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quarta-feira, 23 de junho de 2010
OPINIÃO ALHEIA: A Copa do Mundo e o Cinema
Recebi de Amilcar Carneiro (Castanhal/PA) e publico:
“A maioria dos habitantes do planeta vive ligada na Copa do Mundo de Futebol, competição criada por Jules Rimet, no ano de 1930. O Uruguai, primeiro país sede, sagrou-se campeão. A “Celeste Olímpica” confirmava seu favoritismo desbancando os europeus e fazendo a final com a Argentina. Naquele tempo, o cinema, inventado pelos irmãos Lumiére já tinha conquistado o mundo, mas a televisão não passava de um embrião nas experiências do russo Vladimir Zworykin. Os jogos aconteciam e tempos depois chegavam as imagens nas telas dos cinemas por meio dos cines jornais. Em 1934 na Itália e 1938 na França, a “Esquadra Azurra” conquistou os dois títulos mostrando seu poderio. Em 1942 e 1946 foi imposta uma trégua ao futebol enquanto o mundo fazia sua segunda grande guerra. A competição só voltaria a ser disputada em 1950, no Brasil, copa que os brasileiros gostariam de esquecer, mas as câmeras estavam lá para registrar a grande tragédia do nosso futebol – Uruguai 2x1 Brasil, em pleno Maracanã. Em 1954, na Suíça, a tragédia foi para a Hungria, do lendário Puskas, que perdeu a final para a Alemanha Ocidental.
Na primeira copa vencida pelo Brasil, em 1958, na Suécia, já havia uma estreita relação entre o Cine Argus e o futebol, pois era comum em dias de grandes jogos, os mais aficionados ficarem em frente ao cinema escutando o rádio que retransmitia através dos alto-falantes, os 90 minutos de partida. Naquele domingo, 29 de junho de 1958, o Argus exibia, em sessão matinal, o filme “O Bandoleiro da Cova do Lobo”, e ao mesmo tempo retransmitia o jogo final entre Brasil e Suécia. De dentro do cinema ouvia-se o foguetório, os mais fanáticos festejando os 5 x 2 que o Brasil aplicou na anfitriã revelando ao mundo o talento de Garrincha e Pelé entre outros. Meses depois, chegariam as imagens, três ou quatro minutos dos melhores momentos de cada jogo, mostrados semanalmente nos dois principais jornais da tela: Fox e Atlântida. Qualquer que fosse o filme, as atenções se voltavam para o assunto do cine jornal, futebol.
Em 1962, no Chile, o Brasil foi bi campeão e as imagens chegaram em um filme exclusivo produzido pelos chilenos, em preto e branco, mostrando todos os gols da copa e os melhores momentos da final em que o Brasil derrotou a Tchecoslováquia por 3 x 1. O filme foi um sucesso, a platéia aplaudia e comentava como se fosse ao vivo. Em 1966, na Inglaterra, foi produzido um longa metragem a cores, “Gol, A Copa do Mundo”. Mesmo com o Brasil desclassificado na 1ª fase, valia a pena ver as belas imagens coloridas que a TV ainda não podia mostrar. Em 1970, ano do tri campeonato e última copa de Pelé, alguns estados do sul já assistiram ao vivo a competição do México, enquanto que por aqui só assistíamos ao vídeo tape no final da noite ou no outro dia. Mesmo assim, o filme produzido pelos mexicanos fez grande sucesso quando foi exibido no Cine Argus. As imagens a cores e em câmara lenta em diferentes ângulos arrancavam aplausos da platéia. Na copa seguinte, na Alemanha, as transmissões diretas e a TV a cores davam os primeiros sinais de concorrência ao cinema. Em dias de jogos do Brasil o Argus ficava vazio, às vezes nem tinha projeção, também não houve mais interesse em exibir o filme da copa.
Em 1978 na Argentina, 82, na Espanha, 86, no México e 90, na Itália, era evidente o domínio da televisão, os cine-jornais já nem eram produzidos, os filmes das copas eram vendidos ou locados livremente em VHS ou DVD. Em 1994, quando o Brasil conquistou o tetracampeonato no EUA, quase todos os cinemas do interior já tinham fechado as portas, o Argus agonizava, fecharia no ano seguinte sem testemunhar o fiasco de 1998, na França, nem o sonhado “penta”, conquistado em solo asiático no ano de 2002, primeira copa disputada simultaneamente em dois países, Japão e Coréia.
Na copa de 2006, de novo em solo alemão, a Itália ganhou seu quarto título, a televisão mostrou em todos os ângulos possíveis a cabeçada mais famosa da história, infelizmente não foi na bola, mas no adversário, e manchou a brilhante carreira de Zidane, astro francês que em duas copas atrapalhou o sonho brasileiro de conquistar mais um título.
Na atual copa na África, primeira naquele continente, a televisão dá um verdadeiro show na transmissão dos jogos. Gruas, câmaras fixas, móveis e portáteis passeiam pelas quatro linhas do gramado e pelo teto dos modernos estádios levando as melhores imagens, ao vivo, para todo o planeta, coisa inimaginável até pelos visionários Jules Rimet, Wladimir Zworykin e os irmãos Louis e Auguste Lumiére.
Na próxima copa do mundo, em 2016, a ser disputada na América do Sul, no Brasil, não será de estranhar se jogadores e árbitros trouxerem embutida no uniforme, uma câmera, algo do tamanho e peso de um botão, capturando incríveis imagens de alta definição que serão mostradas em aparelhos de TV de última geração, com “tela de cinema”.
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