sábado, 2 de julho de 2011

CARRINHOS DE BRINQUEDO







Diz-se que as meninas de tenra idade gostam de brincar com bonecas. E os meninos, que nessa época ainda não descobriram o fascínio da bola de futebol, apreciam os carrinhos. Esses esreótipos são recorrentes e muito flagrantes no processo representação social de imposição de identidades de gênero. Pensando assim, o cineasta John Lasseter, atual diretor de animação dos estúdios PIXAR (que ele ajudou a criar) e Disney, faz alusão, numa entrevista, à sua própria infância concebendo este “Carros 2” (Cars 2/EUA, 2011) ora em cartaz internacional (nos EUA foi a maior bilheteria da semana passada).
Lasseter não nega que é um apaixonado por carros. O pai era funcionário da Chevrolet e ele considera os seus entes queridos como “família Chevi”. Hoje possui vários carros, evidenciando um modelo do ano em que nasceu (1957), um Corvette, e um Jaguar de 1952 que ele considera “lindo”. Este tropismo por veículos de quatro rodas levou-o a voltar ao tema do filme que produziu e-co-dirigiu em 2006. Só mesmo a paixão pelo assunto desculparia a empreitada. Isto porque o primeiro “Carros” não foi um grande sucesso da PIXAR (que hoje comemora os seus 25 anos). No currículo da firma está em sétimo lugar nas bilheterias. Mas a “voz do dono” soou mais alto. E apesar dele dizer que a continuação só foi possível com uma história nova, com nenhuma ligação com a que deu origem ao filme anterior, a verdade é que “Carros 2” é reciclagem. Lá estão os mesmos tipos, especialmente o vermelhinho Relâmpago McQueen e o companheiro “lata velha” Mate, os dois dispostos a enfrentar corridas na Itália, Inglaterra, Japão, Alemanha, França e Espanha, sem saber, de inicio, que nessas corridas estão, igualmente, carros-espiões, os supostos bandidos que fazem a vez de terroristas, clichês de filmes de ação. Na linha de humanizar os veículos, há carros com “sotaques” dos países de onde são fabricados. E cores e trejeitos que enfatizam as nacionalidades.(A filósofa Marilena Chauí já tratava da questão do fetiche e como isso se reproduz no sistema capitaista).
O filme é, obviamente, endereçado aos pequenos espectadores. O que me pareceu prejudicial para o melhor entendimento dessa turma, é o excesso de diálogos. Há muita fala, muita anedota vocal bastante adulta, e uma metragem acima da média para animação(outra vez, pois o primeiro filme levava duas horas na tela). Presenciei pequenos espectadores, acompanhados dos pais, deixando a sala de projeção muito antes do final. Me arrisco a dizer que possivelmente as meninas não devem figurar entre as fãs dos heróis motorizados. Mas não pode ser exceção. E nem adultos que não sejam “vidrados” em automóveis. Para mim, o filme de Lassiter, apesar de esmerado em técnica, foi desconfortante. E fui assisti-lo como um voto de confiança à PIXAR depois de seguidos sucessos como”Ratatouille”, “Wall E”, “UP” e “Toy Story 3”. Aqui na brincadeira com carros, não existe a poesia que pairava sobre os exemplos passados, da sapiência do ratinho cozinheiro ao robô esquecido no planeta abandonado, coroados com o simpático ancião que voava com casa e tudo para realizar o sonho de sua amada que já não estava ao seu lado e dos brinquedos que sentem a separação do dono transformado em adulto.
Mas o mês é de férias e deve-se compreender que a garotada que vive no videogame ou, mais atrás na idade correndo com o carrinho puxado por um barbante, está de férias e adora cinema na tela grande. Para ela esse cardápio que vai prosseguir esta semana com “Transformers 3” vai ser um “achado”. O critico que não conheceu Peter Pan, possivelmente, ficará assistindo aos DVDs em casa. E também prestigiando as sesões extras das salas alternativas.

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