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terça-feira, 22 de junho de 2010
TOY STORY 3
A indústria norte-americana segue a lógica do sistema de produção da mercadoria realizando-se nas fases operativas – produção, circulação e comercialização do produto. Embora se mantendo com as especificidades dos valores de uso e de troca com base num trabalho abstrato, o cinema não deixa de ser uma mercadoria, pois cumpre as fases dentro das normas evidenciadas pela análise do sistema capitalista. Este preâmbulo tende a justificar os meios que a indústria cinematográfica proporciona para alavancar as formas de se manter no sistema usando os artifícios que operam para o alargamento das bases da comercialização. É o caso da realização dos filmes em série, demonstrativos de um valor reconhecido e por isso retomando as qualidades de conteúdo e técnicas a disposição para ampliar sua linha de rendimento. Há, contudo, maneiras de tratar o público que assiste a essas séries e é a isso a que me refiro em Toy Story 3”(EUA, 2010).
Esse filme não é apenas uma produção oportunista como a maioria que segue títulos de sucesso. Assume o tempo que passou desde o primeiro exemplar, de 1995, e mostra o personagem Andy preparando-se para ingressar na universidade, vale dizer, dispondo-se a deixar a família para morar no campus onde passará a estudar. Em 15 anos muita coisa aconteceu, e o tempo é mais sentido na aparência das figuras humanas. Os brinquedos não estão nem mesmo estragados. E desta forma sentem o que a mãe do novo universitário planeja para desocupar o quarto do filho. As opções são alocar os bonecos no sótão da casa, dar todos de presente a uma creche, ou simplesmente jogá-los no lixo.
Para recuperar a memória: Andy é um bom menino. No primeiro filme da trilogia “Toy Story” ele se mostra o avesso do vizinho que destrói brinquedos. No quarto de Andy moram Woody, o cow-boy, e a turma em que figuram Buzz, o astronauta, o casal Cabeça de Batata, o dinossauro, o cão de mola, a vaqueira, enfim,, um grupo diversificado e divertido que abre espaço até para a Barbie (a mesma figura da conhecida boneca).
A decisão humana do destino dos objetos gera a aventura idealizada por Michael Arndt, John Lasseter, Andrew Stanton e Lee Unkrich, membros do estúdio PIXAR. A idéia parte da ação dos próprios brinquedos. Eles se unem contra a adversidade. Comandados por Woody, fogem em caminhões da ação agressiva de crianças semelhantes ao antigo vizinho de seu dono. No local onde devem ficar por equivoco, encontram um urso de pelúcia recalcado por ter sido desprezado e jogado fora quando se sentia querido e que não entende a necessidade do grupo de manter-se agregado. Sua idiossincrasia leva os brinquedos a um carro de lixo e daí em diante estes, na fuga, terão que se haver com artefatos de limpeza como britadores e incineradores, e ainda encontram forças para voltar ao cenário antigo aguardando o que pensa o ex-menino, sobre suas velhas atrações.
Os autores do filme mantiveram a caracterização na amostragem de tipos como a figura de Ken, o namorado da Barbie que demonstra suas qualidades na sedução à bela boneca. Mas também nas situações geradoras de suspense (são muitas e eficientemente montadas para despertar a ansiedade da platéia) e no elo poético que evoca a infância e as lembranças que deixa nas pessoas.
Neste novo exemplar estão certas posturas que engrandecem o argumento original. Por exemplo, o papel do urso de pelúcia líder dos brinquedos na creche. Ele é o vilão que poderia se redimir quando foi salvo de uma armadilha no lixeiro por Woody, mas não retribui o favor do cowboy fugindo da oportunidade de desligar o incinerador na hora em que os brinquedos se aproximam da cremação de lixo. Nem por isso ele ganha perseguição e vingança. Woody diz: “-Deixa pra lá”. E cada um segue a sua missão de salvar a própria pele, digo, madeira e plástico.
Também é mostrada a linha do afeto infantil aos brinquedos quando estes são levados à casa da nova dona, uma menina a quem Andy entrega seus queridos objetos identificando para ela as qualidades de cada um. E finalmente se rende à inexorabilidade do tempo deixando um final racional, mas comovente: Andy rapaz segue dirigindo o seu carro e os velhos amigos ficam acenando-lhe (quando há um hiato para que brinquedos ganhem vida autônoma). Certamente ali se encerra um ciclo. E a trilogia acaba de forma brilhante.
Um filme excelente que faz jus ao que a PIXAR vem produzindo,justificando a sua posição depois de outras produções como “Ratatouille”, “Wall E” e “Up”.
Cotação: Excelente (*****)
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