quarta-feira, 30 de junho de 2010

CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR




O novo documentário de Michael Moore tenta explicar (e criticar) a crise econômica recente que partiu dos EUA. Em tese, ele questiona o esquecimento de um programa econômico & social enunciado pelo então presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945), chamado o Segundo Projeto dos Direitos dos Americanos, ou seja, direito à moradia, ao emprego, à educação e à saúde. Vê-se a seqüência do criador da política do New Deal falando à nação (e exigindo que o discurso fosse filmado) uma semana antes de sua morte (Roosevelt não presenciou o fim da 2ª Guerra Mundial, morrendo pouco antes do armistício). Em “Capitalismo: Uma História de Amor”(Capitalism: A Love Story/EUA, 2009) Moore aborda um a um os itens esquecidos.

E inicia justamente com o que supõe como a primeira causa da crise econômica: as hipotecas feitas pelos donos de casas atraídos por facilidades bancárias que os permitiriam, dessa forma, quitar diversas dívidas. Essas hipotecas não seriam pagas por causa dos juros exorbitantes, os bancos sentiriam a evasão de dólares, o sistema começava a sentir o que lembraria o drama vivido em 1929 (o grande “crack” da bolsa, patrocinando a depressão que se manteve por alguns anos).
O documentário, como tudo o que Moore já realizou, assume a defesa de uma bandeira.

É francamente parcial, quase panfletário. Mas desta vez ele entrevista economistas, diplomatas, artistas, pessoas do povo, para endossar a sua tese. E é irônico como trata o diagnostico do problema: “a love story”. A tentação de uma vida melhor propagada pela mídia através de anúncios é causa do problema habitacional que foi acusado de ser o maior responsável pela crise. Mas nesse rumo de investigação parte-se para o desemprego crescente, o reflexo na educação e precário atendimento médico, este último um tema que Moore abordou no seu filme anterior: “Stick”(2008).

Segundo o documentário, a impressão é que os EUA da primeira década do século atual não é o país aplaudido através de tantos meios de expressão, inclusive do cinema. Seria, em tese, a constatação de que o falado “sonho americano” se transformara num pesadelo.

As denúncias chegam, por natural continuidade, ao Congresso e à Casa Branca. Outra vez surge a figura de George W. Bush, vilão do filme mais exaltado de Moore (Fahrenheit 9/11). O presidente estaria acobertando figuras corruptas que lucraram com especulações mórbidas, custando entre outras “maldades” os lares de pessoas que viveram anos em um determinado lugar. Para essa demonstração o foco é uma família de fazendeiros que tinha uma propriedade de herança e que estava sendo despejada por falta de pagamento da hipoteca. O patriarca, um aposentado que é obrigado a queimar pertences da casa porque os caminhões se recusavam a levar tudo, chega a dizer que a sua vontade era “assaltar os bancos” que o faziam sofrer tal vexame. Ele recebia de uma autoridade bancária o cheque de US$ 1.000 que certamente não valia um terço do imóvel.

Uma congressista é focalizada opondo-se firmemente às expulsões de moradores, incitando-os a resistir. Também membros de igreja católica colocam-se a favor dessas pessoas. Alguns resistem, mas a onda ganha corpo como um tsunami e quando afeta o sistema bancário o que se vê é como um tiro no pé de muitos capitalistas. São muitos, mas em menor número do que os que enriqueceram com isso, como em todas as crises.

Moore assinala com uma faixa amarela, do tipo que se coloca em torno das cenas de crimes nos seriados, algumas instituições emblemáticas como a Bolsa de Valores de Nova York. E brada contra o “templo do capitalismo”.

Algumas entrevistas explicam com detalhes como a crise de 2008 atingiu os EUA e migrou para diversas nações. É um relato didático para quem não entendeu o problema econômico recente. E o filme, de alguma forma, saúda a eleição de Obama, embora mostre como o sistema capitalista aplicou dinheiro na campanha democrata e não arrisca dizer que há um “happy end”.

“Capitalismo: Uma História de Amor” não foi programado para os cinemas brasileiros visto que a distribuidora achou-o desinteressante para o nosso público, Não é bem assim, diga-se. Circula em DVD. É bom assisti-lo.

terça-feira, 29 de junho de 2010

DIRIGINDO NO ESCURO






Segundo filme de Woody Allen a tratar de cinema (o primeiro foi “A Rosa Púrpura do Cairo”) “Hollywood Ending”ou “Dirigindo no Escuro” (EUA, 2002) será exibido logo mais no CC Pedro Veriano. O filme trata de um diretor preterido pela maioria dos grandes estúdios devido ao fracasso financeiro de seus últimos trabalhos, e que é contratado para realizar um filme de grande orçamento, por intercessão de sua ex-mulher diante do produtor, o atual marido. Aborrecido porque ele acha que o contratante é o homem que lhe roubou a esposa, o cineasta aceita a tarefa, mas em dado momento do trabalho fica inexplicavelmente cego. É obvio que se trata de um problema de estresse, mas o que interessa é o resultado disso: mesmo sem a visão das coisas continua no trabalho de direção do filme e encerra-o no tempo previsto. O resultado, como seria de esperar, é constrangedor. Mas se isso representa um fracasso industrial e comercial em termos de EUA acaba sendo louvado pela critica francesa que o qualifica como obra-prima.
O roteiro e argumento do próprio Allen ganham dois endereços certos: o sistema de produção cinematográfico norte-americano e a critica internacional, especialmente a da França (afinal onde Woody Allen sempre recebeu loas dos franceses).
Pode-se achar uma realização apressada e pobre em relação a outros trabalhos do autor (e Allen é dos poucos diretores de cinema, em Hollywood, a merecer este adjetivo). Mas é inegável que no processo lúdico de divertir na crítica tecida, o filme diz bem o que quer.
Sabe-se que os norte-americanos, de um modo geral, não são muito entusiastas da obra de Woody Allen. Seus trabalhos só são produzidos devido a, entre outros fatores, ter um baixo custo. Mesmo assim, recentemente uma de suas produtoras deixou o cargo. Havia um rombo nas finanças por conta dos seguidos insucessos no mercado interno. Isso não incomodou Allen, que passou a filmar na Europa (Inglaterra, Espanha) com sucesso. E pode ser que “Dirigindo no Escuro” já fosse uma resposta aos que não confiavam no que ele fazia.
Sempre inteligente, o cineasta usa diálogos mordazes, chegando a citar nomes, como aprovando quando sabe que um dos roteiros que lhe era destinado foi dado a Peter Bogdanovich (“Ótimo, gosto muito dele”). Há momentos de impacto cômico como o close do produtor (Treat Williams) constatando a confusão que ficou a narrativa desconexa do filme que ele está financiando. Mas quem leva a maior parte das palmas é Allen interpretando a si próprio (ou o diretor contratado) nos momentos de tensão por desconhecer o que está filmando.
“Dirigindo no Escuro” está programado como parte da série “Cinema Sobre Cinema” que a ACCPA programa para o Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem). A exibição deve ocorrer hoje as 18h, mas é bom o leitor consultar os programadores.

A HORA DO VAMPIRO

Somente no dia 30 acontece a estréia internacional de “Eclipse” (Twilight Saga: Eclipse/EUA,2010) o filme com base na tetralogia escrita por Stephenie Meyer cuja pré-estréia deu-se a semana passada em LA. Os/as fãs do personagem interpretado por Robert Pattinson estão atentos. Quero aproveitar a oportunidade para citar um filme com esse ator que assisti nestes dias no cinema doméstico, embora tenha sido exibido no cinema comercial: “Lembranças”(Remember Me/EUA,2010). Foi surpreendente. Pattison protagoniza Tyler Hawkins, um jovem com a aparência física e psíquica do falecido James Dean. Revoltado com procedimentos do pai que vive para a sua empresa, separado da mãe e causa o suicídio do irmão, luta para ser reconhecido, assim como assistindo a irmã menor. Conhecendo Ally (Emilie de Ravin), filha de um policial (Chris Cooper)que um dia o prendeu agressivamente numa briga de rua, seduz a garota para vingar-se. Ela, por sua vez, guarda o trauma do assassinato da mãe, ao seu lado quando criança. E é superprotegida pelo pai. Os conflitos familiares crescem com a narrativa bem trabalhada por Allen Coulter. O final é um choque. E o filme consegue driblar estereótipos e dizer sobre um tema delicado. Vale conhecer, agora, em DVD.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

ESPORTE, CINEMA E DVD






“Invictus”(EUA/2009) chega em tempo hábil já que o assunto atual é a Copa do Mundo e a África do Sul onde acontece o campeonato mundial de futebol. O filme repassa o relacionamento político que envolveu o campeonato de rúgbi, ocorrido na África do Sul em 1995. O presidente Nelson Mandela procurou se aproximar do time sul-africano com muitos jogadores brancos e o fato causou surpresa e descontentamento entre pessoas ligadas ao governo. Mas a estratégia de Mandela foi pousada na situação econômica e de segregação racial do país, no quanto seria preciso a ajuda interna e a necessidade do capital externo, especialmente do antigo colonizador. Neste caso, quebrar as linhas que exploravam o “appartheid” foi uma dimensão política agressiva preestabelecida pelo próprio presidente que foi ao estádio no dia da estréia da seleção de seu país para cumprimentar um a um os jogadores, a maioria de etnia branca.
O filme dirigido por Clint Eastwood é bem especifico na exposição do fato histórico e ganha mais representatividade quando se vê Morgan Freeman como Mandela, uma aparência física impressionante.
Mais um bom trabalho do veterano cineasta, hoje com 80 anos, filme que esteve durante pouco tempo nas salas comerciais da cidade embora tenha sido candidato ao Oscar. É o DVD mais prestigiado dentre os lançamentos nas locadoras.
Neste momento de Copa do Mundo que faz da República da África do Sul o seu grande cenário, vê-se um Mandela abatido pela morte da bisneta, mas o povo todo nas ruas saudando o esporte mundial e o seu próprio.

Dois outros candidatos ao Oscar podem ser encontrados entre os lançamentos em DVD: “Preciosa” e “Educação”. O primeiro é impressionante pelo tema, pelos intérpretes, pela direção de arte, pela direção em geral. Trata do drama de uma adolescente negra, obesa, violentada pelo próprio pai, mãe de uma criança deficiente e grávida de outra. A mãe prima pelo tratamento violento que dá à filha, e esta procura ter um mínimo de independência trabalhando e estudando, nada disso sem encontrar dificuldades. O caso ganha apoio de uma assistente social, mas não resolve de todo o problema de Precious (como é conhecida a adolescente). Ela precisa assumir suas denúncias mostrando-se consciente do estado de coisas que a submete.
O filme foi candidato a melhor filme, atriz principal e atriz coadjuvante entre as principais indicações. Ganhou o Oscar de atriz coadjuvante: Mo’nique (a mãe da principal personagem).

“Educação”(Na Eucation/Inglaterra,2009) foi candidato aos Oscar de filme, atriz e roteiro. Ganhou o BAFTA, prêmio maior na Inglaterra. Focaliza uma jovem residente no subúrbio de Londres a quem o pai devota o imenso desejo de vê-la cursando a Universidade de Oxford. Namorada de um adolescente, Graham, a jovem o substitui em seu afeto pelo maduro David, homem com o dobro de sua idade desejoso de transformá-la numa intelectual. Essa hesitação romântica vai modular o futuro da moça e fascinar os pais dela.
A atriz Carey Mulligan, com 17 anos quando incorporou o papel da jovem no filme é uma das razões do sucesso do trabalho do diretor Lone Scherfig. Um enfoque muito interessante sobre a educação familiar e as seduções que ocorrem paralelas.

Além desses “oscarizáveis” há outras boas opções em DVD como os filmes do diretor argentino-brasileiro Hector Babenco, destacando-se “Brincando nos Campos do Senhor”, produção internacional de Saul Zaents, o mesmo de “Amadeus”. O filme teve locações em nosso estado com muitos extras contratados em Belém. Do grupo de filmes de Babenco, especial atenção para “Pixote, A Lei do Mais Fraco”( Brasil, 1981), há muito reclamado pelos cinéfilos por não ter sido editado em DVD. Um sucesso internacional com uma história dramática seguindo o então pequeno ator Fernando Ramos da Silva, em seguida guinado à marginalidade e morto em 1987, chegando a inspirar outro filme sobre o personagem: “Quem Matou Pixote ?”

Também está chegando ás locadoras “Reds” (1981), de Warren Beatty, biografia do jornalista norte-americano John Reed, famoso por ter feito a cobertura da revolução russa em 1917. Beatty interpretou e dirigiu o trabalho que nas telas tem a duração aproximada de 3 horas.


DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)
1. O Lobisomem
2. Preciosa
3. Invictus
4. Vidas que Se Cruzam
5. Percy Jackson e o Ladrão de Raios
6. Idas e Vindas do Amor
7. Quando em Roma
8. Educação
9. O Fantástico Sr. Raposo
10. Sedução

sexta-feira, 25 de junho de 2010

LANÇAMENTOS DA SEMANA: “ECLIPSE" E "KIKKI"
























Estréia (mundialmente) “Eclipse”(EUA/2010), o terceiro livro da série “Crepúsculo” escrito pela norte-americana de Connecticut, Stephenie Meyer. O filme é dirigido por David Slade com roteiro de Melissa Rosemberg e da escritora do romance original. Estréia também o filme brasileiro “Em Teu Nome”(Brasil/2010) do gaúcho Paulo Nascimento.

Na área especial ou extra, acontece a mostra de premiados do 2º Encontro do Júri Popular, festival realizado em fevereiro deste ano em diversos estados, um programa do Cine Libero Luxardo (até amanhã). No Cine Olympia, prossegue o filme franco-canadense “Kashma”. Faz os horários normais (18h30) de 3ª a domingo. Na Sessão Cinemateca, domingo às 16 h, estará a animação japonesa “O Serviço de Entrega de Kikki” (foto), de Hayao Miyazaki.

Dentre as continuações, no circuito comercial, especial destaque para “Toy Story3”, mais um excelente filme com o selo PIXAR.

“Eclipse”(The Twilight Saga: Eclipse/EUA, 2010) é o terceiro filme dos quatro livros de Stephenie Meyer sobre romance de uma jovem estudante com um colega vampiro. O sucesso desses livros só teve um precedente: o que a inglesa J.K. Rowlins conseguiu com Harry Potter. Personagens e situações, apoiados na fantasia secular, caíram nas graças da juventude e se os jovens adotaram o bruxinho Potter como um de seus heróis mais queridos, voltaram-se também, especialmente as garotas, para os dois namorados de Bella Swan (Kristen Stewart):o vampiro Edward (Robert Pattinson) e o lobisomem Jacob (Taylor Lautner).

O último livro de Stephenie Meyer já está sendo filmado para ser apresentado nos dois próximos anos dividido tal como a empresa cinematográfica Warner fez com o fecho de Harry Potter. Neste exemplar que se pode ver a partir de hoje em cópias legendadas ou dubladas, parte-se das últimas semanas de Bella como estudante do ginásio de Forks. Seus problemas são complexos: marcar a data de seu casamento com Edward, o namorado-vampiro, haja vista que está decidida a se tornar vampira, mas é obrigada a definir como se livrará da paixão que lhe devota o amigo lobisomem. Para completar seu problema, a família do futuro noivo está ameaçada por um exército de vampiros sob o comando de Vitória (Bryce Dallas Howard), sedenta de vingança pela morte de seu parceiro, no primeiro episódio da série.

A saga vampiresca está tomando conta das leituras e conversas dos/as adolescentes. O tom do tema fortalece o lado romântico que essa geração tem acumulado, despojando o emblemático ficcional da relação entre vampiros e pessoas humanas e torcendo pela união dos namorados mesmo a custa da submissão de Bella a Edward. Esse fato é considerado uma prova de amor que para a moçada se torna uma questão de honra num romance.
A distribuidora aposta no sucesso de mais esse episódio da série e os ingressos estão sendo vendidos desde a semana passada.

O outro filme em lançamento é “Em Teu Nome” que trata da resistência à ditadura militar pós-1964. O personagem da história é um estudante de engenharia de nome Boni (Leonardo Machado) que se propõe a entrar para o grupo da luta armada. A crítica do sudeste que já assistiu ao filme achou que o roteiro não fugiu dos estereótipos já gastos pelo uso em tantos exemplares sobre o assunto. O diretor Paulo Nascimento já realizou “Diário de um Novo Mundo” (2005) e “Valsa Para Bruno Stein” (2007). É um dos valores da geração que surgiu na Casa de Cinema de Porto Alegre. No elenco do filme estão: Fernanda Moro, Nelson Diniz, Silvia Buarque. Estréia hoje em uma sala Moviecom Castanhera.

“O Serviço de Entrega de Kikki” (Majo no Takkyûbin/Japão, 1989) é mais uma obra-prima do mestre da animação oriental Hayao Miyazaki (de “Meu Amigo Totoro”, “As Viagens de Chihiro”,”O Castelo Encantado”). Aqui ele focaliza uma bruxinha do interior que os pais mandam estudar na cidade grande (lembrando Harry Potter). Kikki, a garota, emprega-se numa lavanderia para sustentar-se e vive aventuras com novos amigos. Um programa para todas as idades inédito nos cinemas brasileiros. A cópia foi uma cortesia de Ana Carolina Álvares Branco, 18 anos, que centra sua atenção nos trabalhos de Miyazaki (filmes e mangá) e do grupo dele no Studio Ghibli e na Nausicaa.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

EDUCAÇÃO





















Em “Amor na Tarde”(Love in the Afternoon/EUA,1957) Billy Wilder mostrou um romance aparentemente inconvincente entre uma garota (Audrey Hepburn) e um cinqüentão (Gary Cooper). Diz-se assim porque ela, apesar de ser a esperta filha de um investigador (Maurice Chevalier), está longe de ter a experiência do norte-americano conquistador, um milionário que arranja “matéria” para seu “currículo”em Paris.

No filme do consagrado diretor de “Quanto Mais Quente, Melhor”, o encontro de tipos antagônicos dá certo. Mas não dá certo, por exemplo, em “Crepúsculo de uma Paixão” (Middle of the Night/EUA,1959) onde Frederic March, em avançada idade, se apaixona perdidamente por uma ninfeta (Kim Novak). Exemplos que relativizam o relacionamento de pessoas com idades muito diferentes uma da outra.

Um enfoque mais ou menos nesse estilo volta à tela em “Educação”(An Education/Ingl./ 2009) ora em cartaz nos cinemas da cidade. O cenário é a Londres dos anos sessenta, numa família de classe média baixa cuja filha foi matriculada em um curso altamente qualificado, objetivando a sua preparação para o ingresso na Universidade de Oxford.

Jenny (Carey Mulligan) é a garota cujos pais instigam para que o grande fator cultural e social aspirado por eles seja também o da jovem. E ela satisfaz essa expectativa, sendo uma aluna exemplar e eficiente. Além da base escolar, a jovem aprende violoncelo, tem flerte com um rapaz de sua idade, mas se impressiona vivamente quando atende à carona de um homem bem mais velho, David (Peter Sasgaard), auxiliando-a a transportar o objeto musical de estudo. Para a adolescente (e se pode colocar Jenny ainda nessa faixa), o bem apessoado e erudito desconhecido é a chave para um mundo novo, o ingresso na cultura francesa que era moda no tempo e espaço da ação. Com David, a meiga Jenny vai a concertos, a reuniões elegantes, a passeios que jamais faria com pessoas de sua idade e classe social, enfim, vive uma vida que podia ter sonhado, mas sem desprezar do consciente a distancia prática do sonho.

Ao espectador é oferecido o dilema da mocinha. E o enigma de David. Ele seria um (bom) futuro marido? As suas intenções seriam as que aceitaria o vigilante pai da jovem (Alfred Molina), considerando que o projeto que este tem para a filha é da ascensão acadêmica que a levaria ao escopo social.

O filme tem o roteiro baseado em “An Education”, uma autobiografia escrita pela jornalista inglesa Lynn Barber, com roteiro de Nick Horby. Preso a essa origem, ele não dá muita chance para a diretora dinamarquesa Lone Scherfig (adepta do estilo Dogma 95 criado pelo conterrâneo dela Lars Von Triers) voar muito alto. Para muitos pode parecer uma “comédia romântica tradicionalista”, ou “moralista”. Mas além do fato de locar a história num tempo anterior aos Beatles, a Woodstock, e a liberdade sexual, situa muito bem a cultura da personagem, o quanto a família pesa no comportamento dos filhos/as, os limites de uma aventura capaz de gerar desconfiança.

Tudo funciona numa linguagem acadêmica. “Educação” (ou, como bem diz o titulo original “Uma Educação”) tende a ser visto como um exemplar produzido no ano em que se passa o enredo. Seria até considerado inovador se fosse projetado no mesmo tempo do citado filme de Billy Wilder (houve quem achasse muito ousado “Amor na Tarde”). Isso é mérito. Candidato ao Oscar de melhor roteiro, atriz e filme, saiu do páreo sem prêmios, mas foi um raro candidato inglês este ano, período em que se valorizou o norte-americano na demonstração esfuziante de bravura na Guerra do Iraque (“Guerra ao Terror”) ou a critica ao belicismo na exposição de nova tecnologia, ou seja, “Avatar”.

É um programa muito bom. Nada de superlativos, pois a condição geográfica, onde se engloba o fator tempo, não impediria uma densidade maior na exploração do sonho juvenil ou na interrogação de um oportunismo como William Wyler aplicou no desempenho de Montgomery Clift e Olívia de Havilland no clássico “Tarde Demais” (The Heiress/EUA/1949). Mas é uma boa exceção nesta fase de blockbusters.

Cotação: Muito Bom (****)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

OPINIÃO ALHEIA: A Copa do Mundo e o Cinema






Recebi de Amilcar Carneiro (Castanhal/PA) e publico:

“A maioria dos habitantes do planeta vive ligada na Copa do Mundo de Futebol, competição criada por Jules Rimet, no ano de 1930. O Uruguai, primeiro país sede, sagrou-se campeão. A “Celeste Olímpica” confirmava seu favoritismo desbancando os europeus e fazendo a final com a Argentina. Naquele tempo, o cinema, inventado pelos irmãos Lumiére já tinha conquistado o mundo, mas a televisão não passava de um embrião nas experiências do russo Vladimir Zworykin. Os jogos aconteciam e tempos depois chegavam as imagens nas telas dos cinemas por meio dos cines jornais. Em 1934 na Itália e 1938 na França, a “Esquadra Azurra” conquistou os dois títulos mostrando seu poderio. Em 1942 e 1946 foi imposta uma trégua ao futebol enquanto o mundo fazia sua segunda grande guerra. A competição só voltaria a ser disputada em 1950, no Brasil, copa que os brasileiros gostariam de esquecer, mas as câmeras estavam lá para registrar a grande tragédia do nosso futebol – Uruguai 2x1 Brasil, em pleno Maracanã. Em 1954, na Suíça, a tragédia foi para a Hungria, do lendário Puskas, que perdeu a final para a Alemanha Ocidental.

Na primeira copa vencida pelo Brasil, em 1958, na Suécia, já havia uma estreita relação entre o Cine Argus e o futebol, pois era comum em dias de grandes jogos, os mais aficionados ficarem em frente ao cinema escutando o rádio que retransmitia através dos alto-falantes, os 90 minutos de partida. Naquele domingo, 29 de junho de 1958, o Argus exibia, em sessão matinal, o filme “O Bandoleiro da Cova do Lobo”, e ao mesmo tempo retransmitia o jogo final entre Brasil e Suécia. De dentro do cinema ouvia-se o foguetório, os mais fanáticos festejando os 5 x 2 que o Brasil aplicou na anfitriã revelando ao mundo o talento de Garrincha e Pelé entre outros. Meses depois, chegariam as imagens, três ou quatro minutos dos melhores momentos de cada jogo, mostrados semanalmente nos dois principais jornais da tela: Fox e Atlântida. Qualquer que fosse o filme, as atenções se voltavam para o assunto do cine jornal, futebol.

Em 1962, no Chile, o Brasil foi bi campeão e as imagens chegaram em um filme exclusivo produzido pelos chilenos, em preto e branco, mostrando todos os gols da copa e os melhores momentos da final em que o Brasil derrotou a Tchecoslováquia por 3 x 1. O filme foi um sucesso, a platéia aplaudia e comentava como se fosse ao vivo. Em 1966, na Inglaterra, foi produzido um longa metragem a cores, “Gol, A Copa do Mundo”. Mesmo com o Brasil desclassificado na 1ª fase, valia a pena ver as belas imagens coloridas que a TV ainda não podia mostrar. Em 1970, ano do tri campeonato e última copa de Pelé, alguns estados do sul já assistiram ao vivo a competição do México, enquanto que por aqui só assistíamos ao vídeo tape no final da noite ou no outro dia. Mesmo assim, o filme produzido pelos mexicanos fez grande sucesso quando foi exibido no Cine Argus. As imagens a cores e em câmara lenta em diferentes ângulos arrancavam aplausos da platéia. Na copa seguinte, na Alemanha, as transmissões diretas e a TV a cores davam os primeiros sinais de concorrência ao cinema. Em dias de jogos do Brasil o Argus ficava vazio, às vezes nem tinha projeção, também não houve mais interesse em exibir o filme da copa.

Em 1978 na Argentina, 82, na Espanha, 86, no México e 90, na Itália, era evidente o domínio da televisão, os cine-jornais já nem eram produzidos, os filmes das copas eram vendidos ou locados livremente em VHS ou DVD. Em 1994, quando o Brasil conquistou o tetracampeonato no EUA, quase todos os cinemas do interior já tinham fechado as portas, o Argus agonizava, fecharia no ano seguinte sem testemunhar o fiasco de 1998, na França, nem o sonhado “penta”, conquistado em solo asiático no ano de 2002, primeira copa disputada simultaneamente em dois países, Japão e Coréia.

Na copa de 2006, de novo em solo alemão, a Itália ganhou seu quarto título, a televisão mostrou em todos os ângulos possíveis a cabeçada mais famosa da história, infelizmente não foi na bola, mas no adversário, e manchou a brilhante carreira de Zidane, astro francês que em duas copas atrapalhou o sonho brasileiro de conquistar mais um título.

Na atual copa na África, primeira naquele continente, a televisão dá um verdadeiro show na transmissão dos jogos. Gruas, câmaras fixas, móveis e portáteis passeiam pelas quatro linhas do gramado e pelo teto dos modernos estádios levando as melhores imagens, ao vivo, para todo o planeta, coisa inimaginável até pelos visionários Jules Rimet, Wladimir Zworykin e os irmãos Louis e Auguste Lumiére.

Na próxima copa do mundo, em 2016, a ser disputada na América do Sul, no Brasil, não será de estranhar se jogadores e árbitros trouxerem embutida no uniforme, uma câmera, algo do tamanho e peso de um botão, capturando incríveis imagens de alta definição que serão mostradas em aparelhos de TV de última geração, com “tela de cinema”.

terça-feira, 22 de junho de 2010

TOY STORY 3



A indústria norte-americana segue a lógica do sistema de produção da mercadoria realizando-se nas fases operativas – produção, circulação e comercialização do produto. Embora se mantendo com as especificidades dos valores de uso e de troca com base num trabalho abstrato, o cinema não deixa de ser uma mercadoria, pois cumpre as fases dentro das normas evidenciadas pela análise do sistema capitalista. Este preâmbulo tende a justificar os meios que a indústria cinematográfica proporciona para alavancar as formas de se manter no sistema usando os artifícios que operam para o alargamento das bases da comercialização. É o caso da realização dos filmes em série, demonstrativos de um valor reconhecido e por isso retomando as qualidades de conteúdo e técnicas a disposição para ampliar sua linha de rendimento. Há, contudo, maneiras de tratar o público que assiste a essas séries e é a isso a que me refiro em Toy Story 3”(EUA, 2010).

Esse filme não é apenas uma produção oportunista como a maioria que segue títulos de sucesso. Assume o tempo que passou desde o primeiro exemplar, de 1995, e mostra o personagem Andy preparando-se para ingressar na universidade, vale dizer, dispondo-se a deixar a família para morar no campus onde passará a estudar. Em 15 anos muita coisa aconteceu, e o tempo é mais sentido na aparência das figuras humanas. Os brinquedos não estão nem mesmo estragados. E desta forma sentem o que a mãe do novo universitário planeja para desocupar o quarto do filho. As opções são alocar os bonecos no sótão da casa, dar todos de presente a uma creche, ou simplesmente jogá-los no lixo.

Para recuperar a memória: Andy é um bom menino. No primeiro filme da trilogia “Toy Story” ele se mostra o avesso do vizinho que destrói brinquedos. No quarto de Andy moram Woody, o cow-boy, e a turma em que figuram Buzz, o astronauta, o casal Cabeça de Batata, o dinossauro, o cão de mola, a vaqueira, enfim,, um grupo diversificado e divertido que abre espaço até para a Barbie (a mesma figura da conhecida boneca).
A decisão humana do destino dos objetos gera a aventura idealizada por Michael Arndt, John Lasseter, Andrew Stanton e Lee Unkrich, membros do estúdio PIXAR. A idéia parte da ação dos próprios brinquedos. Eles se unem contra a adversidade. Comandados por Woody, fogem em caminhões da ação agressiva de crianças semelhantes ao antigo vizinho de seu dono. No local onde devem ficar por equivoco, encontram um urso de pelúcia recalcado por ter sido desprezado e jogado fora quando se sentia querido e que não entende a necessidade do grupo de manter-se agregado. Sua idiossincrasia leva os brinquedos a um carro de lixo e daí em diante estes, na fuga, terão que se haver com artefatos de limpeza como britadores e incineradores, e ainda encontram forças para voltar ao cenário antigo aguardando o que pensa o ex-menino, sobre suas velhas atrações.

Os autores do filme mantiveram a caracterização na amostragem de tipos como a figura de Ken, o namorado da Barbie que demonstra suas qualidades na sedução à bela boneca. Mas também nas situações geradoras de suspense (são muitas e eficientemente montadas para despertar a ansiedade da platéia) e no elo poético que evoca a infância e as lembranças que deixa nas pessoas.

Neste novo exemplar estão certas posturas que engrandecem o argumento original. Por exemplo, o papel do urso de pelúcia líder dos brinquedos na creche. Ele é o vilão que poderia se redimir quando foi salvo de uma armadilha no lixeiro por Woody, mas não retribui o favor do cowboy fugindo da oportunidade de desligar o incinerador na hora em que os brinquedos se aproximam da cremação de lixo. Nem por isso ele ganha perseguição e vingança. Woody diz: “-Deixa pra lá”. E cada um segue a sua missão de salvar a própria pele, digo, madeira e plástico.

Também é mostrada a linha do afeto infantil aos brinquedos quando estes são levados à casa da nova dona, uma menina a quem Andy entrega seus queridos objetos identificando para ela as qualidades de cada um. E finalmente se rende à inexorabilidade do tempo deixando um final racional, mas comovente: Andy rapaz segue dirigindo o seu carro e os velhos amigos ficam acenando-lhe (quando há um hiato para que brinquedos ganhem vida autônoma). Certamente ali se encerra um ciclo. E a trilogia acaba de forma brilhante.

Um filme excelente que faz jus ao que a PIXAR vem produzindo,justificando a sua posição depois de outras produções como “Ratatouille”, “Wall E” e “Up”.

Cotação: Excelente (*****)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

ESPORTE, CINEMA E DVD



“Invictus”(EUA/2009) chega em tempo hábil já que o assunto atual é a Copa do Mundo e a África do Sul onde acontece o campeonato mundial de futebol. O filme repassa o relacionamento político que envolveu o campeonato de rúgbi, ocorrido na África do Sul em 1995. O presidente Nelson Mandela procurou se aproximar do time sul-africano com muitos jogadores brancos e o fato causou surpresa e descontentamento entre pessoas ligadas ao governo. Mas a estratégia de Mandela foi pousada na situação econômica e de segregação racial do país, no quanto seria preciso a ajuda interna e a necessidade do capital externo, especialmente do antigo colonizador. Neste caso, quebrar as linhas que exploravam o “appartheid” foi uma dimensão política agressiva preestabelecida pelo próprio presidente que foi ao estádio no dia da estréia da seleção de seu país para cumprimentar um a um os jogadores, a maioria de etnia branca.
O filme dirigido por Clint Eastwood é bem especifico na exposição do fato histórico e ganha mais representatividade quando se vê Morgan Freeman como Mandela, uma aparência física impressionante.
Mais um bom trabalho do veterano cineasta, hoje com 80 anos, filme que esteve durante pouco tempo nas salas comerciais da cidade embora tenha sido candidato ao Oscar. É o DVD mais prestigiado dentre os lançamentos nas locadoras.
Neste momento de Copa do Mundo que faz da República da África do Sul o seu grande cenário, vê-se um Mandela abatido pela morte da bisneta, mas o povo todo nas ruas saudando o esporte mundial e o seu próprio.
Dois outros candidatos ao Oscar podem ser encontrados entre os lançamentos em DVD: “Preciosa” e “Educação”. O primeiro é impressionante pelo tema, pelos intérpretes, pela direção de arte, pela direção em geral. Trata do drama de uma adolescente negra, obesa, violentada pelo próprio pai, mãe de uma criança deficiente e grávida de outra. A mãe prima pelo tratamento violento que dá à filha, e esta procura ter um mínimo de independência trabalhando e estudando, nada disso sem encontrar dificuldades. O caso ganha apoio de uma assistente social, mas não resolve de todo o problema de Precious (como é conhecida a adolescente). Ela precisa assumir suas denúncias mostrando-se consciente do estado de coisas que a submete.
O filme foi candidato a melhor filme, atriz principal e atriz coadjuvante entre as principais indicações. Ganhou o Oscar de atriz coadjuvante: Mo’nique (a mãe da principal personagem).
“Educação”(Na Eucation/Inglaterra,2009) foi candidato aos Oscar de filme, atriz e roteiro. Ganhou o BAFTA, prêmio maior na Inglaterra. Focaliza uma jovem residente no subúrbio de Londres a quem o pai devota o imenso desejo de vê-la cursando a Universidade de Oxford. Namorada de um adolescente, Graham, a jovem o substitui em seu afeto pelo maduro David, homem com o dobro de sua idade desejoso de transformá-la numa intelectual. Essa hesitação romântica vai modular o futuro da moça e fascinar os pais dela.
A atriz Carey Mulligan, com 17 anos quando incorporou o papel da jovem no filme é uma das razões do sucesso do trabalho do diretor Lone Scherfig. Um enfoque muito interessante sobre a educação familiar e as seduções que ocorrem paralelas.
Além desses “oscarizáveis” há outras boas opções em DVD como os filmes do diretor argentino-brasileiro Hector Babenco, destacando-se “Brincando nos Campos do Senhor”, produção internacional de Saul Zaents, o mesmo de “Amadeus”. O filme teve locações em nosso estado com muitos extras contratados em Belém. Do grupo de filmes de Babenco, especial atenção para “Pixote, A Lei do Mais Fraco”( Brasil, 1981), há muito reclamado pelos cinéfilos por não ter sido editado em DVD. Um sucesso internacional com uma história dramática seguindo o então pequeno ator Fernando Ramos da Silva, em seguida guinado à marginalidade e morto em 1987, chegando a inspirar outro filme sobre o personagem: “Quem Matou Pixote ?”
Também está chegando ás locadoras “Reds” (1981), de Warren Beatty, biografia do jornalista norte-americano John Reed, famoso por ter feito a cobertura da revolução russa em 1917. Beatty interpretou e dirigiu o trabalho que nas telas tem a duração aproximada de 3 horas.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)
1. Preciosa
2. Invictus
3. Percy Jackson e o Ladrão de Raios
4. Educação
5. Idas e Vindas do Amor
6. Quando em Roma
7. Amor sem Escalas
8. O Amor Pede Passagem
9. Sedução
10. O Fantástico Senhor Raposo

domingo, 20 de junho de 2010

PLANO B




Sabe-se que os melhores faturamentos dos produtores norte-americanos atualmente ficam entre os “blockbusters” com os efeitos especiais sendo as grandes estrelas (e agora ajudados na projeção com o recurso da 3D) e as comédias românticas. É dessa última opção o atual “Plano B” (The Back-Up Plan/EUA/2010) que a atriz e cantora Jennifer Lopez interpretou e atuou sem deixar crédito na produção, filme dirigido pelo TV-Man Alan Poul, produtor e nome ligado a shows com várias indicações para o premio Emmy.

O roteiro de Kate Ângelo (com o cine-currículo acusando somente os trabalhos na TV) trata de Zoe (Lopez), mulher independente que apesar de muitos casos românticos resolve ter um filho através de inseminação artificial, entrando no esquema da “produção independente”. Ao sair do consultório médico onde comprara e injetara sêmen congelado de um anônimo, encontra Stan (Alex O’Loughlin), um rapaz dono de uma barraca que vende queijos em feira livre, herdeiro de uma fazenda aonde cria cabras e de onde tira a matéria prima do produto que vende. O encontro se dá quando ela pede um táxi, em dia chuvoso, e ao entrar no carro surpreende-se com a presença ao mesmo tempo do então desconhecido. Este fato dá margem a outros onde a coincidência às vezes é forçada pela vontade dele objetivando conhecê-la. O relacionamento ganha intimidade, mas Zoe é eticamente forçada a confessar que fez inseminação e está grávida. Stan, por sua vez, não é muito amigo de crianças. Não pretende ser pai. E daí começa uma situação conflituosa entre o casal enquanto dois nenês aguardam nascer, segundo exames feitos pela mãe.

Jennifer Lopez estava de fora do elenco de filmes desde 2006 (exceto em programas de televisão). Muito prestigiada na área musical, seu desempenho entre outros campos da arte deu-lhe 13 prêmios entre cinema, TV e música popular, além de 29 candidaturas (onde se acham algumas “framboezas”, ou seja, os títulos de pior intérprete. A sua volta ao cinema deu-se após o nascimento de gêmeos, fruto de seu 3º casamento (com o ator-cantor Marc Anthony). Certamente o argumento do filme a impressionou por deixar-lhe um gosto de biografia. E ela apresenta bom desempenho como a futura mãe que acaba arranjando, sem planejar (daí o titulo original do filme) um pai para os seus primogênitos. Da mesma forma, seu par romântico Alex O’Loughlin dá conta do tipo que encarna. Isso é muito num enredo que mais parece uma anedota e numa narrativa sem brilho, com o roteiro preocupando-se apenas com as briguinhas de um casal que se experimenta numa vida a dois. Mas sem tentar conhecer a fundo as suas personas.

Claro que o filme tem o objetivo de ser leve, digestivo, dedicado a quem aplaude o gênero. Pessoalmente não achei que ele desmerecesse essa ótica. É o que quis ser. E quem vai ao cinema para ver as situações arranjadas pela mãe independente que se despede do cetro, deve dar as suas risadas. Há bons momentos cômicos, por exemplo, no enfoque sobre uma Associação para apoio de Mães Solteiras que Zoe freqüenta. A sequencia em que uma das “associadas” está parindo o seu bebê em condições naturais, acocorada numa banheira d’água sendo acompanhada pelas colegas (inclusive de Zoe) é, de fato, hilária. Ainda mais que Stan resolve estar presente e esse episódio, aumentando mais o seu “terror” em ser pai.

Jennifer Lopez está na casa dos 61 anos e mantêm uma postura jovem invejável. Não tenho informação sobre sua performance no ramo da música, mas possui, atualmente 3 filmes em preparação para lançamento. De mãe latina, nasceu, contudo, no Brooklin (NY) e o pai é norte-americano. Possivelmente vai aproveitar a alta estima do tipo de comédia a que se filia este “Plano B”.
Um toque desse filme, ressalvado as devidas proporções, é sobre a situação atual dos direitos reprodutivos, um tema que circula no meio científico e sobre a saúde das mulheres e que sugere outro formato de família. Tema para debate, sem dúvida.

Cotação: (**) Razoável.

terça-feira, 15 de junho de 2010

DUAS SENHORAS




São muitos os filmes franceses dos últimos anos que tratam de imigrantes árabes. “Duas Senhoras”(Dans la Vie, França, 2007, 73 min.) é um deles. Dirigido e roteirizado pelo marroquino Philippe Faucon, trata de Esther (Ariane Jacquot), uma idosa judia impossibilitada de se locomover, percorrendo o apartamento numa cadeira de rodas, convivendo com o único filho, um médico, e precisando dos cuidados de duas enfermeiras, uma durante o dia, outra à noite. O enfoque se inicia quando Sélima (Sabrina Ben Abdallah) uma jovem palestina é contratada para o serviço de enfermagem noturno. Logo em seguida sabe-se que a enfermeira do dia pede demissão. Sélima acha que sua mãe, Halima (Zohra Mouffok), pode substituir. Os encargos domésticos desta e as regras do casamento impõem compromissos com o marido, um mulçumano rígido que não admite a transferência da esposa a uma casa onde, além da perspectiva do trabalho pago ainda se depara com a diversidade religiosa das famílias. As estratégias de Halima, entretanto, conseguem vitórias, conduzindo-a ao lar da enferma, procurando adequar-se às novas regras domésticas e à dieta alimentar de Esther. O novo trato por alguém que cuida carinhosamente e não na rispidez profissional aproxima as duas mulheres e torna mais prazerosa a vida da paciente. A ponto de esta exigir que o filho Elie (Philippe Faucon), necessitando ausentar-se da cidade, deixe-a na companhia da família palestina.

A temática aposta na coexistência pacifica e a própria Esther chega a lembrar com saudade o tempo em que judeus e muçulmanos viviam bem na faixa de Gaza. A narrativa aproxima o drama ficcional do documentário. Pode-se enquadrar o filme naquela estética do “cinema verité” propagado por Jean Rouch nos anos 1970. A câmera é sempre manual, os cortes são bruscos, o enquadramento é simples e as seqüências são curtas, limitando-se ao necessário. O desempenho de todo o elenco prima pela naturalidade deixando a impressão de que não se trata de atores profissionais e sim de pessoas que reproduzem suas experiências de vida.

O trabalho de Faucon procede dentro de objetivos importantes. Através da fala de um ministro islâmico sabe-se que não existe um empecilho religioso a ser detonado na hospedagem de uma judia na casa de uma palestina. Halima diz a ele que estaria infringindo a caridade deixando de cuidar de Esther, visto que “a religião não é um fator hereditário”.

Outro enfoque muito bem definido pelo diretor e roteirista é sobre as estratégias femininas para o alcance de alguns ganhos no cotidiano, sem conflitos. A exemplo, o modo de Halima conversar com o marido Ali ( Hocine Nini) demonstrando-lhe em que medida é importante o trabalho fora de casa e os recursos que vai auferir para realizar seu ideal de visitar Meca; depois, conseguindo que sua então amiga Esther seja hóspede da família ao negociar com o marido; e em seguida, procurando adequar os hábitos familiares aos da paciente. Esta, por sua vez, tende a mostrar ao filho as dificuldades em aceitar a paraplegia tratada por pessoas sem qualidades, e apontar como prazerosa sua convivência com a família mulçumana sem criar problemas para a viagem dele. Nessa linha de soluções, os dois eixos se cruzam - o das estratégias domésticas e da política.

A história se passa na França e não há um “set” elaborado além das casas por onde circulam as personagens. E os tipos estão muito bem colocados. Impressiona, sobremodo, o tipo de Ariane Jacquot, a obesa Esther que requer cuidados especiais e que traduz o desejo de ajuda de uma mulher de outro credo religioso, considerada, na circunstancia histórica, até como uma inimiga, que se desvela no modo como cuida de seus mínimos afazeres.

Um belo filme, pouco visto internacionalmente, por culpa de uma distribuição comercial modesta. A nós chegou graças à Embaixada da França e sua prestimosa cinemateca.

Cotação: *** (Muito Bom)

AGRADECIMENTO
Agradeço a todos/as os/as amigos/as que me felicitaram de alguma maneira pelo meu aniversário acontecido no final de semana. Quando se alcança um patamar na escada da vida, especialmente aliando o fator tempo à produtividade e aos diversos tipos de conquista, o conforto interior se une ao reconhecimento dessa escalada por parte de quem nos rodeia.Por isso é que não nos sentimos vulneráveis à passagem dos anos.
Que Deus abençoe a todos/as.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

CINEMA MUNDIAL EM DVD



























Aos interessados em fugir da dieta imposta por Hollywood, o caminho, numa cidade como Belém onde os lançamentos nos cinemas vivem das cópias que sobram do que é endereçado à outras regiões do país, é mesmo o DVD. Alguns exemplos recentes são: “Stella”(França), “Mãe” (Coréia do Sul), “Mimi, O Metalúrgico”(Itália), ”De Profundis” (Espanha/Portugal), ”Aritmética Conjugal” (Canadá), ”O Padre” (Inglaterra) e “Como Eu Festejei o Fim do Mundo”(Romênia).

“Stella”( (2008, França, 102 min.) impressiona. É o sexto filme (dois para a TV) da cineasta Sylvie Verheyde. Ela aborda o comportamento de uma menina de aproximadamente 11 anos (Léora Bárbara), vivendo com os pais em um bar na periferia de Paris, freqüentado por trabalhadores da região. Sem uma educação eficiente no lar, mesmo porque está recente no lugar vindo de outra cidade, a menina reflete um comportamento arredio numa escola famosa de classe média. Tirando más notas, elege apenas uma amiga entre as colegas: Glady (Melissa Rodrigues) que a iniciará no novo mundo. Este quadro que pinta uma transição traumática entre infância e adolescência explora com muita sensibilidade as mudanças sociais e biológicas da pré-adolescente, sem adentrar pela violência física. Um filme muito bom que bem poderia estar num dos programas especiais de salas locais. Ganhou vários prêmios: melhor roteiro no Festival de Flandres 2008, o Prêmio Fundação Christopher D. Smithers e o Prêmio Lina Mangiacapre no 65º Festival de Veneza (2008).

“Mãe, A Busca Pela Verdade (Madeo, Coréa do Sul, 2009, 128 minutos) é um filme sul-coreano de Joon-ho Bong, diretor de “Sede de Sangue”(também só chegado aqui em DVD). Se aquele filme tendia ao repulsivo pela demonstração de violência quase gratuita, este, tratando da mãe que se sacrifica por um filho ingênuo e dependente dela tem um toque emotivo e bem realizado. A protagonista resolve investigar um crime em que o seu filho apareceu como o principal suspeito de autoria. Excelente desempenho da atriz Kim Hye-Ja.

“Mimi, O Metalúrgico”(Mimi Metalurgicco Ferito Nell’Onore/Itália, 1972) foi proibido pela censura brasileira no governo militar. Supõe-se pelo engajamento do operário no Partido Comunista. Mas os censores não compreenderam que o filme criticava os comunistas italianos. Mimmi (Giancarlo Gianini) é um operário que acredita em dias melhores para a sua classe, mas sua vida vira de ponta cabeça quando sabe que a esposa o trai com um militar. Não resolve o problema como o tipo de Mastroianni em “Divorcio à Italiana”, mas prefere gritar na rua a sua condição de “cornutto”. Hilário e, ao mesmo tempo, sério tem a direção de Lina Wertmuller. Clássico acessível a qualquer publico.

“De Profundis”(Espanha/Portugal,2007, 80 min.) é uma animação para adultos. O autor, Miguelanxo Prado, é um ilustrador, autor de “graphic novel” e usa desenhos a óleo no fundo de seu trabalho que é uma exaltação ao mar, sua paixão. O enfoque privilegia uma casa em pleno oceano. Visual esplendoroso e muito mais uma contemplação estética ligada à pintura do que propriamente ao cinema (movimento).

“Aritmética Conjugal” (Emotional Arithmetic/Canadá 2009) focaliza um judeu que escapou do holocausto e, nos anos 60, reencontra a sua namorada agora casada e com um filho adulto. A reunião dessas personagens numa casa de campo reflete sobre a guerra, a passagem do tempo, a persistência de uma paixão. Christopher Plummer e Max Von Sidow dominam em papéis dramáticos. Susan Sarandon interpreta a mulher que reencontra uma pessoa querida mas procura manter o que conquistou ao longo dos anos. Realizado para a TV o filme foi 7 vezes candidato a prêmios no seu país de origem.

“Como Eu Festejei o Fim do Mundo” (Cum mi-am Petrecut Sfarsitul Lumii, França/Romênia, 2006, 106 min.) trata de um casal na Romênia do tempo da ditadura Ceasecu. Quando, acidentalmente, quebram uma estátua do ditador, a vida se complica, com o namorado tendo de sair do país e a jovem se esforçando para segui-lo. Um drama que focaliza um episódio histórico de um país cuja cinematografia é pouco vista no Brasil.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

Percy Jackson e o Ladrão de Raios
Idas e Vindas do Amor
Amor sem Escalas
O Fantástico Sr. Raposo
Sherlock Holmes
Avatar
O Amor Pede Passagem
Zumbilândia
Abismo do Medo 2
Um Homem Sério

sexta-feira, 11 de junho de 2010

ESTRÉIAS DIVERSAS NA PROGRAMAÇÃO EM BELÉM

Estréiam, neste final de semana, nos cinemas da cidade de Belém: “Plano B”, “Esquadrão Classe A” e “Cartas Para Julieta”. Na área extra, já está em cartaz, no Cine Libero Luxardo, “As Testemunhas”. Na programação da ACCPA, como parte do programa “Sessão Fantasia”, será exibido no sábado a tarde, no Cine Olympia, um filme que mescla animação com atuação presencial de atores em “A Canção do Sul”, antigo sucesso dos Estúdios Disney.

Continuam em cartaz todos os “blockbusters” do período nas salas da Empresa Moviecom, ou seja, nos dois shoppings da cidade e mais no da cidade de Castanhal.

“Plano B” (The Back-up Plan/EUA,2010) é uma comédia romântica que traz de volta a atriz Jennifer Lopez, longe das telas desde 2006. Ela interpreta a personagem Zoe, uma mulher decidida a ter um filho por inseminação artificial. No dia marcado para se submeter ao processo, seu encontro com Stan (Alex O’Loughlin) muda a direção das coisas, pois ela supõe ser este o homem ideal para o papel de pai. Mas se entra em cena um romance entre os dois, também surge gravidez de laboratório. E o par amoroso vai ter de aceitar uma terceira pessoa no cenário, não necessariamente produto do amor que eles passam a devotar um ao outro.
A direção é de Alan Poul e o roteiro de Kate Ângelo. Sobre o filme, vejam as opiniões de críticos norte-americanos: “O filme é desesperadamente chato. Ninguém diz nada de interessante”(Roger Ebert). “Como comédia romântica é a pior desde “Odeio o Dia dos Namorados” de Nia Vardalos” (J. R. Jones)”. Contrariando essa linha opinativa escreveu outro critico: “Como comédia romântica é favorável, mas um pouco monótona (Owen Glaberman). O que se observa é o fato de a comédia agradar a uns e desagradar a outros, uma obviedade que marca sempre os que não conseguem evidenciar questões entre o tema & estéticas. Na verdade, pelo que se nota, há uma questão em evidência entre a nova tecnologia do processo de reprodução humana e a afetividade das pessoas. Agora se é possível salvaguardar as discussões, então vale uma ida ao cinema.

“Esquadrão Classe A”(The A-Tem/EUA,2010) deriva de uma série de TV dos anos 80 em que veteranos da Guerra do Vietnam eram condenados injustamente, conseguiam fugir da prisão de segurança máxima e se estabeleciam clandestinamente em Los Angeles como mercenários, usando nas missões um furgão preto. Houve transferência da ação para o clima bélico do Iraque. Nada se perde tudo se transforma...
O filme é dirigido por Joe Carnaham de um roteiro de Michael Brandt, Derek Haas e Skip Woods. No elenco, Liam Neeson, Jéssica Bell e Bradley Cooper. Detectam-se poucas criticas favoráveis.

“Cartas Para Julieta”(Letters to Juliet/EUA, 2010) foi extraído de um argumento interessante. Trata de uma jovem norte-americana em visita à cidade de Verona com o marido que busca especialidades de vinhos para seu comércio nos EUA. Ela encontra, no balcão que teria sido usado pela personagem da tragédia de Shakespeare, a famosa Julieta, diversas cartas de amor escritas por visitantes. E resolve responder a uma, datada dos anos 50. Para sua surpresa, surge quem escreveu acompanhada do neto. As duas mulheres se unem na procura pelo homem por quem a autora da carta se apaixonou. A missivista é interpretada por Vanessa Redgrave; a jovem norte-americana por Amanda Seyfried. E o marido é Gael Garcia Bernal. O personagem do amor do passado tem o desempenho do veteraníssimo Franco Nero, hoje um senhor com outra aparência. Direção de Gary Winick de um roteiro de Jose Rivera e Tim Sullivan.

“As Testemunhas” (Les Témoins/França, 2007) tem a direção de André Téchine e aborda o problema da AIDS em Paris através de uma história que envolve um jovem (Johan Libéreau) recém-chegado à cidade em busca de trabalho e conhece figura com problemas matrimoniais. No elenco estão: Manuelle Béart, Michel Blanc e Sami Bouajila.

“A Canção do Sul”(South Song/EUA,1946) é um dos primeiros filmes da Disney a suar desenhos animados com atores. A história trata de crianças brancas do sul dos EUA em contato com a cultura negra através dos contos de um velho ex-escravo conhecido como Tio Remus. No elenco Bobby Driscoll, Ruth Warrick e Luana Patten. Cópia dublada.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O PRÍNCIPE DA PÉRSIA




Mais uma vez o videogame inspira roteiros de cinema. Hoje o que é “pop” é “cool”, como dizem os norte-americanos consumidores desse tipo de entretenimento. “O Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo”(Prince of Pérsia: The Sands of the Time/EUA, 2010) nada mais é que um jogo jogado, ou seja, a amostragem de uma brincadeira que em sua origem é devidamente compartilhada e que passa a ser consumida individualmente. Por certo é um desafio. E se há alguma pessoa, ou algum grupo digno de elogios pelo trabalho cabe registrar os nomes dos editores (montadores) Mick Audsley, Michael Kahn e Martin Walsh. O que esse trio consegue com planos curtíssimos, jogando as cenas de forma a capacitar uma ação intensa, ou incitando o espectador com luzes e sons dispostos à maneira de um caleidoscópio, é realmente admirável.
O roteiro prima pela simplicidade, ou, para usar um adjetivo mais coerente, pelo simplismo. O Império Persa (situado onde hoje é o Irã) ataca a cidade sagrada de Alamut, lugar que abriga as “areias do tempo”, um meio de, através do areal contido num punhal ricamente moldado, reverter a ação para o passado. Os filhos do rei persa, um deles adotado (Dastan), chegam ao templo de Alamut onde está a princesa Tamina, logo desejada por pelo menos dois príncipes (incluindo, obviamente, Dastan). Os acontecimentos levam a corporificar um vilão e em manejar com as situações (um vai-e-vem das horas como se a história, guinada para a tragédia, fosse modulada para terminar bem) com o intuito de chegar ao beijo final que é marca registrada de Hollywood desde antes do som, nos filmes.
O diretor Mike Newell já realizou trabalhos elogiáveis como “Quatro Casamentos e um Funeral” e “O Sorriso de Mona Lisa”. É inglês de nascimento, mas se deu bem na grande indústria norte-americana. Aceitou a incumbência de criar um exemplar da série Harry Potter e pelo menos dois de Indiana Jones. Sua habilidade artesanal indiscutível está presente, mas, o novo filme, produzido por dois big-shot do cinema comercial – Jerry Bruckheimer e Walt Disney Productions – não esconde a sua origem (um brinquedo de criança ou adolescente). Se possui alguma vantagem é usar de uma linguagem coerente, ou seja, facilitar enredo e narrativa, tornando o espetáculo bem ingênuo, bem infantil, capaz de se associar (como os veteranos podem perceber) aos antigos blockbusters (o termo não existia, tratando-se apenas de bons programas para as matinais e vesperais) à maneira da série da Universal com veteranos atores da época. É possível lembrar “O Ladrão de Bagdá”, nas versões de Raoul Walsh (1924) com Douglas Fairbanks, e de 1940, dirigida por Michael Powell, Ludwig Berger e os irmãos Korda (Alexander e Zoltan, também produtores). Esta última versão, realizada na Inglaterra quando o país estava em guerra, tinha seu ponto alto na montagem e cenografia a cargo de William Cameron Menzies, diretor veterano. Uma prova de que na sala de montagem está a mágica que faz funcionar essas histórias de mil e uma noites.
“O Príncipe da Pérsia” é desse tipo de filme que a critica de um modo geral odeia. Não há o que impulsione a inteligência do espectador que vai ao cinema não só para se divertir, mas para engrandecer a sua cultura. É inegável, contudo, que a fórmula de Bruckheimer, tão bem adaptada ao arsenal Disney, funciona para certo tipo de platéia. O que surpreende é que o filme mereceu uma estréia de luxo nos EUA, com uma verdadeira festa de gente famosa em tapete vermelho, mas não alcançou o pódio da bilheteria nas suas duas primeiras semanas de exibições. Segundo o noticiário internacional, perdeu bilheteria para o novo Shrek e para o relativamente modesto “Sex and the City 2”. O que se deduz é que falta humor no show pseudo-oriental. A garotada prefere rir do ogro simpático e as mães e namoradas se ligam nas aventuras das 4 amigas nova-iorquinas. A lenda “As Mil e uma Noites” deve ter perdido o encanto e espaço para os games mais ousados pela trilha que evocam. Mais masculinos? Não tenho clareza, mas me preocupa a figura de Sherazade nos dias atuais a contar as histórias para o sultão tentando com isso escapar da morte. A mansidão do conto deu lugar ao furor do game.

Cotação: Razoável

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A TURBA





















Quando se diz que o cinema italiano pós 2ª Guerra Mundial foi neo-realista obviamente é porque ocorreu um cinema realista no passado. Historiadores acham que assim deve ser tratado, por exemplo, “Greed”(Ouro e Maldição/1923), de Eric Von Stroheim, a trama baseada em um romance de Frank Norris. E, também, “A Turba”(The Crowd/1928) de King Vidor.
Neste sábado os leitores deste espaço terão a chance de assistir “A Turba” em tela grande. Fará a Sessão Cult da ACCPA no Cine Libero Luxardo. Trata-se de um dos últimos filmes mudos, e, certamente, um dos últimos desse tipo candidato ao Oscar. Um marco do cinema pelas qualidades formais. Nesse ponto ressalta-se o aproveitamento da profundidade de campo e a ousadia de alguns travelling. No primeiro caso cita-se a seqüência em que a câmera, do alto de uma escada, focaliza para baixo quem está subindo, detalhando um personagem e chegando a mostrar a rua adiante. Tudo em foco. Um prodígio numa época em que o poder de captação de imagem (ou a sensibilidade dos filmes) era restrito e para focalizar ambientes internos precisava de uma posição hábil de “spots”, além de ser quase impossível deixar ver, ao mesmo tempo, o ambiente externo com a mesma fidelidade. No segundo caso, lembro a sequencia final, quando a câmera praticamente decola de onde estão os atores e para o espaço em que eles estão (poltronas de um grande teatro) cada vez menores.
O argumento gira em torno de John Sims (James Murray) jovem que o pai predestinara, ao nascer, como um homem de futuro brilhante. Mas ele não assiste ao crescimento do filho. Numa das primeiras seqüências vê-se uma ambulância chegando à casa e logo o menino Johnny sabe que é para transportar o corpo do pai. Em seguida vê-se John, adulto, trabalhando num amplo escritório. O modo como é focalizado este ambiente enfatiza a pequenez dos funcionários. Logo ele conhece Mary (Eleanor Boardman) constituindo família. A metáfora de King Vidor (o roteiro é dele e de John Weaver) é de a pessoa ser “engolida pela turba”. E sempre se faz alusão a isso, culminando com um momento em que pai e filho assistem a um espetáculo cômico e ao se aprazerem com o que vêem e passam a ser pontos perdidos na multidão graças ao enfoque cada vez mais alto da câmera.
O diretor voltaria ao tema em “No Turbilhão da Metrópole” (Street Scene/1931), roteiro de uma peça teatral de Elmer Rice. A diferença é que a grande cidade com a sua turba não é vista esmagando apenas um cidadão. São pessoas de uma rua, cada uma com o seu problema, unidas apenas pela vontade de melhorar de vida – embora as dificuldades financeiras as obriguem a viver em um cenário indesejado. Um filme que não se desliga da origem do argumento e usa os diálogos como matéria prima. Mesmo assim, a constituição dos tipos é interessante e demonstra a preocupação do cineasta prosseguida em “Stella Dallas”(1937).
Para o grande público, o nome do diretor ficou gravado por espetáculos grandiosos como “Duelo ao Sol” (Duel in the Sun/1946), “Guerra e Paz”(War and Peace/1956) e “Salomão e a Rainha de Sabá”(1959). Vidor faleceu em 1982, aos 88 anos. Quando se fala em grandes nomes do cinema norte-americano geralmente o dele é omitido. Cita-se, quando muito, “Aleluia”(Halleluja/1929) um dos seus primeiros filmes sonoros e uma das raras abordagens sobre a cultura negra. Mas quem for assistir “A Turba” vai observar que o autor fez muito mais, foi um autor preocupado com a sua gente e seu tempo. Um mestre da cinematografia.


REGISTROS

Dennis Hopper ficou famoso ao dirigir “Easy Rider”(Sem Destino). Antes disso, foi coadjuvante de muitos filmes bem sucedidos nas bilheterias como “Assim Caminha a Humanidade”(Giant). O ator-cineasta faleceu esta semana vitimado por um câncer.

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Clint Eastwood completou 80 anos nesta 2ª feira. Começou a carreira de ator em “pontas” em filmes B, como “A Revanche do Monstro”(continuação de “O Monstro da Lagoa Negra”). Protagonizou tipos em faroeste de televisão, mas o sucesso só chegaria depois de um estágio na Itália, interpretando “wester-spaghetti” de Sergio Leone. De volta aos EUA encontrou um mentor em Don Siegel, na série “Dirty Harry”. Depois veio a chance de dirigir. E não parou mais. É um dos melhores cineastas norte-americanos na ativa. Um exemplo do “poder do idoso”.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

CINEMA E TV


















O lançamento de "Sex and the City" leva a pensar no relacionamento do cinema com a televisão. Pode-se dizer que, a principio, não foi dos mais amigáveis. Quando se popularizou, a TV assumiu a feição de inimiga do cinema comercial. Pelo menos era o deduzido pelos grandes estúdios norte-americanos nos anos 50. A idéia era de que uma pessoa gostaria muito mais de assistir a um filme em casa, de graça, do que sair para vê-lo no cinema pagando ingresso. Por isso, pensou-se numa solução técnica. Surgiram: o cinemascope, o vista-vision, o cinerama e uma série de derivados desses processos. De todos, o cinemascope foi o que se manteve, mesmo que tenha sido veiculado com outro nome depois de vencer a compra de patente do inventor francês Henri Chrétien- uma lente que comprimia a imagem, depois, durante a projeção, e outra lente que ampliava essa imagem na projeção. Com a formação de um grande retângulo, abrigando a dimensão de uma tela muito maior do que a que se usava, os filmes tendiam a registrar, com prioridade, os grandes planos, aproximando-se do teatro quando a câmera se fixava num ponto e deixava que os atores representassem diante dela. Diretores veteranos como Leo McCarey eram contrários ao processo. Disse McCarey ao colega escritor Peter Bogdanovich: "-Eu odiava (o cinemascope). Era largo demais em relação à altura. O meu cameraman me disse para ignorá-lo. Mas me parecia idiota fazer uma grande tomada.... Eu fazia um close e o contra-regra perguntava:"O que aparece dos lados ?"

Compreendeu-se, com o tempo, como usar a largura do quadro levando-se em conta que só o cinema oferecia imagens próximas, adentrando em situações impensadas em outras artes cênicas.

Mas, além da acomodação técnica, a TV ajudou a cinematografia a iniciação de cineastas novos que exportou da telinha para a telona. O caso de Arthur Penn, John Frankenheimmer, Martin Ritt, e muitos outros diretores.

E não demorou a ajuda mútua em temas & enredos. Se "Dallas" passaria de um western de 1950 com Gary Cooper para uma série televisiva, a série de ficção-cientifica "Além da Imaginação" (Twilkiht Zone) ganharia a tela grande em um filme de 3 cineastas: Joe Dante, John Landis e Steven Spíelberg. Isto é apenas um exemplo. Comédias como as que hoje se vê nos canais fechados ou abertos eram produzidas com um pouco menos de malicia(afinal a liberdade de expressão só surge após a queda do Código Hays, a censura dos estúdios) em filmes de McCarey, Gregory La Cava, Howard Hawks e outros cineastas. Tanto que "Sex and City" pôde fazer tranqüilamente a passagem entre telas ganhando um meio de se expressar melhor. Esta série, exibida em 6 temporadas (de 1998 a 2004), explorou o comportamento de 4 mulheres consideradas independentes, todas residentes em Nova York, chegando a tocar em assuntos tabus no cinema antigo, como o sexo. Mas quando a proposta inicial, ou televisiva, se esvaiu, a passagem para um filme de longa-metragem com produção relativamente cara, foi como que um risco dos produtores e atores vindos dos episódios. A frente estava o diretor Michael Patrick King e a atriz Sarah Jessica Park (assinando a produção da seqüência que seria lançada este ano).

Obviamente o caso das amigas de NY e suas aventuras românticas não é bem um modelo para se transitar livremente da tela pequena para a grande. Até hoje não se fez um filme longo de sucessos dos canais fechados como os "C.S.I.", o veterano "E. R." e as séries médicas correlatas como "Grey’s Anatomy" e, mesmo, "House". Ou ainda roteiros imaginados para episódios de TV com gancho para "blockbusters" como "Heroes" (sem falar no fenômeno "Lost", encerrado a pouco). Não se trata de preconceito de gênero, mas tudo é produto de pesquisa de mercado. Os financiadores dessas séries sabem até que ponto elas seduzem platéias. "Além da Imaginação", por exemplo, seduziu Steven Speilberg, que iniciou na TV e fez alguns episódios da franquia. Ele achou que a idéia de tratar de enredos fantasiosos com base em detalhes científicos, era tão atrativa que podia chamar público para cinema mesmo depois do seriado ter saído do ar . Não foi bem como se esperava, mas não deu prejuízo. A verdade é que a ligação cinema-e-TV se faz muito mais pelos valores humanos que trabalham nas duas áreas. Além disso, é um risco. Isto em Hollywood. Aqui entre nós, "O Bem Amado", por exemplo, vai surgir em telona. E tem chance de faturar...

terça-feira, 1 de junho de 2010

SEX AND THE CITY 2































A série de TV baseada nas histórias da escritora Candance Bushnell foi sucesso principalmente nos anos 90. Com roteiros de Darren Star (94 episódios), Jenny Bicks (16 episódios), Cindy Chupack (16 eps), Julie Rottenberg (6 eps), Elisa Kuritsky (6 eps), Allan Heinberg (4 eps), Nicole Avril (2 eps), Terri Minsky(2 os), Amy Harris (1) e, ainda, da própria escritora (94 eps) e de Michael Patrick King (31 eps), esteve nas emissoras de muitos países, inclusive o Brasil, de 1998 a 2004. Em 2008, Michael Patrick assinou a direção de um longa para cinema. Foi um sucesso surpreendente para quem pensava que as aventuras de 4 amigas em Nova York haviam se exaurido na telinha por 6 temporadas. E estimulado por Sarah Jéssica Parker, uma das personagens (interpreta Carrie) que entrou na produção, o mesmo cineasta voltou à carga com este “Sex and the City 2” ora em cartaz internacional.

Em foco Carrie, Samantha (Kim Cattrall), Charlotte (Kristin Davis) e Miranda (Cynthia Nixon). Elas se encontram em algum lugar de Nova York para jogar conversa fora. E surgem os problemas conjugais, o cuidado com os filhos (no caso de Charlotte), o desejo de aventura e, no caso de Samantha, o fator sexo (até como um desafio para a idade - é a mais velha do grupo).

Neste novo roteiro, a voz de Carrie narra o que se passa com o grupo nas últimas décadas. Faz, portanto, um “replay” (só com a narração oral) do que elas inventavam e continuam a fazer, de como mantém uma amizade que vem dos tempos de estudantes. Casada com Big (Chris Noth)há dois anos, escreve livros sobre a relação no casamento. Sua experiência é matéria para um próximo volume. O casal procura manter a união em vigor, embora nem sempre o marido esteja disposto a freqüentar as festas que a esposa costuma agendar. Quando o filme inicia, eles são vistos num casamento gay de amigos em comum. A cerimônia é bem um retrato do temperamento “politicamente incorreto” (como dizem sem medo de repetirem um velho refrão) do grupo. A seqüência ganha a participação esfuziante de Liza Minnelli, que canta e dança como uma jovem (embora já some 64 anos, feitos em março passado). Depois disso, na intimidade, o casal vê televisão. Ele prefere filmes antigos e sintoniza “Aconteceu Naquela Noite”(It Happened one Night/1934). Ela critica, mas usa a cena em que Claudette Colbert mostra a perna para conseguir uma carona como estimulo sexual. Em tomadas seguidas sabe-se que o casal resolve manter dois dias afastados durante a semana para trabalho e como forma de revigorar a união. Parece dar certo até quando Carrie aceita viajar com as amigas, convidada por Samantha, a uma viagem ao Oriente Médio atendendo ao convite de um sheik. Ali ocorrem verdadeiros testes para algumas personagens. Charlotte, por exemplo, deixa, a muito custo, seus filhos menores. E na terra distante, gozando de um luxo que jamais ganhariam com as suas finanças, encontram novidades, como um ex-namorado de Carrie e um grupo de mulheres vestidas com burcas que as acolhe e mostram, por trás de suas roupas exigidas pelos preceitos religiosos locais, trajes bem modernos. Uma das características das nova-iorquinas é a troca de vestidos. O seriado e os filmes longos mostram sempre verdadeiros desfiles de modas. Isto é parte de um ingrediente que atrai as espectadoras. As estatísticas mostram que a série é mais vista por mulheres. E não se diga que é alijada pelos homens. Exceto certa ala da critica que jamais aceita um tema leve com uma proposta que entre sorrisos faz um apanhado irônico do desempenho de uma faixa social na virada dos séculos.

O foco mais evidente em “Sex and the City 2” é o relacionamento de Carrie e Big. Quando ela se deixa beijar por um antigo namorado numa rua da cidade oriental, o fato é relatado ao marido (a ética dela é jamais esconder qualquer coisa dele) e o possível estremecimento na relação ganha certo suspense a ser estimado no final.
A parte hilária, por conta principalmente de Samantha, é mínima, embora realmente engraçada. O filme é endereçado às pessoas que conheceram e simpatizaram com o quarteto da classe média alta, na série. Quem conhece o ambiente onde as personagens vivem aprecia ainda mais as situações em que elas se metem. Mas isto não quer dizer que por aqui seja um enigma. No todo é um programa divertido. Lógico que não sobre nada de cinema denso. Não é filme para a crítica. E quem vai ver sabe disso. Da telinha para a telona é apenas uma esticada de dimensão do quadro e de tempo da ação.

Cotação:* (Razoável)