"Tulpan" Casaquistão em imagens quase documentais. Filme excelente.
Antes de focalizar os DVDs mais significativos que assisti na semana parabenizo a Fox Video por seu 25° aniversário. A locadora que marcou a história do tipo de comércio em Belém, com várias filiais, dando espaço para os exemplares raros, os que atraem cinéfilos exigentes (os chamados “tesouros”) de há muito ampliou as suas atividades e na matriz (Tv. Dr. Moraes, 584) abriga uma eficiente livraria, além de disputada lanchonete. Aos amigos da Fox, Débora Miranda, Marcos Eluan e José Rodrigues, os meus parabéns pela data, certamente um recorde no gênero na cidade, uma loja de cinema que já virou “vício” entre os cinéfilos e os intelectuais que procuram os livros selecionados que chegam por lá. Virou “point” principalmente às sextas feiras a noite e aos sábados.
Tratando agora de lançamentos em DVD & demais mídias, estão circulando filmes de países onde se faz cinema e se luta com a dificuldade de exportação. Temos por exemplo, “Tulpan”, do Casaquistão, e "A Fonte das Mulheres”de um país africano.
“Tulpan”(Cazaquistão,Rússia, Alemanha, 2008) surpreende com o relato semidocumental de uma aldeia no deserto do Cazaquistão onde criadores de ovelhas lutam para preservar suas espécies, especialmente quando começam a morrer as crias. As belas imagens locais deixam espaço para um realismo incomum como um parto de ovelha, com o protagonista e personagem da história tentando desesperadamente fazer reviver uma cria. Há, também, eventos sobre a cultura local, a exemplo, o do casamento e os níveis de seleção aos pares que necessitam casar. O filme é dirigido por Sergei Dvortsevoy, nascido no país e de currículo como documentarista (é o seu primeiro trabalho com atores). Ganhou 14 prêmios internacionais, inclusive o do júri em Cannes, e, por isso, conseguiu chegar a diversos países como no nosso, onde figurou na Mostra de S. Paulo (por aqui é que só alcançou mercado em DVD). Imperdível.
“A Fonte das Mulheres”(La Source des Femmes/Belgica, França,Itália, 2011), com os diálogos em árabe, reporta uma greve de sexo feita por mulheres de uma aldeia situada ao norte da África, já no Oriente Médio. A luta é contra a absurda exclusividade do sexo feminino no ato de buscar água numa fonte local. Uma das mulheres, justamente a que veio de um centro urbano, lança a ideia de se exigir que os homens também façam esse serviço, ali, uma tarefa feminina. E a arma que elas têm é recusar os parceiros de alcova. O tema foi explorado por Hollywood nos anos 50 com a comédia “A Greve do Sexo” (Jessica/1992) dirigida por Jean Negulesco, com Angie Dickinson e Maurice Chevalier. A diferença é especialmente geográfica e argumentativa: a ação deste último se passa numa pequena cidade italiana aonde chega uma jovem sedutora dirigindo moto e causando ciúmes nas mulheres locais que revidam o interesse de seus homens pela estranha fazendo a sua greve. No filme africano do romeno Radu Mihaileanu, o tema é mais embasado, mais político e mais dentro de uma crítica sobre a representação social de gênero, principalmente entre esse povo do qual não sabemos muitos eventos culturais das relações de gênero, salvo a situação de submissão feminina. Pena é que não seja bem aproveitado. No terço final, quando a greve entra em período critico, a situação é explorada com displicência. Mas, ainda assim, é um programa fora da rotina. O diretor foi candidato a premio em Cannes e ao César francês.
Circula também em DVD um belo filme de Joseph Losey: “O Mensageiro”(The Go Between/Inglaterra 1970). Baseado numa historia do teatrólogo Harold Pinter, com roteiro escrito por ele, trata de um jovem que diz ter poderes paranormais e que serve de mensageiro no romance de uma nobre com um empregado na cavalariça de sua família. Judith Christie e Alan Bates defendem os principais papéis. Atua, também, Sir Michael Redgrave.
As atrações inéditas em DVD são sedutoras. Gosto de assistir a esses verdadeiros tesouros do cinema através do vídeo, muito mais do que os exemplares recorrentes norte-americanos que só servem para reproduzir um tipo de linguagem devastadora para as plateias internacionais pela mesmice burra que acalentam com a única finalidade de encher os bolsos dos empresários desse “produto” visual.
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