Umay (Sibel Kelilli) em "A estrangeira". Imperdível.
Uma
sociedade patriarcal e assutadoramente opressora e violenta é o que mostra e
vai a fundo a exposição de comportamentos e atitudes familiares do filme “A
Estrangeira”(Die Fremde/Alemanha, 2010). No caso, uma família da Turquia, que
repele a filha Umay (Sibel Kelilli) por ter abandonado o marido, não suportando
mais a violência de que era alvo, levando consigo o filho de 5 anos para onde
pensava estar segura, ou seja, o lugar onde morava. Acontece que o pai vê o
comportamento de Umay como “abandono do lar” e com isso mácula à sua honra,
repelindo sistematicamente a atitude da jovem que antes teria passado um tempo
na Alemanha onde perseguia um emprego. A sistemática opressão da família leva a
jovem e o filho a sairem de casa, passando a morar numa instituição beneficente
e de ajuda a mulheres que vivem em situação de violência doméstica. Mesmo assim,
Umay tenta por varias vezes retornar à casa dos pais sem que isso represente
uma mudança de atitude especialmente do lado masculino da familia, o pai e os dois
irmãos, embora a mãe compactue com as decisões do marido.
O filme é
o primeiro escrito e dirigido pela veterana atriz austríaca (34 títulos no
currículo) Fao Aladag. Numa linguagem direta, expondo um realismo que dá ao
conjunto um toque documental, ela vê na questão étnica, o processo cultural
castrador, com habilidade suficiente para sensibilizar os espectadores. É
difícil, mormente no meio ocidental cristão, ficar indiferente ao drama de Umay
e de seu pequeno Cem (Nizam Schiller). Andando com a criança no colo por
diversas moradas e ruas ela reflete um quadro de intolerância que espanta ao se
colocar no mundo moderno. Para os pais e irmãos é uma “prostituta”, começando
por sair de casa para o estrangeiro e culminando com o “desrespeito” ao “senhor
seu marido”, que deve ser obedecido mesmo que a ameace de morte.
Grande
parte do impacto que o filme gera, capaz de lhe dar 30 prêmios internacionais e
9 candidaturas, cabe ao elenco primoroso. A atriz Sybell é sempre alvo de
premiações. Sua protagonização como a jovem Umay é visceralmente convincente,
espelhando o horror de um meio que a oprime mesmo que viva perseguindo um
perdão ou um modo qualquer de ser aceita pela familia que muito ama.
“A
Estrangeira” é desses filmes homogêneos que não se pode retirar uma sequencia
como exemplo de excelência. Um todo extremamente funcional reproduz um drama
que circula muito bem entre o social e o introspectivo. Para uma estreia na
direção e no roteiro (a jovem cineasta só havia escrito antes um título para a
televisão) uma autêntica surpresa. Em alguns momentos do enfoque de prepotência
lembra clássicos como “Pai Patrão”, dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani e “A
Fita Branca”, de Michael Haneke, onde se vislumbrava a gênese do nazismo.
Inédito nos cinemas locais é um forte candidato à relação de melhores filmes
deste ano. Ponto para o Instituto Geoethe que está veiculando cópias no Brasil
e deu-nos a chance de assitir a uma delas agora, no Cine Olympia.
Creio que
os associados da ACCPA devem assistir a este filme, pois se trata de um
exemplar que sem dúvida estará entre os melhores do ano. Às colegas que tratam
da questão da violência doméstica contra a mulher também é um excelente meio
comparativo com a situação ocorrente no Brasil.
REGISTRO
Na semana
última faleceu em Recife o Sr. Antonio Silva, gerente da Columbia Pictures no
nordeste brasileiro, um amigo que muito ajudou o cinema de arte em Belém,
estando presente nas atividades do Cine Clube APCC e no I Festival do Cinema
Brasileiro de Belém em 1974. Deixou grande marca na exibição local de tempos
heroicos, divulgando até mesmo os seriados e os filmes B do estúdio que sempre o
prestigiou.
Silva,
como era conhecido, foi recrutado pelo exercito brasileiro participando da
2ª.Guerra Mundial e desde 1945 manteve-se agente da Columbia numa área do
Brasil. O primeiro filme que distribuiu foi “Gilda”, clássico com Rita
Hayworth. A ACCPA faré uma homenagem a ele e ao seu trabalho exibido esse filme
na Sessão Cinemateca do dia 12/05, do Olympia.
Aliás, o
amigo crítico Celso Marconi Lins (PE) num post no facebook confirmou a ajuda
que ele e o seu colega Fernando Spencer sempre receberam de Antonio Silva para
as sessões de arte que promoviam e achou justissima a nossa homenagem em Belém.