segunda-feira, 28 de setembro de 2009

AMANTES








Tenho em conta que a forma de elaborar idéias se deva ao clássico pensar o argumento ou argumentos que se quer desenvolver. Entre a definição do dicionário (assunto, tema, enredo) e a do conhecimento científico (as posições de sujeito e objeto numa oração), no caso do cinema, argumento é a idéia trabalhada sobre a qual se desenvolverá, sequenciadamente, atos e ocorrências constitutivas do roteiro. Qualquer teórico dessa arte se reportará a esse elemento que faz parte do processo narrativo. Sem o qual não haverá nada ou haverá o vazio. Mesmo no surrealismo de Buñuel o argumento se faz presente como uma figura da linguagem, fragmentada, a qual o diretor irá se posicionar.
Posto isto, numa longa caminhada entre tratar do filme de forma a descrever-lhe o argumento e considerar as situações técnicas que favorecem a sintonia entre a interpretação pessoal e o significado particular do que esse filme quis evidenciar com a tecnologia especifica – seqüência, planos, enquadramentos etc. –, conclui-se que quem trabalha a palavra do ponto de vista de formular idéias sobre alguma coisa que estuda ou pratica (na ciência política, estudo recrutamento político; no cinema, a construção formal constituída da proposição do argumento sem que isso se torne o relevante, sob pena de estraçalhar o formato da escrita), tem que passar por essa fase da composição, sob pena de desfigurar o pensamento/idéia sobre o que é escrito, deixando de não abranger o leitor ou leitora (se o texto se externaliza).
Dessa forma, vejo um campo propicio para o olhar argumentativo e suas conseqüências de significados em “Amantes” (Two Lovers, EUA, 2008), de James Gray. Na classificação do gênero (hoje uma praxe qualitativa de mercado, cf. estudos sobre o sistema capitalista e suas formas de produção, na perspectiva marxista), o filme se acha na linha do drama (episódios em série, com efeitos complexos, complicados, tocantes). Personagens incorporam personagens, ou seja, atores e atrizes protagonizam os episódios dramáticos. Concentra-se em uma figura masculina e deriva para outras, no caso, em Leonard (Joaquin Phoenix). Mas o saber quem é essa figura e delinear seu tipo vêm ao longo da construção do roteiro que procura afinidades com o que quer evidenciar no tipo. Na primeira seqüência do filme, a câmera acompanha um homem andando numa ponte, que esboça um gesto de atirar-se dela, segue-o a queda do corpo na água, afundando-se, quase em afogamento, mas em certo momento retorna à superfície sendo auxiliado pelos que assistiam ao episodio. Estes afirmam que ele se atirou e ele desmente negando o ocorrido. É o primeiro indicio sobre a personalidade dessa figura que chega à sua casa molhado e, no olhar dos pais, não esconde a atitude, segundo a mãe (Isabella Rossellini) em dialogo com o marido, dando a conhecer, para o espectador, de que é a segunda tentativa de suicídio do filho. Desse ponto em diante pode-se captar recursos para a composição do conteúdo, ou criar o perfil daquela figura masculina. Ele vive com os pais, da classe média do Brooklyn, imigrantes judaicos, conhece Sandra (Vinessa Shaw) em um jantar em sua casa com os pais dela que tendem a fechar negócios comerciais. Estes estimulam a aproximação entre os dois jovens, uma oportunidade para a concretização da parceria financeira. Enquanto Sandra se interessa por Leonard, este não sugestiona reciprocidade, mas “faz o jogo” familiar. Não se tem sobre ele – esse é um elemento criativo de Grey – uma definição de personalidade. Mostra-se em dubiedade em muitas coisas, ou não estimula o espectador a defini-lo imediatamente.
O encontro entre Leonard e Michelle (Gwyneth Paltrow), uma vizinha do edifico em que mora, trás, de imediato, uma euforia afetiva ao rapaz que se sente atraído por ela. A dúvida entre a realidade de um evento amoroso com Sandra e o sentimento que passa a sentir por Michelle transforma o itinerário existencial do jovem. Entre a convivência mais próxima com a vizinha, as nuances de uma incógnita da personalidade dela e as evidências da vida afetiva anterior na qual esta se envolve, são passos que reorganizam o espírito de bipolaridade do apaixonado Leonard.
O eixo focal foi estabelecido em, pelo menos, três seqüências e deu oportunidade de traçar alguns comentários sobre o entrelaçamento de Leonard e suas atitudes. Não usando o aspecto psicológico para essas evidências, mas entendendo o re-processar existencial do jovem.

O encontro entre Leonard e Michelle (Gwyneth Paltrow), uma vizinha do edifico em que mora, trás, de imediato, uma euforia afetiva ao rapaz que se sente atraído por ela. A dúvida entre a realidade de um evento amoroso com Sandra e o sentimento que passa a sentir por Michelle transforma o itinerário existencial do jovem. Entre a convivência mais próxima com a vizinha, as nuances de uma incógnita da personalidade dela e as evidências da vida afetiva anterior na qual esta se envolve, são passos que reorganizam o espírito de bipolaridade do apaixonado Leonard.
O eixo focal foi estabelecido em, pelo menos, três seqüências e deu oportunidade de traçar alguns comentários sobre o entrelaçamento de Leonard e suas atitudes. Não usando o aspecto psicológico para essas evidências, mas entendendo o re-processar existencial do jovem.
Se ambíguo ao tomar decisões sem remédio para a estabilidade emocional e agir impensado, com Sandra, no primeiro momento, Leonard (Joaquin Phoenix) recorre ao estabelecido (status quo) considerando a afinidade que ela lhe trouxe num primeiro diálogo que mantiveram na casa dele. Mas a jovem não é tratada pela câmera como esta o faz sobre Leonard, portanto, é na atitude masculina em relação às representações do feminino que será mantido esse foco. Das celebrações em que ambos se encontram, à conversa de “homem para homem” entre Leonard e o pai dela, à hora da sexualidade que eles convivem à socapa, o espectador está mais tendente a ver o que faz Leonard e não se toca muito no tipo dela. Esse enfoque, a meu ver, fortalece a visão tradicional da subserviência feminina, sem deixar de mostrar o sentimento que a jovem dedica ao personagem-centro. Nem ninguém espera que chegue a tanto, pois o “véu iluminador” sobre ela está composto na normalidade da submissão entre os gêneros. E se no final, o abraço entre os dois que afeta a cena, por suposto, elimina o dilema sobre a atitude tomada por Leonard pela estabilidade emocional, o complicador é que um rápido enfoque, quando ele arruma às pressas a mala para viajar com Michelle a São Francisco, mostra-o em dúvida se leva ou não o frasco do remédio antidepressivo e, no final, evidencia-se a decisão de levar consigo a “proteção” aos seus males de decepcionado com a vida. A câmera adota um percurso final libertador para Leonard seguindo para a recepção em sua casa, em meio aos convivas onde encontra aquele “refugio salvador” no abraço de Sandra. Levar para casa a dúvida sobre esse momento é o grande insight do diretor.
Em relação á Michelle, os orgasmos tanto espirituais quanto orgânicos que passa a sentir por ela e com ela, também dão a Leonard a supremacia nas seqüências. Nesta figura feminina está mais trabalhado o tipo. Sedutora pela beleza, pelos gestos e anatomia corporal, afeta a capacidade emocional do rapaz. Na cena de sexo entre os dois, desde o ambiente onde esta é construída – lugar (terraço do prédio); temperatura (frio de gelar), cores (cinza sobre azul), aos encontros iniciais entre eles, a ordem de reconhecimento da pessoa que estremeceu o coração/mente é dele. A fragilidade com que a jovem é vista, estilhaça-se para os demais contornos do arquétipo feminino tradicional. Ele agora é poderoso, pode conseguir a re-composição pessoal dela (deixar de ser toxicômana), tratar dela, supor que será o preferido e não o “outro” do afeto dela, sobrepor-se à pessoa que foge aos padrões tradicionais porque é casado. Há o fato de se sentirem próximos pela afinidade emocional, destroços humanos se amando. Mas é sobre Leonard que será contada a trama de mais uma decepção. A cidade de São Francisco não os verá como imaginam. A volta para casa depois de uma quase tomada de decisão mórbida não diz, contudo, o que se seguirá. O abraço entre Sandra que agora vai “cuidar dele” de forma canônica, ao olhar da mãe que mais uma vez o recebe com sempre, um olhar de grande afeto, calculando o imprescindível e o tocante para o filho, tendem a ser uma re-novação.
Fluência, equilíbrio, definição de tensões sem mostrá-las resolvidas, são os pontos-chave que qualificam o cinema de Grey num excelente filme.
Cotação:*****




sábado, 26 de setembro de 2009

SINÉDOQUE CINEMA




Pedro Veriano dedica o seu espaço


ao filme “Sinédoque Nova York”


que pode ser visto hoje (sábado) e amanhã (domingo)


no Cine Estação


atendendo ao pedido dos


nossos críticos cinematográficos. (LMA).





A canção “That’s Entertainment” de Arthur Schwartz e Howard Deitz,


uma espécie de hino do “show business”, lançada em 1931, na Broadway, tem versos que registram a vida como se passada num palco, com alegrias e tristezas vistas na ótica da diversão. No filme “Sinédoque Nova York” de Charlie Kaufman, a base do hino está preservada no enfoque de um diretor de teatro que deseja colocar no palco os seus grilos, ou melhor, a sua vida íntima, levando a sinédoque do próprio teatro, ou seja, colocar no espaço cênico tudo o que passa pela mente de um autor. É por essa tentativa de devassa na mente


que em Cannes trataram o filme como o “Oito e Meio” do roteirista de “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (o meu filme preferido dentre os bons que este cineasta escreveu). Mas Kaufann respondeu aos jornalistas que nunca havia visto o glossário afetivo de Fellini. As inspirações se tocam simplesmente porque a escolha de se tratar de emoções, no caso, é a cena, a representação, o que vale dizer o teatro como o cinema.
O filme se divide em pelo menos duas partes. A primeira é pé no chão, com o herói, chamado Cotard a lembrar a síndrome do “morto vivo”(o paciente do dr.Cotard que se achava morto), despertando e sendo acercado pelos familiares, no caso a mulher e a filha de quatro anos. Em poucos planos se sabe que esse herói é hipocondríaco, e a fobia expande-se à primogênita. A segunda parte começa quando ele recebe um prêmio em dinheiro por uma peça “retrô” (e aí vai a afirmativa de que o público não adere aos devaneios que transformam velhas linguagens seja no palco seja na tela) e decide encenar a sua pessoa, o que pensa, o que sente, o que sonha.
Numa conversa com o elenco ele expande logo a sua inquietação para com a morte. “- Todos vocês vão morrer”. Mas ressalta: “Por enquanto estão vivos”. Então se sabe que a peça tratará da inexorabilidade do fim. Como Woody Allen mostra em muitos de seus filmes. Nesse capitulo começa um redemoinho de seqüências que deixa o espectador com dificuldade de tomar pé em uma única sessão. Tempo e espaço se mesclam e não há pontuação para com os planos do mundo real e do imaginário que por sua vez pode ser a imaginação de um texto como pode ser um ensaio geral.
Sabe-se que a mulher de Cotard o deixa e leva a filha. Sabe-se que ela é pintora e faz quadros minúsculos, a serem observados com lentes. Cabe uma explicação temática: ela seria demasiadamente minuciosa da sua realidade. Impossível aturar um hipocondríaco. E sabe-se, por seu relacionamento com uma amiga, que é homossexual. Sabe-se também que Cotard busca a vida, ou melhor, a sua atividade fisiológica, em outras mulheres. Não se trata de amor, se trata de uma busca para continuar vivendo.A bilheteira do teatro, Hazel, é a primeira. O sexo não funciona a contento, e os encontros não marcam continuidade. Surge Claire, uma jovem atriz, como surge a psicóloga Madeleine, pintada como uma ninfomana, ou tendente a isso (mais uma caricatura da especialidade médica). Nada satisfaz como o tempo parece acelerar rugas e cãs. Vê-se Cotard envelhecido, mas ainda capaz de trabalhar no teatro. Ainda não é um morto-vivo, mas sente dificuldade até de achar atores que façam seus conhecidos, até mesmo que faça o seu papel. Entrementes, ou no meio do turbilhão de imagens soltas, surgem planos das mortes do pai e da mãe. Mais morte será a de um artista que não se vê da mesma forma, ou no mesmo tom de realidade cinematográfica. Nesse caso há um caixão na própria cena, no próprio palco, e aí a união teatro-cinema, ou delírio e consciência se fundem de vez.
A técnica de Charlie Kaufman segue aqueles lances de memória de “Brilho Eterno...” que transmudam realidades. No filme anterior, os enamorados testam-se num tratamento que os faz esquecer o tempo em que viveram juntos. Mas se amor é amor, um passando pelo outro no desconhecimento imposto pela terapia, surge uma fagulha que pode levar a um incêndio. Da mesma forma detalhes da peça de Cotard jogam-no para um passado que ele queria que fosse outro, ou que continuasse de outra forma. Mas se a peça ainda não foi encenada, a vida foi. E é melancólico constatar que o sofrimento pode ser visto como diversão (that’s entertainment).
Quando eu vi o filme pela primeira vez fiquei meio perdido no carrossel afetivo do personagem, mas senti medo quando um ator da peça a ser peça “conta” o que se quer fazer. Pensei que o excelente roteirista, e agora também diretor, estava demonstrando insegurança no que disse , ou mostrou, e resolveu dar uma colher de chá para a platéia explicando o que se viu. Felizmente errei, O filme não terminou aí.Volta ao labirinto e só minutos depois, Cotard, bem velho, deita a cabeça no colo de Hazel, não tão velha, e a imagem vai clareando até desaparecer (fade-in). Mais uma vez fui driblado, pois imaginava que o fecho seria o pano caindo, a revelação de que tudo era um teatro, tudo era a peça se moldando para uma estréia futura. Felizmente o cinema pede passagem. Não poderia, no palco, se ver expressões de perto, movimentos que desviam o olhar de forma especifica, deixando que só se veja um detalhe de plano e sem o recurso que poderia se usar no teatro de luzes apagadas e um spot em cima de uma figura. Por aí cinema e teatro largam as mãos que estiveram dadas. O filme é dos dois. Philip Seymour Hoffman, o melhor ator de língua inglesa desde Charles Laughton e Laurence Olivier, traça bem esta simbiose, fazendo crer num personagem que não se mostra linearmente, que não se conhece de aspecto além de uma abertura bem humorada (a constatação da hipocondríaca lembra aquele ditado de que é comum se rir da desgraça alheia). E não se diga que os coadjuvantes gaguejam. Kaufman mostra-se um bom diretor. Se quiserem mais do ritmo do filme que façam outro. Se a narrativa é labiríntica a vida não é menos. E o cinema que se aventura a dissertar a vida incorre num desafio à sua capacidade. Muitos tropeçam nisso aí. Charlie escapou. Palmas no acender das luzes. (Pedro Veriano)






sexta-feira, 25 de setembro de 2009

“AMANTES” E “SINÉDOQUE”





São três as estréias do final de semana no circuito exibidor de Belém: “Amantes”, o novo filme do cineasta James Gray; “Pacto Secreto”, um terror de nomes pouco conhecidos do grande público e “Delicia Paloma”, produção franco-argelina.
Na área extra a boa nova é mais exibições de “Sinédoque, Nova York” no Cine Estação. Confirma-se a exibição, no domingo, de “A Canção de Bernadette”, na Sessão Cinemateca do Olympia (às 16 h). Na 2ª feira, no auditório do IAP ( Cine Clube Alexandrino Moreira), “O Criado”, titulo escolhido para homenagear o diretor Joseph Losey que faria 100 anos neste 2009.
Dentre as continuações, alem do excelente “Up, Altas Aventuras” que permanece em cartaz nas salas dos dois shoppings (Pátio e Castanheira) salienta-se o filme nacional “Apenas o Fim”, programado para a sessão Moviecom Arte, mas exibido em horário diferente, em virtude do sucesso de “De Repente Califórnia”, há três semanas no espaço referido.

“Amantes”(Tho Lovers/EUA,2008) é o quarto filme de longa-metragem de James Gray, diretor que se impôs diante da critica com filmes que mereceram prêmios internacionais como “Os Donos da Noite”(We Own The Nuight) e “Caminho sem Volta”(The Yards). Trabalhando em um roteiro próprio e de Richard Manello, Gray aborda o solitário Leonard Kraditor (Joaquin Phoenix), filho de imigrantes judeus que se ressente, emocionalmente, do abandono de sua noiva. Pensa em suicídio, mas conhece duas mulheres: Sandra (Vinessa Shaw), filha de amigos de seu pai, e Michelle (Gwynett Paltrow), um temperamento todo especial, à deriva de uma neurose por namorar um homem casado, sendo Leonard seu confidente. Sarah quer salvar o rapaz de sua crise existencial. Fica o dilema: Leonard deve desprezar Sarah pela confiança que Michelle lhe deposita?
O filme é do tipo que requer um tratamento delicado para fugir do lugar-comum e adentrar pelo difícil caminho da introspecção e, segundo a crítica mundial, James Gray conseguiu superar o desafio. Candidato a vários prêmios, incluindo Cannes, o filme ganhou um verdadeiro fã clube. Gray teria conseguido chegar ao patamar que chegou David Lean em “Desencanto”. Uma quase unanimidade de elogios (só uma critica contrária em um banco de dados) é, possivelmente, um dos bons programas deste ano. As sessões serão apenas à noite, numa das salas do shopping Pátio.

“Pacto Secreto”(Sonority Row/EUA,2009) é quase uma cópia de “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” (I Know What You Did Last Summer, EUA, 1997). O enfoque também é para estudantes que matam uma pessoa e procuram esquecer o assunto. Cinco anos depois, já formados, o fato vem à tona e surge um “serial killer”. O filme recebeu unanimidade negativa dos críticos norte-americanos, o que é difícil de ver. O diretor, Stewart Hendler, tem mais cinco títulos no currículo. Do elenco surpreende a presença de Carrie Fisher em papel muito pequeno.

“Delicia Paloma” (Délice Paloma/França/Argélia, 2007) trata de uma cafetina especializada em armar escândalos para extrair flagrantes e com isso, ganhar sua comissão. Certa vez, é contratada por uma esposa que se diz desprezada, arma o encontro amoroso do marido com uma garota, documenta a cena através de fotos que condenam o marido ao pagamento. O negocio rentável se desintegra quando o filho da cafetina se apaixona por uma das jovens “estrelas” da mãe. E todos os planos desta são descobertos levando-a à prisão. Um filme curioso e bem realizado por Nadir Moknèche. No Cine Olympia, a partir de 3ª feira.

“Sinédoque, Nova York” (Sinedoche New Yorl/EUA, 2008) é um dos melhores filmes deste ano. O primeiro dirigido por Charles Kaufman, roteirista de “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”. As sessões são: sábado (26), às 18h e 20h30; e domingo (27), às 10, 18h e 20h30. Filme imperdível, já comentado neste espaço.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

POVOADO NÚMERO UM




Há pouco foi exibido em Belém o filme “Wesh Wesh, O Que Foi ?” (Wesh Wesh, Qu’est-ce qui Passe ?/França, 2001) de Rabah Ameur-Zaimêche. Por coincidência agora, na mesma sala (Cine Olympia) vai ser exibido “Povoado Número Um” (Bled Number One/França, 2006), do mesmo diretor, que interpreta o principal papel nos dois filmes, na mesma personagem. O francês Kamel, preso por tráfico em Paris e banido para a terra de seus ancestrais, a Argélia, onde vive durante cinco anos. O primeiro filme apresentava Kamel chegando à capital francesa, sendo recebido festivamente por sua família, mas logo envolto novamente no tráfego porque não conseguir emprego. Em “Povoado Número Um”, embora tenha sido um filme posterior, o argumento regride e trata de Kamel chegando a Argel. O objetivo é claramente um documentário etnográfico, focalizando pessoas e costumes do lugar. O roteiro logo abandona o personagem para se inserir em tipos e situações de um cotidiano onde emerge a cultura patriarcal disseminada, com as relações sociais entre os gêneros sendo mostradas de forma diferenciada e preconceituosa. A exemplo, numa matança de boi, ritual extremamente violento, as mulheres terão que levar sua parte do animal para não fazer refeições ao lado do homem (“é pecado”, diz uma pessoa). Um crime como o furto é punido radicalmente com a morte do réu. Filmado em locação com a câmera sempre manual (possivelmente uma digital), o teor documental salta em primeiríssimo plano. Falas, posturas e canções argelinas estão em foco. E é interessante ver diversificações entre regiões, com as mulheres deste espaço trajando apenas o véu na cabeça, longe da “burka” usada em países como o Afeganistão. Há um episódio familiar que mostra, contudo, a sujeição de uma filha que é punida pela mãe e irmão por ter abandonado o marido que a submete a maus tratos. O cinema de Rabah Ameur-Zaimêche foi saudado em festivais famosos como Cannes e Berlim. Ele foi considerado a revelação jovem destes primeiros anos do século XXI. Fiel a seu povo e sua cultura consegue captar o que conhece como herança posto que é residente em Paris e faz cinema nos estúdios franceses. O seu trabalho, no entanto, não é solitário no panorama cinematográfico da África do Norte. Mesmo longe dos grandes centros exibidores nós vimos em Belém filmes do tunisiano Abdel Kechiche: “A Esquiva”(L’Esquive/2003) e “O Segredo do Grão” (La Graine et le Mullet”/2007). Através da França estes filmes de povos distantes alcançam países como o Brasil graças ao respaldo dados pelas mostras internacionais de onde, geralmente, saem com prêmios.“Povoado Número Um” estará em cartaz no Cine Olympia a partir desta 3ª feira.

Cotação: *** (Bom)



segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O DVD FAZ A FESTA




O DVD prossegue à frente dos cinemas comerciais especialmente em uma cidade como Belém. Há filmes até mesmo antigos que não foram lançados nas salas exibidoras da cidade, mesmo as que abrigam títulos especiais.
“O Lobo da Estepe” (Steppenwolf/Suíça, EUA, Ingl, França e Itália, 1974) é uma versão quase literal do livro do autor de “Siddartha”, Herman Hess. Para quem leu, parecia impossível filmar o texto, mas o diretor Fred Haines topou o desafio usando diálogos da obra e apelando para uma edição em que o tom surrealista se faz presente. Encabeçando o elenco estão Max Von Sidow, Dominique Sanda (a bela atriz de “O Conformista”) e Pierre Clementi. Todos em papéis difíceis que tentam dar uma dimensão que se coadune com os devaneios narrados pelo escritor. Naturalmente não foi realizada uma obra satisfatória, apenas mostrou-se o quanto o cinema pode avançar em alguns espaços da literatura, o que não quer dizer que é possível reinventar textos (e o que é melhor) a partir do que está escrito. Um bom exemplo do limite entre duas artes.
“Ano Um” (Anno Uno/Itália, 1974) é um dos últimos trabalhos de Roberto Rosselini, o criador do movimento neo-realista italiano. Produção para a RAI (Rádio e Televisão Italiana) aborda a política do país após a 2ª.Guerra Mundial, evidenciando a forma de organização da democracia depois de anos de ditadura fascista. Alguns detalhes certamente parecerão estranhos para o espectador de outros países, mas não resta duvida que o filme refaz a história e com isso cede espaço a quem se interessa por ela.
“A Bela Junie” (La Belle Persone/ França,2007) é mais um trabalho do cineasta Christophe Honoré (de “Em Paris” e “Canções de Amor”). O roteiro, do próprio diretor, transpõe o romance “Princesa de Cléves” de Madame de La Fayette, escrito no século XVII para os tempos modernos, especificamente para o meio acadêmico de Paris. É assim que a estudante Junie ( Lea Seydoux) é alvo das atenções do colega Otto (Grégoire Leprince Ringuet) e do professor de italiano Nemours (Louis Garret). Quando Otto supõe que está sendo traído, ela diz-se ofendida e ele, angustiado, se suicida. O assédio do professor é protelado, com a jovem embarcando para longe da capital francesa. Como nos outros filmes, o cineasta elege a cidade como personagem, detalhando praças e ruas, colocando a ação no cenário (em termos teatrais) especifico.
Uma raridade é a comédia portuguesa “O Grande Elias” (1950) de Arthur Duarte. O argumento lembra as comédias que chegavam aos teatros brasileiros nessa época (e algumas chanchadas onde o enredo sobrepujava a parte musical). Trata de uma família destroçada, com o patriarca separado da esposa, perdendo fortunas no jogo. Recebe a informação de que uma tira rica (irmã do patriarca) vai chegar do Brasil. Esta supõe que seus familiares moram em um palácio e que possuem vários filhos pois manda dinheiro para cada um. Quem se oferece para salvar as aparências é Elias (o comediante Antonio Silva) que não só arranja um palacete que está sendo leiloado como se faz de mordomo. Ocorre que a visitante quer passar mais tempo em Lisboa e os “filhos”, que na verdade restringem–se à uma filha, são obrigados a aparecer...
Direção teatral e edição quase amadorística dão o tom que caracteriza um tempo e um tipo de cinema.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

Duplicidade
Anjos e Demônios
17 Outra Vez
Watchmen - O Filme
B13-U - 13º Distrito - Ultimato
Budapeste
Hannah Montana - O Filme
Heróis
Divã
Sede de Vingança





sábado, 19 de setembro de 2009

CHAMEM CHAPEUZINHO VERMELHO!





Nesta seçao, aos sábados, Pedro Veriano


tem "cativa" a sua "janela" (apesar de já ter o seu espaço virtual- Blog do Veriano). Mas nosso companheirismo é isso. Que a turma que gosta de seu estilo sinta o peso de sua contrariedade com as ocorrências no "cinema extra" (LMA).




O meu artigo sobre os males do projetor do Centur deu a explosão esperada na Internet. Esqueci de dizer que o Carlos Lobo praticamente montou o tal projetor. É um filho dele. E o Lobo nunca teve vocação para “mau”. Nem conhece Chapeuzinho Vermelho.
Mas em meio aos que apoiaram o meu texto surgiu quem aproveitasse a dica para exprimir jurássicas idéias sobre luta de classes. Sim, pois os críticos de cinema da comunidade, digo os mais velhos, são tidos com burgueses malditos apoiados pela mídia comandada pela mesma estirpe. Para essa turma, o problema não é só a manutenção dos projetores, escassez de programas no Estação, exibição de DVD no Olympia, enfim, o que está na pauta para se tratar e com isso prosseguir. Lembro Lampedusa que disse pelo príncipe ameaçado pelos garibaldinos: “-É preciso mudar para continuar como está”.
Sinceramente eu gostaria de ver os reclamantes de hoje à testa dos projetos de produção e exibição cinematográfica regional. Queria aplaudir a chegada de novas e profícuas idéias, de mais exibições de filmes independentes sem qualquer liame com a Hollywood dos “astros e estrelas” (and Oscar), de estudos teóricos sobre cinema ao invés de textos breves nas páginas de jornal ou blog. Queria ver até que ponto essa novidade diferiria das investidas de colegas de antanho, também advogados de mudanças a lembrar aquele personagem de “Les Belles de la Nuit” de René Clair que pedia reformas em todas as eras da história humana, mesmo na Idade da Pedra.
Seria muito interessante uma inversão de papéis e os críticos dos críticos passarem a ganhar o espaço que desejam.
Acho Belém ainda pequena para abrigar dissonâncias na área da produção cultural de forma, ouso dizer, beligerante. O melhor seria todos unidos por um ideal. O melhor seria enterrar ambições e modular reclamos com sugestões construtivas.
Mas às vezes esqueço que abriram a caixa de Pandora.
O problema das exibições alternativas existia e existe. Penso que se deve resolvê-lo e não aproveitá-lo para exibir rancores. Se os críticos fossem todo-poderosos como se quer ver, não estariam reclamando ao invés de acelerar seu prestigio com o reparo do que está escangalhado. O critico poderia saber que diabos é lâmpada excitadora, cruz de malta, tambores dentados, transformador de saída, tripas e coração das máquinas. E medicá-las a contento. Mas os críticos preferem contar o estado critico das coisas. São sentinelas do que gostam, do amor que devotam ao cinema. E amar cinema não é restringir esse amor a filmes de qualquer esquina do mundo. É paixão que vem de longe, que resiste aos verdadeiros lobos maus.
OK, o critico pode usar chapeuzinho vermelho. Melhor: chapeuzinho verde, a cor da esperança. (Pedro Veriano).








quarta-feira, 16 de setembro de 2009

AINDA “UP”





Poucos filmes, este ano, reservam tanto ao espectador de todas as idades como “Up, Altas Aventuras”(Up/EUA,2009), a animação dos estúdios PIXAR ora em cartaz. A iniciar pelo curta-metragem que o acompanha, “Party Cloudy” ou “Festa da Penumbra”. Trata de cegonhas trazendo os nenês, como na velha lenda ocidental, mas agora pegando as “encomendas” nas nuvens. Há nuvens especializadas em bebês humanos, como há em macacos, gatos, cachorros, todos os mamíferos conhecidos, chegando a uma especial, no caso uma “cumulus nimbus”, que porta jacarés, tigres, enfim, os bichos carnívoros que apavoram especialmente as crianças, afinal a platéia para esse tipo de história.
Uma cegonha, especialmente, sofre maus momentos nas mãos, ou garras, dos filhotes encomendados e postados pela nuvem escura. Mas não se apavora nem se deixa intimidar. Assim como se recupera das garras de seus “pacotes” também dá ânimo à nuvem, que poderia ficar como vilã da história carregando o preconceito de ser negra. Ela ganha espaço para a alegria, no fim de uma jornada de trabalho em que chega a produzir chuvas e trovoadas. Criativo e espirituoso o curta é um dos bons trabalhos dos desenhistas.
Quanto a “Up”, concebido para ser lançado em 3D, com cópias especificas estreadas nos cinemas norte-americanos, o filme não sucumbe à idéia da técnica e pode muito bem ser visto da forma que está sendo exibida entre nós. Simplesmente porque o desenho não é só um prodígio da computação gráfica. Tem conteúdo, sendo este não uma ingênua moral de fábula como se pode supor se visto na superfície.
Primeiramente vê-se a obvia idéia de que um sonho deve ser sonhado até que se possa realizá-lo. Lembro de “A Gata Borralheira” (Cinderella), uma das melhores animações em longa-metragem da Disney, quando a jovem heroína, depois de cantar sobre o seu sonho, diz aos amiguinhos animais: “-Vocês querem que eu conte (o que sonhei)? Não conto. Pois se contar, não se realiza”. E o sonho da jovem é aquele de viver um romance palaciano que acaba vivendo por conta de sua fada madrinha.
No caso de “Up”, o modesto produtor de balões Carl Friedericksen, sonha ao lado da esposa Ellie com uma viagem às cataratas sul-americanas que um dia viram em uma publicação turística. Para realizar esse intento eles economizam, mas as dificuldades do cotidiano sempre adiam o projeto. Sobra para Carl sozinho, transformado em um viúvo amargo (cujo perfil em desenho de cara quadrada, segundo o diretor criativo da Disney, John Lesseter, “exterioriza o que o personagem sente por dentro”), decidir voar para o espaço desejado através do engenhoso processo de usar seus balões de gás para levitar a velha casa onde sempre morou, mas agora em vias de ser derrubada pelas mudanças urbanas que a circundam.
Encontrando o escoteiro Russel, o velho Friedericksen compartilha a sua aventura com a juventude. Um ajuda o outro, deixando o recado de que é salutar a convivência entre idades dispares. Mas não fica por aí o conteúdo do filme. O mito do herói cai por terra quando eles descobrem que o explorador Charles Muntz, adorado por Friedericksen quando adolescente, é o vilão que mora na selva, querendo por força capturar um animal pré-histórico mesmo que esse animal, seja criatura dócil e que deva ser defendida ao invés de transformada em troféu para exibição em museu.
Também recicla a imagem do velho ranzinza que Lesseter lembrou nos tipos encarnados no cinema por atores como Walter Matthau, James Whitmore e mesmo Spencer Tracy. É uma reciclagem dessas personas, revelando no viúvo aventureiro, capaz de proezas mirabolantes para salvar seu amiguinho e as novas personagens que encontra em sua viagem como a ave cobiçada por Muntz e um cão falante que a ele se associa a lembrar o Pluto da fauna Disney.
Mas o que me emocionou bastante foi a constatação escrita no álbum de Ellie, a sempre lembrada amada e companheira de Friedericksen que ao construir uma trajetória futura a percorrer, escreve “O que eu vou fazer” deixa fotos da vida com o marido, desde o tempo de namoro. Ela reafirma que a maior aventura é a vida vivida. Um casal que se ama e se ajuda em tantos anos participa de uma grande aventura, sujeita a perigos, surpresas, tristezas e alegrias.
Um filme que toca as emoções, realçando, ainda, o que disse Lasseter citando Walt Disney: “O segredo de qualquer filme de animação está na historia e não nos métodos para contá-la”. E ainda: “Para cada risada deve haver uma lágrima... o coração é que importa”.
Vejam o filme de coração e mente abertos, pois muito se aprende com ele. Inclusive a visão dos direitos humanos, os quais todos tratam, mas ninguém vive.
Cinema não é só a racionalidade estética. É a arte sensibilizando e extraindo emoções.
REGISTRO
O desabafo de Pedro Veriano neste blog sobre a situação precária dos espaços de cinema extra
está correndo na Internet.
É importante avaliar sua preocupação e a de todos os que pensam
seriamente a exibição de filmes em Belém, filmes que
uma parte da nova geração não assistiu ainda. Nossa preocupação
não está calcada em dissabores pelo lugar que cada um conseguiu no
espaço de cinema em qualquer lugar.
Tende a ser mais pelo resultado de toda
uma história de vida para construir as alternativas deixando lugar
para os que ainda vem ou estão com seus ideais em outra sintonia.
Não competimos com ninguém, nem recebemos provocação.
Estamos para construir.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

OPÇÕES VARIADAS EM DVD




Não chegaram aos cinemas locais, embora anunciados fartamente,

“Os Delírios de Consumo de Becky Bloom” e “Tinha Que Ser Você’. O primeiro filme é uma comédia nem tanto romântica como se produz aos montes atualmente, mas seguindo a linha de “O Diabo Veste Prada” na observação da sociedade de consumo, sem o assédio moral.
Becky Bloom é uma postulante a emprego numa revista especializada em moda, afinal “a sua praia”. É aprovada numa entrevista para trabalhar noutra publicação, esta dedicada à economia (ciência que não lhe diz respeito). O chefe é um rapaz que se mostra atencioso e acaba sendo, como é fácil de prever, o seu namorado. O curioso é que Becky dá certo no posto com a sua experiência de consumista inveterada (ela chega a se matricular numa terapia conjunta para se livrar da compulsão de fazer compras, mesmo que não precise da maioria dos artigos que adquire).
Uma critica ao mercado, ao uso prático dos cartões de crédito e ao aparato que cerca a observação dessas situações. Direção não necessariamente inspirada do australiano O.J.Hogan (“O Casamento de Muriel” e “O Casamento do Meu Melhor Amigo”). Boa chance para a atriz Islã Fisher.
“Tinha Que Ser Você” (titulo apelativo para “Last Chance Harvey”(A Última Chance de Harvey) apresenta Dustin Hoffman como um executivo norte-americano que viaja para Londres com o objetivo de assistir ao casamento da filha (ele é separado da esposa há muitos anos). Na capital inglesa ele se depara com um cenário que por um lado lhe é constrangedor (até o comportamento da noiva não lhe parece festivo) e, por outro lado,com a chance de refazer a vida afetiva em um romance com uma funcionária de uma empresa que trabalha no aeroporto (Emma Thompson). Pelos atores o filme é muito agradável de ver. Os dois mostram-se muito à vontade em papéis dignos de seus talentos. A direção é de Joel Hopkins também autor do roteiro original.
Deixei de assistir no circuito exibidor e vi agora em DVD “Alma Perdida”(The Unborn), “terror” que se assemelha a um glossário do gênero, amealhando os diversos clichês que a industria têm apresentado desde 30 anos atrás. O roteiro trata de uma jovem que seria gêmea de um menino, morto antes de nascer. Ela começa a perceber que uma criança lhe persegue, e acaba por descobrir que o irmão não nascido “quer nascer agora”, mas, além dele, uma outra entidade se aproveita da situação, sendo evocada e combatida numa sessão de exorcismo. Direção e roteiro de David S. Goyer.
Inédito e curioso é “Uma Cilada de Mestre”(Under Still Water), filme norte-americano independente que trata de um casal supostamente muito unido mas que se revela de outra forma a partir do encontro com um homem que pensam ter atropelado na estrada. O clima de suspense é conseguido de forma pouco comum: tudo o que se pensa que vai acontecer não acontece. É desses títulos que dribla os detetives da platéia. Direção de roteiro de Carolyn Miller.
Em “O Milagre em Sant”Anna”, o diretor Spike Lee mostra um pelotão negro a serviço do exército norte-americano na Itália durante a 2ª. Guerra Mundial. O roteiro evoca o preconceito que seguia essa falange militar, chegando a se ouvir um oficial dizer que “era um grupo experimental”, pedido pela Sra. Roosevelt. O papel desses rapazes é bem focalizado numa linguagem linear. Mas sem brilho. Não se vê nada de novo no gênero “guerra” além da questão étnica. Lee já fez muitas coisas melhores.


DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

Anjos e Demônios
Hannah Montana - O Filme
Watchmen - O Filme
Heróis
Férias Frustradas de Verão
Pacto de Sangue
Divã
Uma Noite no Museu 2
Recém-Chegada
A Partida


CINEMA ALTERNATIVO EM PERIGO



No seu espaço semanal Pedro Veriano

trata da manutenção das salas de cinema

regidas pelo poder publico em Belém do Pará.

É um tema sério e oportuno que deve ser

levado em conta por quem trata

diretamente do assunto, (LMA)



Sábado passado fui ao Cine Libero Luxardo(Centur) desejoso de ver o filme premiado (e de estréia) ao ator-cineasta Matheus Natchergaele: “A Festa da Menina Morta”. Quando ia entrando com o meu querido fusca na garagem do prédio um funcionário, delicadamente, perguntou-me se eu ia para o cinema. Disse que sim. E ele disse que não. O cinema estava suspenso por conta de um desarranjo no projetor. Não é a primeira vez que isto acontece. Penso que no meu caso é a terceira. O cinema alternativo, especialmente o que á alimentado pelo poder publico, é de extrema fragilidade.Quando poderia ser o contrário: o mais forte, ganhando gordura com o subsidio.

Soube depois do que estava (ou está) acontecendo. O projetor do Libero, um dos melhores de Belém, está precisando de manutenção. Pequenos estremecimentos indicam que a máquina pode quebrar a qualquer momento. Peças como a cruz de malta indicam o fim do aparelho, pois são tão caras que pedem um novo. A melhor opção é parar antes que tudo se acabe.

E agora a parte tragicômica da historia: o Centur tinha, no meu tempo de programador do cinema de lá, um senhor técnico: o Carlos Lobo.Ele se formou ali, aprendendo num projetor ruim, colocado no espaço não se sabe como, pois até o Secretário de Cultura da época, Acyr Castro, espantou-se quando foi visitar o esqueleto do cinema (ia ser inaugurado dentro em breve) e deparou com a maquinaria em fase de instalação. Manejar esse “Hercules” (nome do projetor) era, de fato, uma tarefa hercúlea. Mas o Carlos dava conta. E deu, depois,com as mudanças para melhor. Hoje conhecia a cabine da sala como sua própria casa. Não precisava ir buscar técnico na conchichina para endireitar um pequeno defeito. Acontece que o Carlos não fez concurso para funcionário (sua categoria não existe em editais) e, como interino, saiu da folha de pagamento da instituição. Contratá-lo por serviços prestados seria a formula. E assim foi feito até recentemente. Agora não tem disso. Não se paga mais uma pessoa que saiba tratar de projetores. Eles que se lixem.

E aí? Como vai ficar o Libero?

Do lado da Prefeitura (o Centur é por conta do governo do Estado), há outro prisma surrealista. O senhor prefeito não quer que se cobre ingresso do cinema Olympia, a casa quase centenária que ele, justiça seja feita, salvou da vontade do dono do prédio (ainda esperando ser tombado) em tirá-la do mapa. Mas se o salão serve para “n” coisas, a parte de cinema fica devendo ao DVD projetado e aos filmes de embaixadas que cedam cópias em 35 mm. Com outro agravante: essas cópias, obviamente, chegam do sul por via área. Carecem de pagamento de frete. E a PMB não paga isso. Então quem paga? Por outro lado, o “datashow” ou projetor de DVD, é muito precário (estava no Memorial dos Povos). Para o espaço seria necessário um que tenha no mínimo 6 a 8 mil lumens (brilho). O que projeta discos, atualmente, deixa sombras na telona, exigindo que se exiba preferencialmente títulos em preto e branco, pois o colorido esmaece de tal forma que se vê apenas...fantasmas.

O Olympia podia ter uma renda (com ingresso como o Libero, a 5 reais, e além disso, bomboniére terceirizada, que desse uma ajuda à boa vontade do prefeito). De graça precisa de verba para manter uma boa programação.

O Cine Estação, que é também do Estado, passou a fazer apenas um programa de cinema por mês no Teatro Maria Sylvia Nunes. Antes eram 3 programas. Uma pena, pois o espaço e o projetor convidam, especialmente em sessões que Belém perdeu como a matinal de domingo.

Quem ainda programa filmes para os cinemas subvencionados é gente que entende do assunto. O contacto com as distribuidoras de filmes existe e é feito com o necessário conhecimento dos produtos (quem não sabe come gato por lebre). Se o poder público olhasse um pouquinho mais para esses espaços a platéia estaria de parabéns. Cinema “de arte” não é artigo de luxo como alguns pensam. É apêndice do ensino, da cultura, do que se faz em escolas. Formar platéia para bons filmes é educar. Portanto, gastar dinheiro com cinema não é jogar fora. Mesmo, nos casos em pauta, é salvar patrimônio. Deixar as coisas flutuarem sem uma bóia é antever naufrágio. E depois do naufrágio haja dinheiro para fazer outros barcos. (Pedro Veriano).





sexta-feira, 11 de setembro de 2009

UP, ALTAS AVENTURAS




O poeta brasileiro Manoel Bandeira viu como Pasárgada, o seu recanto a lá Shangri-la onde ele se dá bem “por ser amigo do rei”. Em “Horizonte Perdido” (Lost Horizon), o livro de James Hilton (que já lançou pelo menos duas versões no cinema), no prólogo da primeira realizada por Frank Capra, há menção a um desejo das pessoas sobre uma terra maravilhosa onde é possível viver sem os ruídos da grande metrópole.
Agora, no filme da PIXAR escrito e dirigido por Bob Peterson e Peter Docter “Up, Altas Aventuras” (Up/EUA, 2009), o recanto dos sonhos está na floresta sul-americana, em um espaço cultuado por um casal que a câmera nos apresenta desde a infância: Ellie, fazendo troça de Carl Fredericksen, um garoto tímido que se torna um fabricante de balões e logo a toma como namorada, esposa, companheira até que a morte os separe.
A animação tecnicamente impecável como é característica do estúdio PIXAR, hoje ligado a Disney, possui uma seqüência sem diálogos (lembra “Wall E”) onde se vê de forma cronológica a vida de Ellie e Carl. O sonho de viajarem para a floresta é enunciado quando ainda bem jovens, época em que podem subir uma montanha sem demonstrar cansaço. Vê-se como economizam para isso. Mas as despesas do cotidiano levam a quebrar o cofre por diversas vezes. Aliás, todo o romance e a vida em comum do casal passam em prodigiosa síntese na tela. Gradativamente os personagens vão parecendo idosos, ela adoece e sua última imagem é na cama, onde morre. As imagens subseqüentes mostram como as circunstâncias perseguem a vida de Carl, com a casa rústica onde mora ser cobiçada pela expansão imobiliária e as pessoas próximas alertarem a necessidade dele seguir para um asilo.
Ellen não conseguiu concretizar o sonho. Mas Carl achou, na solidão da velhice, que podia fazer a viagem em memória da companheira amada. E para isso prepara um transporte extravagante: amarra milhares de balões de gás no telhado da casa fazendo-a voar, estudando o caminho do vento, para dirigir-se à terra almejada. Inesperadamente aporta em seu “veiculo voador” um garoto, escoteiro, que insiste num pedindo para ajudá-lo em algo visando ganhar um diploma por uma campanha benemerente. Não há como recusar o companheiro de viagem e isto serve para o roteiro criar mais substância à historia da casa voadora, mostrando como juventude e velhice podem conviver e se ajudar mutuamente.
Para os adultos, a concessão aos perigos encontrados pelos viajantes pode parecer comercial atendendo ao público infantil, por anos o maior consumidor de desenhos animados. Mas não é bem assim, embora o ritmo caia da poesia para a aventura. “Up” sempre diz alguma coisa edificante. Chega a comover quando a casa voadora se perde das mãos do dono e este lembra que “é apenas uma casa”. Na busca de um paraíso, o despojamento é capital, assim como a amizade. E mais: um explorador que se vê no início do filme como um falso herói nacional, é focalizado como um tipo inescrupuloso que (bem no tema atual) ataca o meio ambiente.
Com mais este exemplar primoroso, a equipe da PIXAR segue na obrigação de fazer sempre o melhor. Não é fácil, mas a sinceridade aliada à técnica, a criatividade e a sensibilidade produzem esses resultados que merecem espaço na história de uma arte.
Cotação: *****(Excelente)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O SEQUESTRO DO METRÔ 123





Não lembro muito bem do filme de Joseph Sargent, com o mesmo titulo do atual “O Seqüestro do Metrô 123” ora em cartaz. Sei que os personagens centrais eram interpretados por Walter Matthau (Tenente Zachary Garber) e Robert Shaw (Blue). O original baseava-se numa novela de John Godey que agora é reescrita para o cinema por Brian Helgeland (no primeiro filme era Peter Stone). A novidade desta versão atual parece ser a tecnologia da mesa de edição por computador: os desastres homéricos, as corridas de autos pelas ruas mais movimentadas de Nova York (isto em parte, pois muita coisa foi feita mesmo nas ruas com a produção se esforçando para esvaziar os espaços). E a menção política da história, com o prefeito sendo mostrado como um corrupto que diz não estar concorrendo à reeleição, mas não deixa de apresentar a imagem de um bajulador de votos.
É possível resumir o enredo da seguinte forma: um ex-presidiário, famoso por golpes de grande porte, resolve seqüestrar um vagão do metrô de Nova York (o 123 do titulo). O encarregado de dirigir o tráfego, Tte, Grauber (Denzel Washington), é quem recebe a mensagem do seqüestrador e solicita tempo para conversar com os agentes da prefeitura a fim de recolher os recursos exigidos pelos criminosos para resgatar os passageiros do veiculo. O tempo é curto, a prefeitura é acionada, e começa uma ligação forte entre Ryder (o seqüestrador, interpretado por John Travolta) e Grauber. Sabe-se, pelas falas, que o segundo andou metido em uma transação ilícita numa viagem ao Japão para adquirir comboios novos. Através da intervenção policial há uma composição da imagem de Ryder pela conversa que mantém com Grauber e desse contato cria-se um perfil do ex-presidiário. Mas o que interessa é a angustia do tempo passar e o inicio da execução dos passageiros. Para alimentar essa angustia, o filme é pontuado pelo relógio. Não é bem uma ordem cronológica como a que se viu em “Punhos de Campeão”(The Stet Up/ 1949) e “Matar ou Morrer”(High Noon/1951). Mas a menção dos minutos impulsiona o “thriller”, alicerçada pelos gritos de Ryder/Travolta. É claro que todo mundo no cinema percebe a punição dos malfeitores no final (o seqüestrador-chefe e seus dois comparsas). Mas a figura do “mocinho” vulnerável pelo seu currículo apresentado se torna a tensão nas ultimas seqüência. Será que ele morre? Ainda mais quando vai pessoalmente entregar a soma do resgate?
Em 1967 o filme “O Incidente”(The Incident), dirigido por Larry Peerce, com Tony Musante (estreando), Martin Sheen, Beau Bridges e muitos outros nomes depois famosos apresentou um tema semelhante: assalto a um carro do “subway” de Nova York por dois marginais. Ali o enfoque maior era o comportamento dos passageiros. Sabia-se um pouco de alguns e comungava-se do que sofriam nas mãos dos bandidos. Era uma produção em preto e branco, que por aqui chegou não só aos cinemas comerciais como aos alternativos (do Cine Clube APCC). Neste “Seqüestro do Metrô 123” falta justamente maior enfoque sobre os passageiros do vagão seqüestrado. O que mais se destaca é um jovem que aciona o seu laptop e se comunica com a namorada. Em meio á “borrasca” ela pede-lhe que confesse o seu amor por ela. Isso na hora de perigo. Mesmo o comportamento dessa personagem é meio descolado da situação que ele enfrenta. Chega a ser um dos “eleitos” do seqüestrador para morrer. Também outras figuras surgem reticentes. O olhar de uma criança que acompanha a mãe parece a imagem mais condizente com a situação. Mas é só comparar com “O Incidente” para ver como este novo filme do diretor Tony Scott troca de opção: prefere a espetacularidade do caso aos detalhes mais micro, ou seja, vale mais a pirotécnica da caçada à dimensão do crime.
A edição conduz a narrativa ao clima de tensão proposto na base. A fórmula desse tipo de suspense ainda consegue prender o público. Mas esse efeito hipnótico só vem a ressaltar o poder de persuasão do cinema, um mestre do ilusionismo como dizia Georges Mèliés.
Cotação: Razoável (**)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

À DERIVA







Heitor Dhalia. Conheci, a partir de seus dois filmes: “Nina”(2004, inspirado em “Crime e Castigo”, de Dostoievski) e “O Cheiro do Ralo”(2007), exemplares do tipo de cinema ao qual se introduziu esse cineasta pernambucano, criando uma aura extra-regional de enfoques reflexivos sobre a pessoa humana.
“À Deriva”(2009) está em exibição em Belém. Bastante aplaudido no recente Festival de Cannes, não tenho referências maiores de como foi recebido por aqui. Mantem um tom de fácil entendimento ao grande público, mas nem por isso deixa de ter uma base reflexiva sobre o tema da relação conjugal, extraída de olhares não convencionais, sem maniqueísmos, sobre a infidelidade.
Anos oitenta, o casal do filme – ele escritor (Vincent Cassel), ela doméstica (Débora Bloch) tem três filhos (duas meninas e um menino), de classe social alta, passam um tempo em Búzios, em vista de rever o relacionamento que parece desintegrado. Essas evidências são mostradas ao espectador a partir do olhar da filha mais velha, a adolescente Filipa (Laura Neiva). Sua circulação na família, entre os amigos e entre os irmãos repassa o ambiente familiar e social que à sua vista tem um lado de descobertas. De um cotidiano afinado com o pai – marcado pelas atitudes de afeto, pela disposição dele em brincar na praia e em fazê-la boiar na água – ela vai aos poucos avaliando certo distanciamento dele, as discussões com a mãe e a fuga para certo lugar que ela descobre ser a dos encontros fortuitos do pai com outra mulher. Nesse dia-a-dia entre os/as colegas, vai despertando também para o amor e a sexualidade sendo impulsionada para as inquietações de um tempo em que se julga às vezes dentro, outras vezes de fora do sistema afetivo com os amigos e amigas. Nesse grupo ela tem admiradores, há certa reciprocidade entre as escolhas que faz, mas está sempre em busca de algo. Instável emocionalmente diante das certezas que surgem, sua atitude é sempre de desconfiança. Impulsiva para um primeiro beijo, retraída para um segundo, revela-se madura para perceber que nem sempre suas atitudes são tomadas como posições de negação ao que não quer (viagem de barco com um colega e o assedio que sofre dele).
O processo da desintegração do relacionamento conjugal entre os pais, pelo olhar de Filipa, só chega de forma parcial quando estes resolvem se separar e chamam os filhos para uma conversa. A tensão interna entre o par não ocorre a partir de a jovem avaliar de forma integrada o que há entre os dois, mas já tendo um culpado para o esfacelamento da família – a infidelidade paterna - a causa consumada da separação. Ao denunciar isso à mãe recebe desta uma confissão trágica – ela ama outro homem mais jovem e seu pai havia narrado esse caso no romance que estava escrevendo.
Para Felipa há duas maneiras de enfrentar o bad-end – ou o final infeliz com a decisão da mãe de deixar a família em busca de seu caminho: ao descobrir uma arma na gaveta do pai associa ao fim que pode dar ao caso amoroso em que está envolvido. Mas a morte é moral e a entrega de sua virgindade ao barman a quem pedira uma dose de uísque seria mais plausível na retomada de um novo tempo no relacionamento familiar.
O mar pontua o roteiro. As primeiras imagens são de pai e filha brincando na água límpida de Búzio. Há intercalação de seqüências submarinas mostrando as pessoas na pratica da natação. Mas o que importa é a deriva, a predileção por se deixar levar, boiando, ao sabor da maré. Esta opção não é um simples artifício formal. É o próprio tema. Filipa, Mathia e Clarice vivem à deriva numa história que foi de amor. A mocinha, principalmente, assume a metáfora, não chegando a racionalizar o que se passa em casa, como é que o gancho familiar que a criou e aos dois irmãos e que até então se mostrava firme, se deteriora do dia para noite.
É claro que o tema não se esgota como dificilmente se esgotou ao longo da história da arte cinematográfica. Há exemplos brilhantes de verões passados e adolescentes descobrindo o amor, mas o caso de Dhalia ganha uma reação mais afinada com a idade do tipo. E a reação dos pais é mostrada no ponto critico do equilíbrio numa relação naufragada (até aí a importância da água como pontuação). Cotação: *** (Bom)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A HISTÓRIA DA WARNER





Foi lançado em DVD a história do estúdio Warner Bros,

um dos maiores de Hollywood. Trata-se de um documentário dirigido e escrito por Richard Schickel que aborda, em 5 horas (2 discos), desde a fundação da firma pelos judeus europeus imigrantes até o patrimônio existente hoje, com novos proprietários e nova forma de comercializar o produto básico: o filme (para cinema, TV e DVD).
O cinéfilo interessado no tema, por reconhecer a importância da abordagem, há de sentir as omissões de filmes importantes dessa empresa, filmes inclusive que mereceram o Oscar que deviam estar referidos como: “Belinda” (Johnny Belinda), em que Jane Wyman foi premiada, “Blade Runner, Caçador de Andróides”, “Adorável Vagabundo”(Meet John Doe) , “Adversidade” (Anthony Adverse), “Meu Reino por um Amor”(The Private Life of Elizabeth and Essex), e até melodramas que tiveram boa bilheteria como “Candelabro Italiano”(Roman Adventure), “No Vale das Grandes Batalhas”(Parrish), “Amores Clandestinos”(In Summer Place). Para o fã de Belém, pois só fez sucesso aqui, “O Semeador de Felicidades” (Sincerily Yours), único filme do pianista Liberace, e, “Sempre em Meu Coração” (You’re allways in my Heart).
Omissões existem em todas as listas. Mas quando se faz o inventário de uma “fábrica” é justo que sejam lembrados seus mais importantes produtos. De qualquer forma, o DVD intitulado “You Just Remember This”, verso da canção “As Times Góes Bye” que embala o filme “Casablanca”, é importante para quem estuda cinema. Há seqüências de trabalhos diversos, abordando os mais variados gêneros, indo dos famosos “filmes de gangster” ou dos primeiros “noir” aos de efeitos especiais gigantescos como o titulo que encerra a coletânea: “Batman, o Cavaleiro das Trevas”.
E em se tratando de DVD vi muitos inéditos esta semana. Curioso é o adjetivo para “Uma Cilada de Mestre” (Under Still Warters/EUA, 2008), de Carolyn Miller. A narrativa é linear na aparência, mas em dado momento se arvora a flash-backs e na verdade é um quebra-cabeça que vai sendo montado ao longo da sessão. Trata de um casal que atropela uma pessoa na estrada e a transporta para a casa de campo da família. Sabe-se depois que o encontro não foi casual, que há uma trama envolvendo o marido da protagonista (Jason Clark), um arquiteto modesto que pode se projetar com o casamento. Aliás, o interessante no roteiro (da diretora) é que as aparências sempre enganam. Nunca surge o que se prevê. Mas nada revela inovação estética de grande densidade. É um “thriller” modesto que se destaca pelo modo como manipula o raciocínio do espectador.
Também curioso é “Londres Proibida”(London to Brighton/Ingla, 2008) de Paul Andrews Williams. Aqui é uma garota de 12 anos que foge de casa e se torna alvo de um pedófilo por conta de uma prostituta que segue proposta de um cafetão. Muito cruel, exorbitando o realismo quando poderia ganhar com mais sutileza. Mas acima da média. Inédito nos cinemas.
Inédito, ainda, o colombiano “A Um Passo da Escuridão” (Hacia la Obscuridad/2007) de Antonio Nuget. Aborda o tráfico através de um seqüestro, alertando para a situação política da Colômbia neste inicio do século. Insuficiente mas premiado em diversos festivais.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

Heróis
Uma Noite no Museu 2
Divã
Perseguição Implacável
Recém-Chegada
Bernard e Doris – o Mordomo e a Milionária
A Montanha Enfeitiçada (2009)
X-Men Origins: Wolverine
Eu Odeio o Dia dos Namorados
Programa de Proteção para Princesas




sábado, 5 de setembro de 2009

O PRIMO DO RIO




Neste texto, Pedro Veriano dá uma circulada na memória para lembrar os flashes de sua infância belenense junto com o primo Carlos Alberto Direito, falecido esta semana. Mas também deixa espaço para recomendar um filme. (LMA)


“Amanheci o mês de setembro com a notícia da morte de meu primo Carlos Alberto. Ele era Ministro do STF, ápice de uma carreira que deve ter orgulhado o meu tio Lulu (Luiz Nunes Direito), o pai que ele amava e que morreu em seus braços depois de uma cirurgia.
O Beto, ou Betinho como os parentes de Belém chamavam, morou algum tempo na minha casa da S. Jerônimo, época em que ainda era criança e gostava de ouvir as histórias que eu inventava e que era obrigado a contar seguidas vezes para moderar a sua natural inquietação infantil, tarefa solicitada por minha mãe.
A família do Beto mudou-se para o Rio de Janeiro quando a primogênita, Ângela Maria, morreu aos 11 anos decorrente de apendicite que julgaram impossível de ser tratada cirurgicamente. Na época, ele tinha pouco mais de 3 anos e o irmão mais velho, João Luiz, 8. Assumindo a cidadania carioca fez-se advogado e palmilhou uma carreira muito edificante, aquilo que seu “pai coruja” sonhava para um de seus herdeiros.
Já figura pública, quando vinha à Belém, Betinho procurava-me. Lembrava que eu sempre fui “um palito” (nunca fui gordo), e gostava de atiçar o tempo ido, a tia Noca (minha mãe), o tio Pedro (meu pai), a casa do Mosqueiro (que ainda hoje existe e está na família), o pessoal de meu irmão (José Maria, conhecido pelo sobrenome Direito Álvares).
Recordo o Beto no período em que a turma mais velha brincava no porão imenso da casa de meus pais. Ele era o menor do grupo. Depois, numa de suas férias, quando a tia Carmen adoecera no Rio e dele se escondia o diagnostico de vários aneurismas cerebrais, um caso muito difícil de ser resolvido posto que inoperável. A noticia no jornal informava que ela havia sofrido um “insulto cerebral”. Beto leu e gritou “que diabos era aquilo”. Foi uma luta consolá-lo.
Já professor universitário disse-me uma frase que não esqueço a propósito da onda de invasões de terra no período pré-revolução de 64: “- Não temos forma agrária como pensar em reforma agrária?” Nessa altura percebi que o menino de ontem virara um adulto inteligente como sonhava o velho Lulu.
A trajetória de Carlos Alberto foi rápida e o final prematuro. Disseram que “no Brasil quem é Direito dura pouco”. No caso dele é certo. Outra vez foi injuriado por uma revista que fez sensacionalismo de um direito (não o sobrenome) dado às autoridades e familiares nos aeroportos. Botaram até a foto do Beto na capa. Não sei como a coisa repercutiu nele, uma pessoa que tratava a probidade administrativa, a honradez, a família, como dogmas. Sei que a sua religiosidade (era católico praticante) não embotava o raciocínio critico. Votou a favor da pesquisa com células-tronco. Não poderia deixar por menos sendo o que o pai alertava ao sobrinho que não tinha pegado Ita no norte (ou melhor, Constellation da Panair em Val de Cães).
Casado, pai, avô, escreveu livro e deve ter plantado uma árvore. Desse jeito cumpriu aquela sentença hindu de realização em vida. Mas partiu novo para a estimativa atual (66 anos). Tomei um susto ao saber de seu falecimento. Mas quando penso que todos da minha velha casa já se foram, tirando é claro a gente que foi nascendo (ou se criando) por lá, muito mais nova, me conformo. No arquivo de minhas emoções estão essas figuras que vibram como chegaram a ele (arquivo). É o conforto de um filme gravado pelos neurônios e projetado quando quero nas circunvoluções cerebrais.
Bem, para não deixar de tocar em cinema, recomendo “Up, Altas Aventuras”. Uma seqüência sem falas que narra a vida de um casal, do namoro ao túmulo é um marco na história do desenho animado. O filme da PIXAR reafirma que o gênero “animação” não é mais restrito às criancinhas. Esta “alta aventura” atrai adultos. E só não ganha o anterior “Wall E” porque perde tempo numa perseguição do tipo gato-atrás-do-rato. (Pedro Veriano)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

OS NORMAIS 2






A fórmula é testada: depois do sucesso na TV e de um filme de longa metragem o programa, ou a série “Os Normais” sobre um casal não necessariamente casado: Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres). Em “Os Normais 2” esses personagens comemorando os 13 anos de vida em comum. O balanço desse tempo é feito por Vani na hora (inicio do filme) em que sai de um numero de karaokê e vai ao banheiro criar um gráfico, ao lado de outras mulheres, das tantas vezes que estas fazem sexo com os seus parceiros em um ano. A construção matemática conclui que ela e Rui estão perto da estagnação. O sexo virou artigo de luxo. E a jovem companheira resolve de comum acordo com o parceiro, que devem fazer alguma coisa para se sentirem mais atrativos – ou atraídos na cama. A idéia é um “ménage à trois”. E partem pela noite carioca atrás da terceira figura que esperam incluir na alcova.
O roteiro de Alexandre Machado e Fernanda Young repousa nessa busca pelo sexo grupal. Parceiras e parceiros pretensamente hilários desfilam em situações ora realmente engraçadas ora tediosas.
Entre as que se apresentam mais engraçadas há o episódio do contato que fazem com uma francesa que está atrás de uma empregada doméstica e as palavras traduzidas se confundem (ménage, no francês, quer dizer doméstica e, para o casal, é o sexual complemento do que procuram). Outra seqüência com dubiedade é da informação de um taxista sobre um apartamento onde está sendo homenageada uma atleta que será bicampeã e o casal entende que a garota é bissexual e que topará a proposta. O susto é grande quando Vani e Rui vêem os convivas todos bem vestidos, a maioria já anciã e eles se apresentam pelados “para adiantar serviço”. Também quando os dois aceitam um banho espumante na banheira de uma bissexual (Claudia Raia) e acabam presos na própria banheira, sufocados pela espuma, pedindo socorro a um desses tipos que nas comédias sempre está presente como uma figura enjoativa e deslocada, uma espécie de “papagaio de pirata” (Daniel Dantas).
O diretor José Alvarenga Jr. também explora recursos da comédia visual, quando, por exemplo, Vani sai entorpecida pelo corredor de um hospital e empurra inadvertidamente um enfermeiro que por sua vez empurra uma paciente pela janela e assim vai aos absurdos.
O que salta nesta chanchada moderna, onde a liberdade de expressão deixa que se ouça toda sorte de palavrões e se mostre o que se consente em termos de sexo (não há nem mesmo um num frontal, deixando-se a pretensa exibição em planos médios que não passam da cintura das personagens), é o recurso de produção. Em uma seqüência, a câmera segue os protagonistas em um carro, passa pelo vidro traseiro, percorre todo o interior do veiculo e acaba focalizando os passageiros de frente sem cortar. Um achado de efeito especial.
Mas a verdade é que sob o pretenso liberalismo a conclusão é extremamente moral. No fim, Rui pede Vani em casamento. E passa por uma prova física de amor. Tudo ao som de música romântica, cantando a fidelidade quando a afeição espiritual é maior do que o contato físico.
Atores simpáticos fazem a festa, Lógico que o público que vai assistir ao filme não espera obra-prima. Quer se divertir. E se a pretensão não se esgota, ficando atrás de coisas como “A Mulher Invisível”, não se pode reclamar. Até porque na televisão essa “longa noite de loucuras” não poderia ser assim tão louca.
Cotação: Razoável (**)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

WESH WESH: O QUE FOI ?






Dirigido por Rabah Ameur-Zaimeche, o filme "Wesh Wesh, qu´est-ce qui se passe?" (França, 2002, 83 min. col.) focaliza os imigrantes de etnia árabe na França. Especificamente Kamel (Ahmed Hammoudi), jovem nascido em Paris, mas de família argelina, flagrado contrabandeando drogas, sendo preso e, posteriormente, deportado por 5 anos. A seqüência inicial capta o retorno dele pedindo carona na estrada para chegar à sua casa, após esse período de exílio. A família, composta por mãe, pai, irmã e irmão menor, festejam o evento. Mas o horizonte não é bom. O irmão está no mercado de tóxicos, o pai vive renovando hipoteca para manter o pequeno apartamento onde moram, a mãe sacrifica-se nos afazeres domésticos ajudada pela filha, e Kamel espera ajudar, mas não possui nenhum documento. Sem papéis e com a mancha de uma prisão no currículo, ele não arranja emprego, sendo assediado por uma das gangues das redondezas (duas gangues que vivem em confronto e ambas perseguidas por policiais corruptos que exigem participação na venda de drogas). Fatalmente o rapaz envereda pelo caminho que tem a sua frente, embora encontre afeto numa professora de meia idade de quem se aproxima, mantendo uma relação sexual insatisfatória (ele alega que passou anos sem ver mulher).
O final é trágico. E não se espera outra coisa. A narrativa dista pouco do documentário, seguindo as personagens em locação, evidenciando tipos e detalhes do lugar, editando sem fazer sensacionalismo, procurando sempre adentrar as situações no campo em que acontecem.
Todo o elenco satisfaz na proposta realista do roteiro. Falado em francês e dialeto árabe, segue a pintura da dificuldade que sofre uma pessoa vinda de uma região antes dominada pela França e hoje tentando se manter na terra dos antigos dominantes. Kamel alude sempre à sua condição de cidadão Frances, pois “nasceu na França”, mas é tratado como estrangeiro. Não consegue nenhuma nova oportunidade para desenvolver suas aptidões e não arranja espaço para se munir de documentos novos como quer a sua mãe que vive insistindo para ele ir à prefeitura (ele chega a ir, mas não suporta a espera para ser atendido).
Por outro lado, os familiares são vistos como perdedores num quadro social que os despreza. De uma feita, os policiais invadem a casa de Kamel em busca do irmão deste. Prendem o rapaz entre empurrões e, nesse tratamento, incluem maus tratos à velha mãe que chega a ser hospitalizada não só pela agressão que lhe produz hematomas no rosto como pela irritação ocular produzida pelo gás lacrimogêneo que é jogado na sala. Isso é que vai detonar o comportamento da principal personagem da história. Kamel se revolta, sai de moto com capacete e agride um policial á paisana. É logo perseguido e não se detalha o final da perseguição vendo-se apenas o lago onde ele se refugia pescando (e pensando, no ambiente bucólico, a sua situação miserável) e ouvindo-se tiros.
O filme também não demonstra esperança no futuro desses imigrantes. As crianças do bairro focalizado sabem de tudo o que se passa, são fãs das gangues especificas e brigando entre si mostram que substituirão os ídolos logo que possam.
Não há qualquer traço de otimismo nos muitos filmes que se vem sendo realizados por árabes em território francês (e produção francesa). O interessante é que os filmes são bem elaborados, ganham prêmios internacionais e são veiculados pela Embaixada da França em países como o Brasil.
“Wesh Wesh” é um relato social muito sério. Até porque o drama de seus heróis diz respeito a semelhantes em outras nações, É só comparar este trabalho com títulos nacionais como “Cidade de Deus” ou “Era Uma Vez”. Os nossos favelados só diferenciam pela má qualidade de habitação. Mathieu Kassovitz já nos mostrou em “La Haine”(1995), a mesma situação capturada por Rabah Ameur-Zaimeche.
Cotação: Bom (***)