domingo, 10 de fevereiro de 2013

VÔO ALTO






Denzel Washington em "Voo" de Robert Zemeckis

O primeiro filme do diretor Robert Zemeckis depois de anos na criação de animação é uma produção adulta que focaliza um desastre de aviação em que a habilidade do piloto é determinante para que o numero de vitimas seja relativamente pequeno. Mas isto não impede que ele seja alvo de investigação e considerado culpado por pilotar depois de consumir álcool e cocaína.
“Vôo”(Flight/EUA,2012) é um dos melhores momentos de Denzel Washington em uma carreira que já lhe deu 2 Oscar : um de coadjuvante, por “Tempo de Glória”(Glory, 1989) e outro como ator principal em “Dia de Treinamento”(Traning Day/2002). No filme de Zemeckis ele protagoniza Whip Withaker, piloto experiente mas em crise emocional com o fim do casamento, separação do filho, relacionando-se com uma comissária de bordo. A primeira sequencia do filme mostra-os na manhã após uma noite de amor, ele demonstrando efeito de bebida e logo procurando pó para sorver. Daí em diante vê-se o piloto decolando em um dia chuvoso, atravessando área de turbulência, conseguindo ultrapassar as nuvens, mas, cochilando, é acordado pelo seu co-piloto que reclama a desobediência do comando para efetuar a aterrissagem. Daí é a engenhosa busca de um local amplo, com o agravante de incêndio em um motor, emborcando o avião para ganhar leveza que o desse chance de planar até a aterrissagem.
A edição da viagem aérea e seu atropelo é uma lição de corte e enquadramanto na narrativa. O ritmo intenso dá o suspense exigido. E os efeitos especiais são pródigos na visão do desastre, dando até a chance de se ver a cauda do avião batendo numa torre de igreja antes de cair esse partir ao meio.
O filme tem uma primeira parte dedicada ao fato. Outra parte é de gabinete, é o processo de investigação, com o apoio dos colegas de sindicato de Whip e da atuação de uma inspetora que assume o julgamento do processo em torno do comportamento do piloto, ressaltando-se que na ocasião foi tido como herói por conseguir um pouso difícil (e as circunstancias são categóricas e levam a crer na falha do aparelho).
Em paralelo corre o enfoque da família do personagem principal, como ele é recebido pela esposa e pelo filho adolescente. E como ele reage quando sabe que a sua namorada foi uma das pessoas que morreram no desastre. Um ponto que favorece o clima refletindo no aspecto moral do piloto é o do juri. Vê-se a estratégia da promotoria em associar a imagem da namorada morta à única prova concreta de que alguém teria bebido no momento do vôo. Se ele negou ter sido ele, quem seria então? E esse é o aspecto crucial que vai mostrar o caráter do piloto e namorado.
O roteiro é tão minucioso sendo possivel pensar numa abordagem de caso real. Este trabalho de John Gatis, que escreveu recentemente“Gigante de Aço”, é primoroso na pintura de um acontecimento na aviação civil como na síntese da estrutura do tipo mais evidente. Por certo que ele facilitou bastante o trabalho de Zemeckis, mas, mesmo assim, o diretor de “Naufrago”, “Forrest Gump” e “De Volta para o Futuro” mostra-se em plena forma. Ainda mais quando se sabe que passou largo período voltado para o publico infantil com as animações “Expresso Polar”(2004), ”A Lenda de Beowulf”(2007) e “Os Fantasmas de Scrooge”(2009). O seu novo tema é tratado com a seriedade que merece sem concessões. “Vôo” é o tipo do filme que atrai plateias mistas, desses que a critica e publico recebem com agrado. E ele está candidato aos Oscar de melhor ator e roteiro. Justa escolha, embora a concorrência, nem sempre satisfatória, pese contra um bom resultado.




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