terça-feira, 24 de outubro de 2023

GIGI, O MUSICAL DA METRO, 1958



Fazendo um giro pelos antigas comédias musicais da MGM temos assistido cópias de clássicos de nossa videoteca, como: “Corações Enamorados” (1954, de Gordon Douglas), “Cantando na Chuva” (1952, de Gene Kelly e Stanley Donen), “A Roda da Fortuna” (1954, Vincent Minelli), “Meias de Seda” (1957, de Rouben Mamoulian), com as canções, danças  e coreografias admiráveis de Fred Astaire, Gene Kelly, Cid Charisse, Leslie Caron, Donald O’Connor, Debbie Reynolds e outras e outros que movimentavam as telas nesse período, meados e final da década de 1950.

Recentemente foi a vez de assistir “Gigi” (1958), de Vincent Minnelli baseado na novela homônima de 1944, de Colette (1873-1954), protagonizado por Leslie Caron, Maurice Chevalier, Louis Jourdan, Eva Gabor e outras/os. Com produção de Arthur Freed. Esse filme é muito amado pela nossa família e hoje, acho que vou ser persona non grata para elas/eles por uma avaliação que extrai do que assisti pela enésima vez, mas somente agora revi com um olhar diferente.

Em 1959, “Gigi” foi vencedor de nove estatuetas do Oscar entre as principais categorias às quais concorreu, e, também, do Globo de Ouro, dos Críticos de Cinema de NY, do David de Donatello e outros prêmios.

A primeira sequência articula-se com o olhar e a declaração de Honoré Lachaille (Maurice Chevalier) monologando para a câmera à vista da avenida principal de Paris onde as carruagens e lindas mulheres e seus pares passeiam. Ao cantar “Thank Heaven for Little Girls” (Graças aos Céus, pelas menininhas) esboça a sua opinião de um homem da alta classe social sobre as mulheres na Belle Époque, na virada do século XX, com os homens “caçando” as mulheres para mostrar o poder da riqueza e de sua virilidade. Estas se submetem aos cavalheiros que a presenteiam - e, na opinião do velho senhor, um caçador inveterado - elas não querem casar porque esta situação não lhes dá a liberdade de viver como querem. O sobrinho, Gaston (Louis Jourdan), também um “bom vivant”, se apaixona por uma garota sua conhecida, então adolescente e mais adiante, jovem, Gigi (Leslie Caron) e procura afastar-se da lâmina das fofocas sociais sobre ser um homem frívolo naquele ambiente. Mas não deixa de cruzar com os ensinamentos do tio Honoré (Maurice Chevalier) que lhe oferece todas as facilidades de mostrar como se trata uma mulher.

Gigi obedece, ingenuamente, os conselhos de suas tias que a ensinam a ter uma postura glamourosa, saber servir, escolher joias, comer, acender o charuto do parceiro, aprendendo para o futuro a conviver com os homens que circulam nos clubes, o happy end das garotas de sua classe social, que devem ser desejadas e converter esses desejos em conquistas, sem que haja casamento. Nesse aspecto, a prostituição é tratada como uma profissão nobre, passando de geração em geração, conforme a história da personagem e suas tias.

A argumentação de Gaston para Gigi considera a amizade entre eles, o tempo de conhecimento familiar, contudo, a arte de bem viver da garota já está armada pelas tias. Não pela avó Mamita (Hermione Gingold).

Na outra ponta, o velho tio Honoré tende a criar o formato do modelo masculino que o sobrinho Gaston deve seguir com as mulheres, inclusive o tratamento agressivo às namoradas, com predomínio da violência moral. E se alguma delas optar pelo aparente suicídio é triunfo masculino.

O enredo constrói uma suposta “história de amor” quando, na verdade, criam-se elementos para identificar a pedofilia e a prostituição infantil, numa perspectiva de normalidade e marcada pelas belíssimas melodias e pelo fausto da produção. Cenários magníficos, obedecem a uma direção de arte enriquecida com a qualidade dos figurinos, fotografia exemplar em locação onde se dá o desempenho da iluminação com destaque, a exemplo, da recriação do restaurante “Maxim’s, o espaço em que a nova e a velha geração de homens ricos apresentam as suas conquistas femininas. Nesse ambiente há sequências “congeladas”, fixas, apresentando figuras que chegam ou que saem do salão, quando alguma fofoca entra em cena.

O diretor Vincent Minelli e sua mágica em criar narrativas dialógicas com elementos cativantes interage entre os recortes dos vários percursos da vivência das personagens. E o musical deixa o rastro da suntuosidade e do apelo à simpatia do público.

No momento em que avaliei essa perspectiva do filme de Vincent Minelli, captando essas insinuações sobre machismo, procurei ler as características da literatura de Colette e num dos posts há o registro: “Colette conhecia a literatura decadente do final do século, quase sempre masculina e exacerbada, mas era uma criadora com um mundo próprio e uma visão ajustada do mundo emocional das mulheres.”

“Gigi” é uma novela e toda ela narrada em diálogos entre os personagens. Li o texto e percebi que é o mesmo usado na estrutura narrativa do filme de Minelli.

O diálogo final entre Gaston e Mamita revelam um acordo diferente daquele que obriga Gigi ser a cortesã do Maxins’s, no pedido de casamento que este faz à amiga. Pergunto: essa atitude tende a salvar a exposição machista do filme? Com a palavra as/os que já assistiram “Gigi”.

Continuo a gostar do filme, aplicando as críticas que me levam a avaliar o lado moral que expressa a argumentação machista. (Luzia Álvares)

 


A BARBIE QUE EU DEIXEI DE LADO

 



A garota que eu fui era apaixonada por bonecas. De pano, em princípio. Minha mãe cortava e costurava à mão. O tecido era de morim branco. Os vestidinhos de chita, coloridos, dando o suporte da cara com a linha colorida – cabelos (as vezes compridos), o nariz e as orelhas de linha preta, a boca, vermelha. As caixas de sapato eram as casas das nossas bonecas, pois minhas primas também traziam as suas para a tarde de brincadeiras. Aos sete anos me encantei com um boneco de celuloide que estava no leilão para ser oferecido às pessoas, na Festa de Nossa Senhora da Conceição, em Abaetetuba. Chorei pelo boneco, mas não consegui sensibilizar o leiloeiro (rsrsrsrsrs) e outra pessoa arrematou. Certo dia, consegui ganhar um, desses que estavam na moda, sem roupa, róseo. Foi minha paixão.

Continuo apaixonada por bonecas. Tenho umas 50, até importadas, visto que as pessoas próximas me presenteiam. De todos os tipos.

Esse preâmbulo vem em função do filme “Barbie” (EUA, Reino Unido, 2023) que assisti esta semana.

Colado no interesse de meninas por esse objeto de prazer e de brincadeiras, tenho avaliado as inúmeras opiniões sobre o filme, em textos de crítica ou posts nas redes sociais. A maioria amou o filme, outros avaliaram a significativa peça crítica contra o sistema patriarcal, outras transformaram suas análises apontando a tradução da narrativa em avanços da teoria feminista, valorizando a fantasia e o senso hilário de toda essa argumentação. Outros usaram a filosofia como instrumento de análise. Alguns viram o cinema dar um salto qualitativo e afastar-se do recorrente “cinemão americano”.

Pergunto: o que seria, então, o investimento hollywoodiano numa boneca que fez o furor das meninas de classe média, brancas, nos anos 1950, quando foi criada? A euforia em traduzir uma mudança, com a aval do filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, escrito e dirigido por Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, quando o monólito interrompe o contexto antigo e dá a nova dimensão do futuro, reflete-se na sequência inicial quando a boneca Barbie aparece e a criançada que brincava de mãe, com seus bebês, suas cozinhas, o “faz-de-conta’ doméstico de uma imagem materna tradicional estilhaça suas peças infantis e desaparece. A sequência seguinte dá forma a um tempo e um espaço em que a nova imagem feminina vai dar as cartas e projeta uma infinidade de barbies festiva e fantasticamente vivendo suas vidas e o novo percurso a desenvolver as novas ideias de individualidade, novas representações do modelo da fantasia das meninas que adquirem o novo padrão e, com certeza, seguem em paralelo o processo de brincar de bonecas.

Mas o filme, em formato fantástico, segue o novo produto, cujo protótipo assumiu novos patamares na ambiência social, buscando as significações que interrogam os porquês da inexistência daquele mundo em que tudo é perfeito, onde as bonecas estão mais evidentes do que os bonecos. Convivem, mas não se imaginam importantes porque o produto comercializado para satisfazer o desejo das meninas é marcado pela figura feminina da Barbie. E onde ficam as consumidoras do produto que segue reorganizando as demandas sociais pelo divergente? Elas veem que não há somente modelos brancos, cabelos louros, mas os tipos multiplicam-se em várias cores, em indumentárias pouco conhecidas em diversos países e, francamente, não intercambiam oralidades, pois, se a Barbie fala com suas congêneres, a indústria de brinquedos já deu sinal de que outros modelos de bonecas tendem a dialogar com suas pequenas e adolescentes consumidoras.

E então há o intercâmbio com o mundo real, na figura de duas mulheres que expõem à boneca original, quais as situações que ela deixou de viver, porque não entendeu o seu viver naquele mundo perfeito e, em dado momento, os Kens assumiram o poder e as deixaram de fora, sentindo-se um produto a mais na investida fantástica, mas não na comercialização industrial – pelo menos no mundo real das consumidoras e na própria reforma industrial interposta pelos membros da empresa produtora do brinquedo. Veja-se: se as meninas adquirem a Barbie, o Ken nem sempre é desejado, mas aos poucos figura como “o par da boneca”. E sua presença é um adendo a mais na configuração da situação do desejo que as adolescentes veem emergir de sua sexualidade. Diga-se, os dois bonecos são assexuados, sabendo-se disso a partir de uma afirmação da Barbie a um senhor que insiste em não deixar que ela encontre alguém em seu bar (ou coisa assim). Se ela diz que não tem vagina, Ken, seguro do que diz, nega que não tenha o pênis.

E o jogo de poder continua entre as dificuldades de Barbie entender o processo pop que está se desenvolvendo em torno de si e suas congêneres e o aumento do poder que os Kens assumiram e tomam, inclusive a direção das normas que definem quem é quem naquela sociedade em que homens e mulheres ou bonecos e bonecas brincam de manter a autoridade.

É pela malicia de uma mentirinha de amor que o problema se desfaz. Barbie insinua-se sentimentalmente a fim de Ken e este se envolve com ela enquanto o coletivo de barbies pega o caminho da distração do líder e consegue assumir o poder, desmonta as normas da constituição e desfaz o que estava sendo vivenciado pelas bonecas num tempo em que elas se sentiam empoderadas.

E as consumidoras da Barbie, como ficam? Se elas não tinham diálogo com a boneca que amaram certo dia, o que ocorreu? Nos caixotes onde as guardaram depois de adultas, buscam hoje para rever o papel que representaram na vida delas? Viram sua vivência com a sociedade estrutural machista? Perceberam o percurso comercial das bonecas para a casa das meninas brancas e riquinhas? Entenderam isso como o trabalho feminista de evidenciar as sub-normas que definiram seus papeis sociais?

Nesse caso, enquanto a fantasia trata as Barbies dando um salto qualitativo nos avanços da mudança dos papeis femininos, eu, nos meus botões, sinto que ficou faltando a interlocutora principal que são as garotas que brincam de bonecas. Se nós, em tempos pretéritos, conversávamos com as nossas bonecas de pano, e definíamos onde elas iriam morar (rsrsrsrs) ou vestir, nos dias de domingo, por exemplo, as meninas que ganharam uma Barbie, o que fizeram? Guardaram-nas nas estantes para enfeitar uma sala? O quarto?

Ah, a narrativa cinematográfica, deu seu peso forte no processo dinâmico, expôs uma cinegrafia exemplar – os tons de rosa multidiversos (meus olhos cansaram de ver tanto róseo), composição das sequencias, em que as cenas se intercruzaram, apontando uma configuração estética traduzida de forma particular, em que as peças do figurino seguiam a perspectiva das mudanças de ponto de vista da boneca original absorvida com os resultados de suas instigantes ideias pós diálogos com mulheres reais. Então, a ideia final é de que a Barbie original mudou, tanto que na última sequência do filme ela vai consultar um ginecologista.

Não senti que o feminismo em processo nos estudos atuais tivesse amparo nas indagações da diretora Greta Gerwig que transferiu à Barbie suas angústias e a presunção de reconhecer que seria possível, o cinema fantástico nessas imagens satisfazer a linhagem feminista que augura novas formas de pensar, hoje, sobre o sistema patriarcal e o machismo sistêmico. Estou com estas atuais indagações.


segunda-feira, 27 de março de 2023

AS TERAPIAS DO “AMOR” DOS ANOS 1950-1960. E AGORA?

 

Entre cinéfilos/as, rever filmes é uma dinâmica da vivência no cinema. Há os que se interessam pelos clássicos dos grandes diretores e autores dessa arte. Há os que se interessam pelos temas que marcaram época. E há os que reveem filmes independente de qualificações especiais. Veem por que querem ver, mesmo. É o nosso caso.

Dia desses assistimos (Pedro e eu) a “Tempero do Amor’ (The Thrill of It All, EUA) de 1963, um filme com a Doris Day e James Garner, dirigido por Norman Jewison (a cópia do filme é nossa). O argumento refere o dia a dia de uma dona de casa, branca, classe social média, atividades domésticas, casada com um médico de boa posição. Em um jantar com pessoas da elite ela conta um fato ocorrido horas antes com os filhos que preferiram lavar os cabelos com um sabonete da marca Sempre Feliz, aos usados antes. Entre os convivas, estava o empresário desse produto e, animado, convidou-a para um comercial sobre a sua experiência. À medida que o programa ganhava popularidade os lucros aumentavam, assim como o valor do salário da apresentadora, dona de casa. Vida doméstica em baixa com filhos e marido cobrando a presença da mãe e da esposa. Ao vê-la tão importante mais do que ele próprio, o marido resolve aconselhar-se com um psicólogo do hospital. As mudanças são radicais nas atitudes dele, num fazer de conta que já encontrara os cuidados de outra pessoa. O que ocorre? A esposa sente a culpa, deixa o emprego, retorna ao dia a dia doméstico, e ainda vai curtir uma gravidez, considerando-se felicíssima porque havia retomado o amor do marido. Esses filmes tiveram ampla repercussão na época, haja vista a homogênea sintonia com as regras tradicionais para as meninas e mulheres.

Desta argumentação extrai algumas evidências que estão nas discussões atuais sobre a situação das mulheres, focos da extrema violência que as submete. A atitude da personagem vivida por Doris Day, ao se “re-compor” para a vida do lar é tratada como expressão do “amor” e por culpar-se pelo trabalho fora de casa, trazendo o desapego do marido, haja vista que pelas normas patriarcais a esposa deverá estar à disposição para as necessidades deste e isso é tratado como “amor familiar”. A sedução reversa pelo aconselhamento do psiquiatra da empresa incita o marido a uma dupla vida supostamente afetiva com outra mulher, criando ciúmes para retomar a companhia da esposa. A posição social que esta assumiu ao se tornar conhecida no trabalho com uma imagem pública, enfrenta o “des-poder” dele diante dos colegas médicos que esperam uma resposta masculina positiva.

Na década de 1960 os filmes impunham a representação dos modelos femininos em que essa é a versão da uma “terapia” para a manutenção da família com a submissão feminina em franca positividade. E o que é possível anotar na geração das mulheres que assistiu a esse filme e aos demais nesse modelo onde o machismo estrutural, o racismo, a estrutura capitalista mantinha as cordas do violino enfeixando e enfeitiçando donzelas e que estavam aptas a casar?

Nessa década inicia-se a segunda onda feminista e esses modelos vão enfrentar a crítica necessária para a ruptura com a submissão das mulheres. As instituições (família, igreja, sociedade) encaram essas críticas como anti-familiar, desamor e tantas e mais alusões negativas que procuram desmontar as críticas e subverter a conscientização feminina sobre sua real condição de vida. As mulheres mais ousadas se afastam dos esquemas tradicionais enquanto as demais, possivelmente a maioria, se amedrontam com as retaliações sociais que surgem de todos os lados contra elas. E alguns/algumas seguem até hoje na ideia de que o feminismo tende a ser nefasto socialmente. Na verdade, ele é uma articulação que previne a violência contra as mulheres e denuncia o feminicídio. Precisa ser entendido pelas próprias mulheres sobre a sua história de vida refletindo sobre sua vivência.

A reflexão sobre os filmes que assistimos e sobre a perspectiva do lugar das mulheres-personagens nesses filmes é também um processo de crítica feminista à arte cinematográfica que invade nossas vidas em todos os momentos culturais e de lazer. E, nestes, pensar o lugar da mulher é uma necessidade, porque não dizer exigência, para que não haja uma circulação de atitudes pensadas críticas quando na verdade são recorrências ao status quo. O cinema tem seus redutos castradores como os produtores, diretores e mais, e mais.

Na festa do Oscar-2015 algumas atrizes presentes protestaram sobre as perguntas que fazem a elas sobre seus vestidos no tapete vermelho, mas esperam tratar de sua carreira, planos, atuação. Essa é uma atitude das atrizes críticas de sua representação no ambiente cinematográfico. Hoje elas avaliam a forma discriminadora de serem tratadas nos papéis que representam ou nas questões que são apresentadas nas entrevistas a que são submetidas devido ao tipo de perguntas que a mídia lhes faz. Esse não deixa de ser o confronto com o mundo masculino da arte cinematográfica que sempre situou o homem com os principais papéis. Elas estão constatando também que mesmo nessa área não são levadas a sério. É importante a conscientização dessas grandes mulheres que circulam em múltiplos papéis além de seus próprios enquanto seres humanos. Elas merecem respeito.

Vamos aos filmes, não deixem passar a sua versão sobre a crítica social às mulheres -protagonistas nessa arte.

Feminismos, Presente!

Mulheres, Presente!

segunda-feira, 13 de março de 2023

E O OSCAR VAI PARA ....

 

Na noite de 12/03, foi promovida a entrega das estatuetas anuais do cinema norte americano, considerada a “festa do cinema” em que pese outros eventos promotores dessa arte e em níveis considerados mais valorizados. Se antes era possível chamar de “festa de Hollywood” a entrega do Oscar, presentemente não é mais possível essa designação. Houve inclusão de filmes de produção internacional, nas categorias específicas e muitas premiações que equivaleram reformular a dimensão da esfera nacional norte americana, no convívio do mercado de produção, distribuição e exibição. Sim, esse aspecto é que agora determina quem é quem nas indicações dos filmes, por meio de uma seleção colegiada multidividida de eleitores e selecionadores para essa noite esperada por milhões de cinéfilos e, principalmente, por espectadores médios mundiais.

As indicações deste Oscar 2023 seguiram a fórmula de anos recentes em que o cinema asiático, europeu, africano e de outras regiões trouxeram sua significativa presença para “encantar” esse mercado exibidor norte-americano, porque para concorrer nesse evento e ao menos ser indicado para receber essa estatueta, há regras datadas e específicas que dizem respeito em especial aos produtores. Sabe-se que o sistema da arte sob o capitalismo não foge à regra de se constituir um produto mercantilizado e exigente das regras de distribuição.

Assisti, com Pedro Veriano, a maioria dos indicados ao Oscar deste ano. Marco Antonio Moreira, nos emprestando cópias em DVD dos filmes lançados e, também assistidos nos canais streaming facilitadores atuais desses lançamentos. Tecnologias e narrativas interessantes que nos faziam optar sobre este ou aquele vencedor na tal noite do Oscar.

A 95ª cerimônia de entrega dos Academy Words foi longa. Com a lista dos indicados na mão e a caneta ao lado, discutia com o Pedro e com o Marco Moreira (via WhatsApp), as premiações que iam sendo reveladas na abertura dos tradicionais envelopes sob a guarda de atores e atrizes, algumas caras novas nesse mundo do cinema. E nessa estratégia chegamos até a madrugada deste 13/03.

Em dezembro do ano passado assisti, no Amazon Prime Video, a “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” ( EUA, 2022, 2h19min) escrito e dirigido por Daniel Scheinert e Daniel Kwan. Houve uma sensação inicial de estranhamento pela narrativa em que milhares de partículas se interpenetravam, interagiam, outras ficando estáticas, ou se movimentando loucamente. Esse processo incomoda aos que estão acostumados com a “linguagem certinha” sobre um tema. Que tema? Perguntei a mim mesma. E revi o filme. Fui juntando algumas ideias sobre ele, sobre as personagens, sobre uma em particular. E fui gostando do que assistia.

Não li nenhuma análise crítica ao filme porque eu precisava das minhas próprias ideias para a demonstração pessoal sobre um assunto que o cinema estava dizendo – é difícil  de entender – e eu acreditava estar vivendo aquela realidade. Na ficção científica? Não era o caso. Emergiu a figura de Evelyn (Michelle Yeoh), uma mulher, que administrava uma lavanderia familiar. Nessa situação, outras tarefas se interpunham nas condições de vida dela, a administração da casa, onde os cuidados com todos se trançavam entre suas próprias despesas em confronto com as notas fiscais que teria que encontrar sobre os custos na empresa, o cotidiano da família e as diversas decisões que tinha que tomar em nome de sua vida afetiva, de seus preconceitos, do tempo para negociar suas dívidas com a auditora implacável da receita (Jamie Lee Curtis) em torno da papelada comercial que nem sempre estava conforme as demandas da fiscalização.

Esse multiverso que desdobrava a partir daquelas cenas se confundiam com um jogo como se constituíssem em universos paralelos que estavam em circulação no cotidiano de Evelyn. Ela priorizava tudo, defendia seu ponto de vista, mas recorria contraditoriamente em novas pegadas a caminho. O idoso, a quem alimentava e medicava, o marido que expunha algumas ideias , eram aceitas, mas ao mesmo tempo  se tornavam inúteis e  havia a recomposição da atitude. Revisão do preconceito homofóbico, do etarismo, do amor, de todas as circunstâncias que escravizam , que destroem a liberdade, que desmontam o afeto.

Então, vejam minha visão se integrava à de milhões de mulheres que vivem nesse multiverso. Não era um filme de ficção científica, mas a evidencia que estas condições em que o caos se ordena são vividas por nós, mulheres.

Estou eu aqui, apaixonada pelo filme. Porque trata de um multiverso feminino que espelha o fio das vivências das mulheres.

Vou re-re- ver o filme. Porque tudo em todo o lugar ao mesmo tempo, é a nossa prática cotidiana.

 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

LISTAS INDIVIDUAIS - MELHORES FILMES DO ANO 2022

 

TITANE 

PINOCHIO, DE GUILLERMO DEL TORO 

LICORICCI PIZZA 

BENEDETTA 

AFTERSUN

ARGENTINA, 1985 



PEDRO VERIANO

1.      Drive my Car, de Ryūsuke Hamaguchi

2.      Ennio, O Maestro, de Giuseppe Tornatore

3.      Benedetta", de Paul Verhoeven

4.      Belfast, de Kenneth Branagh

5.      Titane, Julia Dicournau

6.      Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar

7.      Crimes Do Futuro, de David Cronenberg

8.      Flee - Nenhum Lugar para Chamar de Lar, Jonas Poher Rasmussen

9.      Não, Não Olhe, de Jordan Peele

10.    Pureza, de Renato Barbieri

Outras categorias

Melhor Diretor – Paul Verhoeven (Benedetta)

Melhor ator: Hidetoshi Nishijima (Drive my Car)

Melhor atriz - : Virginie Efira (Benedetta)

 

LUZIA ÁLVARES

1.      Drive my Car, de Ryūsuke Hamaguchi

2.      "Benedetta", de Paul Verhoeven

3.      Memórias, de Apichatpong Weerasethakul

4.      Aftersun, de Charlotte Wells

5.      Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar

6.      Ennio, O Maestro, de Giuseppe Tornatore

7.      A Pior Pessoa Do Mundo, de Joachim Trier

8.      Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, de Dan Kwan, Daniel Scheinert

9.      A Ilha De Bergman, de Mia Hansen

10. Pureza, de Renato Barbieri

 

Demais Categorias

Melhor direção: Ryusuke Hamaguchi (Drive my Car),

Melhor ator: Hidetoshi Nishijima (Drive my Car),

Melhor atriz: Tilda Switon (Memórias),

Melhor Ator Coadjuvante: Jude Hill (Belfast),

Melhor Atriz Coadjuvante: Reika Kirishima (Drive my Car),

Melhor Roteiro Original: Tudo Em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo

Melhor Roteiro Adaptado: Drive my Car,

Melhor Montagem: Ennio, O Maestro,

Melhor Figurino: Mães Paralelas/ Benedetta,

Melhor fotografia: Benedetta

Melhor direção de arte (desenho de produção): Benedetta

Melhor Animação (longa): Pinóchio, de Guillermo del Toro

Melhor Trilha Sonora: Ennio O Maestro,

Melhor Efeitos Especiais: Bardo, de Alejandro González Iñárritu

Melhor Documentário (longo): Ennio O Maestro.

Melhor Documentário (curta): Amador, Zélia, direção e roteiro de Ismael Machado (Produtora Floresta Urbana).

MENÇÕES

Menções Especiais: O legado dos cineastas Jean-Luc Godard, Jean-Marie Straub e Alain Tanner para o cinema.

Menção Especial – FICCA – 8º Festival Internacional de Cinema do Caeté – Bragança/Pa – 08 a 10 de Dezembro de 2022. https://www.ficca.net.br/

 

MARCO ANTONIO MOREIRA

1) Drive my Car de Ryusuke Hamaguchi

2) Memórias de Apichatpong Weerasethakul

3) O Festival do Amor de Woody Allen

4) Ennio O Maestro de Giuseppe Tornatore

5) Licorice Pizza de Paul Thomas Anderson

6) Crimes do Futuro de David Cronenberg

7) Mães Paralelas de Pedro Almodóvar

8) Aftersun de Charlotte Wells

9) Marte Um de Gabriel Martins

10) Bardo Falsa Crônica de Algumas Verdades de Alejandro González Iñárritu

 

Categorias:

Melhor direção: Ryusuke Hamaguchi (Drive my Car)

Melhor ator: Hidetoshi Nishijima (Drive my Car)

Melhor atriz: Tilda Switon (Memórias)

Melhor Ator Coadjuvante: Jude Hill (Belfast)

Melhor Atriz Coadjuvante: Reika Kirishima (Drive my Car)

Melhor Roteiro Original: O Festival de Amor

Melhor Roteiro Adaptado: Drive my Car

Melhor Montagem: Ennio O Maestro

Melhor Figurino: Mães Paralelas

Melhor fotografia: Drive my Car

Melhor direção de arte (desenho de produção): Drive my Car

Melhor Animação (longa): Pinóchio, Melhor

Trilha Sonora: Ennio Morricone em Ennio O Maestro

Melhores Efeitos Especiais: Titane e Bardo

Melhor Documentário: Ennio O Maestro

Menções Especiais: O legado dos cineastas Jean-Luc Godard, Jean-Marie Straub e Alain Tanner para o cinema.

 

FRANCISCO CARDOSO

01. Drive my car (Ryusuke Hamaguchi)

02. Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Dan Kwan e Daniel Scheinert)

03. Titane (Julia Dicournau)

04. Festival do Amor (Woody Allen)

05. Licorice Pizza (Paul Thomas Anderson)

06. Roda do Destino (Ryusuke Hamaguchi)

07. Um Herói (Asghar Farhadi)

08. Benedetta (Paul Verhoeven)

09. O homem do Norte (Robert Eggers)

10. Argentina,1985 (Santiago Mitre)

Categorias

Melhor Diretor: Ryusuke Hamaguchi)

Melhor Ator:Amir Jadidi (Um Herói)

Melhor Atriz: Michelle Yeoh (Tudo em todo lugar ao mesmo tempo)

Melhor Ator Coadjuvante: Peter Lanzari (Argentina, 1988)

Melhor Atriz Coadjuvante: Charlotte Rampling (Benedetta)

Melhor Design de Produção: Titane (Laurie Colson e Lise Péault)

Melhor Montagem: Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Paul Rogers)

Melhor Fotografia: O homem do Norte (Jarin Blaschke)

Melhor Trilha Sonora: Festival do Amor 

Melhor Canção Original: Top Gun, Maverick (“Hold my Hand” por Lady Gaga)

Melhor Figurino: Benedetta (Pierre-Jean Larroque)

Melhor Roteiro Adaptado: Drive my car (Ryusuke Hamaguchi e Takamasa Öe)

Melhor Roteiro Original: Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Dan Kwan e Daniel Scheinert)

Melhor Animação: Pinóquio (Guillermo del Toro e Mark Gustarfson)

Melhor Documentário: Ennio, o Maestro (Giuseppe Tornatore)

 

ISMAELINO PINTO

1- Segredos do Putumayo

2 - Ennio, o maestro

3 -  Pureza

4 - O homem do Nort

5 - Elvis

6 - Licorice Pizza

7 - O acontecimento

8 - Não, não olhe

9 - A viagem de Pedro

10 - Flee - Nenhum lugar para chamar de lar.

 

Categorias

Melhor direção: Robert Eggers ( O homem do norte)

Melhor ator: Alexander Skarsgård (O homem do Norte)

Melhor atriz: Dira Paes (Pureza)

Melhor ator coadjuvante: Ethan Hawke (O homem do Norte)

Melhor atriz coadjuvante:  Olivia DeJonge (Elvis)

Melhor Roteiro Original: Paul Thomas Anderson (Licorice Pizza)

Melhor Roteiro Adaptado: Flee - Nenhum Lugar para Chamar de Lar.

Melhor Montagem: Jonathan Redmon (Elvis)

Melhor Figurino: Catherine Martin e Miuccia Prada  (Elvis)

Melhor fotografia: Jarin Blaschke (Homem do norte)

Melhor Animação (longa): Flee – nenhum lugar para chamar de seu.

Melhor animação (curta): The Windshield Wiper, de Alberto Mielgo

Melhor Trilha Sonora: Elvis

Melhor Canção: Doja Cat, “Vegas" , Elvis

Melhor Efeito Especial: O Homem do Norte

Melhor Documentário: Segredos de Putumayo.

Menções Especiais:  a volta do Festival de Cinema Italiano para Belém.

 

DEDÉ MESQUITA

1º - Aftersun (de Charlotte Wells)

2º - A Pior Pessoa do Mundo (de Joachim Trier)

3º - RRR - Revolta, Revolução e Rebelião (de S. S. Rajamouli) - Netflix

4º - Belfast (de Kenneth Branagh)

5º - Pinóquio (de Guillermo del Toro) - Netflix

6º - Flee (de Jonas Poher Rasmussen)

7º - Peter von Kant (de François Ozon)

8º - Não, Não Olhe (de Jordan Peele)

9º - Licorice Pizza (de Paul Thomas Anderson)

10º - Roda do Destino (de Ryusuke Hamaguchi)

 

Categorias:

Diretor: Charlotte Wells (de “Aftersun”)

Ator: Denis Ménochet (“Peter von Kant”)

Atriz: Renate Reinsve (“A Pior Pessoa do Mundo”)

Ator Coadjuvante: Anthony Hopkins (“Armageddon Time”)

Atriz Coadjuvante: Angela Bassett (“Pantera Negra - Wakanda Forever”)

Roteiro Original: Não, Não Olhe (de Jordan Peele)

Roteiro Adaptado: Flee

Melhor Animação: Pinóquio

Melhor Documentário: Kobra – Autorretrato

Melhor Montagem: Aftersun

Melhor Fotografia: RRR

Direção de Arte: RRR

Melhor Som: Top Gun

Melhor Trilha Sonora: Batman (Michael Giacchino)

Melhor Canção:  -

Melhores Efeitos Especiais: RRR

Melhor Cabelo & Maquiagem: “Spencer”

Melhor Figurino: “Spencer”

Melhor Filme Nacional: “Marte Um”, de Gabriel Martins

 

MELHORES DO CINEMA 2022 - ASSOCIAÇÃO DE CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ (ACCPA)

 A Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA) elegeu os melhores do Cinema em 2002 a partir da seleção de filmes inéditos exibidos nos cinemas de Belém e disponíveis em canais de streaming. Desse modo, a ACCPA mantém a tradição da escolha dos melhores do Cinema iniciada em 1962 que inclui filmes e diversas categorias artísticas vinculadas às produções como melhor filme, diretor, ator e atriz. A ACCPA espera que cinemaníacos e cinéfilos assistam ou revejam os filmes escolhidos para ampliação dos debates de cada obra fílmica.

Participaram da eleição de 2022 os críticos de cinema Pedro Veriano, Luzia Miranda Álvares, Marco Antonio Moreira, Francisco Cardoso, Ismaelino Pinto e Dedé Mesquita. (M.A.M.)

Feliz 2023 para todos!

 

Melhores Filmes

1)      Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi (40 pontos)

2)      Ennio, O Maestro, de Giuseppe Tornatore (30 pontos)

3)      Benedetta, de Paul Verhoeven (20 pontos)

Aftersun, de Charlotte Wells (20 pontos)

5)      Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson (19 pontos)

6)      Memória, de Apichatpong Weerasethakul (17 pontos)

7)      O Festival do Amor, de Woody Allen (15 pontos)

Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar (15 pontos)

9)      Belfast, de Kenneth Bragnah (14 pontos)

Titane, de Julia Dicournau (14 pontos)

 Categorias:

 Melhor diretor: Ryusuke Hamaguchi (Drive my Car)

Ator: Hidetoshi Nishijima (Drive my Car)

Atriz: Tilda Switon (Memória)

Ator Coadjuvante: Jude Hill (Belfast)

Atriz Coadjuvante: Reika Kirishima (Drive my Car)

Melhor Roteiro Original: Dan Kwan e Daniel Scheinert (Tudo em todo Lugar ao mesmo tempo)

Melhor Roteiro Adaptado: Ryusuke Hamaguchi e Takamasa Oe baseado na obra literária de Haruki Murakami

Melhor Montagem: Massimo Quaglia (Ennio O Maestro)

Melhor Figurino: Pierre-Jean Larroque (Benedetta)

Melhor Fotografia: Jarin Blaschke (O Homem do Norte)

Melhor Animação (longa): Pinóchio de Guillermo Del Toro

Melhor Animação (curta): The Windshield Wiper de Alberto Mielgo

Melhor Trilha Sonora: Ennio Morricone (Ennio O Maestro)

Melhores Efeitos Especiais: Lazaro Cervantes, Salvador Servin, Alejandro Vazquez e

Karen Vazquez (Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades)

Melhor Documentário (longa): Ennio O Maestro de Giuseppe Tornatore

Melhor Direção de Arte: Benedetta, Drive my Car, Titane e Revolta, Rebelião, Revolução

Melhor Canção Original: Hold my Hand (Top Gun Maverick) e Doja Cat (Elvis)

Melhor Som: Marco Alice, James Austin, David Betancourt (e outros) (Top Gun Maverick)

Melhor Cabelo e Maquiagem: Tanja Adams e Charlotte Alpert (e outros) (Spencer)

Menções especiais:

·        - O legado cinematográfico dos cineastas Jean-Luc Godard, Jean-Marie Straub e Alain Tanner que faleceram esse ano

·        - A realização do 8º Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA)(Bragança/Pa).

·        - A exibição do Festival de Cinema Italiano 2022

·        - A realização do Amazônia (Fi) Doc 2022