quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

GRANDES ESPERANÇAS

















Duas obras de Charles Dickens ganharam excelentes versões cinematográficas pelas mãos de David Lean (1908-1991): “Grandes Esperanças” (1947) e “Oliver Twist” (1948). Nelas o diretor soube não só traduzir em imagens a época da ação registrada nos livros como usar elencos que procuraram captar as características das personagens. Esta semana o público de Belém vai poder ver ou rever “Grandes Esperanças”, para muitos o melhor filme realizado até hoje de uma rica fonte literária (mesmo considerando as obras de Shakespeare já adaptadas para a tela).
Até mesmo os que ainda não leram Charles Dickens irão se interessar pelo enfoque dado à história do garoto Philip Pirip ou Pip (John Mills), aterrorizado ao se deparar com fugitivos de uma colônia penal, especialmente um deles, Abel Magwitch (Finlay Currie) que se diz faminto e a quem o menino alimenta. Esta figura vai aparecer na vida de Pip muitos anos depois, sendo o grande benfeitor de sua carreira na aristocracia londrina, retribuindo-o com grandes somas de dinheiro, embora este detalhe seja considerado pelo então jovem como uma benfeitoria de outra pessoa.
O filme reuniu atores competentes como John Mills (pai de Juliette Mils), Alec Guiness (bem jovem), Valerie Hobson, Bernard Miles, Francis L. Sullivan, Finlay Curie, Martita Hunt, Freda Jackson e George Hays como um dos fugitivos. A atmosfera lúgubre da Londres do século XIX é conseguida através da fotografia de Guy Green, que seria mais tarde diretor, e a direção de arte de John Bryan. O livro de onde foi adaptado o roteiro, foi inicialmente publicado no All the Year Round, entre dezembro de 1860 a agosto de 1861. A adaptação soube adensar o texto original, trabalho de Ronald Neame, outro que se tornaria um diretor muito solicitado do cinema inglês (e ainda vivo, com mais de 90 anos), Kay Walsh, Cecil MacGivern e do próprio diretor David Lean.
A justificação da reprise deste filme, como se isto fosse preciso em se tratando de uma obra clássica é a presença de Jean Simmons, aos 17 anos, a atriz de tantos títulos marcantes que no ano seguinte seria escolhida por Laurence Olivier, para interpretar a figura de Ofélia de sua versão de “Hamlet”. Essa atriz protagoniza Estella, a jovem que desperta a paixão do tímido Pip. Como se sabe, Simmons faleceu no final deste janeiro vitimada por um câncer no pulmão. Ainda participou de um filme em 2009, e na sua filmografia composta de 96 títulos, estão sucessos de critica e de publico como “Narciso Negro”(1947),”Alma em Pânico”(1949) de Otto Premminger (onde usava de sua imagem cândida para interpretar uma vilã astuta e impiedosa),”Angustia de uma Alma”(1950),“Androcles e o Leão” (1952, da peça de Bernard Shaw), “O Manto Sagrado”(1954, primeiro filme em cinemascope),”Eles e Elas”(1955, onde fazia um dueto com Marlon Brando), “Entre Deus e o Pecado”(1960), “Spartacus”(1960),”e “Almas em Leilão”(1965). A atriz também participou de muitas teleséries e filmes feitos especialmente para a TV, como uma versão de “Grandes Esperanças”.
O filme de David Lean estará no cinema Olympia durante esta semana, no horário de 18h30 com entrada franca.

SIMONAL
Somente agora assisti a “Simonal, Ninguém Sabe o Duro que Eu Dei” (Brasil/2009) de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal.
Vivenciei a época em que Wilson Simonal se constituía em um ídolo de uma faixa da chamada jovem guarda. Talvez tivesse o mesmo prestigio da turma de Roberto e Erasmo Carlos. Um brilho que durou até o inicio dos anos 70 quando a mídia começou a circular certas histórias de que ele era um membro da “linha dura” do governo militar, prestigiado pelo pessoal do DOPS e, por continuidade, um “dedo duro” a delatar quem se opusesse ao regime. A queda, por isso, foi brusca. Logo Simonal virou sinônimo de “mau caráter”. Morreu de cirrose hepática, devido ao alcoolismo a que se entregou nesse período de ostracismo da carreira, e por mais que tentasse desfazer a trama maléfica, as desídias da mídia já tinham perpetrado seu efeito.
O documentário expõe muito bem os fatos. Depoimentos defendem ou se colocam numa posição intermediária. O mais veemente defensor do artista é Chico Anysio. Também contribuem para outra versão da situação colegas e jornalistas. Como Tony Tornado, Arthur da Távola, Miéle, Ricardo Cravo Albim, Sérgio Cabral, Jaguar, Castrinho, e outros. Os dois filhos e a companheira de Simonal também registram partes de sua vida de sucesso e de queda.
Uma peça muito interessante para historiadores não só da MPB, mas do Brasil em um tempo.

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