terça-feira, 30 de abril de 2013

ESTRANGEIRA EM SUA CASA?


Umay (Sibel Kelilli) em "A estrangeira". Imperdível.


Uma sociedade patriarcal e assutadoramente opressora e violenta é o que mostra e vai a fundo a exposição de comportamentos e atitudes familiares do filme “A Estrangeira”(Die Fremde/Alemanha, 2010). No caso, uma família da Turquia, que repele a filha Umay (Sibel Kelilli) por ter abandonado o marido, não suportando mais a violência de que era alvo, levando consigo o filho de 5 anos para onde pensava estar segura, ou seja, o lugar onde morava. Acontece que o pai vê o comportamento de Umay como “abandono do lar” e com isso mácula à sua honra, repelindo sistematicamente a atitude da jovem que antes teria passado um tempo na Alemanha onde perseguia um emprego. A sistemática opressão da família leva a jovem e o filho a sairem de casa, passando a morar numa instituição beneficente e de ajuda a mulheres que vivem em situação de violência doméstica. Mesmo assim, Umay tenta por varias vezes retornar à casa dos pais sem que isso represente uma mudança de atitude especialmente do lado masculino da familia, o pai e os dois irmãos, embora a mãe compactue com as decisões do marido.
O filme é o primeiro escrito e dirigido pela veterana atriz austríaca (34 títulos no currículo) Fao Aladag. Numa linguagem direta, expondo um realismo que dá ao conjunto um toque documental, ela vê na questão étnica, o processo cultural castrador, com habilidade suficiente para sensibilizar os espectadores. É difícil, mormente no meio ocidental cristão, ficar indiferente ao drama de Umay e de seu pequeno Cem (Nizam Schiller). Andando com a criança no colo por diversas moradas e ruas ela reflete um quadro de intolerância que espanta ao se colocar no mundo moderno. Para os pais e irmãos é uma “prostituta”, começando por sair de casa para o estrangeiro e culminando com o “desrespeito” ao “senhor seu marido”, que deve ser obedecido mesmo que a ameace de morte.
Grande parte do impacto que o filme gera, capaz de lhe dar 30 prêmios internacionais e 9 candidaturas, cabe ao elenco primoroso. A atriz Sybell é sempre alvo de premiações. Sua protagonização como a jovem Umay é visceralmente convincente, espelhando o horror de um meio que a oprime mesmo que viva perseguindo um perdão ou um modo qualquer de ser aceita pela familia que muito ama.
“A Estrangeira” é desses filmes homogêneos que não se pode retirar uma sequencia como exemplo de excelência. Um todo extremamente funcional reproduz um drama que circula muito bem entre o social e o introspectivo. Para uma estreia na direção e no roteiro (a jovem cineasta só havia escrito antes um título para a televisão) uma autêntica surpresa. Em alguns momentos do enfoque de prepotência lembra clássicos como “Pai Patrão”, dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani e “A Fita Branca”, de Michael Haneke, onde se vislumbrava a gênese do nazismo. Inédito nos cinemas locais é um forte candidato à relação de melhores filmes deste ano. Ponto para o Instituto Geoethe que está veiculando cópias no Brasil e deu-nos a chance de assitir a uma delas agora, no Cine Olympia.
Creio que os associados da ACCPA devem assistir a este filme, pois se trata de um exemplar que sem dúvida estará entre os melhores do ano. Às colegas que tratam da questão da violência doméstica contra a mulher também é um excelente meio comparativo com a situação ocorrente no Brasil.
REGISTRO
Na semana última faleceu em Recife o Sr. Antonio Silva, gerente da Columbia Pictures no nordeste brasileiro, um amigo que muito ajudou o cinema de arte em Belém, estando presente nas atividades do Cine Clube APCC e no I Festival do Cinema Brasileiro de Belém em 1974. Deixou grande marca na exibição local de tempos heroicos, divulgando até mesmo os seriados e os filmes B do estúdio que sempre o prestigiou.
Silva, como era conhecido, foi recrutado pelo exercito brasileiro participando da 2ª.Guerra Mundial e desde 1945 manteve-se agente da Columbia numa área do Brasil. O primeiro filme que distribuiu foi “Gilda”, clássico com Rita Hayworth. A ACCPA faré uma homenagem a ele e ao seu trabalho exibido esse filme na Sessão Cinemateca do dia 12/05, do Olympia.
Aliás, o amigo crítico Celso Marconi Lins (PE) num post no facebook confirmou a ajuda que ele e o seu colega Fernando Spencer sempre receberam de Antonio Silva para as sessões de arte que promoviam e achou justissima a nossa homenagem em Belém.

Um comentário:

  1. Alex Barata da Silva2 de maio de 2013 às 08:21

    Direitos humanos x Tradições:


    Até que ponto vale lutar pelos direitos humanos e quebrar tradições que nos aprisionam?

    Ao assisti o filme alemão "A Estrangeira" ,percebi que esta luta vai além de leis , amudança tem que começar a patir de nós.

    O filme trata da história de uma jovem turca que chamada Umay, que vive na Alemanha ao lado de um marido violento que a maltrata, devido isso ela acabar se separando de seu dele e com o filho volta para a sua terra(Turquia), ai começa seu martirio pois a Turquia embota seja um estado laico, ou seja, que não tem uma religião oficial, tem suma população majoritariamente muçulmana, com tradições religiosas bem fortes.
    Umay, enfrenta o preconceito da própria familia por querer levar uma vida livre da violência do marido, mas acaba se confrontando com seus familiares que não aceitam sua decisão,em especial seu irmão mais velho que muita s vezes age de maneira violenta e para completa sua irmã mais nova grávida e de casamento marcado a culpa pelo fato do noivo pensar em abandona-la devido a situação de separada de Umay, em meio a todos esses conflitos, radicalismos e extremismos uma tragédia acaba afetando o filho de Umay.
    Com seu final o filme nos levar a pensar sobre como tradições sejam de que especia for, acabam nos aprisionando em precoceitos.

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