segunda-feira, 28 de maio de 2012


RE-LANÇAMENTO DO LIVRO: OLYMPIA: 100 ANOS DA HISTÓRIA SOCIAL DE BELÉM

NA FOXVIDEO, DIA 31/05 A PARTIR DAS 18H.

 Partes da história do cinema Olympia, o mais antigo do país considerando-se que jamais mudou de endereço e /ou interrompeu suas atividades por muito tempo, ganhou um livro por ocasião de seu 100º aniversário. Este livro abrange, por continuidade, uma parte da historia social de Belém em um século. Lançado no dia 24 de abril último, quando a tradicional sala festejou sua invejável idade, vai ganhar um novo lançamento no próximo dia 31/05, na FOX VIDEO (Tv Dr. Moraes), a partir das 18 horas.
Organizado por Pedro Veriano e Luzia Álvares com o apoio do IAP,  o livro abriga textos de diversos intelectuais & espectadores do querido cinema da Praça da Republica.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

PROGRAMAÇÃO DA SEMANA - ACCPA


Gian Maria Volonté em "Giordano Bruno"


"TAXI DRIVER"

SESSÃO CULT

CINE LÍBERO LUXARDO

SÁBADO DIA 26/05/12

HORÁRIO : 16H

ENTRADA FRANCA

 Origem: EUA, 1976

Direção de Martin Scorsese.

Roteiro de Paul Schrader

Elenco: Robert De Niro,Jodie Foster, Cybyll Sheperd.

Argumento:Um ex-combatente do Vietnam passa a dirigir taxi nosEUA e expande a sua ferocidade herdada dos momentos de angustia que passou naguerra, atormentando personagens da noite de Nova York.

Importância Histórica : Vencedor de 24 prêmios, inclusive o do Festival deCannes dado a Martin Scorsese, o filme deu chance ao ator Robert De Niro quefaria outros trabalhos com o diretor (ambos descendentes de italianos) como “Touro Indomável”.Tido como um dos filmes onde a violência explicita apagou amemória do Codigo Hays, a censura que impedia a criatividade de muitos cineastaamericanos, “Taxi Driver” marcou um tempo. E Scorsese passou a ser visto como umdos melhores diretores surgidos na segunda metade do século XX.



SESSÃO ACCPA/IAP

CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA (AUDITÓRIO DO IAP – INSTITUTO DE ARTES DO PARÁ

 “A AVENTURA”

SEGUNDA-FEIRA – DIA 28/05/12

HORÁRIO : 19H

ENTRADA FRANCA

 Original: L’Avventura- Italia, 1960

Direção e roteiro de Michelangelo Antonioni

Elenco:Gabrielle Ferzetti. Monica Vitti, Lea Massari.

Argumento: Uma mulher desaparece durante um piquenique numa ilhado Mediterrâneo e seu namorado inicia um romance com a sua melhor amiga.

Importância Histórica: O filme marca o inicio de uma trilogia que odiretor concebeu e que foi conhecida como “da incomunicabilidade”. Antonionireforçava o comportamento de pessoas da classe média no após-guerra, com acrescente interiorização dos sentimentos, procurando traduzir em linguagemcinematográfica o que parecia ser privilegio da literatura. O filme ganhou umGlobo de Ouro, um premio especial do cinema inglês e pela musica de GiovanniFusco um do cinema italiano.

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&

"GIORDANO BRUNO"

DIA 31/05/12

LIVRARIA SARAIVA (BOULEVARD SHOPPING)

HORÁRIO : 17H

ENTRADA FRANCA

 Original:Giordano Bruno –Italia 1973

Direção deGiuliano Montaldo.

Roteiro deMontaldo e Lucio De Caro

Elenco: Gian Maria Volonté,HansChristian Blech, Mattieu Carrière.
Argumento: Ofilosofo e sacerdote Giovano Bruno(1548-1600) foi condenado pela SantaInquisição por suas ideias incompatíveis com os ensinamentos religiososespecialmente na astronomia derrubando a ideia de um sistema geocêntrico. Foicondenado à fogueira por não voltar atrás em seus ensinamentos.

Importância Histórica : Ofilme de Giuliano  Montaldoganhou aplausos não só pela abordagem clara do julgamento e suplicio dopersonagem-título como pela fotografia de Vittorio Storaro ,a musica de EnnioMorricone e a dedicação ao papel do ator Gian Maria Violonté.

APOIO : APC (ACADEMIA PARAENSE DE CIÊNCIAS) E ACCPA (ASSOCIAÇÃO DOS CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

APÓS A EXIBIÇÃO DE CADA FILME, HAVERÁ DEBATE ENTRE CRÍTICOS DA ACCPA E PÚBLICO PRESENTE.

CEREJEIRAS EM FLOR



O melhor filme que assisti em DVD ultimamente foi “Cerejeiras em Flor”(Hanami/Alemanha ,2008) de Doris Dörrie. O roteiro da própria diretora trata de um homem com doença terminal que é levado por sua esposa a um passeio com destino ao Japão onde ela, especialmente, quer ver o Monte Fuji, cenário que admira de xilogravura e afinal uma cultura que evocava em dança na juventude. No caminho, o casal para em Berlim para visitar os filhos. Só um deles é ausente, morando justamente em Tóquio. A indiferença dos jovens (um rapaz e uma moça) é relevada pela mãe, como sempre. O agravante é que eles desconhecem o estado de saúde do pai. Nem o próprio doente tem conhecimento da gravidade de sua doença. Certo dia, a dedicada esposa amanhece morta. E resta aos filhos tomarem conta do pai que, muito abalado, resolve prosseguir viagem para o Japão. Ali, em contato com uma dançarina folclórica que exalta no ritmo a sua mãe já falecida ele ganha um alento que não consegue obter na companhia do filho, mais afeito à saudade da mãe e/ou muito ocupado para se deter nas idiossincrasias que o pai adota em busca de descobrir o paradeiro da esposa de quem sente saudades.
O tratamento narrativo é de uma sensibilidade extrema conseguindo deslocar a história do ritmo de um melodrama vulgar. Compara-se a vida de Rudi (Elmar Wepper) às flores de cerejeira que são fugazes e evocam a vida dos samurais, também curtas. A fotografia de Hanno Lentz consegue registrar a beleza ambiente e a música de Claus Bantzer acompanha a jornada cultural do principal personagem.
Um filme brilhante em todos os sentidos. Ganhou 7 prêmios internacionais, mas não chegou aos cinemas de Belém. Está em DVD nas locadoras. É imperdível.
Raridade cinematográfica ganha o mercado de DVD no Brasil com novos exemplares: “Ratos & Homens”(Of Mice and Men/EUA,1939) de Lewis Milestone e “A Noite Nupcial”(The Wedding Night/EUA,1935) de King Vidor. No primeiro observa-se um modelo de adaptação de um texto teatral (vindo de John Steinbeck), com a pintura da região rural do sul dos EUA nos anos da depressão, ressaltando-se, além da narrativa que aproveita enquadramentos e iluminação, desempenhos primorosos como o de Lon Channey Jr. como Lennie, o gigante de baixo QI que se apega ao amigo George (Burgess Meredith), mas não consegue medir a consequência de seus atos.
“A Noite Nupcial”(The Wedding Night/EUA,1935) assombra hoje se observado como um produto de uma fase casta do cinema americano. Baseado em um romance de Edwin Kopf com roteiro de Edith Fitzgerald apresenta Gary Cooper como um escritor em crise criadora que tenta inspiração no interior do país. Sua esposa, Helen (Dora Barrett), odeia isolamento e procura voltar para Nova York. Mas o escritor inspira-se, afinal, na jovem Manya (Ann Sten), aldeã prometida pelo pai polonês a casar-se com um homem rico (Ralph Bellamy). Surge um romance adúltero e termina em tragedia. Mas há muita sutileza na apresentação da história e a direção do mestre King Vidor (“A Turba”) consegue passar ao largo das armadilhas de dramalhões semelhantes.
E revi, ainda, “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios”(Otaz na sluzbenom putu/Iugoslavia, 1960) de Emir Kusturika. O argumento trata da mudança que se processava na antiga e unida Iugoslávia na época do governo Tito. A narrativa é de uma criança, mas nem sempre se afina como tal. Esta falta de hegemonia pesa, mas a exposição dramática e cultural persiste como um bom momento de cinema.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

MOSTRA CULTURA NO CINE OLYMPIA

Exibição de documentários da TV Cultura no Cine Olympia.

De 22 a 27 de maio.
Entrada Franca.

Dia 22/5: “Waldemar Henrique” (54 min, 1989) : Maestro relembra sua trajetória no Pará e no mundo. Documentário jornalístico. Direção: Marlicy Bemerguy.
Horário : 18:30h
Dia 23/5: “Pavulagem do meu coração” (32 min, 2007): A origem do grupo musical até o seu arrastão popular em Belém. Documentário. Direção: Guaracy Junior.

“Magalhães Barata: 100 anos depois” (26 min, 1989): A trajetória de Magalhães Barata com imagens históricas do político. Documentário jornalístico. Direção: Afonso Klautau.
Horário : 18:30h

Dia 24/5: “Saias, Laços e Ligas” (33 min, 1990): A presença da mulher na política no início do século 20. Roteiro com base em dissertação de mestrado de Luzia Álvares. Direção: Risoleta Miranda.

“Encomendação das Almas (18 min, 1989): Velórios e enterros acompanhados por encomendadores de almas em Oriximiná. Documentário jornalístico.
Horário : 18:30h

Dia 25/5: “Haroldo Maranhão” (34 min, 2007): Bate-papo com o escritor paraense, seus amigos, admiradores e críticos. Documentário. Direção: Junior Braga.

“Parceiros do Mar” (29 min, 1991): Histórias de barqueiros e construtores de barcos. Documentário jornalístico. Direção: Mauro Bonna.
Horário : 18:30h
Dia 26/5: “Wayana – Apalai” (26 min, 1988): A história de remanescentes das duas tribos indígenas. Documentário jornalístico. Direção: Lilia Afonso.

“Guajá” (28 min, 1992): A história dos índios Guajá, em uma reserva na divisa dos estados do Pará e Maranhão. Documentário jornalístico. Direção: Mauro Bonna.
Horário : 18h
Dia 27/5: “Maria das Dores” (50 min, 1987): Depoimentos e discussão sobre a violência contra a mulher no Pará. Documentário jornalístico. Direção: Lúcia Leão.
Horário : 18:30h

quinta-feira, 17 de maio de 2012

INIMIGOS SIDERAIS




O protagonismo sideral do atual "blockbuster" em cartaz:  Battleship

O grande problema dos “blockbusters” atuais é a escolha do inimigo. Sem os russos do tempo da guerra fria, os terroristas nem sempre são bem-vindos a conta do trauma deixado no povo norte-americano pelo 11/09/2001. Ficam os ETs. E em “Battleship, A Batalha dos Mares”(Battleship/EUA,2012) são eles que chegam caindo no oceano (não só o Pacifico como se pode ver na sequencia em que caem perto de Pequim) e por isso desafiando a marinha dos EUA.
No inicio do filme mostra-se a descoberta de um planeta semelhante a Terra na posição que ocupa com relação ao seu sol. Mas, com uma velocidade que só se explica pela reticência do roteiro, eles alcançam o nosso mundo. E um cientista diz a outro: ”-É como os índios; nós somos índios”.
Um ligeiro apanhado de sequencias identifica alguns personagens, especialmente um jovem rebelde “de figurino”, ou seja, na linha que deriva da turma comandada por James Dean em “Juventude Transviada”(Rebel without a cause/1955). Este rapaz muda de comportamento ao entrar para a marinha. E acaba sendo um herói, como colegas que enfrentam os Ets, seja dentro d’água seja na luta corpo a corpo.
Há uma cena em que se abre a armadura de um alienígena ferido. Vê-se um ser de aparência disforme do que aqueles mostrados em filmes como “O Homem do Planeta X” (que no meu entender um dos mais feios concebidos pelos autores de cinema hollywoodiano). Dá para pensar no motivo de se estimar os vizinhos siderais de monstros. A verdade é que o próprio ser humano acha feio o que desconhece. Na história de “A Bela e a Fera” de Mme. Leprince de Beaumont, Fera é um príncipe encantado. Mas até se descobrir isso é um animal horroroso. Bem diz Jean Marais no papel :”-Pobre de nós as feras que só sabemos sofrer e morrer”. Já o Quasimodo de Victor Hugo interpretado por Charles Laughton dizia-se “feio como o homem da lua”.
Creio que é mais difícil achar, na história do cinema, extraterrestres afáveis. Lembro-me do ET de Spielberg, do Klatoo de “O Dia em que a Terra Parou”, dos bem recebidos tripulantes de discos voadores em “Contatos Imediatos do 3º Grau”. O normal é inimigo feroz. E se em filmes como “Alien, o Oitavo Passageiro” isto é aproveitado para um ensaio do gênero “terror”, o mais freqüente é mediocridades como este “Battleship”, uma propaganda explicita do poder bélico norte-americano na época de intervenções do país em guerras diversas.
Um exemplo de cinema para perder tempo, afinal, um videogame sem a interatividade que movimenta o tipo de jogo.
Melhor é rever ou conhecer “Drive”, de Nicolas Refn, que está sendo relançado no Cine Estação. Já opinei a respeito (cf. Blog da Luzia): são emblemáticos os closes do ator Ryan Goslin. E nunca se sabe o nome de seu personagem. Não é bem o “estranho sem nome” como o caubói vivido por Clint Eastwood num bom western que exigia esse tipo de interpretação. É um solitário que se vê nas máquinas que conserta e maneja. E afinal um dirigente de seu próprio destino, não à toa dando o nome de sua história ao trabalho de um condutor. Ele dirige carros que se despedaçam nas cenas de filmes, e em sua rotina é como se fosse um desses aparelhos que se podem despedaçar dependendo de como será levado.
A narrativa fluente sustenta um equilíbrio que se alimenta da violência explicita e que não parece à tôa.
Mas voltando ao “Battleship”, não perca tempo em assistir a mais esse blockbuster. A indigestão desse tipo de filme pode causar aversão ao cinema como arte. 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

FALAR DE KEVIN

Tilda Swinton em "Precisamos falar sobre Kevin".

A primeira imagem que surge na tela é a de uma cortina branca. A câmera aproxima-se lentamente até que a cortina se abre. O que se vê é uma multidão se comprimindo não se sabe em que tempo ou espaço. Logo surge uma mulher salpicada de vermelho (tinta? sangue?). Em seguida vê-se Eva (Tilda Swinton) despertando. Focalizam-se os seus pés descalços que pisam no chão. Nesse momento ela deixa cair algumas capsulas brancas. Encaminhando-se para a porta da casa ela abre e vê que picharam as paredes de vermelho. O enfoque seguinte é de um “travelling” da porta onde está a menina Celia (Ashley Gerasimovich ) que ao se virar em direção à câmera mostra uma venda no olho.
A arquitetura desse inicio diz bem do cuidado artesanal de “Precisamos Falar sobre Kevin” (We Need to Talk About Kevin/EUA 2011), de Lynne Ramsay. A pretensão é  dimensionar o relacionamento tempestuoso de mãe (Eva) com o filho Kevin/Ezra Miller. O contexto repousa nesse relacionamento. Afinal, quem é Kevin desde a infância, garoto de classe média criado com desvelo pelos pais, especialmente pela mãe, evidenciando rebeldia, sujando propositamente de fezes a cadeira quando a mãe lhe ensina fazer contas, depois, um adolescente que suga o cabelo da irmã com aspirador de pó e daí parte para atitudes extremas de violência? Nas primeiras imagens sabe-se que a mãe está deprimida, que toma remédios e exprime dor. Quando se vê a filha menor, a venda em um dos olhos quer dizer algum acidente. E nesses planos, as cores que começam no branco da cortina passam ao vermelho que antes de se ver a casa pichada é percebido em restos de comida diante do foco quando câmera e personagem encaminham-se para a porta de entrada da residência.

Eva lava o rosto e a cena seguinte é do marido, Franklin (John C.Reilly) dançando com a pequena Celia. Daí em diante a narrativa é atemporal, e vê-se Eva procurando emprego, escrevendo ao marido registrando saudades dele (sem que se saiba logo para onde ele foi), sendo esbofeteada por uma pessoa que passa e antes fala com ela, e outra vez com o marido em um período feliz.
Poucos filmes possuem uma pesquisa de linguagem como a que se vê neste trabalho da escocesa Lynne Ramsay de 42 anos. É o seu terceiro longa-metragem e o primeiro que chega até nós. Certamente influenciado pelos 16 prêmios que recebeu, inclusive da critica européia, além de candidaturas ao Globo de Ouro e ao Festival de Cannes.

A complexidade do tema ganha correspondência na forma como é tratada. Mas a constante inclusão de flash-backs não impede que se acompanhe com certa emoção o drama do garoto rebelde e da mãe que se amedronta diante de seu temperamento e das suas atitudes. Apesar de não ser tratado em primeira pessoa, o filme pousa no papel de Eva em relação ao filho. Um grande esforço da atriz Tilda Swinton. Admiráveis closes dizem o que ela sente em relação a um filho-monstro. E apesar da elegância narrativa não se exime a amostragem de um psicopata, de como uma criança assim representa para uma família, revelando-se num ente perigoso que acha muito natural mutilar e matar.

Dessa forma, as questões ficam a frente da câmera quando o /a espectador/a se depara com as situações que observa naquela relação hostil do filho, desde criança, escamoteando sua personalidade e suas atitudes em relação a mãe para que esta perca a credibilidade junto ao pai, haja vista que o reconhecimento de um caráter hostil com todos a quem ela ama, está na pronta refrega ao mal e na manipulação da verdade. O que é preciso, então, “falar sobre” ou com Kevin, se a percepção dele das coisas se torna mutilada conscientemente e segue em frente destruindo os outros?

Nas várias áreas do conhecimento, por exemplo, da psicologia, da sociopsicologia, essas atitudes de Kevin se estabelecem num quadro referencial de psicopatia ou sociopatia. Como estabelecer o enfrentamento a esse comportamento diante de outros padrões que também são apresentados como os modelos de pai e mãe? Nesse caso, a perspectiva do  amor filial é o que vai estar nas mentes de quem se deparar com um caso desses. E o filme instiga a essa idéia, sem fechar conclusões.

Um filme denso que certamente se inscreve entre os melhores exibidos em Belém este ano. No Cine Libero Luxardo, a partir desta quarta até domingo.

OLYMPIA: 100 ANOS DA HISTÓRIA SOCIAL DE BELÉM



RE-LANÇAMENTO DO LIVRO: OLYMPIA: 100 ANOS DA HISTÓRIA SOCIAL DE BELÉM
NA FOXVIDEO, DIA 31/05 A PARTIR DAS 18H.

Partes da história do cinema Olympia, o mais antigo do país considerando-se que jamais mudou de endereço e /ou interrompeu suas atividades por muito tempo, ganhou um livro por ocasião de seu 100º aniversário. Este livro abrange, por continuidade, uma parte da historia social de Belém em um século. Lançado no dia 24 de abril último, quando a tradicional sala festejou sua invejável idade, vai ganhar um novo lançamento no próximo dia 31/05, na FOX VIDEO (Tv Dr. Moraes), a partir das 18 horas.
Organizado por Pedro Veriano e Luzia Álvares com o apoio do IAP,  o livro abriga textos de diversos intelectuais & espectadores do querido cinema da Praça da Republica.


terça-feira, 15 de maio de 2012

OS VINGADORES


A grande idéia dos autores de HQ moderna é dar o toque mais esmerado aos vilões. Não há mais atrativo colocar um Pinguim de guarda-chuva em punho contra um Batman que se conhece desde as primeiras publicações em quadrinhos ou em seriados de cinema e TV. Hoje preside a postura dark inventada pelo diretor Christopher Nolan (Memento, Insomnia). Dessa forma, surge um dissidente da mitologia nórdica, no filme “Vingadores”(The Avengers, EUA, 2012), o irmão de Thor, o mau caráter desde criança chamado Loki, capaz de dominar diversos mundos e de transportar ETs maléficos para a Terra com o objetivo de colocar o planeta azul no circuito que ele domina. Só um marginal desse tipo é que poderá atrair o time da Marvel Comics, super-heróis como o Homem de Ferro, o Capitão América, o Gavião Arqueiro, a Viúva Negra, o próprio Thor (que entrou para a Marvel e ganhou um filme solo) e ainda Hulk, a metamorfose do dr. Bruce Benner (no filme Mark Ruffalo), dispostos a atacá-lo. Para os papéis em um blockbuster de primorosos efeitos de computação gráfica, o diretor Joss Whedom contou com Robert Downey Jr, Chris Evans, Chris Hemsworth, Jeremy Renner, Scarlett Johansson e o citado Ruffalo.
A trama é extremamente previsível, mas, na verdade, isso não importa, ou melhor, é o objetivo dos autores que atendem à faixa jovem. Sabe-se que ninguém pode contra os “Vingadores”(The Avengers). São pouco mais de duas horas de ação quase que ininterrupta. Mas o melhor ator é mesmo o computador. Os atores interagem com telas verdes ou azuis onde se incluem cenas de destruição que realmente empolgam. As ruas de NY destruídas por naves monstruosas e seres não menos monstruosos se tornam uma atração do “gran finale” onde todos os super-heróis integram forças para eliminar os alienígenas ultra-equipados, mas fraquejando diante da força dos competidores. E o roteiro, felizmente, não perde a chance de mostrar humor: numa sequencia, o monstruoso Hulk ataca o arquivilão e dá-lhe uma tremenda surra. Ele havia dito que era um deus indestrutível, e após o litígio, Hulk vencedor satiriza o “deus fracote”.
Interessante, também, é a apresentação inicial que o filme faz dos heróis de per si com síntese de suas biografias. Sabe-se, por exemplo, como o Capitão América, um super-soldado produzido pelos EUA durante a 2ª.Guerra Mundial, dormiu no gelo do Antártico por mais de 20 anos e voltou para atender as novas situações perigosas a seu país; ou como o milionário Stark concebeu o Homem de Ferro; e como Thor foi criado por Odin, o deus supremo da mitologia nórdica e seu irmão de criação Loki transformou-se em malfeitor devido aos ciúmes pela hierarquia familiar ao poder. Esta apresentação, para quem não conhece as personagens é um bom auxilio para acompanhar a trama. Mas o que me pareceu original foi uma sequencia critica ao próprio EUA. Desesperado com a invasão de aliens, o exército envia um míssil atômico para atingir a cidade de NY. Mataria, então, milhares de civis, mas acabaria com os monstros. Sabendo disso, a SHIELD, entidade de proteção militar pede auxilio ao Homem de Ferro (o super-heroi que voa). E ele dá o suspense do filme, desviando a arma justamente para a janela celeste de onde escapam os ETs. Ou seja, a contraordem vinda dos super-heróis desaba na intenção dos homens da Defesa dos EUA que não pensam na morte de civis. Pode ser pouco, mas a brincadeira, especialmente em 3D, não pede muito. O filme visa apenas divertir. E está sendo o “point” de adolescentes e jovens que são “vidrados” nos games, alargando as filas dos cinemas onde estão sendo exibidos, principalmente nas sessões onde o filme é dublado.

CINEMA QUE CHEGA DE LONGE

"Tulpan" Casaquistão em imagens quase documentais. Filme excelente.
 
Antes de focalizar os DVDs mais significativos que assisti na semana parabenizo a Fox Video por seu 25° aniversário. A locadora que marcou a história do tipo de comércio em Belém, com várias filiais, dando espaço para os exemplares raros, os que atraem cinéfilos exigentes (os chamados “tesouros”) de há muito ampliou as suas atividades e na matriz (Tv. Dr. Moraes, 584) abriga uma eficiente livraria, além de disputada lanchonete. Aos amigos da Fox, Débora Miranda, Marcos Eluan e José Rodrigues, os meus parabéns pela data, certamente um recorde no gênero na cidade, uma loja de cinema que já virou “vício” entre os cinéfilos e os intelectuais que procuram os livros selecionados que chegam por lá. Virou “point” principalmente às sextas feiras a noite e aos sábados.
 
Tratando agora de lançamentos em DVD & demais mídias, estão circulando filmes de países onde se faz cinema e se luta com a dificuldade de exportação. Temos por exemplo, “Tulpan”, do Casaquistão, e  "A Fonte das Mulheres”de um país africano.
“Tulpan”(Cazaquistão,Rússia,Alemanha, 2008) surpreende com o relato semidocumental de uma aldeia no deserto do Cazaquistão onde criadores de ovelhas lutam para preservar suas espécies, especialmente quando começam a morrer as crias. As belas imagens locais deixam espaço para um realismo incomum como um parto de ovelha, com o protagonista e personagem da história tentando desesperadamente fazer reviver uma cria. Há, também, eventos sobre a cultura local, a exemplo, o do casamento e os níveis de seleção aos pares que necessitam casar. O filme é dirigido por Sergei Dvortsevoy, nascido no país e de currículo como documentarista (é o seu primeiro trabalho com atores). Ganhou 14 prêmios internacionais, inclusive o do júri em Cannes, e, por isso, conseguiu chegar a diversos países como no nosso, onde figurou na Mostra de S. Paulo (por aqui é que só alcançou mercado em DVD). Imperdível.
“A Fonte das Mulheres”(La Source des Femmes/Belgica, França,Itália, 2011), com os diálogos em árabe, reporta uma greve de sexo feita por mulheres de uma aldeia situada ao norte da África, já no Oriente Médio. A luta é contra a absurda exclusividade do sexo feminino no ato de buscar água numa fonte local. Uma das mulheres, justamente a que veio de um centro urbano, lança a ideia de se exigir que os homens também façam esse serviço, ali, uma tarefa feminina. E a arma que elas têm é recusar os parceiros de alcova. O tema foi explorado por Hollywood nos anos 50 com a comédia “A Greve do Sexo” (Jessica/1992) dirigida por Jean Negulesco, com Angie Dickinson e Maurice Chevalier. A diferença é especialmente geográfica e argumentativa: a ação deste último se passa numa pequena cidade italiana aonde chega uma jovem sedutora dirigindo moto e causando ciúmes nas mulheres locais que revidam o interesse de seus homens pela estranha fazendo a sua greve. No filme africano do romeno Radu Mihaileanu, o tema é mais embasado, mais político e mais dentro de uma crítica sobre a representação social de gênero, principalmente entre esse povo do qual não sabemos muitos eventos culturais das relações de gênero, salvo a situação de submissão feminina. Pena é que não seja bem aproveitado. No terço final, quando a greve entra em período critico, a situação é explorada com displicência. Mas, ainda assim, é um programa fora da rotina. O diretor foi candidato a premio em Cannes e ao César francês.
Circula também em DVD um belo filme de Joseph Losey: “O Mensageiro”(The Go Between/Inglaterra 1970). Baseado numa historia do teatrólogo Harold Pinter, com roteiro escrito por ele, trata de um jovem que diz ter poderes paranormais e que serve de mensageiro no romance de uma nobre com um empregado na cavalariça de sua família. Judith Christie e Alan Bates defendem os principais papéis. Atua, também, Sir Michael Redgrave.
As atrações inéditas em DVD são sedutoras. Gosto de assistir a esses verdadeiros tesouros do cinema através do vídeo, muito mais do que os exemplares recorrentes norte-americanos que só servem para reproduzir um tipo de linguagem devastadora para as plateias internacionais pela mesmice burra que acalentam com a única finalidade de encher os bolsos dos empresários desse “produto” visual.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

UM CONTO CHINÊS


Ricardo Darin e Huang Sheng Huang em "Um Conto Chinês".



Um excelente filme que está em exibição no Cine Líbero Luxardo é este exemplar argentino cujo enredo se apossa de uma situação inusitada, mas tratada com esmero e com a profundidade de temas tão presentes nos dias atuais. As formas de comunicação e o isolamento.
O argumento evidencia a figura de Roberto, um comerciante argentino, colecionador de matérias publicadas em jornais que para ele representam o absurdo da vida moderna. A razão disso está na solidão voluntária que ele assumiu depois da morte dos pais e de um romance mal sucedido. Ex-combatente da Guerra das Malvinas, o tipo mora nos fundos de sua loja especializada em miudezas como pregos, cadeados e correntes. Ao ler uma das noticias de sua pilha de jornais descobre um fato acontecido na China sobre a morte de uma jovem que passeava de barco com o noivo e sobre eles cai do céu uma vaca. Por coincidência quem ouve a leitura é o amado dessa jovem, o tímido Jun que após o acontecimento embarcou para a Buenos Aires onde esperava encontrar um tio. Nas proximidades do aeroporto Roberto encontrou Jun, na hora em que este era violentamente expulso de um taxi. Apiedando-se do rapaz ele o conduz primeiro a uma parada de ônibus, depois, percebendo que o chinês não teria condições de encontrar alguém, visto não falar uma só palavra de espanhol, se apieda e trás o jovem para sua casa. E como Roberto desconhecia o idioma mandarim, os dois passaram a conviver comunicando-se através de gestos. A vida enclausurada do argentino expressa o desejo de se livrar da nova companhia o mais breve possível. A necessidade de Jun pela moradia é explorada pela subserviência aos trabalhos que o patrão exige que ele faça. Mas a eficiência das tarefas também não combina com o que interessa ao patrão. São contradições entre duas pessoas que demonstram necessidades diferentes e interpretações distintas de relacionamento.
“Um Conto Chinês”(Um Cuento Chino/Argentina, Espanha, 2011) é um excelente filme que reafirma o talento do ator Ricardo Darin e do cinema que se faz na sua terra.
A primeira sequencia é dedicada ao fato básico da vida do jovem chinês. Em plano médio observa-se o par, ele e a noiva, numa pequena embarcação, parada no meio de um rio. Eles conversam, mas o diálogo não é traduzido nas legendas. No momento em que ele procura a aliança comprada para selar o seu compromisso com a garota, a câmera desloca-se para uma vaca roubada, jogada fora de um avião danificado que precisa aliviar seu peso. Depois da queda do animal, a imagem seguinte é da loja do argentino em plano aberto e, em seguida, de detalhes que evidenciem de quem se trata. Ou seja, criando-lhe uma identidade marcada pelo excêntrico.
O filme é o terceiro longa do diretor e roteirista Sebastian Borensztein. Numa linguagem clara de veterano ele consegue dimensionar seus personagens e sabe que isso é o que importa na condução de sua história (que diz ter base real). O que se apresenta é a incomunicabilidade verbal e como ela pode ser superada tendo-se boa vontade e afeto. Os dois atores deixam a imagem de solitários por circunstâncias que demonstram a necessidade da aproximação e que precisam um do outro mesmo que possa parecer o contrário. Roberto, especialmente, ganha um novo sentido de vida com a companhia aparentemente nefasta do novo hospede. E isso se consubstancia no modo como vai atender a amiga de juventude, Mari, que chega do exterior e o procura. Ela é apaixonada pelo velho amigo, mas sabe que é difícil quebrar a sua rotina de solitário empedernido. Aproximando-se de Jun ela vai abrir caminho para uma relação que o final do filme deixa viável.
Darin tem no excêntrico tipo vivido como Roberto um de seus melhores papéis. O intérprete de Jun, Ignacio Huang, já tinha 6 títulos no currículo mas é como o imigrante chinês que chegou a ser candidato a prêmios na Argentina. E Muriel Santana, a Mari, apresenta maior experiência em produções de TV. Esse trio dá conta de um filme sincero que emociona a todos no modo claro como trata seu tema. O filme está no Cine Libero Luxardo até domingo, no horário regular dessa sala (19h30).

quarta-feira, 2 de maio de 2012

CLÁSSICOS DE UMA ÉPOCA, EM DVD


Romy Schneider e Lili Palmer em "Senhoritas em Uniforme" (1958)

Na circulação dos novos filmes copiados em DVD, chegam às locadoras muitos títulos já vistos em tela grande e, também, alguns inéditos de uma nova produção que embora sejam noticiados em trailers nos cinemas comerciais, não são exibidos. É isso que nos oportuniza relacionar o que é visto durante a semana nessa bitola, comprovando o nosso dia-a-dia na função das escolhas para o repasse informativo aos nossos leitores. Nessas “escavações” pela FOXVIDEO encontramos significativos programas para esse repasse às segundas feiras. Vejam a seleção de hoje.

“Suplicio de uma Alma”(Beyond a Reasonable Doupt/EUA,1955) foi o filme “noir” que Fritz Lang, o cineasta de “Metropolis” e tantas obras de vulto na Alemanha e nos EUA, deixou a realização pelo meio das filmagens. Ele explicou que não resistiu às ausências do ator Dana Andrews, alcoólatra, que fora imposto pela produção. Quem encerrou as filmagens foi Gene Fowler Jr. Mas a trama tem bons liames, acompanhando-se com interesse a história de um jornalista que ajudado pelo sogro faz-se passar por criminoso para provar a falibilidade do sistema penal norte-americano. A atriz que interpreta o papel de noiva do personagem vivido por Dana Andrews é Joan Fontaine. Produção da RKO lançada em boa cópia DVD no Brasil.

“Contrastes Humanos”(Sullivan’s Travells/EUA, 1941) é outra relíquia. O filme mais aplaudido do diretor Preston Sturges (1898-1959), apresentando uma trama sobre um cineasta prestigiado por Hollywood que resolve realizar um filme realista sobre os menos favorecidos. Veste-se como um mendigo e passa a viver nos lixões, driblando a equipe de seu estúdio que sempre o acompanha. Joel McCrea, mais conhecido como ator de western, interpreta o personagem. O humor em meio ao drama social lembra as comédias de Frank Capra, que, inclusive, são citadas numa conversa de produtores no inicio do filme.

“Este Mundo é um Hospício”(Arsenic and Old Lace/EUA<1944) também é raridade. Filme atípico de Frank Capra segue uma peça de sucesso escrita por Joseph Kesselring. O ator Cary Grant, exagerado ao máximo, protagoniza um escritor que se casa e quer apresentar a esposa para as tias solitárias. A visita, com taxi esperando na porta, leva-o à surpresa e ao terror quando descobre que a casa está cheia de cadáveres. Explica-se: as velhinhas dão sopa com arsênico para mendigos cientes de que estão fazendo a boa ação de mandá-los para o céu.

Capra realizou este filme de forma apressada pois havia sido convocado para produzir documentários sobre a 2ªGuerra Mundial. A peça foi filmada quase integralmente e no elenco, além de Grant, estão: Boris Karloff, Peter Lorre e, como as tias, circulam Josephine Hull e Jean Adair. Todos da velha geração de atores, pouco conhecidos, hoje, pelos novos cinéfilos.

Mais uma “peça antiga” é “Loucura de Amor” (Locura de Amor/Espanha, 1950) de Juan de Orduña, típico filme espanhol da “era Franco” (o tempo da ditadura de Francisco Franco quando o cinema de Madrid só produzia filmes religiosos ou infantis). Trata-se de uma versão livre da história de Joana, a rainha filha de Isabel, a católica, tida como louca numa manobra política para alijá-la do poder incentivada por seu marido Felipe (“El Hermoso”). Interessante ver, no tom de melodrama, o ator Fernando Rey, constante nos filmes de Buñuel, e a jovem Sarita Montiel, interpretando uma vingadora filha de um monarca islâmico derrotado pelos espanhóis. O filme ganhou muitos prêmios na Espanha dos anos 50 .

Relíquia também é “Senhoritas em Uniforme” (Mädchen in Uniform/Alemanha 1958), filme dirigido pelo austríaco Geza Von Radványi. É a segunda versão cinematográfica do romance de Christa Winsloe (a primeira foi realizada em 1931, por Leontine Sagan e Carl Froelich). Trata de uma jovem órfã, internada numa escola religiosa, que se apaixona por uma professora. Nesta versão, Romy Schneider e Lili Palmer defendem os principais papéis. E muito bem. O filme foi exibido no centenário Olympia na década de 1960.

NAMORANDO MARILYN



A verdadeira Marilyn, numa cena de “The Prince and the Show Girl”

Em 1957, Marilyn Monroe (1926-1962) estava disposta a enfrentar o dilema de ser vista apenas pela sensualidade e mostrar que era mais do que um símbolo sexual: era também uma atriz. Casada com o escritor Arthur Miller, assustou a comunidade cinematográfica quando decidiu filmar na Inglaterra, com o aclamado Sir Laurence Olivier (1907-1989), a versão da peça de Terence Rattigan (1911-1977) “The Prince and the Show Girl”. Seria fácil para ela fazer uma caricatura de si mesma e, com isso, mostrar ao maior interprete de Shakespeare que tinha talento (ou melhor, era uma pessoa culta). O filme ganhou no Brasil o titulo “O Príncipe Encantado” e a direção coube ao próprio Olivier que, segundo a crítica de então, fez o seu pior trabalho em cinema.
A história dessa filmagem constitui a trama de “Sete Dias com Marilyn” (My Week with Marily/UK 2011) filme de Simon Curtis, que deu à atriz Michelle Williams uma candidatura ao Oscar deste ano , perdendo a estatueta para Meryl Streep em “A Dama de Ferro”. É interessante observar que tanto Michelle como Meryl trataram de personalidades na Inglaterra, mesmo considerando que Marilyn era norte-americana. Mas o que poderia ser, como disse um critico, um “Discurso do Rei posterior” (atentando para a influência britânica no cenário) revelou-se uma comédia bem fraca, a mim nem somando a simpática interpretação de Kenneth Branagh protagonizando Olivier, o ator & cineasta que ele certamente admirou quando começou a representar e a filmar peças de Shakespeare.
O roteiro baseia-se no diário de Colin Clark (Eddie Redmayne), assistente de filmagem de “O Principe...”. Com a chance de ficar sozinho com Marilyn, conseguiu, nos bastidores, uma aproximação afetiva com a atriz, ou seja, garantiu um flerte com ela supondo, alguns observadores, que o par chegou ao climax do namoro, ou seja, chegaram à intimidade sexual. Na verdade, Colin ficou muito impressionado com o este “affaire” e resolveu registrar os mínimos detalhes dos incidentes, sendo incentivado pelo irmão a publicá-lo. O roteiro do filme é de Adrian Hodges com mais experiência em TV. E o diretor Curtis é novato no ramo apresentando no currículo algumas produções de especiais e séries para a televisão britânica.
O filme não passa ao espectador nada de um breve romance entre o jovem de 23 anos e a atriz de 30. Nem mesmo um resultado satisfatório de um relacionamento exclusivamente erótico. No máximo são observadas as dificuldades da produção, o estresse causado a Olivier (Kenneth Branagh é um bom intérprete sempre) e certamente como isso tinha a ver com a estrela norte-americana. Mas não há comédia na demonstração. Nem um resquício de lirismo que poderia advir de temas semelhantes tratados por diretores como David Lean. Há evidências da rotina de trabalho na produção, interesse da atriz em conhecer melhor o ambiente onde se encontrava e jogar charme por sua popularidade.
Dessa forma, “Sete Dias com Marilyn” ficou à maneira de uma curiosidade em torno de cinema como aquelas que alimentavam revistas dedicadas ao chamado “star system”. O problema é que hoje poucos espectadores acostumados aos blockbuster e comédias picantes sabem do mito do calendário, da jovem sensual que expôs essa qualidade em dramas como “Torrentes de Paixão”(Niagara) que a meu ver é um filme muito interessante e Marilyn teve melhor chance de mostrar talento. O público jovem, quando muito, sabe, pela insistência com que se exibe na TV, o desempenho da atriz em “Quanto Mais Quente Melhor” (Some Like it Hot, EUA, 1959) de Billy Wilder, filme produzido depois de “O Príncipe Encantado” e o melhor de Marilyn, embora o diretor tenha dito que em algumas horas perdeu a paciência com o modo como a atriz tratava um trabalho (a começar com seus atrasos para filmar). Mas tudo isso já era resultado da fama e do estrelato que a faziam viciada em pílulas para dormir e para acordar, como a muitos de seus colegas.
         O que fica deste filme, então? Não uma referência mais aprofundada sobre a atriz ou sobre o seu romance, mas um pequeno detalhe de sua vida que embora transformado em filme não deu a chance de conhecê-la melhor.
         Fiquei entre os que declararam não gostar do que viram nessa nova Marilyn. Vamos a outra?