quinta-feira, 30 de maio de 2013

DEPOIS DE LÚCIA


Alejandra (Tessa Ia) em uma cena de "bulling"

O cinema mexicano assume um excelente posto na cinematografia mundial numa boa fase, bem longe dos tempos dos melodramas calcados em letras de boleros. Acompanhei este período na época em que o romantismo ainda era um gênero em evidência em todas as artes. Entretanto, atribuo uma diferença nesse momento em algumas obras da dupla Emilio Fernandez & Gabriel Figueroa. Destaco também o excelente filme Macario(1960), de Roberto Gavaldón (creio que no Brasil intitulou-se Entrevista com a Morte), marcante no efeito onírico sobre a cultura da morte nesse país. Há outros, mas prefiro citar estes. No livro de Silvia Oróz, “Melodrama : O cinema de lágrimas da América Latina” (FUNARTE, 1999) esta autora tece comentários sobre o gênero.
Presentemente está sendo exibido entre nós Depois de Lúcia(Despues de Lucia/México 2012) filme que ganhou prêmio especial em Cannes e recebeu criticas entusiásticas ao redor do mundo. É o segundo trabalho do diretor Michel Franco, e o seu impacto promoveu-o a um dos mais rigorosos do cinema ocidental. Quando assisti pela primeira vez senti a densidade do final e cheguei a me envolver no drama das duas personagens numa tensão que me levou a desejar mais do que estava sendo articulado para penalizar culpados pelas violencias sofridas por uma jovem. É que o espectador ganha o desconforto do drama da jovem seduzida e aviltada.
O enredo do filme de Michel Franco trata de Alejandra (Tessa Ia) e seu pai Roberto (Hernán Mendoza) que se mudam da cidade de origem, Puerto Vallarta, para a Cidade do México, após a morte da mãe da garota (a Lúcia do titulo). Ambos, ainda lidando com esta perda, tentam se adaptar à nova realidade. Roberto é chef de cozinha e Alejandra uma estudante que se matricula em uma nova escola secundária da localidade e supõe fazer novos amigos. Orquestrado por colegas desse grupo, a jovem que vai a uma festa da turma é vilipendiada e empurrada para uma situação de estupro. Estes filmam a cena instigando pensar que a indefesa garota deixara-se seduzir. O vídeo é divulgado pela internet e todo o colégio passa a conhecer o fato, sendo repassado que a novata era uma garota fácil”. Por isso ganha novos assédios chegando ao buyiling de estrema crueldade.
Em Depois de Lucia observa-se não só um tratamento frio de um fato mórbido. Também se vê, no aspecto formal, um apego a essa frieza. Deve-se observar desde a primeira sequencia, quando Roberto recebe seu carro na oficina e depois de um percurso mais ou menos longo, abandona-o no meio da rua. A câmera que está todo tempo no banco traseiro do carro não se mexe. O mesmo ângulo explora a atitude do personagem saindo do carro e resolvendo o que tem para resolver. Essa imobilidade da câmera vai prosseguindo em muitas cenas como se a própria filmadora preferisse estar distante do drama, talvez uma alusão ao terror que ele aborda, parecendo sentir que é melhor ver de longe o que acontece ou como se pode delinear melhor tipos e situações.
Há muitos enquadramentos engenhosos durante a narrativa. E quando se vê apenas Alexandra não se tem uma menina alegre ou uma colegial ganhando novas amizades e confiando nessa vida que passa a assumir. É uma garota tímida e como não se detalha a sua reação diante do ataque dos colegas fica a surpresa do final quando ela desaparece e todos pensam que morreu afogada depois de um banho de mar com a mesma turma que a obriga a acompanha-los e vara a madrugada na praia.
O diretor poderia terminar seu filme sem explicações sobre o destino da jovem. Mas deixa um momento em que ela aparece, em certa sequencia, onde está e o que faz, embora a imagem considere a frieza de toda a narrativa. Contudo, esse não é o final. Depois de Luciaencerra com uma sequencia longa e aterradora. Um impacto que não deve ser revelado ao futuro espectador. E que desde já se insere entre os mais contundentes do cinema moderno.

         Exibição: de  29/05 (quarta) a 01/06 (sábado) às 19h, e 02/06 (dom. às 17 h) no Cine Líbero Luxardo.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

SEM PROTEÇÃO


Susan Sarandon na cena da prisão da ex-guerrilheira.

Uma antiga ativista norte-americana (Susan Sarandon) pertencente ao grupo Weather Underground que combatia a Guerra do Vietnam é presa pelo FBI, entregando-se depois de 30 anos. A partir desse episódio é procurado o advogado Jim Grant (Robert Redford) que vive com outra identidade exercendo a profissão e cuida de uma filha de 9 anos desde que a sua esposa faleceu em um desastre de carro. Esse anonimato em que vive Jim é destruído pelo jornalista Bem Shepard (Shia LaBeouf), um jovem que se esforça para encontrar novidades sobre esses fatos, interessado em se manter no jornal onde atua e para agradar o editor-chefe.
“Sem Proteção”(The Company We Keeps/EUA,2012) tem roteiro de autoria de Lem Dobbs e se baseia num livro de Neil Gordon. Marca o retorno de Robert Redford na direção, ele que chegou a ganhar um Oscar por seu primeiro trabalho atrás das câmeras: ”Gente Como a Gente” (Ordinary People/1980). Redford estava arredio até como ator (desde 2007 seu último desempenho em “Leões e Cordeiros”- Lions for Lambs - que ele próprio dirigiu). Uma ausencia expressiva para quem atuou em 68 filmes e dirigiu 10. Mas essas “férias” é de supor que não incomodaram o ator/diretor. Sua narrativa no filme atual mostra-se dinâmica, apesar de acadêmica (ou “old fashion”, como dizem os críticos norte-americanos), e o interesse do espectador não se torna disperso durante pouco mais de duas horas de projeção.
Não conheço o livro original e por isso não sei se o que se supõe arranjado no enredo é derivado da literatura. Mas essa afirmativa não quer justificar falta de criatividade, mas recorrencia narrativa. O final, por exemplo, é como montar as últimas peças de um “quebra-cabeça” para que tudo dê certo. Mesmo assim ficam indagações. O único momento em que a realidade assume a aventura é quando Jim, perseguido pelos agentes policiais, cansa de correr e se entrega. Já é um homem de mais de 50 anos e sem pique para uma aventura dessas. O mais é um fugitivo que sabe se esconder, driblando a moderna tecnologia que varre ambientes atrás de onde se encontra, seja através de telefonemas, seja meios de locomoção.
Para se livrar da cadeia, e no caso, a procura intensa do FBI, este parte não só devido a um assalto a banco executado pelos ativistas do tempo desse episódio, como pelo assassinato de um guarda desse banco. Assim o advogado precisa encontrar sua parceira no assalto (Julie Christie), justamente a pessoa que matou ou viu matar o guarda. Essa procura é árdua e a mulher se revela como ex-amante do personagem e mãe de uma filha dele que se sabe, depois o destino que levou.
Toda a perseguição ao personagem da história forma a base do filme. Robert Redford usa alguns telejornais de época (anos 70) e realça a oposição organizada pelos jovens de sua geração contrários à participação norte-americana no conflito asiático. Mas é pouco. Podia ter inserido mais ilustração desse tempo e da atuação não só de estudantes, mas de intelectuais e até de estrelas do cinema (o caso de Jane Fonda). Não há uma visão positiva para os grupos de rebeldes tratados como terroristas e o roteiro procurou esquivar-se de qualquer sentido nostálgico, e nem se detalha como as agencias de espionagem (CIA, FBI) participaram dos fatos na ocasião (a impressão é de que só agora com a situação bélica nas ruas do país, o fato de perseguir os militantes de esquerda do passado se torna uma evocação do atual terrorismo).
“Sem Proteção” é um thriller interessante sem deixar de parecer produto da indústria de cinema. Como atração há ainda presenças veteranas como Nick Nolte, Stanley Tucci, Richard Jenkins, Sam Ellliot e mais julie Christie, Susan Sarandon e o próprio Redford. Afinal seria um tropeço na bilheteria sem “happy end”.


terça-feira, 28 de maio de 2013

AÇÃO RUSSA EM DVD

 “O Último Round” (Posledniv Raund, Russia, 2011) 

Títulos de filmes inéditos estão entre os DVDs que assisti esta semana incluindo-se uma produção russa.
Com cenas de carros derrubados, explosões, corridas, tudo o que Bruce Willis interpreta na série “Duro de Matar”, o filme de produção russa “O Último Round” (Posledniv Raund, Russia, 2011) também explora esse tipo de ação de forma muito superior à média feita por Hollywood. Direção de Egor Golovenki, o enredo trata do boxeador Artyon que está em recesso no ring, mas se impressiona quando vê o colega Oleg ser massacrado por um lutador chinês. Ele procura voltar à forma para desafiar o adversário em potencial, mas se mete em uma aventura quando, se preparando para viajar para Hong Kong é acusado pelos agentes do aeroporto de portar certa quantidade de tóxico, que ele desconhece a origem e avalia ter sido “plantado”em sua bagagem (há cenas sobre isso). O delegado do país afirma que a menor pena é prisão perpetua, mas oferece atenuante com uma forma de favor. Artyon consegue fugir graças a um velho chefão de drogas e sua ajudante. Passa por uma série de perigos e quando consegue voltar ao campo da luta já sabe que o chinês campeão é um produto de engenharia genética. Mesmo assim, aceita o desafio. E soma-se desse empenho o fato de ter brigado com a esposa e estar impedido de ver o casal de filhos. O final é uma luta empolgante. Narrativa seca mescla-se à política de relações entre staff e lutadores internacionais, sabendo-se, nas entrelinhas, que a situação forjada para aprisiona-lo em Hong-Kong é de mafiosos do esporte e de traficantes.
No elenco há quem tenha trabalhado na franquia James Bond (Mikhail Gorevob). Não faltam efeitos especiais e uma edição muito bem estruturada para gerar suspense.
Não sei se este filme chegou a ser exibidos nos cinemas brasileiros. Por aqui não. Fato que nos faz estranhar a exibição comercial. Como esconder um produto tão bem acabado no gênero?
Outro inédito é “4.44 - O Fim do Mundo” (4.44 Last Day on Earth, EUA, 2012), o mais novo filme editado do diretor Abel Ferrara, norte-americano cultuado por certa critica a exemplo do que se viu com o seu “Cidade do Medo” (1984). Neste filme ele explora as ultimas horas da humanidade segundo o superlativo das previsões do ex-vice presidente norte-americano Al Gore a respeito do que acontecerá se a poluição acabar com a camada de ozônio que envolve o planeta e com isso derreter as geleiras dos polos. Willem Dafoe e Shanyn Lee formam o casal que decide morrer abraçado. O filme lembra outro filme, este exibido comercialmente, “Melancolia” de Lars Von Trier. Isto sem falar em outros que de alguma forma preveem o apocalipse. Nesta obra de Ferrara o tema se esgota no obvio, no clichê do gênero no cinema. No Brasil passou direto para o DVD.
“Pegadas” (Footprints, EUA 2012) apresenta evangélicos na produção. Baseado em um fato real trata de um homem que desde criança sofre perdas. Mal amado pelo pai, a morte da mãe ainda jovem deixa-o desprotegido, a carência de afeto de todos os lados se tornam lutos permanentes em suas primeiras fases de vida. Quando adulto vê morrer o seu cachorro e entra em depressão. A esposa o incentiva a procurar outro cão e ele compra uma cadela considerada feroz, mas da mesma raça do mascote que perdera, um pastor alemão. Conseguindo treinar a cadela para determinado fim aproximando-a do instinto que ela desenvolveu, ele inaugura a intervenção canina em recuperação de doentes (a esposa é dentista) e em seguida leva-a a trabalhar com os fiéis de uma igreja. O diretor chama-se Jim Huggins e dentro da modéstia artesanal dá o seu recado para uma plateia sensível a exemplares religiosos. Salta aos olhos essa condição de aproximar os lucros criativos do rapaz e as possibilidades de ele conseguir, com a nova tecnologia, proximidade entre um doente e o animal e a vontade de viver. Lançamento só em DVD.


UMA CRÔNICA SOBRE A CIDADE

Imagem perfeita para captar os efeitos de "Sob Você, a Cidade". Em exibição no Olympia. 18h30.


O Instituto Goethe (Salvador/Bahia) tem proporcionado ao cinéfilo paraense, um acervo considerável  em obras cinematográficas que jamais chegariam ao circuito comercial , não só porque há desnível na forma de distribuição de filmes para o Norte (no caso, Belém/PA), como devido a uma produção que as vezes é dedicada a cineclubes. Esse formato de circulação de filmes, o CC-APCC efetivou nos idos de 70-80 numa parceria com o então diretor desse instituto, Guido Araujo. Hoje, reativado esse contato com a ACCPA ( seguimento daquela associação anterior) esse instituto está enviados a melhor produção que tem por lá. Louve-se, então, essa parceria reativada.
O filme presentemente exibido no Cine Olympía é “Sob Você, a Cidade”(Unter dir die Stadt, Alemanha, 2010). Centra sua perspectiva em dois enfoques. As personagens e a cidade. No primeiro caso, há dois tipos, em que cada um deles tendo tempos específicos em seu objetivo de vida: um banqueiro – que define a dimensão de um micro-mundo onde circula o recurso financeiro da cidade. E a esposa de um funcionário recem-chegado em Frankfourt, que domina a cena do jogo afetivo em meio á turbulência financeira que se desenrola no centro de interesse dos negócios do patrão do marido. Evidencia-se um sistema capitalista destruidor subjacente nas entrelinhas das negociações entre os “grandes” da cidade e os pequenos funcionários que tendem a se adequar à máquina que é destruida e ou renovada conforme o interesse do capital circulante.
Em meio à trama afetiva iniciada entre o presidente do conglomerado bancário - que “arremata” seus congêneres e torna quase impossivel a vida dos citadinos (só se percebe como estes são atingidos pelas negociações envidraçadas, na cena final) – e a jovem esposa do funcionário novato naquele novo cartel – as situações de violência subjazem nesse “affair”.  Sem dúvida serão definidas em novas negociações, agora na base das trocas, em que a suposta inadvertência desta jovem ao iniciar seu jogo de sedução ao banqueiro desconhece as consequências que advirão. Somente muito depois percebe o quanto se tornou cúmplice de toda a trama de violência ccometida nos subterrâneos dos negócios. No final, embora se considere que o filme poderia terminar em dada cena, este vai além e capta o teor da trama de amor. De quem? E porque deixou de ser drama? É o público quem decidirá essa situação.
A direção de “Sob Você a Cidade”  é de Christoph Hochhäusler, com roteiro do próprio diretor associado a Ulrich Peltzer. A narrativa tende a afastar-se daquela construção tradicional imposta pelo “cinemão norte-americano”, daí porque há estranhamento sobre a dinâmica dialética da apresentação dos personagens. O envolvimento linear que uma dada escola de cinema credencia para a formação de seu público, diga-se, nem sempre é seguida pelas várias escolas do cinema mundial. É o caso da escola alemã e de outras escolas do cinema europeu que desmontam a criação desses tipos e desenvolvem excelentes maneiras de tratar enredos simples com insights inteligentes. Dessa forma, somente ao final do filme é que o/a espectador/a percebe o significado inicial da sedução da jovem ao chefe do marido, cuja atitude não se traduz como a apelação do conhecimento da causa que será o jogo principal das negociações na mesa dos demais empresários. O caráter  desse tipo feminino é observado no processo de exposição dos demais figurantes do négócio. Assim, a sequência final – atitude do banqueiro e de sua amante – reduz a presunção dos conflitos conspiratórios dos primeiros momentos em suposição de evidencias. A partir daí, uma nova configuração do re-encontro e dos negócios decidirão a trama. Agora não sob os olhares do público, mas na sua imaginação do que acontecerá a partir daí.
Outro detalhe a observar, é sobre a arquitetura da cidade, com os grandes prédios dominando o ambiente e planos demorados de vidraças, refletindo de forma distorcida as imagens de habitantes. Nesse caso é a sempre procurada ideia de que há uma forma de massificação das pessoas, de que os sentimentos se diluem numa amostragem de gigantismo arquitetônico.
Desempenho impecável dos atores, em especial de Nicolette Krebitz, protagonizando Svenja Steve, e de Robert Hunger Bühler, como Roland Cordes.

O sucesso da programação extra dá o seu recado ao  cinema comercial em Belém. Ainda bem. 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

REDFORD, GILDA E LUCIA




Robert Redford em "Sem Proteção", como ator e diretor

Nas salas comerciais, a programação de cinema apresenta três estreias: “Sem Proteção”, “Faroeste Caboclo” e “Velozes e Furiosos 6”. Nas especiais, o lançamento fica por conta de “Depois de Lúcia”, ”Sob Você e a Cidade”(ou “A Cidade sob os Seus Pés”) e “Gilda”.
“Sem Proteção”(The Company You Keep/EUA,2013) é um filme dirigido e protagonizado por Robert Redford. Ele interpreta o terrorista Jim Grant que atua no grupo Wheater Underground. Quando sua namorada é presa, o FBI passa a caçá-lo como inimigo público. Isto porque foi publicada uma noticia, pelo jornalista Bem (Shia LeBeouf), que também procura Jim para saber de mais detalhes de suas tarefas. O roteiro é de Lem Dobbs. Uma promessa de bom filme.
“Velozes e Furiosos 6”(Fast & Furious 6, EUA, 2013) prossegue a franquia que em seu episódio anterior teve como cenário o Rio de Janeiro. No exemplar de agora Dom (Vin Diesel) e Brian (Paul Walker) se retiram do bando que roubou US$ 100 milhões, mas não se adaptam a uma rotina de vida. Enquanto isso, Jobbs (Dwayne Johnson) persegue um grupo de mercenários que atua em 12 países e cujo mentor (Luke Evans), tem a ajuda de Letty (Michelle Rodriguez, uma das personagens da série Lost e de filmes como “Avatar” e “Resident Evil) antiga namorada de Dom (e que ele achava que havia morrido). Esses fatos levam Jobbs e Dom a se unirem no combate aos criminosos em Londres. E todos atuam sobre rodas. Num desenho incondicional de velocidade. A direção é de Justin Lin e o endereço do filme, como dos demais da série, é para aqueles que se “amarram”  em programas de ação e corridas de autos. A critica fica em ponto morto.
“Faroeste Caboclo” (Brasi/2013) cujo titulo vem da musica de Renato Russo lançada pela Legião Urbana em 1987, trata de um traficante que migra do nordeste para Brasília onde se apaixona por uma jovem filha de um senador. Mas ele é alvo da violência de um playboy que também atua no mundo das drogas. Direção de René Sampaio, com Fabrício de Oliveira, Isis Valverde e Marcos Paulo (1951-2012).
No programa de filmes especiais ou os chamados “extras” há uma excelente seleção. Veja-se, por exemplo, as referencias abaixo.
“Depois de Lúcia”(Despues de Lucia/México,2012) reporta o bullyng sofrido por uma jovem em um colégio mexicano depois de ter sido filmado o seu relacionamento sexual com um colega. O pai, viúvo (Lúcia era o nome de sua esposa falecida em desastre de carro com ele na direção) ,procura manter-se empregado em um açougue, sem conhecimento dos fatos que estão envolvendo a filha visto que procura esconder dele as atitudes bestiais dos colegas. Mas ao saber do que acontece com ela toma medidas drásticas como uma missão de vingança contra os que abusaram dela na escola. Um filme muito bem realizado pelo jovem cineasta Michel Franco. O uso de economia de planos e de diálogos favorece a tensão que se estrutura até o final. O filme foi premiado na mostra paralela “Un Certain Regard”, no Festival de Cannes. Será exibido no Cine Libero Luxardo, nos horários de praxe.
“Sob Você a Cidade”(Unter dir die Stradt,Alemanha,2010) trata de uma personagem investida do papel da esposa de um banqueiro se envolve com o chefe dele e para afastá-lo do caminho este lhe dá uma promoção para trabalhar em outra cidade.  Em meio a tantas jogadas de sentido duvidoso tanto do patrão quanto da esposa uma reviravolta se condicional ao final. Direção de Christoph Hochhausler. Exibição no Cine Olympia a partir de hoje, 24/05,  em horário regular.
“Gilda” (EUA,1946), tem direção do veterano de Charles Vidor(1900-1959). O eixo da questão do enredo se dá com uma dançarina de cabaré cuja presença provoca atrito entre o companheiro com quem vive e um oficial alemão na Argentina de imediato pós-guerra (a 2ª. Mundial). Trata-se de um clássico do cinema e responde pelo gênero noir. No elenco desponta Rita Hayworth que se tornou famosa por seu desempenho e o perfil construído por sua personagem. O ator Glenn Ford é o “pivô” da tensão. Exibição no cine Olympia, neste domingo, 26/05, às 16 h.


UMA CRÔNICA PARA "GILDA"




Gilda/Rita 



O texto abaixo foi elaborado em janeiro de 2009 por Stella Pessoa para o site http://www.cronopios.com.br/site/prosa. 
Ao tomar conhecimento da exibição de "Gilda", filme com Rita Hayword, a amiga me autorizou a publica-la no blog. 



VOZ SENSUAL
Por Stella Pessôa
“Mas bem que nós fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pra o estúdio
Mas na hora da cama nada pintou direito.”
(Eclipse Oculto / Caetano Veloso)


Sexo, para Luís, precisava de imagem. Fantasias sexuais! Era assim, fantasioso, quando ele estava acompanhado. Também era assim quando ele, entre vaso e azulejos, sozinho fazia medrar sua volúpia. Até o ápice. A fantasia não deixava Luís. Até o gozo.
Sempre o mesmo excitante: Gilda. “There never was a woman like Gilda!”.
Luís ao lado de Sílvia, Luís ao lado de Júlia Maria, Luís ao lado de Carla, Luís ao lado de Vitória, Luís ao lado de Madalena... Ou no papel de onanista, a engendrar com primor o atrito mais alucinante. Em qualquer ocasião, a vida toda, na cabeça de Luís só havia o strip-tease da ondulante Gilda – o lento deslize da luva negra, o colo descoberto pelo decote, o pêlo e o contrapelo, o fecho da cena com “I’m not very good at zippers” e, muito mais que tudo isso, a voz sedutora de “Put the blame on Mame, boys! / Put the blame on Mame!”. E prazer... E deleite...
Aos vinte anos, Luís amou Gilda. Aos trinta, Gilda. Aos quarenta e cinqüenta, Gilda. Luís não se casou. Nada fixo. Queria liberdade. Não queria filhos. De jeito nenhum. Trocava ambientes, luzes, parceiras, cúmplices, situações e circunstâncias. Variava e alternava na prática. Com esmero, alternava e variava o palco, no corpo a corpo ou na solidão dos interlúdios. Mas havia uma espécie de fidelidade de Luís – da imaginação de Luís – à personagem cinematográfica de Rita Hayworth embalada por “Put the blame on Mame, boys! / Put the blame on Mame!”.
Um dia, pela manhã, Luís leu nos jornais:
– Respeitados pesquisadores e cientistas da Universidade do Estado de Nova York desenvolveram abrangedora experiência e acabam de concluir desses estudos que a voz da mulher fica mais atraente exatamente quando ela está no auge do período fértil.
Luís ficou penseroso e murmurou com os seus botões:
 – Bela voz? Voz sensual! “Put the blame on Mame, boys! / Put the blame on Mame!”. Gorjeio mais sexy no período fértil? Filhos? Nem pensar...
À noite, o interfone tilinta. Vera sobe. Vera chega. Para Luís, é Gilda – à vera.
Champagne, cristal, porcelana, prata, frios, espelhos, linho, abat-jour, coxins. Vera – ou Gilda – e Luís. Toques. Nudez. Cheiros. Resvalos. Descobertas. Sussurros. Arrepios. Preliminares. Quase... Em transe, Luís ouve a fantasia do apelo sensual: “Put the blame on Mame, boys! / Put the blame on Mame!”. Quase... Quase... A pino. Mas, na hora a pino, como uma assombração, a notícia do jornal usurpa o devaneio de Luís e queda sua libido. Malogro.


Stella Pessôa nasceu e mora em Belém do Pará. É engenheira, analista de sistemas de informação e escritora. Ganhou prêmios de contos da Academia Paraense de Letras e do Portal Literal. Publicou “Ficção em vez de confissões” e está no prelo “Mulher com o seu amante”, ambos coletâneas de contos. Escreveu ensaios que figuram no site oficial de Chico Buarque de Hollanda. E-mail: stellapessoa@uol.com.br

 http://www.cronopios.com.br/site/prosa 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

GILDA




Rita Hayworth em "Gilda". Exibição no domingo, 26/06, 16h, no Olympia.

Para “vender” o filme "Gilda", o cartaz exibia um slogan que ficou famoso: “Nunca houve mulher igual a Gilda” (There never was a woman like Gilda). Era o estudio da Columbia Pictures comercializando o seu produto, “Gilda” (EUA, 1946). Mais ou menos nesse mesmo tom, diz o noticiário, foi a forma de publicidade que cercou a realização de “Casablanca”, em 1942, com o roteiro desse filme chegando ao set de forma fragmentada, e os atores somente tendo conhecimento do que iam representar na hora da filmagem. Nesse caso, é possivel pensar em truques para estimular a influência de “Casablanca”. Mas sem dúvida, o sucesso dessa produção da Warner, dirigida por Michael Curtiz, com Humphrey Bogart, Ingrid Berman e Paul Henreid estimulou outros estúdios da época, que se arvoravam num modo mais barato de fazer filme, extremamente populares.
Sob contrato da Columbia, em 1945, a atriz Margarita Carmen Casino foi chamada de Rita Hayworth. Era morena nesse tempo, mas tingiu os cabelos de louro e passou a evidenciar uma forma mais sensual em filmes como: “A Tentadora”(Rebellion, 1936), “Rainha de Louisiana”(Old Luisiana, 1937), e “Soberanos da Sela”(Hit the Seddle, 1937). No momento em que aceitou representar Gilda Mundson Farrel (o nome completo da personagem), Rita já era a atriz preferida de Harry Cohn, o big shot do estúdio, sendo escalada para papéis variados , no caso, como dançarina e cantora nos musicais: “Bonita Como Nunca”(You Were Never Lovely, 1942) onde contracenou com Fred Astaire, e “Modelos” (Cover Girl, 1943) fazendo par com Gene Kelly. “Gilda” seria a confirmação de Rita no musical, num contexto dramático. O argumento do filme, dirigido por Charles Vidor, coloca a ação na Argentina do imediato pós-guerra (e cabe aí o fato do neutralismo do país que serviu de abrigo a nazistas que fugiram quando a Alemanha perdia o conflito), sendo Rita a esposa do contraventor alemão Ballin Mudson (George Macready), mas cobiçada pelo jogador e ex-amigo deste, John Farrell (Glenn Ford). A genealogia latina da atriz serviu para o tipo e a música, assim como a coreografia deram chance à construção do mito. Ficou na memória dos admiradores a figura de Gilda cantando “Put the Blame on Mame”(de Doris Fisher e Alan Roberts ), dublada pela cantora Anita Elklis, assim como a canção “Amado Mio” (dos mesmos autores). Esta coreografia, aliás, mostrando uma forma de strip-tease (Gilda tirava as luvas sensualmente), mexeu forte com a censura da época, o conhecido Código Hays.
“Gilda” foi considerado, com muita razão, filme do gênero “noir”, pela excelente composição fotográfica de um dos maiores criadores dessa arte, o austriaco Rudolph Maté (1898-1964), vai estar neste domingo em exibição na Sessão Cinemateca do Cine Olympia, como uma homenagem a Antonio Silva, gerente e distribuidor da Columbia Pictures no nordeste e norte brasileiros, em mais de 50 anos, iniciando-se nessa atividade justamente fazendo a divulgação do lançamento desse filme. O amigo Silva, como era conhecido dos cinéfilos da época, faleceu no inicio deste mês em Recife, onde sempre morou. Nas atividades do então Cine Clube APCC e ao surgirem os Cinemas 1, 2 e 3, a presença dele era fundamental para abrigar as demandas dos cinemas do Norte, como sempre excluidos da distribuição de grandes produções. Mas nesse tempo “seu” Siilva já era um veterano. E a mim e ao Pedro Veriano contou partes de sua vida de combatente na 2ª. Guerra Mundial, de como enveredou pelo mercado cinematográfico, de como trabalhou na região inclusive vendendo (era como se chamava a distribuição) os famosos seriados, gênero que a Columbia cultivava com sucesso popular. Ficou nosso amigo a ponto de nos hospedar em sua  casa quando fomos a Recife, em 1974, tratar do I Festival do Cinema Brasileiro de Belém.
Preste a completar 90 anos, Antonio Silva ganhou um exemplar do livro sobre a história do cinema Olympia. Fez questão de tirar uma foto segurando esse livro. Ali estava um pouco da historia que viveu. Um apaixonado pelo cinema, conhecedor profundo das regras de um mercado especifico.

SOMOS [TÃO]JOVENS


"Somos tão jovens" filme sobre Renato Russo 

O Brasil tem certa tradição de cinebiografias de músicos. Em 1952 (para não ir muito longe) quando o prolífico diretor Luís de Barros (1893-1982) realizou “O Rei do Samba” sobre o compositor Sinhô, ícone dos anos 30 (cf. os clássicos “Jura”, “Gosto que me Enrosco”, não do conhecimento desta geração), com o pianista Bené Nunes na protagonização. E naturalmente lembrar Noel Rosa, conhecido como “O Poeta de Vila Isabel”, primeiro em uma parte do filme hoje lendário (não existe mais cópias) “Favela dos Meus Amores (1935), a chegar ao sofrível “Noel, O Poeta da Vila”(2007), de Ricardo Ban Steen e Rafael Raposo. Nos tempos modernos, com o advento do rock, “Cazuza o Tempo Não Pára”(2004) de Walter Carvalho e Sandra Werneck salta bem alto, ganhando, possivelmente (falta uma análise histórica mais densa), o pódio do gênero. Agora é a vez de Renato Russo, ídolo da juventude a partir dos anos 70, neste “Somos Tão Jovens” (Brasil, 2013) de Antonio Carlos Fontoura, cartaz nos cinemas há mais de 3 semanas, o que representa sucesso de publico.

Confesso que não acompanhei a trajetória de Renato Russo e de sua banda Legião Urbana e das demais que foram surgindo nos anos de chumbo. Apesar de ter vivido o período em que ele se projetou eu ouvia outro ritmo. Não porque eu já não fosse “tão jovem” (pois curto outros como os Beatles nesse tom). Mas nesse ponto vale observar que o titulo do filme atual resta no tempo presente porque os roteiristas acharam (e devem ter razão) que a música de RR prossegue atrativa dos adolescentes de hoje.
O filme começa bem interessante com um resumo da infância do personagem. Trata rapidamente dos pais, da relação pais e filho, detém-se no momento em que Renato Mendonça (só depois Russo) cai e machuca seriamente a coluna, destaca as aulas de inglês que ele proferia e só depois chega ao terreno em que se projetou. Mas é aí que certa ala de público sentiu-se decepcionado. E alguns críticos também. No primeiro caso, o noticiário revelou que estes acharam que o filme apresenta muito pouco da ilustração musical, de como surgiram as letras das composições hoje clássicas. E reclamaram da omissão na vida amorosa do cantor e de sua morte. Quanto aos críticos, o maior reclamo foi sobre a desimportancia do meio em que Renato viveu. Passam ao largo os chamados “anos de chumbo”, a ditadura reinante, a censura castradora, a luta dos artistas pela liberdade de expressão. Tudo isso desaparece num filme que em termos de narrativa nada tem do inicio do rock brasileiro. É simplesmente uma abordagem comportada da trajetória de um ídolo que extrapola aquele John Lennon de “O Garoto de Liverpool”(Nowhere Boy/UK, 2009). Mas essa foi a opção dos roteiristas em realçar apenas um recorte/período de sua vida evidenciando o tipo de garoto que ele era, extremamente soltário, caracteristica que não foi capaz de deixá-lo à margem da fama e ele se constituiu em um nome de excelência na cultura da música brasileira.
As primeiras sequências remetem a Brasília de 1976, quando um Renato Mendonça, ainda adolescente, demonstra dedicação à poesia, filosofia e, consequentemente, à música. Daí o tempo é deslocado para o período em que ele descobre os Sex Pistols e se envolve com o punkrock em um cenário ditatorial. A idéia do prefácio seria "de uma grande história desconhecida do público, em que sedefine uma personalidade e começa a desabrochar o artista, com suas influências e inspirações". Mas a realização diluiu uma parte dessa idéia ao recortá-la de forma episódica, mesclar de personagens/protagonistas sem explicação e sem evidenciar o significado deles na obra/vida de Renato (cf. o sul-africano e o seu parceiro afetivo). Isto resulta em que seja sentida certa superficialidade na pressa com que estes são tratados.
Nesse aspecto, desconheci o diretor Antonio Carlos Fontoura de realizações no passado, especialmente os excelentes “Copacabana Me Engana”(1968) e “A Rainha Diaba”(1974). Filmes da fase “cinema novo” que justamente se inclinavam na rebeldia artística do período. Um contraste na passividade deste “Somos Tão Jovens” . Creio que o cinema ainda fica devendo uma nova abordagem à  trajetória pessoal e artística de Renato Russo. 

TUDO ACABA EM SAMBA



José Wilker em uma cena do filme "Giovanni Improtta".
Giovanni Improtta é personagem da obra de Aguinaldo Silva, “Senhora do Destino”, telenovela exibida entre 2004-2005 na TV-Globo. Foi escrita com a colaboração de Gloria Barretto, Maria Elisa Berredo e Nelson Nadotti. Houve uma reexibição na sessão “Vale a Pena Ver de Novo”, em 2009. Como eu não acompanhei a novela e nem o noticiário sobre os personagens, desconhecia quem era essa figura e de que se tratava o texto, ao ver anunciado o filme. Chamou a atenção o fato de ser o primeiro que o ator José Wilker dirige, além do meu compromisso com o cinema brasileiro (não é isso, Ricardo Secco?).

O filme “Giovanni Improtta”(Brasil, 2012) é uma sátira aos contraventores, políticos, líderes religiosos e policiais dispostos no Brasil deste novo século. Não sei até que ponto o roteiro de Mariana Vielmond e Rafael Dragaud se apoiou no original da telenovela. Segundo Wilker, a ideia foi fazer uma sátira ao Rio moderno. Disse ele em entrevista recente: ““Quando a gente precisa denunciar um fato grave, não precisa ser sisudo, precisa ser claro... eu queria com o ‘Giovanni’ fazer um filme que divertisse, que as pessoas rissem – e que as pessoas pensassem. É importante falar de coisas assim porque de repente a gente pode reduzir de 30% para 29% [a parcela de bens e dinheiro desviado ou roubado]. E para eventualmente chegar a um estado de graça que roube 10%, como os países desenvolvidos” (risos).
“Um contraventor” é como Giovanni (o próprio Wilker) se define . Com isso, elimina a qualificação de criminoso comum. E a contravenção mais notória no plano brasileiro é jogo do bicho. Um espectador à saída do cinema [na sessão que eu fui, na sexta ] disse, para quem quisesse ouvir, que o filme se referia ao Carlinho Cachoeira. Mas não há endereço para o bicheiro cinematográfico que mora em palacete, impõe sua presença nas altas rodas, influi nas Ongs, possui tanto cartaz na policia a ponto de ganhar a decoração de apartamento na cela que passa a ocupar no pouco tempo em que vai preso, e manobra um esquema que se defende quando um dos membros da turma (ou gangue) desobedece e passa a trair os comparsas.
O filme é artesanalmente bem realizado. Tem uma fotografia digna da tradição de Lauro Escorel, um veterano que já esteve inclusive na indústria internacional com “Ironweed” de Hector Babenco. Também salienta uma direção de arte que mostra um Rio turístico e ao mesmo tempo aberto aos tipos como Giovanni numa alusão satírica da realidade de hoje. E traz alguns veteranos do cinema brasileiro como Milton Gonçalves, Othon Bastos, Hugo Carvana, Cristina Pereira, Andrea Beltrão, Paulo Goulart e até mesmo, em uma ponta, o cineasta Cacá Diegues (que é um dos produtores) e Jô Soares.
A inspiração cômica do tipo & ator abraça o conjunto de forma a não dar margem a que se pense em qualquer pretensão na temática ou mesmo na forma. O objetivo foi apresentar um Brasil anedótico até no conceito de que “tudo acaba em samba”, focalizando a apresentação de uma escola carnavalesca em dois espaços sagrados: no cemitério na hora do sepultamento de um contraventor e no “templo” que antes foi mostrado sob o dominio de um pastor corrupto.
Expondo essa limitação, pode-se até defini-lo como semelhante a um desses programas cômicos de TV, com o filme cumprindo a sua finalidade. Há quem saia do cinema rindo. E, no caso, o teor crítico é diluído no bojo das piadas em série. Mesmo não há base para se analisar com detalhe o trabalho que não visou sair da paródia e tratar a sério de temas como a corrupção, nas diversas áreas da sociedade. O bom desempenho dos atores merece ser mencionado, com ênfase para a figura de Thelmo Fernandes, vivendo o cunhado do contraventor, um vereador e pastor evangélico.
“Giovanni Improtta” é um programa divertido. Ver mais é errar o endereço.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

SUSPENSE E COMÉDIA


Debora Kerr em uma cena de "Tortura da Suspeita" (1961). Filme "noir".

Profundidade de campo que anuncia presenças, iluminação com impressionante jogo de sombras, enquadramento aproveitando o enfoque e salientando detalhes que poderiam passar despercebidos, esses são os principais elementos que justificam a categoria do chamado “film noir” e estão presentes em “Tortura da Suspeita”(The Naked Edge, UK, 1961), baseado em um livro de Max Ehrlich, com roteiro de responsabilidade de Joseph Stefano, também roteirista de “Psycose”(1960). Com esse trabalho estético, o filme suplanta a inverossimilhança do desenvolvimento da historia e deixa que se perdoem os estereótipos que surgem aquém e além das personagens expostas na trama.
“Tortura da Suspeita”marca a despedida do ator Gary Cooper (1901-1961) e lembra “Suspeita”(Suspicion, EUA, 1940) de Hitchcock, filme com roteiro de Samson Raphaelson, Jim Hamison e Alma Reville inspirado num texto de Anthony Barkeley denominado “Antes do Fato” (Before the Fact). A semelhança está justamente na construção do sentimento de suspeita. George Radcliff, o executivo vivido por Cooper, é testemunha decisiva contra seu colega de empresa Donald Heath (Ray McAnnaly), acusado de matar seu chefe. A esposa de George, Martha (Deborah Kerr), tende a aceitar a posição do marido, mas a suspeita começa quando ele, depois do crime e do sumiço de 60 mil libras da cena, constrói um centro industrial de seu sonho em Londres. Gradativamente as dúvidas contra o marido aumentam quando outros personagens entram em cena e as poucas palavras de George sobre o assunto sintonizam com as querelas que começam a surgir quando uma carta da época do assassinato é entregue em sua casa. No final há um embate. E nesse ponto o filme não segue o trabalho de Hitchcock. Há uma revelação drástica da historia e ela se faz em meio à construção de um suspense gradativo. Exemplarmente delineado na luz, contraluz, gestual e sintoma de medo da personagem.
O roteirista assinou “Psicose” e o diretor Michael Anderson (de “A Volta ao Mundo em 80 Dias”) soube contar a trama com excelente linguagem de cinema. O filme cativa o cinéfilo. E é uma aula sobre a narrativa cinematográfica. Procure ver.
Outro lançamento nas locadoras é “Órfãos da Tempestade” (Hereb Comes the Groom, EUA, 1952) de Frank Capra. Mas atenção: o filme esta sendo lançado em DVD com o titulo de “A Sorte Bate à Porta”(só em letras pequenas abaixo está o título com que foi lançado nos cinemas).
Trata-se de uma das últimas comédias do diretor de “A Felicidade não se Compra” e compondo a lista com tantos outros clássicos norte-americanos dos anos 30 e 40. O ator Bing Crosby (1903-1977) protagoniza um correspondente de jornal em Paris e dá assessoria também a um programa de ajuda a crianças órfãs de guerra (o tempo é o imediato pós 2ª. Guerra Mundial) auxiliando as diretoras da escola no processo de adoção. Mas um dos garotos não aceita ser adotado por outra pessoa, salvo o amigo que é chamado para o seu cargo e ao mesmo tempo espera reatar o noivado com uma garota que deixou em NY há tres anos. Essa situação leva-o a pensar que pode levar seus dois amiguinhos providenciando a adoção se casar-se com a noiva. A demora na preparação dos papéis para o processo dificulta a sua viagem daí a namorada(Jane Wyman) ficar noiva do patrão milonário (Franchot Tone). A chegada a NY é dramática e até as questões serem resolvidas há um jogo de interesses que define a situação.
O roteiro original era de Robert Riskin parceiro de Capra em obras clássicas como“O Galante Mr Deeds”(1936). Riskin já havia falecido e o diretor usou uma releitura escrita por Laim O’Brien e Virginia Van Upp. Essa conversão dilui na opção pelo musical. Mas foi uma imposição dos estudios Paramount a quem Capra tinha compromissos por esta empresa ter ajudado nos prejuízos que teve com sua firma Liberty. Uma comédia com Bing Crosby não deixava de ter música. E a canção “Cool cool the Evening” tornou-se vitoriosa ganhando o Oscar do ano na categoria.
Um filme divertido com o grupo mirim bem dirigido.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A RARIDADE DOS BONS FILMES


José Wilker vivendo Giovani Improtta, no filme homônimo. 

Nos cinemas comerciais da cidade a programação (que hoje inicia) prevê a estréia de três filmes. Nas sessões extras estão clássicos como “A Escolha de Sofia”, “Imagine, John Lennon”, “Pai Patrão” e o nacional inédito “Super Nada” (sessões normais do Libero Luxardo). No cinema Olympia, em horário regular (18h30) começa hoje a mostra de filmes regionais que esteve recentemente no Cine Libero Luxardo.
“Reino Escondido (Epic/EUA,2013) é uma das estréías. Trata-se de uma animação escrita por Daniel Shere e dirigida por Chris Wedge. No enredo, a floresta está sendo ameaçada por uma raça predatória e, pequenos seres chamados de mini-nijas ou Leafmen, passam a combater esse inimigo. Cópias dubladas e em 3D.
“Giovanni Improtta” é uma comédia dirigida e escrita (e interpretada) por José Wilker. Ele protagoniza um contraventor acostumado a pequenos golpes, mas vê a sua situação piorar quando é considerado suspeito de um assassinato. O filme é de 2011 e só agora conseguiu distribuição comercial.
‘O Massacre da Serra Elétrica 3D A Lenda Continua “(Texas Chainsaw 3D, EUA, 2013) focaliza a jovem Heather Mills (Alexandra Dadario) que em criança, precisamente 1974, sofrera ataque do maníaco que matava com uma serra elétrica. Sobrevivendo e já adulta ela mora em outra cidade quando recebe a noticia de que herdou a casa da avó, no Texas, justamente no local dos trágicos acontecimentos do passado. A casa não pode ser vendida e ela se defronta com um personagem misterioso que possui o ímpeto sanguinário do assassino antigo. Roteiro de Dam Marcus, Debra Sullivan e Kristen Elms, com direção de John Luessenhop. A crítica odiou e uma resenha foi clara: “Não há muito mais a dizer sobre este terrível filme”. É pobre e parvo, mas é, sobretudo uma perda de tempo para o espectador
“A Escolha de Sofia”(Sophie’s Choice/EUA, 1982) baseia-se no romance de William Styron sobre uma mulher vítima do holocausto que é obrigada a escolher qual dos dois filhos deve entregar para o extermínio, pois se não o fizer os dois morrerão. O filme dirigido por Alan Pakula concorreu e ao Oscar vencendo na categoria de melhor atriz para Meryl Streep. Exibição no Cine Libero Luxardo, amanhã, sábado, às 16 h (Sessão Cult).
“Pai Patrão”(Padre Padrone/Italia 1977) foi o primeiro sucesso dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani. Um menino ,filho de pobres camponeses da Sardenha(Itália), está na escola mas seu pai pode invadir a sala de aula para obrigar-lhe a certa tarefas.O filme ganhou 7 prêmios internacionais inclusive no Festival de Cannes.Segunda Feira às 19 h no Cine Clube Alexandrino Moreira(IAP).


“Imagem, John Lennon” (Imagine, John Lennon/EUA, 1988) é um documentário de Andrew Solt com base no arquivo de Yoko Ono reportando parte da carreira do beattle, sua participação nas campanhas anti-bélicas e a entrevista que cedeu ao cartunista Al Capp (criador do “Ferdinando”/Lil’l Abner). O título vem da balada que Lennon compôs e que tenho entre as minhas musicas de cabeceira. Na sessão de domingo do cine Olympia que serve aos adeptos do rock, o título é dos mais meritórios. Rever Lennon e suas canções é sempre um prazer e, no caso, uma homenagem. Na Sessão Cinemateca de 19/05 às 16 h.
“Super Nada”(Brasil, 2012) focaliza o artista Guto (Marat Descartes),que vive em S.Paulo de pequenos trabalhos de ator, fazendo testes para campanhas publicitárias, aulas de dança e apresentações de palhaço e malabarismos. Ao ser convidado para participar de um quadro no “Super Nada”, programa de TV humorístico decadente, cujo protagonista é Zeca (Jair Rodrigues), velho comediante e seu ídolo, Guto vê a possibilidade de finalmente encontrar uma boa chance em sua carreira. A direção e o roteiro pertencem a Rubens Rewald e no elenco estão Marat Descartes, Jair Rodrigues e Clarissa Kiste.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

PROGRAMAÇÃO ACCPA SESSÃO CULT E CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA


Maryl Streep 

"A ESCOLHA DE SOFIA"
Direção : Alan Pakula
Com Meryl Streep
Sinopse: Stingo é um jovem escritor do sul que vai morar de aluguel no Brooklyn. Sofia Zawistowska, sua vizinha de cima, fora sobrevivente dos campo de concentração nazista, e Nathan Landau, seu namorado, é um judeu de comportamentos instáveis. Eles tornam-se amigos, mas Stingo não tem idéia dos segredos que Sofia esconde, nem das obsessões que Nathan possui.
Vencedor do "Oscar" de melhor Atriz.

SESSÃO CULT
CINE LÍBERO LUXARDO
"A ESCOLHA DE SOFIA"
SÁBADO DIA 18/05/13
HORÃRIO : 15:30 H
ENTRADA FRANCA
APÓS O FILME, DEBATE COM CRÍTICOS DA ACCPA
APOIO : ACCPA




"PAI PATRÃO"
Direção : Irmãos Taviani
Ano de Produção : 1977
Sinopse: Aos seis anos de idade, Gavino é obrigado pelo pai a abandonar os estudos para trabalhar no campo, cuidando de ovelhas. Todas as suas tentativas de mudar de vida são abortadas pela ignorância e violência do patriarca. Aos vinte anos, ainda analfabeto, Gavino acaba entrando para o exército, onde pode enfim adquirir algum conhecimento de base. Renunciando à carreira militar, ele volta à sua terra para seguir estudando. No entanto, o choque com o pai é inevitável. Baseado no romance autobiográfico de Gavino Ledda.
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 1977.

CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA(AUDITÓRIO DO IAP)
"PAI PATRÃO"
SEGUNDA DIA 20/05/13
HORÁRIO : 19 H
ENTRADA FRANCA
APÓS O FILME, DEBATE COM CRÍTICOS DA ACCPA
APOIO : ACCPA