quarta-feira, 2 de setembro de 2009

WESH WESH: O QUE FOI ?






Dirigido por Rabah Ameur-Zaimeche, o filme "Wesh Wesh, qu´est-ce qui se passe?" (França, 2002, 83 min. col.) focaliza os imigrantes de etnia árabe na França. Especificamente Kamel (Ahmed Hammoudi), jovem nascido em Paris, mas de família argelina, flagrado contrabandeando drogas, sendo preso e, posteriormente, deportado por 5 anos. A seqüência inicial capta o retorno dele pedindo carona na estrada para chegar à sua casa, após esse período de exílio. A família, composta por mãe, pai, irmã e irmão menor, festejam o evento. Mas o horizonte não é bom. O irmão está no mercado de tóxicos, o pai vive renovando hipoteca para manter o pequeno apartamento onde moram, a mãe sacrifica-se nos afazeres domésticos ajudada pela filha, e Kamel espera ajudar, mas não possui nenhum documento. Sem papéis e com a mancha de uma prisão no currículo, ele não arranja emprego, sendo assediado por uma das gangues das redondezas (duas gangues que vivem em confronto e ambas perseguidas por policiais corruptos que exigem participação na venda de drogas). Fatalmente o rapaz envereda pelo caminho que tem a sua frente, embora encontre afeto numa professora de meia idade de quem se aproxima, mantendo uma relação sexual insatisfatória (ele alega que passou anos sem ver mulher).
O final é trágico. E não se espera outra coisa. A narrativa dista pouco do documentário, seguindo as personagens em locação, evidenciando tipos e detalhes do lugar, editando sem fazer sensacionalismo, procurando sempre adentrar as situações no campo em que acontecem.
Todo o elenco satisfaz na proposta realista do roteiro. Falado em francês e dialeto árabe, segue a pintura da dificuldade que sofre uma pessoa vinda de uma região antes dominada pela França e hoje tentando se manter na terra dos antigos dominantes. Kamel alude sempre à sua condição de cidadão Frances, pois “nasceu na França”, mas é tratado como estrangeiro. Não consegue nenhuma nova oportunidade para desenvolver suas aptidões e não arranja espaço para se munir de documentos novos como quer a sua mãe que vive insistindo para ele ir à prefeitura (ele chega a ir, mas não suporta a espera para ser atendido).
Por outro lado, os familiares são vistos como perdedores num quadro social que os despreza. De uma feita, os policiais invadem a casa de Kamel em busca do irmão deste. Prendem o rapaz entre empurrões e, nesse tratamento, incluem maus tratos à velha mãe que chega a ser hospitalizada não só pela agressão que lhe produz hematomas no rosto como pela irritação ocular produzida pelo gás lacrimogêneo que é jogado na sala. Isso é que vai detonar o comportamento da principal personagem da história. Kamel se revolta, sai de moto com capacete e agride um policial á paisana. É logo perseguido e não se detalha o final da perseguição vendo-se apenas o lago onde ele se refugia pescando (e pensando, no ambiente bucólico, a sua situação miserável) e ouvindo-se tiros.
O filme também não demonstra esperança no futuro desses imigrantes. As crianças do bairro focalizado sabem de tudo o que se passa, são fãs das gangues especificas e brigando entre si mostram que substituirão os ídolos logo que possam.
Não há qualquer traço de otimismo nos muitos filmes que se vem sendo realizados por árabes em território francês (e produção francesa). O interessante é que os filmes são bem elaborados, ganham prêmios internacionais e são veiculados pela Embaixada da França em países como o Brasil.
“Wesh Wesh” é um relato social muito sério. Até porque o drama de seus heróis diz respeito a semelhantes em outras nações, É só comparar este trabalho com títulos nacionais como “Cidade de Deus” ou “Era Uma Vez”. Os nossos favelados só diferenciam pela má qualidade de habitação. Mathieu Kassovitz já nos mostrou em “La Haine”(1995), a mesma situação capturada por Rabah Ameur-Zaimeche.
Cotação: Bom (***)

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