segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O CIRIO EM CINEMA






Em 2007, esta coluna (então bem maior) apresentou um texto sobre os filmes que mostraram a grande procissão paraense e registrou os filmes em exibição nas salas especificas próximas ao hoje Santuário de Nazaré. Volto ao assunto para evidenciar as mudanças ocorridas. Não há o que dizer sobre os filmes de longa metragem. Lembro de um título lendário na filmografia ciriana: “Os Milagres de N. S. de Nazaré”, realizado em 1925, por algum mascate da estirpe de Benjamin Abrahão, que filmou Lampião e seus cangaceiros em meio aos diversos registros de imagens que coletou Brasil afora. Sobre este filme mudo não há maiores referências, além da história oral contada por espectadores de então. Pedro Veriano fez uma pesquisa sobre o assunto e conseguiu entrevistar um desses espectadores.
No cinema sonoro creio que a primeira seqüência em que se vê o Círio é a da produção inglesa “O Fim do Rio” (The End of the River/1947), dirigida por Derek Twist e produzida pela famosa dupla Michael Powell e Emeric Pressburger (os autores de “Os Sapatinhos Vermelhos”/1948 e de “Os Contos de Hoffman”, experiência de cinema e ópera lançada em 1951). Uma cópia em VHS de “O Fim do Rio” foi encontrada e copiada para o DVD. Hoje faz parte de nosso (meu e do PV) arquivo.
No cinema nacional a festa paraense esteve em “Um Dia Qualquer” (1962) e “A Promessa” (1974) de Libero Luxardo (o último um adendo a “Brutos Inocentes” que na edição final não conseguiu chegar aos 60 minutos de projeção, tempo exigido pelo então Concine (Conselho Nacional de Cinema) para dar um certificado de exibição especifica ao trabalho. Ganhando maior evidência, o Círio também esteve em “Iracema” (1974) de Jorge Bodansky, (o argumento repousava numa promesseira que chegava do interior e se prostituía em Belém). Estes foram os títulos de longa metragem que exibiram o Círio. Na área dos curtas a lista é bem grande e, de 2007 para cá andou crescendo com a adesão de novos cineastas.
Quanto às exibições, o panorama é ainda mais diversificado. Nos idos de 1950, antes mesmo do fim dos cinemas de rua e, com eles, a tradição pitoresca, dos espaços transformados em teatros para a edição regional do “vaudeville”, e mesmo os programas especiais atendendo à população flutuante, como festivais de filmes inéditos, a regionalidade desapareceu. Hoje a exibição comercial restrita aos shoppings, segue uma linha nacional moldada no sudeste. É praticamente impossível abrir espaço para um programa local, e nem se fala nos sorteios que existiam com prêmios curiosos como aves e doces.
Não endosso saudosismo, mas penso que a grande procissão estava pedindo um filme de longa metragem em que ela fosse a “estrela”. “Os Promesseiros” de Francisco Carneiro é o que mais se aproxima da idéia. É um média metragem que aborda a viagem de interioranos para a capital visando a dívida para com a santa padroeira. Nessa linha há muito a explorar. Mas o que se vê é a “cor local” servindo a outros assuntos com a fotogenia de nossa região como moldura. Não é por aí.

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