quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

OSCAR 2013: O QUE JÁ SE VIU


Cena de "Amor", de Haneke, com Emanuelle Riva e Jjean Loius Trintignan 

             
           Este ano, uma boa parte dos filmes candidatos ao Oscar já é conhecida do espectador local. É raro, pois a julgar, por exemplo, com a situação  do ano passado, muito pouco esteve nas telas grandes locais antes da grande premiação da Academia de Artes e Ciências de Hollywood. Pode-se argumentar que os novos candidatos são mais comerciais, ganhando das distribuidoras brasileiras um número de cópias capaz de atingir frações de mercado consideradas menores. Por outro lado, aumenta o número de edições digitais, ou seja, de filmes que são distribuídos sem usar película, ganhando espaço “on line” e com isso ostentando mais economia e fluidez.

  Até agora, dos candidatos a melhor filme, já foram exibidos no circuito belenense: “Argo”, “Amor”, “Django Livre”, “Os Miseráveis”, “As Aventuras de Pi”, “Lincoln”, “O Lado Bom da Vida” e “A Hora Mais Escura”. Faltou apenas “Indomável Sonhadora”, ainda não anunciado e, possivelmente, a ser lançado desde que receba algum prêmio (é um filme de produção independente e a distribuição nesses casos é restrita). De qualquer forma, de nove títulos concorrentes, o cinéfilo local já assistiu a oito. Um fenômeno que faz pensar em uma nova estratégia  de mercado.

No páreo de melhor filme estrangeiro só chegou às telonas locais o provável vencedor “Amor”, produção que concorre pela Áustria. Faltam: “Kon Tiki” da Noruega, “Rebelle” do Canadá, “No”, do Chile e “O Amante da Rainha”, da Dinamarca. Todos eles são filmes de acesso comercial. O problema é, como eu disse, a distribuição.

E as atrizes: já se sabe seu desempenho e o que renderam a ponto de premio a excelente e idosa Emanuelle Riva por “Amor’. Também se sabe de Jennifer Lawrence em “O Lado Bom da Vida”, de Naomi Watts em “O Impossível” e de Jessica Chastain em “A Hora Mais Escura”. Falta a pequena Quvenzhané Wallis por “Indomável Sonhadora”. É um trabalho excelente que a meu ver só deixa espaço para Emanuelle Riva. Uma pena que a menina negra de Louisiana chegue na época da francesa de “Hiroshima Meu Amor” brilhar como a moribunda do trabalho do alemão Michael Haneke.

Todos apostam em Daniel Day Lewis para o prêmio de melhor ator. Sua personificação de Lincoln no filme homônimo parece imbatível e o paraense pode confrontar esse favoritismo com Denzel Washington de “Vôo”, Bradley Cooper de “O Lado Bom da Vida”, e Hugh Jackman de “Os Miseráveis”. Só falta na comparação Joaquin Phoenix em “O Mestre”, filme que andou nas telas do sudeste mas que dificilmente atingirá as nossas.

O diretor favorito volta a ser Steven Spielberg por “Lincoln”. É o seu filme mais denso, menos afeito às normas do cinema comercial norte-americano. Mas já foi visto em Belém os trabalhos de Ang Lee (“Pi”), David O. Russel (“O Lado Bom da Vida”), e Michael Haneke (“Amor”). Fica faltando Bem Zelklin por “Indomável Sonhadora”.

Os roteiros adaptados também só deixam de lado para os cinéfilos locais o de “Indomável Sonhadora”, mas os elaborados diretamente para cinema são todos conhecidos: “”Amor”, “Django Livre”, ”Vôo”, “A Hora Mais Escura” e “Moonlight Kingdom” que esteve semana passada na sala Libero Luxardo.
A animação mais aplaudida é “Valente”, da PIXAR, campeã de muitos anos. Deve ganhar de “Frankenweenie”, “ParaNorman”, “Piratas Pirados” e “Detona Ralph”. Todos exibidos nos nossos cinemas.

Uma pena o Brasil estar de fora. O nosso candidato, “O Palhaço”, nem chegou às finalistas. E tínhamos filmes como “Xingu” e “Sangue Sujo”.
Com tanto conhecimento quem vai a cinema por nossas bandas deve estar atento à transmissão da entrega dos Oscar neste domingo de noite. Um programa criticável, mas sempre curioso.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

NASCE UMA ESTRELA


Quvenzhané Wallis é a "indomável sonhadora" 
Guardem bem este nome: Quvenzhané Wallis. Certamente é mais difícil de ser pronunciado do que Arnold Schwarzenegger. Mas a atriz que tinha 5 anos quando foi descoberta pelo cineasta Benh Zeitlin é um prodígio. Hoje ela tem 9 e é candidata na caategoria de melhor atriz ao próximo Oscar. Em “Indomável Sonhadora”(Beasts of the Southern Wild/EUA,2012) interpreta o papel de Hushpuppy, (uma pequena aldeã que vive no delta de um rio no estado de Louisiania, numa comunidade isolada, ao lado de seu pai Wink. Certo dia uma tempestade explode tudo ao seu redor no vilarejo alterando o cenário em que sobrevive, emergindo, inclusive as criaturas pré-históricas de suas sepulturas, os chamdos arouchs. Embora no transporte improvisado, ela vai a luta em busca de sua mãe que há muito desapareceu.
O filme tem um custo bem baixo e é o longa-metragem de estreia do diretor Benh Zeitlin com recursos do Sundance Labs. Antes ele realizou 3 curtas, um deles premiado. Mas com este longa sacudiu a mostra de Sundance, um festival independente dos EUA, ganhando o primeiro prêmio, e daí em diante conquistou plateias a ponto de ganhar distribuição internacional a partir do interesse da Fox Searchlight.
Realmente é um filme diferente, emocionante, pode-se dizer perturbador. O realismo proposto faz com que se pense num documentário. Custa a crer que sejam atores representando. E a locação, se distante da tragédia ecológica real, porta-se como um elemento dramático impressionante.
Não há brecha para uma licença de Hollywood embora em certos momentos a personagem da pequena atriz divague para ver certos animais. Os verdadeiros animais se afogam como muitas pessoas. Aliás, poucos filmes retrataram o que se passou, por exemplo, após o Katrina, nas proximidades de Nova Orleans. Sei de um dirigido por Spike Lee que não chegou a meu alcance (o documentário When the Levees Broke: A Requiem in Four Act) e que criticava o governo Bush pelo descaso. Trata-se de uma produção inspirada num trabalho fotográfico criado por Lee e seu irmão sobre a tragédia do Katrina. O certo é que “Indomável Sonhadora” retrata também um fato real e coloca nele o lado humano que o substancia fortemente.
Como exemplo, lembro a recriação do tsunami que foi exposto em “O Impossível”(The Impossible/EUA, 2012). Ali um casal norte-americano se separa quando, aproveitando férias num hotel da região castigada pelo maremoto em dezembro de 2010 e apesar de tudo ter sido criado em CGI, ninguém fica indiferente ao drama, especialmente da mãe (Naomi Watts candidata ao Oscar) e seu filho mais velho (o estreante Tom Holland). No caso, uma produção de grande estúdio bancou tudo. Mas neste exemplar modesto de “Indomável Sonhadora” deve ser reconhecida a criatividade do diretor fazendo moldar o quadro ambiental, observando-se como nesse espaço tumultuado conseguiu desempenhos tão eficientes, como se os interpretes estivessem, vivendo os fatos.
O filme  de Zetlin é candidato a 4 Oscar e está entre os favoritos do Spirit, premio dos independentes. Espero que chegue até aqui. Mesmo não ganhando nenhum prêmio no próximo domingo. Será triste se o espectador local só vir a conhecer esta obra extremamente meritória em DVD ou Bluray. Nada como a tela grande nessas exibições de catástrofes, ainda mais quando pessoas estão no meio, vivendo dramas comunicativos. E neste caso nem se pensa muito em“mise-en-scéne”: um enquadramento irregular, uma iluminação discutível, uma incomoda brecha à fantasia, nada se sobrepõe a uma comunicação com o espectador. Este é o cinema que Chaplin advogava e, com ele, críticos como o pioneiro André Bazin.
“Indomável Sonhadora” pode ser quesionado como um titulo ideal, posto que a personagem demonstra ser indomável mas realista em sua visão de salvar até seu próprio pai num momento em que este se embebeda. Se em certos momentos sonha em encontrar a mãe, isso não quer dizer que viva de sonhos. Mesmo porque ela se limita a sobreviver, conseguindo ajudar aos que estão ao seu redor numa manifestação magistral de como age uma criança e como poucos reconhecem esse comportamento.
Esperemos a estreia deste belo filme.
 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O ELEMENTO FANTÁSTICO



Eddie Izzard é Antony em "Um Toque de Felicidade"

Em DVD, estão sendo lançados alguns filmes que se apegam a elementos fantásticos como base narrativa. É o caso de “Budy Sparks, A Namorada Perfeita” (Budy Sarks/EUA, 2011) ao tratar de um jovem escritor que personaliza a figura ideal de seu novo romance, uma garota que encontra em um parque e que passa a fazer parte de sua rotina. Ela é imaginária e o ajuda a criar o melhor romance. Direção de Jonathan Dayton com roteiro de Zoe Kazan, neta do diretor Elia Kazan. Inedito em nossos cinemas.
“Um Toque de Felicidade”(Lost Christmas/EUA, 2011) é um conto natalino em que entra em cena um personagem fantástico capaz de inverter a historia e/ou manipular situações de diversas maneiras. O menino Richard, conhecido como Goose (Larry Mills) ganha de Natal um cachorrinho. O pai convida-o a passear com o animal, mas como bombeiro é chamado para um trabalho. Decepionado com a quebra do trato do pai, o garoto esconde a chave do carro. Mas o pai não desiste e sua esposa se prontifica a deixá-lo no lugar do trabalho. No percurso, morrem os dois em um desastre. Um ano depois se vê o menino transformado em “trombadinha” fazendo pequenos roubos para um amigo de seu pai que se transformou em receptador. Entra na historia o aparente mendigo Anthony (Eddie Izzard). Depois de muitas lições a Goose, o estranho faz com que as coisas se invertam, não sem criar uma corrente de novas situações interrelacionadas. Mas é bom ver o filme sem saber de detalhes. É um típico relato de Natal na linha de Charles Dickens. Boa narrativa. Direção e roteiro de John Hay, vindo da TV inglesa.
“Tudo em Familia”(Straight’t A’s/EUA, 2013) é o sexto filme do diretor James Cox. Trata de Scott (Ryan Phillipp), um ex-interno em hospital psiquiátrico presumivelmente por excesso do uso de álcool e outras drogas, que certo dia chega na casa do irmão (Luke Wilson), em Louisiania casado com sua ex-namorada. Esse retorno de Scott é para atender ao pedido do espírito de sua mãe falecida. O irmão vive viajando a negócios e o casamento não anda bem. Mas o casal de crianças, seus sobrinhos, logo devotam a ele grande estima. Scott sabe cativar os menores e inclusive ajuda o menino Charles (Riley Thomas Stewart) a se desinibir (andava sempre de paletó e gravata e tinha dificuldade em se expressar na escola).Paralelamente retoma a paixão que tinha por Katherine (Anna Paquin) agora sua cunhada. No final há uma surpresa e uma aposta na consistência do que dá ao filme o titulo brasileiro (“tudo em família”). Outro inédito nos cinemas que vale a pena conhecer.
“Para Roma Com Amor” é o novo Woody Allen (aliás, ele já tem um outro filme pronto). Seguindo a sua jornada europeia, depois de Barcelona e Paris chega à capital italiana onde focaliza varias histórias perseguindo o estilo das comédias de Dino Risi, Mario Monicelli e outros cineastas do cinema italiano de algumas décadas. O próprio Allen assume um hilariante papel, protagonizando um agente teatral que vê talento no futuro sogro de sua filha e o leva ao palco mesmo com a sua mania de só cantar no chuveiro. O comediante Roberto Benigni (de “A Vida é Bela”) tem um excelente desempenho em uma das historias. E isso é raro.
“Intocáveis”(Untochables/França 2011) foi um dos melhores filmes do ano passado não só na relação geral da ACCPA como para a crítica brasileira de um modo geral. Além disso, foi a maior bilheteria francesa em muitos anos. Dirigido por Eric Toledano trata de um tetraplégico (François Cluzet) que contrata para ajudá-lo um ex-presidiário (excelente Omar Sy). Eles se tornam amigos apesar das diferenças culturais, sociais e psicologicas. Um filme estimulante de um quadro dramático. Foi aplaudido aqui também, quando exibido numa sala de cinema. Imperdível. 

A HORA MAIS ESCURA



Maya (Jessica Chastain) entre as inquirições e torturas em "A Hora Mais Escura"

Os EUA levaram 10 anos para achar (e matar) Osama bin Laden, imputado como o autor do atentado que matou mais de 2 mil pessoas na queda de aviões sobre o World Trade Center, torres gêmeas de Nova York. E a missão dos terroristas ia mais longe, com outro avião caindo sobre o Pentágono, sede do poderio militar estadunidense, e outro que poderia ser endereçado a Washington, mas foi abortado pelos próprios passageiros da aeronave (tema de um bom filme de Paul Greengrass,“Vôo United 93”, de 2006).
A caçada a Bin Laden certamente chegaria ao cinema. E chegou agora com “A Hora Mais Escura”(Zero Dark Thirty/EUA 2012) roteiro de Mark Boal (também produtor) para a diretora Katherine Bigelow, para quem escreveu também “Guerra ao Terror” (The Hurt Locker/EUA 2008).
Os que têm pouca familiaridade na história perguntam por que a espionagem norte-americana demorou tanto tempo para encontrar um “inimigo publico numero um”. Surgiram mil e uma hipóteses, incluindo um envolvimento do presidente W.Bush com parentes de Bin Laden ligados ao comércio de petróleo. Na verdade, havia uma parede protetora ao terrorista na região onde ele nasceu e viveu. E é justamente a quebra dessa parede que o filme focaliza em uma linguagem semidocumental, expondo realismo como o recurso de tortura usado por agentes da CIA em afegãos presos e supostamente ligados a grupos de terror.
A figura principal dessa história é Maya (Jessica Chastain), a agente que desde cedo foi direcionada ao processo investigatório na Operação Neptune Spear, para descobrir onde se escondia bin Laden. Segundo Mark Boal ela e mais a colega Jessica (Jennifer Ehle) eram as únicas mulheres do grupo de espionagem. A segunda é morta quando tenta encontrar-se com um denunciante ligado a Laden numa base próxima do esconderijo deste. Quanto a Maya, dedica-se ao trabalho de forma obsessiva, desde o momento em que o grupo se forma (se levarmos em conta o desempenho excelente de Jessica), e após a morte da colega mais empenho ela devota ao projeto, sendo, no fim das contas, a agente que vai identificar o terrorista quando o corpo de um homem morto na casa que se presume ter morado Laden e familiares chega à sua base. É impressionante quando, encerrada as buscas, um gigantesco avião americano espera pela agente e ela, ao entrar, recebe a noticia de que é a única passageira, ganhando a admiração de quem pergunta sua identidade por receber tanta devoção dos militares.
O filme é bastante longo. Mostra a investigação desde o início em mais de duas horas e meia, sendo que duas delas são dedicadas ao processo de inquirição, à captura e interrogatório de prováveis terroristas e a confusos meandros de serem identificadas as pessoas mais próximas do objetivado, um grupo que se esconde com o cuidado de não deixar detalhes nas mãos de quem possa sucumbir aos dolorosos interrogatórios inimigos.
A hora escura do titulo é depois da meia-noite e nesse período vêem-se soldados atirando em quem apareça, poupando apenas mulheres e crianças. Mesmo assim, na hora da invasão à casa de Laden (noite de 01/05/2011) um dos soldados grita para calarem uma das crianças que não pára de chorar. Há uma pugna para pagar violência com violência.
Há dois eixos que se evidenciam, além da caçada silenciosa a bin Laden. O primeiro refere-se às práticas de tortura tomando o tempo do filme. As longas sequências deixam o público angustiado por repassarem as caracteristicas atrozes desses atos. O segundo, que daria uma análise mais densa, é a da atitude dos comandos militares e da CIA à figura de Maya em meio à equipe. Sempre tratada de forma secundária, vê-se que essas posições expoem o preconceito dos superiores por sua condição de mulher. Aliás, isso foi evidenciado pela atriz em uma entrevista por ocasião do lançamento do filme. O desprezo por suas idéias é sistemático, mas aceito quando um dos colegas assume.
Katherine Bigelow ficou com o status de especialista no assunto “terrorismo” ao ganhar o Oscar em “A Hora do Terror”, daí os recursos para este novo projeto. O detalhismo se tornou uma qualidade demonstrada nas minucias aplicadas. Há interesse no filme, mas há tempo demais para evidenciar uma missão de guerra.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

FOGO FRIO

Josh Duhamel e Bruce Willis em "Fogo Contra Fogo".
No auge da pirofobia originada pela tragédia da boate sulriograndense chega aos nossos cinemas “Fogo Contra Fogo”(Fire with Fire/EUA,2012). Mas o roteiro de Tom O’Connor pouco trata de incêndios. O personagem central é que é um bombeiro e a trama que o envolve parte de ter presenciado um bárbaro assassinato em uma lanchonete sendo marcado pelo assassino a ponto de passar a fazer parte da cobertura policial à testemunha, embora o que interessa a essa figura, Jeremy Coleman (Josh Duhamel), seja ele mesmo perseguir e matar o assassino.
O filme dirigido por David Barret, dublê de vários filmes e diretor exclusivo de filmes e séries de TV, é como um desses teleplays que se vê em casa, num canal de assinatura, exibindo em uma narrativa dinâmica, mas sem brilho, os mais diversos “furos” e absurdos como é de praxe nos chamados “filmes de ação”, em especial, os derivados de historias em quadrinhos.

Se há alguma vantagem em sair de casa para ir ao cinema em agenda de meio da tarde para ver esse tipo de programa, além do compromisso com a coluna, é o fato de ele não estimular o sono. “Fogo Contra Fogo” não é monótono. Há uma trama bem engendrada apesar de extremamente banal. E isso acontece porque o diretor sabe dar ao roteiro um ritmo ágil, com sequencias econômicas, o que vale dizer, uma edição (montagem) acelerada capaz de mandar estímulo de nossos olhos ao cérebro, suficiente para acompanhar a ação marcada por quem briga, quem morre, quem escapa de tiroteio, enfim quem se aventura em um cenário típico de “déja vu”.

O melhor desempenho está com Vincent D’Onofrio no tipo do vilão David Hagan. Este ator agora muito conhecido por suas atuações em séries de TV, como a Law & Order Criminal Intent, ganhou evidencia em 1987 quando incorporou um recruta humilhado por um sargento-comandante de novatos em “Nascido Para Matar” (Full Metal Jacket) de Stanley Kubrick e quando foi obrigado a engordar 31 quilos (para o cinema atual ele está em 9 filmes em pré e pós-produção). Na época, D’Onofrio era um jovem gordinho e cara de ingênuo. Hoje pode usar a máscara de um bandido sanguinário como apresenta neste “Fogo...” que no mercado norte-americano foi logo destinado aos canais de TV e DVDs.

Mas, o grande público certamente está privilegiando esse programa tendo em mente encontrar Bruce Willis, há muito apresentando uma máscara de um homem calvo, refazendo os tipos semelhantes ao que moldou em “Duro de Matar”(por sinal está com um novo titulo preste a ser lançado). Bruce não se evidenciou jamais como um bom ator, salvando-se quando se inclui em papéis  onde o diretor é competente e o roteiro minimiza sua atuação. Mas neste novo personagem que está nas telas da cidade ele parece de férias. Sonolento, pouco ou nada faz. Parece que está “assinando o ponto” como um funcionário de estúdio. Ele representa um delegado que sabe onde está e como atua a principal presa, tendo clareza ainda o modo como o tipo pode influenciar na vida do rapaz protegido pela policia, embora não faça nada que ajude ou facilite a vida desse “marcado de morte” que é testenhuma-chave, daí estar ente as pessoas que recebem proteção policial integral ou são inscritos no Programa de Proteção às Testemunhas. Apenas presencia as articulações do tipo  para chegar ao assassino psicopata. E a relação do filme com fogo só mesmo no final quando o “mocinho” da história constrói sua vingança, em ação do qual ele tem expertise por ser bombeiro (embora sua missão seja contrária à ação criminosa) de saber incendiar o prédio onde está o assassino que persegue. Aos olhos do espectador banca o “herói” de verdade ao salvar a namorada que está nesse prédio, embora, a princípio, desconhecesse o fato.

“Fogo Contra Fogo” seria um programa melhor se fosse assisitido em casa, em DVD ou em transmissão de TV, numa sessão noturna que capitaliza o sono. No cinema é pura perda de tempo, exceto se você está indo a um shopping por outro motivo para, como se diz, “fazer hora”.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

MOSTRA "OSCAR"



DE 19 À 24/02/13
CINE OLYMPIA
Sessões às 18:30 h – Entrada Franca
 
Na semana do “Oscar” 2013, o cinema Olympia exibirá uma programação de filmes que foram indicados ao maior prêmio do cinema americano mais que perderam em categorias importantes como melhor filme e melhor direção entre outras indicações. Com o tempo, estes filmes acabaram ficando tão importantes ou até mais considerados que os premiados pela academia americana. A mostra acontecerá de 19 à 24/02/13 com sessões às 18:30 h e entrada franca.

A seguir, a programação completa:

DIA 19/02 - VINHAS DA IRA de John Ford

Baseado na obra de John Steinbeck, conheça a história de uma família de trabalhadores rurais pobre durante a Grande Depressão de 29. Buscando oportunidades de uma vida melhor, Tom Joad (Henry Fonda), após cumprir pena, leva sua família em uma pequena caminhonete, de Oklahoma para a Califórnia, onde dizem ser um lugar mais próspero e de maiores oportunidades. Durante a viagem eles se deparam com a nova realidade, ao mesmo tempo que descobrem que o lugar onde estão indo pode ser pior do que o que deixaram para trás. Vencedor de 2 Oscar, incluindo Melhor Diretor.


DIA 20/02 - DEPOIS DO VENDAVAL de John Ford (1952)

Depois de muitos anos fora, Sean Thornton (John Wayne) retorna dos Estados Unidos para sua pequena cidadezinha na Irlanda. Chegando lá, logo vê Mary Kate Danaher (Maureen O'Hara), uma pobre, mas linda moça, irmã mais nova de Will, que não vai com a cara dele. Os dois se apaixonam, mas terão que saber lidar com Will para conseguirem ser felizes.


DIA 21/02 - QUANTO MAIS QUENTE MELHOR de Billy Wilder(1957)

Em 1929, Joe e Jerry, dois músicos desempregados, testemunham sem querer o cruel Massacre do Dia de São Valentim. Desesperados para não serem pegos pelos gângsters, eles se disfarçam de mulheres e entram para um grupo feminino musical, que está indo para Miami fazer shows. Joe se apaixona por Sugar (Marilyn Monroe), a garota problema do grupo, enquanto um milionário se apaixona pelo disfarce de Jerry, tudo isso em meio a uma convenção de criminosos, que também está acontecendo em Miami.


DIA 22/02 - DESENCANTO de David Lean (1945)

Em um café numa estação de trem, a dona de casa Laura Jesson encontra o doutor Alec Harvey. Embora ambos já sejam casados, gradualmente apaixonam-se um pelo outro. Eles, então, continuam encontrando-se toda semana no mesmo local, mesmo sabendo que seu amor é impossível.


DIA 23/02- MUITO ALÉM DO JARDIM de Hal Ashby(1979)

Chance (Peter Sellers) é um simplório jardineiro que nunca antes havia deixado a residência de seu patrão, até o dia em que este morre. Tudo o que ele conhecia sobre o mundo foi deturpado pela imagem da televisão. Agora que deve enfrentar pessoalmente o fato de ter que se virar sozinho, um homem de negócios muito influente acaba achando que ele é um gênio.


DA 24/02 - O HOMEM ELEFANTE de David Lynch(1980)

John Merrick (John Hurt) é um inglês que vive recluso em um circo por ter uma doença que desfigurou seu rosto. Ele é descoberto por um médico (Anthony Hopkins), que deseja integrá-lo à sociedade não como um "esquisito", mas como alguém normal e culto. O problema é que as pessoas não estão prontas para isso, e John terá que sofrer muito para ser tratado como ser humano.
 

SESSÃO CINEMATECA (APOIO: ACCPA)

 
DIA 24/02 - O TERCEIRO HOMEM de Carol Reed (1951)

Um escritor americano chega a Viena, após a Segunda Guerra, e descobre que seu amigo Harry Lime foi morto sob circunstâncias misteriosas. Ele passa a investigar o caso e descobre várias inconsistências nas explicações dos amigos de Harry. O filme é considerado uma das obras-primas do cinema noir.

*após o filme debate sobre o OSCAR 2013 com críticos da ACCPA

(Texto informativo de Marco Antonio Moreira - ACCPA)

O MUSICAL E O CINE-PACTO


Anne Hathaway na interpretação de Fantine em "O Miseráveis"

O prestigio do cineasta Tom Hooper depois do filme britânico “O Discurso do Rei”(2010) levou-o à redescoberta do clássico romance do escritor francês Victor Hugo, “Os Miseráveis” (Les Miserables, publicado em 1862), várias vezes filmado. Hooper não apenas se dignou a realizar mais uma versão do drama de Jean Valjean, o homem que na Paris do século XIX rouba um pão, é condenado e posto em liberdade e perseguido, daí em diante, pelo policial Javert, uma perseguição logo transformada numa obsessão. Hooper foi buscar no musical da Broadway, de Alain Boublil com roteiro de William Nicholson a partir da obra de Claude-Michel Scönberg, afinal quem levou a obra ao teatro. Mais ainda: Hooper não usou dublagem empregando vozes de cantores de opera. Colocou os próprios atores para cantar, gravando na hora da filmagem. A ousadia fez com que Russel Crowe, famoso pelo seu desempenho em “Gladiador”(2000) e outros filmes de ação, assumisse o papel de Javert e cantasse a sua gana na perseguição a Valjean, encarnado e cantado por Hugh Jackman (de “Gigantes de Aço” e os dois exemplares de “X-Men”).
“Os Miseráveis” (UK, 2012) ganhou mais de duas horas e meia na tela e ousou inserir no texto original francês alguns momentos, como um confronto de espadas entre o policial e o perseguido. Mas essa liberdade ficcional sobre um livro famoso que leva o filme ao patamar da critica possivelmente está no gênero em que foi baseada esta nova versão do filme, extraida de uma peça musical.  Sabe-se que o livro original  é composto de cinco volumes, cada um deles priorizando um personagem que circulou na epopéia entre Valjean e Javert – Fantine, Cosete, Marius, a epopéia das barricadas e, finalmente, Jean Valjean. Desse grande painel do século XIX segue-se a crítica à miséria e a pobreza desses personagens. Possivelmente a extração de um ou outro episódio privilegiado no musical tenha favorecido os demais que os leitores de uma parte do livro de Vitor Hugo desconheçam.  Quando este foi escrito, a meta foi justamente a miséria e a ausência de liberdade (vale dizer de justiça). Contam que a inspiração foi uma palavra escrita com sangue numa parede. O certo é que embora se possa pensar  que “Os Miseráveis” não parece ser alvo ideal para um show da Broadway como se fez com “O Fantasma da Ópera”, ele foi sucesso por lá, daí a significação ao ser adaptado para o cinema.
A platéia que aprecia opera e opereta deve ter estranhado a opção pelo musical sem cantores profissionais (vale dizer sem vozes marcantes), havendo uma escravidão da câmera à marcação teatral, evidenciando-se uma direção de arte de alto custo e belisima e uma fotografia (de Danny Cohen) a ressaltar nos tons, a época da ação.
No cinema, depois de ilustres edições, esperava-se a utilização da moderna tecnologia para enfatizar o drama do pobre Valjean que mesmo galgando altos postos na vida é alvo de perseguição de uma falange legal que se mostra insensível (ou capaz de dar margem ao papel de defesa). Hooper quis inovar e seguir a linha da peça musical. E a julgar pelas candidaturas ao Oscar, este ano, parece que atingiu seu alvo. O filme é mais um incisivo diferencial nas atuais candidaturas ao mais conhecido prêmio da indústria cinematográfica. Há qualidades no filme e a mostração do desempenho dos  concorrentes, carece um olhar apurado, por exemplo, quando a câmera focaliza Anne Hathaway como a pobre e doente Fantine, em close, chorando (e cantando) a sua desdita. Como o Oscar é uma “feira de amostra” sem dúvida na celebração dessa premiação há lugar para Hugh Jackman, candidato a melhor ator, ao lado de Daniel Day Lewis, o melhor Lincoln do cinema. Um desempenho esquecido nessa categoria foi a de Jean Louis Trintignant, em “Amour”. E até Bem Afleck como diretor do tão favorito “Argo”. As razões da indústria, somente a lógica do preço vai ser uma referência ímpar. E nós, que optamos pelas palmas estéticas nem sempre ficamos satisfeitos e continuamos não entendendo a lógica da academia.

PROCURANDO UM FINAL FELIZ


Bradley Cooper e  Jennifer Lawrence em "O Lado Bom da Vida"

Candidato a vários Oscar, “O Lado Bom da Vida” (Silver Lining Playbook,EUA, 2012) foi intitulado, em Portugal, “Guia Para um Final Feliz”. Fica melhor assim, o registro deste filme, baseado em uma historia de Matthew Quick com roteiro do diretor David O.Russel. Analisando friamente, sem levar em conta detalhes nacionais, ou mesmo regionais, que podem ser observados apenas pelos norte-americanos da região focalizada, trata-se de uma armação romântica dentro dos parâmetros usados pelas comédias românticas de Hollywood. Dessa forma, posso afirmar que o cinéfilo sabe, vendo e avaliando a primeira sequencia do filme, como será a última desse trabalho mais recente do autor de “O Vencedor”.
No enfoque da trama, o professor de educação física Pat (Bradley Cooper) passa uma temporada em uma clinica para doenças mentais. Ao sair para a casa dos pais fica sabendo que a sua esposa Nikki (Brea Bee) deixou-o, vendendo a casa em que eles moravam. Traumatizado, o jovem encontra na vizinha Tiffany (Jennifer Lawrence), viúva recente, o apoio necessário. Ela também passou por tratamento psiquiátrico e, como ele, toma remédios específicos para controlar suas emoções. Mas é difícil Pat esquecer a esposa. E apesar de formar com Tiffany um par de dança disposto a concorrer em concurso especifico, escreve à antiga companheira na esperança de que o relacionamento dos dois seja renovado.
Além das personagens principais, o filme também apresenta o apostador inveterado e de bom humor, o pai de Pat que também se chama dessa forma (é o Sênior) e a esposa deste, Dolores, justamente quem confia na recuperação do filho. O primeiro é interpretado por Robert De Niro que se mostra muito à vontade, ou como disse um critico, “sendo ele mesmo”. O ator é candidato ao Oscar de melhor coadjuvante e penso numa homenagem por toda a sua filmografia. Já a atriz Jacki Weaver, como Dolores, não tem muito a mostrar.
Nenhuma inovação, no processo narrativo, chama muita atenção. O que realmente se sobressai é a expansividade com que Jennifer Lawrence encarna seu papel. E é uma representação difícil. Por mais que o roteiro e a direção não explorem com muita profundidade o drama dos tipos mentalmente traumatizados, ela consegue dar um toque emotivo, expor a instabilidade afetiva que o seu personagem tem de exibir para convencer.
Não entendo é como “O Lado Bom da Vida” entusiasmou tanto os associados da Academia de Hollywood para concorrer a nada menos de 6 Oscar incluindo os principais (filme, diretor, ator, atriz e roteiro adaptado). Enfim, a premiação do gênero tem sempre razões que a razão da critica independente desconhece. Não fosse assim e Chaplin, Hitchcock, Stanley Kubrick e tantos cineastas talentosos com filmes exponenciais teriam sido lembrados nessa premiação da indústria (e não foram ).

JORNALISTA DETETIVE


Ben Affleck e Russell Crowel em "Intrigas de Estado". Em DVD.

Um “thirller” interessante em que um jornalista é o tipo digno dos melhores detetives das historias policiais pode ser visto em “Intrigas de Estado”(State of Play/EUA, 2009) de Ken Macdonald, foi lançado agora em bluray. O jornalista da historia, Cal McAffrey (Russel Crowe) foi colega de curso superior do então deputado Stephen Collins (Ben Affleck). Quando este é envolvido na morte de uma assessora legislativa, sua funcionária, a mídia começa a insistir que há alguma coisa entre os dois que possa ter levado a jovem a um suicídio, não descartando, também, a idéia de um assassinato. Na mesma época em que a secretária de Stephen cai no trilho do metrô ocorrem dois outros crimes, com um caso de morte e outro de um homem que se encontra em estado grave num hospital. O jornal de Cal dirigido por uma intransigente redatora (Helen Mirren) quer que o caso seja investigado envolvendo a figura proeminente. Mas o amigo jornalista tenta separar as coisas e conta com a ajuda de uma colega novata (Rachel McAdams). Segue-se uma aventura com todos os elementos de suspense desejados em narrativa dinâmica a partir de um roteiro arguto de Tony Gilroy(de“O Legado Bourne”) e do próprio diretor. Eles se basearam numa série de televisão criada por Paul Adams, para a BBC, em 2003.
Um programa acima da média para o cinema caseiro. Vi cansada do trabalho acadêmico, mas atenta a mais de duas horas de programa.
Outro filme novo é “Amor Impossível”(Salmon Fishing in Yemen/UK, 2012). O diretor é Lasse Hallstrom, sueco de 34 produções, conhecido do público desde o hoje clássico “Minha Vida de Cachorro”(Mitt liv Som Hund/Suécia,1983). O enfoque é sobre o desejo de um xeique que deseja pescar salmão na sua terra, no deserto árabe. O Departamento de Estado inglês, com vistas na aproximação política entre os dois países, aprova a ideia e seleciona funcionários técnicos para esta missão. Em meio às questões comerciais há um romance do Dr. Alfred Jones (Ewan McGregor), especialista em pesca, casado, e Harriet (Emily Blunt), também ligada ao setor mas já em contato com a autoridade árabe.
Hallstrom está longe de seus melhores filmes, mas a narrativa é fluente, a cor local funciona e fica a imagem de que a política de interesses internacionais passa por cima de problemas técnicos de difícil alcance. Filme inédito nos cinemas locais.
Está circulando em  DVD “A Condessa de Hong Kong”(A Countess from Hong Kong/UK, EUA 1967) ultimo filme escrito, dirigido e musicado por Charles Chaplin. A estreia do filme foi uma decepção. E o tempo é ainda mais cruel ao resultado posto que dilui expectativas otimistas. O enredo explora a figura de um político norte-americano interpretado por Marlon Brando, que retorna por navio de Hong Kong para os EUA e vê seu camarote invadido pela garota de programa (Sophia Loren) que conhecera em terra. Ele tenta esconde-la e as peripécias em torno disso ganham movimentação de comédia visual. Mas é constrangedor as correrias de Marlon Brando vestido de roupão e Sofia Loren usando pijamas gigantes que ele compra para ela vestir. No final há um baile em que aparecem dançando as filhas de Chaplin com Oona O”Neill. Assemelha-se a um filme domestico, mas perde esta que seria uma ótima qualidade na pretensão de ser muito mais alguma coisa. O próprio Chaplin surge numa cena como camareiro. Vale ver como pesquisa histórica.



domingo, 10 de fevereiro de 2013

BAFTA 2013 | Conheça os vencedores do Oscar britânico Cinema | Omelete

BAFTA 2013 | Conheça os vencedores do Oscar britânico Cinema | Omelete

ERNANI CHAVES -OPINIÃO SOBRE "DJANGO LIVRE"


As três figuras importantes em "Django Livre"

Luzia, assisti ao filme ontem, com um bom fã de Tarantino. Tem uma diferença grande assistí-lo aqui, em Berlim, devido à figura importante e carismática, no filme, do "Dr. Schultz", esse alemão bonachão, simpático, ardiloso, que ensina a Django não apenas a ser um grande atirador, mas também a saber convencer, a insistir no poder das palavras (na conversa decisiva de Django com os "brancos", a quem convence libertá-lo, quando o estão levando prisioneiro para "quebrar pedras"). Há também a história de "Brunilde" e "siegfried", saída das lendas nórdicas, mas que ganharia tempos depois, toda a sua importância nas óperas wagnerianas. O cinema vem literalmente abaixo, por exemplo, quando o personagem de Leonardo de Caprio, tentando falar alemão troca "Schultz" por "Schmulz", que quer dizer "sujo". Vi o filme em inglês com legendas em alemão. Todo o diálogo, em alemão, entre Schultz e Brunilde, quando ele vai contar que Django, seu marido, está na sala ao lado, é de uma ternura, de um lirismo, como se ele, que ouviu desde criança a história de "Brunilde" e "Siegfried", estivesse ali, diante da concretização dessa história. Por outro lado, Tarantino faz uma releitura do mito totalmente anti-nazista avant la lettre(a leitura de Wagner é considerada por muitos, como uma espécie de preparação do nazismo), ao transformar o herói germânico, nórdico, branco,louro e de olhos azuis (características do que se chamará depois "raça superior")pelo negro, na condição de escravo. A cena em que o personagem de di Caprio apresenta as teorias racistas da época acerca da diferença entre negros e brancos é, neste sentido, absolutamente perfeita, para Tarantino fazer sua crítica ao nazismo e toda forma de preconceito, representado pelo fazendeiro facínora americano, enquanto o alemão está ali, sentado na mesma época e declarando a todo instante que Django é um "homem livre". Assisti o filme num cinema de rua, que constituem 90% dos cinemas de Berlim, uma cidade que tem mais de 50 cinemas. Gostei da trilha sonora também, em especial da releitura do tema clássico, que é do grande Enio Moriconne. Viva Tarantino!
Abração,

Ernani 



VÔO ALTO






Denzel Washington em "Voo" de Robert Zemeckis

O primeiro filme do diretor Robert Zemeckis depois de anos na criação de animação é uma produção adulta que focaliza um desastre de aviação em que a habilidade do piloto é determinante para que o numero de vitimas seja relativamente pequeno. Mas isto não impede que ele seja alvo de investigação e considerado culpado por pilotar depois de consumir álcool e cocaína.
“Vôo”(Flight/EUA,2012) é um dos melhores momentos de Denzel Washington em uma carreira que já lhe deu 2 Oscar : um de coadjuvante, por “Tempo de Glória”(Glory, 1989) e outro como ator principal em “Dia de Treinamento”(Traning Day/2002). No filme de Zemeckis ele protagoniza Whip Withaker, piloto experiente mas em crise emocional com o fim do casamento, separação do filho, relacionando-se com uma comissária de bordo. A primeira sequencia do filme mostra-os na manhã após uma noite de amor, ele demonstrando efeito de bebida e logo procurando pó para sorver. Daí em diante vê-se o piloto decolando em um dia chuvoso, atravessando área de turbulência, conseguindo ultrapassar as nuvens, mas, cochilando, é acordado pelo seu co-piloto que reclama a desobediência do comando para efetuar a aterrissagem. Daí é a engenhosa busca de um local amplo, com o agravante de incêndio em um motor, emborcando o avião para ganhar leveza que o desse chance de planar até a aterrissagem.
A edição da viagem aérea e seu atropelo é uma lição de corte e enquadramanto na narrativa. O ritmo intenso dá o suspense exigido. E os efeitos especiais são pródigos na visão do desastre, dando até a chance de se ver a cauda do avião batendo numa torre de igreja antes de cair esse partir ao meio.
O filme tem uma primeira parte dedicada ao fato. Outra parte é de gabinete, é o processo de investigação, com o apoio dos colegas de sindicato de Whip e da atuação de uma inspetora que assume o julgamento do processo em torno do comportamento do piloto, ressaltando-se que na ocasião foi tido como herói por conseguir um pouso difícil (e as circunstancias são categóricas e levam a crer na falha do aparelho).
Em paralelo corre o enfoque da família do personagem principal, como ele é recebido pela esposa e pelo filho adolescente. E como ele reage quando sabe que a sua namorada foi uma das pessoas que morreram no desastre. Um ponto que favorece o clima refletindo no aspecto moral do piloto é o do juri. Vê-se a estratégia da promotoria em associar a imagem da namorada morta à única prova concreta de que alguém teria bebido no momento do vôo. Se ele negou ter sido ele, quem seria então? E esse é o aspecto crucial que vai mostrar o caráter do piloto e namorado.
O roteiro é tão minucioso sendo possivel pensar numa abordagem de caso real. Este trabalho de John Gatis, que escreveu recentemente“Gigante de Aço”, é primoroso na pintura de um acontecimento na aviação civil como na síntese da estrutura do tipo mais evidente. Por certo que ele facilitou bastante o trabalho de Zemeckis, mas, mesmo assim, o diretor de “Naufrago”, “Forrest Gump” e “De Volta para o Futuro” mostra-se em plena forma. Ainda mais quando se sabe que passou largo período voltado para o publico infantil com as animações “Expresso Polar”(2004), ”A Lenda de Beowulf”(2007) e “Os Fantasmas de Scrooge”(2009). O seu novo tema é tratado com a seriedade que merece sem concessões. “Vôo” é o tipo do filme que atrai plateias mistas, desses que a critica e publico recebem com agrado. E ele está candidato aos Oscar de melhor ator e roteiro. Justa escolha, embora a concorrência, nem sempre satisfatória, pese contra um bom resultado.




O PORTO DA ESPERANÇA



Idrissa (Blodim Miguel) em "O Porto"

Um enredo tão candente na expressão maior de uma linguagem tão simples reflete o que de melhor o cinema pode expressar como arte. Embora alguns cineastas se esmerem para conseguir uma proposta diferente de criação, o finlandês Aki Kaurismäki não precisou de malabarismos de câmeras nem de grandes astros para dizer em pouco mais de 100 minutos como a vida das pessoas está enredada na de outras e como é possível esse processo garantir a diferença na dimensão coletiva se o interesse passa a ser de todos.
O filme “O Porto”(Le Havre/França, Finlandia, 2011) acompanha um engraxate (André Wilms) de meia idade em seus dias de trabalho em alguns pontos da cidade, algumas vezes sendo escorraçado dos espaços da elite. Em uma de suas peregrinações pelo porto de Havre percebe um garoto africano que havia viajado de seu país com destino à Inglaterra dentro de um contêiner. Os companheiros de viagem desse menino são presos pela policia local com vistas à deportação. O garoto consegue fugir. Recebe  dele alimentos e permenece escondido sob uma ponte. Apiedando-se, o engraxate leva-o para morar em sua casa, agora vazia haja vista que sua esposa se encontra hospitalizada. Entre o reconhecimento do “ter que fazer” alguma coisa para salvar o garoto e o formato desse “que fazer”, o engraxate inicia uma campanha entre os vizinhos para encaminhar o fugitivo ao seu destino, a Inglaterra, onde sua mãe o espera.
O roteiro de “O Porto” é de autoria do próprio diretor, com 31 títulos no currículo, além outros tantos como produtor e roteirista. Foi o vencedor do Premio Ecumênico do Festival de Cannes 2011 e ainda detentor de outros prêmios e candidaturas.
O filme é muito simples como linguagem e tema. Prega a solidariedade e não se envergonha de mostrar que essa atitude pode gerar grandes benefícios. Isso no cinema materialista e muitas vezes derrotista de hoje, especialmente do que se vê como“filme de festival”, é raro.
Marcel Marx (André Wilms), o engraxate, é uma espécie de Jean Valjean moderno (a lembrar do herói de “Os Miseráveis” de Victor Hugo). Ele não rouba, mas acalenta um fugitivo da justiça e por isso é perseguido por um inspetor de policia que na postura obsessiva parece com Javert, o vilão do romance citado (e lembrado agora no musical extraído dessa fonte). O inspetor Monet (Jean-Pierre Darrousin), persegue Marcel sem se apiedar do fato de que Arletty, a esposa doente, está hospitalizada com um prognostico sombrio rondando os seus exames. Há uma mudança de atitude no final, indicando que no caso de “O Porto” os miseráveis podem ganhar amparo de seus algozes. Por isso, certamente, o filme sensibilizou o júri ecumênico de Cannes.
É interessante observar que Kaurismäki é um cineasta que aposta na vida de seus personagens. De sua obra conhecida como “Trilogia da Finlândia” por aqui só se conhece “O Homem sem Passado”, de 2002, onde o personagem sofre de amnésia e luta para recuperar seu espaço na sociedade. No caso de “Porto”, o autor vai além dos limites de sua terra, ampliando a sua visão de otimismo no campo de imigrantes, no caso de um alvo de preconceito e perseguições que acaba seguindo o seu destino objetivado por auxilio de estranhos e de outras terras. São muito sugestivos os planos do garoto no tombadilho do navio que o leva para Londres tentando conter as lágrimas ao ver que está conseguindo realizar o sonho de seguir seu destino. Isso não é colocado como elemento de melodrama. O jovem Idrissa (Blodim Miguel) é contido, não “derrama lagrima” nem exorbita os agradecimentos ao amigo e à ajuda gratuita que encontra na Finlândia.
“O Porto”ganhou 15 prêmios internacionais. Não há destaque maior para a narrativa que se limita a contar a história proposta. Nem mesmo se esmiuça a questão imigratória, ou o que levava os negros africanos a saírem de suas terras arriscando-se em viagens potencialmente suicidas. Creio que houve uma resposta emotiva ao trabalho de Aki Kaurismäki. Sinal de que cinema é sensibilidade compartilhada com a técnica. Imperdível.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

LINCOLN 2012


Daniel Day Lewis em "Lincoln". 

Lamar Trotti (1900-1952) roteirista de cerca de 60 filmes e 3 vezes premiado foi quem escreveu o roteiro do mais interessante filme sobre Abraham Lincoln, o presidente norte-americano mais cultuado ate agora: “A Juventude de Lincoln”(Young Mr Lincoln/1939) dirigido por John Ford. Mas antes deste filme e depois dele muitos mais focalizaram o personagem histórico. Agora é a vez de Steven Spielberg em “Lincoln”(EUA, 2012), tendo como base o livro biográfico escrito por Doris Kearns Goodwin, através de um bem estruturado roteiro de Tony Kushner. Doris, PHD em Ciência Política pela Harvard University, autora de outros livros sobre presidentes norte-americanos, é casada com um diplomata, Richard Goodwin, considerado muito influente na deposição do presidente brasileiro João Goulart, em 1964.
O filme de Spielberg prende-se ao debate sobre a emenda constitucional que daria liberdade aos escravos, a aprovação da 13ª Emenda. Nessa época estava em processo a guerra civil, mais conhecida como Guerra de Secessão (1861-1865), com o sul do país pugnando pela manutenção de seu status agrícola, e totalmente contra a emenda de Lincoln, posto que avaliava imprescindível a mão de obra escrava (leia-se negra) para a plantação e colheita do algodão, sua base econômica.
Segundo a narrativa do filme, que não dá concessões ao espetáculo (o comum em filmes de Spielberg), a política de Lincoln, recém-reeleito à presidência dos EEUU, não se prendia a favores aos denominados confederados (o sul havia criado uma Confederação para lutar contra o norte), tanto que não aceitou a imediata rendição das tropas sulistas em troca da retirada da emenda em plenário (isto depois de ela já estar dependendo dos deputados, com aprovação do senado – ou Upper House). O presidente queria ver escravos livres mesmo que em setembro de 1862 já houvesse proclamado a Lei de Emancipação, vigorando em janeiro de 1963. E o filme aponta um dos motivos desse desejo num dialogo que ele mantém com negros soldados logo na primeira sequencia do filme. É interessante observar o despojamento do Chefe de Estado quando é evidenciado que ele perdera um filho no conflito e estava na iminência de perder o segundo que desejava ir para o campo de batalha sensibilizado com o numero de mortos que chegavam às terras de União (norte).
O filme é um grande discurso político que pretende evidenciar o caráter de um mandatário humano, de quem compreendia que se um país se dizia cristão e democrático, evocando as palavras divinas de que “os homens foram feitos iguais”, tão enfatizado pelos Pais Fundadores, estaria cometendo um paradoxo ao acobertar o preconceito racial.
“Lincoln” é um painel honesto sobre um recorte histórico da História Americana. E muito deve ao roteiro e ao ator Daniel Day Lewis, no papel principal. Maquilado de forma a parecer fisicamente com o biografado, Lewis, já detentor de 2 Oscar (por “Meu Pé Esquerdo” em 1989, e “Sangue Negro”, em 2007) deve ganhar o seu terceiro (e ele ainda chegou a ser candidato por “Em Nome do Pai”/1993 e “Gangues de Nova York”/2002). O ator passou anos trabalhando esse protagonismo e chegou a ensaiar um gestual que foi descrito, na biografia de Lincoln, como típito desse líder político. Impressiona o gestual.
Mas o que salta do conjunto é que um filme longo (mais de duas horas e meia de projeção) e pousado em falas, consegue atrair plateias com vivo interesse. Não é possível criticar como “não cinema” um filme que apresenta extensos diálogos. Não bastam as brilhantes frases que se ouve (ou lê). Um elenco bem conduzido, uma produção bem cuidada, uma edição que sabe jogar com o “timing”(tempo de sequência) todo um conjunto técnico-artístico colabora para que o trabalho do conhecido diretor de “Tubarão” seja mais do que uma homenagem. É, como eu mencionei, um documento histórico. Mesmo porque, a não concessão para evidenciar o jogo político construido nos bastidores do poder entre os personagens diretamente envolvidos no interesse do presidente em aprovar a 13ª Emenda nesse momento, mostrou que somente nessa base, entre barganhas e acertos interpares, Lincoln conseguiu a vitória para a emenda apresentada. Como ele dizia, é agora ou nunca, quando o fim da guerra ainda não fora definido, que será possivel a aceitação da proposta, seguindo-se o fim dos confrontos norte-sul.
Embora o filme explicite o entorno da ingerencia política entre os legisladores e o executivo, dando uma aula sobre o legislativo americano, sem duvida atiça o interesse do público em busca de mais informações sobre o episódio. Filme imperdível!

UM DRAMA DE AMOR


Jean Louis Trintignant e Emanuelle Riva em "Amor".

Michael Haneke, diretor alemão de 70 anos, reuniu dois atores octogenários, Jean Louis Trintignant (82) e Emanuelle Riva (87) em “Amor” (França/Alemanha/Austria, 2012) para protagonizarem um casal de idosos cujas alegrias compartilhadas construiram um cotidiano digno entre a profissão pública e o ambiente privado familiar. Anne e George dão aulas de música e se defrontam com a adversidade quando ela sofre uma isquemia, sem êxito cirúrgico e de evolução progressiva, e ele é quem vai acompanhá-la no tempo que lhe resta, nos estertores da dimensão cotidiana que favoreceu os dias vividos, criando hábitos salutares, na composição de uma relação ambiente amigável e plena de ganhos pessoais e profissionais.
Revi o filme num cinema comercial. A sala esteve quase lotada por quem assistiu em silêncio o drama que jamais se arrisca às facilidades das obras sentimentais e exibe uma narrativa primorosa no acompanhamento das personagens que, em tese, fazem o filme funcionar.
Haneke não discute a perenidade do amor. Exibe a dor sentida pelos amantes idosos, usando diálogos bem colocados e de expressões que transmitem os sofrimentos de mulher e marido a ponto de o espectador sentir como se fossem velhos conhecidos ou mesmo parentes próximos.
Há um dialogo de George (Trintignant) com a filha (Isabelle Hupert) muito ilustrativo do que ele está sentido. Ao ver o estado da mãe, a filha pede que o pai tome providencias, que leve a mulher de volta ao hospital, pois “hoje a ciência tem mais recursos para a cura”. Ele responde: “-Você está livre para pesquisar”.
Também há outro momento-síntese: um pombo invade o apartamento de George e Anna e ele tenta segurar a ave. É uma segunda vez (visto que a primeira visita da ave recebeu dele uma recusa e a entrega para a liberdade, pela janela) e desta, com as portas e janelas hermeticamente fechadas, George consegue jogar seu casaco sobre o pombo. Segura-o contra o peito e fica, trôpego, em uma cadeira. Dessa sequência, outra se segue, mas a ave não é mais vista. A busca, nesse caso, não está no plano físico, se o espectador avaliar essas duas sequências e reconhecer a representação desses momentos. O emblema proposto é a prisão do casal em uma condição de irreversibilidade diante da doença, e a impotência de um retorno aos velhos hábitos.
“Amor” é um sentimento que se arrisca a filmar. O que se vê são pessoas que tentam dar substância ao poder de uma união que passa longe do meio século. E os tipos são músicos. A musica só é lembrada na construção narrativa quando executada por alguém (pianistas quase sempre). O mais é silencio. A distância que se faz da música erudita que seria não apenas o objeto profissional dos tipos focalizados, mas a constatação de um comportamento adquirido em uma proposição cultural de alto nível.
Não se pode dizer que o filme é só diálogo, embora seja de uma grande riqueza nesse quadro. Em mais de um momento a câmera desloca-se pelo ambiente onde vivem George e Anne. As estantes cheias de livros, os aparelhos de som, o piano, o bule e as xícaras de chá, a arrumação detalhada, tudo serve para indicar como vivem os moradores e, em contrapartida, como se sentirão quando passam a enfrentar uma situação de dor.
Emanuelle Riva exibe a máscara da enferma em agonia. Poucas vezes vi no cinema expressões tão pungentes. Mas não se deixa por menos o que faz Jean Louis Trintignant. O ator que aplaudimos em obras como “O Conformista” (1970) consegue incorporar as idiossincrasias geracionais, do andar ao falar, e como se esses fatores fossem caros à sua própria idade, sabe demonstrar o quanto lhe pesa, gradativamente, ver sua companheira definhando e ele sem poder interromper este processo. A raiva que sente pela impotência se expressa na bofetada que dá no rosto da esposa inerte que lhe cospe e vomita. Isto reflete o sintoma da condição humana. Não somos infalíveis nem santos, mesmo diante de quem amamos até a morte.
“Amor”é o superlativo dramático que o cinema pode conseguir. Uma obra-prima que será lembrada com certeza daqui a mais anos.