
Bette Davis está duas vezes no pacote de filmes dos anos 30 que está chegando: em “Eu Soube Amar”(The Old Maid/1939) e em “Perigosa”(Dangerous/1935), este ultimo o filme que lhe deu o primeiro Oscar. Papéis dramáticos em filmes que objetivam as lagrimas dos espectadores.
“A Antropóloga” (Brasil/2011) é um filme catarinense, dirigido por Zeca Nunes Pires. Cobrindo o folclore local segue a cientista do titulo interpretada por Larissa Brancher que busca elementos para a sua tese de doutorado na Costa da Lagoa, região açoriana de Santa Catarina. Lá conhece o caso de uma menina que parece condenada a partir, de uma maldição que envolve familiares. A jovem antropóloga passa a conhecer pessoalmente figuras fantásticas do local.
O filme é interessante no modo como consegue abranger o quadro social e o misticismo. Apesar disso não atingiu nossos cinemas.

TERROR NA VIZINHANÇA


 Jennifer Lawrence e Max Thieriot em "A Casa do Fim da Rua"
Na historia do cinema os filmes sobre casas “mal assombradas” são muitas e semelhantes entre si. Há roteiros mostrando residências de fantasmas e há os que usam o imóvel como palco de violência extratemporal. É o caso deste “A Casa do Fim da Rua”(HouseoftheEndofthe Street/EUA2012) em cartaz nacional. O enredo remete ao ambiente palco de um assassinato que se observa logo na primeira sequencia do filme. Primeiro cometido contra uma mulher, depois contra o seu marido, mas só se vê o atentado à primeira pessoa, sem explicitude, com a narrativa usando apenas planos alternados da personagem e de uma jovem de cabelos caindo no rosto e, mesmo assim, deixando escapar um olhar doentio.

Anos depois mudam-se para a localidade uma enfermeira divorciada (Elizabeth Shue) e sua filha de 17 anos (Jennifer Lawrence) que esperam recomeçar suas vidas após o divórcio da mãe. Logo esta moça estará conhecendo o vizinho que mora, só, na casa do crime. Seria o filho do casal assassinado, afinal, o único herdeiro da família, posto que a irmã, tida como a criminosa, teria fugido para uma floresta próxima e provavelmente morrera num rio uma vez que jamais a encontraram.

A base da história, um conto de Jonathan Mostow, diretor de “O Exterminador do Futuro 3”,não foge aos “clichês” dos filmes de terror que se apoiam em troca de personalidades (lembram Anthony Perkins em “Psicose” de Hitchcock?). Não sei se este conto esmiúça o perfil de Carrie Anne, a menina que seria a psicopata assassina. O roteiro de David Loucka centraliza a ação no irmão dela, Ryan. Ele guardaria a irmã no porão da casa como se esta fosse um animal feroz (e vivia aplicando injeções de tranqüilizantes). Por outro lado, o desfecho da historia leva a crer que tudo o que aconteceu está resumido nas atitudes de Ryan. E o perfil será delineado quando se torna amigo (e quase namorado) de Elissa, a filha da nova vizinha.

O espectador pode perguntar por Carrie Anne. Mas se essa personagem vier à tona da forma que ficou exposto no filme, vou estar cometendo spoiler ou revelando parte do suspense.

“A Casa da Rua...” tem uma construção tradicional, apostando na emoção do espectador. O flagrante com um acorde é um velho método de assustar e o diretor Mark Tonderai não se furta a isso. O que me pareceu diferente do usual foi a predileção desse cineasta com os planos próximos. São rostos (closes) de todos os personagens, às vezes com detalhes desses rostos. Se em alguns momentos o recurso é para evidenciar expressões, apoiando-se no elenco (especialmente em Jennifer Lawrence, talentosa jovem atriz revelada em “Inverno da Alma”), em geral não se justifica. O enquadramento deve se ater ao que se quer contar evidenciando a construção da imagem. Isso pouco acontece no filme, que sempre aposta na capacidade de assustar, desinteressando-se do aspecto psicológico evocado. Seria o caso de perguntar se o roteiro usou Carrie Anne como um artifício ou uma feição realista. Se ele quisesse que a assassina dos pais fosse, na verdade, outra pessoa (e Carrie tivesse morrido como a noticia circulante nos diálogos sobre o fato) como ressaltar as cenas em que ela é “dopada”pelo irmão e a evidencia disso é encontrada pela jovem vizinha ?

Não há cuidado com a estrutura psicológica num caso em que isso é básico. Restando o horror, este tende a servir a um esquema gasto pelo uso. E resulta que se veja o filme com interesse, pois o artesanato é dinâmico, mas o logro é sentido. Há personagens que foram feridas e cuja atitude não é mostrada assim desde que sirvam a um momento dramático estipulado. Uma brincadeira com o espectador.


EM BUSCA DE ALIENS & BÊBEDOS

John Deep é o "jornalista bêbedo" no filme de Bruce Robinson. Em DVD.
 
Ridley Scott , diretor de clássicos como “Blade Runner” e “Gladiador”,voltou ao espaço cinematográfico com “Prometheus”(EUA/2012), o que seria uma “explicação” para a origem dos monstros alienígenas que atacavam uma tripulação de nave espacial em “Alien, O Oitavo Passageiro”. De fato, o filme caminha nesse sentido. O filme revela que no ano estimado como 2096, uma astronave segue da Terra rumo a um planeta de outro sistema solar onde teria sido descoberto vestígio de seres inteligentes, quem sabe, os antecessores dos humanos. Os astronautas encontram, de fato, sinais de vida inteligente numa caverna, mas logo depois disso uma série de acontecimentos dramáticos se fazem sentir e os seres de “Alien” surgem como uma casta desses seres diabólicos.

O roteiro é curioso, mas deixa furos. No final, a protagonista da historia, Elizabeth Shaw (Naomi Rapace), continua procurando o ser que nos originou. Margem para “Prometheus 2” que está sendo anunciado para o próximo ano e que tem Naomi e Michael Fassbender (o robô do filme que ora chega em DVD), como principais interpretes.Mas essa busca está longe de atingir a inspiração filosófica do “2001” de Kubrick & Arthur C.Clark. “Prometheus”está sendo lançado em DVD simples, Blu Ray e Blu Ray 3D.

Um filme interessante que também assisti em DVD foi “O Diário de um Jornalista Bêbado” (The Rum Diary/EUA,2011) baseado em um livro de Hunter S.Thompson e com direção de Bruce Robinson, autor do roteiro adaptado. Focaliza Kemp (Johnny Depp), jornalista voltado à bebida que procura emprego num jornal da Costa Rica. Chega na hora em que um colega é despedido, mas o jornal está em decadência e é difícil manter uma linha de conduta política quando é sabido que há exploração no entorno, por empresários norte-americanos. A independência da postura de Kemp e seu envolvimento com Chenault (Amber Read), namorada do também jornalista, mas adaptado às manhas do sistema, Sanderson (Aaron Eckhart), levam o personagem de Depp  à perigosa aventura que lhe acarreta até uma prisão.

O filme é bem narrado, mas o roteiro esquematiza os tipos de forma a evidenciar inverossimilhanças de certas posturas (não conheço o original literário). No fundo uma critica ao momento em que Porto Rico, de cultura hispana, passa para a órbita dos EUA. Filme inédito nos cinemas de Belém.

“Pacto de Vingança”(Breaking the Girls/EUA,2012) é outro programa do cinema caseiro desta semana. Configura episódios de telesérie mediana (tenho as minhas preferidas e posso dizer que assisto as melhores). Trata de uma jovem universitária cursando o segundo ano de Direito no Browning College. Tornando-se a principal protegida de sua colega de classe Alex, as duas passam a ser cúmplices em brincadeiras mórbidas. O relacionamento revela-se uma forma de arquitetar assassinatos. E não apenas um. E começa com uma proposta de troca de crimes, lembrando o excelente “Pacto Sinistro” de Hitchcock. São bons os desempenhos das novatas Madeline Zima e Agnes Burckner e, a direção de Jamie Babbit, veterana de TV, trata o roteiro linearmente como se estivesse trabalhando no seu setor. Para um fim de noite sem qualquer compromisso quando a opção é mesmo curtir o que se vê. Merecemos um tempo de “divertissment”, não?

AINDA OS MELHORES DO ANO

Conforme solicitei aos leitores e aos colegas da crítica, recebi do José Augusto Pacheco uma relação de filmes que podem estar na lista dos melhores do ano. Dois títulos haviam sido injustamente esquecidos na relação que já publiquei anteriormente. Ambos exibidos no Cine Estação: “A Separação”, iraniano vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, e “O Garoto da Bicicleta” (Le gamin au vélo, 2011). Sobre eles e mais no assunto estarei tratando no correr da semana.

 

OS MELHORES DO ANO-II


 
Os diretores, Olivier Nakache e Eric Toledano  de “Intocáveis"
Renovo o pedido aos leitores e colegas da critica que me enviem nomes de alguns filmes exibidos em Belém durante este ano, considerados bons e excelentes e que deixaram de constar da lista já publicada. Adianto que em dezembro pode haver mais filmes nomináveis. “Cosmopolis”, de David Cronemberg já aponta como um título elogiado e cartaz no Cine Estação. Também pode chegar algum filme que tenha sido lançado no sudeste e ainda não tenha sido programado para uma das salas de cinema de Belém. Isto será mais provável do que esperar um lançamento internacional, levando-se em conta, apenas (até agora), “As Aventuras de Pi” (Life of Pi), de Ang Lee, sobre uma espécie de Robinson Crusoe que ao invés de um Sexta Feira passa a viver numa ilha com um tigre de Bengala.

Procuro lembrar agora a quem assistiu a certos filmes mencionados ou não, os diretores, atores, atrizes, roteiristas e demais técnicos que se evidenciaram durante as estreias do ano, levando em conta que as categorias são votadas pelos colegas da ACCPA (Associação de Críticos Cinematográficos do Pará). Também lembro as reprises, e, neste caso, recorrendo ao tradiconalmente classificado pelos membros da associação: reprise é considerada a nova cópia de um filme já lançado comercialmente.

Agora as categorias : os diretores mais evidentes (e é bom lembrar que não se trata de excepcionalidades)´:

Steven Spielberg –  “Cavalo de Guerra” e “As Aventuras de Tim Tim”.

Guy Ritchie - “Sherlock Holmes – O Jogo das Sombras”.

David Fincher -  “Millenium, O Homem que não Amava as Mulheres”

Clint Eastwood, - “J. Edgar”.

Alexander Payne -  “Os Descendentes”

Asger Leth -  “`A Beira do Abismo”

Martin Scorsese - “A Invenção de Hugo Cabret”

Stephen Dalry - “Tão Forte, Tão Perto”

Michel Azanavicius -  “O Artista”

Win Wenders -  “Pina”

Cao Hamburger -  “Xingu”

Nicolas Winding Refn -  “Drive”

James McTeigue -  “O Corvo”

Joe Carnahan  - “A Perseguição”

Phyllida Lloyd -  “A Dama de Ferro”

Lynne Ramsay  -  “Precisamos Falar Sobre Kevin”

Ridley Scott -  “Prometheus”

Woody Allen -  “Para Roma, com Amor’

Walter Salles  -  “Na Estrada”

Fernando Meirelles -  “360”

Christopher Nolan -  “Batman, O Cavaleiro das Trevas ressurge”

Olivier Nakache e Eric Toledano -  “Intocáveis”

Steve McQueen -  “Shame”

Eran Riklis - “Missão do Gerente de Recursos humanos”

Tomas Alfredson -  “O Espião que Sabia Demais”

Andrés Wood -  “Violeta Vai Para o Céu”

Vicente Amorim -  “Corações Sujos”

Breno Silveira - “Na Beira do Caminho” e “Gonzaga De Pai Para Filho” .

Ryan Johnson -  “Looper”

Roman Polanski - ”O Deus da Carnificina”

Aleksandr Sokurov -  “Fausto”

David Cronemberg -  “Cosmópolis”

Ben Affleck -  “Argo”.

Atores: Jean Dujardin (O Artista); Omar Sy (Intocáveis); Ryan Goslin (Drive); Liam Neeson (A Perseguição); Michael Fassbender (Shame –e-Prometheus); Christoph Waltz e John C.Reilley (O Deus da Carnificina”, e Johanes Zeiler (Fausto).

Atrizes: Rooney Mara (Millenium); Meryl Streep (A Dama de Ferro), Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes); Keira Knightley (Um Método Perigoso), Jodie Foster e Kate Winslet (O Deus da Carnificina”).

Ator coadjuvante: Sacha Cohen e Ben Kingsley (A Invenção de Hugo Cabret), Roberto Benigni (Para Roma Com Amor), Anthony Hopkins (360), John Goodman e Alan Arkin(Argo).

Atriz coadjuvante: Ezra Miller (Precisamos Falar de Kevin), Penelope Cruz (Para Roma, com Amor), Lucia Siposová (360).

E há dois “astros” do reino animal, o cão de “O Artista”(Uggie) e o cavalo de “Cavalo de Guerra”. Se eles participaram com desempenho que auxiliou a argumentação dos filmes, será que devem ser indicados numa categoria especial? Por serem de uma outra espécie animal deixam de ser nominados ? (kkkkkkk) Bem, minha idéia está lançada, amante de animais como sou, daí...

 

OS MELHORES FILMES DO ANO – A ESCOLHA

"Pina", de Win Wender, um dos filmes na próxima seleção dos melhores do ano.

Inicio a contagem regressiva de fim de ano no cinema. É que são muitos os pedidos para que a coluna publique a sua tradicional relação dos filmes mais interessantes (não digo excelentes) exibidos em Belém durante o ano de 2012. Apressar uma escolha dos 10 melhores filmes deu em problema sério em certo ano que já vai longe. É que um dos membros da então APCC votou no filme estreado no dia 25 de dezembro e a reunião para a escolha dos melhores ocorreu na noite desse mesmo dia. Houve protesto, mas o critico estava com a razão: o seu escolhido cabia nos lançamentos do ano em curso.
Nesta pesquisa e relação inicial evidencio aos leitores os filmes que assisti este ano e que estão na faixa das categorias entre Bom, Muito Bom e Excelente (referente às notas: 3, 4 e 5 estrelas, contemplando aqueles/as que usam essa convenção). Como de hábito, menciono na ordem em que os filmes foram exibidos em Belém. Com uma ressalva: há títulos que não lembrei e/ou não estavam no “caderninho” não só porque não assisti, mas porque se mesclaram aos que foram vistos em DVD (alguns lançamentos me chegaram só em disco digital). Embora seja uma listagem pessoal, convoco os/as leitores/as a construirem a sua relação-lembrança e enviarem para esta coluna, entrando, assim, nas referências deste espaço servindo aos que não têm o hábito de registrar esses eventos.

Os filmes da 1ª rodada:
1.   “Cavalo de Guerra”(War Horse) de Steven Spielberg (EUA)
2.   “As Aventuras de Tim Tim”(Adventures of Tin Tin) de Steven Spielberg(EUA)
3.   “Millenium-Os Homens que não amavam as Mulheres”(The Girl With the Dragon Tatoo) de David Fincher(EUA/UK)
4.   “J. Edgar”(idem) de Clint Eastwood (EUA)
5.   “Os Descendentes”(The Descendants) de Alexander Payne (EUA)
6.   “À Beira do Abismo”(Man on a Ledege) de Asger Leth(EUA)
7.   “Românticos Anonimos”(Les Émotifs Anonymes) de Jean Pierre Améris(França)
8.   “A Dama de Ferro”(The Iron Lady) de Phyllida Lloyd (UK)
9.   “A Invenção de Hugo Cabret”(Hugo) de Martin Scorsese(EUA)
10.“Tão Forte, Tão Perto”(Extremely Loud & Incredible Close) de Stephen Daldry(EUA)
11.“Poder sem Limites”(Chronicle) de Josh Trank (EUA)
12.“O Artista”(The Artist) de Michel Azanavicius (França)
13.“Pina”(idem) de Win Wenders (Alemanha)
14.“Drive”(Idem) de Nicolas Winding Refn (EUA)
15.“Jogos Vorazes”(The Hunger Games) de Gary Ross(EUA)
16.“Xingu”de Cao Hamburger (Brasil)
17.“A Perseguição”(The Grey) de Joe Carnahan(EUA)
18.“Precisamos Falar Sobre Kevin” (We Need to Talk About Kevin)de Lynne Ramsay(UK)
19.“MIssão do Gerente de Recursos Humanos” (The Human Resources Manager) de Eran Riklis (Israel/Alemanha/França/Romenia) .
20.“O Espião que Sabia Demais”(Tinker Taylor Soldier Spy) de Tomas Alfredson (UK)
21.“Para Roma, com Amor”(For Rome With Love) de Woody Allen (EUA/Italia)
22.“Um Método Perigoso”(A Dangerous Method) de David Cronemberg (Canadá)
23.“Prometheus”(Idem) de Ridley Scott (EUA)
24.“Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge”(The Dark Knights Rise)de Christopher Nolan(EUA)
25.“360” (idem) de Fernando Meirelles (UK/EUA)
26.“O Ditador”(The Dictator) de Larry Charles (EUA)
27.“Shame”(idem) de Steve McQueen (EUA)
28.“Febre do Rato” de Claudio Assis (Brasil)
29.“Violeta Vai para o Céu”(Violeta se fue a los Cielos) de Andrés Wood (Chile)
30.“Intocáveis”(Intochables) de Olivier Nakache e Eric Toledano(França)
31.“Corações Sujos” de Vicente Amorim (Brasil)
32.“Ted”(idem) de Seth MacFarlane (EUA)
33.“Looper. Assassinos do Futuro”(Looper) de Rian Johnson (EUA)
34.“Fausto”(Faust) de Aleksandr Sokurov (Alemanha/Russia)
35.“Deus da Carnificina”(Carnage) de Roman Polanski (UK/França)
36.“Gonzaga, De Pai Pra Filho” de Breno Silveira (Brasil)
37.“Frankenweenie”(Idem) de Tim Burton(EUA)
38.“Argo”(idem) de Ben Aflleck (EUA)

Como se pode ver, supremacia de filmes norteamericanos. Claro que a maioria esteve nas salas comerciais. Fora isso, poucas produções de outros países figuraram nesse circuito. E houve mais na faixa extra, descontando-se as exibições de reprises nesses espaços culturais.