quinta-feira, 4 de novembro de 2010

COINCIDÊNCIAS DE AMOR






Certa revista publicou, recentemente, uma fórmula matemática da construção das comédias românticas norte-americanas. Talvez não fosse preciso, embora se saiba que esse país é fissurado em números que confirmem suas assertivas. Com poucas exceções esse gênero segue uma linha ditada pela bilheteria que objetiva os espectadores dispostos a se divertir (e nada mais que isso) em cinema. Essas comedias são extremamente previsíveis e até por isso o espectador médio mais ligado ao “divertissment”, não vê como “cerebral” a trama. De antemão ele sabe que o final vai ser feliz ou terá um “happy end”, que o “herói” e a “heroína” vão se unir num beijo final seguindo-se os créditos (antes era o letreiro “the end”), os problemas expostos nada mais representam do que elementos de uma história em que as agruras da vida passam ao largo, embora os conflitos a resolver na linha exposta apresentem imediata solução.

“Coincidências de Amor”(The Switch/EUA, 2010) não foge à regra. O roteiro de Alan Loeb e Jeffrey Eugenide, com base num conto do último, trata de Wally Mars (Jason Bateman), um burocrata apaixonado anos a fio pela amiga Kassie (Jennifer Aniston) sem que o romance se firme por conta do temperamento dela e da timidez dele em confirmar a afeição. Quando, já com mais de 30 anos, ela diz que deseja um filho e para isso pretende fazer a inseminação artificial ao invés de arranjar um comparsa para os meios tradicionais de engravidamento, ele estremece. Por que não o seu sêmen? Seria a hora deles se unirem .

Mas Kassie prefere a independência e arranja um doador em Roland (Patrick Wilson), um atleta casado, mas disposto a compartilhar o processo objetivando ganhar dinheiro (o que ele diz). O preparativo para a inseminação se dá com uma festa no apartamento da futura mãe e Wally é um dos convidados. Quando Roland já havia depositado a sua colaboração num frasco, no banheiro da casa, Wally, bêbado, entra no recinto e derrama o liquido. Sem atinar para o que estava fazendo, substitui o sêmen pelo seu. E esquece o acontecido por conta da bebedeira. Nasce um garoto que vem a se chamar Sebastian (Thomas Robinson), “a cara do pai”. E quem fica sabendo primeiro da troca é Leonard (Jeff Goldblum), patrão e melhor amigo de Wally.

Quem apostar como será o final do filme ganha um prêmio no torneio de cartas marcadas. Mas “Confidências de Amor” não é ruim. A começar com o desempenho de Jason Bateman. O ator não é muito conhecido do público do cinema, mas trabalhou em televisão, inclusive dirigindo 7 episódios de séries, interpretou papel secundário em “Amor sem Escalas” (Up in Air/EUA,2009) e protagonizou “Encontro de Casais” (Couple Retraits/EUA,2009) lançado em Belém mas me escapou. Com 4 filmes entre já completos e outros em planejamento é uma das boas aquisições da nova Hollywood. Seu desempenho convence tanto no tipo de amigo, amante enrustido e pai por acaso que é desculpável a inverossimilhança e a condução da trama por um caminho exaustivamente visitado.

A atriz Jennifer Aniston repete sua performance nos papéis que já encarnou em outras comédias, entre as quais as mais recentes exibidas por aqui, “Marley e Eu” (2008), “Separados pelo Casamento” (The Break-up, 2006), além de seu desempenho no seriado ainda exibido na TV fechada, “Friends” (1991 a 2004). Jennifer tem certo charme e uma pseudo-ingenuidade, além de uma beleza harmoniosa que cativam o espectador.

Quanto a direção da dupla Josh Gordon e Will Speck (de “Encarregando para a Glória/Blades of Glory/2007) é suficientemente hábil para sintetizar as “coincidências” que geraram o título em português (um raro caso de batismo oportuno). O roteiro enxuga bem o conto original e não se esconde em artifícios que demonstrem vergonha de ser mesmice. O filme nunca pretende enganar o público. É o que de melhor se pode pensar no gênero, mesmo que no passado tivesse sido exibida a ironia de “Se Beber Não Case”, um apelo ao surrealismo.

Um programa descompromissado que se realiza na sua modéstia.

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