quarta-feira, 30 de março de 2011

SEM LIMITES



















Ora em cartaz nacional, “Sem Limites”(Limitess/EUA,2011), o filme de Neil Burger (de “O Ilusionista”) , tem um tema interessante. Trata de um escritor em crise criativa que perambula pelas ruas de New York atormentado por afetos fracassados e a falta de dinheiro. Nessa situação ele encontra o irmão de sua ex-mulher antigo usuário de drogas que o convida a uma conversa e revela estar representando uma firma da indústria farmacêutica preste a lançar o revolucionário NZT, um comprimido que agiliza o potencial do cérebro a ponto de a pessoa se tornar um gênio em pouco tempo. O escritor resolve tomar o tal remédio em um momento tenso: cobrança de seu aluguel atrasado, monitor do seu pc em branco, sem nenhuma inspiração para o livro que é obrigado a escrever. No mesmo momento, muda sua perspectiva: termina parte do livro, é convidado a ser assesssor financeiro de um magnata e por ai vai.

O original literário é de Alan Glynn e o roteiro de Leslie Dixon. Bradley Cooper protagoniza Eddie Morra, o jovem escritor que de repente se transforma em uma super-inteligencia. Ao chegar ao mundo das finanças é cobiçado por um ambicioso executivo (Robert de Niro). Nos bastidores, luta com os efeitos colaterais do remédio e com a sua possível escassez já que o fornecedor é encontrado morto.

Estilo literário engenhoso, comparando o ativador cerebral com uma droga do tipo LSD, alude não apenas ao vicio que isto possa causar, mas à ambição pelo efeito no intelecto. O desenvolvimento é muito bom e as possíveis falhas são esquecidas no desenvolvimento da trama. Isto não quer dizer que “Sem Limite” escape dos limites de uma produção comercial norte-americana. Nada é tratado de forma densa, passando-se por cima de aspectos da vida intima do personagem e, mais ainda, das figuras que surgem em sua aventura por um mundo que desconhecia.

O objetivo foi aproveitar a curiosidade do tema. E as respostas às indagações do espectador são quase todas apresentadas e aceitas. Uma delas: se o usuário da droga milagrosa se torna um sábio ele deve procurar identificar a fórmula e providenciar o seu, digamos, genérico. Por outro lado, os efeitos negativos podem ser solucionados com a perspicácia de quem estuda o processo de uso até pelo modo de usar. Afinal, o “paciente” que toma o tal NZT conhece a diferença do remédio para as drogas usadas e abusadas a ponto de criar dependência. Mas uma das vantagens do roteiro é não demonstrar esse grau de sabedoria do herói ao longo do filme. Deixa uma surpresa para o final. E não esvazia o teor de ficção-cientifica nos últimos planos: ao contrário, prossegue com mais informações.

Um elenco bem controlado tem bom desempenho. Os buracos da trama não impedem que ela se torne repetitiva ou desinteressante. Um desses buracos é o fim do ex-cunhado de Eddie. Não se sabe detalhes de sua morte. Mas há relação com a droga que ele propaga até na aparição de um russo que deseja o “remédio mágico” de qualquer maneira. E os efeitos colaterais em novos e velhos usuários não acrescentam o grau de sabedoria que o escritor ganha e sabe aproveitar.

O filme começa com um plano de Eddie na beirada da sacada de seu apartamento, no alto de um prédio, ameaçando se jogar. Há um fato ao lado que chama a sua atenção. Mas a câmera desvia-se no tempo e no espaço. Não é uma fusão ou um “fade out”. Surge uma legenda anotando o tempo principiando a narrativa do jovem que está com dificuldade de criar seu primeiro romance. Uma seqüência nas ruas de NY. Daí o começo de uma intriga que vai chamar a atenção até dos acostumados com “thrillers” onde há elementos policiais e de espionagem.

Outro detalhe: o argumento deixam brecha para uma critica à saga capitalista. O executivo que incorpora entre suas empresas o laboratório que fabrica o produto estimulador dos neurônios humanos representa a saga de uma classe que não deixa passar as oportunidades de crescer. Mas há uma derivada para a crítica a esse comportamento. Muito bem estruturada.

Uma boa surpresa na área do cinema para o grande público.

segunda-feira, 28 de março de 2011

FUGA EM VIDEOGAME




A expressão em inglês Sucker Punch pode se traduzir como “golpe inesperado” ou simplesmente, uma giria brasileira que emite uma versão chula de “pancada”. Essa gíria evidencia o que apresenta o filme “Sucker Punch - Mundo Surreal”(Sucker Punch/EUA,2011), uma experiência delineada comercialmente pelo cineasta Zack Snyder, norte-americano que estudou artes visuais em Londres, fez comerciais para a TV e, no cinema, apresenta 4 titulos, os blockbuster “300” e “Watchmen”.

No filme atual, Snyder assina também o roteiro, de parceria com Steve Shibuia. Mas a história original é sua. E por isso ele afirmar que se trata de um projeto autoral. Nessa intenção está embutida a idéia de uma abordagem introspectiva, no uso de uma linguagem surrealista (a ponto do subtítulo evocar o fato, na tradução brasileira) para dimensionar o que se passa com Bella ou Babydoll (Emily Browning), uma jovem de 20 anos, que atormentada pelo padrasto mata inadvertidamente a irmã menor (quando na verdade, visava atirar no tirano viúvo de sua mãe). Por esse motivo é levada para um manicômio, com o padrasto providenciando que a jovem seja submetida à lobotomia (com o agravante de ela ser a única herdeira materna). Atormentada pelos fatos, e à espera do médico, a jovem passa a criar um mundo fantástico em que possa viver livremente com as colegas de enfermaria. Esta passagem onírica é dividida entre uma encenação em cabaré, com um paramédico servindo de mestre de cerimônia e tirano das garotas, e diversas aventuras em momentos de batalha; de cenários medievais a combates aéreos de uma guerra mundial. Nesses casos uma figura se sobrepõe: a de um sábio (wise man) vivido por Scott Glenn.

Através dessa figura, Baby Doll, consegue saber que tem necessidade de 5 objetos para fugir do hospício: um mapa, o fogo, uma faca, uma chave e um elemento não identificado que fica em segredo e só é revelado no final da aventurosa fantasia. A busca por essas peças é uma ação conjunta entre ela e às demais internas. Para cada item segue uma jornada de perigos típica dos games. Cada conquista corresponde a um detalhe no mundo do cabaré. E ao atingir a descoberta do último elemento para chegar à liberdade, a ação se detém nas imagens iniciais, com as figuras já definidas como de funcionários do hospital.

A idéia é interessante. O inicio do filme é atrante, com a economia de falas e mostrando, sem cores, como se deu a tragédia familiar, a morte da mãe de Bella, o encontro violento com o padrasto e o incidente do assassinado da irmã. As imagens só ganham cores quando a jovem chega ao manicômio e aguarda a sessão de lobotomia. Sem maiores explicações, passa-se ao bordel imaginário com os tipos já apresentados na casa de saúde.

Apesar de a licença surrealista abrir espaço para as maiores extravagâncias, a ausência de um ponto de saída, implica em uma perda de interesse pelas personagens retratadas. Não há delineamento das colegas de Bella antes de aparecerem como damas de cabaré. A amizade entre elas expressa-se de forma brusca, como se o tempo de antes do sonho não fosse importante para se entender o motivo do sonho. Afinal o filme não é de todo surrealista. Há uma trama que propicia o gênero. E esta qualidade implica no final com um discurso sobre a liberdade que parece demasiadamente pomposo no contexto (ou uma licença poética forçada).

A irregularidade exposta pelo roteiro contagia a proposta visual. “Sucker Punch”, por suposto, é um vídeogame, com inicio e fim demarcados, como se o espectador fosse inclinado a dispensar a interatividade no jogo por uma licença realista que explicasse a própria razão de ser do oportuno jogo (afinal um meio de esvaziar o surrealismo objetivado). A impressão que resta é de um espetáculo truncado.

Os efeitos especiais e a fotografia são de Larry Fong (colaborador de Snyder em outros trabalhos) e exploram as metas previstas para atingir o desfecho de videoclipes de forma isolada visualmente, unindo-se através da imaginação de Babydoll.

A obviedade da busca pela liberdade é a razão filosófica que espera explicar todo o artesanato de Snyder.

VIPS - O TRAPALHÃO BRASILEIRO



Inspirado no livro ‘Vips – Histórias reais de um mentiroso’, da escritora Mariana Caltabiano que durante um ano manteve conversas com o golpista Marcelo Nascimento da Rocha, o filme “VIPS” (Brasil, 2010) tem roteiro de Bráulio Mantovani e Thiago Dottori e direção de Toniko Melo. A linha de condução do roteiro mostra o personagem desde criança, criado pela mãe cabelereira, imitador contumaz de seus colegas na escola e um apaixonado por aviação, com flagrantes de sintonia com o pai que é piloto. Já adulto, depois de aprender a pilotar roubando oportunidades e até mesmo uma aeronave de treinamento, assume a identidade de um filho do dono da empresa aérea Gol. Aproveita-se disso para se divertir no carnaval em Recife. É preso, mas a ele cabe como sentença mais do que a troca de identidade: foi acusado de trafico de drogas, pilotando um avião de figuras proeminentes dessa contravenção, uma situação anterior que ele havia assumido com pessoas de um cartél sul-americano.


A semelhança entre “Vips” e “Prenda-me se for capaz”(2002), filme de Steven Spielberg com Leonardo di Caprio, é flagrante. Apoiado em fato real, o personagem Frank Albagnale Jr. também é captado desde a infância, sendo mostrada a sua desilusão em ver a separação dos pais e a partir daí, perdendo-se em identidades variadas para fugir à verdadeira. Já adulto incorporou tipos como o de cirurgião, de piloto de carreira, acabando preso, mas, enfim, conseguindo emprego no FBI pelos ardis identitários que engendrou.


A comparação entre os dois filmes mostra a pobreza narrativa da produção brasileira. Não ao tipo, mas à realização cinematográfica. E a culpa cabe muito mais ao roteiro, escrito por um dos melhores profissionais desse ramo (Mantovani), responsável pelos textos de”Cidade de Deus”, “Ônibus 174”e “Tropa de Elite 1 e 2”. A redação não quer que o espectador se sensibilize com a carreira criminosa do personagem. Faz um distanciamento critico, mas com isso destrói o interesse pelo filme. Não adianta o diretor Toniko Melo trabalhar uma narrativa ágil e exigir de um ator de recursos como Wagner Moura (o Coronel Nacimento de “Tropa de Elite 1 e 2”). O uso de closes não qualifica a pretensão, mas aponta a TV como o meio mais eficaz de apresentar esses recursos. Deixa uma fimbria sutil e não aprofunda a tese de que o jovem assume outras identidades por um problema psicológico advindo da infância. Embora a primeira investidura como piloto convença (se passa pelo dono da empresa e assume o comando de um teco-teco para transportar tóxico), ao longo do filme se torna confusa a exposição de como o personagem se tornou um golpista de primeira, inclusive deixando em branco a facilidade com que transitou em várias áreas sem apresentar/falsificar documentos de identidade.


Se há um “flash back” sistemático de Marcelo em criança, jogando bola, para chegar à gênese do problema do garoto ambicioso que “quer ser igual ao pai”(um comandante de aeronave comercial), há muita pressa na exposição, um esforço insuficiente para compreender a gênese das ambiciosas trocas de personalidade.


E a adoração pelo pai, mostrado como uma figura ausente do lar, pela própria profissão - piloto de carreira – não se consubstancia nos dois momentos em que o jovem coloca a imagem desse ente querido a seu lado, reforçando a idéia de que é um meio de se apoiar quando a aventura caminha para o abismo.


O Marcelo de “VIPS” é superficial até mesmo com o empenho de um dos melhores interpretes brasileiros da atualidade - Wagner Moura. Uma pena, pois poderíamos mostrar um trapalhão nacional com o tirocínio de muitos patrícios nesse modo de ganhar “status” de qualquer maneira (a riqueza nessa fauna é demonstrada nas candidaturas dos políticos “ficha-sujas”). Como está, o trabalho de Toniko Melo é apenas um programa razoavelmente divertido com certo empenho de produção (o cineasta Fernando Meirellles, de “Cidade de Deus”, é um dos produtores). É possivel que o filme faça sucesso de público aproveitando esta fase em que o cinema nacional está emplacando bilheterias significativas.

domingo, 27 de março de 2011

LIÇÕES DE HISTÓRIA & CINEMA



Este blog vai aproveitar algumas inserções sobre Cinema & História que elaborei em out.nov./2004 para o Curso de Especialização em Imagem e Sociedade - Estudos sobre Cinema, promovido pelo Curso de Comunicação Social/UFPA, coordenado pelo Prof. Fábio Castro.



I) A abordagem histórica, a história do cinema e o sentido do cinema na História.


A partir dos anos 1970 - não há um só modo de contar a história do cinema.


1 – Visão da história tradicional sobre o período inicial do cinema: a) vê o cinema como um “contador de histórias”; b) linguagem do cinema como a-temporal e inerente ao próprio cinema mas que teve que ser descoberta em algum momento(teleologia); c) busca os germes da linguagem no início do cinema; d) o cinema só seria cinema quando se adequasse ao modelo narrativo : com todas as nuances do “cinema arte”; e) este tipo de historiografia privilegia a forma narrativa e vê os primórdios do cinema como uma época de “confusão” inicial, mesclado a outras formas populares; f) privilegiava a narrativa linear e a montagem invisível para identificar o cinema e tudo o que não estivesse nessa linha era considerado pré-cinematográfico;


2 - Reformulação do conceito de história do cinema: a) artigos publicados por Jean-Louis Comolli, nos “cahiers du cinema” em 1971/1972 onde ele defende uma “historia materialista do cinema” que quebrará a cadeia causal do progressismo (evolução do cinema visto como fim último do processo narrativo);


Comolli propõe: a) destruição da separação entre historia e teoria do cinema, visto que o objeto proposto deveria ser o “estudo das formas fílmicas” devendo ser estudado dentro das circunstâncias do tempo, dos recursos, da dialética, não reduzido a único objeto mas resultado de várias práticas significantes sem origem e sem fim, ou seja, estas formas fílmicas deveriam ser juntadas e apreciadas no todo social; b) não ler os dispositivos das formas fílmicas somente como procedimentos unicamente técnicos, sem significados ou apenas como fatores , mas vê-los como efeitos, pois do contrário este será tomado de forma a-histórica;


2.1 – A partir do artigo de Comolli surgiram vários estudos refletindo sobre os erros da historiografia tradicional propondo redirecionamento da história do cinema considerando os seguintes pressupostos: a) as formas discursivas dos primeiros cinemas são estranhas ao cinema institucionalizado após 1915 e por isso não podem ser julgadas por normas ainda inexistentes quando surgiram; b) estas normas que definiram o nascimento da linguagem cinematográfica, apesar de duráveis, não são mais do que um instante do código.


2.2 – os novos pressupostos trazem reformulação das pesquisas sobre os primeiros anos do cinema, e um novo ambiente de crítica teórica e de investimento em novas investigações sobre esse período e descoberta de material de pesquisa indisponível aos historiadores clássicos;



2.3 – nos anos 1940 - descoberta da Paper-Print Collection, na Biblioteca do Congresso em Washington (rolos de tiras de papel onde estavam copiados uma serie de fotografias – registros de copyright) – cerca de 5000 rolos do período de 1894 a 1912 que despertam o interesse porque uma parte dos filmes registrados haviam se perdido em sua versão copiada em nitrato de prata antes de serem copiadas em celulóide sendo estas cópias as únicas existentes;


2.4 – nos anos 1950 – Kemp Niver – técnico e colecionador, restaura as fotografias (redesenha-as) e refotografa cada fotograma das cópias em papel, em filmes de 16mm e depois de restaurados, estes foram disponibilizados para estudos dos pesquisadores


3 – O terceiro fator de reformulação da direção das pesquisas e revisão histórica foi o Simpósio de Brighton (Inglaterra) realizado em seguida ao 34º Congresso Anual da Federação Internacional dos Arquivos de Filmes (1978);


a) discussão coletiva entre pesquisadores e arquivistas sobre novos critérios de datação, identificação e preservação para os primeiros filmes, principalmente os de 1900-1906, com enfoques radicalmente diferentes dos pontos de vista da historia clássica do cinema, discutindo-se as características anômalas dos filmes desse período e não sua não-inserção no código narrativo; b) Tom Gunning propôs que fosse chamado “estilo não contínuo” a certas características dos filmes do período por serem “elementos de um estilo cinematográfico que não tinha como objetivo primordial dar a ilusão de uma narrativa contínua”;


3.1. Características desse primeiro cinema compreendiam: a) um filme com vários planos; b) a forte ligação com os sistemas representativos provenientes da cultura popular da época; c) a interpelação constante ao espectador, pelo ator do filme; d)as abruptas elipses entre os planos; e) a montagem repetida das cenas (encavalamentos); f) os planos criados como tableaux alegóricos ora de qualquer linha narrativa; g) mistura de encenações e documentários.


3.2. Enfoques novos sobre o primeiro cinema analisado pelos novos pesquisadores: a) Tom Gunning – o privilegiamento da questão da continuidade , pela historiografia clássica, era porque esta privilegiava o modelo do teatro e da literatura para codificar a análise dos filmese não o modelo das artes populares (lanterna mágica, teatro burlesco, cartoons, vaudeville) – propõe o conceito de “cinema de atrações” para este período; b) Noel Burch – substituição do termo linguagem por modo de representação. Modo de Representação Primitivo – MRP – conjunto de anomalias existentes no primeiro cinema; Modo de Representação Institucional – MRI – modo hegemônico do cinema narrativo (para ele Porter integrava os dois sistemas). c) Carles Musser – o período do primeiro cinema era inventivo e muitas estratégias desenvolvidas usadas pelos primeiros cineastas foram abandonadas em seguida por eles: “Os pioneiros do cinema não estavam tentando descobrir as regras da linguagem do cinema, mas experimentando em direção desconhecida”.


4 – Contradições da historiografia clássica: a) dizer que os primeiros filmes causaram espanto e desconfiança no público – não era assim, porque “como o cinema surgiu como aperfeiçoamento das técnicas óticas utilizadas em espetáculos de magia, nas apresentações de palestras auxiliados pela lanterna mágica, este novo olhar as imagens se adequava ao contexto compartilhado pelas demais diversões populares incluindo certas estratégias narrativas”.


Bibliografia ·


COSTA, Flavia Cesarino. O primeiro cinema. Espetáculo, narração, domesticação. São Paulo: Scritta, 1995 (Coleção Clássica).


GUNNING, Tom. “Fotografias animadas”, contos do esquecido futuro do cinema. In: XAVIER, Ismail. O cinema e o século. Rio de Janeiro, Imago, 1996.


MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas & pós-cinemas. Campinas/SP: Papirus, 1997 – (Coleção Campo Imagético).


NAZÁRIO, Luiz. As sombras móveis: atualidade do cinema mudo. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 1999.

sexta-feira, 25 de março de 2011

PROJETO CINEMA EM CURSO


Recebi da Caiana Filmes (João Inácio) e repasso aos leitores por entender a importância desta atividade (LMA)



Cinema para todo mundo ver, aprender e fazer

Promover a democratização do acesso ao conhecimento audiovisual. Esse é o objetivo do projeto CINEMA EM CURSO que chega à Escola Antonio Gondin Lins, na Cidade Nova VI em Ananindeua. Por meio de oficinas gratuitas, os professores irão aprender a utilizar o cinema como recurso pedagógico. Nas oficinas os educadores, além da parte teórica, terão contato com softwares para a edição de vídeos, habilitando-os a produzirem seu próprio material audiovisual didático. Esse processo ajudará os professores e alunos a realizarem trabalhos escolares com o suporte de vídeo.

Ao todo serão realizadas 5 aulas (com carga horária de 20 horas) apresentando técnicas para trabalhar com a linguagem audiovisual. O que contribuindo para leitura adequada de um filme, explorando-o numa perspectiva educativa e interligando o cinema as aulas de História, Geografia, Língua Portuguesa, Estudos Sociais, entre outros. O curso pretende ainda auxiliar os profissionais e estudantes na abordagem de temas transversais como: Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Ética, Saúde e Trabalho, Relações Sociais, Racismo, etc.

O curso será ministrado pelo cineasta João Inácio que há dez anos trabalha na produção e exibição de cinema em Belém. De acordo com Inácio, a partir desse aprendizado o educador irá dispor de mais um recurso importante para tornar o ensino mais atraente e produtivo. “O Cinema não deve substituir a aula formal, e sim ser utilizado como um instrumento completando o aprendizado de sala de aula. Considerando também que a obra cinematográfica torna-se facilitador das discussões derivadas do filme e suas entrelinhas, possibilitará trocas interpessoais, reforçando os laços de amizade e o crescimento individual de alunos e professores. E ainda, criando chances para que ambos produzam debates e reflexões a respeito de temas variados, certamente fomentará a construção de vasta discussão quando o educador poderá exercer literalmente seu papel na formação de cidadãos críticos, em busca de uma sociedade melhor”, diz o cineasta.

Inscrições Gratuitas para as Oficinas de Cinema como Recurso Pedagógico na Escola Antônio Godin Lins
Edereço: Conj. Cidade Nova VI, SN 21, s/n, Coqueiro, Ananindeua.
E-mail: escola.gondinlins@seduc.pa.gov.br
Fone: 32638986

MAIS SOBRE O PROJETO CINEMA EM CURSO

O projeto teve início em janeiro deste ano na Escola Placídia Cardoso no Bairro do Jurunas, em Belém. Mais de trinta alunos da 4ª etapa da turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e da 8ª série participaram das oficinas de audiovisual. Eles aprenderam noções sobre a história do audiovisual, uso dos equipamentos, produção de roteiro e outras informações técnicas. Ao fim do curso, os participantes produziram seus próprios vídeos.
O interesse da escola em receber o projeto CINEMA EM CURSO nasceu na disciplina de Artes, ministrada pela professora Lúcia Martins. Há três anos ela utiliza recursos audiovisuais no planejamento de suas aulas. A experiência da apresentação de filmes locais e nacionais desembocou na realização do Circuito Artístico em parceria com o Cinema em Curso da Caiana Filmes. A educadora avalia que a experiência tende a elevar a auto-estima e incentivar o protagonismo dos alunos de um bairro estigmatizado pela violência. O resultado pode ser visto no site: http://cinemaemcursobelem.blogspot.com
As escolas interessadas em receber o projeto Cinema em Curso devem procurar a Caiana Filmes, no telefone (091) 3343-4252
MAIS SOBRE JOÃO INÁCIO

João Inácio desenvolveu por sete anos o projeto Cinema BR em Movimento no Estado do Pará, trabalhando a distribuição alternativa de filmes e a inserção da linguagem cinematográfica na grade curricular de escolas públicas. No final de 2006, foi o roteirista premiado no concurso de Apoio à Produção de Obras Cinematográficas Inéditas promovido pelo Ministério da Cultura. O roteiro de seu curta-metragem 'Shala' foi um dos 20 vencedores de todo o Brasil. É diretor da escola de cinema Caiana Filmes.

Caiana Filmes
Rua Diogo Moia, 986 · Umarizal · Belém · Pará · 66055170
Tel: (91)33434252 / 33434254

quinta-feira, 24 de março de 2011

DUAS VEZES HENRY FONDA











Os programas de cinema desta semana escolhidos pela ACCPA são protagonizados por Henry Fonda ( 1905-1982), ator que interpretou personagens marcantes em filmes que se tornaram clássicos da cinematografia norte-americana e além dela: “Tempestade Sobre Washington”(Advise and Consent/1963) de Otto Premminger, e “12 Homens e Uma Sentença”(Twelve Angry Men/1957), de Sidney Lumet. O primeiro será apresentado hoje, 25/03, na sessão de 19 h do Cine SESC (Boulevard Castilho França) e o segundo no sábado, 26, às 15h30, como Sessão Cult do Cine Libero Luxardo(Centur). Exibições gratuitas de filmes realmente importantes.

“Tempestade Sobre Washington” aborda a política norte-americana em tempo de “guerra fria”(a porfia com a URSS comunista). O roteiro escrito por Wendell Mayes com base no livro de Alen Drury trata da nomeação para Secretário de Estado, de um congressista com fama de ser de esquerda (Henry Fonda) indicado pelo presidente dos EUA. A oposição ataca e vasculha a vida desse congressista encontrando a sua filiação ao PC, na juventude. Resta o candidato ao cargo provar a sua idoneidade e o congresso aceitar as provas que apresenta, respeitando a ordem presidencial que não muda com o agravo dos acontecimentos.

O filme reflete um episódio com recorte espacial, mas tem ação ainda no presente. A denúncia a um jogo de interesses é flagrante e persistente. Mesmo considerando que o Chefe de Estado está doente, preste a falecer, não possuindo nenhuma mancha em seu currículo, o fato é motivo para os opositores mostrarem sua articulação feroz no jogo político. Mesclam-se nas malhas do poder entre opositores e a situação, líderes que têm interesses privados magoados, Um deles é protagonizado por Charles Laughton em seu último trabalho no cinema, como o senador Seabright Cooley. Dedica-se a contaminar os argumentos dos colegas da situação pela nomeação do indicado e não se sensibiliza com os acontecimentos dramáticos que surgem em meio à sua campanha.

“Tempestade sobre Washington” faz parte de uma série de filmes provocativos do diretor Premminger, o mesmo que anos antes derruia a censura dos estúdios (o famoso Código Hayes) com o seu “Ingênua até Certo Ponto”(The Moon is Blue/1953). Para este cineasta, a polêmica era mais importante do que a própria realização estética. A exemplo, “O Cardeal”(the Cardinal) em que ele traçava um longo relato de uma crise de fé a que um membro da igreja católica era acometido desde que a sua irmã morrera por não ter se submetido à uma cirurgia que lhe tirasse uma criança preste a nascer.

O senado que Premminger compôs para o filme está entre os pontos mais desafiadores da linha dita “liberal” de Hollywood. E, na época da realização, a URSS estava de pé, a crise patrocinada pelos mísseis em Cuba ganhava as manchetes e desafiava o presidente John Kennedy.

O filme deu ao veterano ator Burgess Meredith o premio do National Board of Review e esteve em várias mostras internacionais.

“12 Homens e Uma Sentença” apresenta Henry Fonda como o líder de 11 jurados que vão julgar um caso de homicídio. Não há um acordo imediato entre essas figuras e os argumentos de promotoria e defesa passam pela inteligência e sensibilidade do grupo.
O filme veio de um roteiro original escrito por Reginald Rose. Apesar de sua estrutura não é derivado do teatro. E o ritmo dado pelo diretor (ainda ativo) Sidney Lumet é de cinema dinâmico. Um trabalho que impressionou a ponto de ganhar o Globo de Ouro na categoria drama, e o Leão de S.Marcos em Veneza ao diretor, além de muitos prêmios e citações internacionais. Foi candidato a 3 Oscar (filme, direção e roteiro). Um clássico legítimo que venceu o tempo.


terça-feira, 22 de março de 2011

SHORT CUTS DE WOODY ALLEN


Em “Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos” (You Will Meet A Tall Dark Stranger, Espanha/EUA, 2010) Woody Allen não segue o estilo que marcou sua presença em filmes nova-iorquinos do tipo “Manhattan”, “Noivo Neurótico Noiva Nervosa”, ”Crimes e Pecados”, “Hannah e suas irmãs” e tantas outras obras marcantes. Não é, tampouco, um ensaio inglês da qualidade do que de melhor realizou no Ealing Studio de Michael Balcon, o já clássico “Ponto Final” (Match Point, 2005). É uma crônica comportamental sobre tipos que se desencontram como os que Max Ophuls explorou em “Le Plaisir” (1924) ou Robert Altman nos seus “Short Cuts” (1993) ou “Cerimônia de Casamento” (1978). Basicamente trata do relacionamento dos casais Helena (Gemma Jones) & Alfie (Anthony Hopkins), Sally (Naomi Watts), filha desse casal & Roy (Johs Brolin) e, em meio a esses, Greg (Antonio Banderas), Dia (Freida Pinto) e Crista (Pauline Collins), além de outras personagens que circulam entre os planos.

A idéia parece uma constante em Woody Allen a julgar por “Vicky Cristina, Barcelona” e, mesmo, “Tudo Pode Dar Certo”. São vinhetas de vidas insatisfeitas, mas que procuram algo em algum lugar. Helena, por exemplo, consulta-se com uma vidente para suportar a fuga do marido para os braços de uma jovem, imbuído de uma cultura física adquirida quando chega aos 60 anos. Sally cansa de Roy, o escritor frustrado e impertinente, ficando cada um em um caminho sentimental diferente. O fio condutor que estreita a ligação entre Helena e seus novos sonhos é uma cartomante charlatã que enseja dias melhores à sua cliente. Essas histórias não terminam. O filme quer apenas mostrá-las, e, por continuidade, criticá-las. Mas ainda assim não ganham dimensão bastante para sair de estereótipos.

Como realização observa-se a economia do diretor. Muitos planos-sequencia indicam uma filmagem contínua, sem pensar na edição. Há enquadramentos que captam os atores de costas e os seguem sem corte. Naturalmente isto diminuiu os custos e, por continuidade, o tempo da equipe. Se a métrica funciona isto se deve aos atores, todos mostrando o que sabem (e sabem bem). Allen confiou nas suas estrelas e fez o seu filme ainda na Inglaterra poupando o orçamento. “Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos ” pode ser visto no estilo de filmes B (B-Pictures), e o cineasta sabe que isso não é demérito: é um meio de poder realizar o que espera ou deseja fazer.

O que me pareceu digno de análise no novo trabalho do diretor-roteirista é a sua descrença em valores. Se antes isso era mostrado com humor agora é parte de um drama. O riso não chega como sempre chegava, especialmente quando Allen interpretava uma das personagens. O único viés de comédia está na vidente, francamente desenhada como charlatona. Ela e a crença que disputa da cliente aflita base do hilário cruel, de um conformismo que de tão cínico acaba dando certo, ou seja, a velha senhora acaba encontrando um novo amor.


Embora Woody Allen esteja na faixa dos setenta anos, sua inconfundível lucidez com a crítica de costumes e de comportamentos, de casais numa relação, revela o brilho de seu talento inconfundível. Seus novos filmes são todos pousados em uma ironia cruel, no constrangimento de seus principais tipos. É assim que o aposentado de “Tudo Pode Dar Certo” comenta a sua odisséia e fecha a história com a frase “whatever works” que poderia se traduzir por “tudo pode funcionar”. Funciona como se as peças quebradas servissem de qualquer maneira para completar um quebra-cabeça. Difere daquele espasmo de alegria do hipocondríaco que recebe boas notícias de seus exames médicos em “Hannah e Suas Irmãs”. Hoje seu humor está mais ácido, criticando com maior veemência as relações que nascem com o casamento, ou sobre uma perspectiva geracional (cf. a atitude da jovem namorada do tipo de Hopkins) e os comportamentos mágicos que “vendem” felicidade. Com descrença nos valores humanos pode-se, segundo o argumento, “encontrar a pessoa dos sonhos”. Mas que sonhos? Pesadelos? É a “vida”, diz ele.

LIXO CINEMATOGRÁFICO




No documentário “Lixo Extraordinário”(Waste Land/EUA,Brasil 2010) candidato ao último Oscar do gênero, o artista plástico brasileiro Vik Muniz mostra como elabora seus quadros com elementos do lixo, seja tinta de diversas fontes seja até mesmo açúcar. E disserta sobre seu plano de intensificar um trabalho social com catadores de lixo do Rio de Janeiro de um dos maiores aterros sanitários do mundo, o Jardim Gramacho. Nesse espaço ele vai aproveitando para entrevistar líderes do movimento e os catadores pd e demonstra que essa é uma das categroias contemporâneas que deve se equipar socialmente para enfrentar suas dificuldades. Apesar de certas sequencias não muito felizes daí porque o filme deve ter deixado de receber a estatueta, o documentário foi premiado em Paulinia e pode ser considerado um bom filme.

Mas a “deixa” sobre o filme me levou a pensar em outro “lixo” o cinematográfico.

Em se tratando de cinema, como linguagem e temática, há muito lixo a desafiar a capacidade de aproveitamento estético. “Vovó Zona 3, Tal Pai Tal Filho”(Big Mommas,Like Father Like Son/EUA,2011) por exemplo, é uma anedota mal contada e esticada. Martin Lawrence volta a se vestir de mulher idosa e obesa (duplo preconceito) para investigar um assassinato presenciado por seu enteado Trent (Brandon T. Jackson). O jovem é descoberto pelos criminosos e há um pendrive com elementos ligados ao crime que só ele sabe onde está. Para salvar o personagem, Lawrence volta ao papel de Big Mamma que rendeu dois filmes de boas bilheterias.
O que acontece é previsível e tanto roteiro como direção querem apenas reforçar o ridículo do tipo, uma figura que até as nossas velhas chanchadas usavam de forma homeopática. Neste novo exemplar também há outro travesti, o jovem Trent. E, obviamente, ele vai se encontrar com muitas garotas e se apaixonar por uma delas.

“Vovó Zona 3, Tal Pai Tal Filho”, como as aventuras anteriores da personagem, direciona-se a um tipo de platéia que não vê no cinema mais do que um “passatempo”(e desconhece,certamente, que tempo não se passa, se ganha). As cópias exclusivamente dubladas dizem o destino do programa. Um crítico que se aventure a ver Lawrence ajeitando a calcinha nas nádegas gigantes é do tipo que enfrenta os ossos do oficio.

Mas o filme dirigido por John Whitesel não está só nas bilheterias onde há lixo. Adam Sandler e amigos divertem-se bastante filmando “Esposa de Mentirinha”(Just Go With It/EUA,2011). Sandler é um dos produtores, amigo do diretor Dennis Dugan, da atriz Jennifer Aston, e praticamente de todo o elenco (não sei se de Nicole Kidman que está na festa certamente para também se divertir ganhando dólares). A trama focaliza um cirurgião plástico (Sandler) que para conquistar uma garota bem mais jovem que ele combina com a secretária (Aston) para interpretar uma esposa em pé de divorcio, com dois filhos a reboque. E são as crianças que farão as trapalhadas prejudiciais à conquista (e pontos para a mamãe). Tudo previsível e todos rindo bastante. Resta saber se por aqui as risadas são correspondidas. Pode até ser, pois o filme, como o anterior “Gente Grande” da mesma equipe, está ganhando dias em cartaz em todos os horários. Sinal de faturamento.

Mas o lixo não termina por aí. Não assisti ainda “Passe Livre”(Hall Pass/EUA,2011) dos irmãos Farrely, famosos pela deselegância de suas comédias, mas a expectativa é que siga a linha adotada por esses cineasta, à maneira de “Quem Vai ficar com Mary?”. No enredo explora o tema sobre mulheres casadas que dão franquia aos maridos por determinado tempo e, quando eles estão na maior farra, descobrem que elas também estão pulando a cerca. A comédia repousa em outro tipo de preconceito: a união de um homem e uma mulher, feita por amor, pode se transformar logo numa prisão e o que de melhor um parceiro pode dar ao outro é um “passe livre”do titulo, ou seja, participar de novas aventuras românticas. Owen Wilson, famoso desde o constrangedor “Penetras Bom de Bico”, pode vender ingresso. O filme está em 5° lugar nas bilheterias noorte-americanas na semana passada.

É isso, “lixo” pode ser também essa enxurrada de comédias sem atrativo estético.

( Imagem extraida de mirandonocinema.wordpress.com )

segunda-feira, 14 de março de 2011

BRUNA SURFISTINHA



No cinema mundial, a jovem que se entrega à prostituição vai ao fundo do poço e tenta emergir já foi tema de inúmeros filmes. Nas produções mexicanas, esse tipo de história se transformou em gênero (maliciosamente chamado de “filme bolero”, pois cada exemplar era acompanhado de uma canção que resumia o drama da personagem principal). Assim, por falta de ineditismo não se pode julgar “Bruna Surfistinha”(Brasil/2011) filme de estréia (se for descontado o documentário “Maria Rita” de 2002) do cineasta Marcus Baldini.


O roteiro de José de Carvalho, Homero Olivetto e Antonia Pellegrino baseia-se no livro “O Doce Veneno do Escorpião” de Raquel Pacheco. Uma autobiografia. Raquel era uma jovem da classe média paulista que deixou os estudos, saiu de casa, e foi se em busca de um emprego que tivesse rentabilidade para sua independência econômica, no caso, a de prostituta. Deixava 40% de sua renda com a dona da casa e aturava não só a violência sexual partida de alguns fregueses como o comportamento competitivo de algumas colegas, inclusive desonestas. Cansada disso resolveu trabalhar por conta própria e usou o apelido que lhe dera um cliente: “Bruna Surfistinha”. Passou a editar um blog e daí em diante a agenciar os seus serviços, ganhando notoriedade.


Mas se tudo ia bem, com um apartamento de luxo que alugou e decorou para os encontros, continuou no vício responsável por sua expulsão da primeir a casa aonde iniciara suas atividades, o uso de drogas. Viciada a ponto de gastar o que tinha na compra de cocaína (principalmente) perdeu a credibilidade até nos mínimos serviços (sua prepotência advinda do uso de entorpecentes foi tornando-a intolerável). O vicio levou-a ao hospital numa crise pré-comatosa, de onde saiu com a ajuda de um cliente. Daí passou a escrever o livro sobre o seu drama, ganhando com isso e com os direitos do filme ora em cartaz nacional.


Numa seqüência em que se vê Raquel em close com um dos clientes com quem faz sexo, num segundo plano se observa a expressão de Deborah Secco, confirmando-se que o filme não trata de mais um trabalho cinematográfico sobre “a mais antiga profissão do mundo”, com todos os clichês condenatórios. A atriz encarnou de tal forma a personagem que engrandeceu sobremodo o filme. E não se diga que foi uma fácil protagonização. Atuando em cenas eróticas do tipo “selfcore”, simulando o coito explicito, a atriz mostrou coragem e dedicação ao trabalho.


Presente em todas as seqüências ela consegue dimensionar a Raquel, ou Bruna, mesmo com o esquematismo do roteiro. Por exemplo: o filme não esmiúça a causa de a jovem ter deixado casa e família para se aventurar em bordel. Nem como aturou passivamente a primeira agressão sexual sem denunciar ou tomar qualquer outra providencia (como sair para outra escola) que mantivesse o seu status de estudante. Tampouco o filme coloca em cena um irmão que a garota nunca teve (eram só irmãs). Este irmão ficticio é apontado como um dos vetores que levam à ação drástica de Raquel, e que vai a sua procura na casa de tolerância usando de violência na censura à irmã. São elementos de linguagem que esquematizam a história e podiam levar o resultado ao lugar-comum do gênero. Felizmente Deborah consegue que o drama se coloque num patamar realista e deixe na tela, além da expressão de dor e em seguida conformação da abertura, uma outra, no final, em que a dor e tristeza patrocinam o abatimento e traduzam um tempo critico que a protagonista quer superar (e prudentemente o fecho é reticente, não afirmando o que vai acontecer ou o que aconteceu, pois Raquel é hoje casada e espera ser mãe).


O filme ganhou a estima do público e a sua linguagem acadêmica apostou nisso. Vale dizer que o diretor acertou na direção de um projeto de grande porte. É só comparar “Bruna Surfistinha” com as tantas “pecadoras” do passado, sejam mexicanas, norte-americanas ou européias. E mais: o filme não exibe uma canção que marque a odisséia da famosa garota de programa. Podia gerar uma melodia qualquer que ajudasse no lucro com a venda de disco. É até surpreendente no modo como trata o tema sem se apegar aos preconceitos de uma faixa social. Só por isso já está acima da média do que se vê nas salas comerciais de cinema, mesmo com a liberdade de expressão moderna.

quarta-feira, 9 de março de 2011

RANGO E A MEMÓRIA DO WESTERN






Surpreendente esta animação – “Rango”(EUA/2001) – que marca a estréia no gênero, da “Industrial Light & Magic”, empresa criada por George Lucas e especializada em efeitos especiais de filmes como a série “Star Wars”. Dirigido por Gore Verbinski (o mesmo diretor de “Piratas do Caribe”), segue uma história do próprio cineasta com roteiro de John Logan focalizando um camaleão que é guinado ao velho oeste norte-americano e sujeito aos perigos comuns aos caubóis do cinema acrescidos da falta de água no lugar, uma cidade moribunda no meio do deserto.

“Rango” faz um inventário do western. Os tipos comuns a esse gênero de filme estão em foco com a marcação burlesca que em si é uma critica aos estereótipos apresentados ao público por muitos anos. Além de evocar inúmeros filmes - desde “Matar ou Morrer”(High Noon) com a seqüência do relógio marcando meio-dia e o duelo entre bandido e mocinho no meio da rua empoeirada – cita “O Estranho sem Nome” com um tipo parecido com Clint Eastwood, informando ao camaleão como agir,na fase em que este se pensa derrotado pelas circunstências ambiente.


Mas não é só isso. O filme apresenta um vilão da linha dos empresários capitalistas de comédias já mostrados pelo diretor Frank Capra. Este tipo domina o povo humilde e sem recursos com a escassez de água (é, também, o dono do banco local e, em vez de dinheiro-papel comercializa o imprescindível liquido), esconde um aqueduto, vive em uma cadeira de rodas (como o Mr. Potter de “A Felicidade Não Se Compra”) e se vale como defensor, de uma serpente gigantesca (esta é o símbolo do mal e, em “Rango”, ela se mostra inferior ao vilão humano chegando a aceitar a vitória do bem). Tudo o que tem guarida na cultura norte-americana exposta pelo cinema pode ser encontrada no excelente roteiro.


Além da rica temática, onde é possivel ler mais elementos (como a caracteristica da população que vive no passado dos pioneiros a poucos quilômetros de uma rodovia moderna que leva à metrópole), o desenho ganha um aspecto plástico notadamente original. Além dos enquadramentos – que evidenciam o cenário ambiente diante das figuras que nele vivem (os grandes planos do camaleão em meio à réplica do Monumental Valley, sugerindo a pequenez do herói no cenário em que vai lutar) – há uma iluminação que indica o clima da narrativa. A exemplo, a hora em que Rango está sendo derrotado moralmente pelo arquiinimigo e a ação cobre o crepúsculo com acentuação do vermelho no céu (para surgirem, depois, estrelas e, ao amanhecer, o “clareamento” das idéias). O cuidado na construção é exposto praticamente em todos os planos. Flagrar botas em close como nos embates dos mocinhos e bandidos do faroeste, o animal atropelado por um carro que ressurge com a ajuda do camaleão (mostrando que as figuras amáveis de uma época lendária resistem às manhas do progresso) e o próprio mimetismo “camaleônico” que no caso serve para que o tipo se sinta à vontade na terra dos pistoleiros, nada disso é esquecido – e sim enriquecido. Explora-se até mesmo a “mocinha” decidida a enfrentar o banqueiro malvado desejoso de tomar as terras do pai dela, a lembrar o que foi exposto recentemente em “Bravura Indômita” e no aqui inédito, mas candidato a Oscar “Inverno da Alma”. Esta mocinha é quem vai assumir o posto de namorada do herói, sendo a protagonista de um beijo que vai decidir a situação para o lado dos explorados (e o banqueiro ganha uma ducha d’água como se fosse a demonstração de uma metáfora da vitória dos oprimidos sobre os opressores.

Francamente, “Rango” foi a grande surpresa deste inicio de ano. É uma animação tão rica quanto às últimas do estúdio PIXAR. Parabéns aos realizadores. E mais: não assisti ao filme em versão original. Apesar de a dublagem ser muito boa, aguardo a chance de ouvir John Depp na voz do Rango.

Vejam sem falta. Levem as crianças, pois há um farto aprendizado de cinema e de idéias novas e críticas sobre a ação de empresas, a expoliação urbana e os efeitos da urbanização.

segunda-feira, 7 de março de 2011

CLÁSSICOS E FILME ARGENTINO (DVD)




A comédia silenciosa desafia o tempo. “O Selvagem” (Running Wild/EUA,1927) é uma delas. O principal intérprete, W.C.Fields (1880-1946), notabilizou-se na fase sonora como o velhote ranzinza que não gostava de criança. Neste exemplar de seus primeiros tempos ele é um viúvo casado com uma viúva que amarga a dependência da esposa e a atitude servil no emprego. Quando, inadvertidamente, é hipnotizado, sai dizendo pelas ruas que “é um leão” e como tal impõe a sua vontade no lar e consegue sensibilizar o patrão com um contrato destinado a um concorrente comercial. O espirituoso, nessa reviravolta de temperamento, é que ao dizer que é “um leão” seduz o empresário que lhe dá o contrato, membro do Lion’s Club.
O ator W.C. Fields tem um excelente desempenho jocoso e a dinâmica narrativa revela o cineasta então pouco conhecido Gregory La Cava, o mesmo que anos depois faria comédias sofisticadas como “Irene, a Teimosa”.


“Prisão de Cristal”(Tras el Cristal/Espanha, 1987) não chegou aos nossos cinemas. É o primeiro filme do diretor Augusti Villaronga hoje com mais 6 títulos no currículo. É clara a inspiração no Pasolini de “Salo”. O roteiro do próprio diretor trata de um carrasco nazista que anos depois da 2ª. Guerra está invalido, dentro de um pulmão de aço (máquina que lhe permite respirar, mas que o obriga a ficar preso em seu interior) e que passa a ser tratado, sem saber, por um jovem que foi uma de sua vitimas quando criança. Este personagem, tão ou mais louco que o doente, ataca a família do nazista matando sua esposa e perseguindo sua filha menor de idade. As cenas de torturas são quase sempre explicitas e mesmo com a fotografia “dark” demonstra uma satisfação sádica do autor. Um filme abjeto que infelizmente tem seu público.


“O Estudante”(El Estudiante/México 2009) é um melodrama que foge um pouco à tradição que o cinema mexicano obteve no passado. Mas não se furta à missão de levar o público às lágrimas. Trata de um septuagenário aposentado que resolve seguir os estudos na área da literatura. Matricula-se na universidade e passa a conviver com pessoas mais jovens. No princípio a esposa não o estimula, pois quer é ter mais tempo com o parceiro. Mas em seguida lhe dá força no grande sonho. Há um drama que desmotiva o estudante, mas se recompoe após ser ajudados pelos colegas jovens.
Narrativa simples, atores simpáticos especialmente Jorge Lavat (hoje com 77 anos), ator que no ano passado atuou em uma nova versão de “Marcelino Pão e Vinho”. Os antigos fãs de Libertad Lamarque & Victor Junco vão gostar.


Em 1956 a peça “Baby Doll” de Tennessee Williams ganhou o cinema com roteiro do escritor e direção do veterano Elia Kazan, sociedade que já vinha de outros títulos como “Uma Rua Chamada Pecado”(A Streetcar Named Desire, 1951). No Brasil, o filme que ora sai em DVD chamou-se “Boneca de Carne” e revelou a atriz Carrol Baker (80, em maio próximo). Mas o triunfo maior é do desempenho de Karl Malden, protagonizando o marido ciumento e arrogante da garota de 20 anos que dorme num berço, anda de camisola e não mantêm relações intimas com o esposo.
O filme consegue ser mais cinema e menos teatro do que a média da época. Mas é muito ligado à cultura especifica do sul dos EUA nos anos 1950. Vendo dessa forma dá-se mais valor aos problemas focalizados, sempre com um toque de ironia e com as falas substanciosas. Foi sucesso de publico a ponto de a camisola da mocinha ganhar o nome de “baby-doll” e assim ficar conhecida nas lojas e nos guarda-roupas femininos.
Cópia em DVD deixando muito a desejar.


DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

1. Atração Perigosa
2. Tropa de Elite 2
3. Comer, Rezar, Amar
4. Scott Pilgrim Contra o Mundo
5. Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme
6. Enterrado Vivo
7. Na Trilha do Assassino
8. Alexandria
9. Amor por Acaso
10. Jogos Mortais - O Final

sábado, 5 de março de 2011

OSCAR E MOSTRA SEMANA DA MULHER





Depois da temporada do Oscar, a melhor em muitos anos, as estréias perseguem o ritmo mais comercial conhecido com animações e comédias repetitivas. Note-se que em Belém ficaram inéditos alguns filmes que concorreram ao prêmio maior da Academia de Hollywood como “127 Horas” e “Inverno da Alma”. Esses filmes chegaram a ser exibidos em outras capitais brasileiras e em circuitos que operam no nosso meio.


As estréias da semana, a mais acessível aos adultos deve ser “Esposa de Mentirinha” (Just Go With It/EUA,2011). Adam Sandler protagoniza um cirurgião plástico que deseja mater um romance com uma mulher bem mais jovem que ele e para isso solicita à sua assistente que se apresente como a esposa de quem está se divorciando. Mas a mentirinha se complica quando entram em cena os filhos da assistente. A direção é de Dennis Dugan e no elenco ainda estão Jennifer Aston, Nicole Kidman e Jessica Andres.


Duas animações chegam em cópias dubladas: “Gnomo e Julieta” (Gnomo and Juliet/EUA/UK, 2011) e “Rango” (EUA,2011). A primeira é uma reprodução em desenho tridimensional da tragédia mais conhecida de Shakespeare. Os amantes de Verona são desta vez, dois anões de enfeite de jardim. Direção de Kelly Asbury para a Touchstone (Grupo Disney). “Rango” é produção da Industrial Light Magic, empresa criada por George Lucas e que traz na direção Gore Verninski, o mesmo de dois exemplares da franquia “Piratas do Caribe”. O argumento trata de um camaleão que vai para o oeste e se dá mal ao perder a sua capacidade de fingir.


A estréia mais atacada pela critica internacional é “Vovó Zona 3”(Big Momma Like Father/EUA, 2011) de John Whitsell. O comediante Martin Lawrence volta ao tipo do agente Malcom e a sua missão é desvendar um assassinato que o sobrinho Trent (Brandon T. Jackson) presenciou. Para tanto, Malcom veste-se de mulher idosa e obesa. Há quem ache graça.


Na área extra tem no Libero Luxardo o Festival dos Melhore da Década segundo a ACCPA. Hoje é dia de “Ponto Final”(Match Point)de Woody Allen; amanhã, “Arca Russa” de Aleksandr Sokurov; domingo “Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças” de Michel Gondry. Sessões de 19 h. Ingresso franqueado.


O Cine Olympia em parceria com a ACCPA e o GEPEM/UFPA, exibirá, a partir de quarta feira, 9/03 até o domingo, 13, no horário das 18h30, a mostra de filmes comemorativa da Semana da Mulher, conforme relação abaixo


1. Minha Vida em Cor de Rosa ( Ma Vie em Rose, Bélgica/ França/Inglaterra, 1997, 110 min) Diretor: Alain Berliner. Elenco: Michele Laroque, Georges Du Fresne e Jean-Philippe Ecoffey.


2. “Uma Mãe em Apuros” (Motherhood, EUA, 2009, 90min.) – Diretora e roteirista: Katherine Dieckmann, com: Uma Thurman, Anthony Edwards, Minnie Driver.


3. Flor do Deserto ( Desert Flower, UK/Alemanha/Austria, 2009, 124 min.) – Direção de Sherry Horman, com Liya Kebede, Sally Hawkins, Craig Parkinson, Meera Syal, Anthony Mackie, Juliet Stevenson e outros. Roteiro de Smita Bhide, baseado no romance de Waris Dirie


4. Shirley Valentine (Inglaterra/EUA, 1989, 109 min.) - Direção de Lewis Gilbert, com Pauline Collins, Tom Conti, Silvia Syms, Julia McKenzie e outros.


5. Osama ( Afeganistão, Japão, Irlanda, 2003, 82 min.) – Direção de Siddiq Barmak. Com: Marina Golbahari, Arif Herati, Zubaida Sahar.




sexta-feira, 4 de março de 2011

MULHERES, REPRESENTAÇÕES, HISTÓRIAS: AS IMAGENS NO CINEMA





COMEMORAÇÕES DO “DIA INTERNACIONAL DA MULHER”

O cinema expressa em imagens o que a sociedade tem demonstrado em versões sobre as representações sociais evidenciando as relações de gênero no enfoque sobre as mulheres, suas atividades, suas formas de luta, suas conquistas e/ ou os arquétipos tradicionais dos tipos femininos avançando para os mais ousados, em mudanças nem sempre aceitas posto que alguns tipos ferem o reconhecido status quo.

Usado como tecnologia de análise, o cinema tem demonstrado auxiliar as discussões sobre as várias temáticas codificadas em imagens cujo processo de significação explora duas vertentes: a) a imagem tomada como signo linguistico com discussões sobre a arbitrariedade, a imitação e a referêncialidade; b) ou esta imagem tomada pela extensão, distância, profundidade, verticalidade, estabilidade, imitação, textura objetivando a forma de apreensão (ou a leitura) desta imagem sobre a sua especificidade (Souza, 2001).

Partindo desta abordagem através do cinema, espera-se mostrar o peso dos meios de comunicação que usam a imagem, seja ela verbal ou não verbal, na significação das diferentes formas construidas das relações sociais, na perspectiva de gênero, com ênfase nas imagens femininas, entre cenários, atores e cenas ilustrativas do modus vivendi social.

A celebração do Dia Internacional da Mulher, neste ano de 2011, pelo GEPEM/UFPA, espera dialogar com a sociedade externa à academia, ou seja, fora dos muros da universidade, usando um dos meios de comunicação dos mais ilustrativos e de grande força interativa – o cinema – numa programação de filmes que possam dizer alguma coisa sobre o habitus no cotidiano feminino.

Com esse objetivo, foram escolhidos cinco títulos com variadas abordagens sobre as imagens femininas encenando significados que narram histórias e representações sociais, para exibição no Cinema Olympia, no período de 09 a 13/03, às 18h30, horario nobre desse cinema. A parceria do evento é com a Associação de Críticos de Cinema do Pará – ACCPA, e a FUMBEL/PMB. Cada filme será apresentado por um/a das/os associados do GEPEM/UFPA. Abaixo os títulos e as sinopses.

1. MINHA VIDA EM COR DE ROSA ( Ma Vie em Rose, Bélgica/ França/Inglaterra, 1997, 110 min. Diretor: Alain Berliner. Elenco: Michele Laroque, Georges Du Fresne e Jean-Philippe Ecoffey. (imagem de culturacd.blogspot.com)

Sinopse: Conta as desventuras do garoto Ludovic (Georges du Fresne). Ele cresce imaginando que nasceu no corpo errado: na verdade, acredita ser uma menina. Logo na primeira sequência, aparece em uma festinha promovida pelos pais para atrair a nova vizinhança em um lindo vestidinho. A impressão e o mal-estar não saem das cabecinhas dos vizinhos, que começam a pressionar e ridicularizar o garoto. (http://www.terra.com.br/cinema)


2. “UMA MÃE EM APUROS” (Motherhood, EUA, 2009, 90min.) – Diretora e roteirista: Katherine Dieckmann, com: Uma Thurman, Anthony Edwards, Minnie Driver.



Sinopse: “O filme se passa em um único dia na vida Eliza Welch (Uma Thurman), escritora de ficção, mãe e blogueira, que precisa preparar a festa de aniversário de seis anos de sua filha, cuidar de seu filho mais novo que está começando a andar, lutar por uma vaga no estacionamento, socializar com outras mães no playground e resolver uma encrenca após postar uma confissão de sua melhor amiga em seu blog. E, além de tudo isso, Eliza decide entrar em um concurso organizado por uma revista sobre pais e tudo que ela precisa fazer é escrever uma redação de 500 palavras sobre o que a maternidade representa para ela”. (http://cinema.cineclick.uol.com.br/ )


3. FLOR DO DESERTO ( Desert Flower, UK/Alemanha/Austria, 2009, 124 min.) – Direção de Sherry Horman, com Liya Kebede, Sally Hawkins, Craig Parkinson, Meera Syal, Anthony Mackie, Juliet Stevenson e outros. Roteiro de Smita Bhide, baseado no romance de Waris Dirie

Sinopse: “Baseado no best seller Desert Flower, é autobiografia da modelo somali Waris Dirie (Liya Kebede), circuncidada aos cinco anos e vendida para um casamento arranjado aos 13 anos. A garota fugiu, atravessando o deserto por dias até chegar a Mogadishu, capital da Somália, onde passou o resto da adolescência sem ser alfabetizada. Ao trabalhar em um restaurante fast food, foi descoberta pelo fotógrafo Terry Donaldson que a levou para os Estados Unidos, onde se tornou uma modelo mundialmente conhecida, além de ser embaixadora da ONU no combate à mutilação genital feminina”. (http://cinema.cineclick.uol.com.br/ )

4. SHIRLEY VALENTINE (Inglaterra/EUA, 1989, 109 min.) - Direção de Lewis Gilbert, com Pauline Collins, Tom Conti, Silvia Syms, Julia McKenzie e outros.

Sinopse: O filme trata de uma mulher de meia-idade, dona de casa, da classe trabalhadora de Liverpool, cujas atividades se concentram nas tarefas domésticas. Não tendo com quem dialogar o dia inteiro (filhos criados e fora de casa e marido despercebido de sua presença) literalmente conversa com as paredes, com as panelas e com o espectador para não se desesperar. Convidada por uma amiga acompanha-a a Mikonos (Grécia) e nessa viagem descobre-se como mulher e como pessoa, revisando a condução de sua própria vida. (LA)

5. OSAMA ( Afeganistão, Japão, Irlanda, 2003, 82 min.) – Direção de Siddiq Barmak. Com: Marina Golbahari, Arif Herati, Zubaida Sahar.



Sinopse: O filme trata da história de uma menina afegã forçada a passar-se por um garoto com o objetivo de conseguir sustentar sua mãe e avó, presas em casa pelas regras fanáticas do regime implantado pelos Talebans, que em 1996 assumem o poder no Afeganistão, caindo somente dez anos depois. Trata-se de uma história verídica. (LA)


quarta-feira, 2 de março de 2011

OSCAR SEM SURPRESAS




Este ano a Academia de Hollywood fez justiça. Pelo menos no meu entendimento. Os prêmios principais me pareceram impecáveis: “O Discurso do Rei” como filme, diretor, ator e roteiro adaptado; “Cisne Negro” como atriz; “O Vencedor” como ator e atriz coadjuvantes; “A Origem” com os prêmios técnicos e “Toy Story” como animação e canção. Se a “Rede Social” levou prêmios menores, não se culpe os votantes, mas o importante momento de mostrar que os jovens ainda precisam aprender mais em ética para chegar ao compromisso de um “rei gago” eexpressando o antibelicismo.

O desempenho de Colin Firth como o rei inglês George V foi excelente a ponto de se inscrever entre os melhores da história do cinema. Alguns momentos do aprendizado vocal com Geoffrey Rush e uma cena em que o monarca chora diante de sua dificuldade de fala são emotivos sem deixar de lado o aspecto histórico. O filme é mais um capítulo da história da Inglaterra que vence em competição norte-americana. Lembro de “O Homem que não Vendeu sua Alma”(A Man for All Seasons, UK, 1966) onde o ator veterano Paul Scofield, como Sir Thomas Morus, brilha no protesto ao casamento do rei Henrique VIII com Ana Bolena. E o mesmo rei serviu de tema a “Ana dos Mil Dias”(Anne of a Thousand Days, UK, 1969) de Charles Jarrot, este sem Oscar principal mas agracidado com premio menor e aval da critica.

A hora de Colin Firth ser reconhecido como ator versátil foi esse momento. Brilho em comédias como em “O Diário de Bridget Jones”(2001), Quando Me apaixono”(2007), “Tudo o que uma Garota Quer”(2003), “Simplesmente Amor”, (2003) ou em drama “O Direito de Amar”(2009) e até em aventuras como o oficial romano Aurelius em “A Última Legião” (2007) podia ter estigmatizado seu desempenho, além de ser “bem inglês”, mas desta vez o Oscar mostrou que o talento está acima de xenofobia.

O jovem diretor Tom Hooper revelou-se como um dos mais promissores cineastas do atual cinema norte-americano e o roteiro de David Seidler confirma o talento de um veterano com 19 titulos na sua filmografia.

Quanto a Natalie Portman, preferida em todas as apostas, assegurou o seu Oscar pelo desempenho em “Cisne Negro” onde ela não só interpreta um drama como mostra seu talento como bailarina.

Os atores coadjuvantes de “O Vencedor” estavam também na linha dos favoritos. Melisa Leo havia perdido a sua estatueta há três anos quando interpretou a sensível esposa abandonada na fronteira dos EUA com o Canadá em “Rio Congelado” (Frozen River), e Christian Bale, que chegou a emagrecer bastante para o papel do irmão viciado em drogas do campeão de boxe Micky Ward (ele interpreta Dicky), nem de longe lembra o garoto de 11 anos que vivia longe dos pais num cenário de guerra no oriente, em “O Império do Sol” (Empire of the Sun/1987) de Steven Speilberg.

Em técnica, realmente “A Origem” procede. A boa idéia de Christopher Nolan daria outro filme se a densidade dramática superasse o espetáculo. E “Rede Social” venceu certo o roteiro adaptado e a trilha original embora considerasse a montagem de “Cisne Negro” e “127 Horas” bem mais interessantes.

Na noite da premiação Kirk Douglas teve sua aparição bastante aplaudida, representando a Holçywood lendária. E brincou com os colegas. Saudade prosseguiu na seqüência dos astros & técnicos falecidos no ano passado, parte do programa exibido todos os anos. Muitos talentos se foram, mas o cinema possui a vantagem de expor sempre essas pessoas a quem aprendemos a admirar. Valeu.


MULHERES AGREDIDAS












Dois filmes importantes lançados em DVD focalizam dramas de mulheres em duas épocas: “Vincere” e “A Flor do Deserto”. Ambos não foram exibidos em nossos cinemas. Vincere” ( Vencer,Itália, 2009), dirigido por Marco Bellocchio, revelação de “I Pugni Tasca” (De Punhos Cerrados/1965, sucesso do então Cine Clube APCC), usa o título do tema uma famosa canção fascista e trata da odisséia de Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno, foto de http://www.ifccenter.com/ ), esposa do ditador italiano Benito Mussolini na época em que ele era somente um apaixonado agitador comunista que organizava e dirigia campanhas com o povo, para a Itália aderir à 1ª.Guerra Mundial contra o império austro-húngaro. A jovem Ida desconhecia o envolvimento dele com outra mulher, a garçonete Rachele com quem teve filhos. Na sua paixão pelo jovem ativista Ida vende tudo o que tem para comprar um jornal para ele (“Il Poppolo Italiano”). No retorno da guerra, o amado a despreza totalmente, preferindo ignorá-la. Mas ela tem um filho dele, Benito Albino, e tenta de todas as maneiras ser reconhecida. O recurso de Mussolini, já ligado ao fascismo, é interná-la num manicômio. Em instituições psiquiatras ela passa seus últimos anos, e o filho lhe é tirado e mais tarde engajado na marinha- até que também seja rotulado de louco e internado da mesma forma que a mãe.



Belocchio usa uma linguagem dinâmica acronológica, entremeando seqüências de documentários de época. Mas o seu maior trunfo é o desempenho de Giovanna Mezzogiorno como a sofrida Ida Dalser. Expressões que falam mais do que muitas palavras sobre uma vida destruída por uma paixão.








“A Flor do Deserto”(The Desert Flower/EUA, Australia, 2009, foto de http://www.cinema.uol.com.br/) reporta o drama de Warris Dirie, jovem nascida na Somalia e vitima de mutilação genital como parte de um costume da cultura de seu povo. Conseguindo viajar para Londres atrás da avó, ela arranja emprego de faxineira e depois de passar maus momentos é descoberta por um fotografo famoso que se encanta com a beleza de seu rosto. Ela se torna uma modelo de fama internacional e nesta condição chega a discursar na ONU como militante e ativista, contando o drama de sua gente e o que considera “o dia marcante de sua vida”. Uma barbárie, mesmo. (Por sinal, este filme será exibido no Cine Olympia, na semana próxima)

O filme é dirigido por Sherry Hoffman com base no livro da própria Warris Dirie. Além de uma direção e um roteiro criteriosos salta o talento da atriz Liya Kebede, natural da Etiópia e coadjuvante nos filmes “O Senhor das Armas” e “O Bom Pastor”versão de Robert De Niro com Matt Dammon e Angelina Jolie.

Vale a pena conhecer estes dois filmes. São excelentes e podem ser encontrados entre os lançamentos das locadoras.

Outra atração irresistível é “Um Amor tão Fragil”(Le Dentelliére/França, 1977), de Claude Goretta, com Isabelle Huppert estreando. Ela protagoniza uma garota tímida, empregada num salão de beleza graças à uma amiga de infância, que vem a conhecer um estudante universitário e por ele se apaixona. Vivem juntos, mas a diferença cultural abala a união. E isto é mostrado de forma a fogir do esquema melodramático possível, ganhando o terreno do neo-realismo.Autentico clássico exibido em Belém no saudoso Cinema 1.

E curioso é “Almas à Venda”(Cold Souls/EUA,2009) de Sophia Barthes com Paul Giamatti como um personagem com seu próprio nome, no caso, um ator de teatro que encena a peça “Tio Vania” de Checov e não se sente bem para o papel. Quando ele lê um anuncio de uma casa que troca almas ele confia na mudança. O problema é que se arrepende, quer a alma de volta, mas esta foi comercializada ilegalmente para a Russia e assim conhece uma “mula” (traficante de almas).

O roteiro lembra “Quero ser John Malkovich” de Charlie Kaufmann, mas a originalidade do assunto é diluída numa narrativa prolixa que confunde situações. É apenas uma comédia excentrica, com alguns bons momentos.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

  1. Tropa de Elite 2
  2. Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme
  3. Comer, Rezar, Amar
  4. Enterrado Vivo
  5. Nosso Lar
  6. As Múmias do Faraó
  7. Solomon Kane - O Caçador de Demônios
  8. Amor por Acaso
  9. Jogos Mortais - O Final
  10. Perdido pra Cachorro 2

terça-feira, 1 de março de 2011

OSCAR 2011



Os vencedores da 83ª edição!





  • Melhor Filme: O Discurso do Rei (The King’s Speech)

  • Melhor Diretor:Tom Hooper – O discurso do Rei (The King’s Speech)

  • Melhor Ator: Colin Firth – O Discurso do Rei (The King’s Speech)

  • Melhor Atriz: Natalie Portman – Cisne Negro (Black Swan)

  • Melhor Ator Coadjuvante: Christian Bale – O vencedor (The Fighter)

  • Melhor Atriz Coadjuvante:Melissa Leo – O vencedor (The Fighter)

  • Melhor Longa Animado: Toy Story 3

  • Melhor Filme em Língua Estrangeira: Em um mundo melhor (In a Better World)

  • Melhor Direção de Arte: Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland)

  • Melhor Fotografia:A Origem (Inception)

  • Melhor Figurino:Alice no País das Maravilhas (Alice in Woderland)

  • Melhor Montagem:A Rede Social (The Social Network)

  • Melhor Documentário: Trabalho Interno (Inside Job)

  • Melhor Documentário em Curta-metragem:Strangers no More

  • Melhor Trilha Sonora:Trent Reznor e Atticus Ross – A Rede Social (The Social Network)

  • Melhor canção original:We Belong Together – Toy Story 3

  • Melhor Maquiagem:O Lobisomem (The Wolfman)

  • Melhor Curta-metragem de Animação:The Lost Thing

  • Melhor Curta-metragem:God of Love

  • Melhor Edição de Som:A Origem (Inception)

  • Melhor Mixagem de Som:A Origem (Inception)

  • Melhor Efeitos Especiais: A Origem (Inception)

  • Melhor Roteiro Adaptado:A Rede Social (The Social Netwok)

  • Melhor Roteiro Original:O Discurso do Rei (The King’s Speech)


  • Black Swan, que era uma das grandes apostas da premiação, ganhou apenas na categoria de melhor atriz com Natalie Portman para decepção dos que se surpreenderam com o universo psicológico presente contexto do filme.

  • O Discurso do Rei (The King’s Speech), ainda não muito divulgado no Brasil, foi o destaque da noite e recebeu doze indicações e quatro estatuetas sendo vencedor nas categorias de melhor filme, melhor diretor, melhor ator com Colin Firth e melhor roteiro original.

  • O filme A Origem (Inception) também foi o foco da noite, venceu nas categorias de melhores efeitos visuais, melhor fotografia, melhor mixagem de som e melhor edição.

  • A Rede Social deixou muitos cinéfilos sob questionamento ao receber premiações em três categorias do evento, por não haver estatura comparada aos filmes que competiu.

  • Toy Story 3 sem dúvida uma das melhores edições da série, mostrou o crescimento da equipe sendo a quarta premiação da categoria que a Pixar vence nos últimos anos.

  • Apesar da polêmica atitude frustrada de Melissa Leo, que pagou para sair em anúncios com o dizer “Consider” (considere), porque não fora convidada para posar em nenhuma revista após tantas premiações recebidas pela atriz, não fez com que perdesse pontos suficientes e não receber mais uma premiação como melhor atriz coadjuvante.

  • Encerrada ao som de Over the Rainbow, o Oscar 2011 seguiu as premiações como prospectava os críticos cinematográficos, levando o filme O Discurso do Rei para além do caminho de pedras amarelas.

    http://www.portaisdamoda.com.br/

Opinião de um cinéfilo veterano sobre o Oscar : Ricardo Secco

Oi, Luzia!Tenho acompanhado o seu Blog e de lá tiro boas dicas de cinema, apesar de andar um pouco afastado devido às muitas atividades acadêmicas. Esse ano eu acertei um bocado no Oscar (tão previsível!). Tanto o melhor filme, melhor atriz, melhor diretor. Minha decepção foi o Geoffrey Rush não ter ganho a estatueta. Que trabalho magnifico! Um grande ator, que contribuiu muito para o brilho de O Discurso do rei, um filmão, tradicional e tão bem feito! Ainda bem que A RedeSocial não levou os melhores prêmios; não vi grande coisa neste filme. Para mim, em Bravura Indômita valeu (bastante) o desempenho daquela garota (ótima!); ela sim, segurou o filme! A Academia premiou coisa muito boa, felizmente!Um abraço.