quarta-feira, 27 de março de 2013

A BUSCA



Wagner Moura e Mariana Lima em "A Busca". 

Fugindo ao que está sendo um tipo de comédia brasileira onde o aspecto “picante” tem definido o gênero e carreado para as salas de cinema um tipo de público interessado na diversão apenas, “A Busca” (Brasil, 2013, 1h36min), de Luciano Moura, leva o espectador a outro tipo de atitude, ao acompanhar as travessias da vida de um casal a procura do filho. Mas é só esta a busca que emerge na argumentação do filme?
No enredo, Theo (Wagner Moura) chega à casa de onde já havia se afastado devido a estar em vias de separação da esposa Branca (Mariana Lima). Ao encontrá-la retoma a exibição de mau humor. Na ocasião chega o filho Pedro (Brás Antunes), que está aniversariando (15 anos) e também é recriminado pelo pai autoritário. O adolescente magoado coloca a mochila na costa e vai embora. Seria uma visita a amigos, mas ele não volta. E os pais se desesperam. Theo assume a busca e sai pelas estradas atrás do garoto. Não se sabe bem por quantos municípios ou estados tende a andar. O caminho traz personagens e situações diversas e muitas vezes inusitadas (como um parto numa festa de jovens). A informação pelo paradeiro de Pedro ganha corpo quando se sabe que ele comprou, com o dinheiro da venda de seu computador, um cavalo preto. E não se pergunte como um menino de cidade é bom cavaleiro.
O argumento é notoriamente alegórico. A viagem do pai despótico e enfim desesperado é um encontro consigo mesmo. O cavalo preto do menino é um recurso poético. O parto no caminho também se insere numa metáfora de quem está renascendo na dor (o pai que sente a fuga/perda do único filho). Até o desespero do personagem que o induz a atos reprováveis como roubar o telefone de um homem que se diz cardíaco e precisa do aparelho para se comunicar com a filha se houver algum problema com a sua saúde, é parte de um quadro abrangente no esquema sentimental.
Mas esse olhar mais amplo, essa viagem e obstáculos diversos, tenta um tom realista e nem sempre consegue atingir a proposta. Além de inverossímeis, certas situações denotam crueldade e preconceitos conflitantes com a busca bem ampla do que tenha como verdade. Os campesinos são vistos de forma caricatural, não só na ação, mas nas falas e mesmo closes, esses do tipo usado em sequencias de outros filmes que desejam marcar as caras sofridas dos interioranos, no caso brasileiro. Tudo bem que esse ângulo de olhar os outros, e é bom lembrar que a opção por “closes” é imensa como nos filmes feitos para televisão, pode fazer parte da construção da índole do tipo. Mas se a busca é a forma de redenção, é alcançar o perdão de um temperamento condenável, o recurso endossa e não estimula o sentido de perdão que Theo inadvertidamente procura e vai achando no correr dos obstáculos encontrados no caminho.
“A Busca”constitui-se num “road movie” sem bussola. O pai que procura o filho anda a pé, de carro, de balsa, de canoa, e não se pergunte como ele consegue os meios de transporte. Chega a um ponto em que se lança uma ironia a reforçar o símbolo do menino branco montado em cavalo preto: há um engarrafamento na estrada (e nessa hora Theo já pilota uma motocicleta) e uma pessoa diz que se trata de um animal morto no caminho. Ele, batido por muitos desastres por que passa, arrasta-se para ver o animal, pensando certamente que é o cavalo do filho. É um cavalo, mas branco. Abrindo o plano se vê ao longe o cavalo preto e seu ginete mirim. Theo parece esquecer as dores dos baques sofridos e corre atrás do filho. Aí ele já sabe que o menino, um desenhista nato, procura o avô paterno (Lima Duarte) de quem o pai mantém certa distância. Há uma verdadeira explosão sentimental de pais e filhos se encontrando. O cineasta prefere seguir adiante na narrativa, mostra flashes de Branca numa piscina instalada em sua casa para onde Theo vai voltar a morar. E ele mesmo, banhando-se no rio da “passagem”. Um “banho de purificação” a selar o compromisso de que, daí em diante, pode ser o começo de algo melhor.

2 comentários:

  1. Oi, Luzia!
    Gostei desse filme, apesar de certos tropeços, como por exemplo o garoto (Brás Antunes), que é o ponto-chave do filme, mas não tem carisma, e apresenta um desempenho aquém do esperado. E dirigir cavalo, cruzando vários pontos do Brasil... (nossa!) ninguém merece! E não tem jeito, no Brasil a gente tem que louvar (apesar do chavão)os filmes que fogem das novas chanchadas, com temas tão fora de moda, ultrapassados, em um país que pretemnde se inserir na linha de Primeiro Mundo.Espero que o público, notadamente os jovens, prestigiem esse esforço do Luciano Moura, pois até o Andrucha W., tão promissor, anda escorregando nas facilidades. E louvo o desempenho do Wagner Moura, um ator jovem e sério.
    Abraço,
    R.Secco

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    1. Oi, Luzia1
      De novo: Faltou falar de Mariana Lima, atriz sempre eficiente, talentosa, que aqui não está nos melhores momentos. Mas convence.
      Ab.,
      Secco

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