quinta-feira, 3 de junho de 2010

A TURBA





















Quando se diz que o cinema italiano pós 2ª Guerra Mundial foi neo-realista obviamente é porque ocorreu um cinema realista no passado. Historiadores acham que assim deve ser tratado, por exemplo, “Greed”(Ouro e Maldição/1923), de Eric Von Stroheim, a trama baseada em um romance de Frank Norris. E, também, “A Turba”(The Crowd/1928) de King Vidor.
Neste sábado os leitores deste espaço terão a chance de assistir “A Turba” em tela grande. Fará a Sessão Cult da ACCPA no Cine Libero Luxardo. Trata-se de um dos últimos filmes mudos, e, certamente, um dos últimos desse tipo candidato ao Oscar. Um marco do cinema pelas qualidades formais. Nesse ponto ressalta-se o aproveitamento da profundidade de campo e a ousadia de alguns travelling. No primeiro caso cita-se a seqüência em que a câmera, do alto de uma escada, focaliza para baixo quem está subindo, detalhando um personagem e chegando a mostrar a rua adiante. Tudo em foco. Um prodígio numa época em que o poder de captação de imagem (ou a sensibilidade dos filmes) era restrito e para focalizar ambientes internos precisava de uma posição hábil de “spots”, além de ser quase impossível deixar ver, ao mesmo tempo, o ambiente externo com a mesma fidelidade. No segundo caso, lembro a sequencia final, quando a câmera praticamente decola de onde estão os atores e para o espaço em que eles estão (poltronas de um grande teatro) cada vez menores.
O argumento gira em torno de John Sims (James Murray) jovem que o pai predestinara, ao nascer, como um homem de futuro brilhante. Mas ele não assiste ao crescimento do filho. Numa das primeiras seqüências vê-se uma ambulância chegando à casa e logo o menino Johnny sabe que é para transportar o corpo do pai. Em seguida vê-se John, adulto, trabalhando num amplo escritório. O modo como é focalizado este ambiente enfatiza a pequenez dos funcionários. Logo ele conhece Mary (Eleanor Boardman) constituindo família. A metáfora de King Vidor (o roteiro é dele e de John Weaver) é de a pessoa ser “engolida pela turba”. E sempre se faz alusão a isso, culminando com um momento em que pai e filho assistem a um espetáculo cômico e ao se aprazerem com o que vêem e passam a ser pontos perdidos na multidão graças ao enfoque cada vez mais alto da câmera.
O diretor voltaria ao tema em “No Turbilhão da Metrópole” (Street Scene/1931), roteiro de uma peça teatral de Elmer Rice. A diferença é que a grande cidade com a sua turba não é vista esmagando apenas um cidadão. São pessoas de uma rua, cada uma com o seu problema, unidas apenas pela vontade de melhorar de vida – embora as dificuldades financeiras as obriguem a viver em um cenário indesejado. Um filme que não se desliga da origem do argumento e usa os diálogos como matéria prima. Mesmo assim, a constituição dos tipos é interessante e demonstra a preocupação do cineasta prosseguida em “Stella Dallas”(1937).
Para o grande público, o nome do diretor ficou gravado por espetáculos grandiosos como “Duelo ao Sol” (Duel in the Sun/1946), “Guerra e Paz”(War and Peace/1956) e “Salomão e a Rainha de Sabá”(1959). Vidor faleceu em 1982, aos 88 anos. Quando se fala em grandes nomes do cinema norte-americano geralmente o dele é omitido. Cita-se, quando muito, “Aleluia”(Halleluja/1929) um dos seus primeiros filmes sonoros e uma das raras abordagens sobre a cultura negra. Mas quem for assistir “A Turba” vai observar que o autor fez muito mais, foi um autor preocupado com a sua gente e seu tempo. Um mestre da cinematografia.


REGISTROS

Dennis Hopper ficou famoso ao dirigir “Easy Rider”(Sem Destino). Antes disso, foi coadjuvante de muitos filmes bem sucedidos nas bilheterias como “Assim Caminha a Humanidade”(Giant). O ator-cineasta faleceu esta semana vitimado por um câncer.

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Clint Eastwood completou 80 anos nesta 2ª feira. Começou a carreira de ator em “pontas” em filmes B, como “A Revanche do Monstro”(continuação de “O Monstro da Lagoa Negra”). Protagonizou tipos em faroeste de televisão, mas o sucesso só chegaria depois de um estágio na Itália, interpretando “wester-spaghetti” de Sergio Leone. De volta aos EUA encontrou um mentor em Don Siegel, na série “Dirty Harry”. Depois veio a chance de dirigir. E não parou mais. É um dos melhores cineastas norte-americanos na ativa. Um exemplo do “poder do idoso”.

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