quarta-feira, 1 de maio de 2013

O VIGOROSO “NÃO” CHILENO




Gael Garcia Bernal em "NO", filme chileno em exibição 

Pablo Larrain é um diretor chileno com 5 títulos no currículo e só conhecido agora, entre nós, por este “No” (Chile, 2012) candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro este ano.
Escrito por Pedro Peirano e Antonio Skármeta é baseado na peça inédita El Plebiscito, deste último, que possui crédito como cineasta, já tendo dirigido dois filmes e escrito roteiro de 15 para tv e cinema e protagonizado seis tipos para essas mídias. O enfoque é sobre o plebiscito efetuado em 1988, no Chile, que decidiria se o ditador General Augusto Pinochet continuaria ou não no governo. Sabe-se que Pinochet assumiu a chefia de estado com o golpe que depôs o presidente eleito Salvador Allende, em 1973, estando no poder há 17 anos. A ideia de uma pesquisa de opinião pública deu-se em face da pressão exercida pelos países do continente. O general tinha certeza que venceria com a força exercida pelo atrativo do poder. Mas deu “não”. E o filme trata justamente da luta pela vitória do “não” cuja campanha foi encabeçada pelo jornalista & publicitário René Saavedra, interpretado pelo ator Gael Garcia Bernal, hoje um nome internacional, haja vista ter protagonizado diversos filmes em vários países, a exemplo, seu protagonismo como Che Guevara, em “O Diário da Motocicleta” (2004), do brasileiro Walter Salles. A interpretação de Gael Garcia é um dos fatores que impulsionam o trabalho de Skármeta, uma proposta realista que do modo como foi tratada ganha a feição de documentário dos acontecimentos (há inclusão de sequências extraídas de filmes da época).
Pouco se constrói em torno de personagens. Mesmo o tipo principal da historia não ganha muita substancia psicológica. Sabe-se que em principio hesitou assumir a campanha de combate do ditador considerando-a quase inócua. Mas a decisão de lutar por uma oposição veemente (afinal o anseio popular) surgiu e o empenho diante disso foi fundamental.
O filme é homogêneo na sua proposta de refazer o episódio histórico. Uma linguagem simples diz o que se pede no argumento. E como já  haviam se passado muitos anos dos acontecimentos isto não foi fácil. Há de se evidenciar o trabalho da direção de arte, mas cabe muito a ideia do diretor em filmar com uma câmera semelhante a usada pelos documentaristas do período focalizado, dando ao conjunto uma continuidade que impressiona, como se tudo estivesse sendo gravado na hora.
Por outro lado, o filme captura as evidências de revanche de colegas opositores ao jornalista, incluindo-se ai seu próprio chefe, mostrando as dificuldades de circular entre seus demais trabalhos de criação caso dê continuidade junto com sua equipe aquela posição política. Com recursos limitados e sob a vigilância da guarda do governo, Saavedra mantém o plano que ousou criar para eliminar o “sim”.
 “No” está sendo exibido em Belém num programa duplo no Cine Libero Luxardo com o excelente “E Se Vivêssemos Todos Juntos”, filme que a coluna analisou ontem. Em horários específicos:  um título é exibido às 19h e o outro às 21h.
O cinéfilo paraense deve notar que a programação extra realmente ganha a semana posto que a única estreia comercial foi o blockbuster “Homem de Ferro 3” lançado em 4 salas de cada circuito exibidor o que vem a provar a teoria de que não adiante a cidade inaugurar muitos cinemas novos, pois, os filmes são sempre os alardeados pelos grandes produtores como atrações populares e com isso ocupam a maioria dos espaços mais nobres.
Na mesma área, ou seja, nas salas especiais, está hoje, no Olympia, em despedida, o imperdível “A Estrangeira”(Die Fremde/Alemanha, 2010) e, a partir de amanhã, outro imperdível: “A Cor do Oceano” (Die Farbe des Ozeans/Alemanha, 2011), de Maggie Peren (comentário oportunamente). Na Sessão Cinemateca de domingo, 5, no mesmo cinema, o clássico popular “La Violetera”(Espanha, 1958) de Luis Cesar Amadori, filme que impulsionou a carreira da atriz e cantora Sara Montiel, falecida recentemente (e a exibição é em sua homenagem). Com esses programas, e ainda mais com os de cineclube, o cinéfilo local tem várias opções para apreciar o bom filme expurgando os blockbusters.

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