sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

PROGRAMAS DA SEMANA ...TÃO PERTO DO OSCAR


Às vésperas da entrega dos Oscar, os cinemas da cidade não aparentam se importar com isso. Filmes candidatos como “O Artista”, ”O Homem que Mudou o Jogo”, “Histórias Cruzadas”, ”Sete Dias com Marilyn” e“O Espião Que Sabia Demais”, todos com distribuição assegurada no Brasil, e a maioria já lançada no sudeste, passam ao largo das nossas salas. Só uma estréia faz parte da seleção que disputará os prêmios da Academia de Hollywood no próximo domingo: ”Tão Forte e Tão Perto”. Felizmente podem ser vistos: “A Invenção de Hugo Cabret”, ”A Dama e Ferro” e “Os Descendentes”. Estréia, também, “A Mulher de Preto”, primeiro desempenho de Daniel Radcliff, o Harry Potter do cinema, em filme diferente do qual estreou como ator. E há os extras com “Orfeu do Carnaval”, “Brinquedo Proibido” e “Esse Obscuro Objeto do Desejo”, com a promessa de começar na próxima 4ª. feira a mostra de filmes do cineasta Erik Rocha.

Tão Forte e Tão Perto”(Extremely Loud & Incredible Close/EUA,2011, foto) focaliza um garoto de 9 anos (Oskar Shell) que procura uma fechadura para a chave que seu pai deixou antes de se encaminhar para o World Trade Center e morrer no atentado de 11/09/2001. O filme, dirigido por Stephen Dalry (de “As Horas” e “O Leitor”) com roteiro de Eric Roth baseado em um livro de Jonathan Safra Foer, é candidato a 2 Oscar (filme e ator coadjuvante, o veteraníssimo Max Von Sidow). No elenco, Tom Hanks e Sandra Bullock. É a estréia mais auspiciosa da semana. Assistindo-a junto a “A Invenção de Hugo Cabert” e “Os Descendenets”, depois de ver “Cavalo de Guerra”, “Meia Noite em Paris” e “A Árvore da Vida” já dá para avaliar as premiações do Oscar, embora falte “O Artista” .

“A Mulher de Preto”(Lady in Dark/EUA,UK/2011) traz Daniel Radfliff, o intérprete de Harry Potter, protagonizando o advogado Arthur Kipps que viaja para o interior da Inglaterra em busca de documentos que ajudariam a elucidar um caso da morte de crianças o qual é atribuído a um fantasma que ronda o local. A história origina-se de um livro de Susan Hill e tem os ingredientes do terror clássico, sem a exibição gratuita de violência. Pelo menos é esta qualidade que evidenciam os críticos que já assistiram o filme. O interesse comercial repousa no ator, que dizem ter um desempenho muito bom. A direção é de James Watkins protagonista do inédito nas salas de Belém, “Eden Lake”(também do gênero terror).

“Brinquedo Proibido”(Jeux Interdits/França 1952) é um clássico querido por quem já o assistiu. Trata de duas crianças, no tempo de guerra (a 2ª mundial) cuja brincadeira habitual é enterrar pequenos animais que eles encontram mortos, no cemitério da localidade onde moram. Nesse aspecto, evidencia-se a grande metáfora antibélica demonstrativa dos horrores que essas crianças viveram no período. Revelação de Brigitte Fossey, aos 5 anos. Direção do mestre René Clement. Sessão Cult do Libero Luxardo, sábado, às 15h00 (começa mais cedo, pois, em seguida, abre espaço para um debate sobre o Oscar).

“Orfeu do Carnaval”(Orphée Noir/França 1955) ganhou Palma de Ouro em Cannes e Oscar em Hollywood. Extraída da peça de Vinicius de Moraes, filmada pelo francês Marcel Camus. Revelou Breno Melo, nunca antes um ator. Vinicius não gostou, mas o filme teve uma boa plateia e impulsionou o nosso turismo. Exibição no Olympia, hoje, 6ª sexta feira.

“Esse Obscuro Objeto do Desejo (Cet Obscure Objet Du Désir/França 1977) é o último filme do grande Luis Buñuel.  O ator Fernando Ray protagoniza um homem de meia idade, às voltas com uma garota instável (papel vivido por duas atrizes: Carole Bouquet e Angela Molina) .Exibição no IAP (Cine clube Alexandino Moreira, 2ª feira, 27, às 19 h).

OSCAR - II


No texto de hoje evidencio os filmes concorrentes ao Oscar deste ano, cujo evento será na noite deste domingo, 26.

Concorrem ao prêmio de melhor filme: “Cavalo de Guerra”, ”O Artista”, ”Monyeball-O Homem que Mudou o Jogo”, “Os Descendentes”, ”Histórias Cruzadas”, ”A Árvore da Vida”, ”Meia Noite em Paris”, “A Invenção de Hugo Cabret” e “Tão Forte e Tão Perto”.

“A Árvore da Vida” ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes do ano passado e é, como eu referi ontem, um filme de festival, ou seja, um filme valorizado por sua estética, por sua contribuição à arte cinematográfica. Estranha-se que esteja concorrendo a um prêmio de indústria. A indicação me parece um reconhecimento cultural.

“Cavalo de Guerra” cai bem na questão de filme de indústria, mas o argumento (e roteiro) explora um assunto gasto pelo uso. Apesar de uma produção requintada (e cara) não creio que vença na primeira categoria.

“O Artista”está entre os favoritos. A coragem de realizar um filme mudo e em preto e branco numa época em que a tecnologia vende ingresso projeta (sem ironia) o cineasta francês Michel Hazanavicius. É a história do cinema contada de forma pitoresca. Um filme sedutor embora esteja sendo difícil vencer o preconceito para uma forma antiga. Não é sucesso comercial, mas é muito importante.

“Moneyball” trata de beisebol. Para o brasileiro é meio deslocado, mas a intriga extrapola esse esporte e vê as negociações nem sempre honestas que cercam qualquer área esportiva. Além do mais, apresenta uma nova fórmula de recrutar jogadores a partir do cálculo matemático que, segundo alguns, está sendo inserida agora no esporte. Brad Pitt, por seu desempenho, ganha candidatura embora trabalhe ( melhor) em “Arvore da Vida”.

“Os Descendendentes” é favorito por tratar de um tema caro aos norteamericanos. Um melodrama centrado na infidelidade conjugal e na reintegração do pai na nova família, uma vez que ele foi ausente sempre. O que se observa é a “culpada”, nos estertores da morte, tendo sua moral solapada sem poder se defender. George Clooney é candidato por seu papel, mas esteve bem melhor há dois anos por seu desempenho em “Amor sem Escalas”.

“Histórias Cruzadas” me pareceu um filme velho. Não só pela forma, mas, principalmente, pela abordagem do preconceito racial no Tennessee. A atriz Viola Davis, concorrendo, já mereceu o prêmio do sindicato de atores. Está bem, mas sem realce.

“Meia Noite em Paris” é uma viagem cultural no tempo feito pela imaginação de Woody Allen. O cineasta se volta à mesma divagação do seu excelente “A Rosa Púrpura do Cairo”, mas, desta vez, repassa um encontro com escritores norteamericanos famosos numa Paris boêmia entre o final do século XIX e inicio do XX. Não é o melhor filme dele, mas é muito bom. Não sei se vai sensibilizar os eleitores do Oscar.

“A Invenção de Hugo Cabret” rima com “O Artista”na evocação dos primórdios do cinema. A diferença é que ele usa a mais moderna tecnologia para abordar os primeiros anos da indústria cinematográfica, focalizando o pioneiro George Mèliés. Ou seja, casa o desempenho do criador de ontem e suas invenções, com a criação de hoje (3D), no avanço tecnológico de perscrutar as imagens. O filme deriva de um livro de um descendente de David O.Selznick o produtor de “...E o Vento Levou”. É emocionante e de excelente realização e está concorrendo ao maior numero de indicações (11), com ênfase para a direção de arte, fotografia, roteiro adaptado e edição.

“Tão Forte e Tão Perto” estréia amanhã, nos cinemas de Belém. Trata de um menino que perde o pai no atentado de 11 de setembro e encontra uma chave deixada por ele, procurando saber de onde é. Tom Hanks e Sandra Bullock estão no elenco. O diretor Stephen Daldry realizou “As Horas”e “O Leitor”, filmes que venceram categorias de Oscar (atrizes- Nicole Kidman e Kate Winslet, respectivamente).

Apostar nos prováveis vencedores? Às vezes dá certo, outras não. É que a “cabeça” do industrial do cinema difere da nossa. Se acertarmos uma ou outra categoria vencedora, neste caso, acho pura sorte, não a perspectiva de que eles coincidentemente estão penando como nós. Sabe-se que a indústria tem sua lógica e é isso o que vai valer no final das contas. Vender o produto não é a mesma coisa que eu penso em “sentir” a alma do filme. Mas, vamos lá torcer pelo melhor. Os cinéfilos de carteirinha não vão perder essa oportunidade.

OSCAR-I


No próximo domingo, a Academia de Artes e Ciencias de Hollywood estará entregando os Oscar, premiação para os melhores filmes e diversas categorias do cinema no ano que passou. Para analisar esta premiação é preciso que se observe, primeiramente, que se trata de um certame da indústria para a indústria. Essa é a grande diferença do Oscar para os festivais de cinema, especialmente os mais tradicionais: Berlim, Cannes e Veneza, neste caso, o que pesa é o lado artístico e o aspecto criativo de filmes de diversas nacionalidades. No Oscar os filmes & categorias são tratados como produtos das produtoras norte-americanas, abrindo espaço para as de outros países no setor “filme estrangeiro” e absorvendo o que se faz na Inglaterra, pois o que vale é a língua inglesa.

A Academia de Hollywood foi criado em 1927 e o primeiro Oscar foi dado em 1929 referente aos filmes lançados em 1927/1928. A estatueta dourada ganhou esse nome segundo coentários, porque a secretária-executiva da Academia, Margareth Herique ao vê-la achou que a pequena estatua folheada a ouro era muito parecida com o seu tio Oscar. Mas há quem diga que foi Bette Davis quem achou a mesma coisa, ou seja, semelhança com um tio dela de nome Oscar.

Os premios são dados a diversas categorias: de filme a artefatos técnicos, passando pelo elenco, diretor e roteirista. Nos anos 40 criou-se uma categoria dedicada ao filme estrangeiro, ou seja, ao que não fossen falado em inglês. Outras menções surgiram com o passar dos anos mas, o que importa ao fã de cinema é a avaliação do critério oferecido pelos membros da academia que votam da seguinte forma: diretores associados em diretor, atores em atores, roteiristas em roteiristas e só na categoria “major”, a de filme, é que votam todos os associados da Academia.

Desde a sua criação o Oscar vem levantando criticas. No primeiro ano o premiado foi o filme “Asas”(Wings), de William Wellman, mas nesse ano concorria uma obra-prima que hoje é cultuada por todos os que estudam cinema: “Aurora”(Sunrise) do alemão F. W. Murnau (que em sua terra natal realizou os ícones da fase expressionista, “Nosferatu” e “Fausto”, além de ter realizado um exemplar do movimento “kammerspiel”(cinema de câmera) que foi “A Última Gargalhada”.

Ao longo dos anos, muitos títulos também mereceram restrições dos críticos e, mesmo, dos fãs. Exemplos: “Broadway Melody”(1928/29) ganhou porque o musical, uma criação da fase de cinema sonoro, entusiasmava o público. A mesma predileção pelo gênero deu o Oscar de 1936 a “Ziegfield, O Criador de Estrelas ", quando concorriam títulos do nível de “Adversidade” (vencedor na área de atriz coadjuvante - Gale Sondergard). Mas não vou me alongar na aferição dos Oscar de filme em 83 anos. Basta mencionar as mais gritantes injustiças. Charles Chaplin, Alfred Hitchcock, Orson Welles e Stanley Kubrick nunca receberam Oscar por seus filmes. Quando muito receberam premios honorários como Chaplin em 1972. Por sinal que o primeiro filme de Hitchcock na América, “Rebeca”(1940), recebeu o Oscar de filme (dado ao produtor David O. Selzick) mas o de diretor, nesse ano, foi para John Ford por “Vinhas da Ira” (filme excelente mas seria a vez de dar as honras ao “convidado” inglês).

Causou espanto quando, em 1941, o filme “Como Era Verde o Meu Vale”(How Green Was My Valley), de John Ford, ganhou o emblemático “Cidadão Kane”(Citizen Kane) de Welles. E em 1968 “2001, Uma Odisséia no Espaço”de Kubrick perdeu para o musical “Oliver”de Caroll Reed, hoje esquecido.

A análise sobre os concorrentes de agora esta em outro texto. Mas o leitor ou leitora pode manifestar sua opinião para esta coluna sobre esse tema. E encaminhar para o meu email que então publicarei.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

 
Afinal o que é o cinema? A arte das imagens em movimento, mas, a partir daí, o estimulo aos sonhos, à fantasia. Quando se pensa que o cinema espelha a realidade, e no caso há o “cinema verité” que se fez nos anos 70 por Edgar Morin e Jean Rouch é preciso reconhecer que esta arte conviveu, antes, sem rótulos, por quem imaginou uma personalidade da câmera, ela atuando como atriz na concepção que se chamou de “câmera olho”. Até aí o real passa pelo olhar de quem está dominando a objetiva,  ou seja, vê-se  aquele olhar que está conduzidno a filmagem. Quer dizer, a análise da narrativa tem que levar em conta que há subjetividade nas imagens filmadas, haja vista o reconhecimento de alguém que está “por trás da câmera”. As imagens não são ingênuas. (Quem estudar a teoria do filme vai chegar a essas conclusões e/ ou aqueles que reconhecerem na linguagem godardiana esse vértice da invenção).
Esse preâmbulo é para tratar da mais recente dádiva de Martin Scorsese à cinemagia – “A Invenção de Hugo Cabret” (Invention of Hugo Cabret, EUA, 2011, 127 min. 3D). Ele se encontrou no livro “Hugo”, de Brian Selznick, um descendente do famoso produtor David O. Selznick. Embora Scorcese não tendo sido um menino como Hugo (Asa Butterfield), sempre foi um cinéfilo como René Tabarg (Michael Stuhlbarg ), no filme, o personagem que descobre George Méliès em sua casa, escondido da fama a que faz jus por ter sido um dos inventores da linguagem cinematográfica.

A história acompanha o menino de rua, órfão de pai, vagando pela estação ferroviária onde maneja os relógios e busca peças para consertar um autômato deixado inacabado pelo pai. Este menino vive fugindo do inspetor local (Sacha Baron Cohen) e conhece a garota Isabelle (Cholë Grace Moretz), justamente a afilhada de George Méliès (Ben Kingsley). Através dela toma contato com o velho cineasta que dirige uma banca de brinquedos e se mantêm em casa, amargurado por sua arte não ter sido devidamente reconhecida.
A imagem da lua atingida por um foguete e fazendo careta é o elo de ligação entre Hugo e George a partir de um desenho do robô. Através de Isabelle ele vê que esta imagem é de um filme antigo e na companhia de René vai levar a obra ao seu autor, uma das raras que o pioneiro da Sétima Arte deixou preservar quando, na crise de depressão destruiu quase toda a sua base de material filmográfico.

Realizado em 3D “A Invenção de Hugo Cabret” refaz a Paris dos anos 1920 de forma a que o espectador se sinta dentro do cenário. E a trama fora dos filmes mudos é muito semelhante com o que esses filmes  mostravam: do artesanato ao tema que se pode achar “clichê”. Tudo é cinema-sonho, a culminar com a homenagem a Méliès que, na verdade, jamais se deu. O criador de “Voyage dans la lune”(1902) morreu pobre e esquecido. Só muito depois de sua morte, acontecida em 1938, é que ele ganhou reconhecimento publico em documentários e coletâneas de seus filmes curtos.
Na sequencia inicial do filme onde um microcosmo é criado no pátio de uma estação de trem de Paris com a circulação de pessoas, de vários tipos reconhecidos como figuras essenciais numa cidade, vertebrados numa síntese social urbana vê-se a chegada de um trem – uma analogia aos primeiros filmes dos irmãos Lumière. Ou seja, ao nascimento do cinema que se compartilha com o percurso de Hugo, garoto solitário, escondido da Lei para não ser levado para o orfanato, praticando pequenos furtos para sobreviver, mas sempre na trilha de um sonho. Este convite faz Scorcese ao público que vai assistir ao filme, desdobrado nas aventuras do garoto, mas compartilhado com a do velho George que seduz Hugo pelos inventos à venda em seu estande. Nesse turbilhão de sincronias com a história do cinema, nada é perdido, tudo tem objetividade, mostrando a sobrevivência do próprio cinema nas pegadas das desconfianças de que saisse do burburinho dos cafés e das feiras para novas e sofisticadas engrenagens usando os truques como uma invenção mágica fugindo da realidade dando cunho à fantasia.

Ao seguir o garoto e as multiplas artimanhas para sobreviver naquele mundo de descobertas e finalizar seu pequeno robô, a câmera nos leva aos primeiros anos do cinema. Nos sonhos de Hugo podem ser capturados os pequenos filmes que saiam dos estudios, as “vistas naturais”. A condição de ser um visionário e de reconhecer que num dos desenhos situavam-se sensações, não dão explicações ao garoto que precisava de um interlocutor. Só mais tarde é que os bloqueios se desfazem ao acreditar em Tabarg, o pesquisador do “primeiro cinema” e descobrir toda a trama encoberta à carreira de Meliès.

No trabalho de Scorsese uma direção de arte primorosa deixa impresso o tempo da ação, e a fotografia endossa essa imagem do passado. Nada se perde no filme. É um trabalho minucioso que usa o cinema em toda a sua plenitude. Homenageando o mágico (foi agente do famoso Houdini) criador de efeitos visuais, homenageia, naturalmente, esta “fabrica de sonhos”(tratada de forma explicita) ao incorporar ao filme outro truque, o do 3D.
Um excelente filme que surge candidato a 11 Oscar. Dificilmente sairá da festa do próximo domingo sem ser reconhecido.

CARNAVAL EM VIDEO

 (Nick Nolte num dos melhores desempenhos)

Neste carnaval, para quem não vai brincar nas festas ou em blocos de rua ou, ainda, aproveitar os dias de folga para visitar as estações balneárias, ou mesmo, viajar para outros estados ou países, o cinema é o programa. E se os filmes em cartaz já foram vistos, melhor é usar o aparelho reprodutor de DVD seja o tradicional seja o Bluray.

Os filmes que tratam de carnaval foram em sua maioria exibidos no programa que o cinema Olympia está encerrando esta semana com o premiado (Cannes e Oscar) “Orfeu do Carnaval” (Orphée Noir, 1959) de Marcel Camus. Todos esses títulos existem em discos digitais: “Assim Era a Atlântida”, “Carnaval Atlântida”, “Garotas e Samba”, “É De Chuá”,”Garota Enxuta”, “Aviso aos Navegantes” e o próprio “Orfeu do Carnaval”, tendo, ainda, a versão da mesma peça de Vinicius de Moraes dirigida por Cacá Diegues.
Muito que se filmou sobre a festa que veio para ficar em território brasileiro ainda não chegou ao cinema doméstico. Faltam, por exemplo, dois títulos ligados ao movimento “cinema novo”: “A Lira do Delírio” (1978), de Walter Lima Jr e “Quando o Carnaval Chegar” (1972), de Cacá Diegues e, ainda, da Atlântida: “Vamos com Calma” (1956) de Carlos Manga. Isto sem falar em “Carnaval no Fogo” (1949) de Watson Macedo e “Tudo Azul’ (1951), de Moacyr Fenelon, ambos considerados perdidos. Faltam, ainda, filmes modestos como ”Alameda da Saudade” (1950), de Carlos Ortiz. E tantos mais em que o carnaval é um ilustre coadjuvante, até mesmo títulos estrangeiros ( lembro que em “Os Boas Vidas”(1953) de Federico Fellini há uma sequência do carnaval italiano( em Rimini, terra natal do diretor). Sequencia que explora não só  a festa carnavalesca em si, mas os vários episódios que serãovértices de pequenos dramas familiares.

Sem sair do tema período momesco, um título mais novo está na animação “Rio” de Carlos Saldanha (2011), onde o carnaval para turista tem vez. Aproveitando a “dica” é bom saber que o mesmo compete na categoria de melhor música (Carlinhos Brown) no próximo Oscar, concorrendo com “Os Muppets). Mas o cinéfilo de folga não vai ficar nesses títulos e, na maioria da vezes, não quer saber de carnaval nem “pintado”. Procura nas locadoras as novidades como “Guerreiro”(Warrior/2011) o surpreendente filme de Gavin O’Connor que candidata Nick Nolte ao Oscar de coadjuvante (ele interpreta o pai de dois lutadores, um ex-alcolatra, tentado sair do vicio, mas sendo tencionado para voltar, quando sabe que os seus “meninos” , ambos ligados à luta - livre vão se defrontar). Esse filme foi  lançado diretamente ao DVD, pela distribuidora. Outro programa excelente é “Homens e Deuses”(Des Hommes et des Dieux)de Xavier Beauvois(2010) que foi exibido ano passado no Cine Estação. Não dá pra esquecer, também, do sensível “50%”(2011), de Jonathan Levine sobre um rapaz que descobre ter um tipo raro de câncer, com 50% de probabilidade de cura. Ele enfrenta a expectativa com auxilio de um amigo, uma vez que a namorada em quem ele confiava, deixa o barco pelo meio do caminho sem lhe melhor atenção, devido a tensão e sofrimento da doença do namorado (não é todo mundo que se mantém amigo numa hora destas). O simpático “Gigantes de Aço” (2011), de Shawn Levy também interessa a toda a familia solidária diante do vídeo, pelo tema interessante enfocando o relacionamento entre pai e filho sendo tratado na forma cativante mostrando aos jovens a luta livre de robôs unificando a família. Considero de “bom tamanho” para este tempo, o clássico noir de Fritz Kang, “O Segredo da Porta Fechada” (1947 ), onde a personagem de Joan Bennett, esposa e psicóloga de Sir Michael Redgrave (ele estreando no cinema norte-americano) mantém um romance mesclado a segredos & tensões emergentes do passado que precisam ser resolvidas para retorno à felicidade do casal e a descobrta do verdadeiro responsável por fatos mortais. Finalmente, o convite para alugar nas locadoras um filme interessante que assistihá muito tempo e só agora chega em vídeo: “Pistoleiros do Entardecer”(1962), de Sam Peckinpah, com os veteranos Joel McCrea e Randolph Scott, tratando de um autêntico réquiem para velhos caubóis.
Curtam esses e mais filmes interessantes (cuja relação é inesgotável para a tela pequena) nesta temporada de folga.

Joan Benneth e Michael Redgrave - "O Sefredo da Porta Fechada)

domingo, 19 de fevereiro de 2012

CANDIDATOS A OSCAR - FILMES EM EXIBIÇÃO


Os antigos exibidores locais diziam que o melhor dia para cinema era a quarta-feira de cinzas. Com a globalização das estréias, a porfia pela data mudou. Nesta semana de carnaval estréiam nas salas dos dois circuitos exibidores locais os candidatos a Oscar “A Invenção de Hugo Carbret” e “A Dama de Ferro”. Estréia também “Motoqueiro Fantasma: Espirito de Vingança” e “Reis e Ratos”. No plano especial, o Cine Libero Luxardo estréia “Triangulo Amoroso” e o Olympia encerra a sua mostra Cinema de Carnaval com “Carnaval Atlântida” e “Orfeu do Carnaval” (ou “Orfeu Negro”).
“A Invenção de Hugo Cabret”(Hugo/EUA,2011) marca a estréia de Martin Scorsese, o prestigiado cineasta de “Touro Indomado”, “Taxi Driver”, “Os Infiltrados” e tantos outros sucessos, em duas frentes: o tema afeito à criança e a 3D. Seguindo um roteiro que tem por base o livro infantil de Brian Selznick (neto do sobrinho de David O. Selznick o produtor de “...E O Vento Levou”) na Paris dos anos 30 um garoto (Asa Butterfield) fica órfão e passa aos cuidados do tio alcoólatra. Morando perto da estação de trem ele se vê abandonado e a temer o fiscal da redondeza (interpretado pelo irreverente Sacha Baron Cohen). Nessa situação, torna-se amigo de uma menina, Isabelle (Chloé Moretz), órfã como ele e criada pelo padrinho George (Bem Kingsley). É através dessa amizade e desse padrinho que o menino entra em contato com o cinema. Simplesmente porque George é o famoso George Mèliés, autor dos primeiros truques de imagem em filmes (dele “Viagem à Lua” em 1902).

Filmado em 3D, o filme é um prazer para o próprio diretor, um amante da “arte das imagens em movimento”. Cópias dubladas e legendadas. O filme é candidato a 11 Oscar e ganhou o Globo de Ouro na categoria drama.
“A Dama de Ferro”(The Iron Lady/UK 2011) é uma cinebiografia parcial de Margaret Thatcher, a primeira mulher a assumir o posto de primeira ministra da Inglaterra. O filme dirigido por Phyllida Lloyd de um roteiro de Abi Morgan, parte da personagem já idosa e demente, colocando em flash-backs momentos de sua vida pública e pouco da privada, preferindo retratar delírios como o de ver constantemente o marido morto.

Meryl Streep, veterana e campeã de indicações ao Oscar, embora só tenha em casa dois: de protagonista principal em “A Escolha de Sofia” e de coadjuvante em “Kramer Vs Kramer”, volta a ser candidata a atriz em uma representação plasticamente esmerada, com maquilagem bastante para se parecer, fisicamente, com a biografada. E isso é a atração do filme. O roteiro é muito superficial com relação a Thatcher.
“O Motoqueiro Fantasma-Espírito de Vingança” (Ghost Rider, Spirit of Vengeance/EUA, 2011) é a volta do anti-herói dos quadrinhos vivido por Nicolas Cage. No roteiro de Scott Gimple e Seth Hoffman, o motoqueiro está no leste europeu quando é recrutado por autoridades eclesiásticas para salvar uma criança perseguida pelo demônio. A principio ele recusa, mas acaba achando que a nova aventura vai promovê-lo. A direção é de Mark Neveldine e Brian Taylor. Mais um blockbuster de lançamento internacional.

“Reis e Ratos” (Brasil, 2011) vê os bastidores do golpe militar de 1964 seguindo um agente da CIA (Selton Mello) que mora no Brasil e, com um amigo (Otavio Muller) pretende deter o presidente achando que este pode atrapalhar o movimento revolucionário. Direção de Mauro Lima. O filme foi realizado em preto e branco e intercala documentários de época;
“Triangulo Amoroso” (Drei/Alemanha 2010) é dirigido por Tom Tykwer (“Corra Lola, Corra”). Em resumo é a história de Hanna (Sophie Ross) e Simon (Sebstian Schipper) casados e em torno de 40 anos. Ela é apresentadora de um programa de entrevistas na TV e ele engenheiro. O relacionamento do casal é abalado por novos parceiros e com uma doença. O filme concorreu no Festival de Veneza de 2010.
 

REEDIÇÕES EM 3D



Estamos assistindo a dois filmes antigos com “roupa nova”: “Guerra nas Estrelas-Primeiro Episódio” e “A Bela e a Fera”. A “roupa” é a transformação desses filmes para o processo tridimensional. A moda de uma indústria que se recicla quando observa qualquer estremecimento na sua arte de faturar (a oitava arte, segundo um critico e historiador espanhol).
Mas a verdade é que a 3D não é nova. A partir do estereoscópio criado em 1838 por Charles Wheatstone, Joseph D’Almeida criou o anaglifo – separação das imagens em duas cores: azul e vermelho. Essa conquista permitiu que Louis Auren trabalhasse a fotografia colorida de forma a que o observador separasse os raios de luz e, com isso, visse as imagens em profundidade. Em 1952, com a queda da venda de ingressos nos cinemas por conta da chegada da TV, um dos meios industriais usados para reverter o processo foi ressuscitar a invenção e fazer filmes de longa metragem para serem assistidos em 3 dimensões com o auxilio de óculos bicolores (as cores usadas por Auren).

Em Belém chegou, inicialmente, “Museu de Cera”(House of Wax/EUA 1952) da Warner, dirigido por Andre de Toth. A exibição se deu no Cine Olímpia e consistia em projetar, simultaneamente, duas cópias do mesmo filme, observadas com óculos oferecidos no momento da aquisição do ingresso. O sucesso deu margem a outros títulos, inclusive, em titulos preto e branco como “O Terror da Torre”(The Maze/UK/EUA 1953) de William Cameron Menzies. Mas não demorou em cartaz. Com a chegada do cinemascope, em 1954, a atração maior foi o alargamento da tela e o som estereofônico. Na mesma época, por guerra de direitos autorais (o cinemascope foi comprado pela 20th Century Fox do inventor francês Henri Chrétien), a Paramount lançou o Vista Vision, filmagem em negativo mais largo (70mm contra os 35mm comuns) e revelação em película usual. Seria um modo de dar mais nitidez à imagem. Ainda assim, não fez sucesso. O “scope” que logo perdeu a hegemonia para o método Panavision, passou a ser rotina. E os filmes continuaram atraindo pelo que mostram em seu argumento e narrativa.
Hoje, a febre da 3D faz com que produtores retornem aos laboratórios seus antigos sucessos e trabalhem os fotogramas para que surjam imagens superpostas a serem discernidas com óculos que não mais precisam das cores básicas do anaglifo e sejam devolvidos à saída da sala de exibição. Segundo os exibidores, esses óculos são esterilizados para novo uso. Assim espero.
Isso tudo é motivo de moda. Quem é fã de Luke Skywalker está indo rever “Star Wars” pelo prazer de reencontrar seus heróis em tela grande (o fã deve ter sua cópia do filme em DVD ou Bluray, certamente). E a Disney achou que a volta do “Rei Leão”, sua primeira adaptação de desenho antigo para a 3D, foi muito compensadora, lançando logo “A Bela e a Fera” e já planejando a volta  de “A Pequena Sereia” e outros títulos que incluem o acervo da PIXAR.

Mas a grande pergunta é se essa estratégia vai “pegar”. Cineastas como Martin Scorsese(“Hugo Carbet”), Steven Spielberg (“Tintim”), Win Wenders (“O Pina”) e até Werner Herzog (“A Caverna dos Sonhos Perdidos”) aderiram filmando com vistas ao efeito tridimensional. E há técnicos trabalhando para a estereotipia ser observada sem óculos. Seria a fórmula para a 3D ser definitiva. E assim, os filmes perseguirão cada vez mais a realidade física, embora os sentimentos continuem alcançados em velhas técnicas. “O Artista”, favorito no Oscar, mudo em p&b, é um exemplo.


MUDANÇAS DE HORARIO NO LIBERO LUXARDO.

Recebi: “Devido ao feriado de Carnaval, houve alterações na programação das Sessões Regulares. Seguem as datas atualizadas do filme "Triângulo Amoroso" de Tom Tykwer”.

Datas:

15 a 19/02 e   23 a 24/02 (19h)

 26/02 (17h e 19h) e  29/02 a 03/03 (19h) e  04/03 (17h e 19h)

Os não-carnavalescos devem se habilitar.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

CINEBIOGRAFIAS


O que está sendo reclamado no filme “A Dama de Ferro” é a preferência pelo exercício de estilo (cinematográfico) no lugar dos dados biográficos do tipo focalizado. Quem não conhece a atuação de Margaret Thatcher como primeira ministra britância, assistindo o filme continua sem saber. O que se observa é que a diretora Phyllida Lloyd fez o seu trabalho pensando num enfoque personalizado desmontado de uma narrativa linear e cronológica, mas procurando centrar em algumas situações que nortearam a personalidade da Primeira Ministra Inglesa levando-a a ser nominada como “a dama de ferro”. E essa dimensão obrigou a atriz principal, Meryl Streep, a investir-se de elementos caracteristicos da imagem de Thatcher no momento atual, quando ela vive problemas de memória e esquecimento e esta linha norteia toda a ação do filme. As qualidades da atriz, sem dúvida ressaltadas pela semelhança das máscaras que serviram de incentivo ao reconhecimento da cinebiografada, somam-se ao reconhecimento de seu desempenho em “Mamma Mia”, assinado por essa diretora.

Desse modo, é bom considerar que as cinebiografias nem sempre são obrigadas a seguir os passos dos biografados. “J.Edgar” (foto), por exemplo, não é tudo sobre o homem do FBI. Algumas pessoas acharam que o filme dirigido por Clint Eastwood se desviou do foco de vida do administrador da mais poderosa organização policial norte-americana preferindo realçar a vida intima desse personagem. A impressão esbarra justamente no que se critica de outros filmes do gênero, dizendo-se, comumente, que a preocupação dominante é com a pessoa pública sem se ligar para o ser humano que está apoiando essa atuação conhecida de todos. O que se pode dizer de omisso em “J.Edgar” é detalhes de uma carreira polêmica. Mas seria um esforço além de um tempo de produção abordar os tantos anos de Hoover à frente do FBI, seja na sua atuação contra os supostos comunistas (que ele teimava em ver como elementos destruidores da base tradicional norte-americana), seja na sua posição relacionada aos direitos humanos, o que ele condenou ou deixou passar investigando o movimento racista Ku Klux Kan.

O desempenho de Meryl Streep em “A Dama de Ferro” foi recompensado esta semana ao ganhar o BAFTA, maior prêmio do cinema inglês, e isto se soma ao Globo de Ouro de drama que já recebeu. É quase certo que ela vença o seu segundo Oscar como atriz principal (o outro que possui é de coadjuvante por “Kramer VS Kramer”). Nada contra embora eu ache meritório o papel de Glenn Close em “Albert Nobbs”, e, neste caso, ressalto que Glenn nunca foi contemplada com o Oscar, apesar de papéis marcantes como em “Ligações Perigosas”. Vai ser injusto se a atriz entrar para o rol daqueles que só receberam prêmio honorário em fim de carreira.

Sem ser propriamente biográfico, o tipo que o francês Jean Dujardin encarna em “O Artista” é o arquetipo de ídolos do cinema mudo que encerraram carreira com o advento do filme sonoro. Na época, não se imaginava a dublagem e, ídolos como John Gilbert, encerraram carreira apesar de estrelas amigas como Greta Garbo terem procurado ajudá-lo (ele atuou com ela em “Rainha Cristina”, mas o filme não fez sucesso). “O Artista”, ora campeão dos Bafta e vencedor do Globo de Ouro de comédia, concorre a 10 Oscar. É mudo e em preto e branco. Mas é excelente e usa o retrô como um meio de ser original.

Mas em termos de atuação o que me pareceu mais afeito à pessoa real, mais perto de uma biografia sem necessariamente tratar de uma personagem viva, foi Demiàn Bichir em “A Better Life” (EUA, 2011) de Chris Weitz. Interpretando um imigrante mexicano que deseja melhorar a vida da família aceitando dirigir um caminhão de entregas sem ter visto de permanência nos EUA e sem carteira de motorista, o ator apresenta uma máscara admirável. O filme tem semelhança com “Ladrão de Bicicletas” de De Sicca, mas assumindo o aspecto moderno. Espero tratar dele quando chegar aos nossos cinemas. Se chegar.


A DAMA DE FERRO

 
Margaret Thatcher foi a primeira-ministra da Inglaterran entre 1979-1990. Formada em quimica pela Universidade de Oxford passou a fazer parte do parlamento pela região de Finchlay, em 1959. Nomeada para a o Departamento de Educação e Habilidades por Edward Heath, foi eleita a lider do Patido Conservador em 1975. Daí ao cargo majoritário que ocupou até se aposentar. Suas políticas econômicas foram centradas na desregulamentação do setor financeiro, na flexibilização do mercado de trabalho e na privatização de empresas estatais como algumas minas. Isto provocou uma grande impopularidade, só atenuada quando, proximo da reeleição, em 1983, colocou o país em guerra com a Argentina pela manutenção de posse das ilhas Falklands, ou Malvinas. A “guerra relampago” deu vitória aos ingleses num arremedo visto interancionalmente como Golias contra Davi.

A vida de Margaret Thatcher foi transformada em livro e, consequentemente, pedia filme. E este foi realizado ano passado pela diretora do bem sucedido “Mamma Mia”, Phyllida Lloyd. Como no seu trabalho passado (e primeiro longa-metragem), esta diretora escolheu a atriz Meryl Streep para o papel principal. E seguiu um roteiro escrito pelo praticamente estreante em cinema comercial (tem muitos titulos em TV e experiencia em teatro) Abi Morgan.
“A Dama de Ferro”(The Iron Lady/UK, 2011) está no páreo do Oscar nas categorias de atriz principal e maquilagem. A rigor só se realiza nessas categorias. Mesmo assim é preciso que se note que Meryl Streep segue um estereótipo. O papel exige mais a imagem da mulher idosa, demente, às voltas com a lembrança do marido morto (o que lhe deixou solitária no largo espaço onde mora).

A narrativa fragmentada é moda atual como forma de direcionar certos assuntos. Em “A Dama de Ferro” as sequências se misturam no tempo e no espaço e não há uma correlação que lhe dê o caráter de uma “rima” com a linha básica, ou um parêntese que ajude na composição da principal personagem. Por mais que o espectador se esforce para montar o quebra-cabeça de cenas, a verdade é que isso não resolve a identidade de quem foi a primeira ministra inglesa. Sua vida privada e sua vida pública se mesclam em momentos avulsos, ficando a maior atenção ao papel do marido que ela evoca constantemente. Num dos planos iniciais vê-se Tatcher na mesa do jantar com o marido quando chega uma empregada. No enfoque seguinte o marido não está mais. Não deu tempo para ele ter saido da sala. Só mais tarde a filha da ex-ministra relembra-lhe que “o pai morreu”. Ou seja, o roteirista Abi Morgan disse antes e a diretora Phylida Lloyd endossou.

Percebe-se que a intenção da cineasta foi esvaziar qualquer clichê de “filme biografico”(biopcture). Nada de contar em linguagem acadêmica quem foi a mulher tão famosa que a câmera focaliza pela primeira vez como uma velhinha comprando leite em um supermercado (tarefa que será criticada pela filha que a vê incapaz de sair de casa sozinha). A imagem seria a de demonstrar que a “dama de ferro enferrujara”. Mas, dessa situação ao inicio de um processo gradativo de fama, o filme hesita, e pouco diz, inclusive, de como se processa uma eleição do parlamento britanico e mesmo, o papel da rinha nessa politica parlamentar (fato que se expôs bem em “A Rainha”(2006), filme excelente de Stephen Frears .
Por causa de Meryl e de seu papel no Oscar deste ano voltarei ao assunto.


OS INGLESES PREMIAM "O ARTISTA"

"O Artista”(The Artist, foto) foi o grande vencedor do BAFTA, o maior prêmio de cinema na Inglaterra. O filme mudo e em preto e branco de co-produção francesa ganhou nas categorias: filme, ator (Jean Dujardin), diretor (Michel Mazanavicius), roteiro (do diretor), fotografia (Guillaume Schiffman), figurino (Mark Bridge) e musica (Ludovic Bource).

A atriz premiada foi Meryl Streep por “Dama de Ferro”, a codajuvante foi Octavia Spencer por “Histórias Cruzadas” e o ator coadjuvante Christopher Plummer por “Toda Forma de Amor”. O documentário “Senna”, de Asif Kapadia, ganhou em montagem e nesse gênero.

O melhor filme estrangeiro foi “A pele que habito”, de Pedro Almodòvar e a animação “Rango”.

OS SENTIDOS DO AMOR


Os melhores filmes em DVD que assisti ultimamente são: “Os Sentidos do Amor”, “Anti-Heróis”, “Eva Braun, Sua vida com Adolf Hitler”, e “O Rei dos Ladrões”.

Ainda vai ser lançado nos EUA “Os Sentidos do Amor”(Perfect Sense/UK 2011, foto) filme de David Mackenzie que lembra “Ensaio sobre a Cegueira” que o brasileiro Fernando Meirelles realizou nos EUA com base no livro de José Saramago. Aqui, em “Sentidos...”, as pessoas começam a perder o olfato. O roteiro de Kim Fupz Aakeson detém-se no casal Michael (Ewan McGregor) e Susan (Eva Green), ele funcionário de um restaurante ela uma epidemiologista. A história não se preocupa com a parte cientifica como o processo de perda dos sentidos é originado, como se dá a propagação da doença. A jovem médica diz ao namorado que o alvo primeiro são os “sentidos quimicos” e ele olfato e tato. Mas não demora e aparecem casos de surdez. Espera-se o pior e nesse caso não há qualquer resquício de thriller, mesmo de aventura policial ou de ficção comum em cinema. É um lento e inexplicado processo de deterioração do corpo humano. O fim é a cegueira. Irreversível.

A direção não se preocupa em dar ênfase a determinado quadro à guisa de suspense. O filme é um lento processo de destruição, lembrando aqueles exemplares que exploram guerras nucleares como “Eu Sou a Lei” vendo-se ruas desertas com o lixo sendo levado pelo vento. Esse tratamento revela a preocupação de se focalizar um drama introspectivo em meio a um cenário de caos. Há quem digam em uma cena, que sem alguns sentidos as pessoas ficam mais amigas, mais afáveis, se abraçando quando se encontram. O paradoxo de se aprender a viver quando a vida perde muito de sua orientação física.
É pouco provável que o filme chegue aos cinemas locais. É bom consultar logo o DVD (ou o bluray) ao alcance, nas locadoras.

“Anti-Heróis”(The Sono f No ONe/EUA, 2011) segue um garoto que vivendo no meio de malfeitores é forçado a atirar em um deles. Também derruba outro de uma escada levando-o a morte. Adulto, o menino acaba se tornando um policial. Mas a investigação sobre a morte das duas pessoas, vinte anos antes é reaberta. E há quem tenha interesse em culpar o hoje pai de família e bom profissional. Só há um amigo fiel sobrevivente do caso. E este é também alvo dos perseguidores.

Al Pacino protagoniza um policial veterano que se coloca ao lado do garoto e acompanha o jovem policial (Channing Tatum). Ray Liotta interpreta um delegado corrupto, Katie Holmes, a mulher de Channing (ou Jonathan) e Julitte Binoche uma jornalista que logo é assassinada. Direção e roteiro de Dito Montiel (é o terceiro filme dele). Boa narração e bem afiado elenco, apenas a rendição do roteiro aos clichês do gênero. E em grande escala.

O documentário “Eva Braun e Sua Vida com Adolf Hitler” é um especial de televisão que ninguém assina. Vêem-se filmes domésticos feitos pela própria Eva. E a narração que se diz prender boa parte ao diário que ela deixou ,ajuda nas imagens que refletem uma vida aparentemente despreocupada embora ela diga que “não é propriamente feliz”. Dramático é saber que as crianças com quem a companheira do ditador nazista aparece brincando várias vezes, morreram assassinadas, no caso de Josef Goebbles, pela prórpia mãe quando no fim da guerra(a 2ª Mundial).

“Os Visitantes”(The Visitors/EUA,1972) é o penúltimo filme de Elia Kazan(1909-2005). Escrito por seu filho Eric, trata do drama de uma família que mora em uma casa isolada e recebe a visita de dois ex-colegas do marido na guerra do Vietnam. Os homens querem se vingar de uma traição e todos da casa são vitima de violência. Um terror na linha de “A Dama Enjaulada”(1964). A critica recebeu com os piores comentários dedicados a um filme de Kazan na sua vasta (e premiada) carreira. Realmente é lamentável o diretor de “Vidas Amargas” tropeçar na área de Sam Peckimpah.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

FILHA DO MAL


Produção de baixo-orçamento “Filha do Mal”(Devil Inside/EUA,2012 ) foi filmado há aproximadamente um ano entre Roma e Bucareste. Recorrendo ao estilo documentário, foi tratado pelos estúdios da Paramount, com as qualidades de “Atividade Paranormal”(1, 2 e 3) um deles já recebeu prêmios (Melhor performance Amedrontadora para Kate Featherstob, em 2010). Foi financiado por esse estudio através da Insurge Pictures, divisão criada para produções de baixo custo.
No enredo de “Filha do Mal”, em 1989, a jovem Maria Rossi (Susan Crowley) telefona para a polícia e diz que acabou de matar 3 pessoas: uma freira e dois padres. A mulher é presa, mas escapa de uma sentença por crime doloso, posto ser considerada insana. Vai para uma casa psiquiátrica e em seguida para um asilo em Roma (o fato aconteceu nos EUA). Vinte anos depois sua filha (interpretada pela paulista Fernanda Andrade) resolve fazer um documentário sobre a mãe. E viaja a seu encontro, sabendo que na Itália a mulher fora “diagnosticada” como possessa- embora a Igreja tivesse recusado um exorcismo. É a filha quem vai solicitar a dois padres que tratem da mãe.

Para o público que assiste ao filme este é mais um arremedo de “cinema verdade” na linha de “A Bruxa de Blair” e da série “Atividade Paranormal”. Um modo fácil e de baixo custo de atrair dólares no cinema. Fácil porque exige pouca estrutura narrativa, e barato porque os custos de produção são irrisórios. Em tese, o que se vê é o filme que se faz, este com uma câmera pequena, manual, sem muito cuidado na iluminação, aumentando o tremor natural do cinegrafista (que no caso é tudo, por suposto, de diretor a técnico das gravações e imagem e som).

O erro comum em todos esses exemplares do gênero (ou subgênero) é muito fácil de perceber. Em dado momento do filme dentro do filme a pessoa que devia estar filmando aparece em cena. Nesse momento, quem filma? E mesmo quando o “cameraman” não aparece, alguns detalhes devem estar ocultos da objetiva (se realmente ela fosse pesquisadora).

Mas não é só isso. Observa-se que tudo foi feito ás pressas. Há um momento em que se vê o gráfico dos batimentos cardíacos da “paciente” funcionando quando ela, numa fase do exorcismo, sai da mesa e ataca as pessoas que tentam manipulá-la. São cochilos que se agrupam e até que seriam perdoados se o propósito de assustar para faturar não fosse tão flagrante.

No correr da narrativa a jovem produtora do “documentário” focado na mãe possuída por vários demônios também se torna alvo desses seres. E um dos padres exorcistas igualmente vira alvo das possessões. Gritos, contorcionismos e caretas tomam conta da tela. O som ajuda no cenário de horror. Há um momento em que se ouve um baque forte na lateral do cinema (apesar de a produção ser aparentemente primária o sistema sonoro é estereofônico). Nessa hora os espectadores se assustam. Na sessão em que estive uma jovem deixou a sala.

A forma de cinema amador ajuda no conjunto. Atualmente já não se gastam milhões de dólares em filmes como “O Exorcista”. Basta simular uma realidade e jogar nesta simulação os elementos tradicionais dos exemplares “de terror”. A fórmula é lucrativa. “Filha do Mal” esteve por mais de uma semana entre as maiores bilheterias nos EUA. O recente “Atividade Paranormal 3” também chegou ao ápice do “box office”. E há pessoas de fora da grande indústria aproveitando a moda. O também recente “Apolo 18” (2011) é um exemplo, assim como “A Casa” (filme uruguaio, 2010). Qualquer um pode se aventurar nessas fantasmagorias. O pitoresco é ver nelas uma autocrítica. O mau cinema se veste de documento dele próprio. E quem paga ingresso para assistir é quem quer tomar susto como num brinquedo de parque de diversões. Mas há, também, o espectador primário. Percebi isso num diálogo, no elevador do Shopping, com a surpresa da garota em assistir um “filme péssimo” como disse, por não conhecer a sinopse. Foi alertada pelo amigo para não entrar num cinema sem conhecer o enredo. O que demonstra a importância deste elemento na escolha de programas.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

CINEMA OLYMPIA É PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DE BELÉM

Notícia bombástica!

Projeto de autoria do vereador Abel Loureiro (Partido dos Democratas), aprovado nesta quarta-feira (8), no plenário da CMB, transforma o centenário Cine Olympia em Patrimônio Histórico e Cultural do Município de Belém. O projeto também autoriza a prefeitura a efetivar a desapropriação do imóvel sede do cinema, que pertence à família de Severiano Ribeiro. “O Cine Olympia é um tesouro para a nossa cidade. É referência dos tempos áureos do Ciclo da Borracha e é o cinema mais antigo do Brasil ainda em funcionamento”, informou o vereador Abel Loureiro.
De acordo com o projeto, a prefeitura também ficará responsável em promover, garantir e incentivar a preservação, conservação, proteção e o tombamento do Cine Olympia, que também passará a ser exclusivamente e definitivamente um centro de exibição de obras audiovisuais. “O Cinema Olympia sempre será ícone da sétima arte em Belém e é um monumento artístico para a nossa cidade”, concluiu o vereador.

Informações no site da CAMÂRA MUNICIPAL DE BELÉM:
http://www.cmb.pa.gov.br/portal/index.php

À BEIRA DO ABISMO



O título que o filme “Man on a Ledge” (Homem na Borda) recebeu no Brasil, “À Beira do Abismo”, reprisa o que foi dado a “The Big Sleep”(O grande Sonho) de Howard Hawks (1946). O roteiro de Pablo F. Fenjes tem mais a ver com o de John Paston de uma história de Joel Sayre em “Horas Intermináveis”, de Henry Hathaway (1951). Naquele filme da 20th Century Fox, o ator Richard Basehart (de “La Strada”, onde protagonizava “Il Matto”) tenta o suicídio dependurando-se no parapeito de um edifício em NY sobre uma rua movimentada. O motivo é a desilusão que sente de tudo e de todos. Recebe ajuda de um policial, ao mesmo tempo em que a multidão formada debaixo do prédio divide-se entre os que pedem sua remoção e os ansiosos querendo que ele se atire (lembra o episódio ocorrido em Belém, documentado por Paulo Chaves e José Carlos Avelar etc, “Destruição Cerebral”, 1977).
Neste “À Beira do Abismo” não há só um plano suicida. O homem da borda do edifício quer mais alguma coisa, ou melhor: quer outra coisa, tem outro objetivo. Trata-se do ex-policial Nick Cassidy (Sam Worthington) preso pela acusação de furto de uma pedra preciosa de quarenta mil dólares e, com essa atitude, espera demonstrar sua inocência. A concretização do ato se dá quando seu pai morre, ele ganha licença da penitenciária para ir ao funeral, consegue fugir e se hospeda num apartamento do último andar do Hotel Roosevelt, em Manhattan, transpõe a janela e, do beiral, ameaça se jogar para o meio da rua onde as pessoas já se acumulam.

A construção da trama reflete um dos “thrillers” divertido desses que nos últimos anos Hollywood exagera em produzir. A narrativa é dinâmica, sem sair do tempo da ação, e o roteiro, falseando aqui e ali, consegue engendrar surpresas contínuas como se desse ao público um quebra-cabeça para ele montar “na ponta da poltrona”. Naturalmente não se trata de um enredo realista. Nem de crítica a algum assunto paralelo. No máximo pode ser pensado nas manhas e artimanhas de um capitalista voraz que é criminoso, hábil o bastante para jogar o ônu de seus crimes em outras pessoas e subir sempre para a fama, protagonismo curto de Ed Harris, quase irreconhecível na maquilagem para mais velho. O que importa é a ação em si. A partir de determinado momento esta se torna em paralelo com outra, onde um casal se prepara para um assalto. Assim, a conversão em tres eixos narrativos explora os movimentos diferenciais entre a disposição de Nick de se jogar da sacada do prédio, as tentativas da psicóloga conciliadora em afastá-lo dessa intenção, a ação dos assaltantes para neutralizar o circuito integrado de imagens de um prédio vizinho e chegar ao cofre da empresa e, ainda, flashes da turba que impaciente se divide em gritos de “salta logo” ou de resistência em apoio ao gesto. Com isso, pequenas nuances de uma relação direta entre o suicida e os assaltantes será uma “dica” aos que o supõem determinado a morrer. Mas isso só é notado quando o espectador percebe o fone de um celular no ouvido de Nick e sua gesticulação oral. Aos poucos se estabelece o elan entre as duas ações seguindo-se a outras que demonstram a motivação do gesto do suicida.
Claro que há happy-end, há correrias, há bandidos e mocinhos e estes parecem imunes às balas disparadas à vontade, aos saltos fantásticos, às reações imprevisiveis de uns e de outros e, inclusive a uma denúncia de corrupção policial. Achar que esses lugares-comuns prejudicam um filme que tem o propósito limitado (divertir brincando com um drama pessoal) é dar interpretações não existentes na agenda de serviço do diretor.

“À Beira do Abismo”é um programa de sala comercial bastante competente. Aos que se interessam pelo enredo, vale o ingresso.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

OS DESCENDENTES


Co-escrito por Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash, todos indicados ao Oscar, assim como o diretor Pyne, “Descendentes” (Descendants/EUA<2011) parte de um livro de Kaui Hart Hemmings. O roteiro acompanha o bem-sucedido advogado Matt King (George Clooney) em sua pouco admissível busca por um rival quando sabe que a esposa, acidentada e em coma irreversível, teve um caso com uma pessoa a quem a filha mais velha descobriu ao presenciar a mãe entrar numa certa casa, acompanhada de um homem que a bolinava.
A história se passa no Havaí e o principal personagem chega a aludir, numa nem sempre oportuna narração em off, que a vida dele é como o arquipélago onde mora, formada por um conjunto de ilhas. Seria o modo de justificar seu modo de agir, sempre viajando a serviço, distante da família, o que se coloca como justificativa do comportamento da esposa e da absoluta falta de jeito em tratar as filhas, uma adolescente e a outra criança.

O diretor e co-roteirista fez pelo menos dois filmes em que estudou o comportamento de uma pessoa solitária: “As Confissões do Sr. Smith” e “Sideway, Entre Umas e Outras”. A característica procede neste trabalho o que leva a pensar numa obra coesa. Mas se nos dois filmes citados havia uma arquitetura capaz de dimensionar convenientemente os tipos focalizados aqui a opção resvala pelo melodrama e há situações inegavelmente equivocadas como a sequência semifinal quando a esposa do “outro” desabafa a mágoa que tem do companheiro diante do corpo inerte da rival. Esta cena patética ainda ganha a colaboração das lágrimas do quase viúvo. Seria por isso que George Clooney é o candidato favorito do próximo Oscar? Ele esteve bem melhor em “Amor sem Escalas” e, este ano, mostrou como sabe dirigir em “Tudo Pelo Poder” (não está no páreo dos nominados pela Academia de Hollywood).

“Dependentes” tem a seu favor o cenário havaiano, com as filmagens em locação realçadas na fotografia de Phedon Papamichael. Mas se a beleza natural chama a atenção ela não serve de contraste ao drama do protagonista da história. Nem mesmo com a ressalva poética. É numa praia havaiana, por exemplo, num crepúsculo de quadro, que o personagem contata com a esposa do seu rival e a acompanha à casa onde está o referido. Nada mais conflitante. Como é conflitante chamar o filme de comédia e como tal ele figurou no Globo de Ouro. Graça pode ser encontrada na presença de um jovem colega da filha de 17 anos, um típico exemplar da juventude atual, verbalizando as gírias disponíveis e agindo como um autêntico “papagaio de pirata” acompanhando pai e filhas pelos caminhos detetivescos da infidelidade conjugal.

As meninas convencem, a narrativa acadêmica tem dinamismo bastante para não abrir espaço à monotonia, e um retrato de família em crise pode ser encontrado sem o delineamento que se encontra no paisagismo. Mas os elogios recebidos em seu ponto de origem e a candidatura a 5 Oscar levam a uma expectativa que se esgota na sala escura. O conservadorismo norteamericano se expressa na sequência final quando pai e filhas diante da televisão, após o ritual de jogar as cinzas da mãe no mar, sentam-se num sofá, se enrolam num cobertor e dividem um pote de sorvete. Payne poderia dar o toque de despedida em outro final, antes dessa tomada.

Na verdade, o que o filme demonstra é uma culpabilização para a mulher e a vitimação masculina numa relação do tipo casamento. A narrativa transcorre a partir do percurso masculino por uma família que este desconhece. Vai aos poucos se redimindo, ao longo da busca detetivesca e principamente na cena final. Em todo esse percurso, evidencia-se, sem profundidade nenhuma, mas através dos diálogos transversais, facetas da personalidade da esposa e mãe, sua energia, seu trânsito por caminhos masculinos como: gosta de velejar, de esportes, não vive com as filhas “sob as saias”, confidencia com as amigas etc. Depois disso, torna-se convincente a transformação do pai ausente em um herói. E o público sair em lágrimas do cinema.

Almejo que os filmes “descendentes” de Alexander Payne melhorem no futuro.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

TROCA DE TELAS


Filmes recomendados em DVD: ”Fogo na Planicie” (Kon Ichikawa, 1959), “A Missão do Gerente de Recursos Humanos”(Eran Riklis, 2010),”Menino de Ouro”(Jonathan Newman, 2011), “Toda Forma de Amor”(Mike Mills, 2010) e “A Lista de Adrian Messenger”(Johnn Huston, 1963). Em cada coluna de 2ª feira devo estar apresentando 5 títulos que considero os melhores lançamentos em DVD nas locadoras (cortesia da Fox Vídeo).
Na semana que passou, dos filmes que assisti faço agora uma síntese procurando mostrar minha opinião sobre cada um. Na verdade, assistir aos filmes em DVD ou blu-ray, em casa, difere do ritual “sala de cinema”, assim, estas informações podem não valer para quem precisa, apenas, “passar a noite”. Pra mim é trabalho (em alguns momentos, bastante prazeroso).

“Missão Madrinha de Casamento” está concorrendo ao Oscar nas categorias: atriz coadjuvante(Melissa McCarthy) e roteiro original. Como outros filmes candidatos que eu tive oportunidade de assistir, não acho pertinentes estas colocações. O filme é uma comédia que me pareceu sem graça, pousada na extroversão da atriz Kristen Wig. É longo e cansativo. Não sei o que levou a comissão selecionadora do OSCAR a incluí-lo nessas categorias. Eu passo.
“Super 8”, de J. Abraams (o diretor da série de TV “Lost”) é uma produção típica de Steven Spielberg. Isto porque retrata sonhos infantis, no caso de crianças da década de 70. Trata da história de garotos que estão fazendo um filme doméstico e acabam gravando um desastre de trem. Esse episódio conduz a turma à uma intriga que leva à invasão de aliens. Tipico de séries de TV desse tempo quando essa tecnologia estava muito próximo dessa faixa etária. O cuidado na reconstituição de época, incluindo o modo como se manipula o enredo, merece aplausos. Não sei é se a galera de hoje vai se empolgar.

“Se Beber Não Case Parte 2” é replay do primeiro filme da franquia (posto que já está em execução um terceiro episódio no tema) jogando os personagens para a Tailândia numa verdadeira propaganda anti-turistica do local. O que antes era original e engraçado agora não esconde o ranço de idéia requentada. O diretor é o mesmo Todd Phillips e no elenco o destaque continua a ser Zach Galifanakis.
“O Homem do Futuro” é um raro exemplo de ficção-cientifica brasileira. Wagner Moura viaja no tempo para refazer o seu romance, mas a interferência no passado mexe fatalmente com o presente e isto gera muita confusão. O filme dirigido por Claudio Torres tem uma produção que contempla uma boa avaliação do filme, numa área em que o cinema comercial dos grandes centros produtores procuram cada vez mais investir em termos de efeitos visuais (não de idéias).

“Amor a Toda Prova” traz Steve Carrel tentando suportar a separação quando a esposa lhe diz que tem outro homem em sua vida. Para isso aceita as “lições” de conquistas ministradas por um amigo que, coincidentemente, vai se candidatar a seu futuro genro. A direção é de Glen Ferrara e o filme é uma rara comédia romântica inteligente da safra atual.
“O Segredo da Porta Fechada” é um clássico de suspense que Alfred Hitchcock aceitaria assinar. A direção é de Fritz Lang e Joan Fontaine (que Hitchcock dirigiu em seus dois primeiros filmes americanos: “Rebeca”e “Suspeita”) protagoniza uma jovem ingênua que desposa um amigo de infância e somente depois de casado revela ser um maníaco. A fotografia expressionista é um dos pontos altos desta obra-prima de 1947.

“Delírio de Loucura” é um dos filmes de Nicholas Ray, de 1956, que os cineastas da “nouvelle vague” propagaram como uma obra de arte irretocável. O ator veterano James Mason protagoniza um professor que se vicia em drogas medicinais como a cortisona, mas ao abusar da droga tende a reações violentas e imprevisíveis. Barbara Rush interpreta uma possível vitima. O irreverente ator Walter Matthau também se salienta no desempenho. São 95 minutos de bom suspense.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

MILLENIUM


Um dia antes de assistir no cinema a “Millenium, Os Homens que Não Amavam as Mulheres”(The Girl With the Dragon Tatoo/EUA,2011) revi, em DVD, a versão sueca do primeiro volume da trilogia de Stieg Larsson. Basicamente é a investigação que o jornalista Mikael Blomkvist faz, a pedido de um magnata idoso, em busca de uma sobrinha, Harriet, desaparecida há quarenta anos. O jornalista submetera-se a um processo judicial que o condenou por difamação, mas enquanto espera o período de execução à sentença, aceita a tarefa sabendo de antemão que a família da desaparecida tem uma longa história de dissenções devido a causas ideológicas, de herança e de caráter. Suas reuniões em datas especiais não representam o afeto entre eles, mas revelam tensões e conflitos recônditos. Alguns se odeiam e mesmo morando próximos não trocam palavra. Velhos nazistas estão lembrados em retratos espalhados pela casa, e os descendentes seguem resquícios da ideologia ancestral.
No filme sueco dirigido por Niels Arden Oplev, o enfoque prende-se à tarefa de Mikael e à descoberta de Harriet. No filme norte-americano dirigido por David Fincher, a trama vai mais além. Detalha negociatas que envolvem firmas e bancos, começando pela corporação que a família investigada detém como herança com raízes seculares. Nessa jornada que deverá descobrir as tramas das negociatas vindas da Suécia, o jornalista inicia sozinho o desvendamento do mistério, aceitando o trabalho não só pelos limites impostos à liberdade de sua profissão, portanto, pelos recursos que irá receber se tiver êxito na empreitada, mas por ter sido instigado a receber, também, um dossiê completo do seu acusador, podendo reabrir o caso que o condenou. A necessidade de auxilio nas buscas a documentos e provas leva-o a incluir uma jovem “punk”, Lisbeth Salander, que no filme sueco é interpretada por Noomi Repace e, na versão de Fincher, por Rooney Mara, candidata ao Oscar deste ano. Duas interpretações excelentes. Fico dividida entre as duas, ambas incorporando um esforço fantástico no tipo “estranho” interpretado. O percurso desta personagem, nos dois filmes, é tratado em paralelo à trama principal, evidenciando a máscara do tipo negando-se a figurar como a tradição manda às mulheres. Por isso, é mostrado todo o desenrolar de sua submissão segundo ordens familiares, a um processo de tutela, e de que modo se desvencilha desse domínio.

Os filmes devassam espaços tradicionais de um país pouco explorado em intrigas do tipo. Não conheço os livros originais, mas, pelos dois filmes, percebe-se, especialmente, o papel das mulheres que se estigmatiza como rebelde e devassa, acompanhando-a num processo de vingança e numa odisséia policial que a coloca como investigadora igual ou melhor do que os especialistas no ramo.
Uma sequência salta do conjunto nos dois filmes: quando Lisbeth (Noomi ou Rooney) responde ao estupro sofrido e tortura o estuprador. Há necessidade de detalhar a cena embora seja de extrema crueldade. Mas é nessa demonstração de violência que se apega os filmes, não havendo diferença formal entre os dois. O que se pode dizer de diferença, além do final que Fincher estica para tratar de outro assunto, é que na versão americana há mais detalhes sobre o jornalista, esmiuçando melhor o seu processo. Mas não resta dúvida que o ataque ao vilão é típico de aventuras de ação comuns. Inclusive na presença de quem vai salvar o mocinho na hora em que este é presa do bandido e está preste a ser executado. São clichês que trabalham um tema de outra forma apresentado como uma denúncia um tanto árdua de corrupção.

Creio que “Millenium” é programa para todos os públicos. O subtítulo dado no Brasil é um tanto incoerente ao incluir a todos os homens da família focalizada como algozes das mulheres da familia. O próprio fato da investigação retomada 40 anos após um crime pelo patriarca da família demonstra que não há unanimidade em tipos e atitudes masculinas no caso.