segunda-feira, 30 de julho de 2012

PAIS DE IMPROVISO

Os casais em "pé de guerra" para a maternagem. Chanchada.

       O que difere “Solteiros com Filhos”(Friends with Kids/EUA, 2012) das pornochanchadas nacionais? É difícil saber. A fórmula é a mesma em termos de construção de um roteiro, passando pelas falas e chegando ao processo narrativo via de regra acadêmico. Em termos históricos, esse gênero cinematográfico ocorreu em tempo datado, no Brasil, quando, nos anos 70, a censura proibia e cortava tudo o que achasse, segundo os seus próprios dizeres, “atentado à moral e aos bons costumes”. Com isso, os cineastas eram obrigados a suprimir planos de filmes, a exemplo, o clássico do nosso cinema-novo “Macunaíma” que recebeu quase 30 cortes. Para ter uma ideia da situação, foi exigido um corte numa cena de uma personagem que usava uma blusa com o logotipo do programa norte-americano “Aliança Para o Progresso”. Essa mostração seria, no entender do censor, um “desrespeito aos nossos amigos estadunidenses”.

Mas voltando à chanchada americana: na comédia escrita dirigida e interpretada por Jennifer Westfeld (4 vezes premiada, especialmente por sua atuação em“Beijando Jessica Stein”, 2001,  onde ela também funcionava como roteirista), o humor, com diálogos chulos, vem da incapacidade, ou temor, de homens e mulheres da classe média americana em constituir família. Preferem morar separados e se encontrarem periodicamente para o sexo. Nesse programa de vida, a ideia de ter filhos é uma aventura. E parece divertido, vendo, pelo menos, um amigo que se “arriscou”a isso, “produzir” um bebê e passar pelas “novidades” de trocar fraldas, aturar choro, dar de mamar, enfim, tomar conta de uma vida que no dizer do homem da história “é burra, ainda não sabe das coisas” (numa cena em que o bebê chora no colo da mãe e se aquieta com o pai).

       O filme seria um enquadramento de vida em uma cidade como Nova York, nos tempos atuais, como se desenrolava na época do cinema neorealista. Quem conhece a chamada “Big Aple” deve achar a trama mais engraçada pelas referências a bairros como o Brooklin (a moradora do centro diz que detesta ir ao Brooklin embora o namorado reflita que é Manhattam) e/ou a outros aspectos que são referidos. Para os espectadores de outra cultura, como os brasileiros, evidencia-se o enredo em si e, especialmente, a falta de jeito em tratar crianças pequenas, além do modo de encarar o cotidiano com a criança e a rotina que se estrutura num dimensionamento de afastamento entre os pais.

Mas o roteiro poderia ser menos verbal (fala-se muito), e menos vulgar. Afinal, ele deixa um conceito de personagens que se iguala a de outras pretensas comédias românticas atuais como “Juntos por Acaso”, “Amizade Colorida” e “Sexo sem Compromisso”. O tom cômico que é pretendido passa por cima do traquejo dos novos pais e cai na porfia sexual que se discute a todo tempo. Seria esta a única forma de fazer rir no cinema de Hollywood depois de abolido o Código Hays e os filmes abrirem espaço para assuntos antes vetados sistematicamente. Aos que não têm idéia desse código, ele mantinha uma censura tão rígida quanto a nossa, no período da ditadura, valendo até proibições às imagens de cama de casal, de mulher grávida, de vaso sanitário, de sangue em qualquer tipo de ferimento e de palavras que abrigavam até mesmo termos como aborto e fezes.

      “Solteiros com Filhos” inaugurou entre nós o Cine Materna, experiência bem sucedida no sudeste onde as mães podem ir com seus filhos pequenos quando não têm nenhuma condição de deixá-los em casa. O que está em jogo, nesse programa, é a socialização continuada da mãe que durante meses se retrai em casa para cuidar do bebê. Com essa iniciativa, as condições do lazer da mulher com filho pequeno se processam e ainda alcançam o pai que passa a se incluir no grupo. Interessante idéia que deve ser continuada, nos cinemas da Cinépolis, em cada última terça feira do mês.


CINEMA DE ONTEM E DE HOJE


         A variedade da programação de filmes em DVD leva a um painel da história do cinema. As locadoras receberam, por exemplo, clássicos como “Na Noite do Passado”, “Corações Enamorados”, “Encruzilhada dos Destinos” e novidades como “J.Edgar”, “Heleno”,e “Conflito das Águas”.

“Na Noite do Passado”(Random Harvest/EUA, 1941) foi candidato a vários Oscar. Baseado em um romance de James Hilton, o autor de “Horizonte Perdido”(Lost Horizon) trata de um ex-combatente da I Guerra Mundial que é levado para a Inglaterra sem memória. Depois de meses num asilo ele resolve fugir. E o faz no dia em que se comemorava o fim da guerra. No meio da multidão que festeja, nas ruas, o armistício, ele encontra uma artista de teatro de variedades que lhe presta auxilio (ele mal podia andar) e leva-o para sua casa. Nasce um romance entre os dois que logo se casam e ganham um filho. Descobrindo a sua facilidade em escrever ele chama a atenção do diretor de um jornal em Liverpool que pede a sua visita à redação. Quando ele chega à cidade e está a caminho do jornal para encontrar este editor é atropelado e recupera a memória. Reconhece, então, que é um rico herdeiro que deve chefiar uma indústria devido a morte do pai dias antes. Mas esquece dos 3 anos que viveu sem consciência. A esposa, que muito o procura, emprega-se como sua secretária e começa uma cruzada para que ele recorde que foi seu marido. O filho havia falecido.

Não conheço o romance original, mas o filme é muito bem narrado. Exemplifica aquele tipo de cinema que sabia contar uma história. E por isso seduzia plateias. Ronald Colman tem um excelente desempenho e Greer Garson mostra que sabia fazer de tudo, chegando a dançar e cantar neste exemplo de produção “séria” da MGM.

Três exemplares da fase auspiciosa da “marca do leão”(MGM) chegaram juntos às locadoras: fora este, “Noite do Passado”, mais “Mundos Opostos”, que já comentei semana passada, e “Encruzilhadas do Destino”. Este último, no original “Bhowani Junction”, é de 1956, época em que a produtora já indicava sinais de decadência. Filamdo em cinemascope no Paquistão com pretensão de ser a Índia, trata de um romance entre um oficial inglês (Stewart Granger) e uma militar mestiça (Ava Gardner). É o tempo do retorno dos ingleses colonizadores desse país, atendendo à resistência pacifica orientada por Mahatma Gandhi. As locações, com intervenção de pessoas do lugar, impressiona. Mas o roteiro é cheio de clichês e o final bem “hollywoodiano” do passado. Ava Gardner foi elogiada por um papel diferente dos que interpretava na rotina do estúdio. Vale, nos dias atuais, apenas como curiosidade.

“Heleno” (Brasil/2010, 116 min.) biografa o jogador de futebol que fez sucesso no Botafogo (RJ) dos anos 40 e que por seu gênio violento e sua intensa procura por mulheres acaba perdendo “status” (fez breve carreira no Vasco e no América) e, descoberto com sífilis, acaba seus dias em uma casa de saúde aparentando o intenso sofrimento que a doença manifesta no corpo e na mente.

O filme dá margem ao melhor desempenho de Rodrigo Santoro em sua carreira internacional. Com a aparência fisica de Heleno de Freitas, o personagem real focalizado, consegue prodígios de expressões faciais reveladas em closes. Santoro é também associado à produção do filme.

O problema, a meu ver, é o roteiro assinado pelo diretor José Henrique Fonseca, por Felipe Bragança e Fernando Castets, pecando, por exemplo, por omitir os primeiros anos da carreira de Heleno, preferindo exaurir seus encontros sexuais e sua fase de doente. De qualquer forma é um dos melhores filmes nacionais deste ano, realizado corajosamente em preto e branco como forma de se introduzir o clima de época e cenas filmadas então.

O filme não foi exibido nos cinemas de Belém. Um absurdo.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

CONVITE MACABRO

Os turistas visitando a cidade abandonada em Chernobyl Diaries/EUA, 2012

       Seis estudantes em férias na Rússia resolvem programar uma visita às imediações de Chernobyl, a localidade ucraniana onde aconteceu a explosão de um reator de usina nuclear, em abril de 1986. Com um guia local eles seguem numa van, mas são impedidos de entrar na cidade abandonada desde a explosão do reator. Apesar disso, insistem. O guia deriva pela mata e eles chegam até às proximidades dos prédios abandonados. Mas nessa hora, o carro em que viajam entra em pane. E o guia-motorista resolve sair atrás de socorro. Não volta. Anoitece. E começa o drama dos estudantes. Como sair dali? Como pedir auxílio se entraram ilegalmente no lugar?

O filme “Chernobyl”(Chernobyl Diaries/EUA, 2012) filia-se ao ciclo de terror radioativo, com baixo orçamento. Um dos roteiristas, Oren Peli, é o mesmo que diirigiu “Atividades Paranormais”(2009) e escreveu o roteiro de “Atividades 2”, da série (dizem que seu interesse pela história atual surgiu quando ele viu a cidade de Pripyat num blog). Mas desta vez o método narrativo deixa a imitação de documentário, desprezando a câmera manual e a luz ambiente, para seguir a linha comum de artesanato, opção que ajuda muito ao diretor Bradley Parker, um estreante. Longe da tentação de fazer “cinema verité” no implausível, ele joga na ficção e consegue pelo menos um ritmo compatível com o gênero proposto. Não há quem possa achar enfadonho o percurso dos estudantes no local ermo, mas repositório de surpresas. O problema é justamente “essas surpresas”. Há o toque comum do gênero com os acordes incentivando os sustos dos espectadores.

 “A Bruxa de Blair” inaugurou um tipo de cinema de baixo custo, nessa linha, de faturamento certo. Mas não se diga que os “filmes de terror” sempre optaram pelo esquema de baixo orçamento e roteiros “espertos”. No programa que estava sendo exibido no Cine Olympia, e que deve retornar quando consertarem o sistema elétrico do prédio, há exemplares do produtor Val Lewton onde o preço da realização era irrisório , a metragem no limite do que se enquadra em “longa” (pouco mais de 60 minutos) e o resultado impressionava sem apelar para processos de parque de diversões para dar sustos.

“Chernobyl” não chega a ser tão ruim quanto se pode pensar. O grupo de interpretes age bem, as locações impressionam, sendo filmado na Sérvia, nos subterrâneos de Belgrado e Hungria, ambientes que sustentam a ação. Há, pelo menos, dois pontos positivos, possivel de extrair de um conjunto que numa visão apressada é um processo corriqueiro de fazer cinema sensacionalista: a vigilância da região que ainda hoje exala radioatividade existe e ganha ares de vilã no fim da história, ficando a lição de que não se deve aceitar convites para “turismo radical”(o caso de um dos rapazes que insiste na visita a Prypiat- Ucrânia, a localidade próxima de Chernobyl, contra a vontade de alguns membros da turma, inclusive o personagem Paul, seu irmão). Além disso, o novo cineasta com o seu editor se esmeram no ritmo da trama. Não perde tempo com filigranas nem detalha os “achados” na zona contaminada pela radiação. Em filmes que abordam uma pós-guerra nuclear como “A Última Esperança da Terra” (The Omega Man, EUA, 1971) refilmado como “Eu Sou a Lenda”( I am legend, EUA, 2008, com Will Smith e Alicia Braga), surgem, numa cidade devastada, seres disformes que vagam à noite, todos vítimas de efeito radioativo. Aqui esses seres podem ser imaginados pela história ambientada em Chernobyl, mas eles não surgem em detalhes para reforçar o medo do público. Os realizadores compreendem que desconhecer é mais aterrorizante do que mostrar. Com isso, o filme se torna interessante. A mim surpreendeu, pois esperava mais um exemplar de medíocres formas de assustar.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A PRINCESA REBELDE

    Um novo filme de animação neste tempo de férias: “Valente”(Brave/EUA,2012). Sem dúvida está sendo bem recebido pela garotada, embora alguns adultos deslumbrados com a PIXAR, estúdio agregado à Disney, tenham se decepcionado um pouco ao comparar com as produções anteriores, os fantásticos desenhos: “Toy Story 1,2 e 3”, “Ratatouille”, “Wall E” e “Up”. O filme, em nivel de contos de fadas, está acima de “Carros 1 e 2”, produções que se curvaram à preferência do presidente da empresa, John Lesseter, por automóveis (ele coleciona carros de diversas marcas e anos).

O roteiro de Mark Andrews, Steve Purcell, Irene Mecchi e Brenda Chapman (de “O Príncipe do Egito”), com base numa história desta última (também diretora, que abandonou o filme, sendo substituida pelos dois primeiros), focaliza um reino escocês, distante no tempo e no espaço, onde a princesa Merida está preste a casar-se com alguém que os pais pretendem selecionar em uma disputa que a própria filha sugere ser de arco e flecha. Mas desde as primeiras imagens observa-se que a jovem não é de se acomodar com o casamento, como as mulheres da época (eternas donas de casa, mesmo rainhas). E com poucos anos de idade já erguia o arco e acertava as flechas em alvos. Isto a leva observar o sorteio do futuro marido com a certeza de que pode ganhar qualquer um concorrente. Como de fato ganha. Exceto de um jovem tímido que acerta por acidente. Mas isso não impede que Merida se rebele contra as ordens principalmente maternas (cujo desejo é vê-la se tornar uma dama para encontrar um príncipe encantado ) e fuja para a floresta em busca de uma bruxa (inevitável nessas histórias) que vai contribuir numa solução para dominar a prepotência da mãe. Só que a poção da bruxa transforma a rainha-mãe em um urso. Contudo, nessa transformação, muita coisa acontece como a aproximação entre mãe e filha em uma ação para proteger a família.

Há quem ache o original semelhante a “Irmão Urso”(Brother Bear/EUA,2003) de Aaron Blaise e Robert Walker, baseado numa historia de Stephen J. Andersen e mais um grupo de colaboradores. Ali um jovem que mata urso se transforma nesse tipo de animal e passa a conhecer o mundo de sua caça. No caso de “Valente”, a mãe transformada também muda o seu relacionamento com a filha (que obviamente vai “desencantá-la”).

A novidade na trama é a evidência da princesa solteira e interessada na sua própria liberdade. Ela não é como Cinderela ou Branca de Neve que vê num casamento real a sua emancipação. Merida tem autonomia e luta por ela, sabe o que quer, gosta da vida que leva. E o filme não termina com príncipe encantado levando-a para um palácio onde “será feliz para sempre”. Os personagens compõem um painel expressivo em que uma garota ruiva incentiva o interesse por ser feliz e ao mesmo tempo reconhecer o mérito dos pais, principalmente da mãe com quem tem o maior conflito. Ao reabilitar suas diferenças consegue ver os valores maternos e a comunicação entre as duas revela-se o valor maior numa visão sobre a importancia do reconhecimento da diversidade no mundo atual (alías, a PIXAR sempre deu importância aos diferentes. Cf. Toy Story, Wall-E, Ratatouille etc.).

Importante também é o curta-metragem que acompanha o filme principal, como de hábito, em se tratando de PIXAR: “Luna” (estréia do desenhista de storyboards da Pixar, o italiano Enrico Casarosa). Um pequeno poema sobre um menino que aprende com seu avô e seu pai a limpar uma estrela, imprimindo, entretanto, seu próprio modo de trabalhar.  

Infelizmente a projeção digital da sala onde estive assistindo a “Valente” (Cinépolis Boulevard 6) estava deficiente. Creio que a lâmpada do projetor tem pouca capacidade e isso prejudica muito um filme com as imagens muito escuras dificultando reconhecer melhor o ambiente. Que a empresa exibidora dote as suas salas digitais do centro (Shopping Boulevard) com a mesma capacidade das que existem no Shopping Parque inaugurado recentemente.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

VARIEDADES EM DVD

 James Mason e Ava Gardner em "Mundos Opostos" (1949)

Há filmes que apesar do tempo de produção, somente agora estão circulando entre nós, graças às novas tecnologias que possibilitaram essa divulgação. Se antes algumas cópias chegavam para exibição nos cinemas comerciais e, posteriormente, atingiam a bitola 16 mm, sendo possivel chegar ao cinema doméstico ou, como se dizia, à tela pequena, hoje, o DVD tem proporcionado às empresas uma maior facilidade para transformar o padrão industrial anterior do tipo película ao meio digital. Neste caso, circulam muitos exemplares de décadas passadas e fico feliz de assistí-los, tomando conhecimento dessa produção, cujos temas, modos narrativos e outros elementos da linguagem servem de base ao melhor entendimento das imagens de ontem no hoje presente.

Nesta situação está “Mundos Opostos”(East Side & West Side/EUA, 1949). O filme reúne atores consagrados como James Mason, Barbara Stanwyck, Ava Gardner, Cyd Charisse e Van Heflin, numa história de infidelidade conjugal onde o marido infiel se diz imune da antiga amante, mas não se detém a uma recaída e vê complicar ainda mais a sua vida conjugal quando a “outra” é assassinada. Pelo elenco se avalia o cuidado que a MGM tinha com as suas produções dramáticas “classe A”, usando o preto e branco, mas colocando adiante da câmera os seus conhecidos interpretes contratados. Nesse caso, havia também outro meio de contrato comercial, geralmente exclusivo com atores/atrizes e técnicos. O filme, dirigido por Mervyn Le Roy, é um melodrama que ainda hoje chama a atenção, embora o espectador atual perceba os “furos” do roteiro e o artificialismo das filmagens, com até mesmo cenas de rua captadas no estúdio.

“A Guerra Está Declarada”(La Guerre est Declarée/França, 2011) tem seu roteiro baseado na experiência de vida da diretora e escritora Valérie Donzelli que, com o seu marido Jéréremi Elkhaim travaram uma longa batalha pela saúde de seu filho bebê, Gabriel, portador de um tumor maligno no cérebro. O caso da cura de um tipo raro de câncer foi motivo de alegria por um lado, mas o casal não suportou unido o tempo em que acompanhou o tratamento da criança. No filme, Valérie se chama Juliette e o marido Romeo. A criança passa a ser Adam e a narrativa segue uma linha documental, com poucas aberturas para a ficção. Percebe-se o drama da mãe-cineasta até pelo modo como ela encerra o trabalho, com planos da família numa praia, o menino já crescido correndo e o pai também visto em “ralenti” (câmera lenta). É um filme interessante que chegou a ser candidato ao Oscar de película estrangeira. Não foi exibido, ao que eu saiba, nos nossos cinemas.

“Isto Não é um Filme”(In Film Nist/Irã, EUA,2011) é uma ousadia iraniana. O cineasta Jafar Penahi filmou com uma pequena câmera digital a leitura de um roteiro que ia filmar e que não havia sido liberado pela censura do seu país. Seu amigo Mojitaba Mirtahmasb transferiu as imagens para um pen-drive e escondeu-o em um bolo, método para transportar o filme para fora do país. Jafar foi preso e a comunidade cinematográfica internacional protestou contra isso. O filme da leitura foi editado em DVD e chegou a fazer 68 milhões de dólares no mercado norte-americano de cinema. Com elogios da critica.

“Não Sei Como Ela Consegue”(I D’ont Konw Who she Does It/EUA,2012) prende-se ao gênero “comédia romântica” e focaliza uma jovem executiva que por seu talento vai conseguindo subir na carreira embora isso leve a se desdobrar nos afazeres domésticos, sendo ela mãe de um casal de filhos pequenos e esposa de um profissional liberal e dedicado companheiro.

O roteiro de Aline Brosh Mckenna, a mesma de “O Diabo Veste Prada” e “Compramos um Zoológico”, baseia-se num livro de Allison Pearson que teria se inspirado em realidade, ou seja, na odisséia de uma executiva. Mas o que o filme deixa como primeira impressão não é o elogio à mulher trabalhadora fora de casa sem que isso a deixe longe dos seus familiares. É muito mais um constrangimento por ela abandonar marido e filhos na busca de melhor colocação no emprego. E para isso solta elogios ao comportamento desse marido e da criança menor. São tão bonzinhos que a gente condena o excesso do trabalho materno.

Sarah Jessica Parker, a atriz principal, ganhou o Framboeza (Razzie) como pior atriz de 2012.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

FESTIVAL DE FILMES DE TERROR: ADIADO


Informamos que em decorrência de problemas técnicos no sistema elétrico no cinema Olympia, o Festival de Filmes de Terror será temporariamente suspenso. Providências estão sendo tomadas para solucionar o problema o mais breve possível.
Contamos com a compreensão de todos.

Atenciosamente
Marco Antonio Moreira
Cine Olympia

quarta-feira, 18 de julho de 2012

VAL LEWTON E VICENT PRICE: CINEMA DE HORROR

 Vincent Price, o ator de muitas caras

A nova geração (e muitos da velha, mesmo) desconhecem algumas figuras do cinema que criaram e produziram filmes do gênero horror. Nesta Mostra que ora se exibe no Cine Olympia, uma dessas figuras sobressai com três filmes, Val Lewton. Dele se apresentam: “O Túmulo Vazio”, “A Morta Viva” e “Sangue de Pantera”. Conhecendo um pouco de sua cinebiografia, consultei também o IMDB e alguns outros endereços para traçar o perfil desse produtor e diretor.
Val Lewton (1904-1951) nasceu na Ucrania e seu nome verdadeiro era Vladimir Leventon. Viajou para Berlim com a mãe uma irmã em 1906 e três anos depois seguiu para os EUA. Começou a trabalhar cedo como escritor, atuando em jornais, revistas e até publicações pornográficas. Sempre usou pseudônimo e Val Lewton foi um deles. Em 1930 atingiu o cinema. Escreveu para filmes B e em 1933 foi convidado por David O. Selznick (o produtor de “...E O vento Levou”) para trabalhar na edição. Em 1942, quando a RKO, empresa que Selzinick presidiu por um tempo começou uma série de filmes B de terror, Lewton passou a produzir. E nessa categoria promoveu diretores como Robert Wise (1914-2005) que funcionava na empresa como editor (de “Cidadão Kane” e “Soberba”de Orson Welles), Mark Robson (1913-1978) e Jacques Tourneur (1904-1977) editor de “A Queda da Bastilha” (1935) e fllho do diretor Maurice Tourneur, muito conhecido na França.

Os filmes de Lewton fizeram muito sucesso e em 1948 os estúdios o promoveram à produção da chamada “classe A”. Mas uma série de problemas reduziu a expectativa a três titulos apenas. Um desses problemas foi de saúde. Lewton morreria em 1951.
Os filmes desse produtor em exibição na Mostra do Olympia são: “O Túmulo Vazio”(The Body Snatcher/1945) aborda um capitulo da historia da medicina. O ator Boris Karloff protagoniza um anatomista que compra cadáveres desenterrados por coveiros seus conhecidos. Com direção de Robert Wise tem uma sequencia impressionante de Karlofv fugindo de policiais conduzindo uma carroça com um auxiliar e um corpo dentro dela. À medida que passa pelos desníveis da estrada o corpo vai balançando e caindo sobre ele.

“A Morta Viva” (I Walked with a Zombie/1946) é de Jacques Tourneur e focaliza a vitima de um feitiço nas Antilhas onde permanece em estado de coma até que se retire uma seta cravada numa estátua. Quando o filme foi exibido a publicidade evidenciava o gênero como um titulo proibido para menores de 18 anos (hoje passaria livremente).
“Sangue de Pantera” (Cat People/1942) é também de Jacques Tourneur e a atriz francesa Simone Simon interpreta a descendente de um povo mutante, que se transforma em pantera. O tom simbólico do argumento DeWitt Boden ganha, através de imagens expressionistas, um parâmetro incomum no tipo de filme. Por isso foi candidato ao prêmio Satelite e em 1993 ganhou na faixa de restauração. Um clássico que mereceu uma sequência pelo próprio Lewton, “A Maldição do Sangue de Pantera” (Course of Cat People;1945), o primeiro filme dirigido por Robert Wise, associado a Gunther Fisher.

No enfoque dos filmes de terror impossível negar evidência a um clássico ator desse gênero, Vincent Price ou Vicent Leonard Price Jr (1911-1993). Era um colecionador de obras de arte e um grande “gourmet”, escrevendo livros sobre culinária. Alto e elegante foi casado 3 vezes, deixando dois filhos, um com Mary Grant, a segunda esposa, e outro com Edith Barret a terceira. Em 1938 fez seu debut no cinema em pequenos papéis, sendo “Museu de Cera” (1953) seu primeiro sucesso. Mas o que lhe trouxe fama foi “O Solar Maldito (1960). Ficou marcado pela voz e a expressão facial em filmes de horror aclamados como góticos, tais como “A Mansão do Terror” (1961) e “O Abominável Dr. Phibes” (1971).
Seu filme preferido era “As 7 Mascaras da Morte” (1973), onde ele vivia um ator shakespeareano que se vingava dos críticos que o atacaram. Os últimos filmes dele foram “As Baleias de Agosto”(1987) e “Edward Mãos e Tesoura”(1990), período em que já estava muito doente dos pulmões fazendo pequena aparição e quase sem poder dublar seu personagem. Faleceu em outubro de 1993.

terça-feira, 17 de julho de 2012

UMA LONGA VIAGEM

"Na Estrada", filme de Walter Salles com base no livro de Kerouac.

Quem leu o livro de Jack Kerouac (romance cult que se tornou bíblia para toda uma geração dos anos 1960), publicado em 1957 e adquirido em 1970 por Francis Coppola para traduzir-se em matéria de cinema, tende a achar o filme de Walter Salles, “Na Estrada”(On the Road/EUA,França, 2012) uma tentativa séria de adaptar a saga de rapazes da chamada “geração beat” (não confundir com beatnik) em sua busca por uma individualidade que parecia perdida num mundo em mudanças (o final dos anos 40, ou seja, logo depois da 2ª.Guerra Mundial). O livro recebeu críticas positivas realçando a inovação da obra. Mas muitos o consideraram subliteratura imoral.

Entretanto, quem desconhece o original literário fica com a escritura adpatada por José Rivera (que trabalhou com Salles em “Diários da Motocicleta”) e com as imagens de Eric Gautier, o fotografo de “Natureza Selvagem”(Into the Wild/2007), filme de Sean Penn com grande afinidade a este novo. Gautier também fez a fotografia de “Diários da Motocicleta” e uma das qualidades de “Na Estrada” é esta habilidade de focalizar diversos ambientes, afinal, o cenário, no sentido teatral, por onde circulam os amigos da história.

Desconhecendo o original literário achei que o filme tenta obedecer ao texto original seja nos diálogos seja no enquadramento dos tipos & situações. Mas se estou certa, esta fidelidade acaba sendo excessiva e é responsável pela monotonia que cerca a narrativa.

O foco maior é Sal, alter-ego do escritor (Jack Kerouac). Ele escreve a odisseia de sua turma, e pela ética exigida a toda e qualquer obra, o filme muda os nomes originais por ficticios: Neal Cassidy se torna Dean, LuAnnne altera-se para Marylou, Carolyn Cassidy passa a ser Camille, e o poeta Allen Ginsberg será Carlo Marx. Todos jovens, procuram um sentido na vida em que o maior peso está na tentativa de sentir-se livre. Se for considerada a época em que viveram, quando a repressão se fazia sentir na classe média, mesmo no após-guerra, eles são compreendidos no modo como procuram cortar vínculos. Por isso nada melhor do que “fazer estrada”. E a primeira sequencia do filme já mostra Sal andando com sua mochila e pedindo carona em um caminhão cheio de trabalhadores rurais. Encontros com os amigos em diversas paradas ao longo dos EUA percorrendo durante sete anos a rota 66 que cruza esse país de leste a oeste, saindo de Nova York em direção a São Francisco, eles divagam entre “conversa fora” e sexo. As namoradas seguem em momentos de intimidade e também de drogas. Quem pensa que o uso de maconha e cocaína ganhou campo com a juventude dos anos 1960, com o pessoal de Woodstock, percebe que já com esses que seriam seus ancestrais já se dividia “erva” e com isso se mergulhava em noites (e dias) de orgia.

Apesar de misturar tempo e espaço de sequências e diluir com isso um teor dramático dá para se perceber que a busca é interior, que a estrada é uma metáfora para se achar o intimo. Por aí se aproxima a obra de Jack Kerouac, pelo menos a julgar vendo o filme de Walter Salles, com a de Jon Krakauer, em “Na Natureza Selvagem”, filmado por Sean Penn, onde também é focado um jovem desencontrado que sonha em viver no Alaska mesmo tendo as facilidades de ser filho de pais abastados, cursar universidade e ter namorada. A diferença é ampliar o aspecto grografico. Na busca por uma identidade Sal e amigos correm vários estados, várias estações do ano, vários tipos de pousada.

Achei o filme extremamente longo e perdido num flagrante contexto literário. Apesar de uma edição que tenta acelerar o ritmo tornando-o compatível com o tema, o conjunto é cansativo. É um longa-metragem de 136 min, requerendo muita paciência do/a espectador/a, sobretudo dos que não conseguem uma conexão com as figuras apresentadas e/ou com lentidão narrativa, e fragmentada. Não seria por aí a tradução desse emblemático “boas vidas” norte-americanos. Pelo menos em linguagem de cinema.

Essa é uma experiência de um determinado grupo de jovens e não de todos os dessa geração. O proprio Sal, no final da vida, reconhece-se angustiado e sem se encontrar, retornando para a companhia da mãe e com a esposa, para São Petersburg, na Flórida.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

UM TRATAMENTO PERIGOSO

Viggo Mortensen e Michael Fassbender protagonistas no filme de Cronenberg

Quem conhece o diretor canadense David Cronemberg de filmes como “Scanners” (1981), “A Mosca”(1986) e ”Gêmeos, Mórbida Semelhança”(1988) supõeterem mudado o título, no crédito de “Um Método Perigoso”(A Dangerous Method/Canadá 2009 ) ora em cartaz no Cine Estação.
Baseado numa peça intitulada “The Talking Cure” escrita por Christopher Hampton (que assina o roteiro), por sua vez derivada do livro ”A Most Dangerous Method” , de John Kerr, o tema do filme é a controvérsia entre os dois “monstros sagrados” da psicanálise: Sigmund Freud e Carl Jung (representados respectivamente por Viggo Mortensen e Michael Fassbender). E o resultado na tela é diferente do que o cineasta já realizou devido à sua rendição integral ao texto original. O filme é excessivamente dialogado. Mas quem o defende aponta a exigência de um tema como a psicanálise, ou a “terapia pela fala” necessária a qualquer outro recurso. Entretanto, é possivel considerar que Alfred Hitchcock abordou o assunto com o seu “Quando Fala o Coração”(Spellbound, 1945) onde ele achou um meio de tratar o discurso psicanalítico com a intromissão de imagens, no caso, concebidas por Salvador Dali, o coautor do surrealista “Um Chien Andalouz” de Buñuel e de “L’Âge D’Or”.

Há muita controvérsia na historia de que Jung teria tido relações sexuais com uma cliente, a russa Sabina Spielrein, mais tarde colega médica. E que este relacionamento tenha ajudado na ruptura com os ensinamentos de seu professor e amigo Freud. No texto de Hampton, o teor analítico passa para uma história de amor nem sempre compreendida. Naturalmente que uma obra cinematográfica não sucumbe a uma liberdade ficcional. “Um Método Perigoso” é ficção, e chega a ser irônico o titulo quando se lança a uma prévia critica da obra afirmando que é perigoso tratar de um caso de doença mental indo ao âmago da terapia, praticamente alertando que o médico pode sucumbir aos encantos de uma paciente que não mede a sua capacidade afetiva. Não é bem o caso de Jung com Sabina. Em principio, segundo o filme, ele seguiria os ensinamentos de Freud e via no quadro de esquizofrenia da paciente que lhe deram um acento sexual como causa, Sabine contava que ao ser açoitada pelo pai, aos 4 anos de idade, sentiu prazer a revelar uma atuação masoquista que seguiria seu comportamento adulto no prisma erótico. Jung teria iniciado um relacionamento com ela para testar a implicação freudiana de que todo problema mental tem raiz no sexo. Mas o roteiro (não sei se também o original literário) abre espaço para que o médico evoque outros prismas, e a controvérsia com seu mestre caiba na acepção mística que Jung não deixa de considerar. Um diálogo entre os dois psicanalistas é básico. Freud diz; ”- Não podemos sair da ciência e endossar uperstições”. Por ai os dois deixaram de afinar suas ideias.
O filme de Cronemberg usa uma fotogenia admirável para compor o espaço histórico (a Áustria do inicio do século XX) e mostra bom rendimento de atores, especialmente de Keira Knightley, Michael Fassbender (recentemente o robô de “Prometheus”), ele premiado pelos críticos de Los Angeles. Há também uma aparição de Vincent Cassel, personagem importante na trama. E se o estilo narrativo é academicamente comportado pode-se considerar que o que interessou foi o tema na história, ou o enfoque originário sobre um ramo médico. O comportamento adúltero de Jung está disposto na linha dramática a ponto de não se esmiuçar o relacionamento dele, posterior ao “caso Sabine”. Legendas no encerramento dão conta de como os personagens se comportaram além do que o filme mostrou. Responsabilidade com os fatos que pretende justificar todo o processo de produção. Um filme, afinal, interessante, sobretudo, a estudiosos do tema. Merece ser visto e discutido sem se condenar a liberdade que se deu aos fatos.

BORGNINE
Aos 95 anos morreu o ator Ernst Borgnine, vencedor do Oscar pelo neo-realista “Marty”(1955). Com 203 filmes no currículo, marcou, com a sua presença, momentos que ficaram na lembrança dos espectadores como “O Destino do Poseidon”, ”Os 12 Condenados”, ”Meu Ódio Será Tua Herança”, ou”O Vôo do Fênix”. Trabalhou até ano passado, em “The Man Who Shook the Hand of Vicente Fernandez” a ser lançado este ano. Dizia sempre que não se deve deixar de trabalhar como forma de vencer a velhice. Um ícone do cinema.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A VOLTA DO HOMEM ARANHA


 O ator Andrew Garfield que protagonizou o brasileiro Eduardo Saverin em “A Rede Social”(2009) é agora o Homem Aranha.  

A moda é de “prequel”, ou seja, revisar histórias de super-heróis (na faltade imaginação para levar adiante franquias diversas e ou “inventar” novos personagens nesse quilate). Os quadrinhos de “O Homem Aranha”, personagem de Stan Lee e sua Marvel, geraram um filme em 2002, dirigido por Sam Raimi, que em termos de bilheteria livrou a Sony (Columbia) de dívidas acarretadas por prejuízos constantes. O sucesso gerou mais dois exemplares. E quando as estatísticas comerciais apontaram a necessidade de um quarto episódio, duas importantes desistências ocorreram (por motivos comerciais que não é possível analisar sem conhecer perfeitamente o que se passou nos bastidores): do diretor Raimi e do ator Tobey Maguire. Para o espectador afastado dessas negociações isto poderia significar a inviabilidade do projeto. Mas os executivos da produtora resolveram o impasse convocando o diretor Marc Webb(“500 Dias com Ela” foi seu único longa-metragem para cinema) e o ator Andrew Garfield que protagonizou o brasileiro Eduardo Saverin em “A Rede Social”(2009).
Os roteiristas contratados, James Vanderbilt, Alvin Sargent, e Steve Kloves trabalharam a história imaginada pelo primeiro filme da série com base nas personagens dos quadrinhos. A ideia foi dar marcha à ré e voltar a focalizar a infância e adolescência de Peter Parker, o jovem estudante que é contaminado com uma droga de mistura genética, ganhando pendores de uma aranha. Não houve citação do que foi apresentado no primeiro filme da franquia afirmando agora que os pais de Peter simplesmente sumiram (viajaram, sem dizer para onde, embora um incidente tenha emergido num dado momento na casa deles, supondo-se, depois, que seriam ameaças do sócio do pai, havendo, no final, a referência à morte deles num acidente de avião). O garo, então, passou a ser criados pelos tios (papéis ingratos para celebridades como Martin Sheen e Sally Field, ela detentora de 2 Oscar). Reprisa-se, portanto, como Peter foi contaminado pelo DNA da aranha e passou a agir como super-herói.

O publico dificilmente aplaudiria um replay desde que se lembrasse do que assistiu anos atrás. Mas os produtores são espertos e Marc Webber criou um visual que lida com os efeitos digitais de ultima geração e faz prodígios, como na sequência final do combate com a metamorfose do Dr. Curt Connors (Rhys Ifans), afinal, o responsável por toda a situação básica da historia.
“O Espetacular Homem Aranha”(The Amazin Spider Man/EUA, 2012) é blockbuster de verão norte-americano destinado exclusivamente a faturar. E ainda mais com o auxilio da 3D, processo que implica na venda de ingresso mais caro.

Se o espectador esquecer o que já viu do assunto, e/ou desconhecer os filmes anteriores, pode se divertir bastante com a lenta descoberta de Peter na sua busca por uma identidade (quer saber para onde foi o pai, o que realmente ele foi fazer, aonde os resultados de sua experiência no estudo de espécies). Mais ainda porque o jovem Andrew Garfield tem um desempenho eficiente, ou seja, compõe o tipo com uma simpatia que supre perfeitamente o nerd de Tobby Maguire. A meu ver este foi o maior trunfo dos produtores. O filme não tem nada de novo, não é mais do que uma aventura de ficção cientifica a gosto de leitores de gibi e, em termos de linguagem cinematográfica, é produto industrial onde todos os elementos são usados de forma “mecânica”, sem apelar para a inteligência de quem os vê ou queira tirar alguma substância do que se mostra. No caso da relação do filme com os quadrinhos, acho que uma pessoa gabaritada nesse enfoque, o amigo Gian Danton (http://ivancarlo.blogspot.com.br/ ) daria muito subsidio para nós. Com a palavra, Ivan Carlo.
A julgar pelas bilheterias mundiais, a nova aventura do Homem Aranha é mesmo “espetacular”. Como espetáculo, é semelhante a um passeio em parque de diversões. Como cinema, é zero à esquerda. Mas ninguém duvide: vai acontecer sequência. E volta-se à rotina de um herói pelos menos 3 vezes mostrada. A Sony aposta na memória curta da platéia. E tem as suas razões ($$$$).


terça-feira, 10 de julho de 2012

ENTERRO PREMATURO

Cena do enterro em "Obssessão Macabra", com Ray Milland.

Entre os filmes que estão sendo exibidos no Ciclo de Cinema de Horror, no Cine Olympia, um me trouxe impacto e às minhas filhas que assistiam comigo no velho Bandeirante, nosso cinema particular. Foi “Obssessão Macabra” (The Premature Burial/EUA,1962) que até a música através de um assobio distante, ficou como lembrança de algo povocativo do medo.
O argumento do filme foi extraído de um conto de Edgar Allan Poe e pertence a uma série que o produto-diretor Roger Corman realizou para a empresa American International. Os filmes de Corman com base nas historias do escritor-poeta norte-americano recentemente “biografado” (cabem as aspas) em “O Corvo” (com John Cusack no papel de Poe), eram de baixo custo, mas exibiam um porte de produções classe A, pelo modo como esse diretor usava miniaturas, gelo seco representando brumas, quase sempre o mesmo figurino e a mesma equipe técnica. Além disso, cada filme não chegava a superar 90 minutos de projeção. Mas como eu disse antes, guardo na memória desse gênero, especialmente este “Premature Burial” que o tradutor brasileiro preferiu tirar a tradução linear que seria “Sepultamento Prematuro” por “Obsessão Macabra” (nada a ver com o enredo). E guardo devido ao momento em que foi exibido pelo Cine Clube APCC, no anos 70, e como disse antes, também, da impressão que marcou minhas filhas então crianças. Elas ainda hoje lembram a “canção dos coveiros”, assobiada pelos que, na primeira sequência do filme, estão enterrando uma pessoa.

“Obsessão....” trata de um homem que pensa ter herdado a enfermidade de seus ancestrais, catalepsia. Com medo de ser enterrado vivo ele arma um verdadeiro mausoléu em casa, com um dispositivo que acionaria a porta de entrada e o faria sair do caixão. Mas este homem, interpretado pelo ator Ray Milland, casa-se com uma mulher que ambiciona a sua fortuna e, sabedora do problema genético do marido, manda sepultá-lo num cemitério comum quando ele sofre um ataque cardíaco em um lugar longe da mansão onde moram. O personagem desperta sob a terra e luta para sair com vida e se vingar de quem o colocou naquela situação.
A série de filmes de horror realizada por Roger Corman teve outros títulos memoráveis. Lembro “O Homem dos Olhos de Raio X”(1963), também interpretado por Ray Milland. Nesses casos não há final feliz. Os filmes suplantavam clichês e seguiam novos rumos temáticos.

O cineasta tem 86 anos, ainda é produtor, somando 400 filmes nessa qualidade, e dirigiu 56 títulos até 1990. Um ícone de Hollywood. A nova geração merece conhecer a sua obra (foi ele quem descobriu Jack Nicholson) e é muito bom que “Obsessão Macabra”esteja amanhã na mostra de filmes de terror em cartaz no cinema Olympia. E lembrando Corman quando esteve no Brasil e um critico de S.Paulo, Carvalhaes, solicitou a vários jornalistas especializados algumas perguntas que seriam incluídos numa entrevista que seria dada pelo diretor, eu já estava no “O Liberal”, recebendo essa incumbência. Fiz duas questões a Corman que respondeu, evidenciando a estratégia de seu trabalho no plano comercial e artístico.
Ainda dentro da mostra em cartaz no nosso cinema centenário, o filme de hoje, terça, é outra relíquia: “O Monstro do Ártico” (The Think/EUA,1951). Produzido pelo famoso Howard Hawks e dirigido pelo amigo dele Christian Nyby com a sua orientação (não creditada) é o primeiro a tratar de discos voadores como naves interplanetárias. Segundo o enredo, um desses engenhos cai em montanhas geladas e dele sai um ser vegetal que pode se fragmentar com as partes gerando outros seres. O nome “A Coisa” gerou uma refilmagem em 1982, dirigida por John Carpenter. Mas a versão de Hawks, em preto e branco e de baixo orçamento, marcou época. O ET é focalizado de modo discreto num tempo em que não havia efeito especial por computador. Hoje, quando se trata do assunto, o públio lembra mais da realização de Carpenter. Poucos sabem do primeiro exemplar da RKO realizado há exatos 61 anos.

Como se vê essa Mostra é, como se diz, “o creme do creme”, que também serve para estudos sobre cinema e narrativa ontem e hoje.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

FILMES PARA NÃO ESQUECER

Uma das cenas mais marcantes do filme de Leclerc.

Dois filmes, um francês e um canadense, se destacam no programa que assisti esta semana em cópias DVD: ”Os Nomes do Amor”(Le Nom des gens, Fr., 2010) e “Eu Matei Minha Mãe” (J'ai tué ma Mère, Canadá, 2009). O primeiro é uma comédia criativa de Michel Leclerc sobre comportamentos distintos de herdeiros de pessoas que sofreram discriminações: ele (Jacques Gamblin) filho de uma judia sobrevivente do holocausto, ela, de argelinos que lutaram pela independência contra os franceses.
O filme de Leclerc é literalmente narrado pelo personagem de Jacques, Arthur Martin, que diante da câmera vai relatando o pitoresco de nomes semelhantes, a exemplo, cita um time de futebol numa copa do mundo em que vários jogadores tinham o mesmo nome e por isso geravam grande confusão. O titulo original, “Le Noms des Gens” diz tudo. E este título leva ao relacionamento dele, um biólogo especializado em necropsia de animais, com a ativista política Bahia Benmahmoud (Sara Forestier), que havia criado para si própria uma teoria simbólica para combater os membros da extrema direita.

Um tom pitoresco leva a uma dimensão curiosa sobre o momento politico francês, a partir dos anos 1970. E chega a considerar figuras recentes do governo como o presidente que saiu do cargo este ano, Nicolas Sarkozy .
Além do modo irreverente de narrar os fatos (que muitas vezes são dramáticos), o roteiro do próprio diretor e de Baya Kasmi discute várias posturas e passa em revista fatos históricos em tom de comédia. Sempre criativo. Uma surpresa agradável que os cinemas (pelo menos os de Belém) esqueceram.

“Eu Matei Minha Mãe” é uma obra semi-biográfica do diretor Xavier Dolan. Trata de um jovem que quer se emancipar, vivendo desde a infância ao lado da mãe, abandonada pelo marido. Mas esta corta as ideias de independência do filho. E ele reluta chegando a escrever uma dissertação no colégio, em resposta à questão sobre identidade familiar informando que sua mãe está morta. Namorando uma professora mais velha é desiludido quando esta o abandona. Rebelde sempre, a mãe resolve coloca-lo num internato. Mas ele foge. E ao saber da fuga, ela corre em sua busca, não antes de esbravejar com o diretor pela falta de responsabilidade do colégio. Descobre o esconderijo do filho tal como prevê: no lugar onde este passou os melhores dias de sua infância. O último plano focaliza os dois abraçados. Uma frase-prólogo evidencia o tempo certo de se conhecer o amor materno. Mas esse é o dilema circulante em todo o filme.
Com uma linguagem simples, mas suficientemente hábil em cortar os vínculos com o melodrama, o diretor-roteirista discute a superproteção materna sem criar estereótipos que evidenciem quem é bom e quem é mau na história.

Filme simples com bons desempenhos, que esteve no Festival de Cannes, Semana dos realizadores em 2009, e na Mostra de São Paulo.
Outro filme inédito nos cinemas é “Amor Obsessivo”(A Woman/EUA,2010) dirigido por Giada Colagrande, de nacionalidade italiana, esposa do ator Willem Dafoe (de “A Última Tentação de Cristo”) com ele interpretando um escritor viúvo que se apaixona por uma mulher (Jess Weixler) interessada em assemelhar-se à falecida, uma dançarina de tango. A cineasta corta qualquer tendência mais inusitada embora use uma fotografia descorada, enquadramentos que buscam certa plasticidade e edição que prefere seguir liames emotivos distanciando-se da linguagem acadêmica. Pode-se dizer que Giada segue preceitos da já antiga “nouvelle vague”, mas nem sempre sua opção é funcional e o filme se apresenta erudito e de certa forma, monótono.

Entre estes programas revi ainda “A Nau dos Insensatos” (Ship of Fools/EUA,1965) de Stanley Donen. O cineasta, historicamente um grande produtor e descobridor de talentos, tenta sintetizar o livro de Katherine Potter através de um roteiro escrito por Abby Mann, seu roteirista em “Julgamento em Nuremberg”(1961). Mas nem o grande e famoso elenco resiste à superficialidade da abordagem. Realce para Simone Signoret e Vivien Leigh, esta, já doente, em sua última aparição nas telas.

sábado, 7 de julho de 2012

WOODY ALLEN VAI A ROMA

Roberto Benini e Woody Allen em "Para Roma, Com Amor".

Depois de ter exaltado a cidade-luz em “Meia-noite em Paris”(2011), o diretor-roteirista e agora também ator Woody Allen volta-se para a capital italiana, seguindo a fórmula de Robert Altman em construir vinhetas com diversas personagens que nem sempre se cruzam.
“Para Roma, Com Amor"(To Rome with Love/EUA,2012) trata de forma multifacetada a cidade gerando quatro histórias paralelas, duas explorando o gênero da comédia romântica, em torno do homem urbano que se vê atordoado e confuso entre o desejo e a culpa, com evidências ao tema do adultério. As outras duas esquetes convidam o espectador ao humor absurdo, sendo uma delas com Roberto Benigni que protagoniza um homem comum promovido pela mídia a se tornar celebridade sem que haja um motivo plausível para essa rápida ascensão. Acossado pelos "paparazzi" o simples funcionário público se transforma em superstar e não tem mais sossego. A “febre da fama" só dá uma parada quando essa perspectiva se desloca para um substituto. Mas logo ele passa a sentir falta do "status".
A outra história envolve o próprio Allen, um programador de operas já aposentado que ao visitar a filha (Alison Pill) na chamada "Cidade Eterna" sabendo que ela está noiva de um italiano ativista de esquerda (Flavio Parenti), observa, no encontro familiar, as qualidades vocais do pai do futuro genro (Fabio Armiliato, realmente um tenor). Insistindo em levá-lo para um teste em teatro descobre que o cantor só "funciona" quando debaixo de um chuveiro. E é dessa forma que lança a descoberta inovando textos de óperas famosas como "I Pagliacci".
Os dois outros esquetes incluídos na comédia romântica usam os estereótipos dos italianos guinados ao que antes era chamado de “latin lover” tal como foi apresentado por muitos anos principalmente no cinema. O tipo vivido por Alessandro Tiberian, é meio emblemático e lembra os tipos cômicos do passado como Lando Buzanca ou Walter Chiari.
O filme não chega ao patamar da homenagem lírica que foi "Meia Noite em Paris", nem segue o caminho intelectual desse trabalho de Allen onde se viam escritores norte-americanos buscando inspiração na capital francesa. Por esta turnê romana compreende-se que o cineasta vê a cultura italiana pelo prisma simpático da comédia ligeira, que os filmes da fase pós-neorrealismo mostravam no exterior. Quem assistiu a muitos desses filmes, como eu, vai encontrar a Roma dos comediantes citados e, também, de outros interpretes que vão de Totó a Alberto Sordi ou de diretores como Steno, Camilo Mastrocinque e, mesmo, os emblemáticos Mario Monicelli e Dino Risi.
Também há espaço para a Roma turística de filmes como "As Garotas da Praça de Espanha" (1954), isto sem mencionar o que os próprios norte-americanos construíram, como em “Candelabro Italiano” (1962). Como cinéfilo americano, Allen absorveu e achou por bem usar todas essas características na sua homenagem que abre e fecha com a canção "Volare"(Nel blu dipinto di blu, de Domenico Mondugno e Migliacci, 1958) muito popular até aqui no Brasil.
“Para Roma com Amor” mostra-se uma comédia descompromissada do cineasta em retratar a Itália depois de retratar a França. Na superficialidade dos episódios e tipos focalizados, a impressão de uma “comédia turística” ganha corpo denunciando a pressa com que se passou, certamente, da idéia ao roteiro. O melhor do novo filme, apesar de estar longe do Woody Allen histórico (um dos melhores autores de cinema) é a volta do próprio cineasta interpretando uma figura bem a seu gosto, lembrando o que fez em seus clássicos como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”(1977). Apesar da idade, ou ainda, usando isso como elemento cômico, ele provoca gargalhadas da platéia. O bastante para que se peça mais de sua inventiva capacidade de comediante.



terça-feira, 3 de julho de 2012

A ERA DO DEGELO


Os animais em busca de novo lar em "A Era do Gêlo 4".
Há quem veja a série "A Era do Gelo" como "uma versão dos Flintstones”, heróis da Idade da Pedra, popularizados pela televisão. E argumentam, na abordagem fantasiosa aos tempos pré-históricos usando o conceito de família, partindo das aventuras de Manny, o mamute com seus agregados. Esses animais devidamente "humanizados" vivem com os amigos Diego (o tigre dente de sabre) e Sid (a preguiça), e outros mais em historias que focalizam as mudanças geológicas do planeta partindo da fase gelada do titulo para a lenta descoberta de uma terra seca embora não isenta de perigos.
Todos os filmes da franquia começam com o pequeno esquilo Scrat em busca de uma noz. Esta quarta etapa não foge à regra. E exagera, pois, pelo que se vê na sequencia inicial o deslocamento da massa gelada se origina do ato de o esquilo tentar enterrar o fruto. O bichinho além de sofrer maiores quedas depara-se com um palácio cheio de nozes e, apesar desse achado, não se dá bem.
Mas o que interessou agora aos roteiristas Michael Berg e Jason Fuchs, chegando aos diretores Steve Martino e Mike Thurmeier em "A Era do Gelo 4"(Ice Age, Continental Drift/ EUA,2012),foi enfocar a filha de Manny e Ellie, Amora, agora adolescente, e seu difícil relacionamento com o pai por estar interessada em Ethan, um bonitão e popular mamute. A superproteção paterna se expressa por não deixar "a sua menina" sair sem dizer aonde vai e chegar tarde "em casa". Este comportamento é criticado quando a "garota", deslocada do acesso ao pai que viaja em outro iceberg conforme as fendas na camada gelada vão se arrastando, ao tempo em que o degelo se processa, é a responsável pela ajuda ao "velho pai " em uma situação dramática.
Essa odisseia de Manny e seus amigos Diego e Sid mostra-os sendo deslocados do continente onde ficam os familiares, por conta dos desabamentos constantes. Eles seguem num iceberg para o alto mar enquanto os membros das famílias caminham para um terreno onde possam chegar ao local de onde está se dando o efeito climático. Há personagens novos: o orangotango Entranha, a tigresa das neves Shira e a avó de Sid. Esta ultima, aliás, cria uma empatia no iceberg de Manny, visto que graças aos seus delírios ela consegue ajuda-los.
Nessa viagem dos animais há o encontro com o vilão da história: Entranha, o orangotango pirata que tenta escravizar os náufragos do iceberg. A luta dá direito até a um arremedo de esgrima como nos filmes de capa e espada que consagrou astros como Errol Flynn. Mas quem for ao cinema pode apostar antes de ver as primeiras cenas que tudo vai acabar bem para os personagens amigos.
A preocupação comercial que cerca todas as franquias cinematográficas revela inapelavelmente um cunho de repetição. Se o terceiro "A Era do Gelo" foi uma das maiores bilheterias de seu tempo (e era dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha) um quarto exemplar seria lógico para o padrão da indústria. O problema é que há pressa na composição do produto. E os roteiristas não pensam muito: repetem tramas e só se preocupam em dar margem à exibição da técnica (como agora entra a 3D) e o agrado de uma plateia que prefere mesmo ver de novo (a começar com as crianças).Sente-se, portanto, que as aventuras dos animais pré-históricos já se exauriram. A não ser que escrevam um roteiro em que as mudanças sejam tão radicais como a descoberta de deserto ou a transformação em "cowboys"(ou melhor,"cowanimals").
 Como "A Era do Gelo 3" obteve uma de suas melhores receitas no Brasil, prova que deu a Carlos Saldanha a chance de realizar uma animação carioca ("Rio"), este "Numero 4" já estreou por aqui, e só na próxima semana é que vai chegar aos cinemas dos EUA disputando espaço no box-office com outras animações.

DVDS: INÉDITOS E RELIQUIAS

"Adeus primeiro Amor" (Fr., 2011) de Mia Hansen-Love

É voz corrente que em Belém o fato de estar crescendo o número de casas de cinemas isto não significa muitas opções de filmes. O que se tem visto regularmente é um blockbuster ganhar muitas salas. Afinal, o comercio do ramo segue a preferência popular que é ditada por dados estatísticos hoje devidamente gravados em computadores. O meio mais eficaz de assistirmos mais programas tem sido, portanto, para o público mais exigente, o DVD. E note-se que atualmente a maior parte dos filmes mais substanciosos atinge especialmente o disco tradicional deixando de fora o Bluray que geralmente segue os títulos novos do mercado exibidor.
Esta semana assisti a “O Último Dançarino de Mao”(Mao’s Last Dancer/EUA,2009) de Bruce Beresford (o diretor de “Conduzindo Miss Daisy”), captando a biografia do bailarino chinês Cunxin Li, com roteiro de Jan Sardi. O personagem principal (e alvo do titulo) é o sétimo filho de um casal de camponeses na China que entrou na era da “revolução cultural” preconizada por Mao Tse Tung. Hábil ginasta no colégio, o menino se revela na dança e chama a atenção de um coreografo norte-americano visitante da província chinesa onde ele mora. Cunxin Li é levado para os EUA e passa a aprender passos de balé que não conhecia na orientação xenófoba de seus professores. Quando tem que voltar à China ele se rebela. Está namorando uma jovem bailarina e casa-se com ela. O fato foi visto pelo cônsul chinês como uma trama para ficar na America. Mas se ficasse a família, na China, sofreria repressões. E o rapaz começa a sentir-se pressionado, nervoso, e acaba brigando com a esposa. Separado, ele volta à China, mas consegue prosseguir nos estudos ocidentais. Se envolve com uma colega e no final do filme há legendas colocando onde essas pessoas estão nos dias de hoje.

O filme tem uma narrativa interessante, com poucos flash-backs, e o elenco funciona bem. Nada de excepcional no gênero (biografias), mas está acima da média do que se vê, atualmente, nos cinemas.
Outro inédito é “Adeus Primeiro Amor”(Um Amour de Jeunesse/França,2011) de Mia Hansen-Love. Relato de um romance juvenil em que o namorado põe acima de seu amor pela namorada uma viagem com pretensão de encontrar o que deseja fazer na vida (e não estudar). Ela, sua colega na escola, continua em sua rotina sem nunca esquecer seu primeiro amor. Mesmo assim, conhece um professor com quem irá se casar. O velho namorado reaparece, mas apesar de persistir o sentimento que os unia a solução rende-se à nova realidade. Direção e bom roteiro da própria diretora (que teria se baseado em sua própria experiência).

Dentre as relíquias cito “Gosto de Mel”(Taste of Honey/UK 1961) de Tony Richardson. O filme revelou a atriz Rita Tushingham, hoje com 70 anos e ainda ativa com dois filmes a serem lançados. Na época de estreia dessa realização do diretor de “Tom Jones” ela foi chamada de “patinho feio”. Muito simpática, começou ganhando o Bafta (maior prêmio do cinema inglês), a Palma de melhor atriz no Festival de Cannes e um Globo de Ouro por “A Bossa da Conquista” em 1965. Ela protagoniza uma jovem de Liverpool que engravida de um negro e luta para se emancipar contra o despotismo da mãe. O filme segue a linha neorealista sendo realizado nas ruas da cidade inglesa. Permanece muito bom.
 
REGISTRO
No último dia 30/06 ,o presidente da ACCPA Marco Antônio Moreira fez aniversário. Com muitas realizações na gestão da entidade, dando continuidade aos antigos trabalhos de formação de plateia iniciados nos anos 70 pelo então presidente, Pedro Veriano, Marco  tem tido uma presença eficiente e eficaz nesse processo, não deixando que a ACCPA seja vista como entidade cultural sem realizações. Sua fidelidade à amizade com Pedro Veriano, combinando com o nosso “magister cine” os eventos que realiza com idéias criativas, faz a parceria promissora da nossa associação, ao lado dos demais associados. Um grande abraço ao Marco e grande sucesso nesta nova caminhada.