quinta-feira, 28 de abril de 2011

INVERNO DA ALMA








O cinema independente norte-americano procura quase sempre fugir dos estereótipos gerados pelos grandes estúdios. Na maioria dos casos aposta no realismo. Mesmo, porque supostamente tem menores custos por capturar ambientes cotidianos do que produzir uma falsa verdade ou cenários espetaculares. O caso do despojamento de grandes somas para a produção se acha em “Inverno da Alma” (Winter Bone/EUA,2010) que está em exibição no cinema local (no caso, no veterano Cinema Olympia, escolhido para comemorar o 99° aniversário dessa casa).
O roteiro e a direção cabem a Debra Granik cineasta que se revelou com “Down to the Bone”(EUA/2004) inédito por aqui, elogiada abordagem sobre uma jovem (Vera Farmiga) viciada em drogas, produção que recebeu prêmios e indicações pela qualidade do trabalho da diretora.


O termo “bone” (osso) volta na odisséia de outra personagem agora em “Inverno da Alma”, a jovem Ree (Jennifer Lawrence), vivendo com a mãe doente e tomando conta de um casal de irmãos menores. Filha de um traficante procura o pai misteriosamente sumido desde que saiu da prisão em liberdade condicional. A procura ganha maior dimensão, ou extrema necessidade, quando a policia cobra o pagamento da fiança que ele assumiu penhorando a pequena propriedade onde moram os familiares e os bens agregados.


As primeiras cenas, realçadas na bela fotografia de Michael McDonough a partir de imagens com câmera digital, mostram crianças brincando, um espaço bucólico, evocando uma aparente calma. Mas logo que surge Ree, e pela sua fisionomia se sabe que há problema, acentuando-se na hora em que vai pedir à vizinha que alimente um cavalo. E prossegue a exposição do que preocupa a jovem, mesmo quando ela passeia com os irmãos tomando-lhes lições de formação de palavras, de soletração e de números. Não demora a câmera focaliza o carro da policia chegando e o xerife expondo a situação em que se encontra formalmente a pequena fazenda. Onde estará Jessup, o pai que ninguém vê?


A busca segue pistas através de pessoas ligadas ao tráfico, como o tio e irmão de Jessop, “Teardrop”(John Hawkes, candidato ao Oscar de coadjuvante), mas só ganham subsidio na fala com Merab (Dale Dickey) esposa de um ex-parceiro do pai de Ree, que lhe aponta o lugar onde estão os restos mortais do desaparecido.
O ápice do drama imaginado pelo escritor Daniel Woodrell e roteirizado pela diretora e por Anne Rosselini, é quando a mocinha de 17 anos (Ree) vê cortarem as mãos do cadáver de seu pai para que essas sirvam de prova de sua morte e, conseqüentemente, da impossibilidade de ele quitar sua divida (e com isso salvar a casa da família). A iluminação e os closes da garota e sua companhia revelam a dimensão do fato, alimentados pelo ruído de uma serra elétrica.


“Inverno da Alma” lembra, até pela posição geográfica do argumento, outro filme independente que fez sucesso: “Rio Congelado” (Frozen River/EUA,2008) de Courtney Hun, ambientado na fronteira de New York com Quebec, a reserva indígena Mohawk. Há outra fronteira no filme de Debra Granik - entre dois estados de Missouri com Arkansas, nas montanhas de Ozark. O frio faz proceder ao titulo, e mesmo o que recebeu no Brasil, que amplia o clima sintonizando simbolicamente aos conflitos pessoais apresentados.


Como Ree, Jennifer Lawrence, com apenas um ano a mais da sua personagem na época, é a grande revelação do elenco. Foi candidata ao Oscar de melhor atriz, sendo vencida por Natalie Portman. Mesmo não desprezando maquilagem ainda assim deixa que se vislumbre detalhes como o machucado no rosto que persiste em planos posteriores (normalmente deixa-se de lado essas situações numa narrativa tradicional). O filme foi premiado em Sundance e Berlim.


O último plano, dos irmãos abraçados e Ree prometendo fidelidade à essa união, é um toque poético que intensifica a admiração por este filme simples e bonito. Programa imperdível.


terça-feira, 26 de abril de 2011

O QUARTO HOMEM








Nas escolas norte-americanas, cenário que o cinema elegeu ultimamente em suas representações nos enredos dos filmes, não freqüentam apenas os vampiros imaginados pela escritora Stephanie Meyer. Há também seres de outro planeta. Pelo menos é o que imagina Jobie Hughes e James Frey em um livro e Alfred Gough, Milles Millar e Marty Nixon em um roteiro que o produtor Michael Bay e a Dream Works de Steven Spielbeg ( a agora Disney) apresentou para o cineasta D.J.Caruso (“Paranoia”, “Tudo por Dinheiro”) dirigir: “Eu Sou o Número 4” (I Am Number 4/EUA,2011).

No argumento, John (Alex Pettyfer) é originário de um planeta distante e um dos opositores aos megadons, seres que provocaram uma guerra nesse mundo com vistas a uma ditadura sangrenta. Ele e um grupo vierem para a Terra. A sequencia inicial do filme explora a visão do globo terrestre sendo gradativamente aproximado como se a câmera estivesse na espaçonave que trouxe os ETs. No nosso mundo os viajores começam a ser perseguidos e exterminados. Nas cenas subsequentes observa-se o exterminio de 3 elementos. O numero 4 ainda não foi encontrado e é protegido por um guardião específico, Henri (Tymothy Olyphant). Trocando sempre de cidade e de lugar de estudos, o jovem decide matricular-se novamente em uma nova escola mesmo com o tutor alertando para o perigo que isso pode acarretar. E então começa a ser hostilizado por colegas que praticam esportes que ele jamais fez devido a alguns dotes que passa a projetar. E conhece Sarah (Dianna Agron), uma colega que lhe dá atenção e não se impressiona ao saber que o namorado “não é deste mundo”. Da mesma forma ganha a amizade de Sam (Callam McAuliff) um colega que não só acredita em ETs como presenciou o sequestro de seu pai por um disco voador.

Essa trama ganha corpo e tensiona o ambiente quando os inimigos de John aparecem e para defender o jovem surge a “Número Seis”(Teresa Palmer), uma ET interessada em eliminar a força dos inimigos (é a quota da super-mulher que tem sido mostrada, atualmente, em todo filme de ação).

Observem como se manipulam recursos capazes de gerar bilheteria: o enfoque em uma “high school” lembra a série “Crepúsculo”. O fato de o candidato a herói ser superdotado (ele aos poucos adquire certas qualidades como a de suas mãos emitirem raios que afetam os elementos ambientes) incorpora a imagem dos vampiros e lobisomens da franquia citada. O romance com uma estudante comum é o modo de instigar o gosto de adolescentes para a simpatia ao tipo de filme, apelando para um efeito mimético que tem base em sonhos. A batalha dos extraterrenos, com um cão transformado em monstro para lutar com outro monstro moldado pelos alienígenas é motivo para a enxurrada de efeitos especiais. E o final é sugestivo de uma continuação. Não as sabe se a bilheteria de agora estimulou a isso. O filme não foi o “blockbuster” esperado embora se mantivesse por duas semanas no “Box Office”(mas não em primeiro lugar).

Não conheço o original literário e por isso não sei se os autores quiseram tratar com alguma profundidade o tipo do estudante “diferente”, do rapaz que é alijado de grupos dominantes em turmas diversas e por isso passe a sofrer trauma (ou mesmo bullying). Se o filme desse alguma pista dessa preocupação estaria adentrando em casos atuais até mesmo em nosso país. Mas o que se vê não suporta qualquer análise. A narrativa ágil lembra os jogos digitais, os tipos são de quadrinhos modernos, tudo se enquadra no estereotipo do mocinho e do vilão que saltam do natural ao sobrenatural como se esse parâmetro estivesse no meio ambiente tradicional.

O cinema industrial & comercial explora atualmente um circulo vicioso que ele mesmo criou. Esse grupo de empresários sabe que a juventude tende a gostar de um tipo de enredo, cria esse tipo e, obviamente, a mesma juventude vai assistir na tela grande (se possível em 3D) gerando renda que moverá o círculo para continuar gerando divisas. Pensar que há alguma coisa, além disso, é querer ver demais.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

LÁGRIMAS DE FELICIDADE





Apesar de o diretor Mitchell Lightenstein ter sido candidato a um Urso de Ouro no Festival de Berlim pelo filme que escreveu e dirigiu, “Happy Tears”(Lágrimas de Felicidade, 2009), este só chega ao nosso mercado em DVD. E não se diga que é frontalmente anticomercial. É mais uma avaliação dos distribuidores e exibidores que limitam seus lançamentos a blockbusters e similares visando uma plateia média e uma renda de bilheteria farta.
O filme aborda a vivência de uma família de classe média composta de pai e duas filhas, o primeiro sofrendo de esclere e com outras doenças que fazem prever pouco tempo de vida. Laura (Demi Moore), a filha de menos recursos chama a irmã Jayne (Parker Posey), que mora em outro estado, para ajudá-la no tratamento do idoso. Isto porque a enfermeira contratada para isso, Shelley (Ellen Barkin) não é confiável, sendo logo reconhecido pelas filhas que nem é enfermeira formada. A presença da irmã traz mais problemas do que propriamente ajuda. Desejando engravidar e tendo um companheiro com problemas de família (o pai depois de morto revelou-se desonesto), tenta mudar o cenário incentivando o rapaz, um promissor artista plástico. Mas o velho pai, Joe (Rip Torn), polariza as atenções, incentivando a todos sobre um tesouro enterrado no quintal da casa onde moram e que vai deixar para as filhas quando morrer. Mas Laura precisa de dinheiro até para manter o pai ou mesmo mandá-lo para um asilo.

Personagens periféricas e situações que cercam as moças e as fazem lembrar o tempo de criança formam um caleidoscópio de imagens muito bem trabalhadas, especialmente na condução do elenco. O filme é excelente no que se refere ás interpretações. O veterano Rip Torn teve passagem por escândalos devido a drogas, mas recuperou o prestigio nesse difícil tipo que incorpora. Parker Posey brilha como a mais nova das irmãs. E tanto Demi Moore, aqui longe de sua posição em comédias românticas, assim como Ellen Barkin, merecem aplausos. Por este grupo de intérpretes o filme salta de um uma história limitada à margem do melodrama para um quadro social em que se defrontam valores e figuras críveis – gerações, relacionamentos, solidariedade – tornando-se, por isso mesmo, cativante. Um filme muito interessante.

Entre os lançamentos em DVD está o incrível “Serenata”(Serenade/EUA,1956) de Anthony Mann. O bom diretor de westerns estava, na época, casado com a atriz-cantora espanhola Sarita Montiel e colocou-a como a garota que vai mudar o comportamento apaixonado do tenor vivido por Mario Lanza, desesperado de amor pela milionária interpretada, com alguma classe, por Joan Fontaine.
Lanza canta trechos de opera e algumas músicas populares. Mas nunca foi ator em sua vida. E neste filme está muito abaixo de outro filme seu conhecido, “O Grande Caruso”, onde foi lançado a intérprete dramático pela indústria cinematográfica norte-americana.

“Serenata” tem todos os elementos medíocres que são possiveis juntar nos melodramas do passado. Tão desclassificado do que certas produções que Sarita Montiel protagonizou ao retornar à sua terra natal, ganhando fama com “La Violetera” (1958)

Muito bom mesmo é “O Homem da Cabeça Raspada”(De Man die Zijn haar Kort Liet Knippen/Alemanha, 1966). O diretor francês André Dulvaux consegue transmitir o drama do personagem descrito no primeiro livro do escritor belga Johan Daisne (outro foi “Un Soir, Um Train” que o mesmo diretor filmou e no Brasil tomou o título de “Laços Eternos”, 1968). Diz-se que o personagem Professor Mato (Hector Camerlynk) tem traços biográficos de Daisne. É um homem simples, casado, com dois filhos, que se apaixona loucamente por uma aluna, Fran (Beata Tyszkiewicz). O ator está excelente no papel e o roteiro conserva o teor literário sem que isso prejudique o andamento dramático (ao contrário, enaltece). Inédito nos cinemas brasileiros. Veja sem falta.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)



1. Harry Potter e as Relíquias da Morte - Pt. 1
2. Enrolados
3.Machete
4.72 Horas
5. Crônicas de Nárnia - A Viagem do Peregrino
6. Jackass 3D
7. Ladrões
8. Senna
9. Tron - O Legado
10.Corrida Mortal 2






quinta-feira, 21 de abril de 2011

OLYMPIA 99 - UMA HISTÓRIA DE BELÉM













No próximo domingo (24) o cinema Olympia completa 99 anos. As pesquisas apontam para um recorde pelo menos nacional de sobrevivência histórica de um patrimonio cinematográfico, considerando-se que ele jamais mudou o nome, não saiu do lugar, não cessou as suas atividades por mais de um ano e mantém o mesmo recinto construído (ou “caixa construída”). Em se tratando de cinema, obviamente, sofreu várias reformas para se adaptar as conquista tecnológicas dessa arte & indústria & comércio. A fachada mudou bastante, mas a sua característica primordial, a posição da tela na entrada da sala de projeção, deixando que o espectador passe por baixo dela para chegar às poltronas, permanece como foi idealizada, com o objetivo, no dizer da época,” de ser apenas cinema e não mais um “theatro”(registre-se que os empresários que construíram o prédio, Antonio Martins e Carlos Teixeira, já mantinham um espaço versátil, ou seja, para teatro e cinema: o Palace Theatre, na mesma rua).

O Olympia guarda muitas histórias da cidade de Belém e foi testemunha de outras tantas.

Logo no ano de sua inauguração, bem perto dele, aconteceu o incêndio criminoso do jornal “A Província do Pará”, do então intendente Antonio Lemos, e daí seguiu uma passeata para a deposição desse político, alcançando-o em casa, na Tv. Gentil Bittencourt (antigo prédio do IBGE). De pijamas ele foi arrantado pelas ruas de Belém, liderando esse episódio o Dr. Virgílio de Mendonça. Essa situação foi filmada pelo cinegrafista catalão Ramon de Baños e projetada com o nome de “Sucessos de Agosto” (sobre isso há uma outra história contada no livro “Cinema no Tucupi”, de Pedro Veriano).

Dezoito anos depois, o cinema testemunhou a Revolução de 30, com os embates acontecendo na rua próxima (Assis de Vasconcelos). Nesses períodos, os filmes eram mudos e duas orquestras tocavam na casa, uma na sala de espera, outra debaixo da tela acompanhando as imagens, muitas vezes seguindo libretos que vinham com o filme. Só em novembro de 1930 é que chegou o cinema falado no Pará, cabendo ao Olympia inaugurar o processo “movietone” com a opereta “Alvorada do Amor”(1929) de Ernst Lubitsch, com Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier.

Nos anos 40, o cinema foi negociado pelos donos da empresa com o banqueiro Adalberto Marques, tornando-se parte de uma firma local chamada Cinematographica Paraense Ltda. Em 1946 foi vendido para o grupo Luis Severiano Ribeiro. Nos anos 50 o péssimo estado das instalações levou a protestos estudantis que culminaram com uma reforma inaugurada em 1960, quando o Olympia se modernizou, com a instalação de equipamentos de ar condicionado e poltronas estofadas.

Toda essa história, em detalhes, deve ser contada em um livro que Pedro Veriano e eu estamos procurando organizar para ser lançado no dia do centenário, ou seja, no próximo ano. Ressalte-se que em 2006, o empresário Luis Severiano Ribeiro Neto considerou comercialmente finita a vida desse cinema e resolveu fechá-lo. Protestos de expressivos membros da sociedade paraense sensibilizados pelas chamadas de ACCPA e ABDeC à porta do cinema sensibilizaram o prefeito Duciomar Costa que conseguiu manter a casa por aluguel transformando-a em Espaço Municipal e dedicado, principalmente, a exibição de filmes. Hoje é confortante dizer que o velho Olympia está vivo. E na minha dissertação de mestrado (“Saias, Laços e Ligas”, 1990, a ser editada pela Paka-Tatu), descrevo, a partir de entrevistas com antigos freqüentadores do cinema, como estes viviam o tempo das sessões frequentadas pela elite local, onde o “sereno” era uma constante das classes populares.


Como parte importante de nossa história social, política e cultural, portanto, o cinema da Praça da Republica merece parabéns. A programação para este domingo está sendo organizada pela ACCPA & FUNBEL e consta da seguinte pauta:


16h - Hall do Cinema Olympia - Alan Navegantes (e seus teclados) se apresentará tocando um fundo musical com temas de filmes.
17h - Apresentação do Gran Coral Metropolitano, interpretanto musicas famosas do cinema - Local: Sala de exibição.
17h30 - O músico Salomão Habib interpretará trilhas de filmes adaptadas para violão com a exibição de imagens de filmes na tela do cinema.
18h30 - Exibição do longa-metragem inédito “Inverno da Alma” (Winter´s Bone, EUA, 2010), com direção de Debra Granik e elenco: Jennifer Lawrence, Isaiah Stone, Ashlee Thompson, Valerie Richards. O filme foi um dos candidatos ao Oscar deste ano.










quarta-feira, 20 de abril de 2011

DO CINEMA PARA O DVD










Este espaço está sempre identificando os programas em vídeo que circulam nas locadoras e são “esquecidos” pelos programadores de cinema. Há outros que se apresentam ao mesmo tempo nas duas mídias.


Desta vez acho que o público do cinema perdeu a chance de assistir a “Splice, a Nova Espécie”(Splice/EUA, Canadá, 2009) que não chegou aos cinemas locais apesar do trailer ter sido exibido constantemente. E é uma boa “science-fiction”. Trata de um casal de cientistas (Adrian Brody e Sarah Polley) em busca da produção de um animal em laboratório. Na primeira sequencia do filme, os tipos já exibem um casal de lagartas, ou o que seja parecido a isso, que pretendem cruzar para obter o primeiro ser nascido de espécies trabalhadas “in vitro”. Mas a cientista, entusiasmada com a experiência, coloca o seu DNA na fecundação do novo ser. E surge Dren, primeiramente um animal de cauda, pernas alongadas e muito ágil.




O desenvolvimento desse animal é rápido e logo ele se transforma numa jovem que difere da fêmea humana por prosseguir com a cauda, não ter cabelos e não falar. Apesar disso Dren (excelente interpretação de Delphine Chanéac) mostra-se inteligente, capaz de montar peças de quebra-cabeça, e, afinal, se comunicar através de cubos com letras. O caso, mantido às escondidas dos superiores da empresa que financia o projeto, ganha uma dimensão incontrolável quando a jovem nascida em laboratório se apaixona pelo cientista que ajudou na sua gênese, e, como hermafrodita, faz sexo com a sua idealizadora.


O roteiro de Vicenzo Natali, Antoinette Terry Bryant e Dough Taylor baseia-se num conto dos dois primeiros. Natali também é o diretor e no gênero já havia realizado o curioso “Cubo” (1977), além de episódios da série “Earth: Final Conflict”, para a TV. A narrativa é dinâmica e a trama procura afastar os estereótipos comuns a filmes semelhantes deixando um final que interroga sobre o efeito da criatura de tubo de ensaio, uma versão moderna, certamente, do monstro de Frankenstein.


Aos cinéfilos ligados ao tema, o video é peça interessante de curtição.


Quanto aos filmes em cartaz até recentemente nas telas dos cinemas, já estão nas locadoras, por exemplo: “Você Vai Encontrar o Homem de Seus Sonhos”, de Woody Allen, e “O Garoto de Liverpool”, de Sam Taylor-Wood.


No rol dos clássicos estão títulos esquecidos como “Elle S’Appele Aurore”, de Luis Buñuel, cujo título no DVD brasileiro é “Assim é a Aurora”. Esse filme marcou o breve retorno do cineasta à França, em 1956, em seguida regressado ao México onde produziu vários trabalhos nessa década. O tema abordado apresenta um casal que encontra um amigo, depois de muitos anos, acabando por saber que ele está envolvido num assassinato.


Entre esses títulos esquecidos também se encontra a primeira versão de “Orgulho de Preconceito” de Jane Austen, com Laurence Olivier e Greer Garson dirigidos por Robert Z. Leonard. O grande ator inglês estava nos EUA onde protagonizou, um ano antes (1939) “O Morro dos Ventos Uivantes”. Foi nessa época que inciou o namoro e casou-se com Vivien Leigh, sua conterrânea, que esta no elenco de “...E O Vento Levou”.


Outros títulos circulando em DVD jamais estiveram por aqui como “O Homem de Cabeça Raspada” de André Delvaux, “Whily” de Fassbinder e “A Casa das Janelas Sorridentes” de Pupi Avali. Os dois primeiros serão tratados na próxima semana. Muito bem narrados.


A animação “Enrolados”, da Disney, já está disponível em DVD. O desenho teve uma carreira apenas razoável nos cinemas e a empresa tratou de colocá-lo no mercado de “home vídeo” até como forma de driblar a pirataria. É um divertido programa para todas as idades, mexendo um pouco com a fórmula dos contos de fadas, no caso de “Rapunsel”.


E também já estão em DVD “Incontrolável” e “De Pernas pro Ar”, sucessos na tela grande no inicio do ano.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)
1. Enrolados
2. Machete
3. Crônicas de Nárnia - A Viagem do Peregrino
4. 72 Horas
5. Ladrões
6. Tron - O Legado
7. Jackass 3D
8. Splice - A Nova Espécie
9. Senna
10. Um Homem Misterioso

terça-feira, 19 de abril de 2011

FRANQUIAS JUVENIS






O cinema norte-americano, ainda dominante como indústria e comércio (como indústria talvez perca para a Bollywood indiana, mas comercialmente é inegável sua supremacia), vive de modismos. No período da “guerra fria” entre EUA e URSS, o enfoque nos muitos filmes era de “vilões” russos. Depois foi mudado para terroristas islâmicos. Agora o “charme” passa por criaturas lendárias ou seres de outros planetas. E franquias de gênero. Embora não seja uma fórmula ocidental, posto que no Japão já se fizesse, por exemplo, mais de dez filmes seguindo um titulo, o regular tem sido Pânicos 1,2,3 e 4, ou Halloweens da mesma forma. Isto não quer dizer que se inventem novos caminhos para um mesmo assunto. Recentemente os livros de Stephenie Meyer, iniciados com “Crepúsculo”(Twilight) geraram a moda de vampiros galantes, incorporados em jovens colegiais, que namoravam colegas a ponto de paixão. A inglesa J.K. Rowlings seguiu este caminho com os seus livros que também se apegavam ao fantasioso (Harry Potter). Mas não é preciso buscar inspiração (e pagar direitos) na(da) literatura. Os donos dos estúdios pedem que seus roteiristas imaginem histórias românticas em que seja usado muito efeito especial e se humanize personagens que podem ser moldados em antigas lendas ou seres espaciais, sabendo-se que a ficção-cientifica tem tido a preferência de uma larga escala de público nos últimos 50 anos (desde o período do vôo de Gagarin, o astronauta russo).


“Eu Sou o Numero 4”(Number 4/EUA,2011), ora em cartaz, é isso: o “mocinho”, estudante como o vampiro de Stephanie Meyer, não é uma pessoa comum e sim um ET (extraterrestre) chegado de um planeta distante e perseguido por criaturas de seu mundo ( haviam assassinado 3 “colegas” seus, sendo ele a próxima vitima). Claro que o tipo evoca simpatia de uma jovem e da platéia. Sem a possibilidade de transformar sua face em “cara feia”, ou caninos de lobo, podia passar por um “nerd” vulnerável a bullyng. Cabia bem o tema se o roteiro explorasse esse quadrante e adentrasse pelo drama do “diferente” perseguido (sendo possivel pensar até no assassino de Realengo). Mas ninguém espere qualquer densidade do “script”. A ordem (agora de Steven Spielberg e Michael Bay como produtores e D.J. Caruso como diretor) é cativar pelo insólito. E para ganhar mais campo com os jovens espectadores, investe-se em CGI, ou efeitos digitais que joguem na tela os desastres capazes de lembrar os melhores videogames.

As franquias não variam por se dedicarem a um tipo de audiência. Os donos da “fabrica de fazer filmes” sabem, por borderôs eletrônicos, quem está em boa posição no ranking de bilheteria no cinema (pagando ingresso) e apostam na juventude. Por mais que no Brasil a turma pague meia-entrada isto é mais expressivo pelo número de pagantes e até pelo fato de assistirem mais de uma vez o mesmo filme.
Quem assistiu a “Barton Fink”(1991), dos irmãos Coen, tem uma idéia de como é tramada a fórmula. Neste filme premiado em Cannes, um escritor laureado é contratado por um grande estúdio de cinema e o dono desse estúdio pede-lhe que “faça um filme com Wallace Berry” (ator popular nos anos 30). Diz: “Tem que ser um filme de luta de boxe, ou “luta livre” ou “tem que ser enredo onde haja um cachorro”.


Não adianta o escritor alegar a sua criatividade. O nome de um premiado na área do texto é o bastante para servir ao complexo industrial que produz “o que o público quer ver”. E em cinema, ainda hoje, o conceito industrial é de “divertissement”(divertimento) e, como tal, elaborar tramas que façam sonhar, ou que seja deleite em outras áreas. No mundo da informática é uma conseqüência natural a imersão na ficção-cientifica que empregue mais elementos técnicos emoldurando a fantasia com itens de suspense. Qualquer densidade na criação é coincidência ou “ver demais”. E sobre isto a crítica tem discernimento, não digerindo com facilidade o que chega ao mercado. O alerta aos programas já é uma visão crítica do que o público pode optar por assistir, pois, somos livres para escolher. E assim deve ser.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

BRINCANDO DE ASSUSTAR










Depois de manter uma trilogia iniciadas em 1996, de título “Scream”(Pânico), Wes Craven, cineasta que já havia criado no gênero “terror” um assassino serial de nome Freddy Krueger (“A Hora do Pesadelo”), resolve voltar ao assunto com este “Pânico 4”(Scream 4/EUA, 2011), uma desesperada tentativa de explorar a mina aparentemente exaurida.

A fórmula de Craven e seu roteirista de sempre, Kevin Williamson, recebeu uma reformulação que se apegou à autocrítica. Nada melhor do que tratar o ridículo expondo esse ridículo. E foi o meio de fazer com que a quarta investida na série “Pânico” ganhasse interesse, indo bem nas sessões prévias e obtendo um lançamento internacional esta semana.

O roteiro abre com a volta da personagem do primeiro filme, Sidney Presoctt (Neve Campbell) à sua cidade, Woodsboro, pra lançar um livro sobre a sua experiência com o “serial killer” de uma década atrás. Lá ela vai encontrar o parceiro, agora xerife, Dewey Riley (David Arquette) e a jornalista, agora esposa dele, Gale Weathers (Courtney Cox). Fatalmente vai encontrar, também, o assassino mascarado, Ghostface (Dane Farwell). Claro que os tempos mudaram, há outras figuras em cena, e o mascarado não é o mesmo tipo de antes. Mas os crimes recomeçam e dessa forma o filme se reinventa. Na sequencia de abertura, duas garotas recebem telefonema ameaçador e em seguida são atacadas pelo Ghostface. Percebe-se, logo depois, que se trata de um filme que está sendo assistido na TV pelas duas meninas. E se elas se mostram sorridentes com os assassinatos da série que assistem, acabam sendo vítimas da mesma forma. Ainda aí é outro filme. E no processo real, com duas personagens da mesma idade e gênero, a ação se repete.

Esta idéia de misturar cinema com quem vê cinema é a primeira chave cômica ou a primeira “pegadinha” de Craven & Williamson. Há o interrogatório já usado: “- Qual o melhor filme de terror que você já viu?” Só que desta vez citam-se muitos títulos. Todos da fase que vai das últimas décadas do século passado à primeira deste século. E na alusão chegam às criticas. Por exemplo: uma das garotas cita “Jogos Mortais 4”. A outra diz logo que “o filme é uma m....”. A platéia só falta aplaudir. E prosseguem menções a coisas como “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”, títulos que vão se mesclar à ação do novo “Pânico” como que lembrando que o/a espectador/a está assistindo a outro besteirol, embora este seja consciente, saiba em que terreno pisa.


As pilhérias são muitas, não só em falas - para quem pode ver o ridículo no bizarro - e em certas ações do criminoso. Há também pistas falsas para o Sherlock da platéia. A nova roupagem de “Pânico” vai até a um cineclube universitário onde os alunos dissertam sobre teoria do cinema com paixão, mas acabam vitimas do que pretendem levar da teoria à prática. O enfoque de Craven, nesse caso, é transformar esses jovens “teóricos” nos próprios criminosos.

Fazendo metacinema, o diretor conseguiu impor a seu novo trabalho um patamar de divertimento interessante para cinéfilos em geral. Há até mesmo citações de nomes de atores, como Bruce Willis. Certamente colegas amigos de Craven, possíveis espectadores a rir do engenhoso esvaziamento de uma franquia que pode, por este caminho, chegar à outra.

Como referi anteriormente, “Pânico 4” foi lançado internacionalmente na última 6ª Feira. Os aplausos nas prévias levaram a produtora Dimension a exigir uma estréia de vulto. E até que a medida procede, posto que a temporada de produções comerciais está fraca na fonte mais visada (Hollywood). Não é só a dupla de “Pânico”, mas outros autores de filmes sabem que os bons roteiros estão cada vez mais raros. Os estúdios/empresas é que decidem a produção, agora para um público adolescente. E o conceito do gosto dessa faixa etária paira sobre o videogame e os sustos para assistir com namoradas(os). Se surgir uma vida nova ao Ghostface não será de espantar. O mercado está recuperando em remakes o que já deu certo, como é possivel chegar a “desenterrar” os 3 Patetas ou inventando outros no gênero...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O GAROTO DE LIVERPOOL



John Lennon tem recebido o preito de amor da maioria dos que conheceram a banda de rock britânica “Beatles”. Compôs uma canção que virou legenda e gestual – “Give peace a chance – Dê uma chance a Paz” –, afastou-se do grupo criando para si uma nova agenda de vida junto com a então esposa Yoko Ono. Conseguiu mexer na discussão sobre a violência bélica e sacudir os jovens de sua época. Tornou-se um ícone que ainda hoje envolve a nova geração. Seu assassinato em 8 de dezembro de 1980 comoveu o mundo.

O filme “O garoto de Liverpool”(Nowhere Boy/UK, Canadá, 2009, 98 min.) ora em cartaz no Cine Líbero Luxardo (CENTUR) é baseado num texto biográfico da co-irmã do músico, Julia Baird, com roteiro de Matt Greenhalgh. Explora a adolescência e juventude de Lennon (Aaron Johnson) na companhia dos tios, reencontrando a mãe Julia (Anne Marie Duff) após a morte de George (David Threlfall), o tio com quem tinha afinidades, pois ele iniciou o garoto dando-lhe aulas de gaita.

Entre visitas prazerosas e certa vez procurando aconchegar-se com a familia que a mãe construíra, sem ser aceito pelo padrasto, manteve-se na casa da tia Mimi (Kristin Scott-Thomas) que sempre o acolhera desde que ele era criança e que o ajudou no início de carreira, quando Lennon organizou a sua primeira banda.

O filme, dirigido por Sam Taylor-Wood, não vai até ao auge da carreira dos Beatles. Apresenta os arranjos iniciais da banda de rock “The Quarrymen” que John organizou na Quarry Bank Grammar School em Liverpool, junto com outros colegas, originando dai os Beatles. Esse primeiro grupo é marcado pela euforia mundial com Elvis Presley (até o modo de ser é do cantor norte-americano) e exibe os primeiros encontros de John com Paul McCartney (Thomas Brodie-Sangster, de “Simplesmente Amor, 2003) e com George Harrison (Sam Bell), não chegando a mencionar Ringo Starr. Termina quando a turma segue para Hamburgo, na Alemanha. Mas o que interessa é o relacionamento do cantor-compositor com a família. Especialmente com as duas mulheres que foram capitais na sua formação. Mary “Mimi” Smith é reservada, rígida na educação do sobrinho. Apenas em um momento, quando John se despede para viajar, ela chora.


Por outro lado, Julia Stanley(Anne Marie Duff) é extrovertida, o protótipo da juventude apesar da idade, e quem incentiva o filho a aprender a tocar. Certa vez, ao ser questionada por John do “porque Deus não o fizera Elvis Presley” , ela retrucar: “Porque ele lhe fez John Lennon!”. Através do tipo que o filme constrói é com ela que Lennon tem seu primeiro contato com instrumentos como o banjo , o ukelele e o rock and roll (que ela diz "quer dizer sexo"). Dá para se imaginar a origem da canção que John faria com o nome dela, “Julia”. E esta jovialidade que passa ao garoto é ainda mais saliente na memória que resta quando, a seu lado, Julia é atropelada e morta.

“O Garoto de Liverpool” é um filme simples, narrado sem “flash-back” ou outros artifícios formais. E segue ao que se presume serem as impressões de John, como o modo de ele encarar o primeiro companheiro que lhe seguiria depois na famosa banda: Paul. No caso, é um jovem da mesma escola, que lhe é apresentado como hábil guitarrista. E o novo colega é quem diz que os dois deveriam compor suas próprias canções para ganhar público em suas performances.

A gênese dos Beatles já esteve no cinema, mas desta vez o que se pretender mostrar é como o rock chegou aos rapazes ingleses, especialmente em uma cena do interior de um cinema onde John vê Elvis Presley. O ícone norte-americano teria estimulado a juventude inglesa. No mais, o roteiro foge de assuntos correlatos como a evidência ao empresário do grupo e como este grupo se projetou em Londres e em seguida numa primeira viagem à America.

Os Beatles estreariam no cinema através do trabalho de um diretor norte-americano, Richard Lester (em “A Hard’sw Day Night”/Os Reis do Ie Ie Ie, afinal uma forma de mostrar o ritmo funcionalmente, com uma edição anômala para a época).

Não precisa ser “beatlemaniaco” ou nostálgico do mais famoso conjunto de rock nos anos 60. O filme deve agradar a todos. É bem realizado e não quer ser mais do que as memórias de Julia Baird registra. Uma cine-biografia dos anos de adolescência e juventude de John Lennon. Imprenscindível aos que curtem o garoto de Liverpool. Estou nessa!

terça-feira, 12 de abril de 2011

RIO: EM RITMO ANIMADO



Carlos Saldanha é carioca e ganhou fama nos EUA dirigindo o departamento de animação da 20Th Century Fox, intitulado “Blue Sky”. Dele a direção de “A Era do Gelo 2 e 3” sendo que o “3”, chamado, originalmente, “Dawn of Dinosaurs”, figurou entre as maiores bilheterias de Hollywood em 2009.

Saldanha quis homenagear a sua terra com um desenho de longa metragem a que chamou de “Rio” (EUA, 2011). Escrevendo o roteiro com Don Rhymer, colocou em cena todos os elementos turísticos que vendem a imagem do Rio de Janeiro. Situou a história na época do carnaval, usou a selva (Brazil é selva para o estrangeiro, especialmente o norte-americano) como o habitat de seus heróis, sinalizou o samba na trilha sonora, incluiu, pelo menos, uma imagem de futebol (vista na TV), tocou de leve na favela, sabendo da popularidade de filmes como “Cidade de Deus”, e desenhou o Corcovado, o Pão de Açucar, os arcos da Lapa e Copacabana no auge do verão.

O argumento aborda uma espécie masculina de arara azul, ave rara posto que em extinção, vivendo na cidade de Minnesota (EUA), mais precisamente, na livraria de uma jovem chamada Linda, e colocou um preservacionista como o brasileiro que aparece por aquelas bandas e estimula a dona do pássaro para levá-lo ao Rio, onde terá a chance de procriar. A aventura carioca tem como vilões os contrabandistas de animais (o chefe deles muito parecido com Quentin Tarantino), outras aves (nada amistosas) e muitos pequenos macacos. Blu, o arara “americanizado” vai conhecer Jade, afinal sua paixão, e aprender a usar seus pendores de ataque e defesa. Mas os problemas começam pelo fato de o herói não saber voar. E as tentativas na Pedra da Gávea, acompanhando uma asa delta, é um dos poucos recursos cômicos.

O filme inicia com uma seqüência muito criativa: as aves cantam e voam enaltecendo as belezas do Rio quando começam a ser aprisionadas. O corte desloca a sequencia para Blu em sua rotina confortável (e monótona) na cidade norte-americana. O que segue é a chegada à terra carioca em tempo de carnaval. Tudo que é atração turística é apresentado pelos desenhistas. E as situações perigosas não apresentam novidades ficando o que se pode ver como original a faculdade de um arara incapaz de usar as asas para voar, posto que não aprendeu. E mesmo sem coragem de namorar. O filme pinta o “estrangeiro” como um tímido, e no caso os tímidos que se tornam valentes como tantos do cinema tradicional. Até os números musicais lembram filmes antigos. Isto não é defeito, mas signo comercial: Saldanha sabe das preferências do fã brasileiro por velhos sucessos dos estudios da Metro Goldowing Mayer ou, mesmo, da sua empresa (a Fox produziu os musicais com Carmen Miranda).

As crianças devem gostar. Há muita ação que só pode ser criticada pelos adultos cansados da fórmula em outros exemplares do gênero. Mas o fecho, apesar de também não trazer novidade, é muito sensível: Blu vai voar para salvar a amada. E mais: na hora desse vôo encontra a sua dona, Linda, mas não vai a seu encontro antes de cumprir a sua missão de amante corajoso. “Rio” é uma animação simpática que cumpre a sua finalidade: um aceno de um filho da terra que alçou vôo para outra paragem. Mas sem perder a dádiva de voar.

As críticas que o filme pode receber devem ser, justamente, pela americanização do enredo e da tipificação do Rio de Janeiro. A carência de uma crítica social já se estabelece na efeméride em que Saldanha inscreve seu argumento: o período carnavalesco. E sobre os demais tipos, como disse, são recorrentes: os ladrões nascem no morro, a parte pobre da cidade é a que causa mais perigos, a ligação entre a contravenção e os contraventores é um garoto negro, ingênuo (que depois se redime) enfim, alguns detalhes se emparelham com uma outra perspectiva do RJ. A glamourizada, a que vende imagens, a que só é percebida mundialmente pelo carnaval.

Mas a animação é interessante. O problema é a recorrência ao deja vu.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

FILMES DESCARTÁVEIS


Dois filmes em cartaz podem deixar de figurar na agenda do cinéfilo desde que ele “teime”em pensar um pouquinho dentro de um cinema.

O primeiro, a julgar pela data de estréia é “Invasão do Mundo: A Batalha de Los Angeles”(Batle: Los Angeles/EUA,2011) de Jonathan Liebesman com roteiro de Christopher Bertolini (de “A Filha do General”). Tema: a invasão do mundo por seres de outro planeta. Se a batalha focalizada entre forças terrestres e espaciais centraliza-se na terra do cinema, nem por isso o filme deixa de colocar “flashes” de outras nações, inclusive do Brasil (há um rápido plano do Rio de Janeiro).

O assunto celebrizou-se com o escritor inglês H.G. Welles em “A Guerra dos Mundos”(The War of the Worlds) e ainda mais quando Orson Welles, no auge de sua juventude, levou a história ao rádio propagando-a em intercessões de programas como se fosse noticia urgente de uma invasão verdadeira. O fato provocou pânico e impulsionou a carreira do ator-radialista-teatrólogo (Welles chefiava o grupo Mercury de teatro). Posteriormente, o livro de Wells ganhou o cinema numa versão produzida por George Pal e dirigida por Byron Haskin, em 1953. Mais recentemente esteve num “blockbuster” de Steven Spielberg, protagonizado por Tom Cruise.

O novo filme em cartaz trata o tema como um documentário. Começa com transmissões de TV sobre a guerra que se trava com um inimigo oculto, com aparição meteórica desse inimigo. Menos do que nas versões de “A Guerra dos Mundos” quando surgem figuras esguias e pálidas. O caso atual é para mostrar, simplesmente, o poderio dos soldados norte-americanos. È uma grande barulheira sem nexo, com uma linha e história seguindo sobreviventes que se escondem em ruínas. Um conceituado crítico chamou o trabalho de Liebsman de “stupid”.Procede. Já não cabe mais esse tipo de endeusamento de guerreiros e guerras. E quando não é o terrorismo que surge de vilão, substituindo os comunistas do tempo da “guerra fria”, são os ETs. É difícil, na história do cinema, ter uma visão diferente das já difundidas sobre um ET. O de Spielberg é exceção. E o que dá um “recado” de science fiction é Klatoo, da primeira versão de “O Dia em que a Terra Parou”(1951) certamente criticando os autores que glorificam guerras com o nome das figuras de seu mundo.

O outro programa de baixa qualidade é “Fúria Sobre Rodas”(Drive Angry/EUA,2011) de Patrick Luisser. Desta vez o diretor é também o roteirista. E quem luta contra o “mocinho” é nada menos do que o diabo. Ou “os diabos”. O ator Nicolas Cage, cada vez especializando-se em filmes ruins, protagoniza um ex-presidiário que busca um neto seqüestrado depois do assassinato da filha, por um grupo de satãnistas (adoradores do diabo). Na corrida louca atrás dos agentes do mal entra uma jovem garçonete que acaba ajudando a matar bandido. O roteiro não explica bem quem tem a força na briga do lado dos demônios: se Jonah (Billy Burke) ou Accontant ( William Fitchter). Se o primeiro é visto no auge do ritual que vai “imolar” a neta de Cage, ou Milton como se chama o personagem, o segundo é misterioso e ora parece matando e procurando recambiar o protagonista para as trevas, ora, como no final, associa-se a ele pedindo-lhe uma nova aventura que ao que é possível avaliar não deve ser produzida visto que o filme foi um tremendo fracasso de bilheteria em seu porto de origem.

Criado para realçar a 3D, com objetos jogados para diante da câmera e o mais que possa “assustar” platéia, “Fúria sobre Rodas” se explica não só na mágica de mostrar o carro do personagem de Cage sair incólume de uma explosão e rodar sem problemas, mas, no espectador que paga para ver tanta besteira e ficar contrariado.

Como se vê, em dois programas aparentemente de diversão, os custos (do ingresso e do divertimento) são altos e por isso devem alertar o espectador para uma melhor escolha.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

AS MÃOS DO CHICO



O cinema tem criado sua linguagem para abordar qualquer assunto. O modo como faz e que tem a essência criativa dos realizadores é que é a questão. O estudo da narrativa sequenciada através da história da técnica e da linguagem que surge a partir dela desde o “primeiro cinema” (século XIX) é que dá consistência ao que é possivel avaliar em termos de como têm sido aproveitados os elementos dessa linguagem para expor as temáticas.


A “Vida de Cristo” assinada por Ferdinand Zecca em 1902 mostra que sete anos após a primeira sessão de cinema no Gran Café de Paris (1895) expor uma página da história do cristianismo daria um grande texto informativo e agregaria platéias. Não sei a contabilidade dos espectadores desse tempo, mas é possivel que a turma que frequentava as “feiras de atrações”, geralmente as pessoas do povo, tivesse acorrido para assistí-lo. E, secularmente, esse filme tem sido exibido mostrando não mais um tema, mas a estética clássica da narrativa que o compõe. Com não crio absolutismos vejo que há também as pessoas que assistem ao filme por devoção, respaldadas na certeza de que estão mantendo o ritual cristão identificado com os múltiplos detalhes da Semana Santa.


O preâmbulo quer tratar do mais recente filme sobre Chico Xavier, “As Mães de Chico Xavier” (Brasil, 2011, 108min.). O direito de explorar a temática está regido pela liberdade de expressão. As idelogias religiosas podem converter suas idéias em planos mais massivos de informação para abranger mais pessoas utilizando as midias as quais têm acesso. Contar a história da paixão de Cristo como a de Chico Xavier trança-se por esses planos. Para convencer? Para fazer adeptos? Ou simplesmente para informar sobre enredos?


Os espíritas brasileiros se propuzeram a homenagear o médium Chico Xavier através da produção de três filmes sobre ele. Conhecido mundialmente pelo modo de viver essa doutrina que também foi considerada, por Allan Kardek, filosofia e ciência (pela própria dinâmica do nascimento das ciências humanas e sua metotologia empírica no momento em que emergia na Europa), os filmes – “Chico Xavier” (2009) e “Nosso Lar” (2010) – converteram-se em grandes bilheterias no país. Evidenciam recortes da vida desse médium e de uma obra psicografada por ele com base no que a doutrina tem como marcante: “o outro lado da vida”. A cenarização do segundo e agora de um terceiro titulo (“As Mães de Chico Xavier”) seguiram o que muitas outras produções têm realizado. Por exemplo, ao avaliar a comédia inglesa de Michael Powell, “Neste Mundo e no Outro” (Inglaterra, 1946) vê-se que a ambientação é configurada na base da ideologia católica cuja trama expressa um modo de ser entre tipos que aludem ao céu para garantir a hora da morte de uma pessoa que deixou de morrer no tempo previsto.


O primeiro filme sobre Chico Xavier é uma cinebiografia do médium, de autoria de um jornalista e realizada no cinema por um diretor que se diz ateu(Daniel Filho). Ele criou uma dinâmica interessante para mostrar recortes da vida do personagem e conseguiu despojar, de certa forma, a relação entre o que poderia ser “doutrinação” do enfoque biográfico.


No caso deste “As Mães ....” é a adaptação das três histórias sobre o sentimento materno da perda dos filhos e a busca de explicações sobre como aclimatar-se a essa ausência A partir das cartas psicografadas por Chico, a narrativa peca pelo esquematismo avançando para o sentimentalismo de tantas produções romantizadas que padecem da falta de uma melhor forma de explorar um roteiro. Se este roteiro aponta para as investigações jornalísticas como meio de o filme conectar as três histórias objetivadas, criando ambiências sobre o fenômeno mediúnico, este elemento se perde no meio do caminho quando o personagem-reporter de Caio Blat se envolve com a namorada de seu amigo e no final se torna platéia da “Casa da Benção”, inclusive recebendo os favores mediúnicos do Chico.


Quanto aos atores, salvo Nelson Xavier e Herson Capri, os demais padecem de excessos para expressar o drama. Talvez tenha sido essa a expectativa do diretor para que a atuação fosse à base de um apelo sentimental, mas esse efeito não beneficiou o trabalho.


O filme é baseado no livro Por Trás do Véu de Ísis, de Marcel Souto Maior e dirigido por Glauber Filho com roteiro deste e de Halder Gomes. As mãos do Chico não cobriram bem a cabeça dos realizadores.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

CLÁSSICO INGLÊS EM DVD


“Neste Mundo e no Outro”(A Matter of Life and Death/UK 1946) é um dos mais elogiados filmes da dupla Michael Powell & Emeric Pressburger (de “Os Sapatinhos Vermelhos”). Conta a história de um piloto a RAF que nos últimos dias da 2ªGuerra Mundial comunica-se com a base mais próxima de seu avião afirmando que vai morrer que o aparelho está em chamas, seus colegas já são cadáveres e ele, com para quedas furado, pretende atirar-se ao mar. Quem atende ao chamado é uma jovem americana de nome June(Kim Hunter). O piloto (David Niven) pede apenas que transmitam à sua mãe uma mensagem de amor. E não mais se vê o que acontece. O plano seguinte de um filme colorido é em preto e branco e mostra o “outro mundo”, com os espíritos dos pilotos aguardando a chegada do colega. Como este não chega, constatam que houve uma falha no sistema, que uma pessoa com data marcada para encerrar a sua vida na terra continuara viva. Para sanar o ato falho, as entidades espirituais designam um emissário (Marius Goring) para buscá-lo. O problema é que o piloto encontrou June e começou um romance com ela. O amor passou a ser o argumento para continuar vivendo.


O filme é, além de uma fantasia exposta em um trabalhado tecnicolor supervisionado pela mulher do criador do sistema, Natalie Kalmus, uma sátira inteligente em que entram em cena os valores nacionais da Inglaterra e dos EUA no após-guerra. O emissário do além foi guilhotinado e representa os valores da burguesia francesa em sua época, o “advogado” que vai acusar o piloto no julgamento espiritual é um norte-americano histórico (papel bem desempenhado por Raymond Massey), o defensor é o médico do acusado(Roger Livesey), que morre atropelado quando diagnostica que seu cliente tem um fragmento de granada na cabeça e precisa retirá-lo numa cirurgia, e na platéia do anfiteatro onde se dá o julgamento estão soldados que morreram em diversas guerras, tanto pelos EUA, como pelo Reino Unido. Há uma demonstração da moda em época moderna através de um programa da BBC e uma escolha de jurados hilária com base em conceitos das duas nações em épocas distintas.


Esse filme motivou o cineasta Martin Scorsese a remasterizar os títulos da Archer, empresa de Powell e Pressburger. Pode ter envelhecido um pouco na dinâmica narrativa, mas ainda é um programa inteligente.


Inédito nos cinemas brasileiros é “Um Burguês Muito Pequeno”(Um Bughese Piccolo Piccolo/Itália, 1977) de Mario Monicelli. Alberto Sordi interpreta um velho contabilista que deseja empregar o filho único, recém-formado, arranjando um modo de ele passar em um concurso de muitos postulantes. Acontece que o rapaz é morto num assalto a um banco quando, acompanhado dom pai, ia prestar exame. A tragédia repercute na mulher-mãe (Shelley Winters) que fica paraplégica e logo vem a falecer. Aposentado e só, o viúvo acaba entre os aposentados solitários que passam o tempo lendo jornal num banco de praça.


Monicelli criava comédias (como “O Incrível Exercito Brancaleone”), mas sabia como poucos retratar a classe média de seu país, ampliando as conquistas da escola neo-realista. Este filme, um dos últimos de excelente qualidade, é contundente. Ganhou muitos prêmios e pode-se dizer com segurança que é uma obra-prima.


“Sedução da Carne”(Senso/Itália, 1954) é um filme de Luchino Visconti que retrata, através de um livro de Camillo Botto, um episódio da luta pela unificação da Itália. Em foco o romance de uma condessa veneziana com um tenente austríaco, justamente um dos dominantes de seu país. O recentemente falecido Farley Granger contracena com Alida Valli. Não é dos melhores filmes do diretor, mas há elementos dignos de nota como a cenografia alicerçando o aspecto plástico que bem traduz o momento em que se dá a ação.