José Wilker em uma cena do filme "Giovanni Improtta".
Giovanni
Improtta é personagem da obra de Aguinaldo Silva, “Senhora do Destino”,
telenovela exibida entre 2004-2005 na TV-Globo. Foi escrita com a colaboração
de Gloria Barretto, Maria Elisa Berredo e Nelson Nadotti. Houve uma reexibição
na sessão “Vale a Pena Ver de Novo”, em 2009. Como eu não acompanhei a novela e
nem o noticiário sobre os personagens, desconhecia quem era essa figura e de
que se tratava o texto, ao ver anunciado o filme. Chamou a atenção o fato de
ser o primeiro que o ator José Wilker dirige, além do meu compromisso com o
cinema brasileiro (não é isso, Ricardo Secco?).
O filme “Giovanni Improtta”(Brasil, 2012) é uma sátira aos contraventores,
políticos, líderes religiosos e policiais dispostos no Brasil deste novo
século. Não sei até que ponto o roteiro de Mariana Vielmond e Rafael Dragaud se
apoiou no original da telenovela. Segundo Wilker, a ideia foi fazer uma sátira
ao Rio moderno. Disse ele em entrevista recente: ““Quando a gente precisa
denunciar um fato grave, não precisa ser sisudo, precisa ser claro... eu queria
com o ‘Giovanni’ fazer um filme que divertisse, que as pessoas rissem – e que
as pessoas pensassem. É importante falar de coisas assim porque de repente a
gente pode reduzir de 30% para 29% [a parcela de bens e dinheiro desviado ou
roubado]. E para eventualmente chegar a um estado de graça que roube 10%, como
os países desenvolvidos” (risos).
“Um contraventor” é como Giovanni (o próprio Wilker) se define . Com isso,
elimina a qualificação de criminoso comum. E a contravenção mais notória no
plano brasileiro é jogo do bicho. Um espectador à saída do cinema [na sessão
que eu fui, na sexta ] disse, para quem quisesse ouvir, que o filme se referia
ao Carlinho Cachoeira. Mas não há endereço para o bicheiro cinematográfico que
mora em palacete, impõe sua presença nas altas rodas, influi nas Ongs, possui
tanto cartaz na policia a ponto de ganhar a decoração de apartamento na cela
que passa a ocupar no pouco tempo em que vai preso, e manobra um esquema que se
defende quando um dos membros da turma (ou gangue) desobedece e passa a trair
os comparsas.
O filme é artesanalmente bem realizado. Tem uma fotografia digna
da tradição de Lauro Escorel, um veterano que já esteve inclusive na indústria
internacional com “Ironweed” de Hector Babenco. Também salienta uma direção de
arte que mostra um Rio turístico e ao mesmo tempo aberto aos tipos como
Giovanni numa alusão satírica da realidade de hoje. E traz alguns veteranos do
cinema brasileiro como Milton Gonçalves, Othon Bastos, Hugo Carvana, Cristina
Pereira, Andrea Beltrão, Paulo Goulart e até mesmo, em uma ponta, o cineasta
Cacá Diegues (que é um dos produtores) e Jô Soares.
A inspiração cômica do tipo & ator abraça o conjunto de forma
a não dar margem a que se pense em qualquer pretensão na temática ou mesmo na
forma. O objetivo foi apresentar um Brasil anedótico até no conceito de que
“tudo acaba em samba”, focalizando a apresentação de uma escola carnavalesca em
dois espaços sagrados: no cemitério na hora do sepultamento de um contraventor
e no “templo” que antes foi mostrado sob o dominio de um pastor corrupto.
Expondo essa limitação, pode-se até defini-lo como semelhante a um
desses programas cômicos de TV, com o filme cumprindo a sua finalidade. Há quem saia
do cinema rindo. E, no caso, o teor crítico é diluído no bojo das piadas em
série. Mesmo não há base para se analisar com detalhe o trabalho que não visou
sair da paródia e tratar a sério de temas como a corrupção, nas diversas áreas
da sociedade. O bom desempenho dos atores merece ser mencionado, com ênfase para
a figura de Thelmo Fernandes, vivendo o cunhado do contraventor, um vereador e
pastor evangélico.
“Giovanni Improtta” é um programa divertido. Ver mais é errar o
endereço.
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