domingo, 31 de julho de 2011

NOTA DE REPÚDIO À CENSURA - ACCPA




Qualquer ameaça da volta da censura no Brasil merece o repúdio das pessoas sensatas. Quem viveu ou ouviu de quem viveu períodos ditatoriais como os de 1930-45 e 1964-85 sabe de como se aprendeu a ter medo. E nenhuma forma de arte faz ou se percebe no medo. Não o medo exposto em argumentos de livros, peças de teatro, música ou filmes de cinema, mas o medo que preside o ato da criação.

A nova ameaça de censurar filmes no Brasil deve ser repudiada com veemência. Não é preciso que se ache medíocre, desagradável ou o que possa divergir do que alguns pensam e gostem com relação a um trabalho artístico. Para se achar que uma produção é ruim torna-se necessário conhecer esta produção. Condenar sem conhecer é um procedimento inquisitorial que revela uma visão egoísta com base numa educação repressiva.

Os críticos de cinema de Belém do Pará, através de sua associação de classe ACCPA – Associação de Críticos de Cinema do Pará, repudiam a idéia de se censurar "A Serbian Film - Terror Sem Limites" que tenta ser lançado no país de alguma forma (cinema ou vídeo). Repudiá-lo por seu tema ou sua linguagem é revelar uma posição inaceitável para um critico. Afinal, critica-se o que se conhece e o que pode chegar a todos. Sem isso não existe critica.

ACCPA – ASSOCIAÇÃO DOS CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ

A VOLTA DA (PORNO)CHANCHADA


“Chanchada” foi o adjetivo pejorativo encontrado pelos críticos de cinema nos anos 50 para denominar os musicais carnavalescos produzidos pelos estúdios nacionais da época, especialmente a Atlântida de Luis Severiano Ribeiro Jr. O nome queria dizer “ingênuo, burlesco, bobo, primário”. Soa como lixo. E com essa denominação seguia a guerra dos que se diziam entendidos em cinema e do público em geral. Os filmes “chanchadas” lotavam as salas exibidoras e ninguém se atrevia a analisar que as realizações estimavam uma postura cultural, a “cara”do Brasil de um tempo, quando a televisão engatinhava e o rádio (e disco) ainda assumiam a preferência das classes sociais com seus intérpretes saudados como deuses.

A chanchada praticamente se esgota no final dos anos 50, quando a TV entrou em cena, levando para a telinha atores e roteiros caros à tela grande. Mas não foi só isto. Mudou o país. Nova postura advinda das transformações culturais e de novos ritmos da música popular mudaram o gosto da grande platéia. Chegava o rock e seus intérpretes e os brasileiros que lotaram os cinemas para ver “O Balanço das Horas”(Rock Around the Clocl/EUA,1956) queriam cópia em português. Isto chegou a ser tentado numa das melhores comédias da Atlântida: “De Vento em Popa”(1957).

Com a censura advinda com as normas do governo militar pós-abril de 1964, o cinema nacional entrou em uma de suas mais sérias crises (a maior, mesmo, só a do governo Collor, quando a produção de filmes literalmente estagnou). Problema maior é que apesar da “rolha” nas expressões e os cortes de cenas que supostamente atentavam contra “os princípios e os bons costumes” havia a obrigatoriedade de os exibidores lançarem filmes brasileiros em uma expressiva cota durante o ano. Nesse tempo florescia o movimento “cinema novo” e os filmes “se intelectualizavam”. Começamos a ser respeitados no exterior, nos festivais, mas o artesanato e os temas distanciavam-se de uma platéia intelectualmente desafinava com isso. O cinema “udigrudi” também se faz notado como represália à censura. Metáforicos e destoando do que havia sido base de um cinema nacional, este estilo marcou esta época.

Como cumprir a obrigatoriedade? Os empresários da área de cinema, em S. Paulo especialmente, descobriram um meio: o que viria a se chamar de “pornochanchadas”. Era um drible na censura utilizando a fórmula da velha comédia ingênua com o apelo ao sexo que se permitia com alta dose de erotismo (um arranjo para que os censores deixassem passar o suposto indecoroso). Realizados em períodos curtos e com material arranjado até mesmo de cenários teatrais, os exemplares da pornochanchada, especialmente os produzidos na Rua do Triunfo, SP, chamada de “Boca do Lixo”, conseguiam não só cumprir as datas obrigatórias para filmes nacionais como dar lucro. Alguns revelaram grandes cineastas e que se incluiam num nivel de filme independente e intelectual.

Foi o desabafo do público que era modulado no que podia ver e ouvir.

Mas a redemocratização deu outro rumo ao cinema brasileiro. Sem censura, os filmes importados já traziam a “liberdade” que chocava antes uma platéia ainda ingênua. E o que se via como indústria de cinema nacional voltou-se a temas ecléticos, muitos com uma densidade que mesclava bem as conquistas do “cinema novo” com uma postura artesanal de amplo desenho.

Presentemente, tudo indica que a pornochanchada está de volta. O motivo pode ser o que chega de fora, as comédias ditas românticas de Hollywood onde já se vê o nu frontal, ouvem-se os termos chulos, abordam-se temas considerados tabus no século passado.

Sucessos comerciais como “Cilada.Com”, “De Pernas pro Ar”, “Qualquer Gato Vira Lata”, “A Casa da Mãe Joana” e outros, alcançando a casa de 1 milhão de espectadores, traduzem uma preferência estimada e aproveitada pelos realizadores. Assim o gênero chega com roupa nova, sem se preocupar com os detalhes que a censura ditatorial percebia. Vê-se e fala-se de tudo. E a represenação do ridículo de uma classe ou de uma categoria social se transforma em matéria para o riso. Não o sorriso cordato, mas a gargalhada que algus emitem diante das “anedotas de quintal”.

Toda indústria vive de modismos. Este é o nosso novo. Que ajude o cinema brasileiro como indústria tudo bem. Os norte-americanos fazem o mesmo. O mundo inteiro copia. Resta aos cinéfilos escolherem o que vão ver. E para isso não é preciso exemplificar por gênero. O bom filme pode ser de qualquer espécie, desde que se faça com sinceridade e respeito intelectual.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

ASSALTO AO BANCO CENTRAL



Em uma história policial o/a espectador/a acompanha com interesse duas formas de narração: como se dá o crime e como ele é investigado pelos defensores da lei. Como aficionada do gênero desde adolescente, consumindo os livros de Agatha Christie, Edgard Allan Poe, Dashiel Hammett, Raymond Chandler, Rex Stout, George Simenon, além das revistas que traziam contos de Ellery Queen (nome de guerra da dupla Frederic Dannay e Manfred B. Lee), e hoje fã das séries de TV como Law & Order, CSIs e outros, gosto das duas formas de o argumento ser exposto. Por isso não questiono a opção do roteirista Renê Belmonte, auxiliado por Lucio Manfredi e Tais Moreno em “Assalto ao Banco Central”(Brasil/2011), quando resolveram explorar os fatos alternando a dinâmica preparação do assalto com a operação da Policia Federal. Isto não tira o suspense da história: ao contrário, joga-o em mão dupla. Como é um fato real você sabe que o roubo aconteceu e talvez até saiba que nem todos os criminosos foram presos. O que a ficção endossa é o caráter de alguns dos assaltantes e como eles se posicionaram depois da tarefa que consumiu mais de 3 meses, um túnel de 84 metros e muitos sacos de areia “exportados”, para perplexidade dos vizinhos da casa que alugaram para construir o túnel que os levaria para dentro da caixa forte do banco.

O filme ora em cartaz é uma tentativa do cinema brasileiro provar que está artesanalmente apto para fazer um tipo de “thriller” mais encontrado nas produções norte-americanas ou francesas (o clássico “Rififi” de Jules Dassin). O diretor Marcos Paulo, consagrado na TV por novelas e programas diversos, estréia na tela grande com o aval de um bom elenco e boa direção de arte. Em principio pouco se tem a exigir se o objetivo rende-se ao cinema comercial. Mesmo assim é forçoso ressaltar a presença dos estereótipos do gênero, as seqüências desnecessárias (como o relacionamento sexual de um assaltante), e a falta de mais detalhes em outras (o posicionamento do chefe da quadrilha após a prisão de muitos comparsas, a justificar o seu comportamento nos planos finais, ao sorrir nas vizinhanças do delegado recém-aposentado). Os personagens, divididos entre os assaltantes e no âmbito policial apenas o delegado interpretado por Lima Duarte (um dos tipos mais interessantes do elenco) e sua assistente (Giulia Gam), são moldados por características e não por qualquer densidade psicológica. Do grupo de ladrões, o mais interessante é o que mais se apóia na caricatura: Vinicius de Oliveira como o tipo que ao confessar o crime ao pastor de sua igreja(protestante) recebe deste o “conselho”para que deposite o seu quinhão, nesta igreja. Este apelo ao humor é isolado. Pinturas exageradas como a da “femme fatale”amante do chefe da gangue, tentam jogar no conjunto elementos que no entender da produção devem melhorar a venda do produto.

Mas o que se exige de um filme comercial é primeiramente uma dinâmica que prenda o espectador na poltrona do cinema. Isto a edição (montagem) não chega a conseguir de todo. Percebe-se o esforço da trilha sonora nos hiatos fragmentados de narrativa, não deixando que o filme abandone o suspense almejado pelos espectadores, especialmente aos que apreciam o gênero. Mas faltou a ironia que normalmente eleva as histórias criminais, especialmente em filme de longa metragem. O exemplo clássico é “Rififi”onde a meticulosidade do plano de roubo a uma joalheria começa a se esfacelar quando um dos participantes não resiste em dar um presente a uma mulher. No caso do banco central de Fortaleza, um fato real que figurou como o segundo maior assalto da história desse tipo de crime no Brasil, não ficou no cinema a impressão tragicômica dos parceiros do crime diluírem seu êxito em brindes ou na rebeldia ao que planejou o idealizador do golpe. Interessante a intervenção do veterano Milton Gonçalves como o pastor esperto que se aproveita da ingenuidade do fiel de sua igreja.

“Assalto ao Trem Pagador”, produzido há quase 50 anos, dá bem a idéia do que se fez melhor. Mas, de qualquer forma, o filme de Marcos Paulo deve contribuir nas bilheterias. Hoje o mercado é outro e a televisão é supremacia, fato que me leva a exemplificar “Assalto ao Banco Central” como um piloto de tele-série.

terça-feira, 26 de julho de 2011

JOGO POLITICO



Inegável a pressão que o DVD exerce sobre o/a espectador/a. A multiplicidade de cópias de filmes, alguns já exibidos outros inéditos, prendem certo público em casa, neste tempo de férias, e sem opções de programas no circuito de filmes. Vejam quantos exemplares tenho assistido para contemplar esta página e dar “dicas” aos leitores.

O filme “Jogo de Poder” (Fair Game/EUA,2010) explora o inicio da investida bélica norte-americana ao Iraque, sugerida pela “certeza” de que o ditador daquele país, Saddam Hussein, possuia armas de destruição em massa. O tema gerou o documentário “Fahrenheit 11/9”(Fahremheit 9/11, EUA, 2004) de Michael Moore (vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes). Agora, baseado no livro de Valerie Perrine e Joseph Wilson - ela, uma agente da CIA (Naomi Watts), casada com ele, embaixador na Nigéria (Sean Penn), investiga a hipótese de que tubos de alumínio comprados por Hussein seriam para os reatores nucleares em construção. O trabalho diuturno leva a uma série de impactos na politica de defesa norte-americana devido aos achados da agente que identifica dados contrários aos que interessam os gestores no governo, sendo, por isso, desqualificada na função e afastada. Há, também, uma crise no casamento do par, e isto porque Wilson descobre também em seus contatos com a política externa e pesquisando por outras fontes, que tudo é engendrado pelo governo de George W. Bush.

A narrativa, a partir de um roteiro enxuto de Jez e Henri-George Buttherworth e da direção hábil de Dough Liman (do primeiro “Identidade Bourne”) dá o toque de crítica aos arranjos maquiavelianos do “senhor da guerra”, além de criar o suspense articulando a um filme de ficção política, embora se trate de fatos reais.

Um bom filme de produção recente que andou correndo pelos cinemas.

“A 25ª Hora”(Le Vingt-cinquième Heure/França,Itália, Ingl, 1967) tem base em um romance premiado do escritor romeno C. Virgil Gheorghin, com direção do francês Henri Verneiul (de “O Carneiro de Cinco Patas”, Fr., 1954). O veterano ator (já falecido) Anthony Quinn protagoniza um romeno que no inicio da 2ª Guerra Mundial é preso como judeu (ele é católico ortodoxo) e por pouco não é enviado ao campo de extermínio. Escapa da situação porque uma autoridade alemã o vê como um típico ariano, com a face dentro dos limites reconhecidos na raça. Tornando-se soldado nazista o tipo é preso pelos aliados e confinado num campo até um ano depois do armistício. Quando retorna para seus familiares, esposa e filhos, a realidade é assustadora. Com tudo isso, ele ainda é alvo de um fotografo que deseja de sua parte, a todo custo, um sorriso.

O filme é bem realizado e Anthony Quinn desempenha exemplarmente seu tipo e tem um de seus melhores momentos no cinema, lembrando a figura de Zampanô que ele viveu em “La Strada”(A Estrada da Vida, Italia, 1954) e “Zorba, o grego” ( greco-americano, 1964).

Um filme dinamarquês de Thomas Vinterberg, um dos diretores engajados no movimento “dogma “ criado por Lars Von Triers, chega em DVD no Brasil: “Quando um Homem Volta Para Casa” (En Mand Kommer Hjem/Dinamarca, 2007). Trata de um famoso cantor de opera que resolve voltar à sua terra natal e acaba tendo um breve romance com uma jovem modesta que pode ser sua nora. O filme foge ao melodrama sem deixar uma linguagem linear. Bons desempenhos.

“A Travessia de Paris”(La Travesée de Paris/França.1956) é uma comédia dramática do famoso diretor francês Claude Autant-Lara (de “Adultera”, França, 1947) sobre dois homens que percorrem, a noite, a Paris ocupada pelos alemães levando carne de porco para quem lhes pague. Jean Gabin e Bourvil (pouco conhecidos da nova geração, hoje) protagonizam a dupla com o talento que lhes deu fama. A revisão do filme mostrou que os anos pesaram e o resultado está muito abaixo do rendimento do diretor, um dos maiores nomes da “vielle vague”.

“Em Teu Nome”(Brasil, 2009) é mais uma abordagem sobre os “anos de chumbo”. Segue jovens riograndenses que viveram num “aparelho” perseguidso pela policia da ditadura militar. Realizado em Porto Alegre por Leonardo Machado não apresenta novidades no abordar o tema. E os atores não estão bem, porejando falsidade nos papéis intensamente dramáticos.

E o melhor filme que vi esta semana em DVD chama-se “O Filho” (Le Fils/França, 2002) dos irmãos Dardenne (Jean Pierre e Luc). Comento outro dia.

DVDS MAIS LOCADOS(FOXVIDEO)

  1. Eu Sou o Número Quatro
  2. Rio
  3. As Mães de Chico Xavier
  4. Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles
  5. O Besouro Verde
  6. Jogo de Poder
  7. O Concerto
  8. Passe Livre
  9. O Retrato de Dorian Gray
  10. Esposa de Mentirinha

OS ÚLTIMOS DIAS DE TOLSTOI



O DVD me levou a assistir a “A Última Estação”(The Last Station/UK,2009), filme que reporta os últimos dias de Leon Tolstoi, o autor de “Guerra e Paz” e “Ana Karenina”, consagrado como um dos maiores nomes da literatura russa (e mundial). O filme dirigido por Michael Hoffman de um livro de Jay Parini conta como Tolstoi (Christopher Plummer) e sua esposa, Sofia (Helen Mirren), conviveram em seus últimos meses juntos, casados há 48 anos, discordando com veemência de certas atitudes (especialmente dele), mas conservando o amor que gerou 13 filhos. Nesse período de ocaso, surge Cherkov (Paul Giamatti), que adota as idéias do mestre no que se refere à postura religiosa, sendo contra a propriedade privada e achando que o escritor deveria legar em vida os direitos de sua obra para o povo russo. O discípulo não é nada querido de Sofia que mora numa “tacha”(chácara russa) com o marido e duas filhas. Preocupado com a influência dela nas decisões do mestre, Cherkov pede que seu aluno Valentin (James McAvoy) assessore o escritor. Adepto da teoria tolstoiana que inclusive apóia a castidade, o rapaz logo se enamora de Masha (Kerry Condon) a filha do dono da casa que resolvera morar com os pais depois de se separar do parceiro, um homem casado. As constantes brigas de Leon e Sofia fazem com que ele aceite sair de casa. Mas isso só precipita acontecimentos trágicos. Ele adoece, ela tenta o suicídio, e o discípulo veda a chance dela visitá-lo quando enfermo.

O filme tem uma prodigiosa direção de arte, recriando a Rússia imperial, e uma narrativa acadêmica bem amparada nos excelentes desempenhos e no cuidado com que o diretor utiliza os elementos de linguagem, do enquadramento em tela ampla à edição que sabe sintetizar o tempo do drama.

“A Última Estação”é desses filmes que seriam vistos com agrado por todas as platéias. Mas a distribuição não vê dessa forma. Não sei se o lançamento no sudeste aconteceu normalmente. Aqui nem se anunciou em nossas salas. Ruim para o público que suspira aliviado quando se exibe um “Uma Noite em Paris”, espasmo cultural em meio aos arranhões à sensibilidade que representam coisas como “Transformers 3”.

Não assisti a quando do lançamento nos cinemas “Esposa de Mentirinha”(Just Go With It/EUA,2011) comédia de Dennis Dugan própria para o desempenho de Adam Sandler (que é o produtor). Ganhei com isso. Vendo agora, em DVD, penso no que me foi poupado (tempo, viagem, paciência). No roteiro, um cirurgião plástico usa sua assistente para passar como sua ex-esposa ao abordar outras mulheres. A teoria é de que elas gostam de quem foi amado (ou ainda é). Mas na verdade a “pegadinha” revela o obvio para quem está vendo a coisa: o médico e a assistente se amam. Para os dois se cientificarem disso perdem-se muitos metros de filme e no intuito de “puxar” o riso, o elenco ainda abriga duas crianças que passam longr do desempenho de ídolos infantis do passado, especialmente Bailee Madison que já recebeu prêmios inclusive pelo episódio que fez para a série “House” na TV. Exagerada, a comédia (?) deve ter agradado a Sandler, um ator que prima pela absoluta falta de expressão.

“Tambores Distantes”(Distant Drums/EUA, 1951) é um dos últimos westerns estrelados por Gary Cooper. Bem verdade não se pode chamar de western, visto que a ação se passa na Florida na época em que por lá existiam os índios Seminole. Cooper é um ex-soldado que vive solitário perto de uma praia com o filho menor. Viúvo, ele ajuda os militares colonizadores que desejam expulsar os índios. Na época do filme ainda era “politicamente correto” as aventuras em que índios eram vilões. Muita ação e muito absurdo no roteiro como mandava o figurino desses espetáculos de vesperais. Quem dirigiu foi o veteraníssimo Raoul Walsh, ator do cinema mudo que na qualidade de diretor abraçou diversos gêneros tendo brilhado em “filme de gangster” como “Fúria Sanguinária”(White Heat/EUA,1949) com James Cagney.

Na TV de assinatura tenho assistido a bons filmes. Recomendo especialmente “Eu e Orson n Welles”, ficção com base numa versão teatral de “Julio Cesar”realizada pelo Mercury Theatre, de Welles, em 1937, e “O Vento”, drama mexicano que recebeu vários prêmios, inclusive, no Festival de Gramado(RS).

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

  1. Esposa de Mentirinha
  2. O Discurso do Rei
  3. Cisne Negro
  4. O Besouro Verde
  5. Bravura Indômita
  6. Assassino a Preço Fixo
  7. Desconhecido
  8. 127 Horas
  9. Justin Bieber: Never Say Never
  10. Bruna Surfistinha

quinta-feira, 21 de julho de 2011

VERDADE OCULTA


Dois filmes editados recentemente em DVD apresentam temáticas semelhantes: “Identidade Paranormal” (Shelter/EUA, 2009) e “Os Esquecidos” (The Forgotten/EUA,2004). Uma curiosidade: ambos são interpretados por Julianne Moore, 4 vezes candidata ao Oscar (“Fim de Caso”, “Longe do Paraíso”, ”As Horas” e “Boogie Nights”).

Em “Identidade...” Moore protagoniza uma psiquiatra que repele a idéia de múltiplas personalidades, mas tende à dúvida ao se defrontar com o caso de um jovem, recomendado pelo pai (também médico e pesquisador), capaz de mudar bruscamente de atitude, dizendo-se ora uma pessoa, ora outra. Ao assumir o caso, a psiquiatra passa a observar que o rapaz tende a adquirir mais personalidades. E como o roteiro de Michael Cooney não dá muitas explicações, pode-se pensar em possessão espiritual, com o jovem assumindo almas de mortos recentes ou não. Naturalmente o que interessa ao roteirista é o que a história possa gerar em termos de terror. O final é bem característico, até no ridículo que evoca.

“Os Esquecidos”é produção anterior, mas, desta vez, trata-se do desaparecimento de uma criança, ou do seu corpo - se é que morreu em um desastre aéreo - atormentando a mãe a quem todos censuram porque “a criança nunca existiu”. O roteiro também não é pródigo em explicações. No caso, é mais confuso do que o de “Identidade Paranormal”. Pergunta-se: por que todo mundo diz que a personagem jamais foi mãe e a mesma coisa se fala do pai de uma coleguinha do garoto que só nas lembranças dos pais se faz presente.

“Identidade Paranormal” é dirigido por Mans Marlind e Bjorn Stein (dupla sueca ligada à TV). “Os Esquecidos” por Joseph Ruben. É de supor que o agente de Julianne Moore tende ao gênero ficção-cientifica & terror, e aos filmes classe B. É possivel que a atriz se interessasse para esses tipos que em nada acrescentam à sua carreira, embora não deixem de prender o espectador no cinema ou diante da TV. Os mais exigentes não devem gostar. Mas quem está em casa e quer apenas uma hora de diversão (sem culpa) talvez ache um motivo de “relax” assistindo aos dois filmes. É o mesmo prazer que muitos sentem ao ver o “trash”, aquele subgênero elaborado/criado com parcos recursos para impressionar pela superfície.

O grande problema dos dois filmes mencionados, mesmo nas condições de “thriller” sem compromisso com a cinestetica apurada, é as reticências sem conteúdo do roteiro. Um filme pode não finalizar uma história (ou não ter nenhuma). Mas o final em aberto, deixando ao espectador que o faça, pode ser base de uma obra de vulto. Ninguém sabe, por exemplo, o que aconteceu com o repórter vivido por Jack Nicholson em “O Passageiro”, de Michelangelo Antonioni. Ele pode ter morrido quando a câmera se desloca para uma janela gradeada, passa por ela e vê a rua. Mas não se diz nem mesmo o motivo dessa fuga de imagem. Nada de explicações, como o mesmo cineasta se exime de dizer que fim levou a jovem desaparecida numa praia em “A Aventura”. E se Arthur Clarke não escrevesse um livro contando em detalhes o roteiro de “2001, Uma Odisséia no Espaço” muitas pessoas sairiam do cinema (como se deu mesmo) questionando o destino do astronauta que se vê a caminho do planeta Júpiter.

Cinema não se obriga a ser um mero contador de histórias. Ele é a janela que se abre ao espectador para que este navegue pela imaginação dos autores (roteiristas e diretor). E esta navegação muitas vezes pede para que o espectador participe/ reflita. A interatividade diante de um filme é mais difícil do que a existente na literatura, quando o leitor, sozinho, imagina o que lê. E isto porque este leitor constrói a imagem do que lê: no filme a imagem é revelada e cabe a quem está assistindo idealizar ou concluir liames do enredo, ou o âmago do conteúdo, com a missão de chegar a todos, mesmo sabendo que há reações particulares.

Os exercícios paranormais das produções modestas com Julianne Moore não conseguem se comunicar para que seja elaborado um raciocínio. É uma aposta na fantasia pela fantasia, e nos dois casos rompendo com o tempo e o espaço em favor do “happ-end”.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

  1. Rio
  2. Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles
  3. O Besouro Verde
  4. O Discurso do Rei
  5. Esposa de Mentirinha
  6. Passe Livre
  7. Como Você Sabe
  8. Desconhecido
  9. Bruna Surfistinha
  10. A Minha Versão do Amor

quarta-feira, 20 de julho de 2011

OS PINGUINS DE JIM CARREY



Exemplo típico de comédia “all family” bem a gosto do público norte-americano é este “Os Pingüins do Papai” (Popper’s Penguins/EUA,2011) ora em cartaz só em cópias dubladas (sem opção aos que não gostam desse tipo de gravação). O argumento trata do arquiteto Popper(Jim Carrey), executivo de uma empresa especializada em derrubar prédios antigos e construir estruturas modernas. É tipo um corretor de imóveis para as grandes firmas, no caso, a que o emprega há muitos anos. Separado da esposa (Carla Gugino) e pai de um casal de filhos, ele não tira da memória o pai aventureiro, uma espécie de Indiana Jones que vive viajando, mas sem esquecer-se de se comunicar com ele pelo rádio. Certo dia, ao chegar ao seu apartamento de luxo, Popper recebe uma encomenda, uma caixa que segundo um inventariante dos bens do pai, é uma surpresa para o filho. Ao abri-la espanta-se com um pingüim devidamente acomodado em mala especial com gelo. Logo a rotina do apartamento tem de se acomodar com a ave irrequieta. E quando Popper está propenso a solucionar o “modus-vivendi” chegam mais pingüins. Os filhos, uma adolescente (Madeline Carrol, de “O Primeiro Amor”) e um garoto (Maxwell Perry Cotton), adoram os animais, mas é o pai quem se torna alvo das trapalhadas criadas por eles. O fato, que logo recebe oposição (e uma imposição para que as aves sejam endereçadas ao zoológico), acaba renovando um sentido de família que Popper havia perdido. Há um plano sugestivo dele, esposa e crianças ao lado dos pingüins numa “pose” que faz a vez de um retrato familiar.

O roteiro de Sean Anders e John Morris vem de um livro lançado em 1938 por Florence de Richard Atwater. Não sei se nele existia um vestígio de comédia social de Frank Capra, como os sócios da empresa em que Popper trabalha e uma milionária que decide o destino de um prédio (a veteraníssima Angela Lansbury , 87 anos). Mas os elementos são dosados especialmente visando os pequenos espectadores. O sentido de família que se encontra com as peripécias do pai que acima de tudo respeita a memória de seu próprio pai é edificante. E não está à toa na trama. A acolhida da esposa ao lar, já divorciada e na iminência de um novo romance, é uma conseqüência da situação criada pelo advento dos novos “hospedes” da casa. O certo é que “a família que gosta de animais é família unida”. Brigitte Bardot, emérita protetora de toda espécie de bicho, deve gostar.

Mas a questão também se incorpora em outra evidência – a relação de fidelidade dos pinguins aos que o cercam familiarmente. E isso o pai de Popper havia colocado em uma carta ao filho, daí o presente, e que só foi encontrada e lida no final do filme.

Jim Carrey interpreta um tipo ao seu caráter de ator. Podia ser um Ace Ventura, extremamente careteiro, mas, ao que parece, ele já se vacinou de uma figura constrangedora de comédia. Depois de interpretar papéis marcantes como em “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” ou de expor coragem desafiando preconceitos em “O Golpista do Ano”(onde protagoniza um homossexual), o ator parece um pouco contido nas suas expressões faciais. Isto ajuda na construção do tipo que interpreta. O que deixa no espectador certas indagações é com referencia ao enredo. Sofrendo com a postura dos pingüins que além de derrubarem tudo numa sala bem arrumada, de inundarem um quarto e “sujarem” até seu dono, por que não resolver logo a situação e levá-los ao zoo? Claro que se assim fosse não haveria filme nem a recomposição familiar. Mas se o livro original dispensa esse detalhe o que se quer é justamente o reencontro, a moral de fábula que se pode ler como “a família que atura pingüins unidos permance unida”. E se a coisa fosse para exibir metáfora, podia se pensar que animais de região gelada serviam para diluir “o gelo” entre seus donos.

O diretor Mark Waters, de “Meninas Malvadas”, dá o seu recado. Controla Jim Carrey, põe a garotada para um desempenho sem arroubos de genialidade e deixa com a turma dos efeitos especiais os pingüins que dançam e recusam peixe (?).

Um filme destinado a um público específico. Mas que pode ser assistido por qualquer faixa etária.

ACOSSADO














Os teóricos norte-americanos atribuíram como “jumps cut” (corte aos pulos) a técnica usada por Jean Luc Godard em seu primeiro longa-metragem: “Acossado” (À Bout de Souffle/França,1960). Reconhecem que daí surgiu “um novo alento” no cinema (comparando-o com o que Orson Welles fez em 1941, com “Cidadão Kane”). Esse tipo de edição mexeu com o raciocínio indutivo da platéia. Quem foi criado assistindo/vendo cinema do jeito-padrão dado por David Griffith nos anos 10, tinha dificuldade em acompanhar uma ação que pulasse de uma seqüência a outra sem explicar como o enredo está sendo traçado (ou conduzido). Por exemplo: se o personagem de Jean Paul Belmondo está lendo um jornal na rua e depois aparece dentro de um carro em movimento sem que o espectador o veja tomando o carro e arrancando ruas afora, o impacto leva a pensar que houve um “cochilo” do projecionista ou um erro de quem dirigiu o filme. Antes dessa independência formal havia medo de se desenvolver uma história em cinema sem contar o seu desenvolvimento, ou seja, o inicio do enredo, seu encaminhamento e, até mesmo, como deveria terminar (não necessariamente contando o final). Era pouco entendido o motivo de uma pessoa, no filme, abrir uma porta e não sair do outro lado dessa porta. Tampouco concebida a passagem do tempo sem uma cortina escura (fade out) que valesse como um “ponto em seguida”(ou mesmo, parágrafo). E o recurso da fusão (uma imagem sobre a outra indicando pelo tempo em que permanecia visível o quanto de tempo se passou entre as duas). A “cronometragem” dos primórdios da linguagem cinematográfica exercia poder total sobre o raciocínio do espectador.
Com Godard o que o cinema norte-americano intitula de “plot”, ou “trama”, ficou supérfluo. Para o cineasta, o cinema não é escravo de uma linha narrativa. Pode divagar, não necessariamente pedindo a quem o veja que divague com ele. Daí veio o choque dos cinemas de Godard com Truufaut. O pioneiro da “nouvelle vague” e amigo de Godard desde os primeiros tempos de jornalismo, amava o cinema do jeito que aprendeu a ver cinema. Um caso de paixão, gostando de como as imagens moldadas por diretores tradicionais chegavam à sua mente. Godard repelia, clamava pela inovação, pelo novo meio de usar a câmera e a sala de edição. Brigaram quando Truffaut explicou em detalhes como via cinema em seu antológico “A Noite Americana”(Day by Night). Os estilos conflitantes levaram os dois cieneastas a polos opostos. E seus fãs os seguiram. Há quem ame os filmes de Truffaut e toda a métrica do cinema tradicional e há quem ame os de Godard com a perene rebeldia (entre os quais me associo).
“Acossado” é, portanto, um divisor de águas. O simples enrredo sobre um ladrão que ao roubar um carro mata um policial e daí em diante foge estradas afora, chegou até a gerar um filme de Hollywood dirigido por Jim McBride, em 1983, com Richard Gere e Valerie Kaprisky (por intitulado “A Força do Amor”). Ali se dizia como a indústria se ocuparia da nova onda européia. Mas ficou nesse exemplo de adaptação. Os Godard seguintes cada vez mais distaram da cinematografia industrial e alguns enveredaram conscientemente pelo chamado manifesto político quando o cineasta adotou a simpatia pela linha chinesa de Mao Tse Tung.
Ainda hoje, aos 80 anos, Godard faz cinema. Seu “Filme Socialismo”(2010) é a prova de que não envelheceu ou se arrependeu. Sempre há um sopro inovador, uma pugna pela quebra da hegemonia artesanal.
“Acossado” está de volta a Belém fazendo sessão normal do Cine Libero Luxardo de quarta a domingo. Cortesia da Cinemateca da Embaixada da França. Programa importante para quem estuda cinema. E ama Godard.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

TRANSFORMERS 3



Logo após a chegada do homem à lua, na Apollo 11, começaram a surgir boatos de que tudo o que se viu na TV, direto do satélite, havia sido montado em estúdio de cinema. E mais: que um grande diretor havia regido a farsa: Stanley Kubrick. Em seguida, foi produzido o filme “Capricornio Um”(Capricorn One, EUA, 1978), lançado agora em DVD no Brasil. Observava que a disputa entre norte-americanos e russos, afinal a causa da missão Apollo e do boato anterior, gerava uma suposta viagem ao planeta Marte, mas desta vez, era enviada uma nave sozinha e deixava-se os astronautas, prodigamente retirados do engenho, acampados em um lugar guarnecido pelo governo no deserto do Arizona. Eles ficariam lá até que a nave retornasse, quando, estrategicamente, eram jogados ao mar para se infiltrar na capsula que chegara do espaço. Tudo como se tivessem viajado. Ocorre que a viagem de volta da nave espacial é desastrosa. Todo mundo sabe que ela havia queimado. E os pobres astronautas, ao tomar conhecimento do fato, são obrigados a fugir, pois sabem que serão sacrificados (já que estão “oficialmente mortos”).

Esse prólogo é para inserir o espetaculo de “Transformers 3: O Lado Oculto da Lua”(Transformers, Dark of the Moon/EUA,2011). Neste caso, os astronautas que de fato viajaram na Apollo 11, acham no lado escuro do satélite, os restos de uma gigantesca nave espacial. O fato ganha, na Terra, o acirramento dos ânimos dos robôs antagônicos: os Autobots e os Decepticons. Pelos filmes anteriores sabe-se que os primeiros são ligados ao bem. Os outros são vilões. E então começa a batalha. Ambos querem chegar à lua para se inteirar dos alienígenas e, com isso, arranjar meios para prosseguir uma batalha na Terra que decidirá o futuro da humanidade.

Esta “jóia” de imaginação coube a Eheren Kruger. E o diretor Michael Bay achou espaço suficiente para realizar o seu cinema, aquele que se dedica ao CGI, com os computadores atuando para mover gigantes de lata e derrubar tudo o que está na frente (ou em volta).

O filme é o que se pode chamar de “inteligência zero”. Quem frequenta cinema para pensar não consegue nem mesmo se concentrar que está numa sala de cinema. A barulhada é tão grande que se os tímpanos suportarem, o melhor é fugir pela porta mais próxima antes de se sentir vitima de um Decepticon.

A desculpa para um tipo de filme sem conteúdo e apenas artesanalmente correto (desde que se considere o mover da estrutura gigantesca que molda o tipo de produção) é a tender as platéias juvenis que vão a cinema como vão ao parque de diversões. E os donos do cinema-negócio sabem que isso representa a maioria que paga ingresso. Nos EUA, só em 3 dias, o filme rendeu mais de U$37 milhões, com a soma chegando a US$97 milhões contando-se o mercado próximo (inclui-se o Canadá). Certamente é a grande bilheteria da estação. Não adianta a critica, em sua unanimidade, dizer que Michael Bay (diretor) nunca acreditou em cinema como arte nem que o roteiro exiba algum ponto original ou capaz de sugerir polêmica. As máquinas incitam o vigor de quem gosta de games e isso é o que interessa para quem quer colocar espectadores para encher as salas.

“Transformers” ainda lucra com o mercado de brinquedos. Os meninos gostam de armar robôs a partir de carros. Por sinal que os dois filmes comerciais de verão em cartaz são todos dedicados aos garotos: ”Carros” e este “Transformers 3”. As meninas sobram. E eu pergunto se elas não formam platéia. Claro que as “comédias românticas”(cabe as aspas) recentes não são, propriamente, para meninas. Em flagrante preconceito a indústria de cinema aposta no machismo. Com uma metáfora curiosa: ela própria é um robô. Quem sabe um, arredondando o termo, “decepção”.

“Filosofar” sobre essas máquinas de um jogo interplanetário pode até levar a um caminho denotando o vazio da cultura da geração atual. Ocorre que não se pode juntar todo mundo num mesmo “perfil”. Há os inteligentes, os que preferem pensar. Felizmente. E viva a diversidade!

DRAMA FAMILIAR



A peça de David Lindsay-Abaire ‘Rabbit Hole’(Toca do Coelho) foi vencedora do Pulitzer Prize e Tony Award e deu base ao filme de John Cameron Mithcell “Reencontrando a Felicidade”(The Rabitt Hole/EUA,2010, 91 min.). É possivel que seja uma referência a ‘Alice no País das Maravilhas’, de Lewis Carol, como pode ser um modo de refletir sobre a fuga da realidade através de artifícios como uma espécie de buraco negro que dê acesso a um universo paralelo onde as pessoas podem se “reencontrar” numa nova dimensão.

O roteiro do próprio autor da peça narra o drama de Becca (Nicole Kidman) e Howie Corbett (Aaron Eckhart) um casal de classe média aparentemente feliz, abalado quando o único filho, de 4 anos, Danny, é atropelado e morto por um carro em frente à casa onde moravam ao correr em busca do cão de estimação que saira porta afora, estando esta aberta. Becca, então uma funcionária graduada de uma firma conceituada, deixa o emprego e assume as funções de uma dona-de-casa, tentando escapar do sofrimento de perda e procurando não tratar sobre o trágico acontecimento, se esmerando na cozinha ou dando atenção à irmã grávida. Ambos procuram a ajuda psicológica, mas, principalmente o marido, que espera a superação de seu problema mantendo a terapia através de encontro de casais onde conhece casos semelhantes ao seu. A principio ele vai com Becca, mas logo esta passa a descrer dessa forma de estratégia de tratamento quando um pai que também sofre perda de filho afiança que Deus assim desejou pois queria um novo anjo. A que Becca responde: “Sendo um inventor, Deus poderia criar o novo anjo sem ser preciso tirar uma criança do convívio dos pais”.


O drama ganha uma nova dimensão quando entra em cena Jason (Miles Teller), o rapaz que atropelara Dany. Ele é um estudante de artes gráficas e cria história em quadrinho, sendo apaixonado por ficção-cientifica. Através da sua idéia de um escape para outra dimensão é que Becca passa a enfrentar melhor o seu drama.


O filme de John Cameron Mithcell aproveita muito bem os recursos de linguagem cinematográfica para evidenciar as emoções das personagens. Cada enquadramento revela os sintomas que produzem os problemas afetivos no casal em torno do luto que vivem e que ainda não conseguiram assimilar. Reparem numa sequência em que é captado um close de Becca desesperada quando lembra/vê o atropelamento fatal do filho. A câmera desloca-se da expressão da personagem para o lado que está escuro. Também quando ela conversa com Jason num ambiente ajardinado (e a conversa não tem grande importância na trama) há um plano conjunto com câmera fixa em que se vêem as personagens caminhando de lado a lado do quadro até sair de foco. E os atores estão impecáveis, especialmente Nicole Kidman (candidata ao Oscar) que estréia como produtora, inaugurando a sua Blossom Films.


O filme aponta muitas situações exemplares em torno da perda e do luto que contagia uma relação afetiva de um casal, sendo passivel de uma separação. No grupo de terapia há um caso desses, que se torna um insight para Howitt/Eckart definir entre a separação que pretende e o vínculo com a dor de sua esposa a qual está associado. Mas não é por isso que decide se manter ao lado dela, mas pelo sentimento de amor que confessa ter por ela a uma parceira de infortúnio que consegue transitar com outra perspectiva pela dor da perda do filho e então, do marido.


O cinéfilo certamente vai achar analogia com o que Nanni Moretti realizou em “O Quarto do Filho” (La Stanza del Figlio/Itália,2002). Ali também o primogênito de um casal morre em um acidente de barco. A diferença capital é que o casal formado pelo psiquiatra Giovanni e sua mulher Paola (Laura Moranti) não encontram uma toca que os esconda. A conformação parte de um melhor entendimento com a moça que o filho amava. Mas é por aí que os enredos se tocam: o “tratamento” é sempre com o que fez a falta: o amor. Só compreendendo-o (como Becca e Howie) é que se acha o espaço para continuar vivendo.


Temas insólitos que o cinema tratou muito bem.

sábado, 2 de julho de 2011

EM DVD: RESCALDO DO OSCAR
















Ao tratar dos filmes que competiram ao Oscar, em DVD, um deles vai estrear neste sábado, no Cine Estação: ”Reencontrando a Felicidade”(Rabbit Hole/EUA/2010).

“O Discurso do Rei” já pode ser visto em casa. Idem “Cisne Negro”. Idem “Inverno da Alma. Idem “172 Horas”. Idem “Bravura Indômita”. Falta o melhor filme estrangeiro, “Em Um Mundo Melhor”. E também os que candidataram atrizes como “Namorados Para Sempre”(ainda nos cinemas) e “Reencontrando a Felicidade”.Mas já está em circulação “O Vencedor” e ”Rede Social”, fechando o grupo dos mais expressivos títulos que disputaram prêmios da Academia de Hollywood este ano. Inegável que este é um “premio da indústria” como se costuma dizer e criticar, mas não deixa de ser um assunto que não pode ser omitido de uma discussão, nem que seja para analisar de forma negativa alguns elementos que se evidenciam no seu formato.


Todos os filmes citados já foram comentados nesta coluna, exceto os que ainda não chegaram por aqui, seja para a tela grande seja para a pequena. Resta ver o que há de novo nas locadoras. Minha recomendação vai, particularmente, para “O Sal da Terra”(Salto f the Earth/EUA,1956), um filme modesto com a maioria do elenco composta de amadores, que vai a fundo no tratar uma greve de mineiros no Novo México. Foi um movimento marcante por ter sido o primeiro do gênero em que as mulheres dos trabalhadores se colocaram à frente da luta pela causa já que os seus maridos haviam sido presos e ao sair do presídio estavam predestinados a penas maiores se reincidissem no movimento grevista.

Poucos interpretes são profissionais e entre eles está Rosaura Revueltas, a atriz que interpreta a esposa do líder dos grevistas, disposta a enfrentar os policiais “anglos” carregando no braço um filho recém-nascido e segurando outros dois. Um close desta mulher vale por um tratado sobre o tema. Impressionante. A direção é de Herbert J. Biberman.

Também pode ser visto em DVD o documentário “Godard,Truffaut: A Nouvelle Vague”(Deux a la Vague/França,2009) de Emmanuel Lorent. Para quem estuda cinema é indispensável. Conta, através das próprias palavras destes “mestres” a odisséia dos jovens François Truffaut e Jean Luc Godard, desde que se tornam críticos de cinema em publicações de prestigio na área, como “Cahiers Du Cinéma”, até se colocarem por trás das câmeras, a principio juntos, depois separados por diversidade de concepção em termos de estilo. O DVD exibe cenas de diversos filmes não só da dupla focalizada como de colegas do movimento que mudou o cinema mundial a partir de França. Jacques Rivette é visto através de um trecho proibido de “A Religiosa”.


E em se tratando de documentário também está nas locadoras “Garapa” de José Padilha, o diretor dos dois “Tropa de Elite”. Neste filme de 2009, ele focaliza 3 famílias que lutam para fugir da fome no interior do Ceará. O filme foi exibido durante um dia no recente festival acontecido no cine Olympia. A cópia ainda está em Belém, mas carece de licença do cineasta para ser exibida em sessões normais no mesmo cinema. Seria interessante esse contato para que o mesmo fosse exibido. Merece. E pode ser visto agora em DVD o musical “Burleque” de Steven Antin, uma tentativa de voltar ao gênero que fez sucesso na Hollywood do passado. O tom é mais para o “Cabaret” de Bob Fosse, mas o argumento é cheio de clichês e os números musicais não conseguem ganhar a simpatia que exibiu o trabalho onde Liza Minnelli se revelou como atriz-cantora. No elenco está, sem ânimo, a veterana Cher.


Inexplicavelmente inédito nos cinemas de Belém é “Um Homem Misterioso”(The American/EUA,2010) de Anton Corbjin com George Clooney. Ele protagoniza um matador profissional comandado por uma facção que não se explica bem a que ramo pertence. Mesmo com os clichês do gênero “thriller-suspense” é um filme interessante por se dedicar à psicologia do personagem, com menos ação. E diminuindo a janela entre cinema e DVD já se pode levar para casa “Bruna Surfistinha”, sucesso nacional que muito ficou devendo à atriz Deborah Secco, dando força ao papel da mais conhecida (e organizada) garota de programa da S. Paulo nos primeiros anos deste século. E mais: o suspense “Desconhecido”(Unknown/2011) com Lian Nielsen perdendo a identidade em Berlim, e “Santuário”, a aventura submarina produzida por James Cameron.

OS FILMES DAS FÉRIAS I




Falar em “filmes das férias” lembra o período em que as distribuidoras e exibidores de cinema engendram uma programação especialmente destinada à platéia juvenil que tem recesso no período escolar no meio do ano. Anteriormente esta programação se diversificava muito em países como o Brasil. No caso dos cinemas de Belém, longe dos centros em que as distribuidoras possuem filiais, os filmes eram agendados com base na disponibilidade de cópias já lançadas em salas de outras regiões. Presentemente, com a globalização do mercado, a estréia começa na fonte produtora, especificamente EUA. Os lançamentos se fazem quase sempre no mesmo dia de Los Angeles. Uma forma de combater a pirataria que alcança espectadores através do DVD. Mesmo assim há exceções, mas estas são orientadas, como se pode ver no programa traçado para este ano, por contingências que começam com o número de salas disponíveis para os filmes ambiciosos (em termos de renda).


Regularmente, os que escrevem sobre cinema e que não têm concessões com os “blockbuster” aguardam o que lhe parece substancial. E nos períodos de “safra”, ou de maior ambição dos donos da matéria-prima (distribuidores e exibidores) isto não existe (ou aparece pouco). Atualmente, a expectativa do chamado cinéfilo (o estudioso de cinema, diferindo do fã, abreviatura de fanático ou quem se contenta com o espetáculo sem analisar o que lhe é servido), limita-se a poucos títulos. O mais evidente é “A Árvore da Vida” de Terrence Malick, recentemente premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes. A data de estréia nacional está marcada para a próxima 6ª Feira. Cabe a pergunta: Belém estará no circuito? O trailer encontra-se em exibição no circuito Cinépolis. Queira Deus que chegue por aqui como “Meia Noite em Paris” um dos raros filmes de Woody Allen que alcança as nossas salas comerciais (o último desse cineasta foi “Vicky Cristina Barcelona”, sucesso de público no mundo todo).


Mas o que se promete e com certeza chega na frente de tudo, é “Harry Potter e as Relíquias da Morte-2ª. Parte” (Harry Potter and the Deathly Hallows-Part 2/EUA,2011) marcado para estrear no dia 15 de julho(desde os cinemas da Califórnia). É o fecho da série com base nos textos da inglesa J.K. Rowlins, agora focalizando o duelo entre Harry (Daniel Ratchcliff) e o Conde Valdemort(Ralph Fiennes). É o embate entre Bem e Mal, no caso, com sabor de vingança posto que a família de Harry sofreu nas mãos do malvado conde. Para se ter uma idéia da expectativa que segue o lançamento do filme, a venda de ingressos para uma das salas de um circuito local, uma das que vai fazer sessão de meia-noite, se esgotaram em um dia. Uma da filhas e netas que acompanham as histórias do bruxinho desta vez não conseguiram realizar o “ritual”. Aguardam a venda em outro circuito.

Outra estréia de julho que também abrange o ponto de origem é “Os Pinguins do Papai”(The Popper’s Perguins/EUA,2011) de Mark Waters. Trata-se de uma comédia com Jim Carrey protagonizando o herdeiro de um bando de pingüins que passam a habitar seu modesto apartamento. A estréia nacional deve acontecer na primeira semana de julho.

Ainda em julho haverá o lançamento de “Transformers 3, O Lado Negro da Lua”(Transformers, Dark of the Mon/EUA,2011) de Michael Bay com roteiro de Ehren Kurger e produção de Steven Spielberg. Desta vez os monstros de metal que “fazem a festa” das crianças estão no lado escuro da lua e são descobertos pelos tripulantes da Apolo 11, fato que obviamente foi ocultado pela imprensa (outra vertente hilária se junta a que supõe boato infundado a viagem de Armstrong à lua, considerando que tudo foi construído em estúdio de cinema). Como nos outros filmes da franquia, os efeitos especiais proliferam. Bom para a garotada.

CARRINHOS DE BRINQUEDO







Diz-se que as meninas de tenra idade gostam de brincar com bonecas. E os meninos, que nessa época ainda não descobriram o fascínio da bola de futebol, apreciam os carrinhos. Esses esreótipos são recorrentes e muito flagrantes no processo representação social de imposição de identidades de gênero. Pensando assim, o cineasta John Lasseter, atual diretor de animação dos estúdios PIXAR (que ele ajudou a criar) e Disney, faz alusão, numa entrevista, à sua própria infância concebendo este “Carros 2” (Cars 2/EUA, 2011) ora em cartaz internacional (nos EUA foi a maior bilheteria da semana passada).
Lasseter não nega que é um apaixonado por carros. O pai era funcionário da Chevrolet e ele considera os seus entes queridos como “família Chevi”. Hoje possui vários carros, evidenciando um modelo do ano em que nasceu (1957), um Corvette, e um Jaguar de 1952 que ele considera “lindo”. Este tropismo por veículos de quatro rodas levou-o a voltar ao tema do filme que produziu e-co-dirigiu em 2006. Só mesmo a paixão pelo assunto desculparia a empreitada. Isto porque o primeiro “Carros” não foi um grande sucesso da PIXAR (que hoje comemora os seus 25 anos). No currículo da firma está em sétimo lugar nas bilheterias. Mas a “voz do dono” soou mais alto. E apesar dele dizer que a continuação só foi possível com uma história nova, com nenhuma ligação com a que deu origem ao filme anterior, a verdade é que “Carros 2” é reciclagem. Lá estão os mesmos tipos, especialmente o vermelhinho Relâmpago McQueen e o companheiro “lata velha” Mate, os dois dispostos a enfrentar corridas na Itália, Inglaterra, Japão, Alemanha, França e Espanha, sem saber, de inicio, que nessas corridas estão, igualmente, carros-espiões, os supostos bandidos que fazem a vez de terroristas, clichês de filmes de ação. Na linha de humanizar os veículos, há carros com “sotaques” dos países de onde são fabricados. E cores e trejeitos que enfatizam as nacionalidades.(A filósofa Marilena Chauí já tratava da questão do fetiche e como isso se reproduz no sistema capitaista).
O filme é, obviamente, endereçado aos pequenos espectadores. O que me pareceu prejudicial para o melhor entendimento dessa turma, é o excesso de diálogos. Há muita fala, muita anedota vocal bastante adulta, e uma metragem acima da média para animação(outra vez, pois o primeiro filme levava duas horas na tela). Presenciei pequenos espectadores, acompanhados dos pais, deixando a sala de projeção muito antes do final. Me arrisco a dizer que possivelmente as meninas não devem figurar entre as fãs dos heróis motorizados. Mas não pode ser exceção. E nem adultos que não sejam “vidrados” em automóveis. Para mim, o filme de Lassiter, apesar de esmerado em técnica, foi desconfortante. E fui assisti-lo como um voto de confiança à PIXAR depois de seguidos sucessos como”Ratatouille”, “Wall E”, “UP” e “Toy Story 3”. Aqui na brincadeira com carros, não existe a poesia que pairava sobre os exemplos passados, da sapiência do ratinho cozinheiro ao robô esquecido no planeta abandonado, coroados com o simpático ancião que voava com casa e tudo para realizar o sonho de sua amada que já não estava ao seu lado e dos brinquedos que sentem a separação do dono transformado em adulto.
Mas o mês é de férias e deve-se compreender que a garotada que vive no videogame ou, mais atrás na idade correndo com o carrinho puxado por um barbante, está de férias e adora cinema na tela grande. Para ela esse cardápio que vai prosseguir esta semana com “Transformers 3” vai ser um “achado”. O critico que não conheceu Peter Pan, possivelmente, ficará assistindo aos DVDs em casa. E também prestigiando as sesões extras das salas alternativas.