terça-feira, 30 de novembro de 2010

A INFÂNCIA DO CINEMA


Comemorando o seu 1° aniversário, o Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem/Assis de Vasconcelos esquina da Av. Nazaré) exibe hoje, as 18h o documentário “Os Irmãos Lumiére”, produção da Fundação Lumiére que mostra os primeiros filmes gravados no aparelho Cinematographo, construído pelos irmãos Louis e Auguste Lumiére no final do século XIX. O documentário não tem a pretensão de ser didático. Apenas mostra, aos interessados em história do cinema, quais foram os filmes pioneiros da grande indústria, o que eles registraram e a forma que mostraram aos espectadores no pequeno café do Bairro dos Italianos em Paris, precisamente em 28 de dezembro de 1895.

O Cinematographo não foi o primeiro aparelho a explorar o fenômeno chamado “persistência retiniana”, ou a incapacidade do olho humano em discernir imagens que passam diante dele em certa velocidade (lembrem a palheta de um ventilador, que se torna invisível quando em movimento). Antes, muitas máquinas foram construídas perseguindo o efeito. E desde a invenção da fotografia (“fos”/luz, “grafis”/estilo, pincel), atribuindo-se ao francês Joseph Niépce em 1826, uma série de inventos tentaram colocar as imagens gravadas em movimento.


Na época em que os Irmãos Lumiére trabalhavam em seu aparelho, o norte-americano Thomas Edison exibia o seu Kinetoscopio, onde se viam fotografias animadas dentro de um caixa através de uma ocular e movimento de manivela, aperfeiçoando as experiências de Fulton, Plateau, Horner e Reynaud entre outros preocupados com tema. A diferença básica era a projeção. Os Lumiére produziram uma espécie de acoplagem do kinetoscópio com a lanterna mágica chinesa. Projetaram o movimento. Cinema vem de cinemática, a parte da Física que trata de movimento.


Mas os próprios inventores não acreditaram no seu projeto. Disseram que era “um brinquedo sem futuro”. Godard usou esta frase no seu filme “Desprezo” (Le Mépris). Na realidade, quem aperfeiçoou o invento foi outro francês, George Méliès, um empresário de mágicos que descobriu a forma de fazer fusões, dissolvência, diversos elementos da linguagem cinematográfica. E tudo acabou nas mãos de Edison que viu nessa corrida pelo que se chamou de cinema um meio de ganhar dinheiro. Foi ele quem criou a indústria do filme. Manteve nos bairros dos EUA pequenas salas de exibição que chamou de “Nickelodeon” (custava um níquel o ingresso) e conseguiu um meio legal de expulsar do país os que viesse filmar ali (inclusive a equipe dos Lumiére).


Nos anos 1920/1930 judeus imigrantes viram na indústria de Edison um meio lucrativo. Surgiram os grandes estúdios até hoje existentes: Paramount, Metro, Fox, Universal e em seguida Columbia e RKO.


Na França, o meio de difusão foi assumido pela Gaumont. Surgiram os primeiros filmes de longa metragem, os primeiros atores a ganhar notoriedade (inaugurando-se o “star system”/sistema de astros) e, já no final dos anos 20, o som ótico, ou seja, o som gravado na película.

Para tratar de todo o processo de criação do “primeiro cinema” (como são chamados os primeiros filmes realizados) o crítico Pedro Veriano estará logo mais a sessão do cineclube que leva o seu nome.

O cinema, a rigor, vai fazer 105 anos no final do mês de dezembro e antecipadamente, a data será comemorada agora. Com este evento, o CCPV fecha a série “Cinema sobre Cinema”.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

IMAGENS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA




O dia de hoje, 25 de novembro, foi reconhecido em 1999 pelas Nações Unidas como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. O assassinato das irmãs Patrícia, Minerva e Maria Teresa Mirabal, por agentes da ditadura de Trujillo, na República Dominicana, em 1960, levou a uma onda de protestos dos movimentos internacionais dos direitos humanos. Os movimentos de mulheres fortaleceram esses protestos promovendo a Campanha dos 16 Dias de Ativismo contra a Violência contra as Mulheres iniciando-se hoje com o fecho em 10 de Dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Esta coluna não poderia deixar de enfocar o lado das imagens do cinema sobre esse tema apontando filmes que refletiram a violência contra a mulher desde os seus primórdios. Ainda na fase silenciosa títulos como “Aurora” (Sunrise 1928) de F. W. Murnau e “Lirio Partdo (Broken Blossom 1919) de D. W. Griffith registraram exemplos de maltrato à mulher na área familiar. Isto sem falar em melodramas muito populares na época em que as histórias davam conta de mulheres que sofriam duras penas, seja no ambiente doméstico seja em sua trajetória para uma identidade profissional. É interessante ver como eram tratadas essas evidências de violência doméstica, sem a perspectiva dos dias atuais.

Mas foi na fase sonora que os tipos ganharam mais consistência. Ninguém esqueceu as duas personagens que Giulietta Masina interpretou em trabalhos de seu marido Federico Fellini: “A Estrada da Vida” (La Strada,1954) e “Noites de Cabiria” (Noti di Cabiria,1957). No primeiro, a violência se faz pelo enfoque da menina que é “oferecida” pela família ao brutamonte Zampanô que, inclusive, a estupra. No segundo, a prostituta que é quase assassinada pelo namorado ladrão. Fellini também mostraria os traumas de uma vida conjugal em “Julieta dos Espíritos”(Giullietta Degli Spirit,1965 ) titulo que dedicou à atriz-esposa. Diz da tensão da mulher casada ao constatar os constantes “casos amorosos” do marido.

Joan Crawford exemplificaria a mulher torturada dentro de casa por um parente próximo, no caso, sua irmã, em “O Que Terá Acontecido à Baby Jane “(Whatever Happened to Baby Jane, 1968) de Robert Aldrich. Outro desempenho dessa atriz em “Alma em Suplicio” (Mildred Pierce 1945) enfocaria a relação traumática da mãe pela ação violenta de sua própria filha. Crawford, no plano real, foi denunciada pela filha a quem submetia a castigos e atos de tortura, fato que chegou a público num livro de sucesso e, em seguida, no filme “Mamãezinha Querida”(Mommie Dearest 1981 ) de Frank Perry. Neste caso, evidencia-se a situação de violência doméstica contra a criança.

O cinema brasileiro guarda um exemplo antológico sobre a violência contra a mulher. Em “Anjos do Sol” (2006) de Rudi Lagenann, a narração capta uma menina do interior que é praticamente vendida pelos pais miseráveis para o mercador que serve a um bordel. É um dos filmes-denúncia que também acusa o plano doméstico de ser o responsável pelo abuso sexual infantil.

Exemplo marcante de mulher brutalizada viu-se em “Monster, Desejo Assassino”(MOnster, 2003) de Patty Jenkins com a atriz revelada no papel e vencedora do Oscar por isso, Charlize Theron. Um caso real tratando da primeira mulher no mundo a denunciar como crime, o assédio moral, numa empresa de mineradores.

Nos melodramas, de um modo geral, a mulher é a vitima. Seja nas produções de Hollywood, como “Stella Dallas”(1939) de King Vidor, onde a mãe não media sacrifício para dar à filha uma posição social; seja no semelhante “Imitação da Vida”(Imitation of Life, 1959) a segunda versão com Lana Turner, atriz presente em “Madame X”(A Ré Misteriosa,1966) de David Lowell Rich. No papel de esposa e mãe, que a sogra-avó faz desaparecer da vida do marido-filho. Anos depois vem a ser defendida, num caso de homicídio, pelo próprio filho, que deixou em criança. Este é um exemplo de violência psicológica que tem precedentes nos inúmeros crimes praticados contra as mulheres.Entre os exemplos de filmes latinos, registra-se a produção mexicana com um título-chave do tema: “Pecadora”(1948, de Ramon Armengod). A situação da prostituta mostrava o desprezo social, a submissão ao cafetão e o fim sempre em declínio.

Há muito mais filmes, lembro estes como compromisso pessoal.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A GERAÇÃO HARRY POTTER






Tem sido dito que os jovens atuais se inserem na “geração Harry Potter”, correspondendo ao fascínio que as aventuras dessa figura e de seus parceiros dos livros de J.K. Rowling têm deixado aos garotos e garotas do mundo inteiro. O cinema se rendeu a esse fascínio e narrou em imagens os sete romances dessa escritora inglesa, ficando para julho do próximo ano a Parte 2 de “Harry Potter e as relíquias da morte”, cuja Parte 1 está em cartaz nos cinemas em cenário internacional.

De 1997 a 2007 a publicação dos livros pegou tradução para 69 idiomas, vendendo cerca de 400 milhões de exemplares, uma das mais vendidas da história no gênero infanto-juvenil. Os seis filmes realizados entre 2001 e 2009, a partir desses livros, já renderam cerca de US$ 5,4 bilhões.

Mas o que dizer do envolvimento dos jovens nesse mundo fantástico de Harry Potter em que há lances mágicos e fenômenos de bruxaria que operam na realização da aventura que os garotos vivem na Escola de Hogwarts? Como a sociedade mundial vê, de um modo geral, esse modelo e como podem ser traduzidos para o entendimento da influência nos jovens recém-saídos da adolescência? Ao adotar os valores em evidência na convivência dos grupos no interior da escola, o que esses jovens dessa geração estão conseguindo reter em torno de habilidades mágicas e em novos termos e nomenclaturas que os tornam qualificados de forma plena em outras engenharias existenciais?

No mundo do cinema, os filmes têm explorado modelos que já arrastaram inúmeras gerações conferindo-lhes os valores disseminados, revelando críticas de duas formas, pró e contra certas maneiras de ser. Harry Potter e suas várias acepções no olhar da escritora têm levado a modos de observar as aptidões dos jovens em diversos estilos, diferindo da tradição de uma escola-padrão onde só é possível aprender a ler e a escrever, como os meios eficazes de avançar para a área das profissões exigidas para o progresso social. O interessante nos livros e no filme é que a mágica aprendida pode ser o rito de passagem para as novas tecnologias da sobrevivência social.
Solidariedade, fidelidade, agregação, sabedoria, intuição, compromisso, responsabilidade são valores que circulam nessas “lições de coisas” de Hogwarts, fortalecendo os diversos meios de conhecimento possíveis de interagir. Condução e auto-suficiência são meios de testar a autonomia do saber. E o importante, o sentimento da amizade entre os três colegas – Harry, Hermione e Ronny – têm polarizado as lutas contra o gênio do mal encarnado em Lorde Voldemort e seu exército. E a saga tem mostrado que o saber mágicas não opera em alguns momentos e, ao perderem a proteção de seu líder Dumbledore terão que seguir sozinhos usando as experiências acumuladas para vencer os desafios da nova idade. Se em 2003, a Igreja se posicionou desfavorável à série quando o então cardeal e atual papa Bento XVI considerou que “a sedução sutil tendia a abalar a alma da cristandade antes que ela pudesse se desenvolver apropriadamente”. Em 2009 já havia outra versão. O jornal oficial da igreja, L’Osservatore Romano, disse que essa obra pregava “valores como amizade, altruísmo, lealdade e auto-sacrifício”.

Literatura e cinema têm demonstrado parceria na composição desse mundo de mágicas inventadas por J.K. Rowling. E têm contribuído para que nessas andanças pelos modelos narrativos seja pensada a diversidade. Da própria arte, das pessoas, dos conhecimentos. O encantamento está na quebra dos padrões.




segunda-feira, 22 de novembro de 2010

CLÁSSICOS POPULARES














Nem sempre o filme multielogiado pela critica recebe respaldo no gosto do público. Os chamados “clássicos populares” muitas vezes ditam certa distância do que se escreveu sobre eles em colunas especializadas de jornais e revistas e, hoje, nos blogs especializados.

Mas o passar dos anos vem mostrando que o filme marginalizado ontem é revisado hoje com outros olhos. E os clássicos populares ganham o mercado de DVD para ficar na mesma prateleira de locadora onde estão os premiados ou ovacionados pelos estudiosos de cinema. A visão de mercado avalia os tipos de público de ontem que ainda hoje circulam nas salas exibidoras e que sem dúvida se sentem interessados nesse produto.

Veja o caso de “Nenhuma Mulher Vale Tanto”(The Iron Mistress/EUA,1952). Em sua exibição no passado formou filas diante das bilheterias e ninguém escreveu na época da estréia que o livro original de Paul Wellman tenha sido aproveitado com profundidade no roteiro de James R. Webb e muito menos na direção do prolífico Gordon Douglas.

Na época, esse diretor e o produtor Henry Blanke respondiam pelo espetáculo lucrativo e de orçamento moderado que lhe dava e pedia a Warner Bros. Lembro que eles realizaram, em 1956, “O Semeador de Felicidade”(Sincerily Yours) o único filme que o pianista Liberace representava um papel estelar. Em Belém foi um grande sucesso. Mas, internacionalmente, foi um fracasso. O norte-americano Gordon Douglas poucas vezes entusiasmou os críticos e uma dessas vezes foi com a ficção - cientifica “O Mundo em Perigo”(Them!/1952) uma das muitas histórias sobre os efeitos colaterais das explosões nucleares em Nevada.

Em “Nenhuma Mulher...”Alan Ladd protagoniza Jim Bowie, uma figura lendária dos EUA. Rapaz pobre dos pântanos da Louisiana vai para New Orleans tentar vender a madeira produzida pelos irmãos agregados à mãe. Na cidade grande encontra a sedutora Judalon de Bornay (Virgina Mayo) por quem se apaixona. Mas a jovem ambiciona posição social em primeiro plano e isso conduz a uma série de encontros violentos onde morrem nada menos que 8 pessoas. O título original do filme, “A Amante de Ferro” deriva da faca que Bowie manda confeccionar com o material de um meteoro. A tradução brasileira segue a frase que ele diz a Judalon no final: “Nenhuma mulher vale a vida de 8 homens”. Melodrama que exibe péssimas interpretações.

Quanto a “A Nave da Revolta”(The Caine Moutiny/1955) tem outro tom. O veterano Stanley Kramer produziu, Edward Dmitryk dirigiu embora o final deixe a impressão de que houve interferência de censura e o julgamento de marinheiros que se revoltaram contra um comandante paranóico ganhe um apêndice de precipitação dos acusados e uma ressalva dos valores nacionais. Mesmo assim, é admirável o protagonismo de Humphrey Bogart (que foi candidato ao Oscar e perdeu- mas foi aplaudido pelos próprios colegas durante a filmagem) e a sequencia do julgamento em si quando o tenente Steve Marik (Van Johnson) deve provar em júri, com auxilio do advogado interpretado por José Ferrer, que o seu superior estava com sintomas emocionais alterados no momento de tomar decisões durante uma borrasca em alto mar, colocando em perigo a vida de toda a tripulação. No caso, a testemunha capital do escritor, tenente Thomas Keefer(Fred McMuray) acovarda-se e quase põe tudo a perder.

Um bom filme que na sua estréia chamou a atenção de todos (críticos e espectadores). Interessante é que o diretor foi alvo do “macarthismo” tendo se refugiado na Inglaterra durante algum tempo para não ser preso.Essas pérolas de filmes antigos estão circulando em DVD, nas locadoras, como a FOXVIDEO (Belém).

domingo, 21 de novembro de 2010

JACKASS 3 D





No cinema, vêm dos primórdios da comédia visual, o desastre para quem atua
e a correspondente gargalhada para quem vê. Era assim que os Guardas Keystone
(Keystone Cops) caiam de ribanceiras nas comédias curtas do produtor Mack
Sennett e assim que Carlitos (Charles Chaplin) se atirava no que pensava ser um
lago e saía capengando ao saber que aquilo era uma rasa poça d’agua. Também
desastrados hilariantes eram Stan Laurell (O Magro) e Oliver Hardy (O Gordo),
comediantes que se firmaram com as situações desastradas que, via de regra, Stan
armava para “Ollie”.

Em “Jackass 3D”, O grupo comandado por Johnny Knoxville inspira-se na graça
advinda de acidentes mirabolantes (sem juntar sequências, esquetes
independentes, sem tema de ligação). Ele, Bam Margera, Steve O, Chris Pontius,
Jason Acuña, Ryan Dunn, Preston Lacy e Dave England armam entre si as situações
mais bizarras possíveis com o fito de divertirem se divertindo. Eles participam
do processo de construção dos eventos e, também, se incluem entre os “sujeitos
passivos”das fórmulas engendradas. Todos se batem nas muitas “pegadinhas” em que a grande vitima é, via de regra, o corpo humano.

E a turma vem executando esse tipo de comédia há muitos anos, desde sua presença na TV passando ao menos em dois filmes de longa-metragem para cinema (só um foi exibido no Brasil: “Jack Ass, Cara de Pau-O Filme”, 2002).


A denominação do grupo já indica uma irreverência obscena no jogo de
palavras a julgar no trocadilho original. Este “Jack Ass 3D” (EUA/2010) é o mais
ambicioso projeto de Knoxvillen e do diretor Jeff Tremaine, com produção de
Derek Freda e roteiro de Preston Lacy. Também está na produção o cineasta Spike
Jonze de “Quero ser John Malkovich”.


No prólogo eles já indicam que as peripécias mostradas não devem ser
imitadas e não usam dublês (stuntmen). É difícil acreditar que isto não seja a
primeira anetoda. Mesmo porque, no final, o filme exibe créditos que consomem
perto de dez minutos na tela. É um exercito de técnicos & colaboradores que
ajudaram numa coleção de esquetes que no olhar da platéia parece um simples
registro de desastrosas situações.


O roteiro, que na verdade é um mínimo de ordem na apresentação dos números
humorísticos, faz questão de deixar a idéia de que tudo é improviso. Tanto que
há um momento em que a câmera é atingida por uma explosão de fezes e vômito que
parte de um personagem escolhido para “vitima”. E o nome do diretor sempre é
chamado como um “maluco maior” na história.


O público ri de cenas como encher um balão com gases intestinais, colocar
uma maçã no anus de um deles para ser saboreada por um porco, fazer-se de
invisível (usando roupa que se confunda com um quadro na parede) para iludir um
touro, ou momentos ainda mais inusitados como um obeso entrar numa loja,
solicitar a uma pessoa que está na porta que segure a coleira de seu cachorro.
Não demora e sai da loja um anão, que pede o cachorro de volta diante do olhar
perplexo de quem fizera o favor.


Os rapazes riem o tempo todo do que fazem uns para os outros. Mesmo sabendo
que as coisas “doem” como um deles ser surpreendido por um bando de cobras e/ou
quando um precisa fazer uma radiografia para ver se não ficou um objeto estranho
em seu organismo.


O efeito tridimensional ajuda nas situações. Para um público que sabe que
não vai ver comédia tradicional é uma diversão. Mas sempre deixa a pergunta:
quem se diverte mais: quem vê ou quem produz as “gags” ?


A turma jovem que já assitiu ao seriado sem dúvida vai se divertir ao
máximo com a coleção de gags. Aos mais velhos e conhecedores dos padrões
diferentes do apresentado, talvez não cause tanta diversão, mas impacto do
mostrado. O cinema inova e se renova na mostração narrativa dos que acreditam em
outra forma de criação.



APOSENTADOS PERIGOSOS




















A idéia não é nova: reunir personalidades de um determinado gênero (não só em cinema, mas também na literatura) e confrontar suas habilidades com o passar dos anos. Isto foi o que recentemente Sylvester Stallone conferiu em “Mercenários”(The Expandables), uma fórmula que Stan Lee usou nos quadrinhos reunindo super-heróis como Tocha Humana, Mulher Invisível, O Coisa e Mr. Fantástico. Ou como já se tentou até na comédia (Chaplin convidou Buster Keaton para acompanhar o velho palhaço em seu “Luzes da Ribalta”/Limelight).

No caso atual, em “RED, Aposentados e Perigosos” (RED/EUA, 2010), a dupla de roteiristas John e Erich Hoeber, jovens irmãos que limitavam sua experiência à TV, inspiraram-se nos quadrinhos de Warren Elis e Cully Hammer, também novatos, e chamaram para novas aventuras os tipos de filmes de ação como os vividos por Bruce Willis, Morgan Freeman e o versátil John Malkovich. Eles se defrontariam com outros veteranos atores de cinema, como Richard Dreyfuss e o quase centenário Ernest Borgnine. A turma ganharia como companhia feminina Hellen Mirren e Mary-Louise Parker. Curioso é que no grupo estão veteranos já contemplados com o Oscar como: Freeman, Mirren, Dreyfuss e Borgnine e o duas vezes candidato Malkovich (vencedor de prêmio de direção em teatro e ator tão respeitado que deu margem ao filme de Spike Jonze “Quero ser John Malkovich”).

A trama tem inicio quando o veterano agente da CIA, já aposentado, Frank Moses (Bruce Willis assumindo um personagem gêmeo do que viveu na franquia “Duro de Matar!) faz amizade com a telefonista do seguro social sua então amiga Sarah (Mary-Louise Parker) a quem reclama sistematicamente que seu cheque de pagamento não chegou e troca figurinhas sobre o recente romance que ambos lêem. Certo dia é atacado por um grupo de atiradores mascarados. Daí em diante ele vê que é necessário convocar comparsas que trabalharam ao seu lado em missões internacionais e desvendar um caso acobertado pela agência governamental com implicações ao atual candidato a vice-presidente dos EUA.

O que torna o filme interessante bem acima das bravatas guerreiras como o que fez Stallone, é a guinada para o “non sense”, o aspecto surrealista do roteiro, implicando não mais um simples episódio de ação – e no caso, derivado de uma HQ da DC Comics – mas em uma comédia que desliza o lugar-comum para “gags” de teor crítico.


O grupo RED (ou Retired Extremely Dangerous) encontra vilões de sua idade. Mas o hilário é a inclusão de um espião russo, Yvan Simanov (Brian Cox) que se tornara amigo dos agentes norte-americanos, requisitado para desvendar uma parte da intrincada confusão haja vista que é suposta a caça aos que estiveram numa certa missão em país sul-americano. O ex-vilão hoje camarada desta vez está longe da “guerra fria” dos anos 60 e também aposentado. De alguma forma ele figura num escalão do governo. Extravagância que já foi usada em alguns filmes de ação, um recurso que dilui a carga de estereótipos pelo menos na sua pintura profissional (criminoso agora pode não incorporar nem mesmo a cara de bandido...). E outra coisa: o vilão mais proeminente não é idoso. Vale dizer que o “poder velho” desafia quem fisicamente pode derrubá-lo.


O diretor Robert Schwentke tem em seu currículo “Plano de Vôo”, aquele suspense em que Jodie Foster caça bandidos dentro do avião que ela planejou como engenheira, e episódios da ótima série de TV “Lie to Me” (exibida no canal Fox ). Ele sabe conduzir as seqüências de ação e introduzir a graça sem forçar o enredo. Assim realiza um programa divertido de final de noite. E nada mais é pedido além disso.


Tenho lido opiniões rancorosas ao formato da comédia de suspense onde se inclui RED. Na verdade, saber onde cair é uma dádiva de quem conhece. Os anti-heróis estão soltos no filme. Chorar pra que?




terça-feira, 16 de novembro de 2010

DOCUMENTÁRIO & DOCUDRAMA




Em DVD alguns documentários inéditos nos cinemas locais e alguma ficção realizada no estilo documental, ou, como tem sido denominada usualmente, “docudrama”.

“O Sal da Terra”(Brasil/2010) focaliza um sacerdote catolico que transforma um trailer numa igreja e sai pelas estradas brasileiras celebrando missa para populações de vilas e caminhoneiros. O cineasta Eloi Pires Ferreira andou mesmo por muitas estradas e nas imagens reais jogou a história do padre e os problemas que lhe aparecem desafiando sua fé. Excelente desempenho do elenco, em especial de Edson Rocha. O filme ganhou a “Margarida de Prata”, prêmio da CNBB.

“Caro Francis” (Brasil/2010) é uma visão no estilo reportagem sobre o irreverente jornalista Paulo Francis. Muitos intelectuais tecem depoimentos sobre o autor de artigos que chamava “Diário da Corte”. A viúva de Francis e o médico particular dele expoem fatos sobre a sua morte quase inesperada. Um trabalho interessante pela imparcialidade com que aborda uma figura polêmica, com direção de Nelson Hoineff, jornalista e crítico de cinema.

“Cidadão Boilesen”(Brasil/2009) é um raro documento histórico. Inicia com uma enquete entre transeuntes na capital paulista, com a pergunta básica sobre se estes conhecem uma rua chamada Henning Boilesen. Só uma pessoa responde que sabe. Cita a referencia profissional do pesquisado. Na verdade, o que se vê é uma completa ignorância sobre essa figura. E o seguimento das sequencias do filme responde ao espectador quem era o cidadão. Foi um dinamarquês que veio muito jovem para o Brasil, adquiriu cidadania brasileira, e chegou a presidir a distribuidora de gás no país. Temeroso de uma mudança radical na política, brasileira supondo que as idéias circulantes sobre o regime comunista avançassem para uma tomada do poder, apoiou o golpe de 1964. Foi alvo da resistência ao governo militar sendo assassinado em 1971.

O documentário de Chaim Litewski explora o tema com aprumo jornalístico. Pesquisa desde a Dinamarca e usa material filmado para compor o cenário onde viveu o personagem focalizado. Interessantes entrevistas, inclusive com o filho de Boilesen. . Muito bom filme no gênero.

Noutro gênero temos “Encontro Perfeito”(The Perfect Stranger/EUA, 2007) filme de TV que chega em DVD no Brasil através da distribuidora “Graça”, especializada em temas religiosos. O diretor-roteirista e ator Jefferson Moore aborda um jantar de uma mulher casada que está discutindo o papel do marido no seu relacionamento familiar com um estranho que diz ser Jesus Cristo de quem havia recebido um convite para esse encontro. O filme é o dialogo que os dois travam, discutindo a questão da fé e a existência de Jesus. Interessante dentro de uma realização extremamente modesta. Mas realizada por quem é um crente. Jamais deixa margem a uma dúvida sobre temas considerados sagrados. Bom para um debate sobre o assunto.

Outro indicado DVD é “Perigo na Neve” (Frozen/Canadá,2010) em que três colegas, sendo dois rapazes e uma jovem, resolvem esquiar de qualquer maneira fora do prazo e usar o teleférico para chegar ao topo de uma montanha. Mas o funcionário de serviço deixa o posto e eles ficam presos no alto do bondinho, condenados a morrer congelados ou servir de alimento aos lobos. Direção do novato Adam Green. Competente cineasta.

DVDS MAIS LOCADOS- FOXVIDEO

Sex and the City 2
Predadores
Kick-Ass - Quebrando Tudo
Cartas para Julieta
Encontro Explosivo
Repo Men - O Resgate de Órgãos
A Jovem Rainha Vitória
Como Treinar o Seu Dragão
iCarly no Japão
Esquadrão Classe A

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ANIVERSÁRIO DE ‘O LIBERAL’




"O Liberal" completa hoje, 15/11, 64 anos. Nasceu como órgão político-partidário. Foi o recurso que Magalhães Barata, interventor federal designado pelo governo Getulio Vargas, usou para se defender dos ataques do jornalista Paulo Maranhão de “A Folha do Norte” desde que Vargas já não estava no poder quando no fim da 2ª. Guerra Mundial e não se via como o Brasil, participante do conflito contra uma ditadura, permanecesse com um ditador.

Criado para combater adversário, o jornal, mesmo assim , procurava não ser excessivamente panfletário. E acabou servindo ao nascimento de uma plêiade de jornalistas locais, pessoas que prosseguiram escrevendo para a imprensa depois que o órgão deixou a sua característica inicial e, em 1966 foi adquirido por Rômulo Maiorana, jornalista que se iniciou no colunismo social depois de uma fase de empresário.

A trajetória do jornal o leitor certamente encontrará em outro espaço do jornal impresso. Peço licença para um adendo no que se refere ao cinema.

Depois de abrigar alguns “experts” locais na análise de filmes, seja na edição normal seja em um tablóide semanal, Rômulo publicou na coluna que ele criou, “Repórter 70”, uma nota pedindo um crítico de cinema para as edições regulares. Nesse tempo, eu era apenas uma espectadora curiosa, esposa de um já veterano no ramo, Pedro Veriano. Atendi ao pedido sendo levada ao encontro de Rômulo pelo amigo Edwaldo Martins, conhecido do “italiano”(como chamavam RM) até pela afinidade de ambos. Muito tímida fui bem recebida e do currículo adiantei o meu acesso aos arquivos do Pedro. Creio que nessa época pensavam que era ele quem passaria a escrever meus textos sobre os filmes. Afinal minha formação básica no curso pedagógico refletia a aspiração das “mulheres da época” para a vida de casada.

Mas a essa altura eu já estava estudando para prestar vestibular na área das Ciências Sociais na UFPa. Entre outras qualidades da “dona de casa” me era atribuida a de “porteira” das sessões do então Cine Clube APCC, nos locais onde este exibia filmes: no auditório do Curso de Odontologia, na sede social da AABB e nos salões do Grêmio Literário Português. Mas o que importava pelo menos para mim, é que seguia sempre meu modo de ver um filme,às vezes diametralmente oposto ao do Pedro. E fazia questão que isso prevalecesse. Logo imprimi a minha marca e fiz a historia de uma coluna que existe até hoje.

O LIBERAL apoiou o cinema em várias instâncias. Lembro que editava páginas sobre o tema e a coluna, em si, era muito ampla. Tanto que apresentava diversas secções e abrigava leitores que assim ganhavam a chance de comentar publicamente os filmes em cartaz. Além disso, divulgava as sessões especiais, seja do cine-clube seja dos horários designados ao “Cinema de Arte” (embrião da empresa exibidora Cinema de Arte do Pará Ltda, ou Cinemas 1, 2 e 3), e abrigou o dono desse circuito exibidor, o amigo Alexandrino Moreira, então diretor do Banco Sul Brasileiro, como colunista especializado em roteiro de lançamentos de filmes numa página dominical.

Há um outro fato: quando o jornal comemorou os 50 anos,fiz um projeto e recebi ajuda de uma das diretoras do grupo, Rosângela Maiorana, para realizar uma pesquisa de seis meses sobre as colunas de cinema no jornal. E na edição de aniversário a pesquisa foi publicada em duas páginas. Com direito a entrevistas dos antigos articulistas do jornal.

Na minha jornada em O LIBERAL conheci pessoas admiráveis como Claudio Sá Leal, Eládio Malato, Aldo Almeida, Odacyl Catete, Ana Diniz, Orly Bezerra, José Menezes, Walmir Botelho, Sérgio Bastos, Vera Castro e muito outros. E se ganhei momentos felizes também enfrentei, como num filme de suspense, situações inusitadas como um depoimento na Policia Federal, no auge da ditadura, por ter publicado uma entrevista com o presidente do Sindicato dos Jornalistas, João Marques, considerada “forte” para os limites da censura da época. As situações hoje são partes da história. Do jornal e minha. E ao primeiro deixo meus parabéns pela data.

domingo, 14 de novembro de 2010

Cineclube Pedro Veriano apresenta Mostra Sérgio Péo



Comemorando o de seu primeiro aniversário, o Cineclube Pedro Veriano organizou para exibição, uma mostra de documentários sobre o Pará e o Brasil.

Depois de apresentar alguns de seus filmes na Mostra ABD da Amazônia Legal, durante o Amazônia Doc.2, o cineasta paraense Sérgio Péo, leva agora quatro documentários em curta-metragem para o Cineclube Pedro Veriano, na Casa da Linguagem, nesta terça-feira, dia 16/11. A programação é gratuita e começa às 18h30.

Trabalhando basicamente com documentários e cinema de arte, Sérgio Péo é também um dos fundadores da Associação Brasileira de Documentaristas do Rio de Janeiro, onde mora desde 1972. Conhecido por fazer uma série de filmes em Super-8 e 16mm na década de 70, dentre eles o premiado “Rocinha Brasil”, Péo abriu a Mostra ABD da Amazônia Legal na sexta-feira, 5, com o filme “Nanderu, panorâmica tupinambá” (1991), melhor filme no Rio Cine Festival.

Na presente Mostra Sérgio Péo apresenta quatro dos seus mais importantes filmes, com temas que tratam de questões indígenas, favela e cinema.
Rogério Parreira - cineasta e produtor da ABDeC-Pa, apresentará cada filme e conduzirá um bate-papo com os espectadores ao final das exibições.

Veja abaixo a programação completa.

Mostra Sérgio Péo

Rocinha Brasil 77 (18 minutos – 16/35mm) Sinopse: Investigação sobre hábitos e qualidade de vida da maior favela da América Latina. A câmera passeia, enquanto em off, ouve-se reflexões de moradores sobre questões do dia-a-dia da comunidade.

Ñanderu, Panorâmica Tupinambá (10 min/35mm)Sinopse: Resgate poético da memória de nossos antepassados Tupinambá. Considerados extintos ainda no século XVI. O filme conta com o depoimento de Verá Miri, Cacique/Pajé da tribo Guarani Mimbiá.

Marajó, O Movimento das Águas (20 min/35mm)Sinopse: Filme iniciado em 1991, interrompido, por problemas técnicos e finalizado em 2010. A câmera percorre as margens do Amazonas, focando a diversidade da flora virgem. Caminha entre trilhas de gravetos culminando com a marcha folclorica dos ritmos marajoaras. O filme é uma homenagem a professora Lindalva Caetano, pesquisadora do Folclore Marajoara.

Cinemas Fechados (12min/35mm) Sinopse: Manifesto poético, denunciando o boicote ao cinema brasileiro enquanto reflexo da nossa cultura, exaltando o esforço dos artistas, autores e técnicos pela sua sobrevivência.



Ponto de Exibição - Cineclube Pedro Veriano

Parceria entre a Fundação Curro Velho e a Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas Seção Pará – ABDeC-Pa, através do Programa Cine Mais Cultura do Governo Federal, o Ponto de Exibição - Cineclube Pedro Veriano, foi fundado em novembro de 2009 e desde então suas exibições ocorrem todas as terças-feiras, sempre às 18h30, na Casa da Linguagem.

Seu nome é uma homenagem a um dos mais importantes críticos do cinema paraense, Pedro Veriano, que entre outras obras publicou “Cinema no Tucupi”, onde retrata a história do cinema no estado.

Primando pelo documentário e curta-metragem o Ponto de Exibição Cineclube Pedro Veriano, já exibiu mais de 200 obras audiovisuais, entre curtas, médias e longas. Em março de 2010, foi realizada no local a I Mostra ABDeC-Pa, onde o público elegeu 06 filmes para ser compilados numa caixa de dvd, distribuída para as ABDs de todo o país.

Serviço
Mostra Sérgio Péo
Sessão às 18h30, no Ponto de Exibição – Cineclube Pedro Veriano, na Casa da Linguagem, que fica na Avenida Nazaré, 33, esquina com Assis de Vasconcelos.
Entrada franca
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(Texto distribuido pela Assessoria de Imprensa)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

TRINTA E OITO ANOS


PANORAMA está completando hoje 38 anos. Um cineasta nacional já disse que ele pode estar entrando no Guiness Book se for considerado que não parou (exceto em férias regulamentares), não mudou o nome (dado pelo dono do jornal, Rômulo Maiorana) ou deixou de privilegiar comentários de filmes.

Não tenho a pretensão de assumir o “pecado” do orgulho. Mas fico muito feliz em saber que “estou”. PANORAMA nasceu quando já havia uma crítica de cinema formada na cidade de Belém por pessoas que estudavam o tema e escreviam muito bem sobre ele.

Comecei timidamente, na época sem mesmo saber manipular corretamente a máquina de escrever (a velha Olliveti letera), limitando minha atuação de cinéfila na visão constante de filmes ditos “de arte” nas sessões cineclubinas (seja no CC-APCC seja no “Cine Bandeirante”, de Pedro Veriano) e na leitura cada vez mais constante de livros básicos sobre o assunto (nunca fui de tratar um tema sem conhecimento).

Fico feliz em saber que a coluna revelou outros cinéfilos e críticos. Até mesmo cineastas. Leitores dos primeiros tempos não só passaram a escrever em secções como “Opinião do Leitor” e “Corte & Montagem” como a filmar em Super 8 ou 16mm.

Devido a minha investida no jornalismo especializado cheguei a dirigir por alguns anos a filial da Embrafilme (Empresa Brasileira de Filme) no norte do país. Trabalhei na área que abrangia o CONCINE (Conselho Nacional de Cinema) na época árdua do governo militar quando a censura exigia cortes em películas e fazia cumprir rigidamente a quota de exibições de filmes nacionais. Esta fase de meu currículo em cinema não é das mais lisonjeiras, mas eu a cumpri de forma a não ter más lembranças.

Bons momentos, além de fomentar a exibição de bons filmes numa época em que o ramo (exibição) não era, como hoje, globalizado (agora uma estréia em Los Angeles é uma estréia local), foram as mostras, ou festivais, que procurei organizar. Além do I Festival do Cinema Brasileiro em Belém (1974), houve a Mostra do Cinema Amador Regional em 2 etapas (dois anos), e sessões especiais que a coluna patrocinou, de alguma forma. Além disso, presidi a Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC) em um período, ocasião em que conseguimos alugar uma sala onde funcionou a sede da entidade. Ali tinhamos nossa biblioteca e realizamos um curso de cinema que contou com a presença do cineasta Joaquim Pedro de Andrade (de “Macunaima”) e do produtor César Mêmolo. Isso no período de ditadura quando era comum a presença de agentes policiais federais na platéia.

Desde a década de 1970 tomo parte na lista dos melhores filmes do ano realizada pela critica local. E ultimamente criei o meu blog onde ganho o espaço que diminuiu bastante no jornal.

Paralelamente à minha atuação como colunista de cinema fiz mestrado e doutorado em Ciência Política e consegui, como consigo até hoje, conciliar meu tempo para dar conta de tarefas nem sempre afins.

Quase coincidindo com o aniversario de O LIBERAL (que é dia 15), lembro, todo ano, a confiança que Rômulo Maiorana depositou em mim, uma “caloura” em meio a tantos nomes consagrados. Cada aniversário deste espaço é uma homenagem a ele. Minha vida profissional devo a esse incentivo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

TERRA DEU, TERRA COME


















O cineasta Rodrigo Siqueira foi o vencedor do prêmio de melhor longa-metragem e de melhor diretor do Amazonia Doc 2 - Festival Pan-Amazônico de Cinema, com o filme “Terra Deu,Terra Come” (Brasil, 2010, 88 min.). Não assisti a maioria dos filmes exibidos nesse Festival, mas vi o trabalho do jovem mineiro e me entusiasmou.

No interior de Minas, mais precisamente no Quartel de Indaiá, distrito de Diamantina, o cineasta pesquisou a cultura popular de uma comunidade que andou pelas páginas de Guimarães Rosa. Na região encontrou um nativo, filho de escravos, chamado Pedro de Alexina. Bem extrovertido, o idoso interiorano (80 anos) é um dos últimos a tratar com propriedade de vissungos e a falar o dialeto “banquela” antes usado pelos garimpeiros de ouro e diamante, especialmente nos funerais. E é um funeral que serve de base ao documentário. Morre um homem centenário do lugar, o sr. João Batista (120 anos), e enquanto o corpo enrijece (supondo-se a expectativa da morte real) realiza-se uma série de manifestações que vão de cantigas e danças até rezas e encenações. Esta celebração é narrada por “seu” Pedro, que aproveita para contar a história de seus ancestrais.

O filme não se limita a um tipo de manifestação folclórica. Ele estabelece o contraponto com um tipo de vida de uma comunidade e o que se conhece como cultura popular. Entrevistando um comerciante branco, sabe-se do preconceito que ainda mostra raízes. Este fala que “muitas terras dali foram de seu avô”, que tudo vendeu. E reclama da emancipação da gente de cor.

Mas o que impressiona é a felicidade com que o diretor conseguiu registrar: as pessoas, o cenário e o tempo, dimensões que bem transpostas para o cinema ganham o parâmetro do que o escritor mineiro (Guimarães Rosa) expôs em literatura. Ali está o “fim de mundo” para os ditos civilizados. E o que Rodrigo Siqueira fez foi trabalhar esse material no roteiro de forma que o conjunto, de aparência tão real, não pressinta o que existe de ficção, ganhando a idéia de uma tele-reportagem de grande importância antropológica.

A fala de “seu”Pedro é sempre alegre, mesmo em se tratando do funeral de um velho amigo. Ele é o cicerone de um lugar e ao mesmo tempo o contador de histórias, o sobrevivente de uma época que dá um depoimento precioso difícil de conseguir por outros meios. Pode-se chamá-lo de um corifeu no que foi captado pela câmera de Rodrigo Siqueira.

Com uma fotografia excelente a desafiar as circunstâncias de filmagem e uma edição (do próprio diretor) que joga bem as seqüências no contexto, “Terra Deu, Terra Come” sensibiliza nas andanças da câmera pelo claro-escuro do terreiro onde o defunto espera a sua vez, sendo reverenciado por seus companheiros. Se algumas das manifestações de despedida fogem ao critério que se julga inserto no ritual “Seu” Pedro logo revela o que significa.

O filme vem recebendo prêmios por onde é apresentado. Por aqui acrescentou mais um a seu currículo. Parabéns aos jurados que souberam valorizar um titulo marcante na historia do documentário brasileiro.

Outro premiado, este no setor de curta-metragem, foi o filme paraense “Mãos de Outubro” de Vitor Souza Lima. Ele conseguiu impor a sua qualidade em um programa de grande concorrência. O tema pode ser resumido no que disse o diretor: “Por que as pessoas esticam as mãos para o céu, em diversas religiões? Por que essa sensação de poder por meio das mãos, vista nos gestos de curandeiros a padres? (...) Como o material e o espiritual podem estar tão fortemente presentes em uma só parte do corpo, mesmo que ajamos de forma inconsciente?” São perguntas que Vitor Souza Lima deixa nas imagens que encantaram os jurados do Amazonia Doc2 especialmente pela montagem dinâmica. É um quadro da maior festa religiosa dos paraenses.

O documentário paraense a receber menção honrosa foi “Camisa de Onze Varas”, de Walério Duarte que enfoca o trabalho escravo no Pará, captando a trajetória de homens recrutados pelos “gatos” em 1974 para uma fazenda do interior. Outra menção foi a “Carregadoras de sonhos”, do alagoano Deivison Fiúza sobre o um dia de trabalho de quatro professoras sergipanas.

Um grande público prestigiou as exibições e debates do Amazonia Doc2. Os melhores filmes vão ganhar reprises nas telas do Cine Olimpia e Libero Luxardo.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

UM PARTO DE VIAGEM



Uma comédia tem elementos permanentes, dinâmicos e críticos. Esse gênero tende a ser usado nas representações artísticas como o teatro, o cinema, recorrendo ao humor. Na Grécia, o teatro grego era representado por duas máscaras: a da tragédia e a da comédia, diferençadas por Aristóteles (em sua Arte Poética) ao considerar que enquanto a primeira trata em essencial de homens superiores (heróis), a última explora ações sobre homens inferiores, quer dizer, sobre pessoas comuns da cidade (polis).

A meu ver, os elementos permanentes são aqueles traços da ação que recorre ao humor cuja dinâmica expressa-se nos ambientes dos quais captura os efeitos para criticar.
Assim, uma boa comédia é aquela que explora esses ajustes favorecendo a sintonia com o humor do público presente ao espetáculo que assiste e que vai observar quais as críticas que pode extrair do que viu. Uma comédia, portanto, não é a desqualificação de um tema pelo riso, mas o sentido que este vai ter e que promove a observação sobre o que é criticado.

“Um Parto de Viagem”(Due Date/EUA,2010) tem estas características. A preferência do diretor Tod Phillips valoriza a misoginia e a sua preocupação central é aproximar os estranhos tornando-os “brothers”, no final, a partir de situações convividas que repercutem no rearranjo das idéias e da cultura já condicionada sobre as coisas. Vê-se que isso está bem trabalhado nesse filme assemelhando-se ao anterior,”Se Beber Não Case” (2008).

Assim, os personagens são homens (pessoas comum, para Aristóteles) que se metem em problemas às vezes impossíveis de reconhecer onde e como chegaram a tal ponto, e procuram refazer suas atitudes em função de reaver o plano original de suas vidas. As mulheres são coadjuvantes, quase sempre mostradas na acepção do modelo feminino tradicional, ou na expectativa do casamento (“Se Beber....”) ou do parto (“Um parto...). Prefigura-se um processo para a reversão dos problemas, o “nonsense” é pertinente e aqueles absurdos que contemplam as primeiras linhas da ligação entre os desconhecidos se tornam uma convivência memorável da aventura solidária.

Em “Um Parto de Viagem”, o arquiteto Peter Highman(Robert Downey Jr) está na expectativa do nascimento do primeiro filho. Espera estar na hora em casa, pois está a serviço em Atlanta e o nascimento será em Los Angeles, precisando chegar ao aeroporto para não perder o momento. Ao descer do taxi, esbarra em um cara que sai rapidamente do lugar deixando uma mala que é tomada pela de Peter. Essa é a oportunidade que vê o atrapalhado candidato a ator de TV Ethan Tremblay (Zach Galifianakis) para aproximar-se do arquiteto.

A partir daí inicia-se uma série de situações desastrosas a começar com a tal troca de malas e o fato de Ethan portar drogas. Impedido de viajar de avião, o arquiteto tem que chegar a LA de carro. Mas na sua bagagem estavam seus documentos e dinheiro. Resta aceitar o convite de Ethan, e a jornada de carro ganha momentos inusitados. A começar pelo fato do ator levar as cinzas do pai, recém-falecido, numa lata de café.

A idéia era jogar essas cinzas no Grand Canyon, mas aí seria alongar a viagem.
O ator Zach Galifianakis revelou-se em “Se Beber Não Case”. É desses interpretes que explora sua máscara, para fazer rir, alimentando um tipo excêntrico que se vale de uma eficiente expressão visual. Em “Um Parto de Viagem” ele atormenta o amigo de ultima hora que pretende não considerá-lo amigo, chegando até a deixá-lo, numa oportunidade, em uma das muitas paradas da estrada (e logo se arrepende quando vê que levou consigo as cinzas do pai de Ethan).

O filme detém-se em duas variáveis: a pressa de Peter para chegar a tempo de assistir ao parto de Sarah e as intervenções de Ethan, uma delas expondo dúvida sobre a paternidade da criança a nascer depois que conhece Darryk (Jamie Foxx) um colega de adolescência da futura mãe e uma foto onde ambos estavam juntos. O argumento serve para destruir as certezas do companheiro de viagem.

O roteiro expõe vários momentos hilariantes: um deles é o café feito das cinzas do morto. Outra é o resgate que Ethan faz de Peter na fronteira do México quando os dois personagens são detidos por falta de documentos (e eles haviam errado caminho). Nesta seqüência há uma alusão à imigração ilegal, via de regra uma atitude norte-americana (e os mexicanos da ocasião riem do efeito contrário embora acabem a cena fumando a maconha que estava no carro dos gringos).

Todd Phillips, o diretor e co-roteirista, não chega bisar o efeito de “Se Beber não Case”(Hangover). Até porque, na sua premiada comédia anterior, ele imprimia aspectos surrealistas que a tornaram original a ponto de merecer um Globo de Ouro e outros prêmios. Mesmo assim, o novo filme é muito interessante e divertido. Roberto Downey Jr mostra mais uma vez o seu talento em qualquer gênero, e aqui brincando com o seu próprio passado de consumidor de tóxicos.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

COINCIDÊNCIAS DE AMOR






Certa revista publicou, recentemente, uma fórmula matemática da construção das comédias românticas norte-americanas. Talvez não fosse preciso, embora se saiba que esse país é fissurado em números que confirmem suas assertivas. Com poucas exceções esse gênero segue uma linha ditada pela bilheteria que objetiva os espectadores dispostos a se divertir (e nada mais que isso) em cinema. Essas comedias são extremamente previsíveis e até por isso o espectador médio mais ligado ao “divertissment”, não vê como “cerebral” a trama. De antemão ele sabe que o final vai ser feliz ou terá um “happy end”, que o “herói” e a “heroína” vão se unir num beijo final seguindo-se os créditos (antes era o letreiro “the end”), os problemas expostos nada mais representam do que elementos de uma história em que as agruras da vida passam ao largo, embora os conflitos a resolver na linha exposta apresentem imediata solução.

“Coincidências de Amor”(The Switch/EUA, 2010) não foge à regra. O roteiro de Alan Loeb e Jeffrey Eugenide, com base num conto do último, trata de Wally Mars (Jason Bateman), um burocrata apaixonado anos a fio pela amiga Kassie (Jennifer Aniston) sem que o romance se firme por conta do temperamento dela e da timidez dele em confirmar a afeição. Quando, já com mais de 30 anos, ela diz que deseja um filho e para isso pretende fazer a inseminação artificial ao invés de arranjar um comparsa para os meios tradicionais de engravidamento, ele estremece. Por que não o seu sêmen? Seria a hora deles se unirem .

Mas Kassie prefere a independência e arranja um doador em Roland (Patrick Wilson), um atleta casado, mas disposto a compartilhar o processo objetivando ganhar dinheiro (o que ele diz). O preparativo para a inseminação se dá com uma festa no apartamento da futura mãe e Wally é um dos convidados. Quando Roland já havia depositado a sua colaboração num frasco, no banheiro da casa, Wally, bêbado, entra no recinto e derrama o liquido. Sem atinar para o que estava fazendo, substitui o sêmen pelo seu. E esquece o acontecido por conta da bebedeira. Nasce um garoto que vem a se chamar Sebastian (Thomas Robinson), “a cara do pai”. E quem fica sabendo primeiro da troca é Leonard (Jeff Goldblum), patrão e melhor amigo de Wally.

Quem apostar como será o final do filme ganha um prêmio no torneio de cartas marcadas. Mas “Confidências de Amor” não é ruim. A começar com o desempenho de Jason Bateman. O ator não é muito conhecido do público do cinema, mas trabalhou em televisão, inclusive dirigindo 7 episódios de séries, interpretou papel secundário em “Amor sem Escalas” (Up in Air/EUA,2009) e protagonizou “Encontro de Casais” (Couple Retraits/EUA,2009) lançado em Belém mas me escapou. Com 4 filmes entre já completos e outros em planejamento é uma das boas aquisições da nova Hollywood. Seu desempenho convence tanto no tipo de amigo, amante enrustido e pai por acaso que é desculpável a inverossimilhança e a condução da trama por um caminho exaustivamente visitado.

A atriz Jennifer Aniston repete sua performance nos papéis que já encarnou em outras comédias, entre as quais as mais recentes exibidas por aqui, “Marley e Eu” (2008), “Separados pelo Casamento” (The Break-up, 2006), além de seu desempenho no seriado ainda exibido na TV fechada, “Friends” (1991 a 2004). Jennifer tem certo charme e uma pseudo-ingenuidade, além de uma beleza harmoniosa que cativam o espectador.

Quanto a direção da dupla Josh Gordon e Will Speck (de “Encarregando para a Glória/Blades of Glory/2007) é suficientemente hábil para sintetizar as “coincidências” que geraram o título em português (um raro caso de batismo oportuno). O roteiro enxuga bem o conto original e não se esconde em artifícios que demonstrem vergonha de ser mesmice. O filme nunca pretende enganar o público. É o que de melhor se pode pensar no gênero, mesmo que no passado tivesse sido exibida a ironia de “Se Beber Não Case”, um apelo ao surrealismo.

Um programa descompromissado que se realiza na sua modéstia.

PROGRAMAÇÃO AMAZÔNIA DOC 2 - CINE LÍBERO LUXARDO

4 a 6 de novembro de 2010

4/11 – QUINTA

Seminário Pan-Amazônico de Cinema – Cine Líbero Luxardo

15h às 18h – Mesa 1: A Ética no Filme

Convidados – Andrea Tonacci (SP), Rosana Matecki (Venezuela), Murilo Salles (RJ), Fábio Castro (PA)

Mediador – Ana Lobato (PA)


19h30 – Sessão 1

Serras da Desordem (Brasil, 2006, 2h15. Andrea Tonacci)

21h – Sessão 2

História de Um Dia (Venezuela, 2009, 1h29, Rosana Matecki)


5/11 – SEXTA

Seminário Pan-Amazônico de Cinema – Cine Líbero Luxardo

10h às 12h – Mesa 2 Produção e Distribuição Criativa

Convidados – Isabelle Cabral (RJ), Adailton Medeiros (RJ), Frederico Machado (MA)

Mediador – Marco Moreira (PA)


Sessões Comentadas com Jean-Claude Bernardet – Cine Líbero Luxardo

18h às 19h30 – Filme: Sobre Anos 60


19h30 – Sessão 1

Zona Sur (Bolívia, 2009, 1h49, Juan Carlos Valdivia)

21h – Sessão 2

A que Distância (Equador, 2005, 1h30, Tânia Hermida)

23h – Sessão Maldita
FilmeFobia (Brasil, 2008, 1h20, Kiko Goifman)

6/11 – SÁBADO

Seminário Pan-Amazônico de Cinema – Cine Líbero Luxardo

15h às 18h – Mesa 4: Os Limites entre Ficção e Documentário

Convidados – Claudia Mesquita (MG), Gustavo Soranz (AM), Rodrigo Siqueira (MG)

Mediador – Jorane Castro (PA)


19h30 – Sessão 1

A Teta Assustada (Peru/Espanha, 2009, 1h35, Claudia Llosa)

21h – Sessão 2

Olhos Bem Abertos (França, Uruguai, Equador, 2009, 1h55, Gonzalo Arijón)


O Amazônia Doc.2 será realizado de 03 a 14 de novembro em vários espaços na cidade de Belém.




CINE LÍBERO LUXARDO - Fundação Tancredo Neves - Centur Endereço: Av. Gentil Bitencourt, 650, Térreo Tel (91)3202-4321 cinelibero@gmail.com

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A SUPREMA FELICIDADE




É de Arnaldo Jabor, o filme cujo titulo encima este texto. Realizado 20 anos após ter assinado seu último trabalho para o cinema – o curta-metragem “Carnaval” (1990), “A Suprema Felicidade” (Brasil, 2010) explora a visão memorialistica do autor sobre a infância, adolescência e juventude do personagem Paulo (interpretado pelos atores: Caio Manhente, Michel Joelsas e Jayme Matarazzo, nas tres fases, respectivamente), a partir da trama pós-bélica de 1945 onde convive com os pais, avós, colegas de colégio, iniciação sexual, processo que sem dúvida marcou a sua história de vida.

Numa narrativa não linear, Jabor divide seu filme em três atos – o primeiro a partir da infância do garoto, o segundo na adolescência e o terceiro na juventude – entrecruzando as experiências familiares do apogeu e queda profissional de seu pai (Dan Stulbach) à domesticidade e aceitação da cultura tradicional feminina da mãe (Mariana Lima). Mostra, também, o amor e a morte do relacionamento afetivo destes, a convivência entre os colegas no colegio católico, a proximidade com o avô (Marco Nanini), secundando estranhamentos, questionamentos e visões românticas sobre sexo, mulheres e nascimento do primeiro amor.

Esse é o tom das imagens que povoam as reminiscencias do autor sobre as tres fases, explorando outros personagens que se incluem nessas lembranças e pontuam a narrativa com evidência para os tipos caricaturados no estilo cômico. Nesse teor está a figura de um pipoqueiro (João Miguel) que pelo visto inicia a fase de estranhamento debochado ao contar as suas aventuras com as mulheres, sempre usando termos preconceituosos e palavras chulas, com isso quebrando a inocência dos garotos. Os musicais de Hollywood, as aventuras noturnas na Lapa, o olhar sobre as prostitutas (a maioria dos tipos femininos expostos) perfazem aquele ambiente que à vista do espectador parece conturbado.

Sem dúvida um filme a la “Amarcord” em que os personagens fellinianos distribuiam-se entre as imagens lembradas pelo garoto de Rimini – contendas familiares, iniciação sexual, vida social e política e trânsito nas instituições responsáveis pela educação infanto-juvenil – exige uma certa narrativa que poderia ser a que instiga Jabor a usar – a não linearidade dos episódios. Sabe-se que no processo de re-memória as lembranças dos objetos da consciência humana saltam avulsas, disssociadas, singulares, exageradas e nem sempre são mantidas na sua temporalidade.

Se foi este o projeto do argumento para que o cineasta construisse sua visão supostamente crítica à formação do garoto brasileiro pós-guerra, ele sucumbiu ao ser transformado em roteiro e na execução do filme.

Os fragmentos, entrecortados de seqüência de antigos cine-jornais, querem fazer a conta desse processo aleatório, de flashes da memória. Mas a narrativa não se faz em primeira pessoa, ou seja, Paulo não é o narrador da história. Fica a impressão de que a fragmentação, de autoria do roteirista-diretor, é um meio de expressar que ele usa atentando para um caminho poético. Infelizmente o necessário lirismo nunca é encontrado. O acúmulo de acentos dramáticos chega a ironizar o que Noel diz (reproduzido pelo avô de Paulo) sobre o momento de felicidade que sentiu numa parada de ônibus (“foi uns dez minutos; depois passou”).
E o filme não se constrói (ou desconstrói) só nisso. Atores e enquadramentos denunciam uma linguagem teatral, como no plano médio em que os pais de Paulo discutem sem que a câmera se mova e eles, vistos de corpo inteiro, tentem ocupar a dimensão do quadro. Sobre os atores, só Marco Nannini mostra-se excelente, mesmo num tipo esquemático. Falas forçadas mantém estereótipos que vão do casal em crise, às prostitutas e seus cafetões, aos adolescentes que buscam o sexo (e um deles descobrindo a homossexualidade), dos sacerdotes ríspidos, enfim, do universo construído com velhas tintas como se assim se conseguisse, por parte do público, o efeito mimético que se viu na matriz felliniana.

Jabor mostrou-se sem a prática adquirida no passado mesmo que se reprovem os excessos de “Eu Te Amo” e “Eu Sei que Vou te Amar”. Neste “rentrée” ele está longe do seu “Toda Nudez Será Castigada” e principalmente, em “Tudo Bem” onde, ai sim, conseguiu agarrar a poesia na pintura dos velhos às voltas com os seus queridos fantasmas.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

PROGRAMAÇÃO DE CURSOS DA CAIANA FILMES



Novembro 2010

Curso de Prática Cinematográfica com Cesar Moraes
Aulas 10,11, 17, 18, 22, 24, 25, 29/11 e 01 e 02/12 Horário: 19 às 22h. Investimento R$ 100,00

Curso Roteiro para Cinema e Formatação de Projeto para o MinC 2011
Aulas: 13, 20, 27/11 e 04, 11, 18/12 - Sábados das 15:00h às 19:00h Investimento: R$ 100,00

Curso de Cinema Expressionista com Marco Antonio Moreira
Aulas início: 17/11 Horário: 19 às 22h. Investimento R$ 100,00



Inscrições: Caiana Filmes
Rua Diogo Moia, 986 • Umarizal
Belém • Pará • 66055170
Tel: (91)33434252 / 33434254
www.caianafilmes.com

DVDS : CLASSICOS EM DESFILE




Na década 1970/80, uma onda interessante de cinema vindo da Inglaterra deu singular expressão às sessões do “cinema de arte” que aquela altura a APCC gerenciava no Olímpia, nas sessões matinais de sábado. Nessa “leva” circulavam, também, os filmes de Luiz Buñuel e muitos outros programas que não atraiam o público afeito as sessões comerciais dos exibições regulares. Numa dessas escolhas é apresentado “Domingo Maldito”(Sunday Bloody Sunday/Inglaterra,1972) do diretor John Schlesinger. O tema, a narrativa e as evidencias de que as escolas de cinema eram divergentes eram aspectos procedentes para o prosseguimento dessas sessões.

“Domingo Maldito” trata de um tema delicado para o período em que foi realizado (e o país de origem). Um triângulo amoroso tem como vértices marido, esposa e amante desta – ou seja, um casal homo em meio a um relacionamento heterossexual. O diretor tornou-se famoso com “Perdidos na Noite”(Midnight Cowboy) filme vencedor do Oscar de 1969. Os veteranos atores Peter Finch e Glenda Jackson ( que aquela altura se tornava membro e mais tarde assumia candidatura no Partido Trabalhista”) encabeçam o elenco. O filme ganhou o Globo de Ouro na categoria drama, além do desempenho do ator. Houve premiação com o Bafta (prêmio inglês) e indicação a 4 Oscar.

Em DVD outros clássicos estão circulando. Por exemplo, “Jeanne Dielman”(Jane Dielman 23 Quai Du Commerce,1080 Bruxelles/ França,Belgica, 1975) é uma experiência desafiadora da cineasta Chantal Akerman. Expõe 3 dias na vida de uma mulher que mora num pequeno apartamento, recebendo um filho estudante e, noutras horas, fregueses de sexo. O filme revela detalhes da rotina dessa personagem em mais de 200 minutos de projeção. Trabalho árduo para a atriz Delphine Seyrig (de “O Ano Passado em Mariembad”). Tipo do filme endereçado a cinemas de arte e cineclubes. Essa experiência também se revela interessante para a exposição do cotidiano feminino entre as tarefas domésticas e a absorção dos hábitos nessa atividade.

“Quando as Mulheres Esperam”(Kvinnos Vantam/Suécia 1952) dá prosseguimento a restauração da filmografia de Ingmar Bergman feita no Brasil pela Versatil Video. Trata de mulheres que conversam sobre seus problemas domésticos e afetivos, enquanto os maridos não estão em casa. A história de cada uma delas ganha narrativa em “flashback”. O cineasta inicia a sua fase introspectiva, detalhando personagens. É importante para acompanhar a evolução criadora de um dos mais expressivos autores de cinema.

“O Castelo” (Das SchloB)/Alemanha, 1997 é a versão de parte do livro de Franz Kafka realizado por Michael Haneke, o cineasta de “A Fita Branca”, “Cachê” e “A Professora de Piano”. A riqueza do texto de Kafka tenta ser preservada com a ação sendo “lida” (em voz alta) como se a imagem representasse simplesmente uma ilustração. Mas impressiona o que Haneke explorou na narrativa procurando transpor a densidade do original literário discutindo a perspectiva dos personagens que surgem e mantém heterogêneos comportamentos diante do que desconhecem dos viventes do castelo. É o tipo do filme bom para um debate sobre o relacionamento do cinema com a literatura e a tentativa de explorar a criação e o poder. A cópia em DVD não conclui o drama do topografo K que deseja entrar no castelo. Não é melhor filme de Haneke, mas precisa ser visto.


DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

Encontro Explosivo
Cartas para Julieta
Esquadrão Classe A
A Hora do Pesadelo (2010)
Como Treinar o Seu Dragão
A Jovem Rainha Vitória
Tudo Pode Dar Certo
Tiras em Apuros
Plano B
À Prova de Morte