sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

UMA ESTRÉIA PRECIOSA




















As principais estréias nesta sexta feira,26/02 em Belém/PA, nos cinemas do grupo Moviecom são : “Preciosa”, “Simplesmente Complicado” e “Contatos do Quarto Grau”.

Na área extra começa domingo, na Sessão Aventura do Cine Olympia, o seriado “Flash Gordon”, preferido de uma geração (a dos nossos avós), acompanhado de um clássico da ficção-cientifica: ”O Planeta Proibidro”. No Cine Clube Alexandrino Moreira (IAP), na 2ª,Feira, será exibido “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”(Annie Hall), o filme de Woody Allen que mereceu o Oscar do ano em que foi lançado e que o autor(escritor, diretor e intérprete) não compareceu à cerimônia de entrega dos prêmios. Depois da projeção haverá um debate sobre o famoso troféu da Academia de Hollywood.
E nesta terça feira, 02/03, o Cine Olympia e a ACCPA programam um festival de filmes que receberam o Oscar. O primeiro a ser exibido será “Aconteceu Naquela Noite” (1934), de Frank Capra. Seguirão: ”Como Era Verde o Meu Vale” (1941) e ”Sindicato de Ladrões” (1954). Cada filme permanecerá 2 dias em cartaz. Na outra semana serão exibidos mais filmes “oscarizados”.
“Preciosa” (Precious, EUA, 2009) é candidato ao Oscar, especialmente em duas categorias principais, a de melhor filme e de melhor atriz. E as atenções cabem, enfim, à Gabourey Sidibe que interpreta a personagem-título, uma jovem negra, analfabeta (está estudando), obesa, violentada pelo pai (Rodney Jackson) com uma filha dele e já esperando outra criança, e sendo humilhada sistematicamente pela mãe (Mo’Nique). Claireece “Precious” muitas vezes pensa em se matar, mas, como diz certa vez, “não encontra um botão para apertar suspendendo sua vida”. Sua filhinha, criada pela avó, é portadora da Síndrome de Down e por isso ela chama de Mong (lembrando mongolóide). Com esse quadro recebe atenção do governo e do serviço social, recursos que a mãe não quer perder. Por circunstancias outras é auxiliada por uma professora que se dispõe a ouvir o drama da família. Mas chega a um ponto que Claireece resolve viver como puder longe de todos.
O filme segue uma linha realista incomum no cinema norte-americano. E o seu realismo, de tão cruel, se distancia de certas experiências do passado neste campo. É um drama duro, desses que se encontram no dia a dia de uma cidade, sem que haja um olhar mais centrado nesses pequenos grandes problemas humanos.
A direção é de Lee Daniels e o roteiro é de Georffrey Fletcher com base em um livro escrito por Sapphire – que seria a própria mulher-título.
Gabourey Sidibe ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz dramática sendo apontada como a favorita do Oscar do dia 7. Vamos lá torcer por seu êxito.
“Simplesmente Complicado” (It’s Complicate-EUA,2009) é mais uma comédia romântica. Mas parece ser das que sensibiliza a unanimidade de espectadores. Meryl Streep protagoniza Jane, divorciada de Jake (Alec Baldwyn) e namorada de Adam (Steve Martin). No momento do casamento da filha, ela revê o ex-marido, que já está casado com outra. Esse encontro gera um “affaire”. Agora está formando um estranho quarteto: o ex-marido passa a ser o amante e o namorado passa a ser o traído. Por seu turno, a esposa do ex-marido passa a ser a mulher traída.
A direção é de Nancy Meyer, com experiência no gênero. Os críticos norte-americanos elogiaram o elenco, especialmente Meryl Streep.
“Contatos do 4 Grau”(The Forth Kind EUA,2009) passa-se numa pequena cidade canadense nos anos 60 onde pessoas começam a desaparecer. Repórteres vão investigar o assunto e se deparam com manifestações de seres extra-terrestres. A direção e o roteiro são de Olatunde Osunsanmi. Boas críticas na rede para os que duvidarem da exploração de um tema aparentemente gasto pelo uso.
“O Planeta Proibido” (Forbidden Planet EUA,1956) foi o primeiro filme da então poderosa empresa MGM em cinemascope & cores dentro do gênero ficção - cientifica. No futuro distante,Walter Pidgeon é um cientista desaparecido que astronautas encontram em um planeta de outro sistema solar morando com a filha(Ann Francis). Os demais cientistas que foram a esse mundo desapareceram assim como os habitantes do lugar. Logo os astronautas sabem que ali mora um monstro invisível que no final da história é desvendado para surpresa do público. A direção é de Fred Wilcox. Com este filme será apresentado o primeiro episódio de “Flash Gordon no Planeta Mongo” (Flash Gordon-EUA, 1936), com Buster Crabbe, seriado de grande sucesso no passado, com base nos quadrinhos de grafic crew Alex Raymond. Domingo em Sessão Aventura da ACCPa com entrada franca.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

UM OLHAR DO PARAÍSO







Alice Sebold, 47 anos, uma escritora de língua inglesa (é norte-americana de Winscosin) que conseguiu agradar a um público expressivo, especialmente composto de adolescentes. Não chegou ainda ao patamar da conterrânea Stephenie Meyers (da série iniciada com “Crepusculo”), mas para se ter uma idéia de sua popularidade, seus 3 livros já foram editados no Brasil: “Sorte - Um Caso de Estupro”(1999/292 pág.), “Uma Vida Interrompida - Memórias de um Anjo Assassinado”(2002/356 pág,) e “Quase Noite” (2007/294 pág.). Esta popularidade ganhou campo na forma como Peter Jackson, o diretor de “O Senhor dos Anéis”, conseguiu comprar os direitos para filmagem do segundo livro, depois de se encantar com a leitura do texto original. Quando se dispôs a adquirir o livro este já estava comprometido, mas, ao receber o aval de Steven Spielberg conseguiu fazê-lo através da empresa do conhecido cineasta, a DreamWorks.
O roteiro, intitulado “Um Olhar do Paraíso” (The Lovely Bones) deve ter mudado alguma coisa, mas, basicamente, trata do assassinato de uma garota de 14 anos, Susie Salomon, cometido por um vizinho, George Harvey. O espírito da assassinada fica em um mundo intermediário entre o céu e a terra, acompanhando o drama da família e as novas investidas criminosas do assassino. A menina que acompanha Susie, no outro lado da vida, diz-lhe que ela ainda está presa a uma lembrança material. E é possível vislumbrar isso pelas seqüências iniciais, do desejo de Susie de ser beijada pelo colega de escola, Ray(Reece Ritchie), o que não ocorreu. Nem mesmo foi firmada uma conquista amorosa com o jovem na época da história, aquela em que o namoro não chegava à intimidade de hoje. Esse objetivo seria mais veemente do que ajudar a resolver o crime que a vitimou inclusive a descoberta de seu corpo que ficou preso em um cofre e, no fim, jogado em um depósito de ferro velho para ser soterrado.
A narrativa é em primeira pessoa como se Susie estivesse escrevendo um livro. O modo como as suas palavras chegam aos leitores/espectadores serve-se da liberdade do cinema (e no caso também da obra literária, se a adaptação for obediente) é mais uma licença da obra de arte. Lembrem-se que em “Cidadão Kane” ninguém ouviu o moribundo dizer “rosebud” além do espectador no cinema. E em “O Incrível Homem que Encolheu” ninguém vai ler o que escreve Scott, o personagem que diminui infinitesimalmente, embora a sua voz, narrando os fatos à guisa de memórias escritas, esteja sempre presente. Contudo, há certo descompasso entre tempo & espaço & ação. Exemplo: a irmã de Susie, Lindsay, investiga a casa do assassino e quando acha um caderno onde ele anota todos os seus crimes (é um “serial killer”), não se chega a ver o alarde do fato, mesmo porque é tempo de reconciliação do pai com mãe, que se afastou de casa depois da crise emocional que a morte da filha acarretou. Sabe-se, apenas, que o criminoso só vai ser justiçado quando já idoso cai acidentalmente de um barranco. O tempo que passou e a descoberta do crime parecem não merecer grande atenção, assim como o destino do corpo de Susie, que afinal vai permanecer sepultado no lixeiro de sucatas.
A visão do “outro mundo” refletida no filme é motivo para exibição esfuziante de efeitos óticos, com linhas e cores moldadas digitalmente. Há uma arvore que se desnuda e torna a ganhar folhas (ou pássaros) como uma pontuação dramática. Mas não é endossada no relacionamento mais intimo da vida e da morte, ou seja, do que se passa com o espírito da garota. Vê-se que ela encontra todas as meninas mortas pelo mesmo serial killer, e se ela espera o beijo do namorado para ganhar o plano espiritual pergunta-se: o que as outras esperam?
O que o roteiro deixa passar, ( não posso afirmar se é isso no livro original pois não li), o filme ganha pontos nas interpretações e na direção de arte. Stanley Tucci, como George Harvey o assassino, já coleciona prêmios e está concorrendo ao Oscar de ator coadjuvante. A estreante Saorise Rovan também tem destaque. O tipo não é fácil de compor, até por mostrar-se reticente, mas ela deixa marcada uma presença.
Esperava-se mais de Peter Jackson, sabendo-se que é dele “Almas Gêmeas”, um bom filme sobre problemas pessoais de duas jovens, obra que lançou a atriz Kate Winslet. Por isso “Um Olhar do Paraíso” não preencha a expectativa que o cercava. Mas ainda assim é um programa acima da média.
Cotação: Bom (***)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O LOBISOMEM







Nos anos 30, os estúdios da Universal, até então considerados pequenos, criados pelo imigrante judeu Carl Leammle para suprir os cinemas de bairro que ele edificou logo que chegou à América, passaram a utilizar o chamado “filme de monstro” como um meio de criar uma projeção mais sedutora da empresa. A idéia se deve ao filho desse pioneiro da indústria cinematográfica, Carl Leammle Jr., a quem o pai dera de presente de aniversário o controle das filmagens. Foram exploradas as figuras de monstros da literatura universal como Frankenstein (de Mary Shelley), Drácula (de Bram Stocker), O Homem Invisível (de H.G. Wells), e, encerrando a “fauna”, o Lobisomem, este sem respaldo literário, derivando de uma lenda cigana que tratava de um homem capaz de se transformar em lobo depois de mordido por uma criatura semelhante.
O primeiro lobisomem da Companhia Universal foi realizado em 1941, com direção de George Waggner (1894-1984), uma espécie de “patinho feio” da empresa, apesar de ter sido a produção mais cara, com atores famosos como Claude Rains, Ralph Bellamy e Maria Ouspenskaya (atriz russa que já protagonizara a avó da heroína de “Duas Vidas”, melodrama de Leo McCaret , entre outros). Esse diretor foi o menos aplaudido do grupo. O ator Lon Chaney Jr, na época inexperiente, convidado certamente por se levar em conta o sucesso de seu pai em filmes como “O Fantasma da Ópera”(versão muda), não convenceu. E o roteiro não explorou nem mesmo o pavor exalado da metamorfose, com os assassinatos que se seguiram.
Quanto ao novo “O Lobisomem”(EUA, The Wolf man, 2010), dirigido por Joe Johnson de um roteiro de Andrew Kevin Walker e David Self, inspira-se no que escreveu Curt Siodmak para a primeira versão. Este roteirista seria, mais tarde, um diretor de filmes de ficção inclusive dois realizados na Amazônia e de péssima lembrança: “Curuçu”(1956) e “Escravo do Amor das Amazonas”(1957). É possível pensar que a nova estruturação da Universal Pictures, após a greve dos roteiristas em 2008, tirou do arquivo o texto de Siodmak, engendrou detalhes que antes não podiam ser explorados, dando um toque de produção requintada graças à uma cenografia e uma cinegrafia de alcance gótico.
O resultado exibe, principalmente, um visual que lembra o cinema do veterano Roger Corman nos anos 70, com orçamentos reduzidos. As nuvens de gelo seco ganham endosso na iluminação que dá o clima pedido ao palacete onde mora Sir John Talbot (Anthony Hopkins) o pai do atual lobisomem (Benicio del Toro), ele próprio uma das figuras condenadas a se transformar em lobo nas noites de lua cheia (um acréscimo na lenda original, assim como as balas de prata para matar o monstro). Também foram colocados detalhes impensados na época em que a censura limitava os autores: aqui, Sir John é o assassino de sua esposa e de um filho. O novo lobisomem, Lawrence Talbot, mata o pai. Os assassinatos ocorrem quando estão transformados, mas eles guardam na memória o que fizeram. Apesar disso, e em resposta ao filho, o patriarca afirma que uma vez pensou em se matar, mas desistiu, pois “gosta da vida”, separando a sua atitude como ser humano do que pensa como fera. Apesar dessa afirmação paterna, Lawrence como lobo reconhece a namorada Gwen (Emily Bont) e se recusa a matá-la. Conclui-se que há modalidades de amor que não são vulneráveis às mudanças física e mental como os casos de licantropia, a transformação lendária do homem em animal irracional que na psiquiatria limita-se a uma disposição do cérebro em assumir essa postura.
Se em 1941 essa história e monstro podiam aterrorizar alguém ou criar o interesse por algum liame de profundidade temática, hoje, passa como uma artimanha de cinema comercial. E pela bilheteria atual pode até gerar uma franquia. Há público para tudo.
Cotação: Fraco(*)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CURSO DE CRÍTICA DE CINEMA

A Caiana Produções programou um Curso de crítica de cinema a ser ministrado pelo Presidente da ACCPA, Marco António Moreira.

A súmula do curso: Construção de um olhar crítico sobre a Sétima Arte. Discussões teóricas e exibição de filmes para debates para desenvolver a prática do olhar critico sobre o cinema.

Itens do Curso :
· História do Cinema : o cinema desde sua criação até sua evolução em termos de técnica e produção
· Linguagem Cinematográfica: elementos criados para o desenvolvimento do cinema
· Elementos da Obra Cinematográfica: montagem, produção, direção, narrativa, cenografia, roteiro, etc.
· Indústria/Arte/Mercado: definições e diferenças
· O Olhar Crítico sobre o Cinema: conhecimento x sentimento
· O papel do Crítico de cinema nos tempos modernos: qual a função do crítico de cinema hoje.

Carga horária / Turma:
Carga horária: 30 horas (15h às 18h)
De 15 a 26 de Março.

Investimento: R$ 100,00
Aceita a bandeira VISA

OFICINA DE LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA
Com João Inácio

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

FILMES & ÉPOCAS









Graças ao DVD estou conhecendo os primeiros trabalhos de John Ford (1895-1973) mais conhecido por memoráveis westerns como “No Tempo das Diligencias” (Stagecoach), “Rastros do Ódio” (The Searchers) e “Paixão dos Fortes”(My Darling Clementine). A carreira desse diretor se inicia ainda no período do cinema mudo e, desta fase, assisti recentemente “4 Filhos” (Four Sons/1928), uma produção inspirada nos clássicos europeus, especialmente alemães. Em linguagem linear e com o melhor aproveitamento possível da imagem, deixando pouco espaço para legendas explicativas, aborda o drama de Bavária, mãe de 4 jovens, que vê todos saírem de casa: dois engajados no exército alemão e mortos na 1ª Grande Guerra, outro residente nos EUA que é convocado para servir com os soldados norte-americanos na mesma guerra, e o caçula, que vivia com ela, sendo arrastado para o campo de batalha.
Extremamente sentimental, o filme deve ter feito sucesso entre nossos antepassados quando lançado nos cinemas. Há um momento em que o combatente aliado vê o irmão do lado inimigo morrendo em uma trincheira. E a odisséia da mãe, uma interpretação desafiadora de Margaret Mann, termina quando, ao embarcar para a América, com o objetivo de morar com o filho que lhe resta, é barrada na imigração, fugido e ganhando a rua que desconhece.
Outro filme de John Ford, já do período sonoro é “Rio Acima” (Up the River/1933). Estréia do veterano ator Spencer Tracy e mostrando Humphrey Bogart em início de carreira, muito jovem protagonizando um prisioneiro de boa índole que namora uma colega de prisão, fazendo tudo para protegê-la. O filme não chega ao esquema melodramático nem é uma critica ao sistema penitenciário da época. Trata-se de um modelo do “filme de gangster” anterior à fase que surgiria na Warner Bros. pouco tempo depois, espelhando o resultado dramático da “lei seca” e a crise econômica. Aos que se interessam pela história do cinema é titulo a ser visto.
Circulando em cópia DVD (um dos meus programas da semana), “Pasqualino Sete Belezas”(Paqualino Settebelezze/Itália,1975), talvez o melhor filme de Lina Wertmuller (concorre com “Mimi, O Matelúrgico”). Giancarlo Gianini interpreta um “bom vivant” na Itália fascista que entra em confusão devido a prostituição da irmã, sendo enviado para um campo de concentração na Alemanha. Ao chegar, consegue ser um “kapo” (chefe de pavilhão) e, como tal, é obrigado a matar conterrâneos. O painel da guerra, com a estupidez contrastada pela mediocridade da rotina do personagem é muito bem analisado. E muito se deve ao ator. O close final de Giannini (premiado pelo desempenho) é excelente.
“As Corças”(Les Biches/França, Itália, 1968) não está entre os melhores trabalhos de Claude Chabrol um dos precursores da “nouvelle vague”. A meta é definir o temperamento doentio de uma jovem desenhista descoberta por uma rica herdeira. Ao se apresentar pintando o chão de uma ponte. A amizade advinda desse encontro ganha contornos lésbicos, mas também aponta para a bissexualidade da jovem ao se relacionar com um conhecido de sua benfeitora. Surge não um triangulo amoroso padrão, mas uma espécie de “Jules et Jim” (o filme Truffaut), entre um homem (Jean Louis Trintignant) e duas mulheres (Stephane Audran e Jacqueline Sassard). Nesse quadro há reflexão sobre o sentido de posse, o ciúme e o que isso acarreta quando um dos ângulos desastabiliza a relação. Mas a profundidade da narrativa não ganha o objetivo, restando as imagens de cor pastel como um cenário de instabilidade. Muito pouco.
Outro programa que assisti em DVD é um exemplo de comédia romântica dos anos 30: “Confissões de Mulher” (True Confessions). Carole Lombard interpreta uma mulher que se dedica ao marido (Fred McMurray) para que este cresça como advogado. Para isso, inventa um crime onde ela surge como suspeita de autoria. Tudo muito exagerado, tentando aplicar hilaridade nessa diluição dramática. Deve ter tido o seu público no ano de lançamento, 1937, mas a mim não sensibilizou. Direção de Wesleu Ruggles.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU


















A nova geração de cinéfilos não teve acesso ao filme “O Incrível Homem que Encolheu” (The Incridible Shring Man/EUA,1957), exibido em Belém (Cine Olimpia) no final do ano de 1957. Dirigido pelo veterano diretor Jack Arnold (1916-1992), a partir do argumento e roteiro do escritor Richard Matheson, foi exibido na Sessão Cult da ACCPA, no Cine Libero Luxardo, neste sábado, 20. Nesse dia, Matheson completou 84 anos o que não deixa de ser uma celebração auspiciosa na escolha desse filme tão importante e instigante da literatura fantástica para exibição entre nós.
Num breve traçado do perfil desse escritor, sabe-se que desde bem jovem ele começou a escrever histórias fantásticas, algumas ligadas à ficção-cientifica. Foi dele o roteiro de “Encurralado” (Duel), primeiro filme de Steven Spielberg produzido, primeiramente, para a televisão. Outros sucessos da tela grande podem ser elencados como: “Em Algum Lugar do Passado” (Somewhere in Time/1980), “A Última Esperança da Terra” (The Omega Man/1971) refilmado como “Eu Sou a Lenda” (I am a Legend/2005), além de episódios das séries de TV como “Além da Imaginação”(Twilight Zone) e “Histórias Extraordinárias” (Amazing Stories).
O escritor permanece ativo sendo prova “A Caixa”(The Box/2009) de Richard Kelly com Cameron Diaz, produção vinda de uma história sua, “Button Button”. E para o futuro próximo há, pelo menos mais 3 filmes com base em suas idéias (e “scripts”).
“O Incrível Homem que Encolheu” foi classificado pelo autor como uma fantasia de horror e não como uma abordagem ficcional na ciência. O filme endossa essa impressão. Trata de Scott Carey (Grant Williams/1931-1985), um executivo que num passeio de iate, com a esposa, é envolvido por uma névoa que lhe proporciona, gradativamente, a diminuição do corpo. Os médicos não encontram explicação sobre o fenômeno, havendo encolhimento de forma progressiva. Caminhando para o terreno quântico, vê o seu universo ser substituído pelo infinitesimal sem que isso o prive da faculdade de pensar. O pensamento cartesiano dimensiona o achado do personagem.
A principio Scott luta com o complexo que lhe dá o encolhimento, não só em relação à vida social como a afetiva (há uma breve cena dele discutindo a sua vida conjugal com a esposa, Louise (Randy Stuart). Arruma-se numa casa de boneca, mas um gato cerca o pequeno espaço e ele acaba sendo jogado no porão. Louise pensa que está viúva e deixa a residência pesarosa. No porão, um novo mundo espera pelo cada vez diminuto personagem. Ele luta com uma aranha por um pedaço de queijo, toma banho num pequeno vazamento de torneira, faz uma arma de um alfinete, enfim, usa pequenos instrumentos e estratégias para se manter vivo. Passa pelo orifício de uma tela que leva ao jardim e, desse momento em diante, a historia ganha o terreno da poesia aludindo ao infinitamente grande e pequeno (“Eu vejo que as estrelas parecem mais próximas de mim”).
O filme, considerado “classe B” pelos estúdios da Universal foi lançado em tela panorâmica (superscope) e fez sucesso de público e de critica. Os mais céticos se impressionaram com a obra assinada por Jack Arnold, conhecido por aventuras descompromissadas como “Tarântula” e “O Monstro da Lagoa Negra”, o que não impediu ser homenageado no Festival de Cannes, confessando que “O Incrível Homem que Encolheu” foi o seu melhor trabalho e dele não mudaria um só plano, nem obrigado pelo estúdio. De fato o filme foge aos clichês, ganha uma profundidade incomum no cinema industrial da época e até seus efeitos especiais, no tempo em que não havia computador impressionam (os objetos foram edificados de forma a realçar a diferença de tamanho deles para o ator).
Há uma seqüência em que o personagem se aproxima de uma jovem anã de circo, período em que o processo de diminuição parece estacionar. Mas em um plano em que os dois são captados em um banco de praça ele percebe (e a perspectiva do ângulo demonstra isso) que está menor. Explode em gritos pela constatação do retorno do processo. Tudo isso em uma tomada. Há a impressão de angustia e ao mesmo tempo a vontade de prosseguir lutando “enquanto pode pensar”.
Um excelente filme, dos melhore exemplos desse tipo de fantasia, numa época em que se utilizava dela, primordialmente, para a propaganda com vistas à guerra fria entre EUA e URSS.
Cotação: ****(Excelente).

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

GUERRA AO TERROR











Nos créditos de abertura do filme “Guerra ao Terror” (The Hurt Locker/EUA,2009) há uma frase atribuída ao correspondente de guerra (a do Iraque) Chris Hedges, do “The New York Times”: “A guerra é uma droga”. Por suposto, o roteiro de Mark Boal, outro correspondente de guerra, é uma contradição. Acompanhando o sargento William James (Jeremy Renner) no desmonte de bombas nas ruas de Bagdá, o que se percebe é um herói norte-americano desafiando o perigo como tantos outros de ficção, vindo de outra guerra, a do Afeganistão, também patrocinada pelo governo de sua terra (W. Bush). Substitui em Bagdá um colega morto no desmonte de um desses petardos dispostos em lixeiras pelos resistentes à queda do regime de Saddan Hussein (que afinal não tinha as propaladas bombas de alto poder destrutivo, apregoadas pelos “técnicos” do governo norte-americano). James é frio, desobedece a chefias (a ponto de tirar o fone dos ouvidos em hora perigosa, para fugir ao chamado do colega) e segue o trajeto bélico sempre motivado. Volta para casa, nem que seja por pouco tempo.
O filme é de baixo custo, lucrou pouco na estréia e, em países como o Brasil, foi guinado de imediato ao DVD. Ascendeu no mercado ao vencer alguns prêmios no Festival de Veneza, inclusive o de direitos humanos, além de 52 outros e 50 indicações internacionais. Hoje é candidato a 9 Oscar, acompanha as indicações de “Avatar”, curiosamente um filme realizado pelo ex-marido da diretora Kathryn Bigelow, o campeão de bilheteria James Cameron.
A direção é competente, a fotografia de Barry Acroyd usa bem a locação na linha semidocumental, e a edição de Chris Innis e Bob Murawski imprime um ritmo angustiante, seguindo de perto as missões ousadas dos soldados, deixando a platéia atenta (ou em suspense) quando eles se defrontam com o perigo (e isto é quase sempre). Mas há um fator primordial que a presteza da forma endossa: a glorificação do guerreiro, e por continuidade, da guerra. Muitos analistas acharam que o filme se dispôs a mostrar os especialistas em desmonte de bombas numa ação que em tese é perigosa. Mas não há um só momento critico que justifique isso. Nem mesmo quando um dos soldados é ferido na perna e embarca no helicóptero de sua unidade retornando para casa. Este personagem acusa com veemência o colega que os levou à missão. Mas apesar de gritar que “odeia o deserto” não chega a dizer que odeia “ser o que é” (ou o que fizeram dele). A guerra está por trás da aventura, e os homens e mulheres que vivem no cenário da guerra surgem como distantes observadores dos fatos ou mesmo à espreita dos criadores de armadilhas para explodir os invasores do seu país.
Poucos filmes refletem com tanta veemência o problema do relacionamento entre forma e conteúdo. Na forma, “Guerra ao Terror”, ou, na tradução do original, ”O Armário da Dor”, é formalmente impecável. Um tema supostamente masculino por ser visto como “uma história de homens” sendo dirigindo por uma mulher não deixa de surpreender algumas pessoas. Reflete competência de quem está por trás das câmeras, contudo, o ufanismo escapa livre na simpatia que evoca o valente James. Jeremy Renner, ator de “O Assassinato de Jesse James”, está muito bem, digno de alguns prêmios ganhos. Um momento critico que seja fica diluído na ação intensa em pouco mais de duas horas e certamente não tediosas. Mesmo que no final mostre-se algum contraste, como o herói no supermercado visto em ângulo aberto (médio plano) entre prateleiras cheias de caixas de cereais, indeciso no simples ato de decidir, ou quando conversa com o filho bebê, mencionando a perspectiva do mundo quando aquela criança chegar à idade adulta. Esses momentos não acusam uma hesitação do bravo guerreiro. Ele faz o que sabe fazer e se acha bom no que faz. Por continuidade, ele propaga a imagem do americano valente, o arquétipo do “mocinho” que o próprio cinema edificou em anos de filmes & gêneros.
Curioso, também, o fato de o trabalho de Kathryn Bigelow contrastar com o de seu ex-marido. Em “Avatar”, o militar norte-americano é o vilão que ataca sem piedade uma população indefesa e ingênua. O modelo do conquistador sanguinário. Em “Guerra ao Terror”, não se discute a presença do militar fazendo o “dever de casa” num país que ficou exposto à guerra por conta de idiossincrasias da política externa do país. Ele obedece as ordens recebidas e se acha cumprindo um dever por convicção profissional. Na métrica de aventuras em geral, a minoria deixa de ser a estrela para ser a coadjuvante. Um contraste que merece a consideração de quem se apega ao poder das imagens sem discernir o que elas traduzem.
Cotação; Bom (***)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CINEMA DE CARNAVAL










O colonizador português nos trouxe o carnaval, por volta de 1750, nessa época chamado de “entrudo” ou intróito, visto que a comemoração começava no início da Quaresma. Ou “carne vale” herdado de outras culturas européias. Mas poucas coisas se nacionalizaram tão bem. Hoje o Brasil é conhecido internacionalmente como “o país do carnaval... e do futebol”. Naturalmente que a festa sofreu muitas mudanças com o tempo. Hoje é principalmente um espetáculo de atração turística. A participação do folião avulso, daquele que saía nas ruas “de sujo”, procurando uma alegria bem particular, também agregada a blocos improvisados, isto ficou no passado em que a violência urbana era bem menor. Talvez eu exemplifique um quadro local, e me veja nele. Mas as mudanças no carnaval estão explicitas nos filmes realizados para lançamento na época. No caso, as “chanchadas”, como os críticos brasileiros dos anos 50 chamavam o que era produzido ou pela Atlântida cinematográfica de Severiano Ribeiro ou pela concorrente Herbert Richers. Um gênero que surgiu um pouco antes, no “Alô Alô” da Cinédia, empresa do veterano Adhemar Gonzaga, títulos que emergiram no alvorecer do cinema falado e, por utilizarem artistas do rádio, ganharam títulos expressivos dos modos de falar radiofônicos (“Alô Alô Carnaval”(1936), “Alô Alô Brasil”(1935).
Esta semana a ACCPA, entidade dos críticos locais, re-exibe um clássico da comédia carnavalesca: “Aviso aos Navegantes”, de 1950. A escolha recaiu no fato do 60°aniversário da produção. E por ser um dos exemplos mais expressivos do gênero.
A fórmula desse tipo de filme era muito simples: havia uma história em que figuravam um herói do tipo galã, uma heroína que deveria unir beleza à agilidade para lidar com situações perigosas, um vilão com a indispensável “cara de mau” e um ou mais cômicos. No caso de “Aviso aos Navegantes”, todos os tipos reproduziam o que haviam explorado um ano antes em outro filme, “Carnaval no Fogo”, o maior sucesso dos estúdios da Atlântida carioca, e do diretor Watson Macedo. Como herói, o ator Anselmo Duarte (falecido ano passado aos 89 anos), protagonizava o imediato de um navio que circulava entre Buenos Aires e Rio de Janeiro (isto na época do carnaval); como heroína, Eliana Macedo (sobrinha do diretor e que assinava somente Eliana), representava uma cantora de teatro de revistas; o vilão era José Lewgoy, apontado como um “espião” sem causa ou fato explicativo plausível; os comediantes de apoio compunham-se da dupla Oscarito e Grande Otelo que, no anterior “Carnaval no Fogo” arrancou aplausos fazendo uma paródia de “Romeu e Julieta”. No caso de “Aviso...”, Oscarito representava um clandestino no navio onde se passa a história e Otelo, o cozinheiro de bordo que aproveita a descoberta do clandestino para ajudar nos afazeres, ou a escravizá-lo na faxina.
Correrias, gracejos reproduzindo ditos em moda e um romance eram mediados por números musicais, cuja atuação era de artistas populares do rádio contratados para lançarem o que gravariam para o próximo carnaval. A idéia era de que os nomes mais famosos dos programas radiofônicos (e discos, na época só de 78 rpm) transmitiriam o que seria mais cantado pela população. Poucas vezes essa perspectiva não era atendida. Quem, por exemplo, pensaria que Emilinha Borba cantando “Tomara que Chova”, não seria um sucesso dos bailes e dos blocos de rua?
Também fazia parte da chanchada as intercessões com a mescla de música erudita. O pianista Bené Nunes dava inicio a uma adaptação, por exemplo, de um clássico de Tchaikovsky para transformá-lo em samba. Seria o meio de atrair um tipo de platéia. Aliás, em entrevista, o diretor de cinema Carlos Manga citou a influência do modelo norte-americano de filme-musical: “- Eles tinham “Cantando na Chuva” nos tínhamos “Tomara que Chova”. E o modelo era quase sempre os musicais de Metro, lançados no Brasil nas salas que a empresa possuía em duas cidade do sudeste (Rio e São Paulo).
Esses filmes espelhavam a ingenuidade de um tempo. E falavam a língua de um cinema popular, usando a moda e fazendo a sua moda. Muitas “gags” de Oscarito ficavam nas falas dos adolescentes de então. E a verdade é que esses filmes lotavam os cinemas. Aqui em Belém havia filas imensas quando lançados. Como o dono da Atlântida, nesse período, era Luis Severiano Ribeiro Jr. o lançamento tinha um potencial enorme, pagando o seu custo e dando lucro. O bastante para o gênero durar por mais de 20 anos, até a inocência sumir na forma e conteúdo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

RARIDADES EM DVD









Para quem não brinca carnaval, ou deixa uma brecha na folia, o programa de filmes raros em DVD está promissor. É hora de conhecer clássicos mencionados nos livros básicos de história do cinema ou de rever títulos que deixaram forte impressão.
Dentre os lançamentos dos últimos dias a coluna destaca:
“O Amor” (L’Amore/Itália, 1947) dirigido por Roberto Rosselini, um dos ativadores do movimento neo-realista que marcou a cinematografia italiana depois da 2ª.Guerra Mundial. Contém dois curtas-metragens: “Uma Voz Humana” e “O Milagre”. No primeiro filme,a atriz veterana Ana Magnani executa um difícil monologo, ouvindo no telefone a voz de seu amante e tentando reconstruir um relacionamento em ruínas. O roteiro é de Jean Cocteau, poeta e cineasta (diretor de “A Bela e a Fera”). No segundo, Federico Fellini interpreta o papel de um camponês que ao cruzar o caminho de uma pastora dá-lhe uma boa dose do vinho de uma garrafa que carrega. Como ele usa um cajado, a mulher, muito religiosa, acha-o parecido com São José. Alcoolizada, não sabe ao certo para onde caminhou o personagem. Dias depois sabe-se grávida e é alijada pela vizinhança pudica que não aceita mãe solteira. Ela faz de tudo para ter a criança que acha ser Jesus Cristo. O roteiro é de Fellini e o lançamento do filme foi conturbado pela oposição da Igreja Católicaao enfoque.
“Crise” (Kris/Suécia, 1946) é o primeiro trabalho de Ingmar Bergman, grande cineasta sueco, na direção. Também é o seu segundo roteiro. De linguagem simples, procurando retratar o comportamento da população de uma cidade interiorana, ele segue uma jovem que anseia sair da província onde nasceu e ir para Estocolmo com a mãe, uma mulher de comportamento rejeitado pela pequena sociedade onde vivia surgindo nesse lugar depois de muitos anos, tempo em que deixou a filha aos cuidados de uma tia professora de piano. A linha melodramática é interrompida não só pelo cuidado na estrutura das personagens, procurando evitar os estereótipos, como pelo final que procura fugir do “happy end” tradicional. Ainda não demonstra o talento que Bergman apresentaria pouco depois, mas já é um forte prenúncio do diretor inteligente de obra primas como “Persona” e ”Gritos e Sussurros”.
“Na Teia do Destino” (The Reckless Moment/EUA,1949) é um dos bons filmes que o diretor francês Max Ophuls (de “Carta de uma Desconhecida”) realizou nos EUA. Na linha “noir” evidenciada pela fotografia de Oswald Morris, aborda um caso de chantagem em que a vitima é uma mulher cujo marido está viajando e o alvo é a filha dela, vulnerável diante da morte misteriosa do namorado. Joan Bennett, na época esposa do produtor Walter Wanger, protagoniza o principal papel. Como um dos chantagistas está James Mason. Todos bem colocados num clima que a imagem trabalha através da boa colocação do contraste claro-e-escuro. O tipo de filme que não envelhece e chega a qualquer platéia.
“Viver por Viver” (Vivre Pour Vivre/França, 1975) evidencia a paixão do diretor-roteirista Claude Lelouch pela fotografia. Ele se esmera nas filmagens em locação e na inserção de documentário que ajudam na amostragem do que ambiente em que circula o personagem interpretado por Yves Montand (um jornalista que cobre guerras em diversas partes do mundo). Contrapondo os planos de violência explicita vê-se a instabilidade emocional do tipo, casado com uma pessoa (Annie Girardot) que tenta compreende-lo ou perdoar, mas entrega-se a aventuras amorosas, especialmente com uma norte-americana (Candice Bergen). O filme é grandioso, mas extremamente vulnerável ao tempo. Foi candidato ao Oscar, recebeu o Globo de Ouro, mas simplesmente espelha a linhasexista de um cinema que (felizmente) já saiu de moda

DVDs MAIS LOCADOS

1. 500) Dias com Ela
2. Bastardos Inglórios
3. This Is It
4. Terror na Antártida
5. Se Beber, Não Case
6. Adam
7. A Órfã
8. Substitutos
9. Os Feiticeiros de Waverly Place - O Filme
10. Vingança entre Assassinos

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

HITCHCOCK EM 2 TEMPOS – II

















Houve certa resistência do diretor inglês para adaptar-se ao sistema de Hollywood onde o produtor é o “dono do negócio”. Assistiu aos cortes de edição em “Rebeca” não aprovados de imediato. Teve de refazer seqüências. Ao ganhar o Oscar principal do ano, a estatueta foi entregue ao produtor enquanto o diretor, na platéia, assistia a cerimônia como um simples espectador. “Suspeita”(Suspicion/1941), premiou com o Oscar a atriz Joan Fontaine preterida por “Rebeca”.
Mas o próprio diretor saudou o cinema norte-americano pela qualidade técnica, ao dizer: “Não quero que o enredo subordine-se à técnica. Adapto a técnica ao enredo. Um belo ângulo de tomada pode criar um efeito que satisfaça ao operador-chefe e mesmo ao diretor. Mas a questão é saber se, dramaticamente, esse plano é melhor maneira de contar a história”.
De “Rebecca”(1940) em diante (em Hollywood), até o menos conhecido “Um casal do Barulho”(Mr.and Mrs. Smith), de 1941, já é possível encontrar a maioria de seus filmes em locadoras ou lojas especializadas em discos digitais.
É comum apostar em Hitchcock como a certeza de se ver uma intriga policial bem urdida, com certa crueldade temperada com demonstração de humor. Mesmo numa fase em que a bilheteria ficou reduzida motivando uma reação do estúdio, houve melhor renda com “Marnie, Confissões de uma Ladra”, “A Cortina Rasgada” e “Topazio” (1964-1969. Contudo, “Frenesi”, de 1970, recuperou o prestigio do mestre e coincidentemente marcou seu retorno à Inglaterra.
O cineasta François Truffaut, um dos fundadores do movimento “nouvelle vague”, escreveu um livro fundamental sobre Hitchcock, fez coletando entrevistas minuciosas realizadas com o cineasta já em vias de se aposentar. Nesse livro há a opinião básica sobre uma obra exponencial: a do próprio autor. E Hitchcock conseguiu ser um autor dentro do cinema industrial norte-americano, sabidamente o que é totalmente manipulado pelos centros produtores, com o diretor, via de regra, afastado até da edição final de um filme.
Há de se considerar também a obra Hitchcockeana para a televisão. Durante dois anos manteve o programa “Alfred Hitchcock Presents”, entre nós intitulado “Suspense”. Essa serie foi reexibida ano passado através do canal TCM, do grupo Turner. O próprio produtor (e às vezes também diretor) apresentava os pequenos filmes, sempre apelando para a sua veia de comedia. Muitos títulos valem pela forma com que Hitch se tornava mestre de cerimônias: mostrou-se dentro de um caixão, ou atrás das grades. Desses curtas, alguns ganharam destaque digno da obra do cineasta, como o que trata de um marido que planeja matar a esposa e cava um fosso no porão da casa, medindo o tamanho para que adentre o corpo dizendo que a cova é uma adega.
Os críticos observam que Hitchcock nunca se deixou escravizar pelo realismo. Quando lançou uma de suas obras-primas, “Pacto Sinistro” (Strangers on a Train/1951) comentaram que a policia jamais atiraria no bandido no interior de um carrossel cheio de crianças. Hitchcock respondeu que a fantasia ajuda na condução de uma história. O que dizer do papel da namorada de James Stewart (Grace Kelly) investigando o apartamento onde Raymund Burr matara uma mulher? Há muitas coincidências que a construção do filme releva. Aos críticos nesse tom cabe “O Terceiro Tiro” (Trouble With Harry/1956) onde há um cadáver, vários possíveis criminosos (ou pessoas que gostariam de matar o personagem) mas não se sabe quem é o assassino e nem mesmo se houve assassinato.
Mas uma característica do cineasta ficou evidente: sua figura marcando cada filme criado, como um pintor que assina seu quadro. A rigor isto só é observado após “Suspeita”(1941). Em situações absurdas ele é visto: “Um Barco e Nove Destinos (Lifeboat/1943) colocou uma foto sua em recorte de jornal. Seu último trabalho, “Trama Macabra”(1976), sua silhueta é vista num cemitério. Amargo pressagio: morre quatro anos depois deixando um raro legado de filmes que são reapresentados sem deixar a impressão da passagem do tempo.

HITCHCOCK EM DOIS TEMPOS












O mercado brasileiro de DVD está lançando os primeiros filmes de Alfred Hitchcock (1899-1980), cineasta inglês que em carreira norte-americana conseguiu imprimir seu nome nas marquises dos cinemas à maneira de poucos colegas (como Frank Capra e John Ford) e ganhar a memória do público, mesmo em países de outros idiomas, como o nosso, onde normalmente seria difícil para quem não é muito ligado a cinema, lembrar um nome como o dele.
A divulgação mais regular dos filmes deste importante diretor levou-me a considerar a necessidade de rever a sua filmografia e as abordagens que fizeram dele um nome no cinema.
Hitchcock fez 23 filmes em Londres sendo 10 ainda na fase do cinema mudo. O primeiro, “The Pleasure Garden”(1925) ainda não foi lançado, mas já podem ser encontrados, nas locadoras, os seguintes títulos: “O Inquilino”(The Lodger/1926), “O Ringue”(The Ring/1927), “A Mulher do Fazendeiro”(The Farmer’s Wife/1928), “Champagne”(1928) e “O Ilhéu”(lançado como “Pobre Pete”/ 1929) dessa primeira fase, evidenciando o tempo em que o som nas salas escuras era da orquestra que ficava sob a tela acompanhando as imagens.
É interessante observar que nesses filmes não se encontram os elementos que celebrariam o cineasta. A exceção é “The Lodger”(no Brasil “O Inquilino”, sem relação com o filme de Roman Polanski de anos depois), também conhecido como “A Story of the London Fog”(Uma História do Nevoeiro Londrino). Nessa obra, o argumento explora a caça a um “serial killer” que prefere mulheres louras, facilmente identificado com Jack O Estripador, e que se hospeda numa casa onde a proprietária é loura. Com uma fotografia expressionista de Gaetano di Ventimiglia (assinando Baron Ventimiglia) e Hal Young (sem crédito) adapta, com Elliot Stannard, uma novela de Marie Belloc Lowndes. Impressiona pelo modo como a imagem sombria disserta sobre o comportamento do personagem, com economia de diálogos e ausência de texto explicativo.
O comum nos filmes da fase muda de Hithcock é evidenciar o melodrama. Em “Ringue” como em “O Ilhéu” esta característica é bem evidenciada na formação de um triangulo amoroso. Nesses casos, o final quer expressar que o amor está acima da ética, ou do comportamento padrão da sociedade do tempo. É assim que o personagem do “boxeur”(do primeiro filme) aceita a esposa infiel e o pescador (do segundo) se conforma com o abandono da mulher trocando-o pelo seu melhor amigo.
É vislumbrado um teor cômico nos primeiros trabalhos do diretor. “A Mulher do Fazendeiro” é uma comédia com toques rudes que ridiculariza o comportamento de mulheres de uma classe social. Há detalhes que chocam em termos de preconceito. Em “O Ringue” há também uma cena que focaliza um parque de diversões onde um negro serve de alvo para atiradores de doces.
Nos primeiros filmes falados, Hitchcock assumiria o interesse pelas histórias policiais. Conferir: “Chantagem e Confissão” (Blackmail/1929), “Assassinato”(Murder/1929), O Mistério no nº 17”(Number Seventeen), “O Homem que Sabia Demais” (The Man Who Knew Tôo Much/ 1934), “Os 39 Degraus”(The 39 Steps/1935), “O Agente Secreto”(The Secret Agent/1936), “O Marido Era o Culpado”(Sabotage/1936) e “A Dama Oculta”(The Lady Vanishes/1938). Esse painel interessou o produtor norte-americano David O. Selznich (de “...E O Vento Levou”) que chamou o cineasta para Hollywood afim de realizar “Rebeca, A Mulher Inesquecível”(Rebecca/1940) adaptação de um conhecido romance de Daphne du Maurier.
Houve certa resistência do diretor inglês para adaptar-se ao sistema de Hollywood onde o produtor é o “dono do negócio”. Assistiu aos cortes de edição nesse filme não aprovados de imediato. Teve de refazer seqüências. Ao ganhar o Oscar principal do ano, a estatueta foi entregue ao produtor enquanto o diretor, na platéia, assistia a cerimônia como um simples espectador.
O contrato com Selznick implicaria em pelo menos mais um trabalho. “Suspeita”(Suspicion/1941) premiou com o Oscar à atriz Joan Fontaine que havia sido preterida por “Rebeca”.
Mas o próprio diretor saudou o cinema norte-americano pela qualidade técnica, ao dizer: “Não quero que o enredo subordine-se à técnica. Adapto a técnica ao enredo. Um belo ângulo de tomada pode criar um efeito que satisfaça ao operador-chefe e mesmo ao diretor. Mas a questão é saber se, dramaticamente, esse plano é melhor maneira de contar a história”.
Volto ao assunto.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

FRANQUIAS NO CINEMA

















“Premonição 4” é mais um exemplar das franquias usadas pelo cinema. A fórmula não é nova e se baseia na preferência do público. A cada dia o possível espectador/a defronta-se com pelo menos uma franquia nas telas de sua cidade. Hoje, por exemplo, encontram-se além de “Premonição 4”, a animação “Alvim e os Esquilos 2” e ainda “High School Musical-O Desafio”, este variando no fato de ter sido realizado em território nacional (é a versão musical da série que a Disney edita e lança nos mercados de cinema e vídeo). Outras franquias testam a persistência do gosto da platéia. Raras vezes uma delas ganha a dimensão de obra adulta, digna de aplausos. O caso de “Batman, o Cavaleiro das Trevas”. E se considerarmos a trilogia “O Poderoso Chefão” podemos eleger o número 2, embora, a rigor, seja uma extensão do primeiro filme.
O critico diante das franquias comerciais comuns é um estranho no ninho. O que dizer, por exemplo, deste novo “Premonição” onde a trama repousa num novo presságio do herói e numa nova revanche da morte? O interessante é que essas franquias muitas vezes se reciclam atropelando seus próprios enredos. A exemplo, “Hora do Pesadelo” e “Sexta Feira 13” em que o vilão pode até morrer, mas não demora a retornar. Roteiristas são contratados para criar uma “ressurreição” viável, capaz de driblar quem, obviamente, quer ser enganado. O mesmo se diz com “Jogos Mortais”. A rigor, a série já teria acabado posto que o assassino psicopata já saiu de cena. Mas há sempre o rastilho de um a herança. E chegam herdeiros do personagem, tão perversos quanto ele.
Quem assistiu a “Barton Fink, Delirios de Hollywood” (quem ainda não viu se prepare para vê-lo no dia 23, no Cine Clube Pedro Veriano) aprende que a maquina produtora de filmes similares é muito antiga. No roteiro dessa obra de 1991, dos irmãos Coen, um escritor premiado aceita um vultoso contrato com um estúdio de cinema, na década de 30, e vai para Hollywood disposto a “revolucionar” o meio. Ledo engano: lá chegando ganha um pequeno escritório, uma antiga máquina de escrever, e ordens de imaginar uma história para determinado ator. O chefe do estúdio quer que seja criado um filme para o intérprete, na época do chamado “star system” em que muita gente habituara-se a ir ao cinema para ver o protagonista. Não interessa que a pessoa indicada para escrever a trama seja um intelectual festejado (William Faulkner entrou nesse esquema). No filme dos Coen, o roteirista trabalha olhando para um quadro em que se vê uma praia. Para ele é a fuga. Pensa em sair dali, em ganhar uma liberdade que sufocou assinando um pacto que lhe pode gerar prejuízos e não lucro.
Esse mecanismo pouco mudou na industria cinematográfica moderna. Hoje, o processo de construção de filmes é ainda mais especifico, baseando-se em pesquisas feitas nos computadores. Lembro de um fato: antes, e em especial no tempo em que chefiei o escritório da Embrafilme na região (anos 70), os exibidores preenchiam “borderôs” dos filmes contratados e enviavam esses relatórios para a distribuidora. Eram modelos impressos que o dono do cinema relatava a situação do filme. Hoje cada ingresso tem um código de barras e na entrada da sala de exibição ele é contabilizado diretamente para o dono do filme e o escritório central do circuito exibidor. Quer dizer: hoje se sabe em Los Angeles quantas pessoas assistiram “Avatar” em Belém do Pará. A contabilidade é mais ágil e aparentemente mais segura (para os donos da mercadoria).
As franquias são, portanto, o exemplo cristalino da ditadura do público. Aqueles filmes que alguns ainda agora chamam “de arte”, podem até ser contratados por preço fixo. Para o distribuidor é mais negócio. Ele sabe que o produto não é atrativo, que a sua capacidade de renda fica restrita aos intelectuais, sendo melhor pegar o certo (preço fixo) do que o duvidoso (borderô, valendo a cobrança por um percentual de venda de ingresso).
Como se vê, cinema é indústria, é mercado, é um negócio feito para dar lucro. É claro que as salas exibidoras gastam muito. Mas os distribuidores estrangeiros já colocam o seu produto em uma “praça” como a nossa, com as despesas pagas. Nesse meio de vida, quem analisa um filme seja através de sua forma bem ou mal cuidada, seja de sua temática bem ou mal explorada, fica seguindo o “passo doble” da própria produção. É repetir o que já escreveu, é cotar por baixo o que já cotou, é bancar Diógenes com a lanterna atrás de uma novidade alvissareira.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

ABRAÇOS PARTIDOS


















Pedro Almodóvar é hoje o mais conhecido cineasta espanhol. Não se pode dizer que tenha sucedido a Luis Buñuel posto que a obra de cada um é bastante especifica (a começar com o fato de que Buñuel criou-se no movimento surrealista que explodiu na Europa dos anos 20/30). Além disso, Almodóvar insere nas suas obras uma característica bem latina que é o melodrama. Se isso não era percebido em seus primeiros trabalhos, muitas comédias que se aproveitavam da liberdade de expressão surgida no cinema depois da ditadura Franco, nos títulos mais novos encontra-se bastante o modo peculiar de abordar histórias que se dirigem primeiramente ao coração (depois à cabeça).
“Abraços Partidos”(Los Abrazos Rotos/Espanha, 2009) é um típico melo de características latinas. Trata de um roteirista que ficou cego e por isso deixou ao meio o trabalho que englobava a direção de um filme. A cegueira foi em conseqüência de um desastre em que perdeu a vida, por estar com ele em um momento de amor, a jovem que seria a atriz desse filme, Lena (Penélope Cruz).
Entre o drama que atingiu o casal, corre a trama de um magnata da indústria, Ernesto Martel (José Luis Gómez), apaixonado por Lena apesar de saber da diferença de idades e do fato de ela ser “garota de aluguel”. Esta paixão leva-o aos limites violentos, começando por jogar a jovem da escada de sua residência, obrigando-a a trabalhar de muletas, ora aceitando a idéia de que seria melhor que ela morresse ao invés de perdê-la para o cineasta Mateo Blanco que depois de ficar cego resolve chamar-se Harry Craine (Luís Homer). Entre essas figuras estão, em papéis destacados, o filho de Ernesto, afinal o idealizador do desastre (que se sabe provocado), a secretária deste e o filho dela, personagem que vai ter papel destacado no prosseguimento da história.
O enredo melodramático esconde uma observação profunda que parte de uma seqüência. É quando Mateo, ou Harry, pede para uma mulher que o descreva (ele não vê). A câmera é encarregada de dizer como são os seus olhos, o seu rosto por inteiro, enfim, as suas características físicas. Esta base serve para se adentrar nas características psicológicas que serão avaliadas na inclusão dos fatos que deram origem ao drama. Nesse ponto incluem-se algumas lembranças de filmes anteriores de Almodóvar, como o papel do aparentemente tímido enfermeiro revelado o estuprador da mulher em coma, ou a postura de fantasma exercida pela mãe da principal figura feminina de “Volver”.
É interessante observar também que Almodóvar não faz cinema hermético, não procura utilizar-se de meandros de linguagem que limitem o acompanhamento superficial da platéia. Tratando deste “Abraços Partidos” há quem veja um pouco de Hitchcock. Pode-se ver muito dos mestres norte-americanos do passado. E ainda há um pouco de compatriotas do cineasta, como Victor Erice de “O Espírito da Colméia”, ou mesmo de Carlos Saura de “Cria Cuervos”.
“Abrazos Rotos” é um filme que deve ser visto. Ainda bem que chegou por aqui, pois não esta na pretensão do exibidor seu lançamento entre nós, passando a fazer parte do ilustre grupo que nos alcança em DVD.
Cotação: **** (Muito Bom)

CANDIATOS A OSCAR
Como um prêmio da indústria para a indústria é quase certo que “Avatar” ganhe o Oscar de melhor filme este ano. A produção de James Cameron inovou na técnica, deu boa rentabilidade na bilheteria, tem levado uma platéia significativa para o cinema. Naturalmente o diretor premiado será outra vez (pois aconteceu com “Titanic”) Cameron. O ator Jeff Bridges está nas apostas, mas ainda não vi o seu aplaudido “Crazy Heart”. A atriz, por favor, que não seja a veterana Meryl Streep por “Julie & Julia”. Ela nunca esteve tão ruim. O roteiro de “Amor sem Escalas” merece (até pelo diálogo inteligente). E em se tratando de animação não há páreo para “Up”, um excelente filme da PIXAR.
Nas indicações, está ausente Nicolas Cage, por “Vicio Frenético”, uma pena . E como filme estrangeiro aposto em “Fita Branca”, outra obra-prima de Michael Haneke, o diretor de “Cachê”.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

GRANDES ESPERANÇAS

















Duas obras de Charles Dickens ganharam excelentes versões cinematográficas pelas mãos de David Lean (1908-1991): “Grandes Esperanças” (1947) e “Oliver Twist” (1948). Nelas o diretor soube não só traduzir em imagens a época da ação registrada nos livros como usar elencos que procuraram captar as características das personagens. Esta semana o público de Belém vai poder ver ou rever “Grandes Esperanças”, para muitos o melhor filme realizado até hoje de uma rica fonte literária (mesmo considerando as obras de Shakespeare já adaptadas para a tela).
Até mesmo os que ainda não leram Charles Dickens irão se interessar pelo enfoque dado à história do garoto Philip Pirip ou Pip (John Mills), aterrorizado ao se deparar com fugitivos de uma colônia penal, especialmente um deles, Abel Magwitch (Finlay Currie) que se diz faminto e a quem o menino alimenta. Esta figura vai aparecer na vida de Pip muitos anos depois, sendo o grande benfeitor de sua carreira na aristocracia londrina, retribuindo-o com grandes somas de dinheiro, embora este detalhe seja considerado pelo então jovem como uma benfeitoria de outra pessoa.
O filme reuniu atores competentes como John Mills (pai de Juliette Mils), Alec Guiness (bem jovem), Valerie Hobson, Bernard Miles, Francis L. Sullivan, Finlay Curie, Martita Hunt, Freda Jackson e George Hays como um dos fugitivos. A atmosfera lúgubre da Londres do século XIX é conseguida através da fotografia de Guy Green, que seria mais tarde diretor, e a direção de arte de John Bryan. O livro de onde foi adaptado o roteiro, foi inicialmente publicado no All the Year Round, entre dezembro de 1860 a agosto de 1861. A adaptação soube adensar o texto original, trabalho de Ronald Neame, outro que se tornaria um diretor muito solicitado do cinema inglês (e ainda vivo, com mais de 90 anos), Kay Walsh, Cecil MacGivern e do próprio diretor David Lean.
A justificação da reprise deste filme, como se isto fosse preciso em se tratando de uma obra clássica é a presença de Jean Simmons, aos 17 anos, a atriz de tantos títulos marcantes que no ano seguinte seria escolhida por Laurence Olivier, para interpretar a figura de Ofélia de sua versão de “Hamlet”. Essa atriz protagoniza Estella, a jovem que desperta a paixão do tímido Pip. Como se sabe, Simmons faleceu no final deste janeiro vitimada por um câncer no pulmão. Ainda participou de um filme em 2009, e na sua filmografia composta de 96 títulos, estão sucessos de critica e de publico como “Narciso Negro”(1947),”Alma em Pânico”(1949) de Otto Premminger (onde usava de sua imagem cândida para interpretar uma vilã astuta e impiedosa),”Angustia de uma Alma”(1950),“Androcles e o Leão” (1952, da peça de Bernard Shaw), “O Manto Sagrado”(1954, primeiro filme em cinemascope),”Eles e Elas”(1955, onde fazia um dueto com Marlon Brando), “Entre Deus e o Pecado”(1960), “Spartacus”(1960),”e “Almas em Leilão”(1965). A atriz também participou de muitas teleséries e filmes feitos especialmente para a TV, como uma versão de “Grandes Esperanças”.
O filme de David Lean estará no cinema Olympia durante esta semana, no horário de 18h30 com entrada franca.

SIMONAL
Somente agora assisti a “Simonal, Ninguém Sabe o Duro que Eu Dei” (Brasil/2009) de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal.
Vivenciei a época em que Wilson Simonal se constituía em um ídolo de uma faixa da chamada jovem guarda. Talvez tivesse o mesmo prestigio da turma de Roberto e Erasmo Carlos. Um brilho que durou até o inicio dos anos 70 quando a mídia começou a circular certas histórias de que ele era um membro da “linha dura” do governo militar, prestigiado pelo pessoal do DOPS e, por continuidade, um “dedo duro” a delatar quem se opusesse ao regime. A queda, por isso, foi brusca. Logo Simonal virou sinônimo de “mau caráter”. Morreu de cirrose hepática, devido ao alcoolismo a que se entregou nesse período de ostracismo da carreira, e por mais que tentasse desfazer a trama maléfica, as desídias da mídia já tinham perpetrado seu efeito.
O documentário expõe muito bem os fatos. Depoimentos defendem ou se colocam numa posição intermediária. O mais veemente defensor do artista é Chico Anysio. Também contribuem para outra versão da situação colegas e jornalistas. Como Tony Tornado, Arthur da Távola, Miéle, Ricardo Cravo Albim, Sérgio Cabral, Jaguar, Castrinho, e outros. Os dois filhos e a companheira de Simonal também registram partes de sua vida de sucesso e de queda.
Uma peça muito interessante para historiadores não só da MPB, mas do Brasil em um tempo.