terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

LA LA LAND – ISTO É HOLLYWOOD



Sequência inicial de "La La Land" - afinidade com um recorte em "Fame"
Tempo curto para muita coisa. Inclusive registrar minhas opiniões sobre os filmes que tenho assistido. E olha que são muitos. Já se disse que a pressão é o melhor meio de aumentar a produção. E no meu caso, está marcando meu tempo de prioridades. Atividades acadêmicas e outras, pessoais, encurtaram meu tempo. Que antes o jornal levava.
Revendo o filme mais tratado em opiniões, discussões, tensões, vencedor de festivais e o mais que aparece, como as vezes, a quebra do respeito por tal pessoa não gostar dele, resolvi reiniciar meu tempo de escrita no blog com “La La Land - Cantando Estações” (EUA, 2016, 128 min.). Na primeira vez que o assisti percebi um musical marcado por recortes de outros nessa linha e dos quais havia gostado muito. Agora não. Mas vi que a primeira sequência, antes da apresentação dos créditos, por exemplo, me lembrou muito uma outra do filme de Alan Parker, “Fame” (1980) que mostrava estudantes de diversas origens étnicas e sociais em busca de uma vaga numa escola de artes cênicas em Nova York. Sonhos, lutas, frustrações, afetos se expressaram nessa sequência, para mim uma das melhores em um musical porque representava todas as pequenas histórias que estavam sendo contadas pelos alunos e o problema que eles enfrentavam para realizar seus sonhos.
Em “La La Land” a sequência representa o caos numa cidade, mas que vai ser o proxy dos dois personagens que serão o core do filme. É uma entrada perfeita. Nesse mundo em que se dança, se espera, se transita, as relações são agressivas como se vê no gesto da jovem, que pouco depois se sabe ser Mia (Emma Stone) para o condutor do outro carro (Ryan Gosling), Sebastian.
E daí em diante se desenrolam as histórias singulares dos dois tipos, ela tendo maior foco, ele surgindo de um acaso na aproximação com ela. Nessa relação que se emparelha surge uma ligação amorosa, traduzindo-se em percursos em que as aspirações e os sonhos de atingir o sucesso – ela na arte de representar, ele na música, em especial, no jazz - é o leit motiv da vida dos dois então parceiros.
Entre sequencias de dança e música caminham os jovens em busca de garantir um espaço naquele mundo em que eles vivem. Mas em que se inscreve essa conotação de coreografias e canções que instigam o par a penetrar nos seus próprios sonhos? A musicalidade e a dança do filme repercutem no próprio gestual de suas vidas pelo ambiente em que se acham. Uma canção sublinha os efeitos românticos, o conhecimento entre os dois e a revelação de quem são entre si (“Mia and Sebastian’s Theme).
O que me pareceu muito forte no que o diretor Damien Chazalle quis tratar no filme foi apontar os caminhos com que se deparam os/as candidatos/as ao star system hollywoodiano. Mia, de garçonete num café da Warner Bros esperava sair contratada pelos estúdios tão perto de si. Idealizava-se uma grande intérprete não reconhecidos os seus dotes porque as oitivas de seus diálogos nos ensaios que deveriam contemplá-la em algum papel dramático eram desprezadas pelos que compunham a equipe de sondagem. Mesmo mudando de foco ao criar sua própria peça, ensaiar e representar, a falta de público se tornou um desastre.
No caso de Sebastien, seu ideal de levar avante um espaço para recuperar as músicas dos velhos criadores do jazz também não foi avante. Revisão de vida, rupturas com a realidade de Mia e novo esforço para decidir o que aquela cidade queria que ele fosse desmontou as duas vidas já unidas.

Na sequência final em que os dois se juntam e recontam as suas histórias em outro tom a partir de um reencontro distanciado – ela na plateia, ele no palco – salienta-se o fulcro do filme. Esse é o epílogo de um caso em que os sonhos pessoais fizeram a sua parte, não conseguindo, entretanto, agregar os dois pontos – sucesso e vida a dois.
Se alguém lembra de “A Noite Americana” (1973), de François Truffaut onde a realidade de vida dos atores em que se instalava a realidade do cinema nos bastidores com os personagens se transformava quase num hospício, a sequência final de “La La Land” é uma apoteótica demonstração metalinguística de como os sonhos realizados pelo cinema se concretizam nas imagens cantadas e coreografadas para uma plateia. Que está à espera de luzes, muitas luzes e ao mesmo tempo do tom dramático para as lágrimas aos seus “mortos”. Ou aos fantasmas? Ou às imagens fantasmáticas que levanta naquele momento síntese de sua perspectiva cinematográfica?
Isto é Hollywood. E é o cinema para o grande público, cinema que não deixa de ter uma estética admirável.
Ao rever o filme com outro olhar deslocado do que eu já havia lido sobre ele, pensei que o cinema ainda vai ter vida longa. Digo, um tipo de cinema.

Paz ao meu ponto de vista.