terça-feira, 20 de outubro de 2009

NOVO ESPAÇO DE CINEMA ALTERNATIVO


A ABDeC-Pa e Fundação Curro Velho estarão inaugurando, nesta terça feira, 20/10, às 17h30, na Casa da Linguagem, o Cineclube Pedro Veriano em homenagem ao critico, pesquisador e estudioso de cinema com atividades há mais de 50 anos em Belém.
O evento será iniciado com uma entrevista-palestra de Pedro Veriano sobre o cineclubismo no Pará desde a década de 1950.
Ás 18h30, na abertura oficial do Cineclube, haverá uma sessão inaugural de cinema, com 07 filmes de curta metragem realizados por Pedro Veriano, desde 1952.
Estimulando a então APCC a incluir-se nas atividades de exibição e debate sobre os filmes que eram locados nas distribuidoras do Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, além de acervos do MAM carioca e Cinemateca Brasileira/SP (leia-se Cosme Alves Neto e Bernardo), Pedro Veriano seguiu a linha dos antigos estimuladores do Cine Clube “Os Espectadores”, do qual faziam parte Benedito e Maria Silvia Nunes, Orlando Teixeira da Costa, Francisco Paulo Mendes, Angelita Silva entre outros nomes de intelectuais que se interessavam pelos filmes de arte. A história pessoal de Veriano confunde-se com a dedicação à difusão do cinema do Brasil e do mundo, à pesquisa e ao ensino do cinema e do audiovisual em geral como linguagem por excelência da contemporaneidade.
Essa homenagem da ABDeC-Pa/Fundação Curro Velho torna-se uma motivação a mais para a criação de idéias que Pedro Veriano tem em torno de recuperar a história da exibição alternativa entre nós que se confunde com a história da cidade. A sua geração de jovens e universitários formou-se com a visão de que cinema não era apenas o que os livros tratavam, mas uma parte da vida daqueles que se dedicavam a essa arte. A diferença do amor que ele tanto divulga sobre o cinema e de outras pessoas da nova geração se dá nesse tom sendo que jamais alardeou sua grande sabedoria.
Como parceira de trabalho e adepta de suas idéias para a divulgação cinematográfica, embora divergindo, de certa forma, de algumas de suas posições, parabenizo aos que propuseram essa homenagem a Pedro Veriano. E agradeço em nome dos seus familiares.
Tratando dos "Curtas do Pedro" da sessão inaugural registro os títulos e sínteses da programação (leiam os maiores informes no blog da luzia):

O DESASTRE (1952) Mudo-P&B- Filmado em 16 mm, 10 min., com Agostinho Barros, Geraldo Guimarães, Acleu Braga. Realizado nas ruas de Belém com edição na hora da filmagem em película positiva. Trata do atropelamento de um garoto que jogava pelada na rua. Sem recursos para socorrê-lo, tentando empréstimos e um emprego para ajudar, o irmão mais velho vê o padrasto recebendo dinheiro de alguém. Este se nega a financiar o tratamento do enteado e o desesperado irmão da vitima o estrangula. Logo é preso, mas, na cadeia recebe a visita de um médico amigo que se encarrega de ajudar.
BRINQUEDO PERDIDO (1962) Mudo-P&B- Filmado em 16mm, 7 min. Com Assis Miranda, Esther Barros, Douglas Álvares. Cenário: ruas de Belém, edição instantânea, película positiva. Drama social sobre o menor pobre e suas fantasias infantís.
2001, UMA ODISSÉIA SEM ESPAÇO (2000) - Gravado em VHS, 8 min. Com Manoel Teodoro, Olavo Rocha Neto, Andrelina, José e Domingos dos Santos. Enfoque sobre a questão social da moradia.
BOAS FESTAS (2006)- DVD, 7 min. Com Manoel Teodoro. Drama natalino de um quase suicida.
O PALHAÇO E A FLOR (2006)- DVD, 6min. Pantomima refletindo um canto de amor ao meio ambiente.
O PALHAÇO, O QUE É? (2007)- DVD, 8 min. Documentário sobre o significado do palhaço.
O NATAL DO MENDIGO (2008) - Gravado e montado em DVD, 10 min. Representações enganosas sobre a felicidade.

A programação semanal do novo cineclube foi elaborada pelos membros da ABDeC-Pa/Fundação Curro Velho e terá um dia no mês para a curadoria da ACCPA com a Sessão dos Clássicos do Cinema. Estão previstas as seguintes exibições:
. 27/10 - Sessão dos Clássicos do Cinema (programada pela ACCPA - Associação dos Críticos de Cinema do Pará))
. 03/11 - "Chama Patativa" (Programa do circuito ABDn, com os filmes "Chama Verequete" de Luiz Arnaldo Campos e Rogério Parreira e "Patativa do Assaré" de Rosemberg Cariry.
. 10/11 -"Terra em Transe" de Glauber Rocha
. 17/11 - "Macunaima" de Joaquim Pedro de Andrade
. 24/11 - Sessão dos Clássicos (Programação da ACCPA)
. 01/12 - "O Pagador de Promessa" de Anselmo Duarte
. 08/12 - "O Cineasta da Selva" de Aurélio Michilis
. 15/12 - "Toda nudez será Castigada" de Arnaldo Jabor
. 22/12 - Sessão dos Clássicos do Cinema *Programação da ACCPA

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

RELIQUIAS EM DVD








“Nova Babilonia”(Novy Vavilon/URSS,1929) de Grigori Kozintzev e Leonid Taruberg segue a escola de Eisenstein na elaboração plástica de um episódio histórico visto na ótica da divulgação política. É dessa forma que o filme focaliza a Comuna de Paris (1871), o primeiro governo operário, composto como resultado da reação contra a ocupação do território francês pelos alemães. O roteiro não explica o acontecimento e limita-se à reação operária e a contra-reação de Thiers, o chefe de gabinete que era a favor da tomada da capital francesa pelas forças prussianas. O movimento, ou o governo, que durou exatamente 40 dias, é visto da forma que se mostrou em “O Encouraçado Potemkim” e “Outubro”, com os cortes ritmando a ação e os planos próximos ajudando na composição plástica. O diretor Kozintzev foi o responsável, já na década de 50, pela versão anamórfica de “Hamlet”, uma das mais belas realizadas pelo cinema em qualquer época. Vale a pena conhecer este filme mudo que praticamente marcou o fim dessa era (a do cinema silencioso) na Rússia.

Outra raridade: “Segredos de uma Alma”( Gejeimnisse Einer Seele/Alemanha, 1926) de G. W. Pabst. O diretor de “A Caixa de Pandora” exibe um caso clinico que ilustra a teoria psicanalítica esboçada por Sigmund Freud. O ator Werner Krauss (de “Caligari”) interpreta um industrial que ao se barbear e ajudar no corte de cabelo da esposa sabe, no momento, de um assassinato no apartamento vizinho cometido por uma pessoa que usou uma navalha. O fato gera no personagem a fobia por facas. Ao tocá-las, sente impulso de matar a esposa. Com esse quadro ele é interrogado por um amigo médico que utiliza a teoria de Freud. O filme detalha o tratamento. Como cinema não é o melhor do diretor (que filmou até nos anos 60). Mas é muito interessante como história de uma ciência.

“Acaso”(Przypadek/Polônia, 1980) é um filme pouco conhecido de Krzystof Kieslowski o autor do “Decálogo” e “Trilogia das Cores”. Aqui, na linha do colega Zanussi (“Iluminação”) ele focaliza um jovem que abandona o curso médico no 4° ano e se engaja no Partido Comunista polonês. Em contato com velhos amigos e colegas, inclusive com uma antiga namorada, percebe os desmandos da facção que está no governo e tenta sair. Sofre bastante e quando resolve constituir família se esquiva da política. Mas o destino não é alvissareiro para ele. Com muitos “flashbacks” colocando a trama em diversos tempos e bons atores, o filme, além de ser um retrato da Polônia que Wajda mostrou em “O Homem de Mármore” é um modelo de linguagem a seguir o que faziam os movimentos de renovação como a “nouvelle vague”. Inédito em Belém mesmo em cineclube e TV.

“Identidade Roubada”(Frozenday/Israel,2007) filme israelense, detentor de vários prêmios e nominações. Trata de uma prostituta que marca encontro com alguém que conheceu da Internet e passa a morar no apartamento dessa figura. Diversos fatos posteriores levam-na a questionar não só o dono do espaço como a sua própria personalidade. Direção de Danny Lerner.




DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

A Era do Gelo 3
Intrigas de Estado
Tinha que Ser Você
O Segurança Fora de Controle
Duplicidade
17 Outra Vez
Anjos e Demônios
Watchmen - O Filme
O Mistério das Duas Irmãs


sábado, 17 de outubro de 2009

O PREÇO DE UMA VIDA

Pedro Veriano se apossa do titulo que deram no Brasil a um excelente filme de Sir Carol Reed e trata de “Uma Prova de Amor” de Nick Cassavetes, o que de melhor ele acha que viu esta semana. (LMA)





Muitas vezes, ao ler comentários de críticos atuais, pergunto se “é pecado” deixar-se levar por filmes sentimentais. Será que o fato de surgir uma lágrima na sala escura é atestado de fraqueza? Acho que não. As imagens que conseguem passar pela nossa retina, chegar ao cérebro, incitar resposta para as glândulas lacrimais, são, de alguma forma, importantes. Querem uma resposta mais cética? Pensem na introdução de “Um Chien Andaluz”. O homem amola a navalha e depois de um plano da lua sendo encoberta por uma nuvem ele segura as pálpebras de uma mulher e com a mesma navalha corta-lhe um dos olhos no meio. Contando por palavras é uma coisa: vendo é um impacto. Em cursos de cinema eu vi alunos abaixando a cabeça. Daí se valorizar a correspondência emocional Nos 50 os melodramas mexicanos, italianos e os norte-americanos de Douglas Sirk eram violentamente atacados por serem “saca lágrimas”. Hoje Sirk é tido como um gênio. Foi preciso que um cineasta alemão, Werner Fassbiner, promovesse o colega. Mas há um detalhe a considerar: a emoção nasce de uma estrutura cultural. As respostas variam com o cabedal de conhecimento que cada um possui.


Em “Prova de Amor”(My Sister’s Keeper) o diretor e co-roteirista Nick Cassavetes conta o drama de um casal que tem uma filha leucêmica e sem encontrar doador de medula óssea compatível para um tratamento resolve “produzir” uma criança que venha a socorrer a doente. Nasce Anna, e desde a sala de parto passa a ser cobaia da irmã (do cordão umbilical tiram células-tronco, logo que pode extrai medula óssea dos quadris, e assim vai até chegar à possibilidade de doar um rim, pois a mana entra em insuficiência renal como prova de que o tratamento não está dando resultado e a morte é iminente). Nessa altura a garota, então com 11 anos, procura um advogado para processar os pais. Quer “autonomia de corpo”. Justo, mas discutível pela idade da proponente. Fato de que se serve a mãe dela, uma advogada em recesso para tratar da filha, que não concebe uma atitude desse tipo partindo da pessoa que nasceu para dar, não para ter.

O tema é interessante e nada tem de piegas. Mas o roteiro abre espaço a filigranas românticas quando focaliza a doente. E mais: pensa que a atitude da irmã menor é muito cruel e aponta um pacto dela com um irmão mais velho (incompatível para tratar a irmã que lhe seguiu em nascimento) e a própria enferma como causa do comportamento considerado precoce. Mesmo passando uma luva por cima da crueldade do drama o filme não desmerece lágrimas e certo entusiasmo. Hoje a ciência aponta caminhos para doenças até então consideradas incuráveis. Mas o roteiro não quer ser cientifico, embora afirme que tratamentos nem sempre se mostram eficazes para muitos males. Leucemia, por exemplo, não tem uma só forma. São vários tipos. E o transplante de medula óssea só dá resultado em um tipo.

Claro que o filme não se limita a um caso clinico nem quer ser um apanhado introspectivo dos comportamentos de mãe e filhos. É um drama familiar coerente que se trata de forma simples, apenas com alguns “flashes backs” e alguns enquadramentos para os que querem pensar mais um pouco vendo as imagens (o caso da demora de sair de um plano, especialmente quando se focaliza uma porta aberta, recurso de edição que pode dizer da batalha pela vida simbolizada na abertura parcial que se espera de um tratamento).

O triunfo maior chama-se Abigail Breslin e Sofia Vassileva. A primeira, que faz a reclamante, foi vista em “A Pequena Miss Sunshine”. A segunda brilha pela primeira vez. Essas meninas dão um banho de interpretação e ofuscam veteranas como Cameron Diaz (a mãe). Dirigindo-as (e eu sei o que é dirigir criança) Nick Cassavetes prova o quanto sabe de seu oficio.

A meu ver um filme, como diziam os velhos cineclubistas, “rigorosamente bom”. Se faz chorar, paciência. Por mais que mostre que a morte é um natural processo da vida não há quem não sinta a falta de uma pessoa querida ou que tema a sua própria falta. Sensibilizar-se com esse tipo de drama é mostrar-se humano. (Pedro Veriano)



sexta-feira, 16 de outubro de 2009

FICÇÃO E MÚSICA NAS ESTRÉIAS










Estreiam hoje, nos cinemas da cidade, tres filmes: “Distrito 9”, “Te Amarei Para Sempre” e “A Palavra (En)cantada”.
No circuito alternativo encontra-se o clássico “Punhos de Campeão” de Robert Wise, 2ª feira, no Cine Clube Alexandrino Moreira (IAP) e, na 3ª feira, no Olympia, encerrando a mostra de filmes de novos cineastas franco-argelinos, o drama “França” de Serge Bonzon.
Dentre as continuações, o excelente “Up, Altas Aventuras” prossegue seduzindo as platéias e, somente no Moviecom Castanheira 4, “Uma Prova de Amor” de Nick Cassavetes que dividirá o espaço com “A Palavra (En) cantada”. (ver os horários).
“Distrito 9”(District 9/EUA, Nova Zelândia, 2008) é uma ficção-cientifica de teor critico elevado, atacando o “apartheid” com as armas das aventuras espaciais e toques de comédia.O filme produzido por Peter Jackson (de “O Senhor dos Anéis”) é dirigido por Neili Blomkamp, extraído de um roteiro do diretor e de Terri Tatchell. Trata de uma comunidade de extraterrenos em Johannesburg, figuras vindas em um disco voador em data não especificada. Os seres parecem gigantescos crustáceos e são aparentemente dóceis. Segregados pelo governo, passam a viver num gueto até quando começam a incomodar e a sugerir uma revolta. O movimento é explorado pelo burocrata Wikus van de Merwe (Sharito Copley) que se vê contaminando com o DNA desses alienígenas, transformando-se num híbrido entre ser humano e “camarão gigante”.A crítica exposta no roteiro é contundente no modo como vê o relacionamento de uma população especifica com uma etnia diferente acomodada em seu território. Não é à toa que a ação busca a África e não é à toa, também, que vê a animosidade étnica chegar a um povo simples, aos estereótipos de africanos que o cinema mostra por muitos anos. Afinal, o filme poderia se ambientar nos EUA como tantas aventuras de invasores de outro mundo e se definir nos efeitos especiais que esse tipo de filme requer. Mas é justamente por sua pretensão critica que o trabalho, relativamente modesto, sobressaiu não só diante da critica como do público internacional. E o que os críticos ressaltaram é que os novos ETs não são nem totalmente pacíficos nem invasores sanguinários. Tratados em uma narrativa que imita o documentário, assumem a identidade de um grupo intrometido, não interessa se angelical ou demoníaco.
“Te Amarei Para Sempre”(The Time Traver’s Wife/ EUA,2009) mescla romance e ficção-cientifica seguindo o personagem Henri de Tamble (Eric Banna) possuidor de um gene especial que o possibilita a viajar no tempo. Numa dessas viagens conhece e se apaixona por Claire (Rachel McAdams) que o vê partir, mas permanece na expectativa do retorno do amado no mesmo tempo e lugar (Tem alguma semelhança com o que foi visto em “Em Algum Lugar do Passado”, 1980). Direção de Robert Schwentk.
“A Palavra (En) cantada” (Brasil/2009) é um documentário dirigido por Helena Solberg sobre a música popular, a poesia e, praticamente, toda a literatura brasileira e a manifestação popular em torno. Os que já assistiram ao filme afirmam tratar-se de uma interessante pesquisa antropológica, apresentando entrevistas com compositores e/ou escritores como Chico Buarque, Maria Betânia, Lenine, Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhoto e Tom Zé e cenas de arquivo com números musicais de diversos ritmos. O filme ganhou um prêmio no Festival do Rio do ano passado. Exibe-se a partir de hoje, 16/10, na sessão Moviecom Arte (Shoppping Castanheira, sala 4 às 17h20).
E na próxima semana, com abertura no dia 21, no Cine Olympia, a VI MOSTRA CURTA PARÁ CINE BRASIL, uma realização da Central de Produção, exibirá 15 dos melhores curtas-metragens do Brasil, longas-metragens inéditos como “O Sol do Meio-Dia”, de Eliane Caffé, e “KFZ-1348”, de Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso. Lançamento do curta paraense “O Rapto do Peixe Boi” (Cássio Tavernard) e dos vídeos “Toque de Mestre” e “Bereiros”, resultado de oficinas do projeto Caravana da Imagem. Parabéns à Márcia Macedo e sua equipe.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

CINECLUBE PEDRO VERIANO

A ABDeC-Pa/Fundação Curro Velho convidam para a abertura da programação de filmes no novo cineclube criado em Belém.

- Inauguração: 20/10/2009 (terça-feira)
- Local: Casa da Linguagem
- Horário:
- 17h30 - Entrevista-palestra com Pedro Veriano sobre o cineclubismo no Pará desde a década de 1950.
. 18h30 - Abertura oficial do Cineclube Pedro Veriano
- Sessão inaugural de cinema, com 07 filmes de curta metragem realizados por Pedro Veriano, a partir de 1952.

- A denominação de Cineclube Pedro Veriano presta uma homenagem ao mais antigo cineclubista do Pará, além de pesquisador e crítico em atividade constante, desde a década de 1950, com uma história dedicada à difusão do bom cinema do Brasil e do mundo, à pesquisa, à história, e ao ensino do cinema e do audiovisual em geral como linguagem por excelência da contemporaneidade.

- Programação da nova sala até dezembro de 2009

. 20/10 - "Curtas do Pedro" (Sessão inaugural com filmes de curta metragem de Pedro Veriano)
27/10 - Sessão dos Clássicos do Cinema (programada pela ACCPA - Associação dos Críticos de Cinema do Pará))
. 03/11 - "Chama Patativa" (Programa do circuito ABDn, com os filmes "Chama Verequete" de Luiz Arnaldo Campos e Rogério Parreira e "Patativa do Assaré" de Rosemberg Cariry.
. 10/11 -"Terra em Transe" de Glauber Rocha
. 17/11 - "Macunaima" de Joaquim Pedro de Andrade
. 24/11 - Sessão dos Clássicos (Programação da ACCPA)
. 01/12 - "O Pagador de Promessa" de Anselmo Duarte
. 08/12 - "O Cineasta da Selva" de Aurélio Michilis
. 15/12 - "Toda nudez será Castigada" de Arnaldo Jabor
. 22/12 - Sessão dos Clássicos do Cinema *Programação da ACCPA

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

OS CASSAVETES














Por que tratar dos Cassavetes? Há filme de um deles no circuito exibidor, e o lançamento de cópias em DVD, do outro. Conferir-lhes valor recupera o nosso compromisso em divulgar a importância do bom cinema da lavra de bons diretores.
O primeiro Cassavetes, John (1929-1989), realizou 79 filmes como ator, 16 como diretor, 13 como roteirista e 2 como editor. Se como intérprete marcou as platéias mundiais como o personagem que incorporava o marido de Rosemary (Mia Farrow), a figura feminina inseminada pelo diabo no clássico de Roman Polanski “O Bebê de Rosermary”(Rosemary’s Baby/1968), os críticos não o esqueceram como diretor de obras marcantes, a exemplo: “Sombras”(1959), “Faces”(1968, foto),”Maridos”(1970), Uma Mulher Sob Influência”(1979) e “Noite de Estréia”(1984). Estes últimos filmes, a exceção de “Maridos” e incluindo-se “O Assassinato do Bookmaker Chinês”(1976), foram exibidos em Belém no Cine Libero Luxardo, em cópias editadas em Portugal. Presentemente foram lançados em DVD pela Cinemark. É possível que dentro de mais alguns dias esses discos estejam à disposição dos cinéfilos locais na Fox Vídeo. Do grupo, destacado “Uma Mulher Sob Influência” e “Noite de Estréias” como marcos de uma narrativa pessoal acompanhando personagens muito bem estruturadas, especialmente pela interpretação exemplar de Gena Rawlands, esposa de John.
Aliás, foi exibido, recentemente, num canal de TV por assinatura, “Minha Esperança É Você” (A Child is Waiting/ 1963), de John Cassavetes e último trabalho no cinema da atriz e cantora Judy Garland, a garota prodígio de “O Mágico de Oz”(The Wizard of Oz/ 1939). Embora muito mais velha do que o exigido pelo papel, sendo, contudo, o grande trunfo da MGM que deixou de contratar Shirley Temple (esta a intérprete desejada e uma das mais valiosas estrelas da empresa concorrente 20th Century Fox).
Nas locadoras há poucos filmes desse cineasta, a lembrar apenas o curioso “Gloria” (1980) e, como ator, além de “O Bebê de Rosemary”, o conhecido épico “Os Doze Condenados” (The Dirty Dozen/1967) de Robert Aldrich. Muito pouco para quem deixou muito bom cinema.
Nick Cassavetes (1959), filho de John com a atriz Gena Rawlands, continuou a carreira do pai. Já atuou até hoje em 35 filmes, esteve na direção de 7, escreveu 6 como roteirista e ainda trabalhou em 2 trilhas sonoras. Sob a direção de Nick chegou até aqui o interessante “The Notebook” (2004). Em DVD podem ser encontrados: “John Q” (2004) e “Alpha Dog” (2006). Como ator, embora em papéis menores, esteve no filme do pai, “Maridos”, e em “Máscara do Destino” (The Mask/1985), de Peter Bogdanovich (interpretando o garoto com a doença deformadora vista em “O Homem Elefante”).
Um novo trabalho de Nick está em exibição, “Prova de Amor” (My Sister’s Keeper/2009), curioso argumento sobre uma jovem que é concebida para salvar a irmã portadora de leucemia, doadora da medula óssea. No caso, a jovem, depois de ajudar a irmã e passar por um tratamento, questiona a missão que seus pais lhe deram. O filme ganhou muitos elogios da critica internacional, mas, mesmo assim, está sendo exibido por aqui apenas em duas sessões noturnas nos dois shoppings (Pátio e Castanheira). Pode ser que essa estratégia seja em caráter de pré-estréia, e será justo que receba mais espaço. Mas em se tratando de Nick Cassavetes é justo que se espere um programa de exceção e logo o estarei comentando aqui e no meu blog (http://www.blogdaluzia.com/)
Esse tipo de lançamento, aliás, pode ser exemplificado através do excelente “Amantes” (Two Lovers), de James Gray, que só foi exibido no horário de pré-estréia, por uma semana e com certeza deixou de render o que deveria em termos de público. Daí porque motiva a indicação aos leitores deste espaço, considerando que os colunistas de cinema não vêem filmes antes da estréia, sendo raras as cópias de serviço que chegam em DVD ou que se pode fazer “download”. A indicação deste espaço é para que o público assista logo “Prova de Amor”, não deixando de ver um filme que promete muito. Pelo menos é o que diz certa crítica internacional.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

MESMICES








A visão dos produtores de cinema sobre o público que assiste aos filmes,

é puramente comercial. Dizer “bastante rasteira” é esquecer que temos um sistema econômico com suas peças e engrenagem para remarcar produtos e produzir esquemas que seduzem o consumidor. Assim, investem nas produções cinematográficas que favorecem o acúmulo de recursos como os que garantem uma bilheteria excepcional, geralmente filmes que não o obrigam a pensar, que na primeira seqüência já dizem de que se trata, como o argumento se desenvolve, e como termina.
Os norte-americanos chamam “the same old thing”. E por incrível que pareça usam a frase como marketing.
Esta semana assisti em DVD três filmes desse tipo: “Bebê a Bordo”(Baby on Board/EUA,2008), “17 Outra Vez”(17 Agains/EUA,2009) e “Evocando Espíritos”(The Haunting in Connecticut/EUA 2009). O primeiro é uma comédia romântica. A heroína é uma funcionária da indústria de cosméticos e procura evitar uma gravidez da mesma forma que o marido, um advogado esperto, não relaxa o uso de camisinha. Acontece que o planejado se desfaz, trazendo conseqüências desastrosas à jovem que está numa carreira ascendente na empresa onde trabalha. Do outro lado, o marido especializado em divórcios e conseqüentes perdas às mulheres, desobrigando aos cônjuges a devida pensão, é assediado publicamente por uma cliente, com o fato sendo visto pela esposa como infidelidade dele. Não é preciso apostar para saber que tudo vai ser esclarecido antes do nascimento do bebê. As personagens coadjuvantes também resolvem seus problemas no mesmo tom do par principal. O diretor é Brian Herzinger, o roteiro é de Russel Scalise e Michael Hamilton Wright e no elenco estão Hather Graham e Jerry O’Connel, ele conhecido como o detetive Woody Hoyt namorado de Jill Hennessy na série de TV “Crossing Jordan" (encerrada em 2007 ).
“17 Outra Vez” repisa a história do homem de meia idade que volta à juventude. Está na mesma linha do que Tom Hanks fez em “Quero Ser Grande”(Big); ou como Haley Mills em “O Grande Amor de Nossas Vidas”(The Parent Trap); ou “Vice Versa” onde Judge Reinhold troca de identidade física com o pai, Fred Savage; ou mesmo, com ligeira derivação, Gloria Pires com Tony Ramos nos dois “Se Eu Fosse Você”. O filme atual faz média com os jovens espectadores e tem encabeçando o elenco Zac Efron, ídolo juvenil do “High School Musical 3”. A velha fórmula da experiência ganha com a idade servir-se do passado (e um tempo de outro). Direção igualmente boba de Burr Steers de um roteiro de Jason Flardy.
“Evocando Espíritos” volta à “casa mal assombrada” da franquia Amity Ville. Os produtores dizem se basear num fato real acontecido no condado de Southington em 1970, com a família Snedeker, caso que desafiou os pesquisadores de paranormalidade pela não esclarecida presença de fantasmas. Mas o que interessa aos roteiristas Adam Simon e Tim Metcalfe é amedrontar o espectador sensível. Tarefa endossada pela direção de Peter Cornwell. Quem ainda se assusta em cinema pode tentar. A atriz Virginia Madsen bem que se esforça para justificar o que a sua personagem sente.
Esses filmes trazem as marcas do interesse de um público que gosta de seguir uma trilha já conhecida. O trato narrativo, por mais que confira os caminhos da linguagem do cinema (impossivel deixar de usá-las, como disse Adolfo Sanches Vasques) obedece ao incentivo que o enredo determina, favorecendo uma produção “digerível” que é a mais consumida, queiram ou não os estudiosos do cinema. A obediência é ao mercado e não à estética.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

A Era do Gelo 3
Intrigas de Estado
Tinha que Ser Você
O Segurança Fora de Controle
Duplicidade
17 Outra Vez
Anjos e Demônios
Watchmen - O Filme
O Mistério das Duas Irmãs




segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O CIRIO EM CINEMA






Em 2007, esta coluna (então bem maior) apresentou um texto sobre os filmes que mostraram a grande procissão paraense e registrou os filmes em exibição nas salas especificas próximas ao hoje Santuário de Nazaré. Volto ao assunto para evidenciar as mudanças ocorridas. Não há o que dizer sobre os filmes de longa metragem. Lembro de um título lendário na filmografia ciriana: “Os Milagres de N. S. de Nazaré”, realizado em 1925, por algum mascate da estirpe de Benjamin Abrahão, que filmou Lampião e seus cangaceiros em meio aos diversos registros de imagens que coletou Brasil afora. Sobre este filme mudo não há maiores referências, além da história oral contada por espectadores de então. Pedro Veriano fez uma pesquisa sobre o assunto e conseguiu entrevistar um desses espectadores.
No cinema sonoro creio que a primeira seqüência em que se vê o Círio é a da produção inglesa “O Fim do Rio” (The End of the River/1947), dirigida por Derek Twist e produzida pela famosa dupla Michael Powell e Emeric Pressburger (os autores de “Os Sapatinhos Vermelhos”/1948 e de “Os Contos de Hoffman”, experiência de cinema e ópera lançada em 1951). Uma cópia em VHS de “O Fim do Rio” foi encontrada e copiada para o DVD. Hoje faz parte de nosso (meu e do PV) arquivo.
No cinema nacional a festa paraense esteve em “Um Dia Qualquer” (1962) e “A Promessa” (1974) de Libero Luxardo (o último um adendo a “Brutos Inocentes” que na edição final não conseguiu chegar aos 60 minutos de projeção, tempo exigido pelo então Concine (Conselho Nacional de Cinema) para dar um certificado de exibição especifica ao trabalho. Ganhando maior evidência, o Círio também esteve em “Iracema” (1974) de Jorge Bodansky, (o argumento repousava numa promesseira que chegava do interior e se prostituía em Belém). Estes foram os títulos de longa metragem que exibiram o Círio. Na área dos curtas a lista é bem grande e, de 2007 para cá andou crescendo com a adesão de novos cineastas.
Quanto às exibições, o panorama é ainda mais diversificado. Nos idos de 1950, antes mesmo do fim dos cinemas de rua e, com eles, a tradição pitoresca, dos espaços transformados em teatros para a edição regional do “vaudeville”, e mesmo os programas especiais atendendo à população flutuante, como festivais de filmes inéditos, a regionalidade desapareceu. Hoje a exibição comercial restrita aos shoppings, segue uma linha nacional moldada no sudeste. É praticamente impossível abrir espaço para um programa local, e nem se fala nos sorteios que existiam com prêmios curiosos como aves e doces.
Não endosso saudosismo, mas penso que a grande procissão estava pedindo um filme de longa metragem em que ela fosse a “estrela”. “Os Promesseiros” de Francisco Carneiro é o que mais se aproxima da idéia. É um média metragem que aborda a viagem de interioranos para a capital visando a dívida para com a santa padroeira. Nessa linha há muito a explorar. Mas o que se vê é a “cor local” servindo a outros assuntos com a fotogenia de nossa região como moldura. Não é por aí.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

ESTRÉIAS E PRÉ-ESTRÉIAS NOS CINEMAS








Na semana do Círio, os cinemas comerciais lançam quatro filmes: “Te Amarei Para Sempre”, “Uma Prova de Amor”, “Flordelis-Basta Uma Palavra Para Mudar” e “Coração Vagabundo”.


Prosseguem bons e maus programas e dentre os bons destaco


“Up, Altas Aventuras”e “Salve Geral”.


No cinema Olympia deve estrear 3ª feira “A França”, filme que concedeu o Prêmio Jean Vigo para obra de estreante, ao diretor Serge Bozon.


A programação da ACCPA abre espaço,


prometendo para o próximo final de semana “Punhos de Campeão” (IAP) e “Aquele que Sabe Viver” (Sessão Cinemateca/Olympia).


“Te Amarei Para Sempre”(The Time Traver’s Wife/ EUA,2009) é uma curiosa mescla de romance e ficção-cientifica seguindo o personagem Henri de Tamble (Eric Banna) que possui um gene especial capaz de fazê-lo viajar no tempo. Numa dessas viagens conhece e se apaixona por Clare (Rachel McAdams). Ele parte e ela fica esperando no mesmo tempo e lugar que ele retorne.Para quem curtiu “Em Algum Lugar do Passado” é uma pedida. Direção de Robert Schwentk.


“Uma Prova de Amor’(My Sister’s Keeper/EUA,2009) é o novo filme de Nick(filho de John) Cassavetes, diretor sensível como provou em “O Diário”(The Notebook). Aqui ele focaliza Kate (Sofia Vassilieva) uma menina portadora de leucemia e que recebe a medula óssea de uma irmã nascida “especialmente para isso”. Adolescente, Kate toma uma atitude surpreendente em relação à doação da irmã. O filme foi muito bem recebido pela critica. Sendo premiado em mostra especial para adolescentes. No elenco, alem de Vassilieva, Cameron Diaz (vencedora do prêmio “Alma”) e Jason Patrick. Este filme como “Te Amarei Para Sempre”, será exibido apenas nas sessões noturnas de uma sala de cada Moviecom: Pátio e Castanheira. Naturalmente em caráter de pré-estréia.


“Flordelis” (Brasil/2008)é a história verdadeira de uma professora que morou na favela de Jacarezinho (RJ) e lutou para adotar e ensinar 50 crianças. Ela chegou a ser presa na época da ditadura. A direção é de Marco Antonio Ferraz e Anderson Corrêa. No papel principal está Letícia Sabatella, figurando ainda Deborah Secco e Reynaldo Gianecchini.


“Coração Vagabundo” (Brasil/2008) é um documentário de Fernando Andrade sobre as temporadas de Caetano Veloso nos EUA e no Japão, com depoimentos de Pedro Almodóvar, Michelangelo Antonioni, David Bryne e Hermeto Pascal.O filme faz parte do programa Moviecom Arte e será exibido até a próxima 5ª. feira em sessão de 16 horas, no Moviecom Castanheira, sala 4.


“A França” (La France/França,2007) foi muitos elogiado além do Prêmio Jean Vigo dado ao diretor estreante Serge Bozon. Ambientado na 1ª Guerra Mundial acompanha Camille (Sylvie Testud), jovem esposa cujo marido está combatendo no front e se surpreende ao receber uma carta dele pedindo o fim do casamento. Inconformada ela corta os cabelos, veste-se de soldado e vai para a guerra. Os críticos acharam essa nova Yetl (tipo vivido por Barbra Streissand) ou “recruta Benjamim” (de Goldie Hawn) um pouco de exagero, mas, ao mesmo tempo, louvaram um visual incomum. Com este filme encerra-se a mostra de novos cineastas franceses promovida pela Aliança Francesa e ACCPA.




quarta-feira, 7 de outubro de 2009

SALVE GERAL




O fecho de “Salve Geral: O dia em que São Paulo Parou”(Brasil/2009), filme de Sergio Rezende, é o que se pode chamar de “trágico happy end”. O paradoxo cabe no modo como diversos enfoques colidem. Inspirado nos acontecimentos de 2006, quando S. Paulo foi alvo de ataques diversos provocados por presos aglutinados no que se chamou de PPC, o roteiro se ampara na personagem Lucia (Andréa Beltrão), uma professora de piano, bacharel em Direito, mas sem exercer a profissão, que se dedica, integralmente, a livrar o filho adolescente (Lee Thalor) de uma prisão efetuada quando este assassinou acidentalmente uma pessoa. O percurso da vida anterior entre os dois é apresentado através de um dialogo entre mãe e filho quando ela tenta atenuar a revolta do garoto ao evidenciar a morte recente do marido, a falência da firma em que ele trabalhava, a queda brusca do status familiar. Sem recursos, portanto, Lucia é obrigada a se armar com as “regras do jogo”, aderindo à corrupção policial para advogar uma causa aparentemente impossível.O filme, em tese, trata do amor de mãe e da situação sócio-política que gerou um acontecimento real. O primeiro enfoque foge do esquema melodramático e diz bem claro do sacrifício que pode passar uma pessoa para reconquistar um ente querido. O segundo é mais delicado. O problema das penitenciárias seja as estrangeiras que se vê no cinema seja a nacional como se viu em “Carandiru” ou “Estômago”, é dramático. No prisma dos presos, a cadeia nada mais é do que um depósito de pessoas. Ao ser encaminhado à cela, Rafael (Lee Thalor) ouve de imediato o que as imagens exploram: “Aqui tá apertado, mas não está lotado”. Só não se diz que há espaço para dormir deitado. Rafael é obrigado, de inicio, a dormir sentado com a cabeça sobre os braços. No prisma da sociedade, o lugar do suposto bandido é mesmo na prisão, não imposta como ele fique por lá. O clima de violência crescente no mundo (não só no Brasil) dita uma reação social à miséria que chega à periferia das grandes cidades. Numa entrevista, Andréa Beltrão comentou sobre o fato corriqueiro de as pessoas de carro fecharem a janela à aproximação de uma criança pedindo esmola no semáforo. E o que esta criança fica pensando? Sem família, sem recursos, o futuro é o crime. Por outro lado, o criminoso desapega-se de qualquer liame afetivo. Geralmente usando drogas, rouba e mata até por achar “divertido” fazer isso. O filme é radical ao mostrar que os detentos são pessoas violentadas por um sistema cruel. Não acusa diretamente os governantes (não cita o nome) nem usa nomes reais na denuncia de corrupção policial. Neste ponto “Salve Geral” é menos drástico do que “Tropa de Elite”, a lembrança mais próxima. Esta posição acaba sendo ambígua: os presos passam a ser revoltosos políticos, e os policiais um governo corrupto a ser deposto. A “guerra” na rua, acionada por um comando de dentro da cadeia a quem o filme chama de “partido”, usa dos mesmos métodos de uma revolução qualquer. Interessa derrubar um governo, no caso uma representação de governo. Não importa se esses revolucionários, ou guerrilheiros, são realmente ladrões, assassinos, contraventores diversos.Como temática, o roteiro de Rezende evidencia um cinema de contestação. Os pólos de uma luta armada não são delineados imparcialmente. Há heróis e vilões na linha sectária como em qualquer “thriller” policial, apenas mudando os postos: quem nos diversos “duros de matar” são bandidos, agora são “mocinhos”. Mas se não coube profundidade no modo como se conduziu a trama, esta condução me pareceu muito boa, pois o que o roteirista constrói são enfoques de um episodio transbordante, ou seja, explodiu pelo acúmulo de situações dramáticas numa prisão despojada de respeito por quem está lá. Exibindo o requinte de produção incomum no país, o filme nada fica a dever, artesanalmente, ao cinema que se introduz no gênero. E traz um elenco bem dirigido, embora alguns diálogos ainda fraquejem dos ditos de certos tipos, pelas diferenças culturais. De qualquer forma, as quase 2 horas de projeção mantêm o espectador interessado, sem desvio de atenção. No décor, o significado de uma corrida de carros não leva à tipificação do episodio, mas à construção de uma marca da atenção de adolescentes que se mantém na euforia da competição.Volto ao assunto. Cotação: *** (Bom).




terça-feira, 6 de outubro de 2009

DÉLICE PALOMA






O cinema argelino era até bem pouco tempo absolutamente desconhecido de nosso público. Agora, graças à cinemateca da Embaixada da França, chegam alguns títulos dessa fonte, a maioria alcançada em sistema de co-produção com franceses.
“Delicia Paloma”(Délice Paloma/Argélia França, 2007) tem direção e roteiro de Nadir Moknèche. A cena inicial enfoca a liberação de uma prisioneira. Em poucos planos vê-se a revista pelas guardas, a entrega de pertences que estavam guardados na prisão, e a desolação à saída, com a câmera descobrindo um automóvel e os poucos passageiros, no caso amigos da ex-prisioneira.
Desse entorno, passa-se a aspectos de novas seqüências e surge a identificação da ex-presidiária: trata-se de Madame Adjeria (Biyouna), nome de guerra de Zineb Agha, cafetina muito conhecida em Argel e bastante esperta para não restringir o seu oficio na administração de uma casa de tolerância. Adjeria tem uma “especialidade”: arma escândalos entre casais para extrair flagrantes de infidelidade, a exemplo, o caso de uma mulher que deseja a separação do marido. Na incerteza da infidelidade deste, mas considerando o lance jurídico para apená-lo e extrair bom lucro da separação, o evento é montado a partir de uma jovem interiorana que foge da família em busca de trabalho na cidade. A beleza e a forma de seduzir conseguem institucionalizar a intriga matrimonial.
Para Rachida (Aylin Prandi) o que está na conta não é somente a sedução ao “freguês” mas também ao jovem Daniel, filho de Adjeria e parceiro da mãe no escritório das transações ilícitas. E isso leva à descoberta das artimanhas e à prisão da mulher.
Como “Povoado Numero Um” (exibido semana passada), “Wesh Wesh”, “O Segredo do Grão” e outros lançados no ano passado, “Delicia Paloma” detêm-se no aspecto documental, focalizando a Argélia de hoje, já distante do tempo em que foi possessão francesa. Em “Povoado...” e “Wesh...”, por exemplo, uma mesma personagem faz o liame de ficção e pesquisa antropológica, detendo-se em tipos peculiares, música, costumes e “décor” especifico. Para isso os grandes planos abundam e deixam ver a região árida, as casas de pedra, as feiras livres, a matança de animais, a posição dos argelinos diante da situação dos franceses (ou europeus de um modo geral).
O tipo de cinema não ganha muitas alterações no trabalho de Nadir Moknèche. O que se salienta são alguns tipos. A esperta Adjeria é uma criação muito interessante da atriz Biyouna. O tipo físico nada esbelto é realçado por planos próximos e contrasta com as suas “contratadas”, partindo da secretária mais ativa, Sherazade ou Zouina criação de Nadia Kaci a lembrar a personagem de “As Mil e Uma Noites” e, principalmente, Paloma, uma beleza oriental escolhida como a peça que vai destruir a organização criminosa de encontros forjados.
O roteiro escapa do clichê romântico mesmo com um final em que se coloca um liame poético, mas não poupa a vilã da história, embora se atente para o fato dela ser uma das figuras que luta por um espaço numa sociedade onde se dificultam oportunidades a quem deseja emergir de uma rotina que ainda apresenta resquícios de colônia. Mas é através dessa figura que se delineia uma feição moral da temática, ou seja, apesar da situação de Adjeria, ao sair da prisão, ser lamentável, com os amigos se afastando, ela não parece estimulada a mudar de vida. Só não continuará a armar novas arapucas aos incautos se não tiver chance para isso.
Aos interessados em conhecer uma cinematografia diferente, e através dela informar-se sobre uma cultura pouco divulgada no mundo ocidental, que assistam ao filme-como aos outros da mesma fonte. Os franceses, na divulgação do mundo argelino, procuram redimir um passado e mostrar um cenário que dominaram em um tempo sem conseguir transformá-lo.
Cotação : (***) Bom.