quinta-feira, 28 de março de 2013

O MESTRE




Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman em "O Mestre"

O momento é propício para avaliar o enfoque dado em “O Mestre” (The Master, EUA, 2012) pelo diretor Paul Thomas Anderson, ao modelo de formação de ideologias religiosas e a maneira como este modelo inspira formatos diferenciados de atitudes ( a exemplo, esse incidente nacional com o “pastor” dos “direitos humanos” discriminador e arrogante que se julga maior que Deus). Diz-se que a inspiração desse diretor e roteirista para esta sua nova criação teria surgido na Cientologia, a religião criada por L.Ron Hubbard e seguida por ilustres membros como os atores Tom Cruise e John Travolta. Há quem diga que Anderson usou o tema na conversa que teve com Cruise durante a filmagem de “Magnólia”(1999). Um fato é certo: o diretor é um dos raros, no cinema norte-americano, que pode ser chamado de “autor”. Seus filmes são densos, sua linguagem não é linear, seus roteiros derivam de temas ricos em proposições que se acercam da metafísica e de problemas sociais. Isso em uma forma que sempre procura se renovar, usando de todos os artifícios de linguagem que inclusive surpreendem, como o fato de Adam Sandler criar um desempenho convincente em “Embriagado de Amor”(Punch-Drunk Love/2002).
O enredo de “O Mestre” explora a situação de Freddie Quell (Joaquin Phoenix), um fuzileiro naval, que após o término da Segunda Guerra Mundial encontra-se desmobilizado depois de enfrentar batalhas, sofre ataques de ansiedade, seu consolo é a bebida alcoólica, e até mesmo produz uma nova beberagem para sua satisfação pessoal. Sem rumo da vida passa a seguir a nova seita idealizada e ministrada por Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman). A hesitação diante da nova crença, com base numa aferição de valores em que pesam os percalços da vida que levou, encaminha Freddie para um confronto nem sempre amigável com o seu “mestre”(como chamam Lancaster) e quem o ajuda no culto, com a esposa deste, Peggy (Amy Adams). Carismático, o líder de “A Causa” consegue envolver mais profundamente a Freddie com ideias que mesclam a teoria de vidas passadas, responsabilizada pela cura espiritual ao tempo em que promove o autocontrole. Há uma dependência muito forte desse seguidor e dos demais adeptos e, com o estilo de vida inaugurado pelo Mestre, se torna muito dificil de se dissociar das necessidades que são cada vez maiores produzidas pelo discípulo.
O grande trunfo de “O Mestre” é o duelo de interpretações entre Joaquin Phoenix, nunca tão bem no cinema e o sempre correto (e às vezes genial) Philip Seymour Hoffman. O pretenso crente e o mestre do credo que se chama “A Causa” é mostrado em diversos momentos do filme. Mas no final ele se desdobra em outra tese, a de que o criador nem sempre atura a sua criatura (no caso, o seu pupilo). O embate que encerra o filme é a marca do diretor, a lembrar daquela chuva de sapos em “Magnólia”.
Mas o repasse desse modelo religioso no comportamento humano e a forma autoritária que se introduz para manter acessa a circulação das idéias tende a assumir um veemente mecanismo comportamental de também capitalizar recursos. Esse aspecto também é mencionado na obra de Ppaul Anderson, assim como a maneira de atingir as mulheres num vínculo tradicional com a representação que o imaginário social tem recoberto insistentemente. Obedecer ao senhor acima das coisas está para a felicidade humana assim como a satisfação das necessidades vitais que mantém a vida. Sempre grávida e/ ou carregando um bebê, a personagem de Amy Adams mantém a fidelidade à condição da natureza feminina da maternidade, embora em certos momentos seja a inspiradora do marido em maldades, isentando-se da culpa.
O filme esteve no Oscar com as candidaturas dos atores principais (não ganharam). Evidentemente o premio da indústria não seria para um produto anômalo nessa colocação. “O Mestre” é filme para espectadores inteligentes que exigem muito do cinema sem levar em conta que o produto rotineiro que chega às grandes telas é um artefato capitalista que persegue o lucro. Vale dizer que o lançamento do filme de Anderson entre nós prende-se a uma sala especial (o Cine “Libero Luxardo”). É titulo para os críticos discutirem entre os melhores do ano em diversas categorias.
EXIBIÇÃO DE “CONTATO”
Logo mais às 17 h, na Livraria Saraiva (Shopping Boulevard) a exibição de Contato (Contact, EUA, 1997), de Robert Zemeckis, história de Carl Sagan e Ann Druyan. Apoio da APC e ACCPA. 

Um comentário:

  1. Alex Barata da Silva6 de abril de 2013 às 05:56

    Luzia, o filme " O Mestre", trata de fanatismo religioso e de como a religião em si , sozinha pode se aproveitar de alguem já com pertubações psicologicas pode ser usado por falsos profetas para se autopromoverem. Outro fator a critica a religião de alguns astros de Holywood.
    Excelente também a critica ao poder de influnencia de alguns líderes

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