segunda-feira, 30 de julho de 2012

PAIS DE IMPROVISO

Os casais em "pé de guerra" para a maternagem. Chanchada.

       O que difere “Solteiros com Filhos”(Friends with Kids/EUA, 2012) das pornochanchadas nacionais? É difícil saber. A fórmula é a mesma em termos de construção de um roteiro, passando pelas falas e chegando ao processo narrativo via de regra acadêmico. Em termos históricos, esse gênero cinematográfico ocorreu em tempo datado, no Brasil, quando, nos anos 70, a censura proibia e cortava tudo o que achasse, segundo os seus próprios dizeres, “atentado à moral e aos bons costumes”. Com isso, os cineastas eram obrigados a suprimir planos de filmes, a exemplo, o clássico do nosso cinema-novo “Macunaíma” que recebeu quase 30 cortes. Para ter uma ideia da situação, foi exigido um corte numa cena de uma personagem que usava uma blusa com o logotipo do programa norte-americano “Aliança Para o Progresso”. Essa mostração seria, no entender do censor, um “desrespeito aos nossos amigos estadunidenses”.

Mas voltando à chanchada americana: na comédia escrita dirigida e interpretada por Jennifer Westfeld (4 vezes premiada, especialmente por sua atuação em“Beijando Jessica Stein”, 2001,  onde ela também funcionava como roteirista), o humor, com diálogos chulos, vem da incapacidade, ou temor, de homens e mulheres da classe média americana em constituir família. Preferem morar separados e se encontrarem periodicamente para o sexo. Nesse programa de vida, a ideia de ter filhos é uma aventura. E parece divertido, vendo, pelo menos, um amigo que se “arriscou”a isso, “produzir” um bebê e passar pelas “novidades” de trocar fraldas, aturar choro, dar de mamar, enfim, tomar conta de uma vida que no dizer do homem da história “é burra, ainda não sabe das coisas” (numa cena em que o bebê chora no colo da mãe e se aquieta com o pai).

       O filme seria um enquadramento de vida em uma cidade como Nova York, nos tempos atuais, como se desenrolava na época do cinema neorealista. Quem conhece a chamada “Big Aple” deve achar a trama mais engraçada pelas referências a bairros como o Brooklin (a moradora do centro diz que detesta ir ao Brooklin embora o namorado reflita que é Manhattam) e/ou a outros aspectos que são referidos. Para os espectadores de outra cultura, como os brasileiros, evidencia-se o enredo em si e, especialmente, a falta de jeito em tratar crianças pequenas, além do modo de encarar o cotidiano com a criança e a rotina que se estrutura num dimensionamento de afastamento entre os pais.

Mas o roteiro poderia ser menos verbal (fala-se muito), e menos vulgar. Afinal, ele deixa um conceito de personagens que se iguala a de outras pretensas comédias românticas atuais como “Juntos por Acaso”, “Amizade Colorida” e “Sexo sem Compromisso”. O tom cômico que é pretendido passa por cima do traquejo dos novos pais e cai na porfia sexual que se discute a todo tempo. Seria esta a única forma de fazer rir no cinema de Hollywood depois de abolido o Código Hays e os filmes abrirem espaço para assuntos antes vetados sistematicamente. Aos que não têm idéia desse código, ele mantinha uma censura tão rígida quanto a nossa, no período da ditadura, valendo até proibições às imagens de cama de casal, de mulher grávida, de vaso sanitário, de sangue em qualquer tipo de ferimento e de palavras que abrigavam até mesmo termos como aborto e fezes.

      “Solteiros com Filhos” inaugurou entre nós o Cine Materna, experiência bem sucedida no sudeste onde as mães podem ir com seus filhos pequenos quando não têm nenhuma condição de deixá-los em casa. O que está em jogo, nesse programa, é a socialização continuada da mãe que durante meses se retrai em casa para cuidar do bebê. Com essa iniciativa, as condições do lazer da mulher com filho pequeno se processam e ainda alcançam o pai que passa a se incluir no grupo. Interessante idéia que deve ser continuada, nos cinemas da Cinépolis, em cada última terça feira do mês.


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