quarta-feira, 2 de junho de 2010

CINEMA E TV


















O lançamento de "Sex and the City" leva a pensar no relacionamento do cinema com a televisão. Pode-se dizer que, a principio, não foi dos mais amigáveis. Quando se popularizou, a TV assumiu a feição de inimiga do cinema comercial. Pelo menos era o deduzido pelos grandes estúdios norte-americanos nos anos 50. A idéia era de que uma pessoa gostaria muito mais de assistir a um filme em casa, de graça, do que sair para vê-lo no cinema pagando ingresso. Por isso, pensou-se numa solução técnica. Surgiram: o cinemascope, o vista-vision, o cinerama e uma série de derivados desses processos. De todos, o cinemascope foi o que se manteve, mesmo que tenha sido veiculado com outro nome depois de vencer a compra de patente do inventor francês Henri Chrétien- uma lente que comprimia a imagem, depois, durante a projeção, e outra lente que ampliava essa imagem na projeção. Com a formação de um grande retângulo, abrigando a dimensão de uma tela muito maior do que a que se usava, os filmes tendiam a registrar, com prioridade, os grandes planos, aproximando-se do teatro quando a câmera se fixava num ponto e deixava que os atores representassem diante dela. Diretores veteranos como Leo McCarey eram contrários ao processo. Disse McCarey ao colega escritor Peter Bogdanovich: "-Eu odiava (o cinemascope). Era largo demais em relação à altura. O meu cameraman me disse para ignorá-lo. Mas me parecia idiota fazer uma grande tomada.... Eu fazia um close e o contra-regra perguntava:"O que aparece dos lados ?"

Compreendeu-se, com o tempo, como usar a largura do quadro levando-se em conta que só o cinema oferecia imagens próximas, adentrando em situações impensadas em outras artes cênicas.

Mas, além da acomodação técnica, a TV ajudou a cinematografia a iniciação de cineastas novos que exportou da telinha para a telona. O caso de Arthur Penn, John Frankenheimmer, Martin Ritt, e muitos outros diretores.

E não demorou a ajuda mútua em temas & enredos. Se "Dallas" passaria de um western de 1950 com Gary Cooper para uma série televisiva, a série de ficção-cientifica "Além da Imaginação" (Twilkiht Zone) ganharia a tela grande em um filme de 3 cineastas: Joe Dante, John Landis e Steven Spíelberg. Isto é apenas um exemplo. Comédias como as que hoje se vê nos canais fechados ou abertos eram produzidas com um pouco menos de malicia(afinal a liberdade de expressão só surge após a queda do Código Hays, a censura dos estúdios) em filmes de McCarey, Gregory La Cava, Howard Hawks e outros cineastas. Tanto que "Sex and City" pôde fazer tranqüilamente a passagem entre telas ganhando um meio de se expressar melhor. Esta série, exibida em 6 temporadas (de 1998 a 2004), explorou o comportamento de 4 mulheres consideradas independentes, todas residentes em Nova York, chegando a tocar em assuntos tabus no cinema antigo, como o sexo. Mas quando a proposta inicial, ou televisiva, se esvaiu, a passagem para um filme de longa-metragem com produção relativamente cara, foi como que um risco dos produtores e atores vindos dos episódios. A frente estava o diretor Michael Patrick King e a atriz Sarah Jessica Park (assinando a produção da seqüência que seria lançada este ano).

Obviamente o caso das amigas de NY e suas aventuras românticas não é bem um modelo para se transitar livremente da tela pequena para a grande. Até hoje não se fez um filme longo de sucessos dos canais fechados como os "C.S.I.", o veterano "E. R." e as séries médicas correlatas como "Grey’s Anatomy" e, mesmo, "House". Ou ainda roteiros imaginados para episódios de TV com gancho para "blockbusters" como "Heroes" (sem falar no fenômeno "Lost", encerrado a pouco). Não se trata de preconceito de gênero, mas tudo é produto de pesquisa de mercado. Os financiadores dessas séries sabem até que ponto elas seduzem platéias. "Além da Imaginação", por exemplo, seduziu Steven Speilberg, que iniciou na TV e fez alguns episódios da franquia. Ele achou que a idéia de tratar de enredos fantasiosos com base em detalhes científicos, era tão atrativa que podia chamar público para cinema mesmo depois do seriado ter saído do ar . Não foi bem como se esperava, mas não deu prejuízo. A verdade é que a ligação cinema-e-TV se faz muito mais pelos valores humanos que trabalham nas duas áreas. Além disso, é um risco. Isto em Hollywood. Aqui entre nós, "O Bem Amado", por exemplo, vai surgir em telona. E tem chance de faturar...

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