Wagner Moura e Mariana Lima em "A Busca".
Fugindo ao que está sendo um tipo
de comédia brasileira onde o aspecto “picante” tem definido o gênero e carreado
para as salas de cinema um tipo de público interessado na diversão apenas, “A
Busca” (Brasil, 2013, 1h36min), de Luciano Moura, leva o espectador a outro
tipo de atitude, ao acompanhar as travessias da vida de um casal a procura do
filho. Mas é só esta a busca que emerge na argumentação do filme?
No enredo, Theo (Wagner Moura) chega
à casa de onde já havia se afastado devido a estar em vias de separação da esposa
Branca (Mariana Lima). Ao encontrá-la retoma a exibição de mau humor. Na
ocasião chega o filho Pedro (Brás Antunes), que está aniversariando (15 anos) e
também é recriminado pelo pai autoritário. O adolescente magoado coloca a
mochila na costa e vai embora. Seria uma visita a amigos, mas ele não volta. E
os pais se desesperam. Theo assume a busca e sai pelas estradas atrás do
garoto. Não se sabe bem por quantos municípios ou estados tende a andar. O
caminho traz personagens e situações diversas e muitas vezes inusitadas (como
um parto numa festa de jovens). A informação pelo paradeiro de Pedro ganha
corpo quando se sabe que ele comprou, com o dinheiro da venda de seu
computador, um cavalo preto. E não se pergunte como um menino de cidade é bom
cavaleiro.
O argumento é notoriamente
alegórico. A viagem do pai despótico e enfim desesperado é um encontro consigo
mesmo. O cavalo preto do menino é um recurso poético. O parto no caminho também
se insere numa metáfora de quem está renascendo na dor (o pai que sente a
fuga/perda do único filho). Até o desespero do personagem que o induz a atos reprováveis
como roubar o telefone de um homem que se diz cardíaco e precisa do aparelho
para se comunicar com a filha se houver algum problema com a sua saúde, é parte
de um quadro abrangente no esquema sentimental.
Mas esse olhar mais amplo, essa
viagem e obstáculos diversos, tenta um tom realista e nem sempre consegue
atingir a proposta. Além de inverossímeis, certas situações denotam crueldade e
preconceitos conflitantes com a busca bem ampla do que tenha como verdade. Os
campesinos são vistos de forma caricatural, não só na ação, mas nas falas e
mesmo closes, esses do tipo usado em sequencias de outros filmes que desejam
marcar as caras sofridas dos interioranos, no caso brasileiro. Tudo bem que
esse ângulo de olhar os outros, e é bom lembrar que a opção por “closes” é
imensa como nos filmes feitos para televisão, pode fazer parte da construção da
índole do tipo. Mas se a busca é a forma de redenção, é alcançar o perdão de um
temperamento condenável, o recurso endossa e não estimula o sentido de perdão
que Theo inadvertidamente procura e vai achando no correr dos obstáculos
encontrados no caminho.
“A Busca”constitui-se num “road
movie” sem bussola. O pai que procura o filho anda a pé, de carro, de balsa, de
canoa, e não se pergunte como ele consegue os meios de transporte. Chega a um
ponto em que se lança uma ironia a reforçar o símbolo do menino branco montado
em cavalo preto: há um engarrafamento na estrada (e nessa hora Theo já pilota
uma motocicleta) e uma pessoa diz que se trata de um animal morto no caminho.
Ele, batido por muitos desastres por que passa, arrasta-se para ver o animal,
pensando certamente que é o cavalo do filho. É um cavalo, mas branco. Abrindo o
plano se vê ao longe o cavalo preto e seu ginete mirim. Theo parece esquecer as
dores dos baques sofridos e corre atrás do filho. Aí ele já sabe que o menino,
um desenhista nato, procura o avô paterno (Lima Duarte) de quem o pai mantém
certa distância. Há uma verdadeira explosão sentimental de pais e filhos se
encontrando. O cineasta prefere seguir adiante na narrativa, mostra flashes de
Branca numa piscina instalada em sua casa para onde Theo vai voltar a morar. E
ele mesmo, banhando-se no rio da “passagem”. Um “banho de purificação” a selar
o compromisso de que, daí em diante, pode ser o começo de algo melhor.
Oi, Luzia!
ResponderExcluirGostei desse filme, apesar de certos tropeços, como por exemplo o garoto (Brás Antunes), que é o ponto-chave do filme, mas não tem carisma, e apresenta um desempenho aquém do esperado. E dirigir cavalo, cruzando vários pontos do Brasil... (nossa!) ninguém merece! E não tem jeito, no Brasil a gente tem que louvar (apesar do chavão)os filmes que fogem das novas chanchadas, com temas tão fora de moda, ultrapassados, em um país que pretemnde se inserir na linha de Primeiro Mundo.Espero que o público, notadamente os jovens, prestigiem esse esforço do Luciano Moura, pois até o Andrucha W., tão promissor, anda escorregando nas facilidades. E louvo o desempenho do Wagner Moura, um ator jovem e sério.
Abraço,
R.Secco
Oi, Luzia1
ExcluirDe novo: Faltou falar de Mariana Lima, atriz sempre eficiente, talentosa, que aqui não está nos melhores momentos. Mas convence.
Ab.,
Secco