segunda-feira, 26 de novembro de 2012

VAMPIROS ROMÂNTICOS


Kristen-Stewart-e-Robert-Pattinson-em "A Saga Crepusculo- Amanhecer parte 2"

Na sua primeira semana de exibições nos cinemas dos EUA “A Saga Crepúsculo: Amanhecer, 2ª Parte”(Breaking Down 2) rendeu 141 milhões de dólares. Sabe-se que no Brasil foram feitas cópias em números recorde para atingir cinemas de todas as cidades (fora as projeções digitais que não precisam de película), a exemplo, Belém, onde 5 salas de cada shopping estão ocupadas com o filme em versões originais (com legendas) e dubladas.
É de se perguntar: por que tanta euforia em torno de um casal de vampiros, agora com uma filha e às voltas com outros vampiros e, ainda, lobisomens? A primeira explicação paira no fascínio dos mitos. Os filmes e livros que abordaram mitos como os que amedrontam os/as leitores/as sempre apresentaram um bom público. Há, inclusive, um estudo sobre os contos de fadas, de Bruno Bettelheim (A Psicanálise dos Contos de Fadas, 17ª ed. 2002, hoje no endereço http://xa.yimg.com ), onde se observa a arquitetura do mal através desses contos e mitos e seu significado na criação de uma criança. Psicólogos gastaram laudas escrevendo sobre o quanto essas histórias influem negativamente nesses infantes. Emparelha-se à sentença da babá ao dar alimento para uma criança:”- Come logo senão o bicho te pega”.

A norte-americana Stephenie Meyer havia escrito “Crepúsculo”(Twilight) como uma brincadeira ou uma diversão muito particular. Sua irmã, ao ler o texto, incitou-a a levar para publicação. Ela certamente quis desmitificar o vampiro moldado por Bram Stocker em “Drácula” vendo a casta desses sugadores de sangue como pessoas aparentemente comuns, capazes de amar como são capazes de odiar. O fato de ser imortal desde que se livre de símbolos da vida como a luz do sol e relíquias cristãs, além de alguns temperos e objetos de prata (analogia com os“trinta dinheiros”, ou moedas de prata, que Judas recebeu por trair Jesus), chega a ser não uma dádiva, mas terrível maldição.
Os filmes derivados dos livros de Meyer ganharam enorme popularidade por unir a fantasia ao romance. Atores jovens levam a um efeito mimético que elimina o terror clássico aliando o mito à metáfora de “morrer de amor” (ou viver eternamente por ele).

No filme que está em cartaz mundialmente (estreia em Los Angeles amanhã) é dirigido por Bill Condon, cineasta responsável pelo excelente “Deuses e Monstros” (Gods and Monsters/1998), com roteiro dele baseado no livro de Christopher Bram sobre a vida do cineasta James Whale, o responsável pela melhor versão de “Frankenstein”(1931). Whale teria sido assassinado por manter uma orientação sexual diversa do modelo tradicional, culpando-se, na ocasião, o seu jardineiro (por quem era apaixonado). Foi o melhor trabalho de um grande ator inglês, Ian McKellen (de “Senhor dos Anéis” e agora “O Hobbit”). Condon realizou as duas partes de “Amanhecer” em um só tempo (a produtora do filme é que dividiu para melhor rendimento como fizeram com o último livro da franquia“Harry Potter”). Não é possivel exigir excelência estética num trabalho eminentemente comercial. Mas ainda assim há resquícios de agravos sérios no conjunto, como o desempenho da atriz Kristen Stewart. A “mãe vampiro” que luta para que seres da espécie não ataquem seu rebento é ainda mais ridícula com a profusão de closes. Aliás, o roteiro (não sei até que ponto obedece ao original literário visto desconhecer o livro) não aproveita a liberdade de idéia, como seja, a humanização dos mitos em sua perspectiva atual. Com isso ganha o caricato. E não é comédia. A batalha final de hordes vampíricas e lobos em uma região gelada é apoteose de blockbuster capaz de gerar gritos na plateia. E os diálogos sobre a capacidade de convivência de espécies é de um grotesco atroz. Mas de que vale apontar defeitos no trabalho de Condon? A hegemonia do cinema de fácil comercialização desafia qualquer análise de forma ou conteúdo. E a platéia (não só a garotada, mas muito jovem acima dos 20) que aplaude os vampiros amantes pouco está ligando para quem os ache carnavalescos, mesmo fora do tempo. Mas se há resquicios de um “dia das bruxas” que venha nesse meio enfeitar a sintonia. Se merecem!

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