segunda-feira, 27 de junho de 2011

UMA CIDADE, DUAS VERSÕES













As primeiras tomadas de “Meia Noite em Paris” (Midnight in Paris, EUA, 2011) de Woody Allen, referem um tempo, uma estação, um estado d’alma de um jovem que ama a cidade-luz, ama ou supõe amar sua noiva com quem está preste a casar-se, mas se sente perdido em meio aos seus desejos, de ficar com esses dois amores e não saber como compartilhar seus ideais. E ao aproveitar um sentido metafórico de “viajar no tempo”, consegue esse convívio, pelo menos em instantes onde circula com seus “cicerones” por templos dedicados à cultura literária e artística de outro tempo, o dos anos vinte. Emocionado ao encontrar-se entre figuras sobre as quais tem informações tanto das obras que produzem como de inusitadas excentricidades pessoais, o escritor (Owen Wilson) visita lugares onde se acham personalidades da literatura, pintura e cinema como Ernst Hemminway, Zelda e F.Scott Fitzgerald, T.S. Elliot, Pablo Picasso, Gaugin, Toulouse Lautrec, Salvador Dali e até o cineasta Luis Buñuel.
Na cadência de uma trilha sonora de autoria de Cole Porter, revê seu interior refletido nesse tempo e prefere acompanhar outra jovem que como ele ama a chuva caindo na cidade, molhando o corpo, fazendo renascer quem quer ser um sonhador, criador, enfim, alguém que achou no sonho de ontem a liberdade de expressão e de viver.




Jean-Luc Godard deu uma versão diferente à sua cidade em “Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela (2 ou 3 choses que je sais d'elle, 1967) considerado uma comédia dramática. Em 87 minutos ele refere duas personagens – Paris e Juliette Janson (Marina Vlady) e vai circulando e documentando o tempo que tantas mudanças trouxe à vida da metrópole e das pessoas. Esboça a “nova” Paris impactada com os acontecimentos mundiais. Trata do aqui e agora “dela”, da cidade que entrou no ranking das sociedades de consumo, de conflitos demonstrativos da luta das superpotências como a guerra do Vietnã e gravita em torno “dela”, de Juliette, uma dona de casa que circula entre os cuidados com a família e a prostituição, melhor meio de ganhar dinheiro e satisfazer seus desejos, para alguns, frivolidades, para ela, sonhos de sobrevivência.


Entre as duas versões, os caminhos do cinema se cruzam e nos dão um painel de tempos sociais e onde emoções e desejos revelam-se os construtores de identidades. Se Allen refletiu a Paris repleta de intelectuais norte-americanos, Godard deu vazão à sua maneira de ver o mundo despojado desses sonhos, mas demonstrando saber mais “dela” do que outros que se aventurem a amá-la. É a sua Paris sufocada pelos bombardeios de todos os matizes.


(Texto originalmente publicado na coluna de Marco Moreira, no domingo, 25/06. na revista TROPPO)




quinta-feira, 23 de junho de 2011

PARIS À NOITE



“Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, EUA, 2011) é o mais recente filmede Woody Allen que chega aos nossos cinemas. A primeira sequência capta uma série de imagens da capital francesa. Lembra um desses documentários turísticos. Um acompanhamento musical suave dá o tom de convite a uma visita à chamada Cidade Luz.

Depois dessa relativamente longa seqüência surgem personagens norte-americanos que chegam à França com missões diversas: um casal preste a casar-se, ele escritor, ela filha de um milionário que acompanha os pais que vão a negócios, mas aproveita para procurar novidades para o seu casamento. Os dois descobrem cada um a seu modo o que existe de interessante para ver. Outro casal norte-americano se apresenta-se , mostrando afinidade com a noiva e certo preconceito em relação ao noivo e seu interesse na literatura e outros ambientes de cultura da “cidade-luz”. Começa um derrame de erudição para o rebaixamento de uma feceta do escritor sonhador e amante de Paris. Mudanças de planos, de modos de encarar a relação afetiva, sugestão de afinidades diferenciadas leva o casal a se distanciar e esse pormenor vai evidenciando o que é prioritário para cada noivo. A futilidade dela endossa a recorrência ao afastamento dele em busca de outros locais de interesse e é nessa situação que de repente, perdido nas ruas da cidade que ama, em uma escadaria, vê carros passando e um deles, aparentado ser um carro antigo, para e as pessoas que estão no seu interior convidam-no para uma volta.

Começa uma viagem no tempo. O escritor (Owen Wilson) visita lugares onde se acham personalidades da literatura como Ernst Hemminway, F.Scott Fitzgerald, T.S. Elliot, Pablo Picasso, Gaugin, Toulouse Lautrec, Salvador Dali e até o cineasta Luis Buñuel (a quem ele aconselha o roteiro do futuro filme “O Anjo Exterminador”).

São várias as visitas ao passado. Conversa-se muito sobre o que acontecerá anos adiante, o trabalho desses gênios que será devidamente louvado “no futuro”, e chega-se ao motivo maior do livro que o escritor do século atual pensa em escrever. Isso e mais uma nova posição romântica. Ele compreende que o seu amor não está na mocinha frívola de 2010. Melhor será uma parisiense que encontra numa ponte, em noite chuvosa, depois de descartar outra personagem, que esta ligada aos escritores e pintores citados. Ou como se diz no cinema um corifeu.

O filme é um devaneio erudito do cineasta. Uma delicia para o espectador que está saturado de cinema “divertissement”, ou seja, do produto norte-americano extremamente comercial. Allen volta a fazer filme “seu”, até como o herói moldado ao seu jeito, mesmo com a cara de Wilson, um ator que pouco tem a ver com o comediante-cineasta de obra tão vasta quanto inteligente. É esse ar de surpresa que a cada momento se estabelece na nova dimensão que o leva a uma Paris cheia de luz (cultura, debate, discussões literárias e também de cunho pessoal).

As citações são várias e divertidas. Em tom alegre vêem-se as características que se sabe pertencerem a intelectuais como Hemmingway (o “machão” que adora caçar e fala de guerra), como Picasso, como Dali (hilariante ao falar de suas idéias surrealistas), enfim de uma plêiade de artistas da palavra e da imagem que viveram o final do século XIX (há menções à “belle époque” quando se vê um número musical do Can Can , com a devida apresentação de Toulouse Loutrec) e inicio do século XX. Nisso tudo paira uma homenagem à Paris. Woody Allen cita especificamente seu encanto pela cidade e certamente foi o motivo para contar, no elenco, com a Primeira Dama, Carla Bruni (no papel de guia de museu ).

Música de Cole Porter (com um ator interpretando o compositor) sublinha a vertigem temporal pontilhada de celebridades. O filme é tão divertido, mesmo que seja amparado nas falas, que passa depressa, parece ter menos tempo de projeção.

Allen só faltou mencionar o seu colega cineasta René Clair. Em “Esta Noite é Minha”(Les Belles de la Nuit/1954) via-se uma viagem de jipe pela historia do mundo onde se acham pessoas que sempre reclamam ser a vida melhor no passado. Não sei até que ponto a idéia estimulou o novo trabalho do roteirista-diretor. Mas há muito de Clair nesta nova contribuição de Allen ao cinema. A elegia a uma das cidades européias que o acolheu é bem uma resposta, quem sabe, do muito obrigado que ele está dando na maneira que tem de se comunicar.

CINEMA NAS FÉRIAS –II



Prossigo avaliando o panorama dos programas de cinema nas férias escolares de meio do ano.

Ontem citei os filmes agendados pelas salas comerciais. Hoje trato dos “extras”.

Em julho, os programas especiais das salas especializadas em cinema “de arte”(importante as aspas porque a atividade artística não é assim tão bitolada) deverão ser reduzidos. Haverá, apenas, um programa “Cult” e uma sessão do Cine Clube Alexandrino Moreira (IAP). As demais salas exibem regularmente um só filme por mês (Saraiva, Cine Clube Pedro Veriano/Casa da Linguagem e Cine Estação). O “velho” cine Olympia fica com filmes de curta metragem de diversas procedências (mais alemães) e alguns médias nacionais. Vão continuar, pelo menos das informações que tenho até agora, as sessões especiais dos domingos. Ainda em junho será exibido “À Noite Sonhamos”(dia 26).


“O Homem Mosca”(Safety Last/EUA<1929) de Harold Loyd estará na sessão do dia 28/06, do Cine Clube Pedro Veriano na Casa da Linguagem. O critico que dá nome ao clube deverá apresentar o filme, escolhido dentro do programa “Os Grandes Comediantes”. Analisará a obra e relatará alguns fatos curiosos em torno desta comédia clássica, especialmente o que aconteceu com o paraense Sinésio Mariano de Aguiar, fã de Lloyd.


“O Espírito da Colméia”(EL Espiritu de la Colmena/Espanha 1973, foto) é uma brilhante metáfora do diretor Victor Erice sobre os anos de ditadura na Espanha. As meninas que vêem no cinema o clássico “Frankenstein” pensam que o monstro vai surgir na pequena comunidade da zona rural onde vivem com o avô. Na época, a sombra da censura franquista (nome derivado do ditador Francisco Franco), aterrorizava quem ousasse sair de uma linha cujos limites mal se sabia corretamente. O filme foi um dos mais lembrados da fase de exibições do Cine Clube APCC, no Grêmio Literário Português e Cine Guajará da Base Naval.


“Johnny Guittar”(EUA,1954) é um western de Nicolas Ray que os franceses entronizaram. Interessante, pois a “heroína” (ou vilã, desde que se tenha em mente que é “durona”) é interpretada pela atriz e uma das grandes do cinema mundial, Joan Crawford. É importante ser (re)visto agora. Fará a Sessão Cult do Cine Libero Luxardo no inicio do mês (julho).


“Oliver Twist”(Inglaterra, 1948) é a versão clássica do livro de Charles Dickens realizada pelo diretor inglês David Lean. Mesmo contando com a refilmagem eficiente de Roman Polanski, em 2005,o trabalho de Lean chega mais próximo da fonte literária e deixa imagens marcantes. Impossível esquecer Robert Newton como Bill Sikes. A sessão é no auditório Benedito Nunes, da Livraria Saraiva, no shopping Doca Boulevard, na 4ª.Feira dia 6 de julho.


“À Noite Sonhamos”(A Song to Remember/EUA, 1944) é uma biografia de Chopin nos moldes de Hollywood. Mas impressionou, chegando a ser candidato a 6 Oscar. Foi o primeiro desempenho estelar de Cornel Wilde (1912-1989), ator que iniciou carreira em 1936 protagonizando tipos secundários, inclusive como um mexicano no western “Seu Último Refugio”(High Sierra/1940) de Raoul Walsh. Neste filme ele personifica Frederic Chopin imaginado pelo roteirista Sidney Buchman. A direção coube a Charles Vidor e a produção foi uma das mais caras da Columbia num tempo em que esse estúdio ainda era considerado “B”. Mas há de se ver Merle Oberon exagerando como forma de sacrificar a imagem do feminismo (e a critica, mostrando como ela se vestia com roupas masculinas e adotava nome de homem para vencer na estreita faixa de escritores) e Paul Muni caricato, mas forte como o professor de Frederic. Um filme que fez muito sucesso popular em sua estréia. Inclusive aqui, no próprio cinema que domingo próximo vai exibi-lo na sessão das 16 horas.


Esses eventos, onde filmes hoje clássicos são programados e vistos esperam traduzir em crítica o que achamos da produção comercial de Hollywood, visto ser parte de toda uma concepção dom processo de formação do público de cinema que hoje ainda pensa que só em determinados filmes é possível capacitar e/ou conceber a arte cinematográfica. Idéias estreitas, a meu ver, subestimam um amplo foco inteligente para as artes em geral e tornam uma maneira castradora de dirigir os olhares do espectador que deve ter sua opção de escolha.



OS FILMES DAS FÉRIAS- I



Falar em “filmes das férias” lembra o período em que as distribuidoras e exibidores de cinema engendram uma programação especialmente destinada à platéia juvenil que tem recesso no período escolar no meio do ano. Anteriormente esta programação se diversificava muito em países como o Brasil. No caso dos cinemas de Belém, longe dos centros em que as distribuidoras possuem filiais, os filmes eram agendados com base na disponibilidade de cópias já lançadas em salas de outras regiões. Presentemente, com a globalização do mercado, a estréia começa na fonte produtora, especificamente EUA. Os lançamentos se fazem quase sempre no mesmo dia de Los Angeles. Uma forma de combater a pirataria que alcança espectadores através do DVD. Mesmo assim há exceções, mas estas são orientadas, como se pode ver no programa traçado para este ano, por contingências que começam com o número de salas disponíveis para os filmes ambiciosos (em termos de renda).


Regularmente, os que escrevem sobre cinema e que não têm concessões com os “blockbuster” aguardam o que lhe parece substancial. E nos períodos de “safra”, ou de maior ambição dos donos da matéria-prima (distribuidores e exibidores) isto não existe (ou aparece pouco). Atualmente, a expectativa do chamado cinéfilo (o estudioso de cinema, diferindo do fã, abreviatura de fanático ou quem se contenta com o espetáculo sem analisar o que lhe é servido), limita-se a poucos títulos. O mais evidente é “A Árvore da Vida” de Terrence Malick, recentemente premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes. A data de estréia nacional está marcada para a próxima 6ª Feira. Cabe a pergunta: Belém estará no circuito? O trailer encontra-se em exibição no circuito Cinépolis. Queira Deus que chegue por aqui como “Meia Noite em Paris” um dos raros filmes de Woody Allen que alcança as nossas salas comerciais (o último desse cineasta foi “Vicky Cristina Barcelona”, sucesso de público no mundo todo). Mas o que se promete e com certeza chega na frente de tudo, é “Harry Potter e as Relíquias da Morte-2ª. Parte” (Harry Potter and the Deathly Hallows-Part 2/EUA,2011) marcado para estrear no dia 15 de julho(desde os cinemas da Califórnia). É o fecho da série com base nos textos da inglesa J.K. Rowlins, agora focalizando o duelo entre Harry (Daniel Ratchcliff) e o Conde Valdemort(Ralph Fiennes). É o embate entre Bem e Mal, no caso, com sabor de vingança posto que a família de Harry sofreu nas mãos do malvado conde. Para se ter uma idéia da expectativa que segue o lançamento do filme, a venda de ingressos para uma das salas de um circuito local, uma das que vai fazer sessão de meia-noite, se esgotaram em um dia. Uma da filhas e netas que acompanham as histórias do bruxinho desta vez não conseguiram realizar o “ritual”. Aguardam a venda em outro circuito.


Outra estréia de julho que também abrange o ponto de origem é “Os Pinguins do Papai”(The Popper’s Perguins/EUA,2011) de Mark Waters. Trata-se de uma comédia com Jim Carrey protagonizando o herdeiro de um bando de pingüins que passam a habitar seu modesto apartamento. A estréia nacional deve acontecer na primeira semana de julho.


Ainda em julho haverá o lançamento de “Transformers 3, O Lado Negro da Lua”(Transformers, Dark of the Mon/EUA,2011) de Michael Bay com roteiro de Ehren Kurger e produção de Steven Spielberg. Desta vez os monstros de metal que “fazem a festa” das crianças estão no lado escuro da lua e são descobertos pelos tripulantes da Apolo 11, fato que obviamente foi ocultado pela imprensa (outra vertente hilária se junta a que supõe boato infundado a viagem de Armstrong à lua, considerando que tudo foi construído em estúdio de cinema). Como nos outros filmes da franquia, os efeitos especiais proliferam. Bom para a garotada.



DE INÉDITOS A CLÁSSICOS - EM DVD



Prossegue a circulação, nas locadoras, dos filmes que escaparam das telas de cinema em Belém. Há de tudo, mas a maioria esclarece que os distribuidores & exibidores pensam o nosso mercado de um modo muito estreito, achando que o que dá bilheteria é uma concepção infanto-juvenil de filme de aventura e/ou comédias românticas que na maioria das vezes nada possuem de românticas e muito menos de comédias.

“Amor e Ódio”(La Rafle/França,2009) é um dos melhores filmes que já se fez sobre o holocausto. Focaliza o episódio histórico de judeus franceses aprisionados, deportados e mortos pelos nazistas que dominaram a França, nos primeiros anos da década de 40, especificamente em 1942.

A diretora-roteirista Rose Bosh acompanha o calvário de muitas famílias, mas dá especial atenção a dois garotos que conseguem fugir do lugar onde os seus tinham sido confinados, testemunhando, no caminho, a passagem do trem que levava seus pequenos irmãos para o extermínio em câmara de gás.

O filme só desconfigura quando mostra algumas cenas de Hitler na sua pousada nas montanhas, copiadas de um filme colorido encontrado depois do conflito. O ator que interpreta o tipo nazista tem certo ar caricato. Mas isto é um detalhe dispensável no enfoque de um drama que comove. Enfoque muito feliz no comportamento dos atores, na câmera jornalística, na edição que dá ao conjunto um ritmo ágil, intensificando o teor dramático. Importante assistir.

“Bom Demais Para Ser Verdade”(Main Street/EUa,2010) apresenta Colin Firth (o dono do Oscar por “O Discurso Do Rei”) como um empresário estranho que chega à uma pequena cidade norte-americana, então em franca decadência, alugando um depósito para abrigar barris lacrados que não nega conter material tóxico. A trama envolvendo esse personagem e uma viúva da sociedade tradicional local que lhe aluga o depósito passa em paralelo com a de uma jovem que despreza um policial apaixonado e se decepciona quando sabe que o patrão, com quem pretendia um relacionamento sério, é casado e pai de dois filhos. O espectador espera surpresas desses enredos, mas o roteiro não cai em armadilhas. O que importa é a decadência comercial e social do lugar. Muito interessante. Direção de John Dale (também autor do roteiro). Excelente desempenho da veterana (79 anos) Ellen Burtsyn.

“Trabalho Sujo”(Sunshine Cleaning/EUA/Canadá 2008) focaliza duas irmãs que procuram se manter longe do velho pai (Alan Arkin, em bom desempenho). Uma das irmãs, Rose (Amy Adams) tem um filho pequeno e procura se manter em um emprego. Amante de um policial casado vem a saber por este dos custos de uma limpeza de cenas de crimes. Oferece seus préstimos também à irmã. E acabam montando um pequeno negócio embora divergências no caminho façam com que Norah (Emily Blunt), a outra irmã, vá procurar melhor campo de trabalho em outra cidade. O filme é bem narrado linearmente e traz excelentes desempenhos.

E para quem busca os clássicos está circulando um filme raro de John Ford: “Mary Stuart, Rainha da Escócia”(Mary Stuart/EUA, 1936). Katherine Hepburn protagoniza a prima da rainha inglesa Elizabeth I que depois de enviuvar do jovem filho do rei da França volta à sua terra natal, a Escócia, onde encontra uma armação política contra sua pessoa. O lado histórico apresenta licenças muito grandes que não sei se estão na peça original de Maxwel Anderson roteirizado por Dudley Nichols. Mas o filme é bem narrado, a direção de arte muito boa especialmente para os recursos da época. Prova da versatilidade do diretor de grandes westerns.



DVDS MAIS LOCADOS( FOXVIDEO)

1. Cisne Negro

2. Caça às Bruxas

3. Zé Colmeia - O Filme

4. Alem da Vida

5. Inverno da Alma

6. Burlesque

7. Amor e Outras Drogas

8. Deixe-me Entrar

9. O Turista

10. Trabalho Sujo

QUANDO O AMOR SE VAI



Títulos são sempre uma maneira de avaliar o conteúdo de algo. Vejo assim em certos trabalhos acadêmicos lidos e que nem sempre condissem com o título que dado pela pessoa. Dessa forma, os filmes retratam, muitas vezes, esses equívocos, daí se dizer que não se deve ver filme pelo nome. Este argumento quer enfocar do que já mencionei aqui. Quem está supondo que “Namorados Para Sempre”(no original “Blue Valentine”) fosse mais uma comédia romântica, dessas que o cinema norte-americano vem produzindo com a mesma avidez com que produz os “blockbusters” baseados em quadrinhos, vai se decepcionar. Os namorados, no caso, não se juntam a ganhar aquela frase que encerra os contos de fadas (“...e foram felizes para sempre”). Por consolo, em Portugal o filme se chamou “Eu e Tu”. Ficaria ótimo se fosse narrado na primeira pessoa. Mas não é.

No enredo, Cindy (Michelle Williams) e Dean(Ryan Gosling) conheceram-se ainda jovens, ambos vindos de famílias destroçadas por várias contingências. Ela é enfermeira trabalhando num hospital, ele fazia “bicos” como pintor e, impulsionado por ela, passa a fazer serviços de carregamento e entrega. O casal tem uma filha, Frankie (Faith Wladyka) que no inicio do filme é vista no colo do pai procurando a cadela de estimação que desaparecera. O enfoque, a partir desta sequencia, adentra por recursos que tentam viabilizar o estremecimento da afetividade dos casados. O sumiço do cão pode ser visto como o sumiço de um modo de manter o casamento dos personagens. Mas se isto é ver demais, não é, por certo, a opção do diretor e roteirista Derek Ciafrance (no roteiro associado a Cami Delavigne e Joey Curtis) a usar sempre a câmera manual como se estivessem fazendo um filme amador, um desses registros domésticos de rotina caseira.

Cindy é uma garota do seu tempo, extrovertida, Dean é ciumento. O casal é visto em tempos diferentes no correr da narrativa, sabendo-se quando está no passado e se está no presente pela maquilagem dos atores como pela afeição que demonstram. Mas sempre há uma predileção por planos próximos e isto se intensifica na medida em que surge uma crise muito séria no meio.

Não há uma predileção por determinado tipo na construção do roteiro. Ora se vê Cindy com um “ficante”, ou no seu trabalho, ou em casa (e aí poucas vezes esboçando um sorriso), ora é Dean com a barba malfeita, via de regra contrariado e bêbado, não disfarçando uma instabilidade emocional que data de sua formação de menino carente.

É importante observar o casal de forma que os tipos estejam bem delineados para que se demonstre o que sentem. Ao assistir ao filme lembrei de “Um Caminho Para Dois”(Two For the Road) de Stanley Donen, onde Audrey Hepburn e Albert Finney vivem um casal que também se amou e no correr do tempo foi ficando indiferente. No filme lembrado, a ação é igualmente fragmentada para se ver o comportamento das pessoas no tempo. Mas os flashes de vida são normalmente alegre, reforçados em cores vivas e na musica marcante. Em “Blue Valentine” a fotografia é dura, o sublinhamento musical prende-se demais ao problema focalizado sem que fique na memória do espectador, e a separação fatal não ganha uma dimensão de saudade que fica quando os ex-namorados estão vivendo suas vidas de forma independente. Pode-se dizer que agora há mais apelo realista. E vai daí o ridículo que o nome do filme em português ofereceu: “Namorados para Sempre”. Claro que foi uma armação comercial que o lançamento próximo do Dia dos Namorados intensificou. Na verdade eles não ficam para sempre, ou melhor: não ficam. E quem os vê compreende que é o destino mais coerente da trama.

O desempenho de Michelle Williams está excelente, mas não se deve deixar em segundo plano o seu comparsa. Ryan Goslin não foi candidato ao Oscar, mas foi nominado ao Globo de Ouro e de várias associações de críticos dos EUA. A produção independente é a segunda do diretor Derek Cianfrance na ficção de longa metragem (antes ele realizou o aplaudido “Brother Tied”em 1998). O sucesso deu margem a que ele fosse procurado e está com dois filmes prontos para estrear. Vai longe. Não perca “Namorados para sempre”.

NAMORADOS DE CINEMA



Tudo bem que o dia que o comércio marcou como dia dos namorados (não à toa véspera do dia de Sto Antonio, santo que tem a fama de casamenteiro) já passou. Mas em cinema jamais passa. E começo este comentário expondo o absurdo do titulo “Namorados Para Sempre” que a distribuidora nacional optou para “Blue Valentine”. O filme, um dos bons independentes norte-americanos, que só chegou às telas grandes brasileiras, e em lançamento nacional, por conta do titulo e data. Seria o ideal para os casais que sonham com um amor eterno. Mas a história não é nada disso. Amanhã eu comento o filme, mas ressalto logo que o titulo nacional é equivocado. Melhor foi o que recebeu em Portugal, apesar de ainda asssim dar margem a risos: “Eu e Tu”. Seria correto se a narração fosse em primeira pessoa. Não é.


Este espaço assinala o que parece o mais sugestivo do tema namorados, em filmes. Não vale especificar que o par fica junto, felizes para sempre como se fecha um conto de fadas. Em “Casablanca”, por exemplo, um ícone do gênero romântico, o casal que se ama se separa, se reencontra anos depois e ainda assim não fica junto. Mas a platéia guardou os dois dançando ao ritmo do bolero “Perfidia” e ouvindo “As Times Goes Bye” que Sam, no piano teima em tocar.


Namorados eternos seriam os personagens Kate e Heatchcliff os heróis de “O Morro dos Ventos Uivantes”. Mesmo depois de mortos. No filme de William Wyler (1939), bem diferente do romance de Emile Bronté, está mais explicita a união que vence a vida. Marcou aquele passeio das almas pelo morro onde namoraram na juventude.


O gênero (romance) está cheio, em cinema, de exemplos piegas. Basta citar “Love Story”, para a indústria um arquétipo de roteiro sobre namorados. A frase da heroína ao morrer (“Amar é não ter jamais que pedi perdão”) ganhou a resposta ridícula num close do galã Ryan O’Neal. Em compensação, espectadores (e historiadores de cinema) lembram sempre Katherine Hepburn em Veneza despedindo-se do breve romance com Rossano Brazzi em “Quando o Coração Floresce”. O mesmo diretor deste filme, David Lean, realizou o clássico “Desencanto” onde uma paixão por outro marca a vida de uma mulher presa aos afazeres domésticos: “Desencanto”(do conto de Noel Coward “Brief Encounter”).


Romances que empolgaram gerações passadas podem ser lembrados nos DVDs de “A Ponte de Waterloo”(desencontro de Vivien Leigh com Robert Taylor), “Carta de uma Desconhecida”(Louis Jourdan sabendo por uma carta do amor que Joan Fontaine tinha por ele), “Orgulho e Preconceito” (em duas versões, a mais famosa dos anos 30 com Laurence Olivier tentando ser o eleito de Greer Garson) ou, principalmente, “Aurora” (George O’Brien reencontrando o amor que tinha por sua esposa, interpretada por Janet Gaynor).


Mas os finais infelizes, fora dos padrões de Hollywood, ficaram mais evidentes para muitos cinéfilos (não só “fãs”). Começa com Scarlet O’Hara recebendo um fora de Rett Buttler(ela Vivien Leigh , ele Clark Gable) em “...E O Vento Levou”. Há o grito de “Inocência” (Fernanda Torres) pelo amado, ao morrer (no filme que leva o nome dela). Há o apaixonado sessentão (Laurence Olivier) que perde posição e família ao seguir sem sucesso Jennifer Jones em “Perdição por Amor”. E para não dizer que historias de amor são um privilegio de filmes antigos, lembro dos recentes “Carta para Julieta”, “O Amor Acontece”, “500 Dias com Ela”, “Sex and the City”, e a série “Crepúsculo”.


O amor está no cinema como elemento básico de muitas histórias. E mesmo quando o filme não é de contar história, quem esquece as lembranças de Marcello Mastroianni nos filmes de Fellini (“A Doce Vida” e “8 e Meio”) ou a análise da vida a dois por Ingmar Bergman (“Cenas de um Casamento”) ou ainda as observações de Woody Allen em “Annie Hall” e “Hannah e suas irmãs” ?


Esses romances de cinema fazem a projeção para muitas vidas. E assim, esta coluna não poderia deixar de lembrá-los. Como a vida (pelo menos para mim), o amor é o sentimento eterno.

COMÉDIAS INÉDITAS



O DVD no Brasil continua sendo a porta de entrada para filmes que as distribuidoras não acham rentáveis em cinema. Esta semana assisti alguns desses filmes. As comédias “Negócio de Morte”(Just Buried) e “O Primeiro que Disse”(Mine Vaganti) são respectivamente do Canadá e da Itália. A primeira é dirigida por Chaz Thorne, autor do roteiro, e segue a linha do que era realizado na Inglaterra nos anos 50/60, especialmente nos estúdios Ealing de Michael Balcon (quem assistiu “As Oito Vitimas” ou “O Quinteto da Morte”?). Aqui o enfoque é para um jovem herdeiro de uma agência funerária que se une à médica-legista a serviço da casa, filha do chefe de policia local (uma pequena cidade canadense). O serviço é pouco, pois a cidade, como a Sucupira de Dias Gomes, produz poucos “cadáveres novos”. Mas quando o casal atropela um andarilho, une-se no modo de esconder a falta de socorro e providenciar o funeral da vitima. Daí em diante a meta é “produzir mais cadáveres”. Até que ela arranje namorado, o pai descubra os crimes, e uma onde de ciúmes sufoque os planos macabros.

O humor inglês sai subtraído pelos canadenses. O filme não possui a leveza narrativa necessária nem se utiliza do humor macabro da história para algumas seqüências que realmente sejam engraçadas. Uma pena, pois a máscara do ator Jay Baruchel daria para compor o tipo imaginado pelo próprio diretor (um “desengonçado” que jamais se pensaria como um “serial killer”, do tipo de um dos nerds de um seriado de tv fechada ).

“O Primeiro que Disse” tenta reerguer a comédia italiana, mas sufoca na seriedade do tema. Tommaso (Ricardo Scarmacio) jovem homossexual, filho de um industrial em Toscana, estudou literatura em Roma quando o pai pensava que ele estudava administração para gerenciar a fábrica de massas que a família dirige por gerações. De volta á casa, ele tenta dizer a sua opção sexual e o seu pendor para as letras. Mas na hora do jantar em família o irmão mais velho se precipita e fala de sua homossexualidade. O pai tem um enfarte. Resta ao jovem continuar fingindo que é “hetero” e técnico nos negócios da firma. O roteiro é de Ivan Cotroneo e Ferzan Ozpetek e podia ganhar um ritmo que não lhe dá a direção do primeiro. O problema não é para piadas e de comédia, assim mesmo exalando preconceito, resta o comportamento de amigos “gays” de Tommaso quando resolvem passar alguns dias na casa do industrial (que foge das falas dos citadinos sobre o outro filho). Felizmente o final não apresenta o que seria uma “cura” do comportamento do jovem herdeiro, namorando uma garota decidida que trabalha com ele na indústria(Alba/Nicole Grimaudo). Mesmo assim fica na platéia a torcida de que o rapaz passe de um sorriso no fecho em que se despede da amiga e sócia.

Dentre os lançamentos em DVD ganha destaque a ficção-cientifica “Capricórnio Um” (Capricorn One/EUA,1978) escrita e dirigida por Peter Hayms. No auge da “guerra fria”dos EUA com a URSS, a propaganda ganhava subsidio na exploração espacial. Por isso, os cientistas norte-americanos anunciam uma viagem a Marte, quando na verdade segregam os astronautas, mandam um foguete sem tripulantes e pensam em colocar os rapazes na capsula que deve voltar do planeta vizinho e cair no mar. Acontece que a capsula queima na reentrada na atomosfera da Terra e os astronautas sabem que a noticia quer dizer a morte deles. Por isso fogem, seguindo-se uma perseguição pelo deserto de Nevada.

Lembro que depois dos vôos Apolo surgiu um boato de que a viagem à lua tinha sido um engodo filmado em estúdio. Talvez isto tenha inspirado Peter Hayms(“2010”, “Timecop”). E tenha gerado um suspense divertido, filme que se acompanha com certo suspense ,mesmo com muitos tropeços e pouco de cinema denso.

DVDS MAIS LOCADOS(FOXVIDEO)

1. Caça ás Bruxas

2. Amor e Outras Drogas

3. O Turista

4. Além da Vida

5. O Vencedor

6. O Dilema

7. Megamente

8. Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família

9. Doce Vingança

10. Um Lugar Qualquer

EM UM MUNDO MELHOR





















O titulo original de “Em Um Mundo Melhor”, “Haeven” em dinamarquês quer dizer “vingança”. O filme mereceu (mesmo) o Oscar de melhor filme estrangeiro, este ano, e andou despertando polêmica entre os céticos e os que ainda acreditam que, de fato, pode haver ou é possivel construir “um mundo melhor”.

O roteiro de Anders Thomas Jensen aborda a situação de dois meninos colegas de escola: Christian (William Johnk Nielsen) e Elias(Markus Ryagaard). A sequencia inicial do filme apresenta o primeiro garoto fazendo a oração de despedida no funeral de sua mãe. A câmera capta-o de costa e de um ângulo um pouco alto (quase um “plongée”). O menino cita “O Rouxinol”, um poema de Hans Christian Andersen. Comove a todos ao ligar o espírito da mãe à ave que alça vôo de um mundo conturbado. Terminada a fala, o pai cumprimenta-o pela bela oração, mas se observa a frieza do garoto (há um campo e contra -campo elucidativo desse mal estar entre pai e filho). É explicado posteriormene essa situação: Christensen assistiu a uma cena em que o pai proporcionara a eutanasia à esposa que sofria as dores de um câncer terminal (ela havia pedido para morrer).

Quanto a Elias era vitima de bullyng na escola. Os colegas, especialmente o grandalhão Sofus (Simon Maagaard Holm) implicavam com a sua arcada dentária (proeminência dos incisivos), mas não revelava esses incidentes. Quando Christian percebe as ocorrências maldosas dos colegas junta-se a ele e vai a seu socorro. Começa uma grande amizade.

Médico de campanha, o pai de Elias atua numa área miserável da África. Está em vias de separar-se da esposa, uma enfermeira. O pai de Christensen pouco se distingue no roteiro do filme. Mas é percebido como uma pessoa de posses que mora numa mansão com a mãe. Focaliza-se mais o trabalho de Anton (Mikael Persbrandt), um desses “médicos sem fronteira”, especialmente quando em meio a guerrilha é obrigado a tratar do chefe de um bando, responsável por aplicar violência, estupro e assassinato de forma brutal em várias mulheres da aldeia próxima. Como paciente sofre de um ferimento na perna e tem medo de perdê-la.

O caráter de Anton é definido aí e depois quando vai contatar um homem que havia insultado seu filho, recebendo um tapa no rosto sem reagir. Seria o arquétipo do bom cristão. As vidas dessas personagens são abordadas em seqüências que se entrelaçam em narrativa fragmentada sem prejudicar o acompanhamento de uma história de grande força emotiva. Mas não há concessão à pieguice.

A situação é precipitada quando Christensen idealiza explodir o carro do agressor do pai do amigo. Ele e Elias preparam e colocam uma bomba caseira sob o veiculo quando circulam pessoas e Elias tenta impedir a aproximação delas procurando avisá-las. Torna-se a vitima da explosão. O que há de mais tenso no filme é justamente a epifania ou percepção da manifestação da natureza ou do significado essencial de uma dada coisa ou situação, através dos planos. No processo de apresentação dos tipos, nota-se o desdobramento do médico em salvar vidas. Seu cansaço não tem limites, mas sua abnegação é maior em tentar ao menos prosseguir em sua atuação num mundo hostil. Onde a morte é um detalhe na tentativa da sobrevivência dos seres humanos daquele lugar extremamente estéril de sentimentos dos que controlam o poder da comunidade. As maiores vítimas, mulheres jovens têm seu ventre aberto para extrair os bebês em seguida o estupro da morta. É desse estado de coisas que emerge um homem bom. A ponto de mostrar ao filho que “dar o outro lado da face para o tapa” não desmerece quem não está necessariamente no fim do tunel da agressidade embora vivendo a violência.

A violência escolar também é outra denúncia presente. A “naturalização” das atitudes intra-alunos tem sempre uma escapatória para os superiores. Aonde entender os limtes desse jogo entre “seres aptos” e “não aptos” para viverem socialmente?

A diretora Simone Bier mostra-se hábil em trançar fatos evidenciando o que há de mais sugestivo em cada um. E principalmente consegue excelentes desempenhos, ressaltando-se os menores e em particular William Nielsen, o Christensen.

MACHETE E A VIOLÊNCIA





Ainda em exibição no Cine Libero Luxardo o filme “Machete”(EUA, 2010), que é produto de uma brincadeira do diretor Roberto Rodriguez e seu “tutor” Quentin Tarantino. Eles fizeram um falso trailler para “Grindhouse”, o filme que cada um realizou um episódio. E a idéia chamou a atenção de muita gente. Um sucesso levou ao longa escrito e dirigido por Rodriguez com o seu sobrinho Alvaro.


O argumento pode ser assim resumido: no México, o agente federal Machete Cortez contraria as ordens de seu chefe e se dirige com seu parceiro para o esconderijo do poderoso traficante Rogelio Torrez com o objetivo de resgatar a testemunha de acusação contra um criminoso que ele seqüestrou. Contudo, o agente é traído e sua esposa e filha são assassinadas por Torrez. Depois de três anos Machete é um imigrante ilegal no Texas, vagando pelas ruas em busca de emprego. É contratado por Michael Booth para assassinar um senador de extrema-direita, John McLaughlin, contrário à política imigratória e defende a construção de uma cerca eletrificada na fronteira com o México.


Nesses espaços de tempo a violência tem sua aura de eficácia. Há planos literalmente ensanguentados. O que Rodriguez fez desde “El Mariachi”, seu filme de estréia, amplia-se no que concerne ao ato violento de forma explicita. A carnificina que se viu até mesmo em notórias comédias como “Planeta Terror”surge ampliada. O tipo vivido por Danny Trejo se transforma em opção ideológica do roteiro que diz condenar a perseguição feita nos EUA com os imigrantes latinos, em especial os que entram ilegalmente no país. Machete é um “demônio exterminador”. E o que admira no filme é Robert De Niro desempenhando o senador McLaughlin. O que teria seduzido o ator famoso, criador do Festival de Tribeca, a fazer parte de um filme como “Machete”?


Entretanto, há quem goste de “cine-açougue”. Melhor: quem considere divertido. Não sei se dá para rir quando em um momento absolutamente implausível, um personagem abre o ventre de outro e a câmera se aproxime das vísceras. Em “Planeta Terror” até procediam os risos quando a garota que perdera uma das pernas coloca uma metralhadora de prótese. Este absurdo realmente acabava engraçado. Mas o señor Machete Cortez de Danny Trejo procura ser “realista”, sem o “non sense” que muitas vezes se encontra nos filmes de Tarantino (como o Hitler que morre com seu oficialato dentro de um cinema em “Bastardos Inglórios”). Interessante também é como Roberto Rodriguez gosta de produzir filmes infantis. A série “Spy Kids”(Pequenos Espiões) é muito receptiva pela garotada de vídeo-game. E inócua. Quando faz esse tipo de cinema o produtor-diretor não deixa que a fantasia se contamine de violência gratuita. Seus garotos-heróis podem até figurar no figurino Disney. O conceito que ele tem de platéias é curioso, achando que os adultos acham pitoresco mocinhos e vilões sanguinários e as crianças continuem sonhando com inócuas aventuras espaciais.


Mas voltando a “Machete”: a denúncia de corrupção política envolvendo as autoridades da imigração e a idéia do senador vilão em colocar uma rede elétrica na fronteira com o México não ganha qualquer substancia na ação. Esta, a ação, é comprometida com a “fotogenia” que ela possa ter. Por isso, o filme esvazia o seu conteúdo. E se ganhou mais de 300 comentários críticos em bancos de dados específicos (IMDB) isto não quer dizer que tenha sido grande sucesso de público. O trailler parece que chamou mais a atenção. Felizmente. E pelo tempo em que o filme foi produzido e está circulando nas telas internacionais, sem chamar multidões, a ameaça de versão do tipo “Machete 2”parece fora de cogitações.




REGISTRO Na oportunidade agradeço ao cineasta de animação André Miralha o presente que enviou a mim e ao Pedro Veriano: seu filme “Miritis”que trata da produção dos brinquedos de miriti pelos artesãos de Abaetetuba, vendidos principalmente no Círio de N.S. de Nazaré. André foi autor de animações como "Admirimiriti", "Nossa Senhora dos Miritis" e do documentário "Miriti-Miri", com a temática desses brinquedos e que estão incluidos neste “Miritis”, lançado no último dia 5 no Olympia.

AQUÉM DA IMAGINAÇÃO






Lembram da série de TV “Além da Imaginação”(Twilight Zone) criada por Rod Serling nos anos 50? Pois até hoje muitos filmes tentam se enquadrar no esquema desse produtor e acabam mostrando que as suas histórias não são nada originais, ou são “aquém da imaginação”. Esta semana assistia dois DVDs que se enquadram nesse critério: “O Bom Coração” (The Good Heart/EUA,2009) e “Curto Circuito”(Static/Canadá, 2010).


O primeiro filme focaliza dois personagens que se encontram num hospital: Jacques (Brian Cox) é dono de um bar em Nova York e se mostra depressivo, alheio a tudo o que a vida pode lhe oferecer. Acidentado ele encontra ao lado de seu leito o jovem Lucas (Paul Dano) que tentara o suicídio. Decidido a ajudar Lucas ele o emprega no bar e através dele tenta levar uma vida melhor. Mas um acidente de percurso vai dar uma conotação explicita ao titulo do filme. Bons atores e narrativa bem orquestrada fazem com que se acompanhe a ação com interesse. O diretor-roteirista Dagur Kári consegue dimensionar os tipos sem cair em armadilhas de cinema pseudo introspectivo. O final,no entanto, é matéria para o seriado de Rod Serling que, se fosse o caso, mudaria alguma coisa.


“Curto Circuito” imagina dois estudantes que inventam um telefone celular a ser instalado na cabeça de forma que as pessoas telefonem com o pensamento. Une-se a eles uma colega que se pode apostar como futura namorada do mais cordato da dupla. Também não precisa apostar que o invento vai dar problemas e esses problemas vão levar à violência.


O enredo poderia gerar um filme curioso digno dos episódios da série “Além da Imaginação”. Mas como é conduzido e resolvido tudo se transforma em mais um “terror” ligado à ficção-cientifica dentre muitos que Hollywood vem produzindo. A direção é de Randy Daldlyn e o roteiro de Darryn Lucio.


A distribuidora Classicline lançou duas versões da história de Bernadette Soubirous, a jovem camponesa que viu uma “senhora vestida de branco” numa gruta em Lourdes (França) no final do século XIX. O culto a N. S. de Lourdes levou a um filme famoso em 1941 dirigido por Henry King: “A Canção de Bernadette”. Recebeu o Oscar do ano a atriz estreante Jennifer Jones. Os exemplares franceses, um de 1961 dirigido por Robert Daréne outro de 1988 por Jean Dellanoy mostram-se mais documentais, o segundo afirmando que seguiu de perto os fatos. São narrativas de cineastas profissionais, sem qualquer preocupação de ordem estética além de contar o proposto com bastante clareza. O problema, no caso de Dellanoy, paira em certos arficios fantasiosos que desmentem a intenção disposta em uma legenda no inicio do filme. Por exemplo: a então jovem atriz Sidney Penny (que interpretou episódios de “Além da Imaginação”na última temporada da série), apresenta-se extremamente maquilada para uma camponesa rude, filha de um casal pobre de passar fome. O que ressalta a abordagem é que não se vê a imagem da presumível santa. Bernadette nunca disse que a figura que via em Lourdes era Nossa Senhora, embora afirmasse que ao perguntar o nome da aparição esta respondeu-lhe ser a Imaculada Conceição, fato que impressionou o clero da época, posto que a aldeã não sabia o que isso queria dizer. O veterano diretor, falecido em 2008, preferiu usar a luz que iluminava o rosto de Bernadette em close quando esta falava com a Senhora.


Também assisti em DVD uma comédia romântica que não chegou aos cinemas:”A Matemática do Amor”(An Invisible Sign/EUA,2009) de Marilyn Agrelo.Em foco uma garota (Jessica Alba) que ama tanto o pai, um matemático, que se dedicou à esta ciência. A sequência dela com alunos de curso primário é interessante. Mas não é um filme que se realize como estudo de caracteres. Numa “ponta”, como mãe da personagem, Sonia Braga tem pouco a fazer.



DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)



  1. Amor e Outras Drogas


  2. Alem da Vida


  3. O Turista


  4. O Vencedor


  5. A Morte e Vida de Charlie


  6. Megamente


  7. Um Lugar Qualquer


  8. Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família


  9. Incontrolável


  10. Doce Vingança

quinta-feira, 2 de junho de 2011

ETTORE SCOLA






Em maio, 10, o cineasta italiano Ettore Scola comemorou 80 anos.
Por esse motivo, ele vai ganhar homenagem esta semana da ACCPA com a exibição, na Sessão Cult do Cine Libero Luxardo, sábado, às 16 horas, de “Nós que nos Amávamos Tanto” (C’Eravamo Tanto Amati/Itália,1974) para muitos o seu melhor filme.

Ao longo de uma carreira iniciada em 1953 Scola escreveu 88 roteiros, dirigiu 39 filmes, produziu 2 e editou 2. Seus trabalhos ganharam 34 prêmios em mostras internacionais e foram candidatos a 14. Ele não filma desde 2003 quando realizou “Gente de Roma”(Gente di Roma) inédito por aqui. Assumiu uma carreira política chegando a ocupar uma cadeira no legislativo italiano. Moderou suas atividades desde problemas cardíacos ha algum tempo.

O filme que anunciará a obra de Scola nessa comemoração, “Nós que nos Amávamos Tanto” foi um dos primeiros sucessos do saudoso Cinema 1. O amigo Alexandrino Moreira ficou feliz ao ver a casa lotada para a projeção de um filme que a critica também aplaudia. E um detalhe: o filme só fizera sucesso em uma capital brasileira antes de Belém (ao que consta, Porto Alegre). O evento paraense surpreendeu a distribuidora (Condor Filmes). Devido a isso a permanência do filme em cartaz foi incomum numa época em que dificilmente um programa chegava a esse feito.

O roteiro que Scola também assinou tratava de 3 amigos que estiveram na guerra, colocando-se na resistência ao nazi-fascismo: Gianni (Vittorio Gassman), Antonio (Nino Manfredi) e Nicola (Stefano Setta Flores). Desmobilizados após o embate, retornam aos seus locais de origem e cada um tratou de arranjar emprego no novo cenário nacional: Antonio assume o posto de enfermeiro, Nicola jornalista e critico de cinema e Gianni, ambicioso, ganha posição social ao se casar com uma rica herdeira. Os 3 vão se encontrar, mas os dois últimos não sabem que o amigo é agora milionário. E menos ainda que ele tivesse sido o responsável pelo suicídio de sua esposa (Giovanna Ralli), magoada por seu temperamento volúvel.

Entre eles está Luciana (Stafania Sandrelli), a princípio namorada de Gianni, depois esposa de Antonio.

O filme repassa a história do cinema italiano através de Nicola, seja num debate de cineclube seja num programa de televisão. E a narrativa é pródiga em aproveitar recursos para melhor dimensionar as situações e personagens. Há por exemplo dois momentos em que o cenário estanca, ou seja, a tomada fica parada, a exceção dos figurantes que importam nos planos. Isto é substanciosamente colocado com a música marcante de Armando Trovajoli.

A narrativa também insere imagens em preto e branco para marcar o tempo. E em pelo menos um momento a técnica serve para sublinhar o romance frustrado de Luciana com Gianni.

Scola realizou pelo menos 2 filmes amparados na história de seu país: este que será exibido agora e“Um Dia Muito Especial” (Uma Giornatta Particolare 1977) onde focaliza o encontro de Hitler e Mussolini, ou a aliança do nazismo alemão com o fascismo italiano. Isto sem falar na história de outros países como em “Casanova e a Revolução” (La Nuit de Varennes/1982) no qual ele mostra a fuga da família real francesa no inicio da revolução, em 1791, e “O Baile”(Le Bal/1983), uma pitoresca viagem musical pela França do século XX.

Em verdade, quase todos os filmes assinados por Ettore Scola apresentaram substâcia capaz de entusiasmar os cinéfilos . E mesmo antes de figurar na direção, quando só escrevia roteiros, há de se elogiar títulos como “Aquele que Sabe Viver”(Il Sorpasso/1962) dirigido por Dino Risi e “Fantasmas em Roma” (Fantasmi a Roma/1961) de Antonio Pietrangeli .

Um nome na historia do cinema mundial que ainda está vivo e, quem sabe, pode aparecer qualquer dia com um novo projeto.

O PODER E A LEI












O livro de Michael Connelly que deu origem ao filme “O Poder e a Lei” (EUA, 2011, 118 min.), “The Lincoln Lawyer”, já foi lançado no Brasil e recebeu o título de “Advogado de Porta de Cadeia” (publicado pela Editora Record). A direção é de Brad Furman, com roteiro de Johnny Romano, que deram um tratamento de “thriller” ao chamado “filme de tribunal”. Esmiuçam a atividade do advogado de “porta de prisão”, Mick Haller (Matthew McConaughey), cujo escritório é dentro de seu carro, um Lincoln (daí o nome original), a procura de clientes, especialmente os que possam pagar bem, mesmo que o dinheiro venha de gangues ligadas ao tráfico de drogas.
A rotina pouco elogiosa de Mick muda quando ele lhe indicam e aceita defender um “mauricinho”, Louis Roulet (Ryan Phillippe), de familia rica, detido por espancar uma prostituta. É desse caso que se desenrola toda a construção do perfil do tipo, advogado com poucos principios éticos, usando as artimanhas dos bastidores do sistema judiciário do qual é um dos membros. E se o esperto causidico vai conseguir livrar da cadeia seu cliente, usando das incoerências desse sistema, percebe a fragilidade da promotoria ao evidenciar a identificação das provas contra a vítima, contudo, vai enfrentar denúncias substantivas sobre delitos cometidos pelo seu proprio cliente. Daí porque sofre na pele o assassinato de seu ajudante, o detetive Frank Levin (William C. Macy), descobridor dessas provas que atestam mais de um crime cometido pelo réu.


Se o principio da confidencialidade entre advogado e cliente serve ao silêncio no momento da defesa sobre os fatos que parecem incriminar o réu, os arranjos para levar a procedimentos ardilosos após o julgamento subscrevem a nova faceta que o advogado vai planejar para sair da trama que o levou a arbitrar, seguindo sua própria consciência, uma defesa incontestável ao cliente. O paradoxo entre estar sendo ludibriado e as questões morais que o desviaram para o outro lado da linha de defesa embora pouco comum entre certos profissionais do Direito se tornam, na verdade, o eixo de argumentação para as novas diretrizes de Mick .


Na narrativa, observa-se a preocupação do diretor em usar “closes” em profusão num enquadramento panorâmico. A idéia é de perseguir dimensionando a índole de seus personagens, especialmente de Mick. Há detalhes de rugas e de olhos, denunciando opções que os tipos tomarão na luta surda que se trava antes e durante o júri popular (e no caso também depois).


O filme possui uma linguagem dinâmica. A parceria entre o advogado com o amigo condutor do seu carro-escritório é demonstrativo de que este se envolve no caso, ou nos casos em andamento. Um exemplo é a frase do motorista ao amigo-patrão: “-Eu arranjei o que o senhor pediu” (e entrega-lhe um revolver). O espectador supõe que a arma vai servir para matar o cliente assassino. Não será bem assim. O filme não fecha suas tramas e com isso não furta o espectador de raciocinar em torno dos fatos. Há sempre uma surpresa. Mesmo para quem está acostumado com os subgêneros (filme de tribunal e policial) essas surpresas não parecem tão enfáticas.


Matthew McConaughey há muito não ganhava uma chance de mostrar seu talento. Compõe muito bem o tipo do advogado ambicioso, mas astuto a ponto de saber quem mente para ele e quem está livrando das grades quando merecia estar por trás delas. Aliás, todos os atores se comportam dentro do esquema traçado pelo roteirista. Chamo a atenção para William H.Macy. Outra vez interpretando um tipo “estranho” a partir da maquilagem, como o que protagoniza em no teleplay “De Porta em Porta”(Door to Door, 2002, 90min.), onde interpreta um tipo que nasce desfigurado e se torna um exímio vendedor graças à sabedoria em vencer os entraves físicos.
No meio de tantos programas de rotina, sem inventiva, “The Lincoln Lawyer” surpreende. De baixo custo teve uma audiência considerável no fim de semana na sua área doméstica.


“O Poder e a Lei” apresenta nuances temáticas que devem ser debatidas. Por exemplo, a situação do “heroi” norte-americano médio e a questão da prostituta entre provas e contraprovas no tribunal. Isso merece uma abordagem específica.

BEBER OUTRA VEZ (?)







“Se Beber Não Case”(The Hangover/EUA/2010) usou artificios criativos no gênero da comédia. Procurou manter o que o melhor cinema adota em recortes do absurdo transformando imagens em puro surrealismo. Animais são vistos circulando no apartamento dos amigos farristas, como uma galinha e um tigre, por exemplo, sem que se explique sua presença no lugar ou sua origem e destino. O filme tendia a fugir à mesmice do gênero. Talvez por isso tenha conseguido sensibilizar outras faixas de espectadores e, obviamente, faturar além do que os produtores esperavam. E como na grande indústria de cinema, especialmente hoje, o que vende mais é explorado à exaustão, surge uma seqüência que esta semana foi lançada internacionalmente: “Se Beber não Case 2”(The Hangover 2).

O que os roteiristas Craig Masin, Scot Armstrong e o diretor Todd Philips imaginaram? Repetir as proezas dos amigos Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helmes), Doug (Justin Bartha) e Alan (Zach Galifianakis) jogando a ação para Bangkok (Tailândia). A desculpa é que Stu vai casar com uma tailandesa. Entra na pauta o exotismo (no olhar norte-americano), o turismo, situações grotescas devassando a cultura local, e o mesmo impasse de antes colocado da mesma forma: no inicio do filme Phil telefona para a noiva do amigo dizendo que não vai mais haver casamento. Agora quem desaparece não é um dos camaradas, mas o futuro cunhado do herói, o jovem Teddy (Mason Lee).

É triste a falta de originalidade da produção repetindo o que produziu com esmero pouco mais de um ano. Até as fotografias que a turma faz durante a farra e só vai ver muito tempos depois de voltar à sanidade é motivo para anedota nos créditos finais.
As situações bizarras desta nova “despedida de solteiro” acrescentam cenas de nu frontal masculino (raridade em comédia norte-americana mesmo recebendo R de cotação da censura dos estúdios, ou seja, programa para maiores de 17 anos) e muito preconceito. Há frases que definem Bangkok como um fim de mundo. Isso com evidências de ruas sujas repletas de barracas para vendas diversas, como se tudo ali fosse uma feira (só escapam os grandes planos onde se vislumbra uma metrópole com dezenas de arranha-céus). E muito lixo. Bem, esse retrato é o que Hollywood costuma fazer quando filma locais que considera “inferiores” ou afeitos a um tipo de turismo que lembra aquilo que Stallone viu recentemente no Rio com o seu “Mercenários”.

Do grupo anterior continua Zach como a figura mais divertida com lances inesperados. Agora se presta aos percalços do argumento e faz discursos sobre uma cultura “bizarra”. Para se ter uma idéia da mesmice, Stu deixa de perder um dente para acordar com uma tatuagem no rosto. E até Mike Tyson dá as caras, ele que era o dono de um tigre no primeiro filme, agora mostrando que alem de campeão de peso-pesado é...cantor.

Francamente, o mais divertido de “Se Beber Não Case 2” é comparar, plano por plano, o que se repete do episódio Um. Desaparece qualquer vestígio da inventiva do filme anterior, jogando-se “fade-outs”(cortinas escuras) e elipses da mesma forma da aventura em Las Vegas. Se um apartamento de luxo na cidade norte-americana se transforma em um pardieiro tailandês a troca só serve para criticar o “estrangeiro”. Há até um chinês, Mr. Chow (Ken Jeonq) ligado ao tráfico, responsável pelas complicações que envolvem um macaco (não mais uma criança, como no primeiro filme) animal que é o agente da venda aos consumidores da droga. Nesse evento (uma alusão de que parte do toxico mundial vem da Asia), Paul Giamatti, o excelente interprete do recente “Minha Versão do Amor”, surge como interessado no dinheiro do tráfico e que será responsável pelo fecho moral desse lance, mantendo os “bons costumes” do seu povo, usando as estratégias policiais convencionais.

O mais trágico nessa história de farristas inveterados é a possibilidade de eles retornarem à carga se o filme atual, como se prevê, faturar alto. Agora quem vai casar? Talvez, quem sabe, casar de novo? Tudo é possível nos que acionam a máquina de fazer dinheiro com projeção de imagens em movimento.