sábado, 8 de janeiro de 2022

UM TEMPO QUE ESTÁ PARTINDO...

 

Sidney Poitier 

No dia 7 de janeiro 2022, sexta feira, o cinema norte americano perdeu dois ídolos que circulavam no nosso meio – Sidney Poitier (94 anos) e Peter Bogdanovich (82 anos).

SIDNEY POITIER marcou a história do cinema de uma época ao receber o Oscar de Melhor Ator, em 1963, por seu desempenho em 'Uma Voz nas Sombras' (1963), sendo o primeiro ator negro a ganhar a estatueta. Seu personagem tem a ver com o sentimento de solidariedade às freiras de um convento e a representação que se evidencia sobre união e fé que elas consideram um milagre. Outros filmes dele, “'No Calor da Noite' (1967) e “Adivinhe Quem vem Para Jantar' (1967), também fizeram grande sucesso, e tematizaram a questão do racismo, e pasmem, foram filmes indicados pela Academia em várias categorias. Sua leveza ao personificar as figuras que ameaçavam os brancos deu ao ator a imagem de um líder.

Mas é “Ao mestre, com Carinho” (1967) que deixa no público adolescente a marca daquele professor que convive com os alunos de uma escola pública, sem as agressões a que estes vivenciavam no cotidiano. E a canção “To sir, with love” cantada por Lulu foi sucesso nas paradas musicais norte americanas.

PETER BOGDANOVICH foi a outra figura que partiu hoje, aos 82 anos, diretor que fez parte de uma geração vista como renovadora das produções de Hollywood, ao lado de outros nomes como Martin Scorsese, George Lucas, Steven Spielberg, Brian De Palma, Francis Ford Coppola e outros.

Seu filme de 1972, “A última sessão de cinema' foi indicado a dois Oscars - de melhor direção e melhor roteiro – sendo considerado, pela revista "Newsweek" como "o mais impressionante trabalho de um jovem diretor americano desde 'Cidadão Kane".

Dedicou-se também à pesquisa e à história das obras de Alfred Hitchcock, Orson Welles e outros.

Outros filmes: “Lua de papel'(1973), "Na mira da morte" (1968) e "O tatuado" (1979). Seus últimos trabalhos: "Um amor a cada esquina" (2014) e "The Great Buster" (2018), um documentário sobre o ator da comédia muda, Buster Keaton.

Essas partidas deixam marcas de saudade na minha geração de cinéfilos porque essas figuras do cinema reconhecidas como ícones de um tempo, deixaram de ser vistas como deviam. A memória sobre a obra deles nos deixa tristes porque em cada partida dessas partimos também.

 

 Peter Bogdanovich

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

AS MULHERES ATRÁS DAS CÂMERAS E SEUS TEMAS DE CRÍTICA SOCIAL -1

 

Este ano de 2021 minha lista de melhores filmes registrou a obra de três diretoras: Jane Campion (Ataque dos Cães, 2021), Chloé Zhao (Nomadland, 2020) e Emerald Fennell (Bela Vingança, 2020). Neste texto, esboço algumas evidências sobre os temas escolhidos por elas, demonstrativos de como a arte que assumiram pode ousar explorar tensos temas atuais através das imagens. Jane Campion inicia minha argumentação.

Em “Ataque dos Cães”, o foco principal trata, a meu ver, da diversidade humana e das representações que o cinema realiza em torno de figuras tradicionais masculinas num ambiente onde as mulheres transitam nos serviços domésticos mesmo em ambientes públicos (restaurantes, a ex.). Trata sobre a masculinidade.

Os/as espectadores/as criaram no imaginário a figura do “cowboy” construída em filmes de diretores como John Ford, Sam Peckinpah, Sergio Leone, Clint Eastwood (para citar os mais conhecidos), nos chamados westerns, ou, popularmente, nos "filmes de faroeste", cujo gênero clássico pode ser classificado nas estratégias de produção e comercialização do cinema norte-americano. Jane Campion foge ao padrão, ao mostrar outros tipos: um que se incorpora na tradição do “machão”, outro cuja figura se empenha no formato gestual e elegante, inclusive na forma cortês de tratar a todos, e outro, um jovem que não se enquadra em nenhum desses tipos, dócil e sensível. Nas atitudes de chacota que Phil Burbank (Benedict Cumberbatch) estimula em seus companheiros de jornada na fazenda da família a esse jovem, Peter Gordon ( Kodi Smit-McPhee), filho da dona do restaurante, Rose (Kirsten Dunst), evidencia-se que naquele ambiente outro tipo masculino não se enquadra fora da tradição do macho cowboy, e esse aspecto aponta para o processo de desconsiderar o “diferente” naquele meio social em que se destaca o tipo de “homem de verdade”. Nessas três representações, a magnitude da contextualização reserva a crítica aos personagens em que Jane Campion centra a sua oportunidade de aproveitar-se dessa construção para o desenvolvimento de características diversas sobre o “ser masculino” tradicional, favorecendo o olhar do público para o exame crítico sobre o imaginário construído e recorrente pelo cinema, com uma só figura essencialmente significativa nas relações de gênero, principalmente no faroeste.

São homens sem sentimentos? É possível classificá-los? E nesse aspecto, a recorrência a alguns detalhes emergem na narrativa (e que devem ser examinados pelo público) apontando para a subjacência das emoções desses três personagens, cada um satisfazendo ou ocultando o verdadeiro sentido desse tempo de introspecção psicológica, sentimental, íntima, do ser humano. Dinâmica rítmica favorecida pela formatação das sequências ativando a escolha de planos com imagens decisivas para o momento certo. As descobertas da afinidade entre os diferentes - o machão e o dócil – apresentam-se num plano pouco evidente, mas é esse o momento que aponta as ousadias do jovem Peter em aproximar-se de Bill. Pode-se, inclusive, apontar, nessa sequência, um aspecto de “voyeurismo” emitente da maior aproximação entre Peter e Bill, quando o primeiro reconhece a origem do amargor que domina Bill que passa a tratá-lo de forma menos hostil. Aprendizagem, confronto, aceitação vigoram agora no novo círculo construído.

“Ataque dos Cães” foi adaptado do livro “The Power of the Dog”, de Thomas Savage, lançado em 1967, escritor de excelência no gênero literário. Somente agora transformou-se em projeto de cinema pelas mãos de Jane Campion. Que revolucionou o tipo do cowboy, desmistificando-o.





segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

O CINEMA, EM MAIS UM ANO DE ISOLAMENTO - 2021

 

Anualmente, a ACCPA, ou Associação de Críticos de Cinema do Pará, organiza a lista individual de seus/as associados/as e apresenta uma relação geral, extraída da pontuação (10 a 1) dada a cada menção feita nas listas encaminhadas e já enumeradas. Uma prática de mais de 50 anos. As reuniões presenciais tinham o seu valor porque o convívio naquele único dia de “eleição dos melhores filmes”, como se dizia, era marcado pelas histórias particulares de cada um/a e se juntavam, em brincadeiras, sorteios, jantar e, as vezes, muitas tensões sobre episódios variados, além de um filme não votado ou que deveria estar na lista e não conseguira os pontos para chegar à final. Era isso. Hoje, com o isolamento social e a preocupação com a aglomeração devido ao período pandêmico, as listas individuais vem como sempre, pelo e-mail- quando essa ferramenta definiu uma outra forma de comunicação (antes, cada membro da APCC levava a sua lista manuscrita ou datilografada e entregava ao eterno secretário, o querido Edvaldo Martins). Somente sete membros da associação enviaram a relação individual, neste 2021. Os antigos secretários, após o Didi Martins (Arnaldo Prado Jr., Francisco Cardoso), não estiveram à frente dessa contagem, feita este ano por Pedro Veriano, Marco Antonio e eu.

Hoje eu ia tratar de outras situações do cinema no isolamento, mas prefiro apresentar a minha lista de melhores do ano, desejando que fosse alargada para 15 títulos entrando outros filmes. Vou deixar para um próximo momento essas várias facetas do cinema que aprendi num tempo sem tempo. Desejo a todas/os/es amigos do Face, uma grande força para realmente mudar a cara desse novo ano.

2022! FORÇA, ESPERANÇA, OUSADIA E FÉ!

MELHORES FILMES   2021

LUZIA ÁLVARES

1.    Ataque dos Cães (Jane Campion, Austrália, Canadá, EUA, Nova Zelândia, Reino Unido e Irlanda do Norte, 2021)

2.    Nomadland, de (Chloé Zhao, EUA, 2020)
3.    Judas e o Messias Negro (Shaka King, EUA, 2021)
4.    Cry Macho (Clint Eastwood, EUA, 2021)
5.    Benedetta (Paul Verhoeven, França/Holanda, 2021)
6.    Meu Pai (Florian Zeller, franco-britânica, 2020)
7.    Bela Vingança (Emerald Fennell, Reino Unido, 2020)
8.    Nós duas (Filippo Meneghetti, França, 2019, no cinema 2021)
9.    Tempo (M. Night Shyamalan, EUA, 2021)
10. Marighela (Wagner Moura, Brasil, 2019)

 OUTROS FILMES PARA A LISTA

 

11. Druck (Thomas Vinterberg, Dinamarca, 2020)

12. Pieces of a Woman (Kornél Mundruczó, EUA, 2020)

13. A Mão de Deus, (Paolo Sorrentino ,Itália, 2021)

14. Quo Vadis, Aida? (Jasmila Zbanic, Áustria, 2021)

15. Madres Paralelas (Pedro Almodovar, Espanha, 2021

 

OUTRAS CATEGORIAS


Diretora: Jane Campion (Ataque dos Cães)

Ator: Benedict Cumberbatch (Ataque dos Cães)

Atriz: Frances McDormand (Nomadland)

Ator Coadjuvante: Daniel Kaluuya (Judas e o Messias Negro)

Atriz Coadjuvante: Charlotte Rampling (Benedetta)

Roteiro Adaptado: Nomadland

Roteiro Original: Bela Vingança

Edição: Bela Vingança

Desenho de Produção: (“Benedetta”)

Fotografia: “Benedetta”

Figurinos: “Benedetta

 Animação (curta) - Se Algo Acontecer… Te Amo (animação), 12 min. de Michael Govier, Will McCormack (EUA, 2020)

Animação (longa) - Luca (EUA, 2021)

Documentário - Elas na Ciência (Picture A Scientist, de Ian Cheney, EUA, 2020)