sexta-feira, 27 de novembro de 2009

FIM DE ANO NOS CINEMAS








A chegada do fim do ano leva os cinemas comerciais a explorar os grandes lançamentos que agora ocupam uma faixa internacional como forma de diminuir o alcance da pirataria. Assim, permanecem em cartaz esta semana, em um bom numero de salas dos cinemas de Belém (PA), dois dos maiores êxitos comerciais do período: “Lua Nova” (New Moon) e “2012”.
Essa permanência diminui o número de estréias e deixa o cinéfilo belenense inteiramente ligado aos programas alternativos, em grande número esta semana:
a Sessão Cult do Libero Luxardo com “Paixões que Alucinam”;
a sessão Moviecom Arte (Castanheira, sala 4) com.”Juventude”, de Domingos de Oliveira;
duas sessões noturnas, no Cine-Teatro Maria Sylvia Nunes (Estação das Docas) com “Che - Parte 2, A Guerrilha”;
a estréia da Sessão Aventura, no Olympia, domingo às 16 h, com a primeira série (2 episódios) de “As Aventuras do Capitão Marvel” e o longa “O Filho de Tarzan, de Richard Thorpe com Johnny Weissmuller;
“Blow Up”, de Michelangelo Antonioni, segunda feira, 29/11, às 19 h, no Cineclube Alexandrino Moreira (Auditório do IAP);
e a programação da ABCeD e Curro Velho com "O Pagador de Promessa" de Anselmo Duarte, no Cine Clube Pedro Veriano, às 18h30, terça feira, 1º/12 (Casa da Linguagem).


No circuito Moviecom, está o desenho animado europeu “Planeta 51” (Planet 51/Espanha,2009), elogiado pela critica norte-americana. Uma idéia curiosa: um astronauta norte-americano pousa em planeta supostamente desabitado. Surpreende-se ao encontrar uma espécie de clone da Terra há 50 anos, lembrando as cidades desse tempo. Os seres são pequeninos e verdes. Na premissa, o filme celebra o próprio gênero ficção-cientifica no tempo em que se esboça a ação, configurando os ets da forma antiga e o roteiro atual conjuga a proposta “retrô” com a própria construção narrativa. O desenho é em 2D. Direção de Jorge Blanco, Javier Abad e Marcos Martinez de um roteiro de Joe Stillman. Cópias dubladas.

“Paixões que Alucinam”(Shock Corridor/EUA, 1963), de Samuel Fuller (1912-1997), diretor independente do cinema norte-americano. Realização bastante elogiada trata da odisséia de um jornalista que se interna num hospital para doentes mentais, objetivando descobrir um perigoso assassino refugiado. Roteiro próprio e atuação de Peter Breck, Constance Towers e Larry Tucker. Exibição sábado, às 16h no Cine Libero Luxardo (Sessão Cult).

“Juventude”(/Brasil,2008), direção e roteiro de Domingos de Oliveira, trata da memória de 3 sexagenários: o comerciante David (Paulo José), o cardiologista Ulisses (Aderbal Freire Filho) e o diretor de teatro Antonio (Domingos), que se reúnem na mansão de um deles em Petrópolis. Um pouco de autobiografia com muita sensibilidade.

“Che 2, A Guerrilha”(Che II/EUA,2008)- Segunda parte da biografia de Ernesto “Che”Guevara, de Steven Soderbergh. Inferior à primeira etapa trata da participação do médico argentino e colega de Fidel Castro na revolução cubana de 1959 em outra manifestação de guerrilha, no caso, a da Colômbia, onde ele seria morto. Benicio Del Toro é uma das boas coisas do filme.

“As Aventuras do Capitão Marvel”(EUA,1942), seriado de artesanato competente a cargo de dois diretores (John English e William Witney). A base é o herói dos quadrinhos, muito popular nos anos 40. Em 12 episódios, serão vistos domingo os dois primeiros
“O Filho de Tarzan” (EUA,1941), Johnny Weismuller como o herói criado por Edgar Rice Burroughs. O papel de Jane, a companheira do herói, é vivido por Maureen O’Sullivan, mãe da atriz Mia Farrow. E o menino, Boy, é Johnny Sheffield, que seria depois outro herói das selvas: Bomba.
A Sessão Aventura (ACCPA) recupera um aspecto da cultura local, como a predileção por filmes em episódios exibidos nas salas de bairro, em sessão vespertina aos sábados no Olympia, a mais de 50 anos.

“Blow Up”, de Michelangelo Antonioni, premiado internacionalmente. Um fotógrafo profissional descobre, ao ampliar uma foto entre as imagens capturadas em um bosque, o corpo de um homem morto. As diversas ampliações da foto confirmam o achado, mas não se sabe de mais detalhes. Cineclube Alexandrino Moreira (Auditório do IAP), segunda feira.
"O Pagador de Promessa" (1962), de Anselmo Duarte, único filme brasileiro a receber a Palma de Ouro em Cannes. Enfoca a odisséia de um agricultor diante da intolerância da Igreja, negando-lhe a entrada no recinto para pagar uma promessa pela cura de um burro, seu animal de trabalho. Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem), terça feira.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

ASSIM ESTAVA ESCRITO






A indústria do cinema nos EUA, centralizada em Hollywood, fez mitos e edificou seu próprio mito. As revistas de cinema, as colunas de jornais como as de Hedda Hopper e Louella Pearson, os programas de rádio, demonstraram a tirania dos grandes estúdios, mesmo camuflada de “glamour”, evidenciando não o poder de mando dos donos da “fábrica”, mas a aura de astros e estrelas, de artistas que foram moldados de forma a cativar platéias com um charme que muitas vezes não possuíam.
No final dos anos 1940 e inicio dos 1950, a própria grande indústria passou a realizar filmes que satirizavam os seus domínios. Coincidentemente esses filmes emergiam numa fase em que havia interesse em demolir o Código de Produção, ou Código Hayes, uma censura interna que modulava o que o cinema norte-americano deveria pautar suas produções geralmente requintadas. Seriam metodicamente filmes críticos. E como os fãs, espalhados pelo mundo, tinham na escola americana sua linha de criação e viam artistas e técnicos como deuses, a amostragem “humana” (vale as aspas) dava-lhes um ar de blasfêmia. Desta fase são, entre outros, “Crepúsculo dos Deuses” (1949/50), “Assim Estava Escrito” (1952), “Cantando na Chuva” (1952), “A Condessa Descalça” (1952), ”Nasce Uma Estrela” (1954), “A Grande Chantagem” (1955), “A Deusa” (1958), “A Cidade dos Desiludidos” (1962), “A Noite Americana” (1973) e “Barton Fink” (1991). Um grupo caracterizado por uma estética primorosa, a forma, aliás, cabível numa ótica eminentemente critica a um sistema que, enfim, subvencionaria os produtos.
“Cinema Sobre Cinema” que a ACCPA programou para o Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem) elegeu “Crepúsculo dos Deuses”(já exibido), “Assim Estava Escrito”(hoje, 24), “Cantando na Chuva”(em janeiro), “A Noite Americana”(em fevereiro) e “Barton Fink”(em março).
“Assim Estava Escrito”(The Bad and the Beautiful) é provavelmente um dos trabalhos mais pretensiosos do esquema critico aos grandes centros de produção cinematográfica dos EUA em um determinado período. Trata de um produtor famoso, ora desgastado com alguns insucessos, que pretende se reerguer convidando velhos comparsas para uma produção de vulto. São estes: uma atriz (interpretada por Lana Turner), um roteirista (Dick Powell), e um diretor de arte (Barry Sullivan). Quem advoga o pedido é o diretor do estúdio (Walter Pidgeon). Em “flash back” se sabe que esse produtor (bem representado por Kirk Douglas), não acompanhou como devia uma crise emocional da estrela, usou de um estratagema para livrar o roteirista da constante intervenção da esposa deste (Gloria Grahame), incitando-a a viajar com um galã latino (Gilbert Roland), por infelicidade mortos em um acidente de aviação. Outra culpa é que esse produtor tampouco valorizou o outro colega. Essas mágoas impedem que o trio prestigie o cineasta quando lhes pede apoio. E nessa panorâmica do passado observa-se como funciona/funcionava a grande empresa do ramo, como eram manipuladas idéias, textos, intérpretes, enfim como era trabalhada um enredo visando exclusivamente um determinado gosto de platéia.c
O cinema dos chamados “tycoons” é mostrado com mágoa, mas sem tirar de si a maquilagem glamourosa. Os críticos da época viram no filme forte influência do “Cidadão Kane” de Orson Welles. Até porque John Houseman, colega de Orson Welles no Grupo Mercury de rádio e teatro, também participou da produção de “Kane”. Dessa forma, o isolamento do produtor Jonathan Shields (Douglas) é semelhante ao do magnata jornalista Charles Foster Kane (Welles). Ambos tiveram o poder nas mãos e vêem fugir muito do que tinham, especialmente do que lhe causaria orgulho. A diferença é que Jonathan não tem a sua “rosebud”, ou seja, a boa lembrança da infância que marcou Kane. O roteiro premiado de Charles Schnee, vindo de um conto de Geoge Bradshaw publicado em 1951 no “Ladie’s Home Journal”, mostra o homem maduro que sempre ambiciona e jamais se entrega a um exame de consciência e jamais se mostra arrependido de seu passado.
O filme recebeu 5 Oscar (atriz coadjuvante: Gloria Grahame, direção de arte, fotografia, roteiro, figurino) perdeu um (o de ator) e ganhou muitos outros prêmios internacionais. Deu margem à uma continuação: “Two Weeks in Another Town”(A Cidade dos Desiludidos), mostrando como o cinema norte-americano foi buscar espaço na Europa por volta dos anos 60.
É importante tomar contato com esses documentos históricos. Um dos objetivos da ACCPA para que o público se inteire, hoje, da absorção da ideologia cinematográfica desse país.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

REVENDO KING VIDOR







O cineasta King Vidor (1895-1982), filho de fazendeiro rico, estudou em escola militar, descobriu o cinema como projecionista e passou a dirigir filmes aos 18 anos. Na fase silenciosa deixou uma obra-prima: “A Turba” (The Crowd), sem dúvida um dos maiores filmes de todos os tempos. Com o advento do som custeou experiências como “O Pão Nosso” (Our Daily Bread) e a versão da peça “Street Scene” de Elmer Rice vencedora do Prêmio Pulitzer. No Brasil, o filme foi intitulado “No Turbilhão da Metrópole”. Também impressionou com “Aleluia” (1929) com atuação de atores (e cantores) negros, e já em 1937, com o melodrama “Stella Dallas”, ainda hoje um clássico do melodrama (de minha predileção).
A obra de Vidor, especialmente os seus primeiros filmes, ainda é pouco vista no mercado brasileiro de DVD. Nem mesmo seus sucessos comerciais como “Fúria do Desejo” (Ruby/1956) alcançaram esta faixa que o revelaria à nova geração de cinéfilos. Foi lançado agora nessa mídia, o seu último trabalho, “Salomão e a Rainha de Sabá”(Salomon and Sheba/ 1959) e dois clássicos dos primeiros anos de implantação do sistema de som: “No Turbilhão de Metrópole” e “O Pão Nosso”. No primeiro, sem deixar o teatro de origem, conservando as falas e a quase unidade de cenário, Vidor insere um prólogo e um epílogo cinematográficos, mostrando o alvorecer na grande cidade e daí partindo em travelling para as ruas até chegar ao lugar escolhido para a ação. O roteiro do próprio autor da peça original detalha a vida de gente simples que vive alimentando “fofocas” e com isso acaba proporcionando um crime passional. No excelente “Pão Nosso” segue um casal que a depressão pós-1929, com o marido desempregado, aceita ir para uma fazenda hipotecada por um parente colateral. Sem experiência na zona rural, a salvação é quem aparece pedindo emprego. Logo se forma uma espécie de cooperativa, com todos trabalhando para o bem comum. O estremecimento começa com a chegada de uma mulher que se afeiçoa pelo dono do empreendimento e depois, com a falta de chuvas que leva os novos agricultores a canalizar água de um rio próximo. Os principais intérpretes, Tom Keene e Karen Morley, são os mesmos de “A Turba”(ainda inédito em DVD). Tudo funcionando muito bem na linha de uma escola realista a seguir o famoso “Ouro e Maldição” (Greed) de Eric Von Stroheim. Quem estuda cinema tem por obrigação conhecer a obra de King Vidor.
Também em DVD dois inéditos nos cinemas: “Memória Artificial”(Blank Slate/EUA,2009) misto de ficção - cientifica e aventura policial, e “Gallio, Refém do Medo”(Gallio/Itália, 2008) de Dario Argento.
“Memória Artificial” é dirigido e escrito por John Harrison e trata de uma prisioneira (que se sabe inocente) escolhida para receber a memória da vitima (fatal) de “serial killer”, na esperança de que assim venha a ser conhecido o assassino. Em meio à trama há, também, o assassinato de um policial e se sabe que pessoas do alto escalão do governo estão envolvidas no crime.Triller bem tratado.
“Gallio” mostra que o diretor de “O Gato de 9 Caudas” continua preferindo as seqüências de violência explicita, para isso seguindo “serial killer”(mais um) através de um delegado que já esteve preso (Adrian Brody). Há quem goste das “hemorragias” mostradas em diversos planos pelo cineasta que é sobrinho em segundo grau de Libero Luxardo. Mas quando essa preferência é gratuita, visando apenas chocar, naturalmente se condena. A sutileza é muitas vezes a prova de confiança do realizador com a sua platéia. Argento tem agora 68 anos, e se mostra coerente com o que fez há 30 anos.

OS DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

• A Mulher Invisível
• A Proposta
• Transformers - A Vingança dos Derrotados
• Trama Internacional
• Monstros Vs. Alienígenas
• Dragonball Evolution
• Minhas Adoráveis Ex-Namoradas
• Ano Um
• A Chamada
• Os Falsários

sábado, 21 de novembro de 2009

LA FRANCE







Serge Bonzon, o ator e cineasta, realizou “La France (Fr. 2008,102 min.) concorrendo em seis festivais internacionais, sendo laureado em dois: Prêmio Jean Vigo 2007 de melhor longa metragem; e Melhor cineasta de ficção do Festival Internacional de Cinema Contemporâneo de Mexico - Ficco 2008. Nesse drama, interpretado por Sylvie Testud, Pascal Greggory, Gullaume Verdier, Jean-Christophe Bouvet, Guillaume Depardieu, entre outros, o roteiro captura o outono de 1917 quando a Primeira Guerra está em processo. A milhas do front, a jovem Camille (Sylvie Testud) tem poucas notícias do marido, mas, certo dia ela recebe uma carta dele terminando o casamento. Sente-se desnorteada e para tirar a prova do que há de real nesse escrito, segue para o campo de batalha. No meio do caminho é forçada pela patrulha a retornar porque “mulher não anda aquela hora da noite na rua”. Mas a jovem está decidida a continuar a jornada e a decifrar o enigma do seu casamento. Assim, disfarça-se com roupas masculinas e segue diretamente ao front, corta caminho para fugir dos soldados, mas se depara com um grupo a quem segue e eles a aceitam considerando-a um jovem. Nova vida e novas descobertas sobre o que representa a convivência no cotidiano entre os colegas de batalha.
A proposta de Bonzon não fica muito clara, mas é possível ser a utilização de uma fábula para tratar da guerra e de uma re-novação de identidades quando este ambiente é situado socialmente como masculino, espaço despojado de tempo para pensar o amor. Um romance a lembrar “Yentl” (com Barbra Streissand, de uma história de Isaac B. Singer). A fantasia dá lugar a situações arriscadas para a jovem, durante muito tempo, como o encontro entre os amantes. Contudo, o cineasta viu um significado. Seria um plano onírico saído de um sentimento (o amor da esposa abandonada). Nesse tom irreal, reforçado com os soldados tocando música, próximo à linha inimiga, a narrativa acena para o surrealismo embora não assuma formalmente essa opção. Fica um híbrido estético a reforçar o temático irreal. Os amantes ficam incólumes, enquanto o pelotão que abrigou Camille segue para a Holanda. Sabe-se por uma legenda que esse pelotão não chegou a seu destino. Seria o caso de o diretor criar uma elegia ao amor do casal da história, mas a julgar pelo comportamento da esposa quando faz sexo com o marido, há limitações. Ao olhar para o lado, procurando alguma coisa, há um aceno para uma possível tragédia. Mas Bonzon não quis terminar seu filme de modo realista. Seria uma incongruência já que a construção distancia-se a passos largos da realidade.
O filme ganhou uma produção interessante com locações nos espaços onde aconteceram os fatos imaginados. Também o elenco secundário mostra-se coeso, embora pouco seja exigido de coadjuvantes. Nos diálogos, forçosamente literários, há menções a diversos temas, inclusive à missão de Camille, logo que ela revele a sua verdadeira identidade. Mas o tipo físico não conduz qualquer fala à uma consistência dramática. E quando a tropa sabe que há uma mulher entre os homens o comportamento de todos é no mínimo estranho. Na verdade, esse aspecto revela o que o imaginário social explora quando mostra a separação entre o mundo masculino e feminino.
O enredo não enfoca o título. Só em um momento um soldado revela a sua nacionalidade e a vontade de voltar a seu país. Mas não justifica a odisséia da mulher que se lança em busca do marido num campo de batalha. Supõe-se, então, que a fábula explora simbolicamente a nação (a mulher) em busca da paz (o amor reconquistado). Seria isso?
O filme não chegou a ser lançado comercialmente no Brasil. Dessa vez a distribuição considerou as perspectivas de mercado e o acolhimento por parte da critica. É uma curiosidade por ter sensibilizado organismos oficiais franceses que o premiaram com um troféu respeitado.
Aos interessados no trabalho de Sergio Bonzon, procurem assisti-lo no Cine Olympia. Não custa nada, além do tempo na sala escura.
Cotação : (***) Bom

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

VAMPIROS, LOBISOMENS E ALTERNATIVAS







“Lua Nova”(New Moon), o segundo filme da franquia iniciada com “Crepúsculo” (Twilight) está neste programa de lançamentos da semana. O filme ganha várias salas em cópias legendadas e dubladas. É a atração comercial a dividir espaço com “2012- O fim do mundo”, o atual campeão de bilheteria.
“Atividade Paranormal” estará em pré-estréia na sala 4 do Moviecom Castanheira, às 21,55, presentemente um dos filmes mais vistos nos EUA esta semana.
E o cinema extra entra com muitos títulos. Na mesma sala 4, do Moviecom Castanheira, o projeto Moviecom Arte apresenta “Um Romance de Geração”, às 16h25. No Cine Libero Luxardo, desde ontem e até domingo às 19h30: “Bem-Vindo”(Welcome). Na Sessão Cult do mesmo Libero Luxardo, sábado, 21, às 16 h “Gloria Feita de Sangue” (Paths of Glory) de Stanley Kubrick. E no Cine Olympia, na Sessão Cinemateca de domingo, 22, às 16h, “O Picolino” (Top Hat). No Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem) , na 3ª. Feira, 24, às 18,30, a “sessão dos Clássicos” da ACCPA exibirá “Assim Estava Escrito” ( .
“Lua Nova”(New Moon/EUA,2009) foi definido pelos críticos norte-americanos como “um filme de fã”. Com isso, eles especificam que o filme vai agradar ao público que gostou de “Crepúsculo” e de todos os livros de Stephanie Meyer, a autora das histórias, incluindo “Eclipse” que já está sendo filmado.
Na nova produção, o diretor é Chris Weitz explora o ocorrido com Bella (Kristen Stewart) quando Edward (Robert Pattinson) e seus familiares vampiros mudam-se da cidade. Ela se aproxima de Jacob (Taylor Lautner) que é um lobisomem. Mudando de sanguessuga para monstro que se materializa no luar, o filme não desmerece seus admiradores literários. Já se prevê o mesmo sucesso de bilheteria e a prova é o numero de cópias feitas pela Empresa Paris Filmes dando à Belém a chance de optar pelas dubladas ou legendadas em duas salas de shopping. O lançamento mundial é uma forma de luta contra a pirataria.
“Atividade Paranormal” (Paranormal Activict/;EUA,2009) trata de uma casa no subúrbio onde estranhos fenômenos paranormais vem acontecendo. Os moradores identificam com câmeras os espíritos invasores e tentam enfrentá-los. Produção de baixo orçamento que vem conquistando o público por onde passa. A direção é de Oren Peli, também autor do roteiro. Pré estréia.
“Um Romance de Geração” (Brasil/2009) é baseado no livro de Sérgio Sant’Anna e se propõe a uma comédia sobre um escritor que não escreve. O enredo trata do escritor Carlos Santeiro cujo único livro foi elogiado pela crítica. Mas ele deixou de escrever. Esquecido, entrega-se à bebida e às corridas de cavalos. Até que uma jornalista surge para entrevistá-lo. Para impressioná-la ele inventa livros que nunca chegou a escrever dando margem a um diálogo em que a esperteza é posta à prova. O filme foi exibido no recente Festival do Rio.
“Bem Vindo” (Welcome/França,2008) é dirigido por Philippe Lioret que também escreveu o roteiro juntamente com Oliver Adan e Emanuel Courcon. Trata de Bilal, jovem iraquiano de 17 anos que deixou a sua terra após a namorada viajar para Londres. Decidido a procurar novos rumos viaja pela Europa e ao chegar diante do Canal da Mancha pensa que é o que o está separando da amada Mina. A meta é atravessar a nado. O filme foi premiado no último Festival de Berlim.
“Glória Feita de Sangue” (Paths of Glory/EUA,1957) foi proibido na França por muitos anos. Mas é consagrado como uma das obras-primas do diretor Stanley Kubrick. Trata de um pelotão francês, durante a 1ª. Guerra Mundial, encarregado de uma missão suicida a merecer protesto de um coronel (Kirk Douglas). Por isso, essa autoridade é levada à Corte Marcial. O projeto do filme foi bancado pela empresa do ator, a Batjac. Gerou polêmica e prêmios internacionais.
“O Picolino” (Top Hat/EUA, 1935) é a melhor comédia musical com a dupla Fred Astaire & Ginger Rogers, Com música de Irvin Berlin e coreografia de Hermes Pan apresenta números musicais fantásticos como “Cheek to Cheek” usado por Woody Allen no seu “A Rosa Púrpura do Cairo”. A direção é de Mark Sandrich e no elenco está o comediante Edward Everett Hoton (de “Horizonte Perdido”).
Clássicos do Cinema exibirá, no CC Pedro Veriano (Casa da Linguagem), na sessão “Cinema sobre Cinema” o filme de Vicent Minelli “Assim Estava Escrito” (The Bad and the Beautiful, EUA, 1952), com Lana Turner, Kirk Douglas, Walter Pidgeon entre outros veteranos desse período. O enredo enfoca um produtor de cinema de Hollywood que se projeta na carreira através dos filmes B e avança para os grandes estúdios. Sua postura autoritária derruba quem está no seu caminho. Esse caráter é visto através do olhar das pessoas que trabalham com ele.

2012 – O FIM DO MUNDO








Os maias, povo que viveu na região onde hoje ficam Honduras, Guatemala e Península de Yucatán, apresentavam um extraordinário conhecimento astronômico, prevendo os eclipses e as estações do ano. Este povo também manteve um calendário que impressionou os conquistadores espanhóis. O detalhe curioso é que o calendário ia até dezembro de 2012 quando um enquadramento planetário daria margem a um cataclismo que dizimaria a humanidade.
A previsão maia aliada ao pouco que se conhece de partículas atômicas como o neutrino, impulsionou o roteiro do novo “disaster movie” do especialista Roland Emmerich (de “O Dia Depois de Amanhã”). Este seu “2012- o Fim do Mundo”(EUA, 2009, 158 min.) rivaliza com o que alguns diretores já fizeram no passado, do “When Worlds Collide” de George Pal & Byron Haskin (que no Brasil chamou-se mesmo “O Fim do Mundo”) às superproduções de Irwin Allen (tipo “Inferno na Torre”) passando por “Terremoto” (de Ronald Neame) e as duas “guerra dos mundos”(de Byron Haskin e de Steven Spielberg).
O “mergulho” no filme necessita, primeiro, do despojamento de qualquer idéia que acuse uma obra de arte cinematográfica. “2012” foi realizado para a grande platéia se maravilhar (ou assustar) com prodigiosos efeitos especiais e, como de hábito, torcer pelo “herói”, no caso, um escritor modesto que aumenta a renda como motorista de um magnata.
Não falta um só clichê do gênero. Os cientistas alertam para o perigo advindo da conjunção dos planetas e das radiações solares, mas só um grupo de “capitalistas chineses” (ironia, em se tratando de um país comunista) fabrica quatro gigantescas naves submarinas que devem abrigar pessoas e animais para sobreviver aos desastres promovidos pelas mudanças gerais nas placas tectônicas do planeta, valendo como um replay da Arca de Noé, sem aviso de Deus, ou mesmo, um profeta. Mas nessa história está presente um presidente negro dos EUA (Danny Glover) que faz a vez de comandante de barco, ficando em terra para morrer com os seus eleitores. Outras evidências: a destruição dos símbolos de grandes cidades - da Torre Eifell ao nosso Cristo Redentor, do obelisco e Capitólio em Washington à Basílica de S. Pedro no Vaticano. E, naturalmente, o espírito de aventura do escritor (John Cusack), o seu relacionamento com a ex-mulher (Amanda Peet), já casada com um “boa praça” que pelo espírito despojado vai ajudar os personagens sem “entrada franca” na arca a conseguirem superar esse obstáculo. A participação dos filhos do “mocinho” apontam para crianças espertas como as tantas de filmes infantis. E, finalmente, vinhetas da cobiça de algumas pessoas que não se importam com o destino de seus semelhantes, sobrando honraria para um cientista que não só sobrevive ao fim do mundo como arranja namorada.
Tudo no enredo é previsível como todo a narrativa se acomoda na linearidade de contar a uma história sobre catástrofe espetacular. Mas é fato que o espectador dificilmente vai achar enfadonho os 158 minutos de projeção. Depois de algumas seqüências explicativas sobre o que irá acontecer, neste caso, expondo dados científicos reais para a fantasia, logo inicia a onda de desastres com a visão de estrias abrindo-se no solo de Los Angeles. E logo se vê o escritor dirigindo seu carro, com os familiares, entre prédios que desabam, enormes crateras que se abrem, e focos de incêndio. Tudo sem ferir qualquer um dos passageiros do veiculo (que apesar de chocar-se com objetos pesados só surge chamuscado no fim da corrida.
Outra ênfase nessa corrida contra a morte é dada às viagens de avião, primeiro em um monomotor, depois num gigantesco cargueiro russo, cortando espaços de montanhas que desabam e ainda proporcionando a pândega fuga em carros que estão no bagageiro da aeronave.
Como se vê, o filme segue a perspectiva a qual se alinhou, ou seja, uma invenção ao estilo fantástico e fantasioso como um passeio num brinquedo de parque de diversões. Essa proposta é preenchida. O público vai ter uma boa chance de prognósticos para o futuro.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

AQUELE QUERIDO MES DE AGOSTO









A primeira imagem de “Aquele Querido Mês de Agosto” (Portugal, 2008)

é de um terreiro doméstico onde galinhas ciscam enquanto uma raposa as observa tentando apanhá-las. Uma espécie de “cartão postal” da zona rural onde será focalizada a ação do filme. Subsequente, as tomadas circulam em ritmo mais ou menos curtos, captando grupos musicais típicos da região. Esses números são entrecortados por seqüências rápidas de conversas entre pessoas comuns, ora brincando, ora contando fatos passados, ora comentando o presente. A câmera passeia também pela oficina de um jornal local e comentários sobre a criação dele no inicio do século passado, de um projeto familiar e atualmente dedicado aos conterrâneos. É um modo exemplar de registrar os fatos da cidade, com o noticiário tradicional desde o registro dos que morreram, casaram, nasceram, ou seja, tudo o que acontece na “terrinha”. E antes que mais apêndices apareçam há lugar para o diálogo entre o diretor Miguel Ramos e seu roteirista discutindo a produção do filme. Essa discussão do embrião da filmagem é uma espécie de cordão umbilical entre o documentário e o drama a ser focalizado.
Sempre fazendo metacinema, mesmo quando se distancia no documento, o filme captura imagens que registram casos marcantes da região. Como a narração de um rapaz que em todos os carnavais se atira do alto de uma ponte. Nesse enfoque ele está sem um dente incisivo e problema numa das pernas. Sofreu quando não mediu o nível da água na última queda. Ele conta a sua odisséia para a câmera e, muito mais adiante, quando se vê num grande plano um desfile carnavalesco passando pela ponte, já não se vê mais o “saltador”. Isso é mostrado de forma muito sutil como, aliás, tudo no trabalho de Ramos.
Na filmagem dramática vê-se a busca de atores. As pessoas chegam com as suas identidades ou já estão selecionadas e vêem o movimento dos técnicos. Sem pontuação, adentra-se no enredo proposto e segue-se a cantora de uma banda que se apaixona pelo primo, também músico. O óbice ao romance é o pai dela, extremamente possessivo. Diz que a mãe sumiu “porque foi levada por extraterrestres”. Mas o pessoal da aldeia conta que ela fugiu com outro homem. Este pai não quer o casamento da filha que diz ser a imagem da mulher que perdeu. Mesmo assim, a jovem entrega-se ao primo numa noite de festa. O bastante para que o moço afirme que não quer seguir com a família para a França como estava programado. Mas ninguém lhe dá ouvidos nem a sua amada. Há um close dela rindo nervosamente e chorando ao mesmo tempo mesclando perfeitamente o documento e a ficção posto que nessa hora não se está filmando o drama dos novos Romeu e Julieta. É um momento brilhante interpretado pela cantora Sônia Bandeira. E um dos melhores do filme.
Há muito que ver nas duas horas e meia de projeção. Detalhes como o dos motoqueiros passando por dois momentos chaves do romance entre os jovens músicos, da popular “festa dos colhões”, tradição machista que se adapta aos tempos modernos abrindo espaço para as mulheres, do programa feminino de uma rádio local, de uma declaração hilária de um marido bêbado ao lado da esposa, de uma canção sobre o vinho considerando “a garrafa uma vela e o tonel o caixão”. E mostrando a sintonia com os brasileiros, ouve-se numa sessão de karaokê, a canção “Nossa Senhora”, de Roberto Carlos.
A religiosidade do povo português é enfocada de várias maneiras, mas a síntese é de uma procissão em louvor a Nossa Senhora da Conceição recortada pelo depoimento em off de um homem que descreve a sua crença ao ser curado de uma hérnia de disco, com dores atrozes na coluna. Ele afirma ter ido carregar o andor da santa e ter ficado curado (“não foi fé coisa nenhuma...fui e deixei de sentir dores sem pensar em nada”).
A cultura lusa está no filme com muita imaginação. O processo de metacinema chega ao auge no encerramento quando todos os técnicos discutem sua forma de criar imagens, som, montagem etc.
Um filme diferente. As regras dos gêneros que aborda (documentário e drama) são jogadas para longe. Surge uma espécie de “espelho” entrecortado de flashes do cotidiano servindo para um projeto de cinema sem métrica do cânone, mas extremamente forte na estética aberta sobre o que é cinema.
Uma pequena obra prima que merecia melhor público.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

INÉDITOS E CLÁSSICOS EM DVD









Com a nova tecnologia iniciada com o digital disc, o cinema promove dessa forma os filmes que produz e cada vez mais nós assistimos alguns títulos inéditos nos cinemas da cidade que circulam nas locadoras de vídeo. Entre outros, os candidatos a Oscar de filme estrangeiro este ano: “Os Falsários” e “O Guerreiro Gengis Khan”, o primeiro vencedor do prêmio. Ainda no grupo “A Garota da Caixa de Fósforos”, e “Há Tanto Tempo Eu Te Amo”.
Entre os clássicos chegam: “Vagas Estrelas da Ursa”, de Luchinon Visconti, “A Noiva Estava de Preto”, de François Truffaut; “Amar e Morrer”, de Douglas Sirk e “O Cardeal” de Otto Premminger.
“Os Falsários”(Die Fälscher/Alemanha, 2008) é dirigido por Adolf Nurger de um roteiro original de Stefan Ruzowitzky. Trata de Salomon Sorowitsch (Karl Markovics) um judeu hábil falsificador de notas de marcos alemães que uma vez preso pela Gestapo, ao invés de seguir com outros de sua etnia para um campo de concentração, fica a serviço da espionagem nazista, fabricando libras para inundar o mercado com dinheiro inglês, prejudicando a economia inimiga. Salomon é perfeccionista e luta contra os colegas de trabalho que preferem sabotar os alemães. Quando é obrigado a falsificar dólares, a resistência aumenta, mas é o tempo de fim de guerra e ele consegue escapar incólume do bunker onde trabalhava. A narrativa é em “flash-back” e as imagens, de 1945, mostram um homem amargurado, procurando dissipar as más lembranças em uma praia (imagem metafórica).
“O Guerreiro Gengis Khan” (Mongol/Rússia, 2007) é um épico do diretor russo Sergei Brodov. Enfoca o líder mongol fora do tipo vilão visto em tantos filmes de época. A narrativa inicia na infância dessa figura quando o pai leva-o a um acampamento vizinho para escolher uma esposa (com quem deveria consumar o casamento 5 anos depois). Os inimigos do Khan, ambiciosos pelo poder, matam o pai do menino e o obrigam a fugir posto que “é muito pequeno para morrer”. Criado como nômade, o já rapaz é alvo da sanha sanguinária dos inimigos da família, mas recebe auxilio de um líder próximo a quem chama de irmão. Graças a este amigo ele revê a jovem prometida que será a sua esposa. As guerras tribais são intensas, consegue adeptos entre auxiliares do “irmão” ganhando com isso mais um inimigo no antes benfeitor. Segue-se uma batalha feroz onde o personagem consegue o titulo de soberano mongol.
A odisséia do guerreiro é tratada de forma linear com a grandiloqüência das produções congêneres feitas por Hollywood. Na assessoria técnica está, entre outros, Zach Staenberg (de “Matrix”) o que dá ao conjunto um acabamento de primeira linha. Nos muitos recursos usados está o que evidencia o lado sanguinário das lutas, sangueira extraída dos ataques de contendores. Na seqüência da batalha final o uso da computação gráfica resta num grande plano. Impressiona até porque as locações foram em espaços transitados por Gengis Khan.
Curioso é que um filme tão comercial passou longe das telonas locais.
“A Garota da Fábrica de Caixas de Fósforos” (Tulitikkutenhtaan Tyttö/Filandia,1990, 72 min.) é uma raridade pela sua origem. Dirigido por Aki Kauriusmaki (de “Cow Boys de Leningrado) trata de uma jovem operária que se deixa seduzir, engravida, e resolve se vingar de todos os que a desprezam, incluindo pai e a mãe. O drama se espelha nas expressões da atriz Kati Outinen e na linha narrativa que opta sempre pelas imagens, com pouquíssimos diálogos. É um filme que surpreende. Resvala o melodrama impondo a marca de uma tragédia de cunho social. Deve ser descoberto.
“Vagas Estrelas da Ursa” (Vaghe Stelle D’Orsa, Itália, 1965, 95 min.) é um dos bons trabalhos do mestre Visconti, adentrando um caso de incesto, com as personagens vividas por Claudia Cardinale e Jean Sorel. Grande sucesso nos cinemas em sua exibição.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

· Inimigos Públicos
· Star Trek (2009)
· A Mulher Invisível
· 12 Rounds
· Transformers - A Vingança dos Derrotados
· A Proposta
· Monstros vs. Alienígenas
· Ano Um
· Minhas Adoráveis Ex-Namoradas
· Os Falsários


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

MAIS UM FIM DE MUNDO NA PROGRAMAÇÃO SEMANAL

















O lançamento mundial de “2012” é a atração popular da semana nos cinemas comerciais. O filme dirigido pelo alemão Roland Emmerich, o mesmo de “Independence Day” e “O Dia Depois de Amanhã”, custou mais de US$200 milhões à Sony (Columbia Pictures) e tem a duração de 250 minutos. Em Belém estréia nos dois shoppings onde a empresa Moviecom possui salas.
Além desse megalançamento há o documentário “Cantoras do Rádio - O Filme”, uma evocação dos áureos tempos da Rádio Nacional e outras emissoras cariocas além dos discos de cera. Também estréia “Hotel Atlântico”, de Suzana Amaral (“A Hora da Estrela”), premiado mês passado no Festival do Rio. Há, ainda, o festival de opera patrocinado pela Embaixada da França, em cartaz no cinema Olympia em horários a partir das 10 da manhã (até domingo).

“2012” (EUA/2009) baseia o roteiro, de autoria do diretor Roland Emmerich e de Harald Kloser, no que se sabe do calendário maia que especifica o dia 21 de dezembro de 2012 como a data de um cataclismo capaz de destruir o planeta. O diretor se tornou especialista em “filme catástrofe”, herdando a especialidade de Irwin Allen (1916-1991), cineasta de “A Torre do Inferno”, “O Destino do Poseidon” e séries de aventuras para a televisão, como “Perdidos no Espaço”. Hoje, com a tecnologia digital, é possível criar as cenas de destruição em massa que antes empregavam miniaturas. E é isso que atrai em filmes de Emmerich, especialmente em “O Dia Depois de Amanhã”, o seu melhor trabalho, onde se via Nova York tomada pelas águas.
Mas não se pense que o fim de mundo do filme segue a profecia e repisa o que se viu, por exemplo, em “O Fim do Mundo” (When Worlds Collide/1951) de George Pal & Byron Haskin., Aqui, como no recente “Presságio”(Knowing), de Alex Proyas, algumas pessoas escapam. E entre elas estão as personagens vividas por John Cusack e Amanda Peet, o casal que interpreta os tipos heróicos da história.
Lançamento mundial, com cópias para Belém nos Moviecom Pátio e Castanheira.

“As Cantoras do Rádio - O Filme” é um documentário que deve atrair, principalmente, os antigos fãs da música popular brasileira. Depoimentos e números musicais de Carmelia Alves, Marlene, Carminha Mascarenhas, Ellen de Lima, Ademilde Fonseca, Chico Anysio, Bob Nelson, Miltinho, e intercessões gravadas de Carmen Miranda, Aurora Miranda, Lina Bastista, Dircinha Batista, Dalva de Oliveira, Isaurinha Garcia, Nora Ney, Aracy de Almeida, Dolores Duran, e Luiz Gonzaga formam um verdadeiro show de astros do passado. Um trabalho de pesquisa de Gil Baroni e Mônica Rischbietter com direção do primeiro.
Sessão Moviecom Arte na sala 4, no shopping Castanheira.

“Hotel Atlântico”(Brasil/2009) deriva de um romance do escritor gaúcho João Roberto Noll. Depois de explorar o universo feminino nos filmes “A Hora da Estrela” e “Uma Vida em Segredo”, a diretora Suzana Amaral se volta para o masculino, seguindo um ator depressivo que viaja do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, passando por Santa Catarina, atrás de um sentido para a sua vida. Na viagem, passa por situações inusitadas e por grandes riscos de vida. O filme foi premiado no Festival do Rio, embora tenha sido criticado especialmente pelo final que dilui emoções e pela adaptação sempre aquém da obra literária primitiva.

Na Mostra de Ópera tem hoje:
13/11 - “O Diário Inacabado”(Prokofiev) às 10 h, “Joana D’Arc Na Fogueira”(Montoellier) às 11h30;”A Alma do Rio”(Villa Lobos) às 13,00, “Transcrições”(árias de Mahler, Prokofiev, Ravel, Wagner e Verdi em documentário de Andy Somme às 14h30, “Ária”(filme coletivo) às 15h30, e “O Trovador”(Verdi) às 17h30.
14/11 - “Peer Gynt”(balé de Heinz Spoerli)às 10 h, “Valquiria”(Wagner) às 13,00, “Don Giovanni”(Mozart) por Joseph Losey às 17,00.
15/11 - Domingo: “Stravinski e Balé Russo”às 10 h, “Toscanini por ele mesmo”às 12,00, “Patética”(Tchaikovski) às 14,00, “Pelleas et Melisande” (Debussy)às 16,30, e “Carmen”(Bizet) de Francesco Rosi às 17,00.
Quanto aos “extras”, os programadores do Cine-Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem) , ABCeD e Fundação Curro Velho, estarão exibindo, na terça feira, 17/11, às 18h30, o filme "Macunaima", de Joaquim Pedro de Andrade, referência nacional sobre um dos clássicos da literatura brasileira de Mario de Andrade.







quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CÓDIGO DE CONDUTA




Certos filmes propagam idéias perniciosas irresponsavelmente, ou seja, não medem as conseqüências do que mostram. É o caso deste “Código de Conduta” (Law Abiding Citizen/EUA,2009) ora em cartaz nacional.
No roteiro original de Kurt Wimmer, o pacato engenheiro Clyde Shelton (Gerard Butler) é surpreendido em casa por uma dupla de assaltantes que massacra a sua esposa e a filha diante de seus olhos (ele fica amarrado e amordaçado no chão da sala). Os assassinos são presos, mas só um justamente o que pediu indulgência para as mulheres embora tenha assistido ao crime, é condenado à morte. O outro, insensível às violências praticadas, ligado às drogas, recebe uma pena mínima. O jogo entre o advogado de defesa e o promotor ambicioso Nick Rice (Jamie Foxx) tende a um arranjo para que este alcance as melhores médias na prática forense de casos resolvidos e condenações. Sabendo da injustiça, Clyde passa dez anos arquitetando a sua vingança. E ela é extremamente cruel, não só contra o criminoso, mas contra o promotor e, enfim, o sistema que em tese deve defender o cidadão comum e arbitrariamente o penaliza.
A narrativa do diretor F. Gary Gray produz um “thriller” eficaz, com um dinamismo que prende a atenção do espectador da primeira à última cena. Mas se isto pode parecer um acerto desde que se considere a forma do filme, por outro é agravante por levar o espectador a uma torção de fatos, reforçando estereótipos, começando por seguir a temática básica, ou seja, a condenar junto com o principal personagem, as manhas de uma promotoria (no caso da cidade de Filadélfia) falha, acabando por reverter a trama e justificar a ação dos homens da lei na amostragem de uma vingança cruel. Em poucas palavras: condena-se à Pena de Talião (“olho por olho, dente por dente”) de forma superlativa. Tanto que não resta a idéia de um dono de casa sofrido pela perda de toda a família e o pouco-caso que o fato inspira diante da lei. Fica a impressão de que, no fundo, tentar a justiça pelas próprias mãos pode ser vista como benéfica. Contudo, a vítima acaba sendo o vilão, a lembrar o monstro da franquia “Jogos Mortais” (ainda hoje uma grande bilheteria na sua 6ª edição).
Manipular uma realidade é arma do cinema industrial desde um passado distante. Hoje a manipulação envolve o arsenal técnico que modula a atitude. Se na primeira seqüência de “Código de Conduta” vê-se com detalhes a morte da jovem esposa do herói (que logo será anti-herói), a emoção gerada pelas imagens vai se diluindo na medida em que a vingança ganha corpo e, entre outras coisas, surge a tortura que Clyde emprega sobre o criminoso em liberdade iniciando a fase de condenação contra o “sistema”, com as cenas dessa tortura gravada em DVD e enviado à família do promotor, sendo visto pela filha deste de 10 anos que entra em pânico.
O vingador da história usa o “slogan” do vilão na sua terrível saga de vingança: “Ninguém foge do seu destino”. O filme também. E nesse patamar exibe desencontros narrativos, seja de continuidade, seja de concepção arquitetônica. No primeiro caso, Clyde apanha socos na boca, expele sangue, mas em plano seguinte não exibe, em close, nem uma cicatriz. No segundo caso, toda a tecnologia empregada para atacar a policia é absurda, embora convença o público, se creditada ao novo processo da robótica exercendo o papel do auxiliar do vingador. Todo o arsenal de armas que este emprega é digno de histórias em quadrinho. Nunca abrem espaço para um drama que imita uma realidade muitas vezes requisitada pela mídia.
O que é possível dizer do trabalho de Gary Gray é que se tratar de um “thriller às avessas”: quem é mocinho passa a bandido e quem é bandido a mocinho. Mesmo assim, o plano final de Nick Rice aplaudindo um concerto da filha indica, em um close, a sua indisposição. Por mais que o enredo tenha retomado o fio da justiça, a ferida primitiva ficou. Pelo menos há esse close de encerramento mostrando que Nick aprendeu a lição. Mas será que esse jogo se encerra, mesmo, no sistema ?
Cotação: ** (Razoável).




ANSELMO DUARTE: GALÃ E DIRETOR



Pedro Veriano, sempre presente neste espaço que para ele é mais do que uma “janela”, mas um lugar especial, revê um tempo de cinema onde a presença de Anselmo Duarte se inscrevia com várias identidades: galã, diretor, ator e o único a trazer para o Brasil a Palma de Ouro de Cannes pelo filme: “O Pagador de Promessas” (1962). Memórias ...(LMA)




Com a morte de Anselmo Duarte fecha-se mais uma janela dos apelidados “anos dourados”. Lembro quando estudava o curso ginasial e a minha turma não perdia as chanchadas da Atlântida que mereciam lançamento de vulto no melhor cinema da cidade (o ainda hoje vivo Olympia). A gente falava do que viu por muito tempo. E criticava certas posturas, especialmente da dupla romântica Anselmo Duarte & Eliana (Macedo). Para mostrar que estava zangado ou preocupado ele só fazia mexer as sobrancelhas. Para dizer-se em perigo ou mostrar-se alegre ela simplesmente não fazia nada. Os dois eram salvos pelos comediantes, especialmente Oscarito (Grande Otelo era a escada para gags de Oscar Terezo Dias, nosso maior cômico).
Quando surgiu em S. Paulo a Cia. Cinematográfica Vera Cruz, sonho do industrial Franco Zampari em que se pretendia combater o improviso do cinema que se fazia no Rio de Janeiro com um arremedo de Hollywood, Anselmo foi contratado para ser o galã. Namorou Tonia Carrero como o compositor Zequinha de Abreu em “Tico Tico no Fubá”(cinebiografia para exportação), e, entre outras coisas, foi uma espécie de Zorro no até que razoavelmente sucedido “Sinhá Moça” de Tom Payne. Contudo, era sempre o Anselmo da Atlântida, aquele imediato de “Aviso aos Navegantes” ou o dono da cigarreira do “Anjo”(José Lewgoy)em “Carnaval no Fogo”. Simplificando, do Anselmo ator só lembro de bom a sua intervenção em “O Caso dos Irmãos Naves” de Luis Sergio Person onde fazia um policial vilão.
Mas chegou o dia de passar para trás das câmeras. E aí o ator mostrou seu talento. Em “Absolutamente Certo” soube empregar a formula da comédia carioca, botando um toque neo-realista que deu o charme necessário ao produto paulista. E em seguida surpreendeu com “O Pagador de Promessas”, nunca um grande filme, mas um filme digno da Palma de Ouro ganha em Cannes (desde que não se meça o concorrente como “Anjo Exterminador” de Buñuel).
O sucesso da peça de Dias Gomes (“O Pagador...”) fez com que Anselmo como diretor tentasse um bis com “Vereda da Salvação”, outro original de teatro (agora de Jorge Andrade). Foi candidato ao Urso do Festival de Berlim, mas fez feio. Os exageros estéticos, tentando fazer “cinema de arte”, resultaram em fracasso comercial. E daí em diante o Anselmo diretor não brilhou mais: “Quelé do Pajeú”, “Um Certo Capitão Rodrigo”, “O Descarte”, “Ninguém Segura Essas Mulheres”(um episódio), “Já Não Se Faz Amor como Antigamente”(um episódio),”O Crime do Zé Bigorna” e “Os Trombadinhas”.
Aos 89 anos, magoado com o que o pessoal do movimento “cinema novo” disse de seus filmes, o paulista de Salto (SP) perdeu a luta contra uma série de doenças, de um câncer a um avc hemorrágico. Ficou a sua participação na história do cinema brasileiro, ou melhor, do cinema em geral. Permanece o único a ganhar para o país o grande prêmio em um festival tradicional como é o de Cannes. E um verdadeiro campeão de bilheteria nos primeiros anos, na fase de namorado das mocinhas e amigo dos palhaços em comédias que tinham o carnaval na alma.
A mim cabe fechar mais um capitulo do cinema-memória. Ainda hoje curto em dvd coisas extremamente simples como “Aviso aos Navegantes”. Lamento não se ter mais acesso a “Carnaval no Fogo”, filme que se perdeu (acharam uma cópia de colecionador, mas sem os créditos, e há outra sem a seqüência – capital – de Oscarito e Grande Otelo parodiando Romeu e Julieta). Do muito desaparecido existe “Maior do que o Ódio” mas este eu não gosto de rever (como detestei quando vi na época do lançamento).
Bem, este é o passado. Ou “um” passado. Sempre achei que o cinema requer memória, requer preservadores para salvar títulos fadados à lenda. Mas quem quer ser preservador? (Pedro Veriano)




domingo, 8 de novembro de 2009

AS ESTRÉIAS E O EXTRA DO FIM DE SEMANA







Na programação desta sexta, 05/11, nos cinemas de Belém, consta “O Visitante” (The Visitor/EUA 2007), filme que candidatou Richard Jenkins ao Oscar deste ano (ele vencedor de vários prêmios, inclusive, do Festival de Moscou e dos produtores independente). Com direção de Thomas McCarthy, também premiado, trata de um professor viúvo que mora em Connecticut e costuma ir a Nova York a serviço. De uma feita ele é convidado a dar uma palestra e embora não esteja disposto a isso é obrigado pelo reitor de sua universidade a comparecer. Ao chegar ao pequeno apartamento que mantém na grande cidade, se depara com um casal de imigrantes ilegais. Essas pessoas que não sabem por que foram enganados no aluguel e na oportunidade, não tem para onde ir, não resistem a sair, se apieda da situação e deixa-os permanecer. O professor gosta muito de música e estava tomando aulas de piano. Terek, o imigrante sírio, toca em um grupo de rua e através dele o mestre encontra um novo alento em sua vida monótona.
O filme traz um novo ângulo de um assunto muito explorado. E realmente é impressionante o trabalho do elenco, especialmente de Jenkins até então um coadjuvante de produções mais ou menos ambiciosas.
Será exibido na sessão Moviecom Arte, sala 4, do Shopping Castanheira às 18h00 até a 5ª feira.
Outro lançamento é “Código de Conduta” (Law Abiding Citizen/EUA/2009) de F. Gary Gray, com Jamie Foxx e Gerard Butler. No argumento, um pai de família (Butler) vê sua esposa e filha serem assassinadas e o criminoso ser posto em liberdade graças a uma manobra do promotor encarregado do caso (Foxx). Anos depois, o assassino libertado é encontrado morto e o viúvo está preso por outros crimes. A missão, agora, é lutar contra o promotor corrupto. Os críticos norte-americanos afirmam que se trata de um “thriller” para curtir como bom divertimento.

“Os Fantasmas de Scrooge” (A Christmas Carol), outra estréia, reprisa a clássica história de Charles Dickens sobre o Sr. Ebenezer Scrooge (Jim Carrey), um homem solitário, avarento e muito mal-humorado que, em uma noite de Natal, recebe a visita de fantasmas dos Natais passado, presente e futuro. O diretor Robert Zemeckis volta à técnica de animação usada em seus projetos anteriores como “Expresso Polar” e “Beowulf”. Cópia dublada.

Estréia ainda “Jogos Mortais 6” (Saw 6/EUA 2009) dirigido por Kevin Graeuter. Aqui o agente Strahm está morto, mas o esquema assassino do Jigwaw é entendido pelo FBI que, afinal, revela um segredo dos tais “jogos”. A meu ver este é o pior tipo de cinema que existe.

“Aquele Querido Mês de Agosto” (Portugal, 2008) é uma experiência elogiada de uma filmagem livre sobre a época de veraneio dos portugueses. Há uma tênue linha de ficção em meio à feição documental. Direção de Miguel Gomes. Elogios internacionais. O filme retoma a programação regular do Cine Libero Luxardo. A exibição iniciou na 5ª feira e vai até o domingo, 8/11, sempre às 19h30.
“Tempos Modernos”(Modern Time/EUA 1936) foi considerado pelos ingleses “o melhor filme do século XX”. É a despedida de Carlitos, o herói criado por Charles Chaplin. Já inteiramente falado (até então Chaplin resistia a isso) mostra que a nova tecnologia não é mais o campo do cinema em estado de graça, ou “a projeção da imagem em movimento”. Aproveita o ensejo do cinema para mostrar as artimanhas contemporâneas das relações de trabalho onde o produto é feito em massa. Aula sobre o
o taylorismo, que apresenta a intensificação da divisão do trabalho, com fracionamento das etapas do processo produtivo de formas a que o trabalhador amplie as atividades micro-especializadas e repetitivas que realiza. Foi seguido pelo fordismo, pois o norte-americano Henry Ford foi o primeiro a aplicar esse método em suas fábricas. Na Sessão Cult da ACCPA no Libero Luxardo, no sábado, 07/11 às 16 h.


“Aquele que Sabe Viver” (Il Sorpasso/Itália, 1961) é um dos melhores filmes do cineasta Dino Risi (de “Perfume de Mulher”). Vittorio Gassman interpreta um bom vivant dirigindo um carro pelas estradas romanas em um feriado, tendo como parceiro um estudante (Jean Louis Trintignant). Humor e drama se mesclam neste “road movie” que marcou época. Na Sessão Cinemateca da ACCPA neste domingo, 08/11, às 16 h no Olímpia.


A ABDeC-Pa/Fundação Curro Velho exibirá, no Cineclube Pedro Veriano (Casa da Linguagem), o memorável e marcante "Terra em Transe", de Glauber Rocha, na terça, dia 10/11, às 18h30. Expressão de uma época em que o Brasil patinava na ditadura militar, enfoca a República de Eldorado, vista através da lente de um jornalista e poeta ligado a Porfirio Diaz, senador e mais tarde presidente. O filme apresenta o jogo político dos políticos e o cerceamento à liberdade do pensamento. Imperdível.


terça-feira, 3 de novembro de 2009

BASTARDOS INGLÓRIOS






O filme abre com um grande plano de uma fazenda no interior da França ocupada pelos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial. Legendas marcam o tempo (1941). Ali chega uma patrulha alemã chefiada pelo oficial da SS Hanz Landa (Christoph Waltz). Ele é conhecido como “O Caçador de Judeus” e, no momento, busca refugiados hebraicos na região rural. Em conversa no interior da residência do dono da fazenda Perrier LaPadite (Denis Menochet), o cínico Coronel da SS sabe que há judeus escondidos sob o piso. E construindo um diálogo sagaz com o interlocutor sobre ratos e esquilos, manda seus homens metralharem o lugar. Feito o massacre, observa o escape de uma garota correndo pelos campos. Ele ainda corre para a porta de revolver em punho. Em alternância de planos vê-se que a menina consegue escapar. Landa a saúda, com ironia. “Bastardos Inglórios”(Inglorious Bastards/EUA,2009) é, principalmente, um filme que usa o cinema como elemento decisivo e referenciado na sua construção. Quentin Tarantino trabalhou em locadora de vídeo e desde que passou a filmar profissionalmente procurou explorar detalhes da cultura popular. O seu cinema não é buscado nas propostas introspectivas ou detalhes cerebrais de temas sociais ou políticos. É, principalmente, um cinema de citação, uma homenagem e, ao mesmo tempo, uma perspectiva critica da própria linhagem do cinema que ele viu e gostou (e gosta). Ou expressa sua maneira própria de afinar as imagens tornando-as presentes, mas, ao mesmo tempo, deslocadas no plano histórico do cinema. Os “bastardos” do novo filme seriam mercenários judeus que se lançam à caça de nazistas retribuindo o que estes fazem com seus irmãos de etnia e crença. Chefiando o grupo que acompanhamos em mais de duas horas e meia de projeção está o conhecido Apache, ou Aldo Rayne (Brad Pitt). Não à toa o apelido. Ao se defrontar com nazistas, ele e seu bando matam e escalpam estes adversários. A medida reflete a ação dos índios norte-americanos de onde surgiu o termo. A barbárie dos anti-heróis do General Custer (1839-1876) é utilizada como método para retaliar o inimigo, incorporando uma missão justiceira.Em episódios, o filme explora um tema que sai da realidade para a ficção sem qualquer reserva. Usando todos os elementos de linguagem com aproveitamento caro aos filmes dos chamados anos de ouro de Hollywood (exceção da explicitude da violência), Tarantino chega a um clímax, muito bem definido, que extrapola qualquer vinculo com uma realidade conhecida. Segundo o seu roteiro, a guerra terminaria antes de maio de 1945. Terminaria num cinema francês, pouco menos de um ano antes, quando Shosanna (Melanie Laurent), a jovem sobrevivente do primeiro massacre apresentado, agora proprietária da sala de projeção herdada de parente, consegue reunir todos os grandes nomes do governo nazista para a estréia de um filme épico alemão que traduz o ufanismo dos membros do chamado III Reich. A idéia é colocar detrás da tela rolos de filme em nitrato, emulsão usada antes do advento do som, que por ser altamente inflamável funcionaria como uma bomba, provocando incêndio em meio à sessão e mandando fechar todas as portas, fato que provocaria a morte dos inimigos (ou, como ela diz em uma das partes de filme incluso num rolo a ser projetado. “o troco dos judeus”). É desta forma, absolutamente divorciada da realidade, que morrem Hitler, Goebbles, Hering, Borman, enfim todos os donos do poder na Alemanha da época.Cinema, para Tarantino, é como se define em física: a ilusão de ótica que faz se perceber imagens em movimento, ou seja, a incapacidade do olho humano em discernir imagens que passem numa velocidade que se estabilizou com o tempo em 24 quadros. Sendo uma ilusão de base, por que não criar o fingimento “fazendo fita” (no dizer antigo) ? E o filme é uma fantasia bem humorada pontilhada de tragédia. Tudo bem cronometrado, bem realizado.Confesso que tive de ver o filme duas vezes para assimilar melhor a narrativa uma vez que na primeira vez estava me rendendo a uma fadiga de noite sem dormir. Mas não foi sacrifício. Creio que é o melhor trabalho do diretor. Para ele também. Vale voltar ao assunto.





segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ANTICRISTO








Lars Von Triers é um cineasta dinamarquês cultuado internacionalmente. Depois de mostrar ao mundo um filme de linguagem linear, mas de forte apelo emocional, “Europa” (Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 1991), ele enveredou pelo experimentalismo propondo uma nova forma de fazer cinema que chamou de Dogma 97. Consistia em abdicar de tudo o que se constituiu até agora como gramática fílmica. Não haveria uma edição (montagem) tradicional, os atores não usariam maquilagem, não haveria um roteiro escrito, não usaria luz artificial, nem dublagem (sempre o som direto). Em tese seria uma outra concepção de cinema com a arte cinematográfica despida de artifícios e se mostraria “pura”.
“Dançando no Escuro”, “Dogville” e “Manderlay” foram os seus títulos no Dogma mais aplaudidos.
Em 2007 o diretor entrou em uma séria depressão. Procurou reagir e, em 2008 realizou “Anticristo” ora em cartaz no programa Moviecom Arte (Sala 4 do circuito Moviecom no shopping Castanheira em apenas um horário diário).
O argumento trata de um casal que poderia significar os novos Adão e Eva, expulsos do paraíso e guinados a justificar o fim dos tempos depois da (longa) estada no mundo (dai o titulo), vive o processo de destruição como se persistissem no pecado.
A primeira seqüência é de sexo explicito entre Ele (Willem Dafoe) e Ela (Charlotte Gainsburg). Não há nomes para os personagens posto que arquétipos de uma concepção da humanidade. Nessa hora, o filho deles, na fase de aprender a andar, caminha para a janela do prédio onde mora e se atira para a morte. A mãe entra em desespero, é levada para o hospital, mas o marido, um terapeuta, resolve tirá-la de lá e tratá-la pessoalmente numa cabana isolada num bosque. Ali acontece o lento processo de transformação desses tipos. Ela, principalmente, exibe crises de fúria entre espasmos de afeto e sexo. Mutila o parceiro e se mutila sexualmente (um plano próximo que lembra o olho rasgado pela navalha em “Um Cão Andaluz” de Buñuel). No final ele consegue se erguer de uma mutilação nada realista.
As primeiras tomadas, evidenciando “o fascínio da carne”, são em preto e branco (seria uma forma de mostrar o resquício do pecado original). Depois, planos próximos detalhando violência querem indicar a animalização das pessoas ditas civilizadas. Não é uma simples paixão, um espasmo de dor materna pela perda do filho único: é um fim de mundo visto pelas criaturas mais evoluídas, sintetizando no homem e na mulher as bestas descritas no último livro do Novo Testamento (o modo como o roteiro mexe com os textos sagrados é absolutamente pessoal, produto da agonia que sente o autor).
Trata-se de um filme apaixonado na forma e no conteúdo. Mas é difícil de ser absorvido. A métrica tradicional se espedaça. As seqüências se alongam, há predominância de “closes”, a porfia pelo bizarro é constante, a iluminação jamais deixa brecha para muita luz, o “décor” (floresta, cabana) incita o isolamento na linha do casal primitivo que é expulso do Éden.
A questão não é “gostar ou não gostar”. É avaliar o que é traduzido em imagens por um diretor que rompe com os tradicionais modelos-padrão de cinema e procura fazer desmoronar as verdades já postas. Há filmes em que a visualização da loucura, ou de crises de estresse, ganham contornos surrealistas. Não é ocaso de “O Anticristo”. O filme não é surrealista. É um realismo agressivo despontando como uma catarse a anti-emoção, por isso, um teste à sensibilidade do espectador. Dividiu opiniões internacionais.
Von Triers, numa entrevista que deu disse: “Um filme é um reflexo pálido da realidade. Se você está numa sala de cinema e chora, é uma pálida imitação de uma emoção similar que você teve na vida real. Dessa forma, um filme é sempre algo de segunda mão, uma emoção emprestada da vida real. Se alguém se assusta é porque, provavelmente, tem algum medo que pode ser extraído e usado durante uma experiência cinematográfica. Mas o cinema tem outras qualidades além de provocar emoções. (...).“Anticristo” é o que mais se aproxima de um “grito”. Ele surgiu na minha vida em um momento em que eu me sentia muito mal. A inspiração pode ser encontrada em meu próprio medo, em minhas próprias emoções. É daí que surgem as coisas, mas a partir disso, elas se transformam em outros elementos. (...)”

domingo, 1 de novembro de 2009

CC-APCC: LEMBRANÇA DE UMA TRAJETÓRIA









No dia 1° de Novembro de 1967 foi criado o Cine Clube da Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC). O palco de atuação desse cineclube foi bastante amplo: sede social da AABB, auditório do Curso de Odontologia da UFPA, do Grêmio Literário Português e o Cine Guajará da Base Naval (Val de Cães). Isto sem contar um curto período na sede da Escola de Teatro da UFPa, incendiada em 1968, e algumas sessões na sede social do SESI.
As ações desse cine-clube se pautavam em exibições de filmes (película) em 16 mm, realizadas nos dois primeiros espaços referidos (AABB- na hoje Av. Governador José Malcher; Odontologia(na Praça Batista Campos). No Grêmio Português (Rua Manoel Barata) e no Cine Guajará, usou a bitola profissional (35mm).
Foram 19 anos de cinema. As suas atividades encerraram-se quando foi inaugurado o Cine Libero Luxardo (Centur) programado, na ocasião, por Pedro Veriano que no período anterior, ou seja, nos espaços de atuação do CC-APCC foi não só diretor-programador como, no caso dos filmes em 16 mm era o projecionista.
Exibir simultaneamente nos finais de semana era a “ginástica” cineclubina. Os filmes eram alugados das distribuidoras com sede no nordeste (Recife, Campina Grande) e também no sudeste (Rio de Janeiro e S. Paulo). Muitos filmes não chegaram nem chegariam às salas comerciais da cidade. A confiança das distribuidoras partia do pagamento muitas vezes antecipado das faturas, algumas feitas com base em borderôs (relatórios) do que se auferia na porta, cobrando-se ingresso a preço simbólico (aproximadamente de R$ 2,00 a R$5,00).
Alguns momentos marcaram essa programação polivalente. Pode-se mencionar a estréia, em Belém, de “Morangos Silvestres”, de Ingmar Bergman, na sede da AABB em uma noite de domingo. As cadeiras do salão não deram conta de tantos espectadores. As do bar serviram para minimizar a “enchente”. Outro momento, nesse local, foi a apresentação do filme “Paris Vu Par...”, de vários diretores, com a presença do embaixador da França que visitava Belém.
Foram programados cursos de cinema, com entrega de diplomas aos freqüentadores, entre os quais o saudoso cineclubista Francisco Paulo Mendes.
Muitos programas impressionavam pela boa acolhida. Certas sessões, no Cine Guajará, lembravam um “drive-in”, com as portas abertas e as pessoas vendo o filme em seus carros, no estacionamento lateral. Impressionava, sobretudo, como certos filmes considerados “difíceis”, ou, como se dizia então, “de arte”, eram bem recebidos pelo público, Uma produção suíça “Jonas que Fará 25 Anos no Ano 2000” ficou l5 dias em cartaz nesse cinema, com sessões diárias. Esse fato impulsionou a criação dos Cine 1 e 2, com a firma administrada por Alexandrino Moreira chamando-se de “Cinema de Arte do Pará Ltda”.
O que caracterizava a programação dos diversos espaços era uma busca pela oportunidade dos temas. Uma data comemorativa de um diretor, atriz ou ator exigia uma retrospectiva, um filme em homenagem, fosse aniversário, morte etc. Se um assunto dizia respeito a um problema social do momento, mesmo numa época de censura rigorosa (o chamado “anos de chumbo”), procurava-se um titulo que registrasse o tema nem que fosse tangencialmente (e um debate posterior à exibição evidenciava o fato).
Houve um momento muito especial. No Natal de 1977 faleceu Charles Chaplin. O cineclube havia alugado uma cópia de 35mm do documentário inédito comercialmente “O Genial Vagabundo”, um relato da vida desse comediante genial que inaugurou a primeira sessão do CC-APCC, em janeiro de 1978. Com o salão do Grêmio Literário Português lotado, no final, com a imagem do velho Chaplin caminhando por um bosque de sua casa com a sua esposa Oona, o público presente se levantou e aplaudiu de pé. Um momento de emoção que traduziu não só o amor que Chaplin devotou ao cinema, mas, o amor que as platéias devotaram e ainda devotam a ele, afinal o símbolo de uma arte.
Todos que viveram esses 19 anos sentem saudades posto que além do que se mostrou e se instruiu ficou o embrião de outros movimentos, inclusive de produção. Um episódio histórico.