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quarta-feira, 30 de junho de 2010
CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR
O novo documentário de Michael Moore tenta explicar (e criticar) a crise econômica recente que partiu dos EUA. Em tese, ele questiona o esquecimento de um programa econômico & social enunciado pelo então presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945), chamado o Segundo Projeto dos Direitos dos Americanos, ou seja, direito à moradia, ao emprego, à educação e à saúde. Vê-se a seqüência do criador da política do New Deal falando à nação (e exigindo que o discurso fosse filmado) uma semana antes de sua morte (Roosevelt não presenciou o fim da 2ª Guerra Mundial, morrendo pouco antes do armistício). Em “Capitalismo: Uma História de Amor”(Capitalism: A Love Story/EUA, 2009) Moore aborda um a um os itens esquecidos.
E inicia justamente com o que supõe como a primeira causa da crise econômica: as hipotecas feitas pelos donos de casas atraídos por facilidades bancárias que os permitiriam, dessa forma, quitar diversas dívidas. Essas hipotecas não seriam pagas por causa dos juros exorbitantes, os bancos sentiriam a evasão de dólares, o sistema começava a sentir o que lembraria o drama vivido em 1929 (o grande “crack” da bolsa, patrocinando a depressão que se manteve por alguns anos).
O documentário, como tudo o que Moore já realizou, assume a defesa de uma bandeira.
É francamente parcial, quase panfletário. Mas desta vez ele entrevista economistas, diplomatas, artistas, pessoas do povo, para endossar a sua tese. E é irônico como trata o diagnostico do problema: “a love story”. A tentação de uma vida melhor propagada pela mídia através de anúncios é causa do problema habitacional que foi acusado de ser o maior responsável pela crise. Mas nesse rumo de investigação parte-se para o desemprego crescente, o reflexo na educação e precário atendimento médico, este último um tema que Moore abordou no seu filme anterior: “Stick”(2008).
Segundo o documentário, a impressão é que os EUA da primeira década do século atual não é o país aplaudido através de tantos meios de expressão, inclusive do cinema. Seria, em tese, a constatação de que o falado “sonho americano” se transformara num pesadelo.
As denúncias chegam, por natural continuidade, ao Congresso e à Casa Branca. Outra vez surge a figura de George W. Bush, vilão do filme mais exaltado de Moore (Fahrenheit 9/11). O presidente estaria acobertando figuras corruptas que lucraram com especulações mórbidas, custando entre outras “maldades” os lares de pessoas que viveram anos em um determinado lugar. Para essa demonstração o foco é uma família de fazendeiros que tinha uma propriedade de herança e que estava sendo despejada por falta de pagamento da hipoteca. O patriarca, um aposentado que é obrigado a queimar pertences da casa porque os caminhões se recusavam a levar tudo, chega a dizer que a sua vontade era “assaltar os bancos” que o faziam sofrer tal vexame. Ele recebia de uma autoridade bancária o cheque de US$ 1.000 que certamente não valia um terço do imóvel.
Uma congressista é focalizada opondo-se firmemente às expulsões de moradores, incitando-os a resistir. Também membros de igreja católica colocam-se a favor dessas pessoas. Alguns resistem, mas a onda ganha corpo como um tsunami e quando afeta o sistema bancário o que se vê é como um tiro no pé de muitos capitalistas. São muitos, mas em menor número do que os que enriqueceram com isso, como em todas as crises.
Moore assinala com uma faixa amarela, do tipo que se coloca em torno das cenas de crimes nos seriados, algumas instituições emblemáticas como a Bolsa de Valores de Nova York. E brada contra o “templo do capitalismo”.
Algumas entrevistas explicam com detalhes como a crise de 2008 atingiu os EUA e migrou para diversas nações. É um relato didático para quem não entendeu o problema econômico recente. E o filme, de alguma forma, saúda a eleição de Obama, embora mostre como o sistema capitalista aplicou dinheiro na campanha democrata e não arrisca dizer que há um “happy end”.
“Capitalismo: Uma História de Amor” não foi programado para os cinemas brasileiros visto que a distribuidora achou-o desinteressante para o nosso público, Não é bem assim, diga-se. Circula em DVD. É bom assisti-lo.
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