Will Farrel e Zach Galifianakis em "Os Candidatos"(2012)
A reunião do diretor Jay Roth, de
“Entrando numa Fria”(2000) com o comediante Zach Galifianakis, de “Se Beber,
Não Case”(2009) poderia até ser melhor, mas o que apresentou em “Os Candidatos”(The Campagnie/EUA,2012) tem um
toque hilário e não deve ser subestimado. Essa comédia voltou ao cartaz em
Belém e ganhou impulso comercial com a recente campanha pela presidência dos
EUA.
No filme, Cam Brady (Will Farrel),
um congressista veterano, candidato pelo Partido Democrata à reeleição, ganha
subitamente um adversário no tímido e inexperiente Marty Huggins (Zach
Galifianakis). Este candidato de ultima hora pelo Partido Republicano é, na
verdade, impulsionado por dois irmãos magnatas (Dan Aykroyd e John Lithgow) que
desejam usar uma firma chinesa para atuar nos EUA sob controle de seus meios de
produção. O que em principio parecia ser uma “parada fácil” para o já
congressista logo se transforma num pesadelo que ele tem de enfrentar com
recursos nem sempre éticos (como seduzir a mulher do concorrente) colocando as
cenas ousadas nos jornais noticiosos.
O filme lembra bastante o
clássico “A Mulher Faz o Homem” (Mr Smith Goes to Washington/ 1939) de Frank
Capra, ressalvando-se as especificidades atuais do “fazer política”. Neste
caso, era um interiorano (James Stewart) que substitui um senador falecido em
acidente e revela a corrupção nas casas legislativas. No caso atual, o que se
denuncia são as manhas dos pleitos, mostrando até que ponto vão os interesses
financeiros que cercam os partidos e como as armas da luta pelos votos ganham
dimensões inusitadas, umas aproveitando oportunidades outras forçando situações
para ganhar a simpatia do eleitor. A figura do marqueteiro político é o eixo
voraz das peças que devem remodelar as imagens dos candidatos, assim como as
pesquisas de opinião que medem os altos e baixos das campanhas na sedução dos
eleitores.
Há momentos realmente engraçados.
Um deles é quando Cam vai dar um soco em Marty e o gesto acaba resvalando para
o rosto de um bebê. Não satisfeito com isso o roteiro leva adiante outro
acidente parecido: o candidato esmurra um cachorro de estimação. Tudo isso
contando como peças desfavoráveis à imagem dele.
Zach Galifianakis é um ator que tem
seduzido os espectadores a partir de sua expressão fisionômica. Não precisa
escorregar e cair no chão como muitos astros da comédia. Ele faz rir de cara. E
no filme não dispensa uma fisionomia sisuda, compondo o homem sério que nas
reuniões familiares, especialmente nas refeições, solicita a cada filho que conte
o que lhe parece vergonhoso, ou as más idéias na cabeça. O concorrente é o
reverso, o “bon vivant” muito falante, expansivo, conhecedor das manhas
políticas que vêm usando para se manter em um cargo (e visando,certamente, uma
ascensão). Não é bem o foi exposto na comédia de Capra onde o rival maior do
roceiro interpretado por James Stewart era o veterano e corrupto tipo vivido
por Claude Rains. Nesse caso, as regras legislativas tendiam a capacitar quem
estava no poder a manter sua linha antiética para aprovar projetos enquanto Mr.
Smith teima em fugir dessa ambiguidade da política.
“Os Candidatos” consegue ser
muito divertido, embora longe de ser tomado como uma denúncia mais séria a
meios escusos usados em eleições norte-americanas ou ir além apontando os
milionários compradores de votos. Contudo, mostra como “fabricar políticos”
usando a máquina de marqueteiros para “dourar a pílula”. Nota-se que os personagens
não se livram de velhos estereótipos, ou declaradamente bons na sua ingenuidade
(no caso “rima” com honestidade), ou maus seja na cobiça desmedida seja em
atitudes amorais na luta pelo poder. E não se esperava outra coisa no filme,
mesmo assim ganhando campo na sua narrativa ágil e nos seus bons propósitos. O
que destoa, certamente, é o final, absolutamente improvável, embora de efeito
moral cabível no exemplo de “Mr. Smith Goes to Washington” e outros títulos do tema.
Nesse caso, lembro “Tempestade Sobre Washington” (Advise and Consent, 1962) de
Otto Premminger. Enfim, como atualmente o cinema vem acenando para
vilões-heróis, a comédia em cartaz merece ser vista. Até por se confirmar que
não é só no nosso terreno que se aponta vilão ou se fabrica o que possa vestir
essa indumentária.