domingo, 31 de março de 2013

FILMES EUROPEUS EM DVD


"A Vida de Outra Mulher":Juliette Binoche e Mathieu Kassovitz. 

Cresce em quantidade os títulos de filmes europeus chegando às locadoras de DVD. A maioria não chegou a ser exibida nos cinemas locais e isso fortalece a curiosidade do cinéfilo. Veja-se, por exemplo as indicações.
“A Vida de Outra Mulher”(La Vie D’Une Autre Femme/França, 2011) é o primeiro filme de longa metragem dirigido pela atriz Sylvie Testud(a Mômone de “Piaf, Um Hino ao Amor”). Juliette Binoche,hoje uma das melhores atrizes francesas, protagoniza Marie, uma mulher de classe média alta, casada com um desenhista de historia em quadrinhos (Mathieu Kassovitz) que em certo dia, ao acordar, esquece dez anos de sua vida e passa a viver como uma outra pessoa, mudando até a fisionomia(o cabelo está mais curto). Descobre que tem um filho de 6 anos, Adam (Ivy Dachari-Le Béon) e que está em processo de divorcio. Das peças que aos poucos vai armando dos recortes da vida dessa “outra Maria” também sabe que é executiva de uma firma de grande porte e por isso indispensável em reuniões de diretoria. Toda essa reviravolta só desestabiliza Marie por causa do marido, Paul, a quem ama e não pretende prosseguir com o processo de divorcio.
Muito imaginoso e argumentação ousada, o roteiro de Claire Lemarechal com base num romance de Frederic Deghelt é bem aproveitado por uma direção que consegue excelentes desempenhos. O tipo do filme que se vê com agrado. E se pensa em como não chega às nossas telonas.
“Sem Segurança Nenhuma”(Safety not Guaranteed/EUA 2012) também apela para a imaginação. Pode-se pensar em uma ficção-cientifica comum, mas a trama deixa de lado a linha mestra do argumento de Derek Connely, também autor do roteiro, e trata de uma repórter que investiga um anuncio estranho onde um homem pede companhia para uma viagem no tempo. Ela vem a saber que ele é um idealista mas diz algumas coisas sem consistência. Por exemplo: informa que sua companheira morreu, mas ela está viva e a repórter a encontra fazendo com ela uma entrevista. Algum humor para os colegas de trabalho da jornalista. O final não chega a mostrar a prometida viagem no tempo. Não interessa. Vale o sonho de quem planeja. Direção de Colin Trevorrow um estreante no longametragem de ficção para cinema. O diretor foi premiado em Sundance e com o Spirit, premio da critica norte-americana.
“À Espera de Turistas”(Am Ende Kommen Touristen/Alemanha 2007) ganhou 5 prêmios em seu país de origem e dá um novo ângulo ao drama do holocausto. O argumento trata de um jovem alemão que faz estágio de assistente social cuidando de um sobrevivente do campo de extermino de Auschwitz na Polônia. O ancião prefere viver só fazendo palestras para jovens numa escola local. Ele gosta de contar o que passou durante a 2ª. Guerra Mundial, mas poucos têm paciência de ouvi-lo. Uma irmã que mora no campo insiste que ele vá ficar na asa dela. Mas o ancião é teimoso e muito dessa teimosia se transfere para o jovem designado para realizar suas intimas tarefas. Realização esmerada com desempenhos marcantes de Alexander Fehlin (o jovem Sven) e de Ryszard Ronczewski, o sobrevivente em Auschwitz.
“E Agora Onde Vamos ?”(Et Mantenant Oú Va Où? França,2001) confronta católicos e muçulmanos numa pequena cidade libanesa no século passado. As mulheres cobram o que lhes acontece e a seus maridos de sua fé, e assumem ações de força para melhorar a situação tensa na região. Segundo filme que a atriz libanesa Nadine Labaki dirige (antes foi “Caramelo”, 2007). O filme ganhou o premio do júri ecumênico no Festival de Cannes e mais 5 premios internacionais. Outro inédito por aqui.
  

quinta-feira, 28 de março de 2013

O MESTRE




Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman em "O Mestre"

O momento é propício para avaliar o enfoque dado em “O Mestre” (The Master, EUA, 2012) pelo diretor Paul Thomas Anderson, ao modelo de formação de ideologias religiosas e a maneira como este modelo inspira formatos diferenciados de atitudes ( a exemplo, esse incidente nacional com o “pastor” dos “direitos humanos” discriminador e arrogante que se julga maior que Deus). Diz-se que a inspiração desse diretor e roteirista para esta sua nova criação teria surgido na Cientologia, a religião criada por L.Ron Hubbard e seguida por ilustres membros como os atores Tom Cruise e John Travolta. Há quem diga que Anderson usou o tema na conversa que teve com Cruise durante a filmagem de “Magnólia”(1999). Um fato é certo: o diretor é um dos raros, no cinema norte-americano, que pode ser chamado de “autor”. Seus filmes são densos, sua linguagem não é linear, seus roteiros derivam de temas ricos em proposições que se acercam da metafísica e de problemas sociais. Isso em uma forma que sempre procura se renovar, usando de todos os artifícios de linguagem que inclusive surpreendem, como o fato de Adam Sandler criar um desempenho convincente em “Embriagado de Amor”(Punch-Drunk Love/2002).
O enredo de “O Mestre” explora a situação de Freddie Quell (Joaquin Phoenix), um fuzileiro naval, que após o término da Segunda Guerra Mundial encontra-se desmobilizado depois de enfrentar batalhas, sofre ataques de ansiedade, seu consolo é a bebida alcoólica, e até mesmo produz uma nova beberagem para sua satisfação pessoal. Sem rumo da vida passa a seguir a nova seita idealizada e ministrada por Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman). A hesitação diante da nova crença, com base numa aferição de valores em que pesam os percalços da vida que levou, encaminha Freddie para um confronto nem sempre amigável com o seu “mestre”(como chamam Lancaster) e quem o ajuda no culto, com a esposa deste, Peggy (Amy Adams). Carismático, o líder de “A Causa” consegue envolver mais profundamente a Freddie com ideias que mesclam a teoria de vidas passadas, responsabilizada pela cura espiritual ao tempo em que promove o autocontrole. Há uma dependência muito forte desse seguidor e dos demais adeptos e, com o estilo de vida inaugurado pelo Mestre, se torna muito dificil de se dissociar das necessidades que são cada vez maiores produzidas pelo discípulo.
O grande trunfo de “O Mestre” é o duelo de interpretações entre Joaquin Phoenix, nunca tão bem no cinema e o sempre correto (e às vezes genial) Philip Seymour Hoffman. O pretenso crente e o mestre do credo que se chama “A Causa” é mostrado em diversos momentos do filme. Mas no final ele se desdobra em outra tese, a de que o criador nem sempre atura a sua criatura (no caso, o seu pupilo). O embate que encerra o filme é a marca do diretor, a lembrar daquela chuva de sapos em “Magnólia”.
Mas o repasse desse modelo religioso no comportamento humano e a forma autoritária que se introduz para manter acessa a circulação das idéias tende a assumir um veemente mecanismo comportamental de também capitalizar recursos. Esse aspecto também é mencionado na obra de Ppaul Anderson, assim como a maneira de atingir as mulheres num vínculo tradicional com a representação que o imaginário social tem recoberto insistentemente. Obedecer ao senhor acima das coisas está para a felicidade humana assim como a satisfação das necessidades vitais que mantém a vida. Sempre grávida e/ ou carregando um bebê, a personagem de Amy Adams mantém a fidelidade à condição da natureza feminina da maternidade, embora em certos momentos seja a inspiradora do marido em maldades, isentando-se da culpa.
O filme esteve no Oscar com as candidaturas dos atores principais (não ganharam). Evidentemente o premio da indústria não seria para um produto anômalo nessa colocação. “O Mestre” é filme para espectadores inteligentes que exigem muito do cinema sem levar em conta que o produto rotineiro que chega às grandes telas é um artefato capitalista que persegue o lucro. Vale dizer que o lançamento do filme de Anderson entre nós prende-se a uma sala especial (o Cine “Libero Luxardo”). É titulo para os críticos discutirem entre os melhores do ano em diversas categorias.
EXIBIÇÃO DE “CONTATO”
Logo mais às 17 h, na Livraria Saraiva (Shopping Boulevard) a exibição de Contato (Contact, EUA, 1997), de Robert Zemeckis, história de Carl Sagan e Ann Druyan. Apoio da APC e ACCPA. 

quarta-feira, 27 de março de 2013

A BUSCA



Wagner Moura e Mariana Lima em "A Busca". 

Fugindo ao que está sendo um tipo de comédia brasileira onde o aspecto “picante” tem definido o gênero e carreado para as salas de cinema um tipo de público interessado na diversão apenas, “A Busca” (Brasil, 2013, 1h36min), de Luciano Moura, leva o espectador a outro tipo de atitude, ao acompanhar as travessias da vida de um casal a procura do filho. Mas é só esta a busca que emerge na argumentação do filme?
No enredo, Theo (Wagner Moura) chega à casa de onde já havia se afastado devido a estar em vias de separação da esposa Branca (Mariana Lima). Ao encontrá-la retoma a exibição de mau humor. Na ocasião chega o filho Pedro (Brás Antunes), que está aniversariando (15 anos) e também é recriminado pelo pai autoritário. O adolescente magoado coloca a mochila na costa e vai embora. Seria uma visita a amigos, mas ele não volta. E os pais se desesperam. Theo assume a busca e sai pelas estradas atrás do garoto. Não se sabe bem por quantos municípios ou estados tende a andar. O caminho traz personagens e situações diversas e muitas vezes inusitadas (como um parto numa festa de jovens). A informação pelo paradeiro de Pedro ganha corpo quando se sabe que ele comprou, com o dinheiro da venda de seu computador, um cavalo preto. E não se pergunte como um menino de cidade é bom cavaleiro.
O argumento é notoriamente alegórico. A viagem do pai despótico e enfim desesperado é um encontro consigo mesmo. O cavalo preto do menino é um recurso poético. O parto no caminho também se insere numa metáfora de quem está renascendo na dor (o pai que sente a fuga/perda do único filho). Até o desespero do personagem que o induz a atos reprováveis como roubar o telefone de um homem que se diz cardíaco e precisa do aparelho para se comunicar com a filha se houver algum problema com a sua saúde, é parte de um quadro abrangente no esquema sentimental.
Mas esse olhar mais amplo, essa viagem e obstáculos diversos, tenta um tom realista e nem sempre consegue atingir a proposta. Além de inverossímeis, certas situações denotam crueldade e preconceitos conflitantes com a busca bem ampla do que tenha como verdade. Os campesinos são vistos de forma caricatural, não só na ação, mas nas falas e mesmo closes, esses do tipo usado em sequencias de outros filmes que desejam marcar as caras sofridas dos interioranos, no caso brasileiro. Tudo bem que esse ângulo de olhar os outros, e é bom lembrar que a opção por “closes” é imensa como nos filmes feitos para televisão, pode fazer parte da construção da índole do tipo. Mas se a busca é a forma de redenção, é alcançar o perdão de um temperamento condenável, o recurso endossa e não estimula o sentido de perdão que Theo inadvertidamente procura e vai achando no correr dos obstáculos encontrados no caminho.
“A Busca”constitui-se num “road movie” sem bussola. O pai que procura o filho anda a pé, de carro, de balsa, de canoa, e não se pergunte como ele consegue os meios de transporte. Chega a um ponto em que se lança uma ironia a reforçar o símbolo do menino branco montado em cavalo preto: há um engarrafamento na estrada (e nessa hora Theo já pilota uma motocicleta) e uma pessoa diz que se trata de um animal morto no caminho. Ele, batido por muitos desastres por que passa, arrasta-se para ver o animal, pensando certamente que é o cavalo do filho. É um cavalo, mas branco. Abrindo o plano se vê ao longe o cavalo preto e seu ginete mirim. Theo parece esquecer as dores dos baques sofridos e corre atrás do filho. Aí ele já sabe que o menino, um desenhista nato, procura o avô paterno (Lima Duarte) de quem o pai mantém certa distância. Há uma verdadeira explosão sentimental de pais e filhos se encontrando. O cineasta prefere seguir adiante na narrativa, mostra flashes de Branca numa piscina instalada em sua casa para onde Theo vai voltar a morar. E ele mesmo, banhando-se no rio da “passagem”. Um “banho de purificação” a selar o compromisso de que, daí em diante, pode ser o começo de algo melhor.

terça-feira, 26 de março de 2013

LINHA DE AÇÃO NA POLÍTICA



Mark Walhberg e Russell Crowe em "Linha de Ação". 

O tema sobre a corrupção política fortalecida pelo jogo do poder tem sido contemplado em muitos filmes, não somente nos tempos atuais, mas há varios anos, como exemplifica o filme de Clint Eastwood, “Poder Absoluto”( 1997), com base num romance de David Baldacci, e mostra o serviço secreto de um estado tentando camuflar um assassinato praticado pelo governador de uma cidade dos EUA havendo uma única testemunha que na verdade é um ladrão que estava na cena do crime e presenciou tudo. A caça ao ladrão falsifica o jogo de bastidores.
Em “Linha de Ação” (Broken City, EUA, 2012) o thriller tem essa mesma conotação e explora a relação entre o ex-policial Billy Taggart (Mark Wahlberg) que se torna detetive particular após um julgamento de um estuprador, encontrado morto sem que seja reconhecido o assassino, e o prefeito da cidade de NY, Nicholas Hostetler (Russel Crowe). Sete anos depois desse fato, este contrata o detetive para descobrir as andanças da primeira dama (Catherine Zeta-Jones) que ele supõe estar lhe traindo. O prefeito é candidato à reeleição, está caindo nas pesquisas e tecnicamente empatado com o seu opositor, um conselheiro da cidade, o idealista e rico Jack Valliant (Barry Pepper) que bate de frente contra o anúncio de um contrato bilionário a ser assinado pelo gestor com certa construtora anunciando a reconstrução de um bairro, prometendo não despejar os residentes atuais do local. As denúncias de que o contrato era falso na sua filosofia e programa publicizadas aos eleitores arrisca a reeleição já quase certa. O momento de criar a indefinição entre as propostas induz o prefeito a uma idéia naquele momento meio exdrúxula, de supor o relacionamento extraconjugal de sua esposa, justificando pelo interesse pessoal em saber quem é o namorado dela. Este fato a ser investigado e a trama política engendrada não é percebido por Taggart que supõe estar fazendo mais um dos trabalhos que ele e sua secretária realizam diariamente, desconhecendo os bastidores do terreno onde entra.
Este é o primeiro trabalho solo do diretor Allen Hughes, após sua associação com o irmão Albert em dois filmes, “Do Inferno”( 2001) e “O Livro de Eli” (2010). O que se observa da narrativa, há pontos soltos no roteiro de Brian Tucker denotando vazios na estruturação dos personagens sem amparo em uma linha de evidências que pudesse dar mais subsidios à trama.
Há flagrante necessidade de maior aprofundamento, em relação ao desenvolvimento dos personagens, a exemplo, o detetive vivido por Mark Walhberg. Sua figura fica meio na incógnita logo na primeira sequencia após o julgamento do estuprador brutalmente assassinado e a ausência dele da cidade durante 7 anos. No retorno a NY, vive com a irmã da garota estuprada, que também é mostrada sem a convicção de ser uma atriz em inicio de carreira (e eles não estiveram fora durante sete anos?) de quem ele tem ciume doentio (a sequencia da violência contra ela que atuou em um filme com cenas explícitas de sexo deve ser para mostrar o mau caráter do detetive). Depois disso, a garota some. O roteiro a exclui das demais cenas. O estereótipo de beberrão tende a justificar o carater violento do jovem. Mas outro recuo do roteiro é quanto a sua atuação como investigador da vida privada da primeira dama. Num momento em que ele já sabe quem é o suposto namorado segue-o num ônibus e com este trava uma conversa inflamada sobre a eleição do prefeito insinuando-se ai uma chave de intrigas.
De igual modo, o tipo do prefeito não se desenvolve também. Sua equipe é diminuta para conter o momento que vive sabendo-se que ele tem a máquina toda ao seu alcance; a investigação que pretende sobre a traição da esposa no momento eleitoral é inconsistente; no debate com o adversário apesar de um coordenador, não há regras para equacionar as atitudes e, um dado mais forte: se ele está sendo denunciado por falcatruas em projetos para a cidade, por que essas informações, por suposto, confidenciais são descartadas em plena rua, nas latas de lixo e logo em seguida, quem as retira de lá é perseguido e quase morto?
Essas e outras quebras no roteiro traumatizaram as denúncias, mas o filme vale como um thriller a ver em fim de noite, mesmo na TV. 

segunda-feira, 25 de março de 2013

“AMOR” EM DVD


 Jean Louis Trintignant e Emanuelle Riva em "Amour". Em DVD. 

            O filme de Michael Haneke “Amor”(Amour), premiado com o Oscar na categoria estrangeiro e vencedor de muitos prêmios mundo afora, chega ainda este mês às locadoras de vídeo. Jean Louis Trintignant e Emanuelle Riva protagonizam o casal que ama a vida, mas sofre em duas esferas: ela, acometida de uma doença que a faz definhar a cada dia e ele, na angústia de vê-la nesse processo de morte iminente. Isabelle Huppert é a filha que aparece na casa dos pais para muitas vezes dar opiniões que contrariam o que o pai está fazendo para minorar o sofrimento da mulher/mãe. A situação-síntese é um fecho que explora o conceito de amor ao considerar o que este representa para uma relação afetiva tão duradoura. Acho que neste filme o diretor austríaco Michael Hanek chegou ao ponto mais alto de sua carreira, sensibilizando na exposição de um drama familiar e conseguindo de velhos interpretes momentos sublimes, tanto que todos comentaram a ausência de Trintignant entre muitas nominações para prêmios importantes e o esquecimento de Riva no Oscar (havia sido indicada) justamente no dia em que festejava seu aniversário (86 anos).
“Amor” é para cinéfilo ter em casa, na sua videoteca.

Também chega ao DVD o mais novo 007: “Skyfall”, marcado pela morte de M (Judi Dench). Outra vez Daniel Craig interpreta o agente criado por Ian Fleminge pode-se dizer que “dá conta do recado”. A canção ganhou Oscar na categoria e a direção de Sam Mendes dá o ritmo certo ao filme da franquia.

E procurem nas estreias “A Negociação” (Arbitrage/EUA,2012), o primeiro bom filme que assisti no cinema este ano. Richard Gere, candidato ao Globo de Ouro, é o executivo corrupto que se mostra em situação delicada quando sua amante morre em um desastre de carro que ele dirige. O passado de falcatruas vem à tona e a filha do personagem, que trabalha com ele, descobre detalhes de suas negociatas. Direção de Nicholas Jarecki.

No rol dos antigos sucessos está uma comédia italiana da dupla Steno & Monicelli: ”Guarda e Ladrão”(Guardi e Ladri/Itália, 1951). O veterano ator Aldo Fabrizzi é o guarda, Totó é o ladrão. O primeiro é co-autor do roteiro e está à altura do impagável Totó na perseguição ao “vigarista” que vive trapaceando falsas relíquias históricas com turistas que visitam Roma.
Na mesma área, ou seja, no que se chama de clássico, está o muito bom “A Mulher de Palha”(Woman of Straw/UK, 1964), de Basil Dearden, com Gina Lollobrigida, Sean Connnery e Sir Ralph Richardson. Um plano diabólico para roubar a herança de um milionário que envolve sua enfermeira e seu sobrinho. O filme traz ainda outro grande ator inglês. Alexander Knox, como inspetor de policia.

Inédito em nossos cinemas, o recente trabalho do diretor inglês Ken Loach (“Vida em Familia”, “Terra e Liberdade”), “Rota Irlandesa”(Irish Route/UK, 2010) denuncia complô do exército aliado que faz a guerra no Iraque para abafar qualquer escândalo que possa surgir em suas fileiras. A vítima, no caso, é um soldado inglês de nome Frankie (John Bishop), cuja morte tida como obra de terrorismo é contestada pelo amigo Fergus (Mark Womack). Muito bem realizado é mais um titulo político desse cineasta que executa uma obra homogênea e forte.

“O Homem do Riquixá”(Muomatsu no Issho/Japão, 1958) ganhou o Leão de S. Marcos (primeiro prêmio) do Festival de Veneza e é um dos melhores  momentos no cinema do ator Toshiro Mifune (“Rashomon”, “Os 7 Samurais”). Ele protagoniza Matsu, o puxador de riquixá, que se apieda de uma criança logo órfã de pai e se apaixona pela mãe viúva sem jamais declarar essa afeição por vergonha de seu “status”. Direção de Hiroshi Inagaki. Um dos grandes clássicos do cinema japonês.

quinta-feira, 21 de março de 2013

MAIS ROMANTICOS( INESQUECÍVEIS)


"Gigi", filme a ser exibido nesta nova Mostra de Filmes Românticos/Olympia

O sucesso da Mostra De Filmes Românticos, apoiada pela ACCPA, leva, ao centenário Olympia, uma segunda semana do gênero. Afinal, o velho cinema foi palco da recíproca de espectadores que unidos sentiam os dramas e comédias que envolviam personagens de ficção. E a música desses filmes geralmente os fazia colar na memória de quem os assistia.
A nova temporada do gênero que começa amanhã, sexta feira, terá títulos que de alguma forma marcaram época. São eles: “Tarde Demais Para Esquecer” (Na Affair to Remember, EUA, 1957), “Gigi” (EUA, 1958), “Ghost, Do Outro Lado da Vida”(Ghost, EUA, 1990), As Pontes de Madison”(The Bridges of Madison County, EUA, 1995), “Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças”(Eternal Sunshine of Spotless Mind, EUA, 2004) e  “Houve Uma Vez Um Verão” (Summer’42, EUA, 1971, 103 min.).
“Tarde Demais Para Esquecer”(An Affair to Remember/1957) é a refilmagem pelo mesmo diretor, Leo McCarey, de “Duas Vidas”(Love Affair) que ele realizou em 1939, nessa versão contracenando os veteranos Charles Boyer e Irene Dunne. Na nova versão, usando o cinemascope & cores, o par romântico é composto por Gary Grant e Deborah Kerr. Segue o mesmo argumento, ou seja, o casal que se conhece em viagem de cruzeiro, marca encontro no alto do edifício Empire State(NY). A música de Harry Warren e Harold Adamson especialmente a canção com letra do próprio diretor do filme, ficou na mente de quem assistiu ao filme. Um dos românticos da vez, diga-se, pois encontros e desencontro levam a quebra da corrente do amor.
“Gigi”, de Vincent Minelli, é um de meus filmes preferidos. Vejo e revejo a cópia sempre me encantando com a leitura que faço dos tipos femininos da “belle epoque” francesa que eram colocados no “grand monde” para “servir os homens”. E a garota quase cai nessa. Leslie Caron é a personagem criada pela escritora Colette e Louis Jourdan o milionário conquistador que a trata como criança e descobre que já é mulher feita. As canções de Frederick Loew e Alan Jay Lerner e a presença carismática de Maurice Chevalier fazem a festa que recebu 9 Oscar e entre nós inaugurou o Cine Palácio em, 1959.
“Ghost- Do Outro lado da Vida” foi o maior sucesso de publico em Belém que se tem noticia. Ficou em cartaz durante 6 meses, no antigo Cine Palácio (1.600 lugares) e depois fez carreira em outras salas como o Nazaré I e o Cinema I. O ator Patrick Swayze ( já falecido) protagoniza o jovem namorado assassinado por um colega e, em espírito, acompanha a namorada interpretada por Demi Moore, com o auxilio da médium (Woopy Goldberg). Também neste caso, a música “Unchained Melody" (de Alex North e Maurice Jarre) marcou. Ainda hoje figura nas coletâneas de trilhas sonoras cinematográficas. O filme ganhou Oscar de roteiro (de Bruce Joel Rubin que faria outra obra de tema espírita, “Alucinações do Passado”(Jacob’s Ladder/1990) e dirigiria um outro roteiro escrito por ele, “Minha Vida”(My Life/1991). Outro Oscar do filme foi para a atriz coadjuvante (Whoopi).
“A Ponte de Madison”, de Clint Eastwood, na aparência um breve romance de uma mulher casada (Meryl Streep), trata de um drama bem usual na vida das mulheres: a imposição de superioridade masculina da dona de casa, onde ela devota todas as suas horas e tarefas. Ao conhecer um fotógrafo (Clint Eastwood), em certo momento em que está quase sem identidade, ela se reanima e se descobre enquanto pessoa humana, uma mulher de qualidade, que pode amar. A mim me parece um dos melhores filmes sobre as relações de desamor de uma mulher por sí própria. Imperdível.
“Brilho Eterno de uma Noite sem Lembranças”provou mais uma vez a inventiva do roteirista Charlie Kaufman (de “Quero ser John Malkovich”, “Adaptação” e “Sinédoque Nova York”). Ele roteiriza de sua ideia original com Pierre Bismuth e o diretor Michael Gondry. O tema é o esquecimento de uma relação amorosa. Na mostra romântica é como um “anti-romance”. Trata de Joel (Jim Carrey) que quer esquecer Clementine (Kate Winslet) para saber se apagando da memória seus momentos com ela o relacionamento sobreviverá. Um filme diferente com uma espantosa montagem e excelentes desempenhos.
“Houve Uma Vez um Verão” é mais conhecido como “Verão de 42”, seu titulo original. Inesquecível a música tema de Michel Legrand, vencedor do Oscar, e a atuação de Gary Grimes, na época com 15 anos, interpretanto o personagem Hermie, o garoto que passa as férias em Nantucket Island e tem sua iniciação sexual com uma triste (Jennifer O’Neil) viúva de guerra àquela altura sofrendo um drama íntimo. 

OPINIÃO ALHEIA: "AMOR"




Aproveitando o tempo de exibição no Cine Estação desse filme maravilhoso e de uma profundeza estética admirável sobre o amor e a morte, publico hoje  um comentário de Lorena Montenegro, membro da ACCPA. É mais uma chamada para os retardatários que ainda não o assistiram. (LMA) 

“AMOR” DE MICHAEL HANEKE 
  
Lorenna Montenegro


Uma história dolorosa e profunda, que vem arrebatando críticos ao redor do mundo, está em exibição em Belém até o final do mês. Muito por conta dos mais de 20 prêmios que colecionou, entre eles o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, foi que “Amor”, aportou nas salas do circuito comercial.
Aqui, vale uma correção: o longa-metragem do austríaco Michael Haneke só foi exibido em uma sala. Teve um público tímido, após uma manobra um tanto arriscada da distribuidora Imovision – na pessoa do produtor paraense Jair Santana – para trazê-lo para cá.
Apesar do esforço não ter sido compensado na bilheteria, o filme mereceu uma segunda chance, dessa vez no Cine Estação das Docas. E o que se viu foi os freqüentadores da sala de exibição alternativa lotando sessões, para ser impactado uma ou mais vezes pelo drama de um casal de idosos retratado em tela grande.
Protagonizada pelos grandes atores Jean-Louis Trintignant (de “Um homem, uma mulher”) e Emmanuelle Riva (“Hiroshima, meu amor”), a história acompanha a rotina de dois octagenários ex-professores de música que tem que lidar com uma fatalidade. Ela, Anne, tão eloquente e alegre, de repente se vê tolhida de seus movimentos e expressões por culpa de um AVC (acidente vascular-cerebral).
A vida vai, como numa poética sinfonia de Schubert, se esvaindo do corpo e da mente de Anne. E ele, Georges, tenta não perder a sanidade ao ver a mulher que ama naquele estado. O estado das coisas se modifica e logo ele não sabe se ainda quer viver. A filha (interpretada pela ótima Isabelle Hupert) tenta se reaproximar, cuidar da mãe. Georges prefere ficar trancado, no apartamento, com a mulher e os problemas, deixando o mundo e os filhos do lado de fora.
Vamos acompanhando, com um aperto no peito, um homem numa situação-limite. Ele tenta manter as aparências, restabelecer uma rotina, fingir que o tempo não passa e que o companheirismo abafa o sofrimento. Entre quatro paredes, vemos que, no cinema de Haneke, não há espaço para concessões ou fragilidades.
“Quando se atinge certa idade, você passa a ter um entendimento maior do que a palavra sofrimento significa quando vê alguém que ama agonizar. Eu nunca sei me analisar o suficiente para saber o que busco ao fazer um filme. Mas tenho percebido que o amor, assim como a violência, pode ser um elemento circunstancial”, declarou ele, por ocasião do lançamento do filme no Festival de Cannes 2012.
Constantemente arrebatador, é o primeiro filme do grande Trintignant desde 2003 – sendo o primeiro como protagonista em muito tempo. O ex-namorado de Brigitte Bardot, havia se aposentado do cinema e estava fazendo um ou outro espetáculo teatral quando Haneke o convidou. Também na coletiva em Cannes 2012, ele disse que se surpreendeu com a força de seu personagem, Georges, e como ele lida com dignidade com o problema da mulher Anne, e acima de tudo, com lealdade. O ator ainda frisou que não há retorno à vista.
Emmanuelle Riva contou, na mesma ocasião, que fazer um filme que não fosse sentimental era a principal diretriz a ser seguida. E ela, que brilhou no Kodak Theatre na noite do Oscar, mesmo não levando o prêmio de melhor atriz, entregou a melhor atuação do ano, provocando com o seu talento, uma conexão com a doente personagem que não termina quando, de forma abrupta, a pressão do travesseiro sob o seu rosto a liberta.
Ao fim, a sensação que fica é que Michael Haneke realmente se supera neste filme, tão triste quanto belo. Também responsável pelo roteiro, o diretor austríaco nos leva as lágrimas ao abordar, com extrema sensibilidade, a dureza da velhice e da morte, sendo o amor um afiado punhal que extermina a dor.

quinta-feira, 14 de março de 2013

FILMES ROMÂNTICOS



Joan Fonttaine e Louis Jourdan em "Carta de Uma Desconhecida". No Olympia.


Um gênero que persiste é o chamado “cinema romântico”. Obviamente ele se adaptou ao tempo. O namoro de ontem, era visto através de estrelas de Hollywood que vendiam imagens recatadas, nos EUA, modeladas pelo chamado Código Hays, derivado do republicano William H. Hays. Hoje, o filme “de amor” dificilmente deixa de focalizar o par de namorados na cama. Woody Allen no seu “A Rosa Púrpura do Cairo”(1985) criticou isso através do personagem interpretado por Jeff Daniels, um ator que saia de dentro de um filme antigo e se impressionava, por exemplo, ao ver passar uma mulher grávida. Mas o que é motivo de chegar ao assunto hoje é a Mostra de Cinema Romântico que vai começar nesta sexta, 15, no Cine Olympia. São 6 filmes que o público de sua época consagrou, e alguns acompanhados da critica, e a geração de hoje desconhece. Curioso é que a maioria ficou na memória devido às músicas descritivas ou canções intercorrentes. O certo é que todos os selecionados para esta mostra produziram grandes filas nos cinemas lançadores e até agora são lembrados pelos que os assistiram. Aliás, a escolha dos títulos prendeu-se a opiniões de espectadores. Veja-se a lista:
“Candelabro Italiano”(Roman Holiday/1960) explora a viagem de uma bibliotecária que escandaliza clientes com a recomendação de um livro considerado “forte” e, despedindo-se do emprego, viaja para a Itália onde mantém romance com um jovem que estava noivo de outra. O ppar romântico formados pelos atores que eram sucesso na época, Suzanne Pleshette e Troy Donauhue, encantaram plateias, mas o que marcou mesmo foi a canção “Al di Lá”, de Carlo Dunida, cantada por Emilio Pericoli. Essa e a outra canção que era o tema musical, “Prudence”, nome da personagem de Pleshette, ficaram na memória.
“Em Algum Lugar do Passado”(Somewhere in Time/1980) trata do curioso romance de um homem do século XX com uma jovem do século XIX. Ele se transporta no tempo quando vê uma mulher idosa e fica sabendo quem ela é, ou foi. O argumento e roteiro de Richard Matheson, famoso escritor de episódios da série de TV “Além da Imaginação” e de filmes como “O Incrível Homem que Encolheu”, lembra de perto a peça de John L. Balderston, por sua vez baseada em um livro de Henry James “The Sense of the Past” que Roy Ward Baker filmou em 1951 com o nome de “Jamais Te Esquecerei”(The House in the Square). Neste último o romance era entre Tyrone Power e Ann Blyth, e no que será exibido a “affair” se dá entre os personagens de Christopher Reeve e Jane Seymour. A musica de Roger Williams que deu titulo ao filme ainda é muito lembrada.
“O Morro dos Ventos Uivantes”(Huntering Heights/1939) é a versão clássica para cinema do livro de Emily Bronté. O roteiro de Ben Hecht e Charles MacArthur não explora todo o livro. Mas William Wyler, o diretor, conseguiu deixar o clima de um relacionamento trágico com desempenhos marcantes de Laurence Olivier e Merle Oberon. Um clássico legítimo. A sequencia do encontro do casal de namorados no morro e a clássica frase “I am Heathcliff” / I am Cathy “ se tornaram os símbolos do grande amor sofrido e jamais realizado salvo em outro plano de vida.
“Corações Enamorados”(Young at Heart/1954) é o único filme que reúne Frank Sinatra e Doris Day dois ícones da canção americana. Sinatra interpreta um tipo dramático elogiado. O roteiro é baseado em uma historia de Fannie Hurst, autora de outro clássico  da literatura romântica, “Imitação da Vida”, e a direção coube ao versátil Gordon Douglas. As canções marcaram a partir da que dá titulo ao filme.
“Carta de uma Desconhecida” (Letter from a Unknown Woman/1941)foi o primeiro projeto pessoal do diretor alemão Max Ophuls em Hollywood. Elogios unânimes. O ator francês Louis Jourdan (que ainda vive em Los Angeles, com 91 anos) é o galã por quem se apaixona a personagem de Joan Fontaine (agora com 95 anos) a ponto de ela engravidar e ter um filho dele sem que ele a guardasse em sua memória. Obra-prima. Ela é mais conhecida pelo desempenho em “Rebecca, A Mulher Inesquecível”(1940), de A. Hitchcock, e ele por “Gigi”(1958), um romance musical com Leslie Caron. Aliás, um filme que poderia estar incluído nessa mostra.

O MÁGICO DE OZ


 James Franco e a bonequinha de porcelana no novo "Mágico de OZ". Ainda em cartaz.


A história do escritor e teosofista norte-americano Lyman Frank Baum (1856-1919) “O Mágico de Oz” foi escrita em 1901 (junto com o ilustrador Denslow) e ganhou o cinema e o teatro. No cinema, a versão mais famosa foi a de 1939 dirigida por Victor Fleming com a jovem Judy Garland que na época tinha 17 anos. A produtora Metro (MGM) estava interessada em outra adolescente, a atriz Shirley Temple, para o papel, entretanto, a Fox não aceitou o “empréstimo” então Miss Garland investiu-se de uma garota bem mais jovem. O enredo mostrava a menina de Kansas que em certo dia, envolvida por um tufão, entraria no reino encantado de Oz onde o governador era um mágico e a aventura que a envolvia com 3 estranhos amigos (Homem de Lata, Espantalho e Leão Covarde) deixava uma lição sintetizada em uma frase: “There’s no place like home” (Não há lugar como o lar).
A história do Mágico de Oz esteve muitas vezes nas telas. Ganhou até um musical em 1978 dirigido por Sidney Lumet com Michael Jackson. Agora, na moda das “prequel”, ou seja, roteiros que mostram o começo das franquias, surge este“Oz, Mágico e Poderoso”(The Wonderful Wizard of Oz/2013), e já se vislumbra para mais adiante um filme de Clayton Spinney, estreante na produção e direção.
No filme que está em cartaz internacional (esta semana foi o mais rentável nos EUA) James Franco protagoniza Oz, um prestidigitador de feira que ao experimentar vôo em um balão é envolvido pelo clássico tufão e acaba na terra encantada onde é recebido por uma jovem que diz ser bruxa do bem junto com um macaco de asas e também, acompanha-os uma garotinha de porcelana. A ligação com a realidade, que no filme de 1939 advogava a revisão que a menina Dorothy fazia dos que a cercavam (incluindo uma mulher que via como bruxa), não é muito explorado. Vê-se, apenas, pela repetição de interpretes, que a fada realmente boa, Glinda, é a mesma Annie (Michelle Williams), uma apaixonada por Oz que no prólogo do filme, em preto e branco e tela pequena, diz a ele que vai casar contra sua vontade. Mas o mágico, que estaria sendo esperado pelos habitantes da Cidade de Esmeraldas devido às profecias, não volta a Kansas. E a sua mágica primária na rua é substituída pela tecnologia que aprendeu estudando os inventos de Thomas Edson, especialmente a projeção de imagem em movimento. É com esses recursos que no inicio do século XX começavam a mudar o mundo que Oz consegue dominar a fúria de duas bruxas irmãs, a que o recebeu, Theodora (Mila Kunis) e a então ditadora Evanora (Rachel Weisz) que havia assassinado o pai de Glinda.
As historias de Baum pregavam “lições de coisas” como esperavam os leitores de seu tempo. Os pais recomendavam essas histórias a seus filhos. E eles amavam. Hoje, na era do videogame e dos quadrinhos do tipo Marvel, não sei se meninas e meninos vão aproveitar a viagem a Oz, seguindo a trilha de tijolos amarelos e conhecendo tipos estranhos e muitos amáveis. O argumento prossegue ingênuo e a produção investe em tecnologia para que a magia de um conto de fadas, ou melhor, de bruxas, ganhe um visual cativante.
Louve-se o cuidado de produção. Efeitos digitais fazem a festa que em 1939 era impossível fazer. Mas se falta canções como “Over the Rainbow” e tipos sedutores como os amigos de Dorothy que, enfim, recebem lições encorajadoras, há um achado digital na bonequinha de porcelana e a inclusão do argumento de que as lições de vida em uma comunidade são de que o povo deve despojar-se de ditadores e a tecnologia deve ser descoberta para alicerçar esse embrião democrático. Noutras palavras, o novo “Mágico de Oz”é mais político. E ganha com isso.


segunda-feira, 11 de março de 2013

CINEMA EUROPEU



"De Volta para Casa" . Imperdível!

No DVD encontram-se cópias de muitos filmes europeus que os cinemas comerciais da cidade não exibem. A maioria provém da França e os filmes podem ser clássicos do passado como produção recente. No rol dos recentes está 
“De Volta Para Casa”(À Mio Seule/França, 2011) que trata de uma jovem sequestrada quando criança e passa anos com o sequestrador. O filme é narrado sem ordem cronológica e logo no inicio se vê o reencontro da sequestrada com a sua mãe. Não há muitos dados sobre o sequestrador e seus motivos (não se fala em resgate). A base do roteiro é o relacionamento do criminoso com a vítima, e até que ponto esta se acomoda como tal. O filme ganhou um prêmio no Festival de Berlim. Marcação narrativa de primeira.

“Esposamante”(Itália, 1977) foi o mais conhecido trabalho do diretor Marco Vicario. A bela Antonella Lualdi interpretaa a esposa que se diz inválida e a quem o marido despreza. Quando ele desaparece, ela sai do leito onde permanecia como doente e passa a ter uma vida amorosa. A volta desse marido instável se dá quando ele se acha doente e dessa forma passa a morar na casa vizinha à sua, de onde observa a vida da esposa. Em certo momento ele volta sendo recebido por ela. Roteiro de Rodolfo Soneco e do diretor. Marcello Mastroianni é o marido. A mim sempre pareceu um filme fraco além de apresentar enfoques sobre uma relação clássica de marido traído e mulher culpada. As estratégias dela nessa relação são expostas pelas mãos de Vicário como de mulher astuciosa a quem o público tem aquela reação negativa desde quando a trama se desenvolve. Mas é interessante assistir.

“Copacabana”(França,2010) de Marc Foutussi é um show de desempenho de Isabelle Huppert. A atriz (que protagoniza a filha de Emanuelle Riva & Jean Louis Trintignant em “Amor”) é mostrada como figura instável Babou, divorciada, usuária de droga, desempregada quase sempre e difícil de ser compreendida pela filha Esmeralda (Loliya Chammah, sua filha na vida real). Louca pela musica brasileira, sonha em viajar para o Rio mas enquanto não pode, emprega-se numa locadora de imóvel e volta ao desemprego quando abriga mendigos em um dosapartamentos que deveria alugar. O roteiro do próprio diretor tem alguns avanços incômodos de ficção em meio a um realismo aparente. Mas Huppert dá àpersonagem uma carga de sentimento que a ninguém é despercebido. Ela é o filme, e a sua herdeira, num tipo antipático, não deixa de impressionar também.

“A Vítima Perfeita”(In Her Skin/Autralia, 2010) impressiona pela narrativa segura que consegue sair do trivial na abordagem de um caso verídico: o sumiço de uma jovem da classe média que se dedicava à dança. Bons atores, especialmente Ruth Bradley que protagoniza a jovem epilética Caroline, mantém a atenção e as pausas que a diretora Simone North coloca no drama policial e familiar acionam um plano de suspense que em nada prejudica a análise de comportamento. O filme ganhou 2 prêmios, um na Austrália um em Milão. Inédito nos cinemas locais.

“Christine”(França, 1958) é o único filme que reuniu Romy Schneider e Alain Delon, namorados em um breve tempo e por isso ligados aos jovens da ápoca como românticos sedutores. Delon protagoniza um militar, ela sua namorada. Mas ele mantém por meses um relacionamento com a esposa (Micheline Presle) de um oficial superior. O romance proibido leva-o a duelar com o marido traído. E o final triste parecia indicar que a dupla Schneider & Delon não demoraria muito. Ela, a Sissi do cinema, teve uma vida marcada por fatos trágicos, nada compatível com os filmes romântocos em que atuou em inicio de carreira. Direção de Pierre Gasár-Huit.


sexta-feira, 8 de março de 2013

O MÁGICO ANTES DE OZ

Filme de Lucia Murat  mostrando a violência contra as mulheres na época da ditadura militar. Olympia, 18h30 de domingo. Apresentação de Eneida Guimarães dos Santos.



Estreia, com toda a manipulação comercial de um blockbuster, “Oz, Mágico e Poderoso”(Oz, The Great and the Poweful/EUA, 2013), prequel de “O Mágico de Oz”, historia imaginada por L. Frank Baum que resultou no clássico cinematográfico dirigido por Victor Fleming, em 1939. Estréia também o novo filme da diretora dinamarquesa Susanne Bier (de “Um Mundo Melhor”): “Amor é Tudo o que Você Precisa”(Dem Skaldede Frisor/Dinamarca,EUA,2012). E na área extra tem “Poesia”de Chang Dong Lee no Cine Clube AGM, “O Leopardo”, de Luchino Visconti, na Sessão Cult do Cine Libero Luxardo; “Amor” de Michael Haneke, no Cine Estação e, até domingo (18,30) a mostra “As Mulheres e a ‘Arte’ de Viver”,no Olympia, hoje com “Miss Potter”(EUA, 2006) de Chris Noonam, amanhã com “A Conspiração”(The Contender/EUA,2000) e domingo com “Que Bom Te Ver Viva!”(Brasil, 1989) de Lucia Murat . Na Sessão Cinemateca de domingo (16 h) estará “Um Grito no Escuro”(Australia, 1988) de Fred Schiepsi.
“OZ, Magico e Poderoso” focaliza o mágico Oscar Diggs (James Franço), atuante em Kansas no inicio do século XX, que é desafiado por 3 bruxas, Theodora (Mila Kunis), Evanora (Rachel Weisz) e Glinda (Michelle Williams), fato que o leva a Oz onde passa a governar como a figura que resolve todos os problemas. Como se pode observar é uma historia anterior (os produtores chama “prequel”) a que serviu ao filme homônimo, com Judy Garland cantando “Over the Rainbow’ (Além do Arco Iris). Roteiro de Mitchell Kapner e David Lindsay-Abaire inspirado no texto clássico de Frank Baum. Lançamento internacional da Disney em cópias 3D e 2D, entre nós legendadas e dubladas
“Amor É Tudo o Que Você Precisa” focaliza a cabelereira Ida(Trine Dyrholm) que perde os cabelos na luta contra o câncer e o drama afetivo visto que o marido abandona-a depois desse efeito do tratamento. Ela resolve ir ao casamento da filha na Itália e lá conhece o pai do noivo, um viúvo (Pierce Brosnan). O romance é fácil de prever e o filme apesar de candidato a 8 prêmios internacionais foi duramente criticado nos países onde foi exibido. Ainda mais pelo fato de a diretora ter um bom currículo e uma obra ganhadora do Oscar (”Um Mundo Melhor”). Lançamento apenas numa sala Cinépolis, do Parque Shopping.
“O Leopardo”(The Gattopardo/Itália,1963) é uma superprodução assinada por Luchino Visconti, pioneiro do cinema neo-realista e considerado um dos mestres de sua arte, com base na obra clássica de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, roteiro da colaboradora do cineasta Suso-Cecchi D’amico. Trata da derrocada da nobeza da Sicilia, em 1860 focalizando o príncipe Don Fabrizio de Salina (Burt Lancaster) e um grupo de sua classe que resiste a esses últimos dias de seu reinado. A seqüencia do baile, símbolo de um episódio histórico, está entre as mais elogiadas da filmografia do diretor. O filme deu a Visconti a Palma de Ouro em Cannes, e foi candidato a 5 outros prêmios (inclusive o Oscar) e ganhou mais sete.
“Um Grito no Escuro”(Evil Angels/Austrália, 1988) trata de uma bebê desaparecida de um acampamento coletivo numa planície australiana, com a mãe afirmando que a menina foi levada por um dingo (espécie de lobo da região). Desacreditada ela chega a ser presa e levada a júri popular. Foi a 8ª indicação de Meryl Streep ao Oscar. Ela ganhou a Palma em Cannes e o filme foi candidato a 19 prêmios sendo exitoso em oito. Trata-se de um caso real. Interessante o tratamento dado à narrativa e o desempenho dos atores, todos ainda jovens.




Às LEITORAS E AOS LEITORES DESTE BLOG!

Mensagem Dia Internacional da Mulher – 8 de março

“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”.(Cora Coralina)

Nesta frase sábia da nossa poeta e contista brasileira parabenizo a todas nós neste Dia Internacional da Mulher, lembrando que a nossa história tem sido presente neste caminhar e nesta semeadura, daí nossa colheita ser sempre esperada. 

Mas lembro, em outra frasa dessa mestra que: “ Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas”. Minha mensagem é de fé nas nossas lutas, nas nossas conquistas e no acolhimento a todos e todas que passarem pelo nosso caminho. Parabéns para todas nós! E para os companheiros que nos acompanham.


terça-feira, 5 de março de 2013

UM “SOM” DAS CIDADES?


Importante e simbólica esta imagem de "O Som ao Redor". 


Na primeira sequência de “O Som ao Redor” (Brasil, 2012, 131 min.) a câmera de Pedro Sotero e Fabricio Tadeu sob a direção de Kleber Mendonça Filho circula pelas imagens desbotadas de um tempo e espaço –  as velhas fazendas dos senhores de engenho do passado– e de pessoas supostamente moradoras daquele lugar, os trabalhadores e suas famílias. O interessante dessa tomada é que o registro se mostra em preto e branco, demonstra o tempo passado construido pelas próprias indumentárias, e o face desse povo que aparece posando nessa captura, estático, só a câmera em movimento cria a dinâmica. O corte se desloca para o momento atual, onde moradores de um bairro de Recife(PE), articulam-se num cotidiano naturalmente urbano, marcado por pessoas de classe média. A vida de cada familia é exposta em suas peculiaridades e oferece a trama que vai expor descentradamente uma visão de como é possivel sobreviver entre o trabalho, a organização do lar, a insegurança, o amor, a secura afetiva, os laços familiares, as obrigações, os vícios e as virtudes, o voyeurismo, o mundo infantil no espaço público e no privado, as agitações da rua deslocadas para dentro da casa, as pessoas “de bem” e as submissas e/ ou as de “pouco valor”. Enfim, há imagens reveladoras que seguem um corifeu, o jovem corretor de imóveis João (Gustavo Jahn), um dos netos de Francisco (W.J.Solha) homem de posses, dono dos edificios onde tem seu mando, vive recluso e sem ostentação, mas na soberbia de quem já foi mais poderoso.
Na exposição fragmentada desses quadros, o desenrolar da trama desconhece uma linearidade, mas alguns fatos que se instalam nesse contexto evoluem para linkar o ontem com o hoje numa vertente de contrariedade (no sentido conceitual de oposição ou resistência a algo) – se a quietude do povo das fazendas é mostrada numa primeira sequência, o abandono daquele ambiente – capturado durante a visita de João e da nova namorada ao avô Francisco nesse mesmo espaço, hoje com as máquinas paradas e tomado pelo mato – é de supor que tenha delimitado o poder de mando do velho senhor de engenho. Mas isso não ocorre sendo evidenciado no tratamento que este dá aos guardas de vigilância que se propõem ao preço de vinte reais/proprietário, a “por ordem na rua”, dar segurança contra os ladrões, situação expressa nas portas gradeadas e herméticas que mesmo assim ainda facilitam os roubos pelos visitantes noturnos. A atitude agressiva e debochada de Francisco aos “vendedores de segurança” é demonstrativa de que ele ainda se considera com muita autoridade.
O tratamento narrativo do filme na sua aparência descentrado rende aspectos colados ao que o diretor está interessado em mostrar como a idéia de irracionalidade de algumas personagens, como a atitude da dona de casa (Maeve Jinkings, fenomenal) com múltiplas carências (afeto, desânimo da vida que leva e no tratamento aos filhos) aplicando estratégias para manter o status quo – tem insônia supondo ser pelos latidos do cão na rua e tenta calá-lo de qualquer forma, e o uso do aspirador de pó para sugar a fumaça do cigarro (que não é qualquer um, mas aquele que adquire do entregador de água cujo maço ela esmaga sob a máquina de lavar roupa). A filha a repreende, mas ela fuma escondido.
Incômodos reflexos das fronteiras entre a realidade e a necessidade de viver na cidade constrõem um microcosmos com evidências da atmosfera que urge programar para fugir dos perigos. O sensor do alarme que ilumina as casas simboliza o estado emergencial em que vive o cidadão urbano.
Enquanto a exposição desse painel vai formando a tensão daquele mundo de hábitos no cotidiano da cidade, outras intercorrências favorecem uma nova vertente linkando o ontem ao hoje. Na  soberbia dos senhores de engenho que tudo podiam, o apelo a um guarda-costas é o principal eixo de expectativas para essa nova versão da prepotência urbana desse senhor. O eterno “você sabe com quem está falando” ainda repercute no acinte do ladrão aos “vigilantes da paz”.
A última sequência formada de dois momentos paralelos reencontra o velho desenho de mandos e lucros. Mas estes só num ajuste final.
Kleber de Mendonça Filho mostra aos brasileiros a sua criatividade para realizar um cinema de excelencia. 
Um último ponto, agora em relação ao diretor: numa das primeiras mostras de curta metragem promovidas por Márcia Macedo, "Vinil Verde" (2004), escrito e dirigido por Kleber,  ganhou o prêmio de melhor curta metragem, e eu estava no juri. Esse prêmio não consta entre os demais laureis do filme. Como sempre, o Pará é esquecido mesmo dando sua contribuição em prol da arte. 

sexta-feira, 1 de março de 2013

CINEMA E MULHER


 "Parente é Serpente", o primeiro filme da Mostra “As Mulheres e a ‘Arte’de Viver”. Dia 05/03. Comemoração do Dia Internacional da Mulher.

Na semana em que se insere a celebração do Dia Internacional da Mulher um programa especial de filmes referentes à condição feminina em diversos setores da atividade humana ganha espaço no centenário cinema Olympia. Os filmes selecionados pelo GEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas Eneida de Moraes) com apoio da PROGEP/UFPA, FUMBEL, ACCPA e o Movimento de Mulheres do Pará, serão exibidos de 3ª(5/03) a domingo, 10 de março. O programa “As Mulheres e a ‘Arte’de Viver” exibe os seguintes filmes: “Parente é Serpente”, de Mario Monicelli;“Desejo Proibido” de Jane Anderson, Martha Coolidge e Anne Heche;”Benny e Joon”de Jeremiah Chechik; “Miss Potter” de Chris Noonam;”A Conspiração” de Rod Laurie e “Que Bom Te Ver Viva” de Lucia Murat. Sessões às 18h30.
No Cine Estação, será exibido “Amor”,de Michael Haneke, vencedor do Oscar 2013 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Sessões na sexta, no sábado às 18h e 20h30, e domingo, às 10h, 18h e 20h30.
Nas salas comerciais o lançamento mais evidente é “Dezesseis Luas” (Beautiful Creatures/EUA, 2013) de Richard LaGravenese, roteiro original da dupla Kami Garcia e Margareth Stohl que de alguma forma lembra a série “Crepúsculo”(e os críticos norte-americanos acham que dará, também, uma série). Trata de um jovem estudante que encontra uma nova colega e coincidentemente é a pessoa com quem sonha há muito tempo. Os dois se tornam íntimos e caminham para derrotar um feitiço que paira sobre a família dela.
O filme estreou mês passado nos EUA sem atrair muito público. Mesmo assim, como a temporada é fraca, está hoje em oitavo lugar nas bilheterias desse país.
Estreia, também, “Jogos Violentos”(Red Dawn/EUA, 2012) refilmagem“atualizada” de uma historia de John Milius filmada em 1984. Agora os adolescentes que no primeiro filme lutavam contra invasores soviéticos, miram norte-coreanos ou mais quem não goste dos EUA. Outra patriotada. E em tempo:“Argo”(EUA/2012) está de volta. O filme vencedor do Oscar retorna ao cartaz em uma sala do Cinepolis Boulevard em duas sessões por dia.
No Cine Libero Luxardo está desde ontem “Era Uma Vez Eu, Verônica” de Marcelo Gomes e em sessões extras (hoje às 21 h e amanhã e domingo às 16,30) “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho.
No cineclube Alexandrino Moreira (IAP) na 2a Feira, exibe-se “Poesia” de Lee Chang-Dong.
O programa “As Mulheres e a 'Arte' de Viver” está assim constituído:
3ª Feira 5/3 -“Parente é Serpente”(Parenti Serpenti/Itália,1992) aborda uma reunião de família por ocasião do Natal, quando os pais dizem que precisam sair de sua casa e pedem guarida a um dos filhos. Na ocasião todos alegam problemas para abrigar os idosos. Uma versão ácida do argumento de “A Cruz dos Anos”(filmado no Brasil como “Em Família”).Apresentação da Prof. Maria Agélica Motta Maués.
4ª Feira 6/3-“Desejo Proibido”(If These Walls Could Talk/EUA,2000) apresenta 3 historias, cada uma dirigida por uma cineasta, sobre união homoafetiva. A apresentação será da Profa. Denise Machado Cardoso.
5ª Feira 7/3-“Benny e Joon, Corações em Conflito”(Benny & Joon/EUA 1993) retrata o relacionamento de uma jovem com problemas mentais e um andarilho imitador de astros do cinema como Buster Keaton. É um dos primeiros filmes de Johnny Depp. Apresentação da Profa. Eunice Figueiredo Guedes.
6ª Feira 8/3-“Miss Potter”(EUA,2006) focaliza a historia real da escritora de livros infantis que ela mesma ilustrava. Apresentação da Porfa. Eunice Ferreira dos Santos.
Sábado 9/3-“A Conspiração”(Alem/EUA, 2000) é sobre política norte-americana, mostrando os percalços de uma candidata à vaga de vice-presidente que a oposição combate tratando de sua vida intima. Apresentação da colunista.
Domingo 10/3-“Que Bom Te Ver Viva”(Brasil/1989) é um relato pessoal da diretora Lucia Murat sobre as torturas sofridas por prisioneiros dos militares durante o período de ditadura iniciado em 1964. Apresentação da Profa EneidaGuimarães Santos .i

BETTE DAVIS






Bette Davis 

Ruth Elizabeth Davis(1908-1989) exibia a imagem de seu caráter, segundo ela mesma costumava dizer. Começou vida artística na Broadway em 1929 e um ano depois descobria o cinema contratada pela Universal onde protagonizou a “Irmã Má”(The Bad Sister, 1931) de Hobart Henley. Um ano depois assinava um contrato de 7 anos com a Warner, estúdio onde viu nascer uma popularidade que ultrapassava a imagem de mocinha bonita e amante, podendo aparecer como a solteirona que acha o amor numa viagem de navio (“A Estranha Passageira”/Now Voyager, 1942) ou como a megera que punia a irmã por ciúme doentio (“O Que Terá Acontecido à Baby Jane?/Whatever Happend to Baby Jane? 1962).
Bette Davis atuou em 122 filmes, ganhou 20 premios (incluindo 2 Oscar) e foi candidata a outros 19 premios. No livro de Charles Higham “Bette Davis”(Ed.Francisco Alves, 1983) encontram-se suas opiniões sobre diversos papéis que representou em sua longa e produtiva carreira no cinema que vai de 1929 a 1989. Ela pouco elogia seus trabalhos e chega a ser cruel para com alguns como a vendedora de maçãs na refilmagem de “Dama por um Dia”(1961) de Frank Capra (“aquele filme horroroso”). Elogio está no emblemático “A Malvada”(All About Eve/1950) protagonizando uma atriz em fim de carreira, substituída por uma estreante ambiciosa (interpretada por Anne Baxter). Como outros grandes artistas, Bette privilgiava o que tinha ligação com o teatro. Mas ainda assim sabia incorporar personagens criadas para o cinema. Sua postura de mulher lutadora está, por exemplo, em “Jezebel”(1938) onde interpreta uma jovem de Louisiana que procurou cultivar seu “status”durante a guerra civil e se manter fiel ao noivo banqueiro (Henry Fonda) sem macular sua personalidade. É clássica a sequência em que ela surge no baile onde se reúne a sociedade local, vestida de vermelho quando o branco era o tom exigido. Por isso, o noivo desfaz o compromisso, afasta-se, só voltando anos depois, já casado. Mas ela não desiste e quando ele é acometido de febre amarela é ela quem passa a ser sua enfermeira e, numa cena que ficou na história do cinema, segue com o corpo moribundo do amado numa carroça cheia de doentes.
Bette Davis era amada mundialmente. Interessante observar que enquanto a maioria procurava no cinema as chamadas “sexy-appeal”, ou as mulheres bonitas que interpretavam mocinhas apaixonadas e submissas, ela explorava outra imagem, a de uma corajosa e pouco afeita à beleza física, exaltando os dotes de atriz.
No inicio da produção de “...E O Vento Levou”(Gone With Wind/1938/9) David O.Selznick pensou em Bette para o papel de Scarlet O’Hara. A personagem criada pela escritora Margareth Mitchell era a sua encarnação. Mas houve problema com a Warner onde Bette tinha contrato ( “O Vento....” era produção da MGM). Ficou Vivien Leigh. E Bette assumiu outra figura da mesma têmpera de Scarlet, no citado “Jezebel”.
No fim de carreira, a grande atriz duas vezes vencedora do Oscar (por“Perigosa”/ Dangerous,1935) e “Jezebel”(1938) aceitou personagens aquém de seu talento e tradição. Protagonizou vilãs, como o tipo vivido em “A Volta da Montanha Enfeitiçada”(Return from Witch Mountain/1978) de John Hughes para a Disney, e “Mistério no Bosque”(The Watchers in the Wood/1980), do mesmo diretor. Atuou também em muitos filmes para a TV. E só voltaria a seus melhores momentos como a mulher solitária de “As Baleias de Agosto” (The Whales of August/1987) de Lindsay Anderson, contracenando com outra figura emblemática do cinema, Lillian Gish, esta se despedindo (Bette ainda faria “A Madrasta”/Wicked Stepmother) um ano depois.
Esta semana, o Cine Olympia exibirá filmes da famosa atriz. São 7 clássicos, e este final de semana estarão por lá: “A Estranha Passageira”(1942),“Jezebel”, “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” E, na sessão cinemateca de domingo, estará o film noir “A Carta” (1940). Ótimo momento para circular com as personagens dessa grande dama.