terça-feira, 2 de abril de 2013

HERZOG NO ESPAÇO



Um dos extraterrestes de Werner Herzog 

O cineasta alemão Werner Herzog passou a ser conhecido em Belém através de seus filmes veiculados pelo Instituto Goethe e exibidos pelo Cine Clube APCC nos anos 70. Lembro como se comentou “Os Anões Também Começam Pequenos” (Auch Zwerge haben klein angefangen/Alemanha 1970) e “Fata Morgana”(Alemanha,1971). Com esses filmes, chegaram outros que revelaram a cinematografia germânica de pós-guerra sem aquele halo de diversão boba lançado em coisas como “As Noites do Papagaio Verde”( Nachts im grünen Kakadu/Alemanha 1957), filme que entre nós inaugurou o cinema Ópera. O cinema alemão pós-1945 ficava restrito entre as produções comerciais de Kurt Hofmann e as densas (mas comerciais) de Helmut Kautner.
Herzog esteve no Brasil em 1972 para filmar “Aguirre, a Cólera dos Deuses”( Aguirre, der Zorn Gottes/Alemanha, 1972). Mas foi na procura de locação para “Fitzcarraldo”(1982) que se deteve por mais tempo entre nós. Nesse ano já era respeitado internacionalmente por “O Enigma de Kaspaur Hauser” ( Jeder für sich und Gott gegen/Alemanha, 1974). Ciceroneado por Thomas Mitschein, então diretor da Casa de Estudos Germânicos da UFPA, o cineasta esteve em minha casa e conheceu alguns dos colegas da critica.
Hoje Herzog mora nos EUA e empresta sua criatividade na realização de filmes para a indústria de cinema, como é exemplo, “Sobrevivente”(Rescue Dawn/EUA 2006) e “Vicio Frenético”(The Bad Liutenant/EUA,2009). Com a exibição esta semana de “Além do Infinito Azul” ou “Além do Azul Selvagem” (The Wild Blue Yonder/EUA, Alemanha,França, 2005) há um regresso ao antigo estilo pessoal do diretor & roteirista.
Se possível, resume-se o argumento em linhas como a chegada à Terra de um grupo de aliens oriundos de um planeta submerso que escolheu o nosso mundo por vários motivos. A narrativa é conduzida por um dos extraterrestes vindos da galaxia Andrômeda que observa, no avanço da terra, a destruição do planeta originário e suas consequencias: a destruição do planeta descoberto.
Como a Terra já se tornou um planeta em risco, colocando em causa a sobrevivência dos seus habitantes, uma equipe de astronautas parte para o espaço tentando descobrir um novo local habitável, justamente na área de onde veio o narrador da historia.
O filme não é uma “space-opera” como as que Hollywood costuma produzir. Herzog lança mão da ficção cientifica para divagar sobre o homem e o mundo. Com opiniões de físicos que veem uma forma de viajar para planetas de estrelas distantes, descobrindo túneis que modulam o tempo, o filme segue uma espécie de sinfonia estelar, usando a música criada pelo violoncelista de jazz Ernst Reijseger. Achei muita semelhança à temática que o amigo Vicente Cecim evocou nos seus livros e filmes sobre Andara, o mundo peculiar de onde ele tira a poesia de seus sonhos. Cecim é fã de Herzog e a simbiose de autores passa por uma afinidade percebível por quem conhece suas sensibilidades.
“Wilde Blue Yonder” é um belo exemplo de cinema onírico, uma “fábula de ficção científica”, de uma outra forma de expressão dentro de uma arte multifacetária. No estilo documentário, há longas sequências do voo cósmico com os astronautas (de verdade, ele agradece à NASA) flutuando dentro da nave (ou nadando sob um mar que lembra o “Solaris” de Stanislaw Lem & Andrei Tarkovisky). A sinfonia entre a trilha sonora e as imagens além da expressão capitular da investigação e asserções sobre a relação entre a vida e o novo formato de espaços na natureza selvagem revela-se, a meu ver, uma grande apoteose que inicia de forma branda e explode no final. É uma sensação fantástica entre imagem e idéias filosóficas, entre os achados da realidade cósmica e os percursos da alma através das idéias. De uma natureza hostil e de terráqueos “selvagens”. Como conter isso? Fantástico!
Se o cinéfilo desinteressado desse tom de cinema vai se impacientar com essa narrativa, uma pena. Mas é assim mesmo. Onde os espaços e a maratona de buscas repercutirão na vida?
Programa da Cinemateca Francesa no Cine Olympia até 5ª feira às 18,30h.

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